10 executivos nota 10 Artigo209 - 10 EXECUTIVOS NOTA 10 --------- 10 executivos nota 10. VOCÊ [ on line]. Fev.2000. RESUMO: " Quem são, como trabalham e que lições extrair das histórias de sucesso dos executivos mais cobiçados do Brasil? O que torna um executivo uma referência no mercado? O que faz dele uma unanimidade cobiçada por muitas empresas ao mesmo tempo? E que lições se podem extrair de sua trajetória? Em busca dos ingredientes do sucesso profissional, a VOCÊ s.a. identificou, por meio de uma pesquisa realizada com os principais headhunters e consultorias, os dez presidentes nota 10 do mundo corporativo no Brasil ". PALAVRA-CHAVE: Carreira profissional. 10 EXECUTIVOS NOTA 10 Brilham nessa lista nomes que hoje lideram empresas de diferentes setores: desde alimentos, bancos e combustível até aeronáutica, siderurgia e telecomunicações. Nem todos são especialistas nas áreas em que atuam. Até assumir a presidência da Embraer, o maior contato de Maurício Botelho com aviões eram lembranças de viagens. Deborah Wright, hoje presidente da filial brasileira da Parmalat, nem sabia de que eram feitas as tintas quando se tornou a número 1 das Tintas Coral. Ambos enfrentaram situações semelhantes à de Lou Gerstner, mandachuva da IBM mundial, que até ingressar na Big Blue só entendia de biscoitos (Nabisco) e de cartão de crédito (American Express). Não importa a que ramo se dediquem, o que chama a atenção são os pontos que esses executivos têm em comum: autoconfiantes, são ímãs para atrair talentos. Seu entusiasmo e energia parecem inesgotáveis. A maioria trabalha de 10 até 14 horas por dia, se necessário. Também não se acuam diante de desafios. Aliás, o gostinho de superar dificuldades é uma espécie de combustível para esse time. Tirar empresas do abismo e alçá-las ao mercado internacional, como fez Botelho com a Embraer. Ou se comprometer com metas arrojadas, a exemplo de Alain Belda. Foi assim que ele chegou ao topo da americana Alcoa, a maior produtora mundial de alumínio. Esses e outros traços foram igualmente detectados num estudo feito pela Spencer Stuart, uma das maiores consultorias mundiais de headhunting, que resultou na lista dos 50 melhores líderes corporativos dos Estados Unidos. Tal como Fred Smith, fundador e presidente da Fedex, Gilberto Garbi, da Vésper, preocupa-se em se comunicar com sua equipe de maneira clara e direta. Foi aprendendo com erros que Michael Dell construiu a segunda maior indústria de micros do planeta. O que fez o goiano Henrique Meirelles ao assumir a filial brasileira do BankBoston? Indagou a funcionários de diferentes escalões o que havia de errado no banco. Quando julgou que já tinha informações suficientes sobre os erros, partiu para os acertos. Com esse método, chegou à presidência mundial do BankBoston. Um dos postulados de Hank Greenberg à frente da seguradora AIG é: o CEO deve ser o principal estrategista da organização. Paulo Ferraz conduziu o banco Bozano, Simonsen (recentemente vendido ao espanhol Santander) como um general numa operação militar: concentrava as decisões estratégicas e delegava as demais aos subordinados. Tudo isso não significa que os executivos mais valorizados do mercado sejam clones uns dos outros. Cada um tem seu jeito de trabalhar, idiossincrasias e manias pessoais, e nem todos são como os líderes carismáticos descritos nos manuais. Não existe uma única fórmula para alguém ser bem-sucedido no mundo corporativo. Um líder se revela sob determinadas condições, que variam conforme a hora, as circunstâncias e o lugar onde trabalha. Os perfis a seguir estão repletos de episódios que deixam transparecer como os dez melhores executivos do Brasil reagem aos desafios e conduzem as empresas que lhes foram confiadas. Suas experiências encerram lições valiosas. Em tempo: Deborah Wright e Maurício Botelho recusaram-se a conceder entrevistas. file:///D|/Apostilas%20no%20site_HPG/crd2000_hpg/textos/artigo209.htm[15/12/2013 23:48:09] 10 executivos nota 10 Alain Belda A segunda-feira costuma ser um dia movimentado para quem trabalha com Alain Belda, presidente mundial da Alcoa, a maior produtora de alumínio do planeta. Belda fica matutando horas no sábado e no domingo - pensa em novos projetos, cria planos, traça estratégias - e descarrega tudo na primeira reunião da semana. Numa segunda de 1970, época em que era presidente da filial brasileira da Alcoa, avisou à diretoria que tinha umas idéias para elevar o faturamento da empresa de 90 milhões de dólares para 1 bilhão de dólares em dez anos, o que efetivamente foi feito. Em outra segunda-feira de 1995, quando a Alcoa já faturava 13 bilhões de dólares no mundo, reuniu os colaboradores para apresentar outro plano - dessa vez para que a filial brasileira ajudasse a Alcoa mundial a chegar ao ano 2000 com vendas na casa dos 20 bilhões. Mais uma vez, ela chegou lá. Tanto em um caso como no outro, cercouse de diretores competentes - alguns ele formou, outros foi buscar no mercado - e sobretudo levou a cabo um gigantesco projeto de expansão da companhia. Nos 15 anos em que ficou à frente da empresa no Brasil, a Alcoa passou de 1 para 15 fábricas. Patrocinou, entre outras coisas, a construção da monumental fábrica de alumínio no Maranhão, com capacidade de produção de 350 000 toneladas por ano. Há executivos que se parecem com Ferraris conversíveis; outros, com jipes com tração nas quatro rodas. Belda não combina com nenhum modelo específico, mas é um motorista arrojado. "Ele adora riscos, é um mestre em manobras na beira do abismo", diz Adjarma Azevedo, presidente da Alcoa para a América Latina. Não só adora como incentiva os funcionários a correr riscos. Se acertarem, palmas para eles. Mas, se errarem, não é o fim do mundo. Certa vez, um dos executivos da Alcoa jurava que seria demitido assim que terminasse de apresentar o seu relatório de desempenho - ele tinha acabado de perder 500 mil dólares numa operação. Mas, ao terminar de expor os números calamitosos, não foi demitido. Sequer ouviu uma bronca. "Faz parte do jogo", disse Belda. "Agora que você já aprendeu o que não fazer, volte lá e recupere nosso dinheiro." Ele tem até um teorema para justificar sua postura: "Experiência é tempo e disposição multiplicados pelo número de vezes que você comete o mesmo erro para aprender". Belda é capaz de perdoar quase tudo, exceto a omissão. Embora seja um ótimo estrategista, não é do tipo de executivo que passa o tempo todo atrás da mesa, às voltas com questões administrativas. Quando presidia a Alcoa no Brasil, não era raro vê-lo circular pelo chão da fábrica, ouvindo os operários, observando a maneira de trabalhar, sugerindo alterações para tornar o trabalho mais produtivo. Com os executivos, é brincalhão, conta piadas, tem a louvável capacidade de rir de si mesmo, porém jamais perde a objetividade. Sabe aonde quer chegar, por que chegar, como chegar, mas raramente impões seus pontos de vista. Prefere argumentar e convencer o interlocutor a encampar seus ideais. Acredita que a ambição é a única forma de criar riquezas. Incentiva a criatividade, mas à sua maneira. "Existem muito poucas idéias novas no mundo, se é que existe alguma", diz Belda. "O negócio então é pegar duas idéias velhas, reinventá-las e executá-las no momento oportuno e com qualidade." Deborah Wright Deborah Patrícia Wright é considerada uma das maiores craques da área de consumo do país. Aos 41 anos, ela é a diretora-geral da Parmalat no Brasil. Pela quarta vez, assumiu o cargo de direção de uma grande empresa desde que iniciou a carreira como trainee na indústria de sorvetes Kibon, em 1980. Foi gerente-geral da Kraft-Suchard, divisão da Philip Morris que atua na área de bebidas e confeitos. Ocupou o mesmo cargo em duas outras empresas: na Kibon e nas Tintas Coral. A preocupação em entender as necessidades do consumidor final é tida como um dos fatores que mais impulsionaram sua carreira. Quando foi convidada para presidir a Coral, por exemplo, ficou temerosa, não entendia nada sobre tintas. Ouviu como resposta de quem a entrevistava: "Ótimo, estamos cheios de quem entende de tinta. Queremos alguém que conheça o consumidor, que some algo diferente à empresa". Além da preocupação em conhecer o seu público externo, Deborah, segundo quem acompanha a sua trajetória, cuida do seu público interno. "Ela sabe motivar as pessoas a buscar os melhores resultados", disse à Exame José Júlio Cardoso de Lucena, presidente da Santista Alimentos, seu amigo pessoal e exchefe em momentos diferentes da carreira. Deborah diz ser uma entusiasta do trabalho em equipe, da tomada de decisões compartilhada e de estímulos para que as pessoas reunidas em redor de um mesmo objetivo se tornem mais independentes e participativas, em vez de simplesmente seguir o que file:///D|/Apostilas%20no%20site_HPG/crd2000_hpg/textos/artigo209.htm[15/12/2013 23:48:09] 10 executivos nota 10 dita o chefe. Segundo um ex-colega de trabalho, esse é um dos traços que a distinguem de outros executivos de nível equivalente. Deborah acredita firmemente na filosofia do empowerment, em que as pessoas são estimuladas a confiar em si mesmas para poder exercer plenamente a sua capacidade. Um episódio ocorrido em 1995, quando Deborah era a executiva responsável pelo Q-Refres-Ko, da Philip Morris, mostra esse seu traço. A empresa atravessava um dos momentos mais delicados de sua história. Três diretores, afastados por suspeita de espionagem industrial, acusavam a cúpula da Philip Morris de escuta telefônica ilegal e cárcere privado. Coube a Deborah apaziguar os ânimos logo nos seus primeiros dias na empresa. Em vez de sair no mercado explicando a crise, ela se voltou para sua equipe, preocupada em resgatar a motivação dos funcionários e o ambiente da empresa. Para fazer isso, antecipou um programa de treinamento para todos eles. Ela diz tratar seus funcionários como seguidores, não como subordinados - consegue fazer com que os membros de sua equipe comprem as suas idéias como se fossem deles. Ao mesmo tempo em que é aberta e dá liberdade, ela é considerada uma chefe que sabe ser enérgica e fazer-se obedecer quando há necessidade. "Ela bate que nem homem", dizem ex-subordinados. "É melhor tomar cuidado, ficar longe do braço." Além do trabalho em equipe, Deborah diz ter também uma preocupação cada vez mais atual: a diversidade do time. "Em grupos onde há homens, mulheres, representantes de várias raças, pensamentos diferentes, o time fica mais rico", diz ela. "Atrás do politicamente correto, existe uma razão que é concreta, real." Na Parmalat, ela encontrou esse ambiente de que diz gostar tanto. E os seus defeitos? Quem a conhece bem a descreve como uma executiva agressiva, preocupada em se firmar, em mostrar competência. Olhando para trás, há quem diga que em certos momentos, no início da sua ascensão, Deborah deu mostras de ser "excessivamente" carreirista. É tida também como boa marqueteira. "Ela sempre soube se vender e se colocar para colher, no momento oportuno, os frutos de seu trabalho", diz um ex-colega. À agressividade e racionalidade, soma-se a sua intuição. Ela diz preferir tomar decisões baseada em fatos e dados confiáveis. Mas, se num momento crítico não tem todas as informações precisas, complementa a lógica com a intuição. Gilberto Garbi Gilberto Garbi tem colocado em prática no seu dia-a-dia uma máxima dos headhunters: a de que o melhor momento para deixar uma empresa é quando se está no auge. Ao contrário do que normalmente acontece, ele - e não a empresa - tem escolhido a hora de sair. "Manda a boa técnica que ninguém fique no mesmo lugar por mais de seis ou sete anos", diz ele. "Com isso evito a repetição de procedimentos, alguns desgastes e estou sempre em alta performance." Quando decidiu aceitar o convite para assumir a presidência da Vésper, empresa-espelho da Telemar com a qual concorrerá em 16 estados (do Rio de Janeiro ao Amazonas), muita gente duvidou de que essa fosse a melhor decisão. Garbi estava trocando a NEC - onde tinha prestígio por ter elevado o faturamento anual de 50 milhões de dólares para 1,5 bilhão - por uma empresa que praticamente não existia. A Vésper era então somente uma concessão, uma folha de papel. Mas o desafio falou mais alto. E, como quem manda na carreira de Gilberto Garbi é Gilberto Garbi, ele pegou suas coisas e foi embora. E ponto final. O presidente da Vésper é formado em engenharia eletrônica pelo ITA - Instituto de Tecnologia da Aeronáutica. Fala inglês, francês, italiano e espanhol fluentemente. Passou, além da NEC, pela Telepar e pela Telebrás. É um profundo conhecedor do universo das telecomunicações. Tem muito conhecimento técnico sobre o setor. Mas isso não basta. Seja qual for o setor em que se atue, é preciso, segundo ele, estar bem informado sobre economia, finanças, política e tudo o que está à sua volta. Só assim é possível antever cenários e reconhecer as melhores oportunidades. "Quando começaram a falar em privatizações, vi logo que as coisas iriam mudar, e muito. Disse para mim mesmo: na primeira oportunidade vou para uma empresa privada." Gilberto Garbi é professor convidado da Universidade de São Paulo. Seu pensamento lógico, exato e direto vem da paixão pela matemática. É um estudioso da matéria e já escreveu um livro sobre o assunto. Defende posições com extrema objetividade e comunica-se com a equipe de forma clara e direta, sem rodeios. "Evito ambigüidades quando estou falando e reduzo os problemas às suas questões básicas e elementares", afirma. "É como na matemática: nada que é ilógico sobrevive." Boa parte de sua inspiração vem também da leitura de biografias de vultos da História mundial. Isaac Newton, Carlos Magno e Abraham Lincoln estão entre os preferidos. O que um líder moderno pode file:///D|/Apostilas%20no%20site_HPG/crd2000_hpg/textos/artigo209.htm[15/12/2013 23:48:09] 10 executivos nota 10 aprender com essas figuras do passado? Muita coisa. "Lendo sobre eles, eu reconheço meu tamanho e meu lugar na sociedade, mantenho os pés no chão, a cabeça fria e a vaidade em baixa. Isso serve como fio condutor para você administrar uma companhia, um pequeno negócio ou uma equipe." Mesmo sendo um fã da matemática e da lógica, Garbi reconhece que há uma certa dose de imponderável nas suas decisões. Cerca de 30% é pura intuição. Olha um negócio e vê logo se ele é bom ou não. Só que isso, diz ele, não se aprende na escola nem em nenhum outro lugar. "Quem quiser exercer uma função gerencial e dirigir pessoas - aconselha - deve buscar as áreas de que realmente gosta, porque é nelas que poderá agir com familiaridade. A intuição surgirá aí, nesse contexto favorável." Henrique Meirelles Quando Henrique Meirelles assumiu a presidência do BankBoston no Brasil, em 1984, o banco tinha menos de 10 000 correntistas e movimentava algo como 100 milhões de dólares. Era conhecido como um banco de investimentos, exclusivo para milionários. Nos 12 anos em que ficou no posto, Meirelles promoveu uma recauchutagem geral. Aos poucos, abriu os guichês para os mortais comuns, criou uma série de produtos (como caderneta de poupança, cartão de crédito, seguro e previdência privada) e inaugurou 45 agências. Com isso, o número de correntistas saltou para 50 000, e os ativos, para cerca de 4,5 bilhões de dólares. Foi um desempenho tão admirável que, há quatro anos, foi convidado para se mudar do Brasil e assumir a presidência mundial do BankBoston, uma instituição financeira de 216 anos, 280 bilhões de dólares e 50 000 funcionários espalhados pelo mundo. A estratégia de Meirelles tem alguns pontos notáveis. Enquanto a maioria dos executivos se esfalfa para acertar a qualquer custo, o presidente do BankBoston gastou uma energia enorme para não errar perceba que há uma diferença imensa entre uma coisa e outra. Logo ao assumir, marcou encontros, reuniões, almoços e jantares com todas as pessoas que podiam ajudá-lo a não repetir os erros do passado. Convidou funcionários de vários escalões, conversou com antigos executivos, ouviu exgerentes, pediu conselhos até a um funcionário que havia sido demitido anos antes. A todos, fez basicamente uma única pergunta: "O que estava errado no banco?" Quando julgou que já tinha informações suficientes sobre os erros, partiu para os acertos. Mudou a imagem de uma instituição que mais parecia um clube fechado para a de um banco que oferece bons serviços à classe média. Em pouco tempo, a tática foi surtindo efeito. Mesmo com o sucesso, jamais perdeu o hábito de ouvir as opiniões de seus colaboradores. Suas portas sempre estão abertas. Circula pelos corredores e pára nas mesas dos funcionários para conversar. Presta atenção e respeita o estilo de cada um. "O que leva um australiano, um americano e um brasileiro a trabalhar?", pergunta Meirelles. "Cada um tem motivações diferentes. Se eu não entendo as peculiaridades de cada um, o trabalho não funciona." Esse tipo de pensamento o torna uma mistura de executivo com psicólogo, com uma pitada de filósofo oriental. "No Japão, as pessoas param para meditar até na reunião de trabalho. No mundo ocidental, isso não é viável, mas deveria ser. Eu medito sempre que possível", diz Meirelles. Com essas práticas, é comum ouvir de sua boca palavras que poderiam muito bem ser de autoria de Confúcio: "Quando estiver discordando, fale duro. Quando provar que estava certo, seja discreto". Discreto mas não mudo. Com bons resultados no bolso do colete, Meirelles se empenhou em divulgar seus feitos, naquele tipo de ação que se convencionou chamar de marketing pessoal. Nas conversas com a imprensa, sempre dava um jeito de mostrar aos jornalistas o excepcional desempenho do banco. Nos encontros com a presidência, nos Estados Unidos, frisava a velocidade do crescimento. Como todo fato sempre está sujeito a interpretações e confirmações, a matriz do banco, julgando que poderia haver algum tipo de maquiagem nos números de Meirelles, mandou uma auditoria ao Brasil. Era tudo o que ele queria. Não havia truque algum. Era tudo verdade. Foi o que bastou para alçá-lo, algum tempo depois, à presidência mundial do BankBoston. Luiz Antônio Viana Num final de tarde do mês de agosto do ano passado, o presidente da BR Distribuidora, Luiz Antônio Viana, estava sozinho em sua sala. Tinha que tomar uma importante decisão: acompanhar ou não o aumento do diesel autorizado pelo governo. Todas as outras distribuidoras já tinham feito o reajuste. Menos a BR, a segunda maior empresa da holding Petrobras. Contrariando a tendência do mercado, file:///D|/Apostilas%20no%20site_HPG/crd2000_hpg/textos/artigo209.htm[15/12/2013 23:48:09] 10 executivos nota 10 Viana decidiu que não aumentaria seu preço um centavo sequer. E teve que agüentar a pressão. O impacto dessa decisão repercutiu em todo o país. Ganhou as páginas dos jornais e destaque no noticiário da TV. Dez dias depois, quem sofria a pressão eram os concorrentes da BR. Resultado: tiveram que voltar atrás e reduzir os preços. "Gosto de ser contestado", diz ele. "Sou capaz de tomar decisões contra a opinião de todo mundo. Se eu acreditar firmemente em alguma coisa, faço e depois arco com as conseqüências." Desafio, como se pode ver, é com ele mesmo. Faz aquilo que precisa ser feito - doa a quem doer. Muitas vezes, quando não consegue chegar a uma conclusão objetiva, segue seu feeling. "Viana tem uma sensibilidade aguçada", diz Júlio Bueno, diretor de mercado automotivo e lubrificantes da BR. Quando era superintendente do grupo Pão de Açúcar, cargo que ocupou de 1992 até o ano passado, Viana promoveu mudanças que resultaram no aumento do faturamento de 1 bilhão de dólares para 4,5 bilhões. Para sanear a empresa, ele teve que ser duro na queda e usar muito de sua intuição. Em primeiro lugar, reduziu o número de lojas de 655 para 200. Dos 55 000 funcionários registrados em 1992, ficaram somente 18 000. Foi dele também a idéia de uma agressiva e bem sucedida campanha para derrubar a fama de preços baratos do arquiinimigo Carrefour. Nem todo mundo aprovou a estratégia de Viana, o que, como já sabemos, o deixou ainda mais entusiasmado. Os resultados fizeram a família Diniz voltar a sorrir e o colocaram no estrelato do mundo corporativo. Coincidência ou não, no vácuo da saída de Viana para a BR no ano passado, o Pão de Açúcar nomeou não um, mas dois diretores para ocupar sua vaga na superintendência, tendo antes a cautela de submetê-los a um programa de treinamento. Viana acredita que um líder só é realmente bom se ele estiver apoiado em duas bases: uma técnica, que permite o conhecimento aprofundado do negócio; e outra humanística, de muito respeito com as pessoas no trabalho. É um engano, segundo ele, aprofundar-se demais nas matérias de sua competência específica e descuidar dos relacionamentos, da capacidade de compreender e tratar bem os indivíduos. "Não adianta uma empresa querer ser bem-sucedida e ter um ótimo ambiente de trabalho se uma de suas lojas estiver perturbando de alguma maneira o bairro onde está instalada." Reconhecer o talento e o esforço de seus subordinados é uma característica de Viana. Certa vez colocou um office-boy para fazer as funções de um escriturário que estava adoentado. Com algum treinamento, o boy superou as expectativas e passou a realizar um excelente trabalho. Isso gerou um dilema quando o rapaz voltou de sua licença médica: ou Viana mandava o boy de volta à sua antiga função, e perdia um talento, ou despedia o pai de família. "Decidi mandar embora o pai de família e isso me doeu uma barbaridade. Mas agi certo, porque o boy tinha talento, subiu na vida e virou diretor de banco." O que dá condições para Viana decidir o que deve ou não fazer ou o que é justo ou injusto é a sua habilidade de acompanhar o desenvolvimento das pessoas. E isso ele consegue avaliando atentamente o talento e a capacidade de cada um. Por isso, gosta de ouvir a opinião dos outros, saber o que pensam sobre os problemas da empresa e que decisão tomariam diante de um impasse qualquer. Circula com freqüência pelos corredores e tenta sentir o clima da empresa. "Procuro fugir daquele tipo que diz sim para tudo o que você faz. Com gente assim a nossa volta, o navio afunda. O iceberg está lá na frente, e essas pessoas vão seguir dizendo para você que está tudo bem, está tudo bem..." Luiz Kaufmann Luiz Kaufmann, o presidente do grupo GP Participações, é um executivo que não tem tempo a perder. Pelo menos essa é a imagem que ele procura transmitir para seus subordinados. Quer respostas rápidas, soluções imediatas e, acima de tudo, muita ação por parte da sua equipe. Esse tem sido seu estilo ao longo da carreira de sucesso que construiu. Kaufmann ocupou cargos de comando em empresas como Multiplic, Petropar e Aracruz Celulose. Nessa última, provocou, nos quatro anos em que permaneceu na presidência, entre 1994 e 1998, uma verdadeira revolução. Na época, o maior desafio era administrar uma dívida de cerca de 650 milhões de dólares. Ele tratou logo de conseguir carta branca dos acionistas. Queria liberdade total para agir. Depois, deu o seu "pulo-do-gato": aumentou a dívida enormemente, só que captando recursos no exterior, a juros muito mais baixos. Pagou o que a empresa devia e ainda sobrou troco para a comemoração. Em seguida, tratou de mudar a estrutura da empresa e de reduzir o número de funcionários de 8 000 para 2 300. Luiz Kaufmann mantém no grupo GP, aonde chegou no ano passado, o mesmo estilo de comandar equipes. Trabalha cerca de 12 horas por dia e impõe para os outros o mesmo rigor e dedicação que file:///D|/Apostilas%20no%20site_HPG/crd2000_hpg/textos/artigo209.htm[15/12/2013 23:48:09] 10 executivos nota 10 exige para si. "É uma pessoa exigente, mas é ainda mais implacável consigo mesmo", diz o atual presidente da Aracruz Celulose, Carlos Augusto Aguiar. "Ele geralmente estabelece metas acima do que pode alcançar, mas age assim para obter o máximo para a organização." Por essa e por outras, Kaufmann reconhece hoje que poderia ter premiado mais a si mesmo. "Se eu tivesse que refazer minha carreira, pediria uma participação acionária ou sobre resultados, além de outros incentivos que premiassem significativamente o desempenho." Kaufmann é um profissional que sabe como ninguém identificar oportunidades. Por isso sente-se completamente à vontade no comando da GP Participações, grupo que recebe inúmeros empreendedores atrás de parcerias e recursos para desenvolver seus projetos. A GP controla, por exemplo, empresas como Brahma e Artex. "Procuro reconhecer não apenas a qualidade do projeto, mas também a capacidade do empreendedor de tocar as coisas adiante. Aquele que largou o emprego, vendeu tudo o que tinha e está querendo ir ainda mais longe tem o perfil de alguém em quem se pode apostar." Quem trabalha diretamente com Kaufmann sabe que ele se irrita facilmente quando algo dá errado. Isso não quer dizer que não saiba perdoar os erros cometidos. O que ele não tolera é que seus subordinados usem o famoso "jeitinho brasileiro" para resolver os problemas. É detalhista ao extremo. Quando detecta uma falha, não se cansa de citá-la como exemplo para que ninguém mais cometa erros do mesmo tipo. "É a forma de nos dizer que o planejamento é fundamental no dia-a-dia do profissional e da empresa e que nem sempre se pode confiar plenamente naquilo que afirmam", diz o atual presidente da Aracruz, Carlos Aguiar. Apesar de ser duro na queda, Kaufmann não deixa de reconhecer um trabalho bem-feito. Diz ser fundamental separar um tempo para celebrar o sucesso, circular entre as filiais e congratular pessoalmente aqueles que fizeram um bom trabalho. "É preciso manter um permanente estímulo para a inovação e saber cobrar resultados," afirma. Luiz Kaufmann fala muito da importância de delegar poderes. Ele bem que tenta, mas na prática as pessoas que o cercam sabem que ele sempre vai querer conferir de perto como as coisas estão caminhando. Ele confia, acima de tudo, no seu taco. Maria Sílvia "Lá vai a dama de aço." É assim que muitos funcionários da CSN, Companhia Siderúrgica Nacional, referem-se à presidente da empresa, Maria Sílvia Bastos Marques. Pode até ser que haja um certo exagero nessa comparação. Afinal, Maria Sílvia, 43 anos, é uma pessoa emotiva, daquelas que chegam facilmente às lágrimas em festas de aniversário, casamento ou nas apresentações dos filhos na escolinha. Mas uma coisa é certa: no trabalho ela conduz tudo, absolutamente tudo, com mão de ferro. Foi assim, controlando cada centavo do caixa, que conseguiu o maior feito de sua bem-sucedida carreira. Em 1993, quando assumiu a Secretaria Municipal de Fazenda do Rio de Janeiro, Maria Sílvia encontrou apenas 5 milhões de dólares nos cofres - recursos mais do que escassos para uma cidade como o Rio. Três anos depois, no entanto, ela entregava o cargo com um saldo para lá de vitorioso: 1,2 bilhão de dólares em caixa, cerca de 240 vezes mais. O segredo? Reduziu as despesas, renegociou contratos e combateu a sonegação. A CSN, empresa que em 1998 faturou 2,7 bilhões, é a primeira real investida de Maria Sílvia no setor privado. Até então, suas atividades estavam basicamente centradas no setor público. Atuou como coordenadora da área externa do Ministério da Fazenda e como diretora financeira e internacional do BNDES, Banco Nacional de Desenvolvimento. Em 1996, ano em que assumiu a CSN, recebeu a notícia de sua gravidez. Detalhe: estava grávida de gêmeos. Um mês após o parto, decidiu que era hora de voltar ao batente e abriu mão do restante de sua licença. "Eu trabalho para viver, trabalho porque gosto e acho mesmo que trabalhar é mais importante do que tudo", afirma. Os resultados do trabalho de Maria Sílvia logo começaram a repercutir dentro e fora do país. A revista Time chegou a apontá-la como uma das personalidades empresariais de maior destaque no Brasil. Na CSN, tornou-se em pouco tempo uma figura admirada do primeiro ao último escalão. Às vezes recebe tratamento de superstar. Quando visita a usina da empresa em Volta Redonda (RJ), costuma ser cercada por funcionários armados com suas máquinas fotográficas. Querem uma foto ao seu lado como recordação. Ela sabe que esse corpo-a-corpo é importante para manter o alto-astral e a motivação da equipe. Por isso, atende a todos. Cobra resultados e é detalhista. "Maria Sílvia trata com a mesma seriedade um problema envolvendo file:///D|/Apostilas%20no%20site_HPG/crd2000_hpg/textos/artigo209.htm[15/12/2013 23:48:09] 10 executivos nota 10 milhões de dólares e um simples detalhe da reforma do ambulatório", diz Ana Sílvia Corso Matte, diretora de recursos humanos da CSN. "É capaz de se lembrar do nome do filho ou do neto do ascensorista que estava doente na semana ou no mês passado. Pergunta se ele está melhor, se precisa de algum auxílio." Mas, ao mesmo tempo em que é capaz de gestos como esse, a dama de aço da CSN, uma adepta do bom e velho conceito de O&M (organização e método), não pensa duas vezes quando tem que falar duro. Não é de colocar panos quentes. "Ela é uma pessoa terna mas bastante firme", diz a diretora jurídica Cláudia de Azeredo Santos. "Ela bate e você não sente que apanhou." Nada a irrita mais do que a falta de empenho ou alguém querendo enrolá-la. Nessas ocasiões, costuma perder a paciência. Outra característica marcante sua é não alimentar ilusões. Quando alguém lhe pergunta sobre estabilidade no emprego, por exemplo, costuma responder que espera que nenhum de seus funcionários se decepcione se não conseguir se aposentar na CSN. "O modelo paternalista acabou", diz. "Não há por que continuar sonhando com esse tipo de coisa hoje em dia." Maurício Botelho Maurício Novis Botelho fez a Embraer decolar. Esse engenheiro carioca de 56 anos está no comando da empresa desde 1995. Recebeu uma ex-estatal em estado pré-falimentar, com dívidas nas alturas, vendas estagnadas e funcionários desmotivados. Hoje, menos de cinco anos depois, a empresa tem contratos que somam 18 bilhões de dólares e entrega sete jatos por mês. A Embraer é a quarta maior fabricante de aviões do mundo, atingiu um faturamento de mais de 1 bilhão de dólares em 1998 e é a empresa brasileira de alta tecnologia com maior presença internacional. As projeções indicavam que ela seria a maior exportadora do país em 1999. Uma reviravolta e tanto. Muito dessa recuperação se deveu à grande mudança promovida por Botelho na cultura da empresa (mais a injeção de 520 milhões de dólares da holding do Banco Bozano, Simonsen e os fundos de pensão Sistel e Previ). Botelho mostrou que para uma empresa dar certo é preciso que ela tenha foco. Foco no cliente. Um episódio retrata sua maneira de pensar. No início de 1995, numa reunião, Botelho perguntou a um antigo funcionário qual era o seu negócio. "Fabricar aeronaves de qualidade", respondeu o empregado. "Não", disse Botelho. "O seu negócio é satisfazer seus clientes com aviões de qualidade. Aviões não são um fim. São apenas um meio." A passagem pelo grupo Odebrecht (onde ficou por mais de dez anos), segundo Botelho, é que fez com que ele deixasse de ser executivo para se tornar empresário. Passou a se preocupar com os resultados. Para ter uma idéia: a receita anual por funcionário passou de menos de 47 000 dólares para quase 202 000 dólares. Essa postura diante dos negócios é que faz de Botelho um dos executivos mais cobiçados do mercado. Mas não é só isso. Ele tem outra característica fundamental: está preocupado em atrair talentos - onde quer que eles estejam - e em educar e reter os que já estão ao seu lado. Uma de suas primeiras medidas foi montar uma nova equipe de vendas, contratada fora dos quadros da companhia. No início do ano passado, a Embraer colocou um anúncio à procura de engenheiros na edição americana do The Wall Street Journal. Os novos funcionários recebem três meses de treinamento antes de assumir suas funções. Se as metas da empresa são atingidas, os empregados recebem 25% do valor que é distribuído aos acionistas. Na Embraer, Botelho pôde pôr em prática o que, na sua opinião, são dois dos principais atributos de um executivo: a perseverança e a disposição para superar adversidades. "Costumo dizer ao meu pessoal que um problema não pode nos abalar por mais de meia hora", disse ele à revista Exame. "As derrotas têm de ser encaradas como coisas passageiras." Apesar do seu discurso, Botelho não tem o perfil descrito nos livros como o do líder ideal. Parece que causa mais receio do que admiração em quem trabalha com ele. E não faz questão nenhuma de mudar essa imagem. Tetraneto de índios bororos, Botelho guarda um velho tacape em seu escritório, em São José dos Campos, interior de São Paulo. "É de estimação", disse ele à Exame. "Mas não penso duas vezes se tiver de usar." Muitos funcionários procurados pela VOCÊ s.a. não quiseram falar sobre ele, mesmo com a garantia de que não seriam identificados. Botelho é tido como temperamental e extremamente centralizador. "Ele se preocupa tanto com contratos de milhões de dólares como com a pauta do jornal interno da empresa", afirma um exfuncionário da Embraer. "Se tem um cara que tem que gostar ou não das coisas aqui dentro, esse cara é o Maurício" é outra frase que costuma ser dita lá dentro. Outra crítica de quem trabalha com Botelho: ele é inacessível - principalmente para quem está abaixo da diretoria. É também considerado um workaholic. Não é raro marcar reuniões em feriados e fins de semana. Apesar das críticas, Botelho file:///D|/Apostilas%20no%20site_HPG/crd2000_hpg/textos/artigo209.htm[15/12/2013 23:48:09] 10 executivos nota 10 mostra a que veio. Tirou a Embraer do buraco e a cobriu de glórias. Paulo Ferraz Há 15 anos, o fundador e então presidente do banco Bozano, Simonsen, Júlio Bozano, perguntou a Paulo Ferraz, na época um jovem de 30 anos que cuidava da tesouraria do banco, aonde ele pretendia chegar na carreira. Resposta: "Quero sentar no seu lugar". Dez anos depois, Ferraz não só estava sentado na cadeira da presidência como tinha praticamente reinventado o banco. Transformou o Bozano, Simonsen de uma pequena casa bancária que faturava 140 milhões de reais em um conglomerado financeiro de bilhões de reais. Nos quatro primeiros anos de sua gestão, o patrimônio cresceu cerca de dez vezes. No mesmo período, os ativos aumentaram oito vezes, de 1,5 bilhão para 15 bilhões de reais. Além do capítulo monetário, Ferraz criou uma empresa moderna, que atrai talentos - vai buscá-los em qualquer lugar, das faculdades à concorrência - e distribui bônus generosos para todos os funcionários. Como ele faz isso? "Ele tem a persistência e a resistência de um maratonista, a astúcia dos felinos e a formação de uma grande escola americana - no caso, Harvard", diz um colaborador próximo. Pode-se dizer que uma de suas principais virtudes é concentrar poder no que deve ser concentrado e delegar o que deve ser delegado. Ele se dedica às decisões estratégicas - a compra do banco Meridional, em 1997, por exemplo - e as comanda como um general conduz uma operação militar. Não deixa vazar informações, mantém frieza cartesiana ao negociar e, mesmo sob pressões que fariam muitos profissionais experientes tremer nas bases, continua impassível. Jamais perde o foco. O que interessa sobretudo, sempre, são os resultados - e é aqui que o presidente que centraliza as decisões encontra o homem que confia na capacidade de seus comandados. Um exemplo: um assessor procurou Paulo Ferraz para lhe contar o que estava fazendo para desenvolver um determinado projeto. Mal começou a falar, foi interrompido. "Não tenho tempo para ouvir elaborações", disse Ferraz. "Não importa como vai fazer, contanto que faça e bem-feito." Os personagens podem até variar, mas a essência da cena permanece a mesma. Paulo Ferraz, obviamente, é o que se convencionou chamar de um líder. Tem carisma, é simpático, afável, cordial. Mas de maneira alguma é uma pessoa fácil de conviver. Odeia tapinha nas costas - dar ou receber. Rechaça intimidades. "Na maior parte do tempo, é um executivo gélido, que não dá nenhuma abertura para o lado pessoal", afirma um ex-colega. Mesmo profissionais experientes se deixam intimidar pela postura de Ferraz, principalmente por seu conhecimento do negócio. "Ele tem um domínio astronômico de qualquer coisa ligada ao banco", diz outro assessor. "Por mais que alguém se prepare para uma reunião, o Paulo sempre levanta pontos que ninguém pensou - e cobra por isso." Mais: "Não avaliamos o pessoal apenas pelo que se fez, mas também pelo que se deixou de fazer", afirma Ferraz. Além disso, impressiona a sua velocidade de tomar decisões. No começo de janeiro, o Bozano, Simonsen foi vendido ao banco espanhol Santander. Ninguém sabe ao certo qual será o futuro de Ferraz. Atualmente, dedica-se a expandir o Investshop, um dos principais sites de serviços financeiros do país. É provável que, ao menos pelos próximos três meses, ele também acompanhe de perto essa troca de guarda. Depois, pode continuar no Santander, mas há mais chances de que acompanhe Júlio Bozano em outros negócios. Seja como for, o fato é que um dos dez executivos mais cobiçados do mercado está, até segunda ordem, sem destino certo. Paulo Periquito Pergunte ao diretor-presidente da Multibrás, Paulo Periquito, do que ele mais se orgulha em sua carreira. Ele é capaz de, em poucos segundos, citar quatro ou cinco realizações importantes, como a transformação da Multibrás numa empresa com o foco 100% voltado para o seu cliente. Isso, por si só, revela uma de suas maiores qualidades: ele é, antes de mais nada, um realizador. Na Alcoa, onde ingressou em 1972 e permaneceu até 1996, Periquito relembra com entusiasmo de uma divisão de distribuição de alumínio que criou e se transformou em pouco tempo num negócio de 100 milhões de dólares. Outro feito seu foi ter tirado do vermelho a filial da empresa no México, quando esteve comandando tudo por lá, no início da década de 90. Qual o segredo de Paulo Periquito para realizar tanto? "Tenho um senso de urgência e um foco voltado para o resultado", afirma. "Desafio as pessoas a pensar diferente, a ser criativas e a criar valor." Não é à toa, portanto, que ele passe a maior parte do tempo circulando pela empresa. Os executivos da Multibrás costumam brincar entre si dizendo que o melhor lugar para se esconder de Paulo Periquito é ir à sua file:///D|/Apostilas%20no%20site_HPG/crd2000_hpg/textos/artigo209.htm[15/12/2013 23:48:09] 10 executivos nota 10 sala. "Fico aqui somente 10% do tempo", diz ele. Paulo Periquito é um executivo que não abre mão de trabalhar com os melhores profissionais. Gosta de ter ao seu lado gente que tenha feito MBA no exterior e que fale inglês e espanhol fluentemente. O líder ideal, na sua opinião, tem que saber mobilizar equipes, trabalhar voltado para resultados, atualizar-se permanentemente por meio de cursos e treinamentos e dedicar um bom tempo para ouvir as pessoas. O presidente da Multibrás é uma pessoa que não se altera facilmente. Não importa qual seja a gravidade do problema que esteja enfrentando. Você não o verá perder facilmente a paciência nem elevar a voz com os subordinados. "É uma pessoa que transmite uma calma fora do comum", diz Ricardo Acosta, diretor de recursos humanos e qualidade da Multibrás. "Mesmo nos momentos de maior tensão ele consegue manter o foco e o equilíbrio." Prova disso é que nem o prejuízo de 55 milhões de reais registrado até setembro do ano passado o abalou. É provável que em seu lugar um executivo mais afoito ameaçasse cortar cabeças ou fazer mudanças organizacionais. Ele não. Sabia que o resultado negativo fora provocado pela desvalorização do real em relação ao dólar. "Não era o caso de fazermos mudanças estratégicas", diz ele. "O que fiz foi manter a equipe motivada e, a partir daí, pensar em estratégias para melhorar o nosso desempenho." A Multibrás fechou o ano no vermelho, é verdade, mas o prejuízo foi amenizado: caiu para 34 milhões de dólares. Uma das maiores preocupações de Periquito, como líder, é o bem-estar de seus funcionários. Não, não é conversa fiada de um chefe querendo fazer média com os subordinados. Se tiver que deixar os negócios de lado e passar o dia inteiro cuidando, como diz Ricardo Acosta, da gestão do sentimento humano, ele não pensará duas vezes. Quer realmente que todos se sintam satisfeitos dentro da empresa. Por isso, raramente impõe suas decisões ou se vale do poder que o cargo lhe dá para convencer alguém a mudar de idéia. Periquito convence não só porque demonstra segurança quando fala, mas principalmente por conhecer a fundo as mais variadas áreas dentro de uma empresa. Afinal, ao longo de seus quase 30 anos de carreira ele já chefiou áreas como recursos humanos, varejo, marketing e tecnologia e informação, entre outras. Para Paulo Periquito, o maior desafio que qualquer profissional tem hoje em dia é manter-se atualizado. Mesmo chegando cedo ao escritório, por volta das 7 horas da manhã, e saindo tarde da noite, ele consegue ler um livro de negócios por semana, geralmente recomendado por alguém de sua equipe. "Como viajo muito para o exterior, aproveito para ler no avião. Não dá para desperdiçar esse tempo precioso." file:///D|/Apostilas%20no%20site_HPG/crd2000_hpg/textos/artigo209.htm[15/12/2013 23:48:09]