ESTRUTURA ORGANIZACIONAL DE BIBLIOTECAS UNIVERSITÁRIAS: SUBSÍDIO PARA SUA COMPOSIÇÃO Célia Regina Simonetti Barbalho1 1 Doutora em Semiótica, Universidade Federal do Amazonas, Manaus, AM Resumo Discute os elementos que corroboram para composição da estrutura organizacional da biblioteca universitária. Compreende que tais estruturas sofreram amplo impacto com a inserção das tecnologias de informação nos ambientes das bibliotecas, sobretudo para favorecer a oferta de serviços. Examina os aspectos teóricos que envolvem o tema estrutura organizacional, destacando os elementos, a implantação ou avaliação das estruturas existentes. Fornece subsídios para permitir a analise da estrutura organizacional de bibliotecas universitárias. Palavras-Chave: Estrutura Organizacional; Biblioteca Universitária; Gestão. Abstract Discusses the elements that support for the composition of the organizational structure of the university library. Understands that such structures suffered extensive impact with the inclusion of information technology environments of libraries, especially to promote the availability of services. Examines the theoretical aspects involving the theme of organizational structure, highlighting the elements, implementation or evaluation of existing structures. Provides grants to enable the analysis of the organizational structure of university libraries. Keywords: Organizational Structure; University Library; Management. 1 Introdução Com o crescimento das organizações, cujo ambiente de atuação se vê ampliado pela globalização e diuturnamente alterado pela sofisticação da tecnologia, a tarefa de administrar uma instituição tem sofrido pressão no sentido de proporcionar respostas rápidas e competentes ao contexto, de modo a oportunizar maior visibilidade organizacional para os produtos e serviços oferecidos e, por conseguinte, promover a geração de benefícios para ao empreendimento. O êxito da performance organizacional está pautado na capacidade de articulação da ação estratégica, o que, para Mintzberg (2003) demanda pela definição de uma direção que enfoque os esforços para proporcionar consistência nas decisões tomadas. Indubitavelmente as estruturas organizacionais possuem um importante papel na prospecção das estratégias e no desempenho das organizações. A despeito disto Motta (2002) sustenta que na medida em que se alteram as condições sociais, econômicas e 1 políticas, também vão se modificando as maneiras de análise e concepção das organizações do trabalho e da produção, o que impacta na modelagem das estruturas organizacionais. Por certo, a relação dinâmica entre a estrutura organizacional de um empreendimento e sua estratégia é interdependente, sendo ambas influenciadas pelo ambiente ainda que qualquer modelo organizacional reflita uma arbitrariedade na divisão do trabalho e na distribuição da autoridade e da responsabilidade. De certo, para poder atingir os seus objetivos e qualificar sua performance, a organização necessita de uma estrutura que estabeleça relações entre indivíduos, para a condução de tarefas coletivas. A concepção moderna preconiza que se não existe, em princípio, uma melhor maneira de se estruturar uma organização, a qual como qualquer outro elemento organizacional, deve ser considerada também um instrumento gerencial dinâmico e passível de variações, que possui regras e procedimentos para atender as exigências quanto ao desempenho da estratégia traçada, variando o grau de complexidade em função do alcance dos processos e decisões. Decisivamente, uma organização é a coordenação planejada das atividades para a consecução de algum propósito ou objetivo comum, explícito, por meio da divisão de trabalho e funções, por meio de uma hierarquia de autoridade e responsabilidade (SCHEIN, 1982). A análise do funcionamento das organizações, visando examinar as questões inerentes ao seu desempenho, é própria a qualquer ambiente produtivo seja qual for a sua natureza, o que implica em afirmar que o estudo das diferentes estruturas, dinâmicas e configurações organizacionais tornam possível compreender o funcionamento de instituições como uma biblioteca, por exemplo, ao mesmo tempo em que permite analisar os fluxos internos existentes e a forma como tais aspectos poderão contribuir para identificar problemas com os quais ela atualmente se vê confrontada Para além de oferecer uma resposta à necessidade de encontrar um modelo organizacional que melhore o funcionamento das bibliotecas, é importante refletir sobre como estão sendo operadas às mudanças ambientais que as envolvem e de que forma os modelos organizacionais estão adaptados a essa nova realidade e as estratégias que elas prospectam. Deste modo, este artigo arrola elementos teóricos para o exame da estrutura organizacional das bibliotecas universitárias, considerando que estas apresentam elementos constitutivos portadores de maior organicidade ao seu desempenho. 2 Estrutura Organizacional A estrutura é “[...] um meio complexo de controle continuamente produzido e recriado na interação e, no entanto, molda essa interação: As estruturas são formadas e formam” (RANSON; HININGS; GREENWOOD, 1980 apud HALL, 2004 p.48). Tal assertiva implica na compreensão prévia de que a estrutura de uma organização não é imutável. De certo ela molda é moldada pelas mudanças ambientais com as quais uma organização se vê envolvida. Sob este ponto de vista, estudos como o de Higa et alli (2005) e Younis (1999), apontam que a estrutura organizacional das bibliotecas sofreu grande impacto com a inserção das tecnologias de informação e comunicação em suas atividades, proporcionando uma justaposição de soluções tecnológicas, interações políticas e 2 interpretações sociais em torno delas, o que alterou as relações entre os atores organizacionais, gerando implicações para a organização de seu processo produtivo e, por conseguinte, para sua estrutura organizacional. Considerando que as estruturas organizacionais devem produzir resultados e atingir metas, minimizar ou, ao menos, regular a influência das variações individuais na organização, é tácito que elas compõem um cenário no qual o poder exercido, as decisões tomadas e as atividades executadas são realizadas sob a influência das variações que seu modelo produtivo sofre. Diante tais questões cabe considerar que a biblioteca universitária enquanto organização, se vê envolvida com tais questões tendo em vista que ela possui uma estrutura complexa a qual carece diuturnamente adequar e repensar suas ações dentro de uma modernidade que lida com intensas interligações entre as diversas áreas que compõem uma instituição de ensino superior, considerando seu papel na disseminação de conhecimento. A estrutura é o arranjo dos elementos que constituem uma organização. Segundo Faria (1984, p. 21), a estrutura, [...] é um conjunto integrado de elementos e suportes que formam as demais partes componentes de um organismo, sendo representada, em organização, pelo conjunto de órgãos, suas relações de interdependência e a via hierárquica existente, assim como as vinculações que devem ser representadas através do organograma. Desta forma, pode-se analisar a o sentido do termo estrutura sob duas acepções: a) em relação as partes físicas da organização relacionada ao espaço e equipamentos que lhes são pertinentes (localização espacial); e b) em consideração os elementos do trabalho, operações do processo de produção etc. (sistema organizacional, organização do trabalho, organização da produção etc.) Ambas as acepções demandam por inquirições que favoreçam sua eficácia sendo que, a primeira envolve os aspetos inerentes ao melhor dimensionamento do espaço físico para maior rendimento dos processos. O segundo entendimento enfoca que a estrutura organizacional é composta por diversas unidades que precisam interagir (departamentos, divisões, seções etc.) como também os funcionários e as relações existentes entre superiores e subordinados. Para Annes (2005, p. 21), a Estrutura é um conjunto integrado de elementos suportes que formam as demais partes componentes de um organismo, sendo representada em organização, pelo conjunto de órgãos, suas relações de interdependência e via hierárquica existente, assim como as vinculações que devem ser representadas através do organograma. O autor, ao destacar que e estrutura é a integração de diversos elementos, permite entender que ela envolve uma parte física (edifício, equipamento, espaço e localização) e elementos de trabalho (processo produtivo, organização do trabalho e da produção) com a função básica de obter produtos organizacionais e atingir metas; minimizar a influência de variáveis individuais sobre os processos e estabelecer o posicionamento hierárquico que envolve a tomada de decisão, o fluxo de informações e a execução das atividades na 3 instituição. Com efeito, uma estrutura organizacional adequada as estratégias do empreendimento pode gerar, dentre outros, benefícios como a exata identificação das tarefas necessárias, organização adequada das funções e responsabilidades, das informações, dos recursos e do feedback dos funcionários além do estabelecimento de medidas de desempenho compatível com os objetivos e condições motivadoras. A estrutura de uma biblioteca universitária não se restringe apenas a diversas unidades (departamento, setores, etc.) que a compõe, mas abarca os funcionários e as relações existentes entre superiores e subordinados. De fato, uma organização é arranjada estruturalmente de modo formal e informal considerando diversos elementos que a influenciam. 2.1 Elementos da estrutura organizacional No delineamento de uma estrutura organizacional é imperioso considerar os seus componentes, condicionantes e níveis de influência, o que implica no entendimento das influências existentes no contexto, conforme expõe a Figura 1. Figura 1 - Componentes, Condicionantes e Níveis de Influência Analisando a Figura 1 é possível inferir que o Sistema de Responsabilidade está relacionado atribuição de encargos inerentes àquilo que é dimensionado para que o colaborador execute, ou seja, às funções do cargo que ocupa. Deste modo, ele se reporta a da execução dos processos que estão sob sua carga e que é influenciada pelo modo como a estrutura organizacional arranja a distribuição do trabalho, estabelecendo quem 4 tem que fazer o que. Quanto ao Sistema de Autoridade é possível entender que ele é revestido do direito ou poder de se fazer obedecer, de dar ordens, de tomar decisões, em fim, de agir. Oliveira (1999), citando Jucius e Schelender (1968), reforça tal colocação, ao afirma que autoridade é o direito para fazer alguma coisa que pode ser o direito de tomar decisões, de dar ordens e requerer obediência ou simplesmente o direito de desempenhar um trabalho que foi designado, podendo ser hierárquica e funcional. O Sistema de Decisão está na análise das atividades, das decisões e das relações entre os órgãos da biblioteca. Segundo Drucker (1962), isto envolve considerar os seguintes aspectos: (1) Que decisões são necessárias para ser o desempenho indispensável á realização dos objetivos; (2) De que natureza são essas decisões; (3) Em que plano da biblioteca deve ser tomado; (4) Qual velocidade elas acarretam ou afetam; (4) Qual gestor deve participar dessas decisões, pelo menos até aqueles que devem ser consultados antecipadamente; e (5) Quais gestores devem ser informados, depois de tomadas decisões. O Sistema de Comunicação é resultante do processo pelo quais os membros da biblioteca trocam as informações pertinentes sobre a instituição e as mudanças que nela ocorrem. Nesta perspectiva ele desempenha uma função de fonte de informação para os colaboradores e diz respeito aos procedimentos que caracterizam o entendimento entre as pessoas no ambiente organizacional. Assim posto, cabe destacar que tal sistema abrange todas as formas de comunicação utilizadas pela organização para relacionar-se e interagir com seus públicos interno e externo. Cleusa Maria Andrade Scroferneker (2005), no texto Perspectivas teóricas da comunicação organizacional, ao citar Restreppo J. (1995), aponta que a comunicação pode ser compreendida como um composto que dá forma à organização, que a informa, fazendo-a ser o que é, e estabelece quatro dimensões do processo como: a) Informação, ela é vista como configurador das operações próprias de cada organização. São as transações estáveis que necessitam ocorrer para que o negócio seja viabilizado, constituindo o sistema normativo (missão, valores, princípios, políticas) que sustenta as práticas da organização, as formas de controle; b) Divulgação, no sentido de dar a conhecer, tornar público; c) Gerador de relações voltadas para a formação, a socialização e ou o reforço de processos culturais. Atividades recreativas, rituais e celebrações são alguns dos processos de comunicação utilizados nessa dimensão; d) Participação, como ação de comunicação do outro. Nesse ponto se completa o ciclo da comunicação, onde explicitamente surge à figura daquele que recebe a mensagem. O processo de constituição da estrutura organizacional deve também atentar para alguns fatores que são essenciais para sua concepção. A literatura, de modo amplo, especialmente as colocações de Vasconcellos (1972, p. 7 apud PERROTTI, 2004, p.29), afirma que tais fatores são: tecnológico, ecológico, estrutura, humano e os objetivos organizacionais. Oliveira (2005) afirma que tais fatores são quatro, a saber: objetivos e estratégias; ambiente; tecnologia; e recursos humanos, e Maximiano (1992) aponta que eles se constituem pelo grau de diversificação de produtos e serviços, a ênfase nos planos e objetivos, e a alocação de recursos. 5 Para Robins (2002, p. 418 apud PERROTTI, 2004, p.30), tais forças se definem em tecnologia, tamanho da organização e ambiente. Djalma Oliveira (1999) afirma que elas são compostas pelo ambiente externo, sistema de objetivos e estratégia, recursos humanos e tecnologia. Analisando todos os diversos pontos de vista arrolados na literatura, é possível afirmar que eles compõem um eixo central composto de: a) Fator Humano Toda organização é composta por pessoas que, individualmente ou em grupo, tornam a estrutura organizacional eficiente através de seus comportamentos e desempenhos. Fayol (1976, p.27 apud OLIVEIRA, 2005) enumera que são necessárias determinadas habilidades humanas cuja importância aumenta à medida que a pessoa sobe na hierarquia e que podem ser resumidas em: técnica, de comando, administrativa, de cooperação e de integração. b) Fator Ambiental ou Ecológico O ambiente é tudo aquilo que externamente envolve a instituições, ou seja, o contexto onde ela está inserida, uma vez que ela interage com o ambiente promovendo trocas que influenciam suas ações. Assim este fator se configura pela análise do processo de relacionamento entre a empresa e seu ambiente. c) Fator Sistema de Objetivos e Estratégias O objetivo traçado pela organização determina a situação que ela pretende atingir e a estratégia define quais os caminhos mais adequados para alcançar o objetivo. Deste modo, este fator influência a estrutura organizacional à medida que, quando os objetivos e estratégias estão bem definidos e claros, é mais fácil organizar, pois se sabe o que esperar de cada membro do grupo que compõe a empresa. d) Fator Tecnológico Vasconcellos (1982) considera o fator tecnológico como o conjunto de conhecimentos que são utilizados para operacionalizar as atividades na empresa para que seus objetivos possam ser alcançados e que influencia as pessoas e sua interação, a execução das tarefas, o percentual de mudança, entre outros. Os fatores acima descritos se apresentam como condição para a composição da estrutura organizacional uma vez que são influenciadores do modo como à empresa pretende operacionalizar seus processos e procedimentos. Perrotti (2004, p.32), ao sintetizar os componentes e condicionantes da estrutura aponta uma representação gráfica que, adaptada aos conceitos adotados e discutidos anteriormente, permitem a visualização do que foi exposto. O exame dos elementos da estrutura organizacional permite compreender o conjunto de fatores que envolvem seu desenho visando adotar medidas que possam amparar a decisão quanto a introdução de mudanças. 6 2.2 Implantação ou Avaliação da Estrutura Organizacional A implantação de uma estrutura organizacional envolve três aspectos básicos que são determinantes das estratégias a serem adotadas para promover as ações necessárias com vista a atingir o objetivo pelo qual ela está sendo reformulada. Tais aspectos são: a) Mudança da estrutura organizacional – este aspecto está relacionado à necessidade de: • Ter ciência que a estrutura organizacional mais adequada depende da atual; • Atentar para a necessidade de antecipar forças restritivas e propulsoras que podem ter influência no processo; • A importância do fator humano; • A qualidade técnica da nova estrutura organizacional é insuficiente para o sucesso da mudança; • A importância do planejamento da mudança, para evitar ou minimizar possíveis problemas maiores na sua efetivação; • Antes de mudar a estrutura organizacional, verificar se não há uma situação alternativa mais adequada; • Ter sempre em mente a importância da participação; • Antes de efetivar a mudança, identificar e analisar o problema, bem como o que será mudado e quais as variáveis a serem consideradas. b) Processo de implantação, envolvendo: • Análise e aprovação pela diretoria da empresa (aspectos conceituais); • Análise e aprovação pelos responsáveis das várias unidades organizacionais (aspectos conceituais e principalmente descritivos); • Implantação efetiva; • Acompanhamento e avaliação do processo. c) Resistências que podem ocorrer Nos aspectos destacados pode-se apontar que eles envolvem não só as questões inerentes aos processos organizacionais, mas, especialmente, o comportamento da cultura existente que está relacionada ao modo como as pessoas colaborarão para o sucesso da implantação desejada. De fato, o fator humano, antes discutido, é ponto primordial para o sucesso da implantação tendo em vista que a competência, o desempenho e a motivação podem ser um facilitador ou complicador do processo. No que diz respeito à avaliação cabe inicialmente destacar que se trata de um procedimento através do qual se verifica os pontos fortes e fracos da estrutura organizacional. Para tanto é necessário efetuar um levantamento das condições existentes com vista a delinear a estrutura idealizada para o desenvolvimento dos processos na instituição. Este procedimento poderá observar os resultados apresentados, os problemas evidenciados e o nível de satisfação dos colaboradores com as condições existentes. Assim, Oliveira (1999) sugere que tal ação envolva: a) Levantamento • Identificação dos problemas evidenciados pelos usuários; e 7 • Entrevista com os elementos-chave da empresa. b) Análise • Dos dados levantados anteriormente; • Interligação dos dados levantados, verificando sua veracidade e considerando os vários subsistemas da empresa; • Estabelecimento dos padrões e critérios de avaliação; e • Identificação do efeito de cada um dos dados levantados na situação atual da estrutura organizacional da empresa. c) Avaliação • Estabelecimento da situação dos componentes da estrutura organizacional na empresa; • Verificação do envolvimento de cada um dos condicionantes sobre a estrutura organizacional; e • Verificação do nível de influência de cada nível da empresa – estratégico, tático e operacional – para o delineamento da estrutura organizacional. Toda a avaliação a ser realizada deve ser pautada no um conjunto de políticas e valores organizacionais que servirão de sustentação para o processo decisório. O Vitor Colenghi, na obra O & M e qualidade total, apresenta uma metodologia básica para avaliação de estruturas organizacionais, propõe o fluxo de atividade conforme exposto na Figura 2. Figura 2 – Metodologia básica para avaliação de estruturas organizacionais FONTE: http://www.uniube.br/uniube/cursos/graduacao/administracao/vitor/MAEO.htm Avaliando a proposta exposta pelo modelo acima é possível destacar que a avaliação das estruturas perpassa, inicialmente, pela necessidade de entendimento da missão da instituição tendo em vista que o delineamento do arcabouço organizacional 8 deve estar alinhado com aquilo que o empreendimento busca ser para atuar no marcado onde se insere. Para consolidar a análise e futuras propostas de mudanças, faz-se necessário elencar os tipos de estruturas que as empresas poderão adotar tendo em vista uma variada gama de condições que lhes são impostas pelo meio e a forma como atua. 2.3 Estrutura Organizacional de Bibliotecas Reunir, organizar e disponibilizar irrestritamente a informação registrada de modo a contribuir para a geração de indivíduos conscientes e críticos, é a função de instituições culturais denominadas bibliotecas 1, cujo caráter democrático de dar acesso ao conhecimento, caracteriza sua ação social. A biblioteca – cidadela do saber que abriga em seu espaço informações registradas sob os mais variados suportes, é um organismo vivo que possibilita a fruição do saber, o prazer da leitura e o usufruto da cidadania, contribuindo para a aprendizagem duradoura, para o desenvolvimento cultural e para o crescimento intelectual do indivíduo. Como um organismo ativo e partícipe da vida social, a biblioteca busca, através da memória coletiva por ela reunida, equacionar as necessidades de informação da comunidade, mapeando suas demandas informacionais de modo a oferecer ao usuário um encontro com a cultura e com o conhecimento. De fato, a biblioteca não é simplesmente uma coleção organizada de livros, ela é um espaço de convívio e de socialização dinâmicos que promove a formação e o entretenimento. A rigor, a biblioteca, para assegurar o acesso à informação, necessita: a) Reconhecer sua intencionalidade política e social que a torna fundamental para a construção e manutenção de uma sociedade saudável, equilibrada e dinâmica; b) Possuir um acervo que responda às demandas informacionais, bem como meios para mantê-lo atualizado; c) Estabelecer os mecanismos para sua organização e sistematização de forma a ser um sistema articulado da representação do conhecimento; d) Conhecer sua comunidade de usuários, reais ou potenciais, de modo a contemplar suas necessidades; e e) Ter um espaço, físico ou virtual, para expor seu acervo, atender a seus usuários e desenvolver suas atividades. Por certo, a oferta de serviços varia em graus de sofisticação e exigências conforme a necessidade da demanda. Desta forma a biblioteca universitária mantém serviços que integrem a comunidade acadêmica buscado dispor obras recentes ou dando acesso a coleções de periódicos de áreas específicas. Assim, as estruturas organizacionais das bibliotecas universitárias devem ser estabelecidas a partir do entendimento de sua missão e de seus objetivos. Genericamente, os objetivos de uma biblioteca podem estar relacionados a disseminar conhecimentos, proporcionar o crescimento do cidadão, promover o acesso informações, 1 Outros organismos culturais trabalham no sentido de reunir, tratar e disseminar a informação registrada, como os museus e arquivos, entretanto, estes tratam da organização e preservação de documentos históricos, administrativos e culturais de uma empresa (pessoa jurídica) ou de um indivíduo (pessoa física), enquanto que aqueles exibem todo tipo de objeto que apresente interesse histórico, técnico, científico ou artístico, de modo a conservar e preservar coleções/acervos permitindo o contato com peças únicas que são, na maioria das vezes, bi ou tridimensionais. 9 viabilizar o desenvolvimento científico e contribuir para efetivar os processos de ensino – aprendizagem. Tais objetivos deverão estar consolidados com a função das atividades que a biblioteca universitária realiza para cumprir sua missão que está relacionada às atividades técnicas, de tratamento, organização e disseminação da informação; as sociais, ligadas a sua capacidade de promover a transformação do coletivo que atente; as de preservação e conservação que buscam a eternização dos artefatos culturais produzidos pela sociedade, as de apoio à pesquisa e a educação como forma de promover o desenvolvimento científico e tecnológico. Para atender a missão, objetivos e funções estabelecidas, a biblioteca necessita, conforme afirmado anteriormente, possuir uma estrutura física, real ou virtual, recursos humanos, técnicos e auxiliares, recursos informacionais, oferecer serviços para os usuários potenciais ou reais. Deste modo, as atividades que ela desenvolve estão basicamente relacionadas à formação e desenvolvimento da coleção, ao processamento técnico e a atendimento ao usuário. Para melhor percepção do desdobramento das atividades apontadas, o quadro a seguir, apresenta uma relação não exaustiva dos serviços oferecidos. Atividade Serviços Estudo da Comunidade Estudo do Usuário e do Uso Formação e Seleção Desenvolvimento de Aquisição Coleção Avaliação Debastamento e descarte Registro Processamento Catalogação Técnico Classificação Indexação Circulação Atendimento ao Usuário Treinamento de Usuário Disseminação Referência Tarefas Pesquisa Política de Seleção Política de Aquisição Política de Descarte Análise descritiva Análise Temática Consulta Empréstimo Empréstimo entre bibliotecas Comutação bibliográfica Uso dos recursos da biblioteca Métodos e técnicas de pesquisa Bibliografias e normas da documentação Serviço de Alerta D. S. I. Publicações e Divulgações Assistência ao usuário (in loco) Levantamento bibliográfico Normalização técnica Quadro 1 – Atividades e serviços desenvolvidos O quadro acima pode ser melhor compreendido a partir da seguinte descrição. Formação e Desenvolvimento de Coleções a) Objetivo: Elaborar, coordenar e executar a implantação de programas de formação, desenvolvimento e preservação do acervo informacional; organiza o serviço de aquisição e registro do acervo. b) Principais atividades que executa: Aquisição, recebimento e distribuição de material informacional; tombamento e baixa de material informacional e intercâmbio de material. 10 c) Principais Serviços que realiza: Serviço de Seleção e Aquisição, registro e descarte. Processamento Técnico a) Objetivo: Executar o processamento técnico dos recursos informacionais adquiridos, inserindo-os no acervo e as respectivas referencias na base de dado. b) Principais atividades que executa: Leitura técnica do recurso informacional; Descrição, segundo o código de catalogação eleito, do recurso informacional; Estabelecimento, conforme o sistema de classificação adotado e a Cutter Sounborn, do número de classificação; Determinação, por termos livres, dos indexadores dos recursos informacionais; Inserção dos dados na base de dados; Manutenção das bases de dados; c) Principais serviços oferecidos: Serviço de Catalogação, Classificação e Indexação. Atendimento ao Usuário a) Objetivo: Prestar serviços de informação aos usuários da biblioteca e demais membros da comunidade em que está inserida. b) Principais atividades que realiza: Difusão de informação, através de diferentes produtos e serviços, como a difusão seletiva de informação, a pesquisa bibliográfica retrospectiva ou corrente em bases de dados nacionais ou internacionais, etc.; Interligação do sistema informático dos serviços com outros sistemas ou redes de informação; Formação e sensibilização de leitores; Orientação sobre o uso da biblioteca e do acervo através de treinamentos, visitas orientadas, etc.; Empréstimo-entreBibliotecas; Treinamento de Usuários; Normalização de Documentos; Elaboração/correção de referências bibliográficas; Disseminação da Informação; Sumários e Alertas de publicações periódicas correntes; Boletins Informativos; Jornal Mural; Boletim de Novas Aquisições; Consulta livre ao material dos acervos (monografias, periódicos, teses, vídeos, mapas, partituras, guias, etc.); Empréstimo Domiciliar; Comutação Bibliográfica - obtenção de fotocópias de artigos de publicações periódicas via Internet, COMUT on line ou outros meios. c) Principais serviços ofertados: Circulação, Empréstimo e Referência. Tais atividades poderão ser indicativo da estrutura organizacional que a biblioteca adotará. Tradicionalmente, em se tratando de departamentalização, as bibliotecas universitárias estão, na sua grande maioria, organizada por função ou propósito dominante, com a vantagem de agrupar os especialistas de modo a trabalharem em grupo tendo em vista que as situações vivenciadas são estáveis, de pouca mudança, tarefas rotineiras e onde a eficiência técnica e a qualidade são importantes. Contudo, observa-se que tal opção causa a perda de visão do conjunto impedindo reações em situações de rápida adaptação – falta de flexibilidade. A visualização da representação gráfica mais adota pelas bibliotecas, qual seja, a departamentalização por função ou proposto dominante, mostra que elas adotam o agrupamento por atividades de acordo com as grandes funções que nela se desenvolvem, isto é de acordo coma finalidade comum ou contribuição comum à 11 organização. Isso é claro quando do agrupamento os especialistas de modo a trabalharem em equipe tendo em vista que a biblioteca possui situações estáveis, de pouca mudança, tarefas rotineiras e onde a eficiência técnica e a qualidade são importantes, possuem poucas linhas de produtos ou serviços e que permanecem inalterados ao longo do tempo. Tais fatores não possibilitam a visão do conjunto e dificulta a reação em situações de rápida adaptação devido à falta de flexibilidade. Estes aspectos deverão ser os elementos basilares para a constituição da estrutura organizacional da biblioteca universitária. 3 Resultados Finais Uma vez determinada à estratégia de uma organização, os gestores devem desenvolver uma estrutura eficaz que facilite a sua implementação. De fato, a organização, segunda etapa do processo gerencial, se configura como o processo de criar a estrutura de uma organização. A estrutura de uma organização, conforme exposto, pode ser descrita através de três componentes: a) complexidade, que se refere à diferenciação em uma organização; b) formalização, a qual define o grau em que uma organização se baseia em regras e procedimentos para dirigir o comportamento dos colaboradores; e c) centralização ou descentralização, a qual determina a autoridade que toma a decisão. Tais questões impactam na biblioteca universitária, a qual deverá definir suas tarefas, agrupar as semelhantes e coordenar os esforços para melhor efetuar a execução. É tácito que organização das atividades a serem executadas pela biblioteca de uma instituição de ensino superior deverá observar as seguintes etapas (Figura 3): Figura 3 – Etapas para composição da estrutura organizacional As etapas acima expressas, fruto das análises apontadas pelos autores visitados neste estudo teórico, representam a síntese dos seis elementos que os gerentes de bibliotecas precisam considerar ao projetar as estruturas das organizações que administram. 12 4 Considerações Finais A título de conclusão, embora a temática ainda envolva outros aspectos que não foram abordados como o estágio em que se encontra o trabalho, é possível inferir que uma estrutura organizacional é dinâmica, principalmente quando são considerados os seus aspectos informais provenientes da caracterização das pessoas que a integram e deve ser delineada formalmente considerando as funções de administração como um instrumento para facilitar o alcance dos objetivos estabelecidos. A temática é muito complexa considerando que a estrutura da biblioteca universitária é uma ordenação e agrupamento de atividades e recursos, o que para a gestão está relacionada à sua organização sendo necessário ainda o planejamento, a coordenação e o controle dos procedimentos para promover uma eficaz administração. O estudo da estrutura organizacional envolve elementos como identificação das tarefas necessárias, a organização das funções e responsabilidades, informações, recursos e feedback aos colaboradores, medidas de desempenho compatíveis com os objetivos e condições motivadoras para a competente implantação. Muitos destes aspectos perpassam pela necessidade de afinar as ações com as estratégias de instituição de ensino superior. O delineamento da estrutura pode se configurar em razão da necessidade de criar uma estrutura para uma biblioteca ou então aprimorar a existente. Ele é resultante da dinâmica ambiental e deve considerar as funções de administração como um instrumento para facilitar o alcance dos objetivos estabelecidos bem como a missão da biblioteca. 5 Referências ANNES, Ricardo. Apostila OSM1. Disponível <http://www.pucrs.campus2.br/~annes/admosm_1.ppt>. Acesso em 02 ago.2005. em: COLENGHI, Vitor Mature. O&M e qualidade total – uma integração perfeita. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1997. DRUCKER, P. F. Prática de administração de empresas. Rio de Janeiro: Findo de Cultura, 1962. FARIA, Antônio Nogueira. Organização e métodos. Rio de Janeiro: LTC, 1984. HALL, Richard H. Organizações: estruturas, processos e resultados. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2004 HIGA, Mori Lou. Redesigning a library’s organizational structure 1. College & Research Libraries. January 2005. p. 41-58 MAXIMIANO, Antônio César A. Introdução à administração. 3. ed., São Paulo, Editora Atlas, 1992. MINTZBERG, H. 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