7
FACULDADE RUY BARBOSA
ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOLOGIA CONJUGAL E FAMILIAR
ANA ELISA GOMES MATOS VIEIRA
GIORDANA BARRETO GÓES
MONISE GUSMÃO
ALIENAÇÃO PARENTAL E A TRANSMISSÃO DOS
LEGADOS FAMILIARES ENTRE GERAÇÕES:
UMA LEITURA SISTÊMICA
Salvador
2010
8
ANA ELISA GOMES MATOS VIEIRA
GIORDANA BARRETO GÓES
MONISE GUSMÃO
ALIENAÇÃO PARENTAL E A TRANSMISSÃO DOS
LEGADOS FAMILIARES ENTRE GERAÇÕES:
UMA LEITURA SISTÊMICA
Monografia apresentada ao Curso de Pós-graduação
em Psicologia Conjugal e Familiar, Faculdade Ruy
Barbosa, como requisito parcial para obtenção do
título de Especialista.
Orientadora: Profa. Giovana Perlin
Salvador
2010
9
AGRADECIMENTOS
A professora Giovana Perli n , nossa orientadora, pelo apoio e ensinamentos
transmitidos durante a orientação desse trabalho.
A Marlene Miranda, orientadora do projeto, pelo carinho e disponibilidade durante as
supervisões.
Aos nossos pais e irmãos pelo amor e dedicação, por terem contribuído para que
chegássemos até aqui.
Aos nossos colegas, professores e colaboradores desta Instituição pelos anos de
dedicação, aprendizagem, carinho e companheirismo.
Aos nossos companheiros Hector, Fábio e Rafael pelo estímulo e paciência nas horas
mais difíceis.
A todos aqueles que direta ou indiretamente contribuíram para a execução deste
trabalho.
10
RESUMO
A partir da compreensão de família como uma instituição em constante processo de
transformação, o presente trabalho objetivou apresentar o conceito de Alienação Parental em
contexto de divórcio com base na teoria sistêmica. Foram apresentados o histórico e os
conceitos de família, abordados por diversos autores, assim como os de Alienação Parental e
Síndrome de Alienação Parental. De acordo com a abordagem sistêmica da família a
Alienação Parental está relacionada a problemas no funcionamento da dinâmica familiar e aos
legados que ambos os genitores herdaram de suas famílias de origem. O estudo levou à
compreensão de que a Alienação Parental configura fenômeno relacional típico da pósmodernidade que está diretamente relacionado à separação dos pais e à dificuldade ou
incapacidade de encerrar a relação conjugal sem prejuízo para a relação parental. Conceitos
sistêmicos como diferenciação do self, tríades, triângulos e suas conexões, lealdade no sistema
familiar e transmissão de legados entre gerações configuram elementos fundamentais para a
compreensão do fenômeno e para a condução em saúde psicológica e relacional da família.
Palavras-chave: Alienação parental. Família. Divórcio. Transmissão de legados. Família de
origem.
11
ABSTRACT
Considering family as an institution in a constant process of transformation, the aim of the
present work was to introduce the concept of Parental Alienation in the context of divorce on
the basis of the Systems theory. The history and concepts of family, addressed by several
authors, Parental Alienation and Parental Alienation Syndrome were presented. According to
the Family Systems Approach the Parental Alienation is related to problems in the functioning
of family dynamics and the legacy that both parents have inherited from their origin families.
The study led to the understanding that the Parental Alienation sets typical post-modernity
relational phenomenon that is directly related to parents' separation and the difficulty or
inability to end the marital relationship without prejudice to the parental relationship. Systems
concepts such as differentiation of self, triads, triangles and their connections, loyalty in the
family system and transmission of legacies between generations are fundamental elements for
understanding the phenomenon and to conduct psychological and relational health of the
family.
Keywords: Parental alienation. Family. Divorce. Transmission of legacy. Orign family.
12
SUMÁRIO
1
INTRODUÇÃO................................................................................................
07
2
A HISTÓRIA DA FAMÍLIA........................................................................
11
3
CONCEITOS DE FAMÍLIA NA VISÃO SISTÊMICA.....................................
16
4
ALIENAÇÃO PARENTAL E SÍNDROME DE PARENTAL: ALIENAÇÃO
DEFEITOS, CAUSAS E CONSEQÜÊNCIAS........................................................
5
A TRANSMISSÃO DE LEGADOS ENTRE GERAÇÕES E A ALIENAÇÃO
PARENTAL.....................................................................................................................
22
33
5.1
5.2
5.3
5.4
O PROCESSO DE DIFERENCIAÇÃO DO SELF... ..........................................
TRÍADES, TRIÂNGULOS E SUAS CONEXÕES...........................................
LEALDADE NO SISTEMA FAMILIAR..................................................................
LEGADOS: REPETIÇÃO DE PADRÕES ENTRE GERAÇÔES..........................
33
38
41
44
6
CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................
48
7
RESSONÂNCIAS..................................................................................... 52
REFERÊNCIAS.................................................................... 5 3
1
13
1
INTRODUÇÃO
Operadores
do
direito,
psicólogos
e
profissionais
que
estão
envolvidos nas discussões familiares se deparam, com cada vez mais
freqüência, com um fenômeno que atende pelo nome de Alienação
Parental, que ocorre quando um dos pais adentra em um processo de
t e n t a t i v a s d e c o n d u z i r o s f i l h o s a o a f a s t a m e n t o a f e t i v o d o o u t r o g e n i t o r.
Tr a t a - s e d e u m f e n ô m e n o r e l a t i v a m e n t e n o v o q u e , p o r a p r e s e n t a r - s e
crescente, demanda atenção especial por parte da sociedade.
A inovação se refere, especialmente, à estrutura familiar envolvida
no fenômeno: famílias separadas. Há algumas décadas, a separação ou o
d i v ó r c i o e r a m p o s s i b i l i d a d e s r e m o t a s . Dantas (2003) s a l i e n t a q u e a f a m í l i a
nuclear do século XIX, na qual o pai, a mãe e os filhos conviviam na
mesma casa, há muito tempo não representa mais o único modelo
familiar predominante.
As mudanças constantes nas funções da família são reflexos de
necessidades de ajuste a uma nova realidade socia l e em decorrência,
também, do desenvolvimento do individualismo e do imenso desejo de
felicidade surgidos nos séculos XIX.
As condições pós-modernas ao favorecerem a inexistência de um
modelo único de relacionamento possibilitam vários arranjos conjugais
e familiares, tais como famílias compostas por recasados, divorciados,
coabitantes, monoparentais, arranjos considerados impróprios há algum
tempo.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE,
2007) mostram que os números de divórcio e separações ocorridos no
Brasil, entre os anos de 1993 e 2003, cresceram 44% e 17,8%,
respectivamente. Já no período entre 2004 e 2005, as separações
judiciais
aumentaram
7,4%,
mantendo
um
crescimento
gradativo.
Destaca-se que os números d o IBGE (2007) não i ncluem as uniões e as
dissoluções consensuais, mas, a partir deles, é possível pressupor que,
se fossem considerados os dados extra -oficiais, as estatísticas seriam
14
a i n d a m a i o r e s . Te n d o e m c o n t a e s s e s d a d o s e o c o n t e x t o s ó c i o - h i s t ó r i c o
atual do segundo mil ênio, o divórcio tornou -se evidente, razão pela
qual surge a necessidade de mais pesquisas nacionais sobre o tema para
subsidiar uma reflexão contextualizada à realidade brasileira.
Segundo
Cano
e
Col.
(2009)
pode-se
inferir
o
quanto,
na
atualidade, a família vem se reconfigurando em decorrência dessas
transições e de mudanças sociais que alteram a sua organização. Ainda
com
base
em
dados
do
IBGE
(2007),
denota-se
a
incidência
do
crescimento de famílias monopar entais, pois os índices apontam que,
em 47% dos domicílios, um dos pais está ausente da constituição
f a m i l i a r.
Ao considerarem-se os dados brasileiros, com base no
IBGE,
verifica-se que, somente no ano de 1994, foram registrados 29.690
c a s a m e n t o s e n t r e d i v o r c i a d o s e s o l t e i r a s , 11 . 5 2 8 e n t r e d i v o r c i a d a s e
solteiros, e 5.867 entre divorciadas e divorciados (IBGE, 1994). A
proporção de casamentos entre indivíduos divorciados com cônjuges
solteiros é crescente, principalmente entre homens divorciados que se
casam com mulheres solteiras. O índice que, em 1995, era de 4,1% foi
para 6,3% no ano de 2005 (IBGE, 2007).
Faz-se
importante
salientar
que
o
artigo
226
„caput‟
da
Constituição Federal, diz que a família é a base da sociedade e tem
proteção
especial
do
Estado,
sugerindo,
que
todas
essas
novas
configurações famílias merecem a proteção irrestrita do Estado, dos
operadores do direito e profissionais de saúde. Dessa forma, a nenhuma
espécie de vínculo que tenha por base o afeto se pode deixar de conferir
o status de família, merecedora da proteção do Estado.
Segundo a Dra. Maria Berenice Dias 1
Casamento, sexo e procriação deixaram de ser os elementos identificadores da
família. Na união estável não há casamento, mas há família. O exercício da
sexualidade não está restrito ao casamento – nem mesmo para as mulheres -, pois
1
DIAS, M. B. É desembargadora aposentada do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, advogada militante e
vice-presidente nacional do Instituto Brasileiro de Direito da Família - IBDFAM. Disponível em:
<http://www.epm.sp.gov.br/SiteEPM/Artigos/artigo+212.htm>. Acesso em: 22 Jun 2010.
15
caiu o tabu da virgindade. Diante da evolução da engenharia genética e dos
modernos métodos de reprodução assistida, é dispensável a prática sexual para
qualquer pessoa realizar o sonho de ter um filho. Todas estas mudanças impõem uma
nova visão dos vínculos familiares, emprestando mais significado ao
comprometimento de seus partícipes do que à forma de constituição, à identidade
sexual ou à capacidade procriativa de seus integrantes. O atual conceito de família
prioriza o laço de afetividade que une seus membros, o que ensejou também a
reformulação do conceito de filiação que se desprendeu da verdade biológica e
passou a valorar muito mais a realidade afetiva. Apesar da omissão do legislador o
Judiciário vem se mostrando sensível a essas mudanças. O compromisso de fazer
justiça tem levado a uma percepção mais atenta das relações de família. As uniões de
pessoas do mesmo sexo, por exemplo, vêm sendo reconhecidas como uniões
estáveis. Passou-se a prestigiar a paternidade afetiva como elemento identificador da
filiação e a adoção por famílias homoafetivas se multiplicam. Frente a esses avanços
soa mal ver o preconceito falar mais alto do que o comando constitucional que
assegura prioridade absoluta e proteção integral a crianças e adolescentes (DIAS
apud XAXÁ, 2008, p15).
Autores da teoria sistêmica familiar trazem importante contribuição
para a compreensão dessas novas configurações quando passam a
considerar que o indivíduo está sempre inserido em um sistema. Nada
existe se não em relação e, assim, a família também é vista como uma
unidade em que todas as partes estão interligadas e interagem entre si,
existindo um movimento contínuo e circular de troca entre os sub sistemas familiares e a estrutura individual.
A partir dessa compreensão de família, o presente trabalho, de
natureza
descritiva,
objetiva
apresentar
o
conceito
de
Alienação
Parental em contexto de separação de acordo com a teoria sistêmica.
Para construção desta tarefa, foi realizada revisão de literatura com
base sistêmica.
Segundo Noronha e Ferreira (2000 apud CAMPELO , 2004, p.47)
trabalhos de revisão são estudos que analisam a produção bibliográfica
em
determinada
área
temática,
dentro
de
um
recorte
de
tempo,
fornecendo uma visão geral ou um relatório do estado -da-arte sobre um
tópico específico, evidenciando novas idé ias, métodos, sub-temas que
tem recebido maior ou menor ênfase na literatura selecionada. A
consulta de um trabalho de revisão propicia ao pesquisador tomar
conhecimento, em uma única fonte, do que ocorreu ou está ocorrendo
periodicamente no campo estudado , podendo substituir uma série de
outros trabalhos.
16
O fator que impulsionou a escolha desse tema foi a proximidade
que as autoras tiveram com a sua área de atuação profissional, seja na
área de psicologia clínica ou jurídica e o desejo de melhor conhecer a
inter-relação da teoria sistêmica com o processo da Alienação Parental.
Na prática profissional da clínica, as autoras, sentiram a necessidade de
uma maior investigação no estudo da abordagem sistêmica, pois foi
observado que as famílias que vivenciam o P rocesso de Alienação
Parental
apresentavam
“problemas”
no
funcionamento
os
mecanismos
da
dinâmica
f a m i l i a r.
É
importante
conhecer
melhor
que
afloram
a
Alienação Parental, para que possamos ter um controle mais eficaz
sobre as contribuições que levamos da n ossa família de origem.
Estudar
a
Tr a n s g e r a c i o n a l
Te o r i a
de
dos
Bowen
Sistemas
(1979),
Familiares
a Abordagem
e
o
Modelo
Estruturalista
de
Minuchin (1990), a conjugalidade abordada por Féres-Carneiro (1998),
e a abordagem do tema da Alienação Parental descrita por Xaxá (2008),
como principais autores, favorece a compreensão destes contextos,
assim como capacita os profissionais que possuem uma visão sistêmica,
para o exercício de suas práticas.
17
2
A H I S T Ó R I A D A FA M Í L I A
A família nunca permaneceu com o mesmo formato: ao longo da
história ela vem passando por diversas transformações e novos arranjos
foram se constituindo.
Sluzki (1997) afirma que em sua origem, a palavra “família” foi
utilizada para denotar todos que viviam em um mesmo ambiente,
i n c l u s i v e o s s e r v i ç a i s . A p a r t i r d o s é c u l o X V, o t e r m o t e v e s e u
significado ampliado, abarcando todos os membros da casa, tanto servos
como
mulheres
cativas
e
descendência
engendrada
pelo
chefe
de
família. Nessa família medieval, o vínculo mais importante era um
acordo tácito de proteção e lealdade mútuas, que se tornou mais estável
à medida que o tempo foi transcorrendo, e o uso do termo evoluiu
progressivamente até o contrato familiar que hoje conhecemos.
Cabral
(1995)
afirma
que
na
transição
histórica -medieval-
moderna, tudo que se refere ao campo das uniões sexuais sofreu várias
mudanças, em virtude do fluxo de correntes de novos ideais sociai s.
O Renascimento e a Reforma, sem dúvida, impulsionaram a
humanidade
a
questionar
velhos
valores,
padrões
e
concepções
a
respeito da mulher e, sobretudo, do casamento. Neste mesmo período a
aristocracia feudal cede lugar a uma nova força social, a burgue sia, que
e m e r g i a e s e d e s e n v o l v i a c o m t o d a f o r ç a e p o d e r.
De acordo com Cabral (1995) a moral dessa nova classe pautava se em uma radical individualização, novo código da pequena família
burguesa, nascendo a concorrência e a propriedade privada. Assim
configurou-se o início de novas relações de produção, caracterizadas
pela exploração capitalista de um proletariado assalariado. Com isso, a
população urbana e principalmente as camadas mais abastadas da
sociedade viram-se em crise diante do enfrentamento das correntes
opostas de valores, nas relações amorosas, conjugais e sexuais.
18
O
mesmo
autor
coloca
que
assim
se
produziu
a
moral
da
propriedade individualista e do culto ao eu. Isso se refletiu muito mais
intensamente nas relações entre os sexos do que em outr as formas das
relações humanas. Fortaleceu a idéia do direito da propriedade de um
ser sobre o outro e o velho preconceito da desigualdade entre o homem
e a m u l h e r. J á o m o d e l o d e f a m í l i a p a s s o u a s e r a q u e l e e n c e r r a d o e m s i
mesmo, cuja responsabilidade é a de ser a célula principal da sociedade.
Cabral (1995) conclui pontuando que a moral da nova classe
burguesa privilegiou fortemente a idéia da propriedade do marido sobre
a esposa. E esse sentimento não se restringiu apenas ao casamento
legal: se manifestava em qualquer tipo de união amorosa. No século
XVI, o modelo de família começou a modificar -se no sentido de tornarse mais apropriado aos novos tempos.
Sob a influência marcante do individualismo, começa a se formar
a
família
n u c l e a r,
composta
apenas
de
pais
e
filhos.
Os
novos
casamentos e a conseqüente formação de novas famílias seguiam as
mesmas exigências religiosas e morais da época. Já não se casava mais
tão jovem como nos tempos medievais. Mas ao homem era pedido que
ao menos pudesse sustentar uma família, enquanto a mulher deveria
reunir as condições de dona de casa eficiente, companheira racional e
excelente mãe para os filhos. O amor ainda não era o componente
principal para a realização de um casamento. Contudo, da convivência
se almejava a cumplicidade mútua e a afeição.
Foi no século XVIII, também, que o número de nascimentos
i l e g í t i m o s v o l t o u a s u b i r. I s s o s i g n i f i c a q u e a s r e l a ç õ e s e x t r a c o n j u g a i s ,
a p a r e n t e m e n t e a m e n i z a d a s c o m o s u rg i m e n t o d a f a m í l i a n u c l e a r, n ã o
desapareceram.
Segundo
Cerveny
(2004)
a
família
moderna
surgiu,
provavelmente, do modelo burguês europeu do século XVIII, tendo
sofrido uma gama de alterações em decorrência das grandes mudanças
econômicas e de pensamento nos séculos posteriores.
19
A revolução industrial do século XIX foi uma das responsáveis
por parte dessas mudanças como, por exemplo, pelo surgimento do
modelo de família nuclear urbana (formada por pais e filhos) em
contraposição à família extensa e rural.
escolaridade
nas
classes
trabalhado ras
A pressão pelo aumento da
culminou
no
adiamento
da
independência e autonomia dos filhos, o que levou os pais a passarem a
exercer a função de proteção e educação da prole por períodos mais
longos.
Pode-se observar que o investimento e o formato de relação com a
prole mudou de forma importante. Dantas (2003) salienta que a família
nuclear do século XIX, na qual o pai, a mãe e os filhos conviviam na
mesma casa, não representa mais o único modelo familiar predominante.
O movimento feminista em meados do século XX e o maior ingresso das
mulheres no mercado de trabalho, i nclusive em atividades com melhores
renumerações, levou a discussão a questão da divisão sexual de papeis,
com conseqüentes mudanças na dinâmica das relações e estruturas
familiares.
A mesma autora considera que durante o século XX houve a
convivência de t rês modelos de família: a tradicional que privilegiava a
produção
econômica
conjunta,
enfatizando
a
autoridade
paterna
e
exercendo intercâmbio entre a comunidade e seus parentes; a moderna,
mais
individualista,
tornando-se
mais
que
distanciou -se
nuclear
e
da
igualitária,
comunidade
focando
a
e
parentes,
atenção
nos
sentimentos; e, por fim, já no final do século, a pluralística (ou pós moderna), que tem como característica principal a abertura às novas
formas de relacionamentos, constituídas pela mãe e seus filhos, por pais
e mães que estejam em outras uniões matrimoniais, mas que convivem
com os filhos de seus outros casamentos.
As novas configurações familiares geram desafios e repercussões
psicológicas
e
transformações
sociais.
À
medida
que
a
família
vivencia
psico -sócio-político-econômico-culturais,
as
uma
multiplicidade de configurações familiares se delineiam, levando os
20
membros a experimentarem processos transacionais de adaptação e
acomodação às novas situações ( GRZYBOWSKI, 2001).
Entretanto, como já foi dito anteriormente, Osório (1996) aponta
que é no século XXI que significativas mudanças e transformações
acontecem,
entrando
em
cena
a
pós-modernidade.
Com
isso,
as
transformações aceleradas dos papeis sociais demandam mudanças ainda
mais dramáticas nos valores.
A família não mais se apresenta como única, pois as mudanças
culturais e sociais das últimas décadas fazem surgir diversas maneiras
de agrupamento. Para Goldani (1994) a família é fruto de negociações e
acordos entre seus membros e sua duração depende disto. Assim, como
são frutos de escolhas individuais e negociações interindividuais, a
vida dos familiares será cada vez mais idiossincrática e fluída.
O desenvolvimento do individualismo e a busca da felicidade
surgidos no século XIX levaram às mudanças da vida moderna. A
família começa a viver de forma mais íntima e, segundo Badinter
( 1 9 8 5 ) , p a s s a a s e r u m n o v o m o d o d e v i d a , v o l t a d a p a r a o i n t e r i o r, a
intimidade que conserva os laços afetivos familiares, onde a mãe é o
centro, que adquire uma importância que nunca tivera.
Neste movimento de transformações intensas, o casamento deixa
de ser um pacto da família indissolúv el, com a garantia da presença
divina e passa a ser um contrato livremente consentido entre o homem e
a m u l h e r q u e d u r a r á a p e n a s e n q u a n t o d u r a r o a m o r. O s l a ç o s c o n j u g a i s
passam a ser cada vez mais transitórios e frágeis, onde o outro assume a
posição
de
fácil
descarte.
Divórcios,
re -casamentos,
famílias
monoparentais, casais homossexuais, famílias tradicionais patriarcais:
uma
miríade
de
modelos
de
casamentos
passou
a
coexistir
(ROUDINESCO, 2003).
Giddens (1993) compartilha dessa análise e pontua que a família
pós-moderna rompe com os padrões tradicionais, questionando seus
valores. Os ideais judaico -cristãos de união entre os sexos opostos,
perenidade dos vínculos conjugais, valorização da monogamia, dentre
21
outros, deixam de nortear os vínculos familiares , dando lugar a novas
estruturas familiares.
Essas estruturas aparentemente se tornam mais fluidas e contam
com
dois
componentes
que
se
integram
para
fortalecer
essa
característica: a exacerbação do individualismo e a possibilidade de
separação e divórcio.
A
constatação
de
que
as
perspectivas
de
formação
e
de
continuidade do casamento compreendem os valores e padrões do
individualismo,
tendo
em
vista
que
os
ideais
de
união
conjugal
demonstram a primazia da autonomia e da satisfação de cada um dos
consortes. No entanto, ao mesmo tempo em que os ideais individualistas
estimulam a busca pela independência dos companheiros, identifica -se o
crescimento da importância dada à necessidade da construção de uma
identidade conjugal, que abranja os ideais, os anseios e os projetos
comuns.
O dilema individualidade -conjugalidade apresenta -se como um
cenário constante e pode implicar na percepação de instabilidade, o que
é discutido por Carvalho e Almeida (2003)
À primeira vista, essa nova realidade pode dar a impressão de que as
famílias estão desestruturadas, ameaçadas, ou, até mesmo, em vias de
extinção. Uma leitura mais cuidadosa e acurada, porém, deixa patente sua
plasticidade e sua enorme capacidade de mudança e de adaptação às
transformações econômicas, sociais e culturais mais amplas, bem como sua
persistente relevância, notadamente como espaço de sociabilidade e
socialização primárias, de solidariedade e de proteção social (CARVALHO;
ALMEIDA, 2003, p. 110).
Mesmo
família
diante
ainda
é
da
plasticidade
considerada
a
das
organizações
matriz
mais
familiares,
importante
a
do
desenvolvimento humano e principal fonte de saúde de seus membros.
Segundo Dantas (2003) a família tem conseguido sobreviver às crises
sociais devido à sua capacidade de ajustar -se às novas demandas.
Mas, como discutiu-se, as transformações refletem nas relações e
novos fenômenos, como é o caso da Alienação Parental, que
revelar-se
pode
contexto profícuo para emergirem conflitos e crise s no
s i s t e m a f a m i l i a r.
22
3
C O N C E I T O S D E FA M Í L I A N A V I S Ã O S I S T Ê M I C A
A variabilidade histórica da instituição familiar torna muito difícil
a elaboração de um conceito único de família. Ela parece modificar -se
temporal e espacialmente, englobando funções políticas e econômicas
dentro da sociedade em que está inserida. Além d isso, a história da
família não é linear e apresenta diversas rupturas em seu percurso
( D A N TA S , 2 0 0 3 , p . 2 2 ) , c o m o o b s e r v a d o n o c a p í t u l o a n t e r i o r.
De acordo com o dicionário Larousse a família é um grupo de
pessoas ligadas entre si por laços de casamento ou parentesco. Chaves
(2007)
apresenta
um
interessante
trecho
que
bem
demonstra
a
concepção de família:
O termo parentesco, originário da antropologia, designa relações familiares como
um agrupamento que é formado pelo casamento, filhos provenientes dessa união,
conquanto seja licito conceber que outros parentes possam encontrar o seu lugar
próximo ao núcleo do grupo (CHAVES, 2007, p.47).
Acrescenta ainda, citando como referencia Lévi -Strauss, que os
membros da família estão unidos entre si por laços legais, direitos e
obrigações e uma quantidade variada e diversificada de sentimentos
p s i c o l ó g i c o s , t a i s c o m o a m o r, a f e t o , r e s p e i t o e m e d o .
Da mesma forma como a família apresentou diferentes estru turas e
formatos
ao
longo
da
história
da
humanidade
e
das
culturas,
a
compreensão sobre ela varia de acordo com a teoria adotada para
explicá-la.
Passando
por
teorias
antropológicas,
evolucionistas,
e,
dentro da psicologia, teorias freudianas, comportament ais e sistêmicas,
a estrutura conceitual adotada para a compreensão da família reflete
diretamente nas análises sobre os fenômenos que a circundam. Para a
realização
deste
trabalho
adotou -se
a
abordagem
sistêmica
de
compreensão da família. Isso não signifi ca, no entanto, consenso
absoluto.
Minuchin (1990) defende que a teoria sistêmica compreende a
família como um sistema aberto e dinâmico, onde seus membros se
23
influenciam
mutuamente
e
constantemente
e
são
influenciados
e
influenciam o meio em que vivem. A família é considerada como o
principal agente socializante do indivíduo, aonde este tende a se moldar
às formas básicas do comportamento social, sendo os agentes sócio c u l t u r a i s d e c a r á t e r c o m p l e m e n t a r.
Uma das propriedades da família, entretanto, diferen temente de
outros sistemas, é a forma de entrada e saída de seus elementos. Novos
membros só são incorporados pelo nascimento, adoção ou casamento e
os
membros
somente
podem
ir
embora
pela
morte
( C A RT E R ,
MCGOLDRICK E COL, 1995, p.9).
Para Andolfi (1989) a família é um sistema aberto e ativo que está
sempre se transformando para que a continuidade e o crescimento
psicossocial das pessoas que a compõe estejam garantidos. Refere que
no grupo familiar coeso o sujeito deve poder se diferenciar progressiva
e individualmente, para que se torne cada vez menos dependente do seu
sistema familiar original, até se separar e instituir -se, com funções
diferentes, um novo sistema.
Bowen (1979) define a família como um sistema que segue as leis
dos sistemas naturais. “La fa mília es um sistema en la medida em que el
cambio de uma parte del sistema va seguido de otras partes de esse
sistema. Prefiero pensar em la família como em uma variedad de
sistemas e subsistemas” (BOWEN, 1979, p. 29).
Minuchin (1990) ainda afirma que a es trutura familiar é um
conjunto de exigências funcionais, invisível, que organiza as formas de
interação dos membros da família, e esta é um sistema que opera
através de padrões transacionais. Os padrões de como, quando, com
q u e m s e r e l a c i o n a r, s ã o e s t a b e l e c i d o s p e l a s t r a n s a ç õ e s r e p e t i d a s , e
reforçam o sistema.
M i n u c h i n e F i s h m a n ( 1 9 9 0 ) n o l i v r o T é c n i c a s d e Te r a p i a F a m i l i a r
definem o sistema familiar de acordo com as fronteiras e com a
organização
hierárquica.
Dessa
forma,
a
estrutura
familiar
é
um
24
conjunto de exigências funcionais que organiza as maneiras pelas quais
os membros da família interagem.
Portanto, uma família é um sistema que opera através de padrões
transacionais. De acordo com este autor os padrões “como”, “quando”,
e
“com
quem”
são
estabelecidos pela
repetição
das
transações
e
reforçam o sistema regulando o comportamento dos membros da família.
Esses padrões são mantidos por dois sistemas de repressão: o genérico,
constituindo -se de regras universais responsáveis pela organização
familiar;
mútuas
e
de
o
sistema
membros
idiossincrático,
específicos
da
envolvendo
família.
Há
as
expectativas
também
padrões
alternativos disponíveis dentro do sistema (MINUCHIN, 1990; p145).
Ainda
subsistemas
protegidos
conforme
formados
por
Minuchin
por
fronteiras,
e
Fishman
geração,
que
o
sexo,
sistema
(1990)
é
interesse
familiar
através
ou
de
função,
difere ncia-se
e
consegue levar a cabo suas funções. As fronteiras de um subsistema são
as regras que definem quem participa e como. Sua função é a de
proteger a diferenciação dos sistemas e subsistemas.
Minuchin (1990) afirma que para o funcionamento apropriado da
família, as fronteiras dos subsistemas devem ser nítidas, isto é, bem
definidas para que não haja interferência indevida, mas sem impedir o
contato com membros de outros subsistemas.
O mesmo autor esclarece que as fronteiras, também, podem ser
rígidas ou difusas. No primeiro caso, em um limite extremo que é o
desligamento, os membros da família têm bastante autonomia, porém
carecem de sentimentos de lealdade e pertencimento, além de uma
dificuldade
de
comunicação.
No
caso
das
fronteiras
difusas,
os
elementos do subsistema têm um sentido de pertencimento elevado, com
bom nível de comunicação e preocupação entre eles, o que nos casos
extremos, leva invariavelmente a uma perda de autonomia.
A família para Cerveny (2004) é vista como um sistema de pessoas
que vivem no mesmo espaço físico e mantém relações significativas de
interdependência entre os vários subsistemas da família.
25
Carter e Mc Goldrick (1995) consideram que as famílias podem ser
vistas como uma rede de triângulos conectadores, em que cada membr o
está próximo de alguns e distantes de outros, numa complicada teia de
alianças e tensões.
Para Roudinesco (2003) a família é um conjunto de pessoas ligadas
entre
si
por
casamento
e
filiação,
e
inclusive
pela
sucessão
de
indivíduos descendentes uns dos ou tros: uma linhagem, uma raça, uma
dinastia, uma casa.
Santos (2008) refere que o ser humano, desde a sua concepção é
poderosamente influenciado pelas expectativas da família nuclear e da
família
extensa.
Com
base
nesta
relação
significativa,
os
relacionamentos a seguir serão influenciados, e por meio das crises e
dos processos evolutivos, cumprirão o papel de reavaliar e reorganizar
os seus sistemas e subsistemas em expansão.
Deste
modo,
pode-se
considerar
que
os
relacionamentos
são
oportunidades para o indivíduo modificar o seu nível de diferenciação
em
busca
de
um
funcionamento
mais
autônomo
e
autêntico,
distanciando-se das polaridades reativas.
De
acordo
percebida
como
com
Lidchi
sendo
(2004)
a
família
predominantemente
funcional
é
afetuosa,
aquela
com
boa
comunicação, coesa e com regras flexíveis, mas limites e fronteiras
claramente
determinados,
dando
aos
seus
membros
os
recursos
necessários ao crescimento individual e o a poio diante de dificuldades
da vida ou doenças intercorrentes. O equilíbrio entre proteção e
autonomia
oferecido
adolescentes,
pela
a confiança
família
irá
d e s e n v o l v e r,
básica necessária
em
crianças
à organização
e
de seu
comportamento e à integração de su a auto-estima.
Segundo Carvalho e Almeida (2003):
A família é apontada como elemento-chave não apenas para a "sobrevivência" dos
indivíduos, mas também para a proteção e a socialização de seus componentes,
transmissão do capital cultural, do capital econômico e da propriedade do grupo,
bem como das relações de gênero e de solidariedade entre gerações. Representando
a forma tradicional de viver e uma instância mediadora entre indivíduo e sociedade,
a família operaria como espaço de produção e transmissão de pautas e práticas
culturais e como organização responsável pela existência cotidiana de seus
26
integrantes, produzindo, reunindo e distribuindo recursos para a satisfação de suas
necessidades básicas (CARVALHO & ALMEIDA, 2003, p. 120)
Bucher-Maluschke (2007) acredita que a família tem uma função
educativa, bem como desenvolve uma relação afetiva para com seus
m e m b r o s . Ta n t o a a ç ã o e d u c a t i v a q u a n t o a r e l a ç ã o a f e t i v a s e t r a d u z e m
por linguagens e, na medida em que estas são coerentes às questões dos
limites e da estruturação de regras, ajudarão a interiorizaçã o da lei, o
respeito
pela
autoridade.
A
confusão
entre
os
níveis
afetivos
e
educativos gera grandes problemas.
S e g u n d o Wa g n e r ( 1 9 9 7 ) a f a m í l i a t r a n s f o r m o u - s e , a p a r t i r d e u m
modelo que era legitimado pelo casamento (sendo o poder maior
delegado ao pai/ma-rido), para uma união estável entre homem e mulher
ou qualquer um dos pais e seus descendentes. A troca deste cenário
implica em mudanças importantes na vivência, percepção e construção
que os filhos fazem de seus aspectos sócio -afetivos e projetos de vida.
O mesmo autor afirma que o papel crucial da família, como
responsável pela construção dos projetos de vida dos filhos, assim como
dos seus valores e crenças, se dá na medida em que ela é o palco onde
se vive e aprende as primeiras cenas, buscando o equi líbrio entre o real
e o imaginário. Desse modo, à luz da compreensão sistêmica, onde cada
sujeito
somente
pode
ser
entendido
no
seu
contexto
f a m i l i a r,
considerando que qualquer mudança na família afeta todo o sistema.
As
definições
e conceitos
apresentados
por diversos
autores
dentro da própria perspectiva sistêmica levam a perceber que dentro da
abordagem existem diferentes enfoques e perspectivas. Em que pesem
as
diferenças,
alguns
pontos
em
comum
permitem
que
se
possa
apresentar um contorno sistêmico do conceito de família que passa por,
consensualmente,duas
pontuações
derivadas
da
Teoria
Geral
Sistemas (BERTALANFFY, 2006): 1. a família é um sistema
dos
aberto e,
como tal, possui subsistemas, funções e padrões de funcionamento
próprios. Como um sistema, está submetida às mesmas regras gerais que
se
aplicam
a
quaisquer
sistemas
abertos:
não
somatividade,
27
equifinalidade,
homeostase
dinâmica
(ou
estado
hierarquias e presença de propriedades emergentes. 2.
estacionário),
a família não é
uma soma de indivíduos. Isso implica dizer que os membros de uma
família estão em constante interação e que o foco da compreensão
psicológica será a relação entre eles.
Assim, pode-se dizer que observar a família através de uma lente
sistêmica significa pensar nas relações entre seus membros e entre a
sociedade, nas propriedades que emergem de suas interações e nas
hierarquias existentes entre seus subsistemas. Significa, ainda, não o
desprezo
pelas
questões
individuais,
mas
direcionar
o
foco
da
compreensão e da psicoterapia nas relações e interações entre seus
membros.
28
4
A L I E N A Ç Ã O PA R E N TA L E S Í N D R O M E D E A L I E N A Ç Ã O PA R E N TA L : C O N C E I T O S , C A U S A S E C O N S E Q Ü Ê N C I A S
As novas configurações familiares geram desafios e repercussões
psicológicas
e
levando
membros
os
sociais,
pois
a
vivenciam
transformações
experimentarem
processos
múltiplas,
adaptativos
e
acomodativos às novas situações.
Conforme citado anteriormente, Giddens (1993) afirma que na
esteira das novas formas de convivência, a família pós -moderna rompe
com os padrões tradicionais, questiona seus valores (união entre sexos
opostos, perenidade dos vínculos conjugais, valorização da monogamia)
e dá lugar a novas estruturas familiares, como os relacionamentos
conjugais
casamentos
homossexuais,
onde
os
dúvidas
cônjuges
entre
moram
a
em
carreira
casas
e
o
cônjuge,
separadas,
uniões
estáveis, recasamentos, separações e seus desdobramentos.
Brasileiro; Jablonski e Féres-Carneiro (2002) questionam se, ao
invés da substituição de modelos tradicionais, o que aconteceu foi o
acréscimo
de
valores,
onde
padrões
tradicionais
coexistem
com
modernos, tanto na cultura quanto dentro do indivíduo.
O casamento implica a construç ão de uma nova identidade para os
cônjuges, de um “eu -conjugal” na definição de Singly (1988), que vai
se construindo através das interações estabelecidas entre eles. Segundo
Fonseca ( 2 0 0 7 ) , c a s a m e n t o é a u n i ã o d e d o i s s i s t e m a s q u e f o r m a m u m
holos, trazendo consigo suas crenças pessoais e das famílias de origem.
Segundo Féres-Carneiro (1998), na família disfuncional, muitos
problemas estão em articulação com sistemas mais amplos e muitas
vezes já existem dentro do seio da família: via de comunicação confusa,
fronteira pouco claras, dificuldade em desenvolver vínculos nutritivos.
De acordo com Norgren (2004) deve-se observar ainda que o
c a s a m e n t o t r a n s f o r m a - s e a o l o n g o d o c i c l o d e v i d a f a m i l i a r, e a s s i m , o
nível de satisfação também varia com o decorrer dos anos de convívio.
29
Argumenta poder ex istir casamentos estáveis e não necessariamente
satisfatórios, que se mantêm pelas mais variadas razões: um ou ambos
os cônjuges abominam a idéia do divórcio, por ra zões pessoais ou por
credo
religioso;
conseguem
lidar
podem
com
ter
a
medo
liberdade
da
e
mudança
e
da
auto -suficiência;
solidão;
não
não
querem
repartir o patrimônio que construíram ao longo dos anos e, finalmente,
estar casado e fazer parte de uma famíl ia pode ser menos ansiógeno do
que estar descasado.
Os
terapeutas
estruturais,
a
exemplo
de
Salvador
Minuchin,
consideram que a normalidade da família se caracteriza não pela
ausência de problemas, mas pela estrutura disfuncional que as mantém.
Uma das conseqüências de um casal disfuncional é o divórcio.
P a r a G r z yb o w s k i , ( 2 0 0 1 ) , o d i v ó r c i o t o r n a - s e u m a c o n t e c i m e n t o
comum na vida das famílias. Com a aprovação da Lei do Divórcio, em
1977, o número de divórcios vem aumentando, e cada vez mais os casais
buscam essa alternativa como solução da insatisfação conjugal. Quando
envolve a existência de filhos, essa separação fica mais complexa.
Peck e Menocherian (1995) afirmam que uma crise transicional, o
divórcio força a interrupção das tarefas desenvolvimentais a s erem
negociadas na fase especifica no ciclo vital que a família esta passando,
trazendo uma serie de ajustamentos relativos à separação e lançamento
da família num estado de desequilíbrio até que ocorra a restabilização.
Segundo Norgren (2004) muitos casamentos não sobrevivem à
saída, ou mesmo à independência dos filhos, e o divórcio acontece após
20 anos ou mais de casados. No Brasil, de acordo com dados do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, em 2001, 15% das
separações judiciais concedidas em primeira instância ocorreram entre
15 e 19 anos de casamento e 19% com 20 anos ou mais. Esses casais
parecem não ser capazes ou não desejarem transformar sua relação,
revendo a conjugalidade, dando -lhe, neste momento, maior destaque do
que às questões familiares.
30
Segundo Dantas (2003), no processo de divórcio, a identidade
conjugal, construída no casamento, vai aos poucos se desfazendo,
levando os cônjuges a uma redefinição de suas identidades individuais.
Nesse
contexto
de
significações,
ente nde-se
o
divórcio
como
um
processo que ocorre no ciclo vital da família, desafiando sua estrutura e
sua dinâmica relacional.
Para Norgren (2004) as relações duradouras e satisfatórias, por
outro lado, permitem que o sistema conjugal se torne um refúgio em
relação aos estressores externos, bem como a matriz para o contato com
outros sistemas sociais, o que é bastante relevante frente à longevidade
crescente da população idosa . Desse modo, a relação conjugal pode se
transformar em fonte de crescimento pessoa l e aprendizagem, se houver
espaço para as diferenças e trocas pessoais.
Féres-Carneiro (1998) refere que o divórcio legaliza um estado de
discórdia entre o casal, leva a uma liberação do clima de disputa e cria
novas estruturas domésticas de convivência entre pais e filhos. Para os
filhos, inicialmente representa um mistério que precisa ser explicado
c o m c l a r e z a e o b j e t i v i d a d e . Tr a t a - s e d e u m m a r c o l e g a l q u e p r o v o c a e m
todos os familiares, principalmente em pais e filhos, angústias e
incertezas que ameaçam a estabilidade pessoal e causam inúmeras
m u d a n ç a s n a d i n â m i c a d o c o t i d i a n o f a m i l i a r.
Carter e Mc Goldrick (1995) salientam que o divórcio se configura
como grande rompimento no ciclo de vida familiar e afeta todos os
membros da família em todos os níveis geracionais, tanto a família
nuclear quanto a ampliada, provocando uma crise para a família como
um todo e para cada membro desta, aumentando a complexidade das
tarefas desenvolvimentais que o grupo familiar estiver vivenciando.
De acordo com Sardinha (2009) o aumento paulatino do número de
divórcios, tanto no Brasil quanto no mundo, revela dados preocupantes,
com um índice de 60% nos EUA, de 40% na Inglaterra e de 25% no
Brasil (VILLA; DEL PRETTE, 2002). Problemas de relacionamento
entre casais e de insatisfação no casamento têm sido apontados como
um dos maiores estressores da vida, levando a transtornos psiquiátricos
31
e enfermidades físicas. O estresse no relacionamento conjugal pode
levar à violência en tre os parceiros, cujas consequências mais extremas
são o homicídio ou o suicídio. Além disso, perturbações conjugais
também trazem consequências negativas para os filhos e familiares,
como o processo de Alienação Parental.
De
acordo
com
Féres-Carneiro
(1998),
os
casais
dificilmente
conseguem manter um equilíbrio entre a expressão e satisfação de suas
necessidades pessoais e a manutenção da união estabelecida, devido aos
valores individualistas da atualidade.
Féres-Carneiro (1988) afirma que existe atualmente um aumento do
número de separações conjugais, observando que a causa pode ser a
busca
de
homens
e
mulheres
por
relacionamentos
amorosos
mais
verdadeiros, com uma exigência exacerbada e não uma desvalorização
do casamento.
Te r e z i n h a F é r e s - C a r n e i r o ( 1 9 8 8 ) t r a z a i d é i a q u e n o m o m e n t o d a
separação é importante deixar os filhos fora do conflito conjugal, pois a
forma como a criança ou adolescente vai lidar com a crise vai depender
da relação estabelecida entre os pais e da capacidade deles distinguirem
a função conjugal da função parental, na tentativa de mostrar aos filhos
que as funções parentais de amor e cuidados estarão mantidas.
Na prática, porém, as relações entre pais separados parecem estar
bem distante dessas pretensões. A forma como muitas separaçõ es vem
ocorrendo
provoca
principalmente
com
sentimentos
as
crianças
que
muito
dificultam
pequenas
que
os
acordos,
precisam
de
mediação o tempo todo. O contato é quase inevitável e a sua qualidade
reflete na saúde dos filhos.
Corroborando com esse entendim ento, Hetherington & StanleyHagan (1999 apud SOUZA, 2000) alertam que a saúde mental das
crianças está relacionada ao bem estar e à qualidade do relacionamento
dos pais, independentemente de viverem juntos. Ressaltam que será
melhor para o filho se o divó rcio contiver a escalada de conflitos dos
32
cônjuges, assim como, o que tiver a guarda possa proporcionar um
a m b i e n t e t r a n q ü i l o , a p e s a r d a s o b r e c a rg a .
Rosa (2008) afirma que tanto no âmbito clínico quanto no forense,
estudos demonstram que os conflitos vivid os pelos pais antes e durante
o processo de separação causam problemas de ajustamento dos filhos.
Quando há separação, a criança enfrenta o medo e as conseqüências
negativas de um lar desfeito.
Xaxá
(2008)
refere
que
diante
dessas
novas
configurações
familiares começam a surgir novas questões que envolvem as famílias
em processo de divórcio, como é o caso da Alienação Parental e da
Síndrome
de
Alienação
Parental,
conceitos
que
muitos
autores
consideram como sinônimos, mas que no presente estudo irão se
d i f e r e n c i a r. A g r a n d e p a r t e d o s a u t o r e s d e s c r e v e o g e n i t o r q u e a l i e n a o
filho como Genitor Alienante e o outro como Genitor Alienado, ficando
mais fácil, assim, identificá -los.
A p a r t i r d a s p r o p o s t a s d e G a r d n e r, 1 9 9 9 ( a p u d F É R E S - C A R N E I R O ,
2007, p. 73), entende-se a Alienação Parental como “um processo que
consiste em programar uma criança para que odeie um dos genitores,
sem
justificativa,
fazendo
uma
espécie
de
campanha
para
a
desmoralização do mesmo”.
Esse processo manifesta, em
geral, no ambiente da
mãe das
crianças, notadamente porque sua instalação necessita muito tempo e
porque é ela que tem a guarda da criança na maior parte das vezes.
To d a v i a , p o d e s e a p r e s e n t a r e m a m b i e n t e s d e p a i s i n s t á v e i s , o u e m
culturas
onde
tradicionalmente
a
mulher
não
tem
nenhum
direito
concreto, assim como com outras pessoas que não necessariamente
façam parte dessa família. Dessa forma, a mãe, por exemplo, colocaria
o
filho
contra
o
pai,
fazendo
com
que
a
criança
desenvolvesse
sentimentos contraditórios e muitas vezes m emórias falsas decorrentes
d a r e l a ç ã o d a m e s m a c o m s e u g e n i t o r, c o m o s ã o n o s c a s o s d e m ã e s q u e
inserem na criança memórias que essas foram abusadas por estes, sem
que tenham verdadeiramente ocorrido.
33
P a r a D i a s 2 0 0 7 ( a p u d A PA S E , 2 0 0 7 , p . 1 2 ) , a c r i a n ç a q u e a m a s e u
genitor é levada a afastar-se dele, quem também a ama. Isso gera
contradições de sentimentos e destruição de vínculos entre ambos.
Restando órfão do genitor alienado, acaba -se se identificando com o
genitor alienante, passando a aceitar como verdad eiro tudo que lhe foi
informado.
Segundo a Lei nº 12.318, de 2010, em seu artigo 2º, a Alienação
Parental se configura como:
“a interferência na formação psicológica da criança ou do adolescente promovida ou
induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou
adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou
que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este”
(BRASIL, 2010).
Essa mesma lei indica, no parágrafo único do artigo 2º, que
existem formas exemplificativas de Alienação Parental, tais como:
I – realizar campanha de desqualificação da conduta do genitor no exercício da
paternidade ou maternidade;
II – dificultar o exercício da autoridade parental;
III – dificultar contato de criança ou adolescente com genitor;
IV – dificultar o exercício do direito regulamentado de convivência familiar;
V – omitir deliberadamente a genitor informações pessoais relevantes sobre a
criança ou adolescente, inclusive escolares, médicas e alterações de endereço;
VI – apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiares deste ou contra avós,
para obstar ou dificultar a convivência deles com a criança ou adolescente;
VII – mudar o domicílio para local distante, sem justificativa, visando a dificultar a
convivência da criança ou adolescente com o outro genitor, com familiares deste ou
com avós. (BRASIL, 2010)
A prática da Alienação Parental fere o direito fundamental da
criança ou do adolescente, que é o da convivência familiar saudável,
prejudicando, dessa forma, a manutenção de afeto nas relações com
g e n i t o r e c o m o g r u p o f a m i l i a r, c o n s t i t u i n d o t a m b é m a b u s o m o r a l c o n t r a
os
mesmos
e
descumprimento
dos
deveres
inerentes
à
autoridade
parental.
Já a Síndrome de Alienação Parental (SAP) é considerada por Rosa
(2008) como uma perturbação psicológica e emocional, onde a criança
começa
a
desenvolver
uma
serie
de
sintomas
como:
ansiedade,
depressão, sentimento de culpa, agressividade, nervosismo, aversão ao
genitor
alienado,
o
que
pode
levar
ao
desencadeamento
de
um
34
transtorno. Surge principalmente no âmbito das disputas pela guar da e
custódia das crianças em processo de divórcio.
Assim,
Fonseca
Alienação
(2006)
Parental
terminantemente
afirma
refere -se
e
à
que
enquanto
conduta
obstinadamente
a
do
ter
filho
contato
a
Síndrome
que
se
com
de
recusa
um
dos
progenitores, que já sofre a s mazelas oriundas daquele rompimento, a
Alienação Parental relaciona -se com o processo desencadeado pelo
progenitor que intenta arredar o outro genitor da vida do filho.
O
mesmo
autor
enfatiza
que
os
fatores
desencadeadores
da
Alienação Parental são larga mente descritas na literatura. Para se
entender os motivos que leva um genitor a alienar seu filho contra o
outro genitor devemos entender melhor a dinâmica desse casal e os
motivos da sua separação.
Embora,
o
objetivo
da
alienação
seja
sempre
o
mesmo
–
o
banimento do outro genitor da vida do filho, as razões que levam o
genitor alienante a promovê-la se denotam bastante diversificadas. Os
objetivos
variam
entre
chantagear
o
ex -parceiro
para
conseguir
vantagens financeiras, por exemplo, até vingar -se por ter saído da
relação ''por baixo''. Mas os casos mais graves geralmente estão
relacionados à sensação de posse exclusiva, ao desejo irracional de ter
os filhos somente para si - sem correr o risco de ter que dividir o amor
dos pequenos com o pai (ou mãe) ou com a nova família que ele (ou
e l a ) p o s s a f o r m a r.
F é r e s - C a r n e i r o 2 0 0 7 ( a p u d , A PA S E , 2 0 0 7 , p . 7 5 ) , t r a z e m u m d o s
seus trabalhos pesquisas do IBGE (2003) os quais mostram que são as
mulheres quem mais pedem a separação e, normalmente, a pessoa que
detém a guarda dos filhos. Com isso, frequentemente, são as mães que
alienam os filhos contra seus pais.
M o t a 2 0 0 7 ( a p u d A PA S E , 2 0 0 7 , p . 5 3 ) a f i r m a q u e t a n t o o c a s a l q u e
se separa quanto seus filhos passam por momentos delicados e difíceis
na tentativa de resolver questões práticas, como guarda e visita, ou
emocionais,
como
lidar
com
a
interrupção
de
certas
tradições
35
familiares, a perda da convivência diária com um dos pais e a sensação
d e d e s a m o r, r e j e i ç ã o e a b a n d o n o , e e m c a s o s m a i s g r a v e s p o d e r á h a v e r a
Alienação Parental por parte dos genitores.
Muitas vezes a ruptura da vida conjugal gera na mãe, ou no genitor
alienante, sentimento de abandono, de rejeição, de traição, surgindo
uma tendência vingativa muito grande. Quando não consegue elaborar
adequadamente
o
luto
da
separação,
desencadeia
um
processo
de
destruição, de desmoralização, de descrédito do ex conjugue. Ao ver o
interesse do pai em preservar a convivência com o filho, quer vingar -se,
a f a s t a n d o - o d o g e n i t o r ( D I A S , 2 0 0 7 , a p u d A PA S E , 2 0 0 7 , p . 7 7 ) .
F é r e s - C a r n e i r o ( a p u d A PA S E , 2 0 0 7 , p . 7 4 ) r e f e r e q u e a g r a v i d a d e
da Alienação Parental vai depender muito da forma que os pais se
separaram e também da relação que o genitor alienador tem com seus
filhos.
Quando pais e mães conseguem diferenciar seus papeis de pais
com
os
de
conjugues
a
relação
entre
eles
e
os
filhos
não
fica
comprometida, pois esses genitores percebem que não devem envolver
o s f i l h o s n o s s e u s p r ó p r i o s c o n f l i t o s . To d a v i a , i s t o n ã o o c o r r e n o c a s o
de Alienação Parental em que um dos pais dificu lta o acesso do outro à
criança e, consciente ou inconscientemente, desperta na criança a
mesma
rejeição
que
experimenta
em
relação
ao
ex -conjugue,
confundindo, com graves prejuízos para o filho, a conjugalidade e
parentalidade.
Muitas vezes, as mães ou os pais que afastam os filhos do ex conjugue
não
se
desenvolvimento
conjugalidade
dão
conta
emocional
com
do
quanto
saudável
parentalidade,
dos
acreditam
estão
prejudicando
mesmos.
que
os
o
Confundindo
problemas
do
relacionamento conjugal se estendem à crian ça, a quem pensam até
estar protegendo.
Em geral, a alienação é praticada pelo conjugue que sai “por
baixo” do relacionamento e alimenta sentimentos de vingança em
relação ao outro, sobretudo quando o mesmo já constituiu nova família,
36
o que ocorre com mai s freqüência nos homens, que se casam mais
r a p i d a m e n t e . ( F É R E S - C A R N E I R O , 2 0 0 7 , a p u d A PA S E , 2 0 0 7 , p . 7 5 ) .
Separar a conjugalidade da parentalidade é uma grande dificuldade
no divórcio, pois a redefinição do envolvimento emocional é um
processo longo, que ger a falha nas fronteiras do relacionamento e
conflitos pós-divórcio. Os
papéis e regras parentais precisam ser
r e d e f i n i d o s ( G R Z Y B O W S K I , 2 0 0 1 a p u d D A N TA S , 2 0 0 3 , p . 0 5 ) .
N e s t e m e s m o s e n t i d o , n o l i v r o d a A PA S E , Te r e z i n h a F é r e s - C a r n e i r o
irá trazer outro fator qu e pode predispor a Alienação Parental, como o
tipo de relação que o genitor que detém a guarda tem com o filho. Fazer
um filho um confidente, compartilhando com ele suas decisões e suas
m á g o a s , c o m o s e e l e f o r a u m p a r, u m i g u a l , n e g a n d o a s u a r e l a ç ã o d e
dependência
do
adulto,
predispõe
a
Alienação
Parental
cujas
conseqüências são muito nefastas para a criança.
Fonseca (2006) contribui para esse entendimento ao apresentar
outros motivos para o surgimento da Alienação Parental, tais como:
solidão a que se vê relegado o ex conjugue, principalmente quando não
tem familiares próximos; falta de confiança, fundada ou infundada, que
o ex- conjugue titular da guarda nutre pelo ex -consorte para cuidar dos
filhos; desejo de manter somente para si o amor dos filhos etc .
Autores como Xaxá (2008), Rosa (2008) e Fé res-Carneiro (2007)
( a p u d A PA S E , 2 0 0 7 ) a i n d a a c r e s c e n t a m q u e n a s f a m í l i a s q u e v i v e n c i a m
a Alienação Parental, a criança se sente tendo que anular os momentos
felizes que passou com os dois pais, sendo forçada a lembrar momentos
tristes que passou com o genitor alienado. As “falsas” informações
contadas pelo genitor alienador sobre o genitor alienado podem gerar na
criança fantasias de ter sido abandonada, abusada sexualmente ou
rejeitada, já que são sempre registros de desqualificação e críticas
destrutivas, com vistas a denegrir a sua imagem p erante a criança.
A criança que não sabe que pode haver outros adultos, que delas
cuidem,
protejam
e
atendam;
adultos
separados
dessa
unidade
s i m b i ó t i c a q u e e l a c o m p õ e c o m o a l i e n a d o r, p o d e f i c a r a t e r r o r i z a d a d e
37
deixar o único mundo seguro, que em sua exp eriência, existe, aquele em
que ela e o alienador formam uma unidade simbiótica, indissolúvel onde
as
individualidades
e
identidades
se
dissolvem
numa
unidade
i n d i f e r e n c i a d a , c a ó t i c a e p e r t u r b a d o r a d e s a ú d e m e n t a l ( M O TA , 2 0 0 7 ,
a p u d A PA S E , 2 0 0 7 , p . 5 3 ) .
Fonseca (2006) considera que esse contexto é uma forma de abuso
psicológico
contra
a
criança,
cujas
conseqüências
podem
incluir
sintomas de depressão, alterações no comportamento, diminuição do
r e n d i m e n t o e s c o l a r, a n s i e d a d e d e s e p a r a ç ã o , o u p o d e m , a i n d a , p r o v o c a r
o transtorno de identidade, drogadição ou retraimento social.
To d a s
essas características são identificadas nas crianças que vivenciam a
Síndrome
da
Alienação
Parental, levando-as
a
necessitarem
de
acompanhamento psicoterapêutico.
Segundo
Fonseca
(2006),
essa
alienação
pode
perdurar
anos
seguidos, com gravíssimas conseqüências de ordem comportamental e
psíquica, e geralmente só é superada quando o filho consegue alcançar
certa independência do genitor-guardião, o que lhe permite entrever a
irrazoabilidade do distanciamento a que lhe foi induzido
No que diz respeito às providencias tomadas pelo Poder Público
quando for constatada Alienação Parental, a Lei nº 12.318, de 2010, em
seu artigo 4º afirma que
“Declarado indício de ato de alienação parental, a requerimento ou de
ofício, em qualquer momento processual, em ação autônoma ou
incidentalmente, o processo terá tramitação prioritária, e o juiz determinará,
com urgência, ouvido o Ministério Público, as medidas provisórias
necessárias para preservação da integridade psicológica da criança ou do
adolescente, inclusive para assegurar sua convivência com genitor ou
viabilizar a efetiva reaproximação entre ambos, se for o caso ” (BRASIL,
2010).
O Artigo 6º da mesma lei, por meio dos incisos de I a VII, elenca
as medidas punitivas cabíveis quando caracterizados (…) atos típicos de
Alienação Parental ou qualquer conduta que dificulte a convivência de
criança ou adolescente com o genitor (…):
I – declarar a ocorrência de alienação parental e advertir o alienador;
II – ampliar o regime de convivência familiar em favor do genitor alienado;
III – estipular multa ao alienador;
38
IV – determinar acompanhamento psicológico e/ou biopsicossocial;
V – determinar a alteração da guarda para guarda compartilhada ou sua inversão;
VI – determinar a fixação cautelar do domicílio da criança ou adolescente;
VII – declarar a suspensão da autoridade parental. (BRASIL, 2010)
A atribuição ou alteração da guarda será dada, preferencialmente,
ao genitor que viabiliza a efetiva convivência da criança ou adolescente
c o m o o u t r o g e n i t o r. E s s e t i p o d e g u a r d a s e r á d a d o q u a n d o a g u a r d a
compartilhada for inviável.
A alteração de domicílio da criança ou adolescente é irrelevante
para a determinação da competência relacionada às ações fundadas em
d i r e i t o d e c o n v i v ê n c i a f a m i l i a r, s a l v o s e d e c o r r e n t e d e c o n s e n s o e n t r e
os genitores ou de decisão judicial.
Isso
significa
salvaguardar
os
que
direitos
o
Poder
Judiciário
à
integridade
tem
psicológica
como
da
objetivo
criança
ou
adolescente que sofre de Alienação Parental. Dessa forma, a justiça
avaliará quem será o responsável que melhor viabilizará a convivência
do menor com a família e primar pelo desenvolvimento pleno de suas
funções psicológicas. Nem sempre a decisão judicial é a mais acert ada
para a criança ou adolescente.
39
5
A TRANSMISSÃO DE LEGADOS ENTRE GERAÇÕES E A
A L I E N A Ç Ã O PA R E N TA L
5.1 O PROCESSO DE DIFERENCIAÇÃO DO SELF
A criança nasce fusionada e indiferenciada em relação ao ambiente.
A formação de seu self inicia-se em relação com a figura materna e,
mais tarde, com o restante da família.
P a r a Wi n n i c o t ( 1 9 7 0 ) o s e l f c o n s i s t e n u m a d i f e r e n c i a ç ã o e n t r e e u e
não eu numa crescente integração até permitir uma imagem unificada de
s i m e s m o e m c o n t r a p o s i ç ã o a o m u n d o e x t e r i o r. E s s e m o v i m e n t o s e d á
como conseqüência de um ambiente suficientemente bom que venha
possibilitar
o
desenvolvimento
das
potencialidades
de
um
self
elementar que já existe desde o nascimento.
To m a n d o c o m o r e f e r ê n c i a a i d é i a d e S a l v a d o r M i n u c h i n d e q u e a
família é a matriz da identidade da criança, ao lhe possibilitar o sentido
de pertencimento ao mesmo tempo o de individuação, um ambiente bom
para o desenvolvimento do self, seria aquele onde o sujeito fosse
inserido
e
tratado
como
membro
ativo
do
sistema
f a m i l i a r,
co-
construindo suas crenças, regras, valores, mitos e segredos. Segundo
Minuchin (1990) nesse ambiente a criança seria munida de recursos
para diferenciar-se até tornar-se autônomo e independente.
Andolfi (2002) traz importante contri buição quando pontua que a
família é um pouco como a escola onde se apreende conhecimentos
básicos sobre os quais cada indivíduo constrói, mais tarde, a sua
própria visão de mundo, sendo capaz de alcançar um certo grau de
diferenciação.
Os modelos de aprendizagem familiar se transmitem de geração a
geração, ou seja, o grau de apego emotivo não resolvido dos genitores é
determinado pelo grau de apego de cada um dos genitores à sua família
40
de origem e pela forma como os genitores enfrentam a ansiedade nos
motivos críticos da vida.
A u t o r e s d a t e o r i a s i s t ê m i c a c o m o B o w e n ( a p u d W E N D T, 2 0 0 6 p . 7 8 )
consideram que a diferenciação do self refere -se ao grau de maturidade
emocional que um indivíduo pode atingir no processo de individuação
ao longo do ciclo vital de forma a se tornar adulto e poder emancipar se,
separando-se
psicologicamente
de
sua
família
de
origem
e
mantendo, ao mesmo tempo, o sentimento de pertencimento a esta
família.
Para Castilho (1994) uma pessoa bem diferenciada é transparente
sobre si mesma, é capaz de ser ela própria, e faz e diz o que deseja,
sem sentir-se preocupada com os outros.
Bowen (1979) esclarece que para diferenciar seu self o indivíduo
deverá, contrapor-se as forças emotivas que tendem a manter um quadro
excessivo
de
coesão
f a m i l i a r,
conquistando,
dessa
forma
um
Eu
responsável, que o torne capaz de assumir a responsabilidade pela
p r ó p r i a f e l i c i d a d e e p e l o p r ó p r i o b e m e s t a r. Tr a t a - s e d e a p r e n d e r a s e
relacionar “de pessoa a pessoa” com seus próprios genitores e com a
família extensa.
Segundo Bowen (1966), a teoria de sistemas familiares considera a
existência de duas forças vitais que se contrabalançam: uma que leva
filho e família a ficarem emocionalmente ligados e se comportarem em
reação um ao outro; e outra, que im pulsiona o desenvolvimento da
c r i a n ç a n a d i r e ç ã o d a i n d i v i d u a ç ã o , t o r n a n d o - o h á b i l p a r a p e n s a r, s e n t i r
e agir por si mesmo. O resultado dessas forças é que ninguém consegue
uma independência emocional completa da família.
A idéia principal de Bowen (1979) refere-se aos diferentes níveis
d e d i f e r e n c i a ç ã o d o s e l f q u e a s p e s s o a s p o d e m a l c a n ç a r. O s m o t i v o s q u e
contribuem para que isto aconteça são complexos e estão presentes nas
famílias em graus diferenciados.
Quanto menor o grau de independência emocional qu e as pessoas
alcançam em suas famílias de origem maior será a necessidade de
41
envolver
os
filhos
em
um
processo
fusional,
t r i a n g u l a r.
Essas
diferenças entre as pessoas podem ser compreendidas a partir do
conceito de escala de diferenciação.
Segundo Nichols e Schwartz (2007) a escala de diferenciação do
self ajuda a compreender o processo de amadurecimento do indivíduo,
as respostas significativas, o funcionamento e as disfunções ocorridas
nos processos relacionais. Essa escala, de uma importância teórica mai s
do que classificatória, é dividida em quatro quadrantes: no quadrante
i n f e r i o r, a d i f e r e n c i a ç ã o d o e u é m í n i m a .
As pessoas que funcionam nessa categoria vivem em um mundo de
sentimentos e são quase inteiramente dependentes das demais. São
pessoas
incapazes
extremamente
de
reativas
distinguirem
e
apresentam
a
emoção
da
dificuldades
razão.
São
relacionais.
No
segundo quadrante (25-50), estão aquelas pessoas ainda pobremente
diferenciadas, mas capazes de funcionarem de maneira limitada. São
pessoas facilmente influenciadas, pois não têm opiniões próprias. No
terceiro quadrante (situado entre 50 e 75), estão pessoas que têm
opiniões bem diferenciadas,
apoiar-se
(situado
menos
entre
no
conseguem
julgamento
75-100),
dos
estariam
assumir a “posição eu” e
outros.
aquelas
No
quarto
dotadas
de
quadrante
uma
plena
maturidade, que funcionariam com alto grau de independência. São
pessoas
seguras
necessitem
de
si,
expressá-las
com
de
opinião
forma
bem
definida,
dogmática
ou
embora
rígida.
não
Assumem
responsabilidade por seus atos, são tolerantes a opiniões divergentes e
não entram em debates para provar que estão certas.
Bowen (1966) considera que a característica que mais descreve a
diferença entre as pessoas nos vários pontos da escala é a capacidade de
distinguirem entre sentimento e pensamento, somada à habilidade de
escolha entre ter um comportamento mais sentimental ou mais r acional.
Quanto mais intensa a atmosfera emocional em que a pessoa
cresce,
mais
sua
vida
é
governada
sentimentais às de outras pessoas.
por
suas
próprias
respostas
42
Castilho (1994) pontua que um bom êxito no trabalho de família de
origem depende, entre out ras coisas, de contribuir para que o cliente
seja capaz de fazer distinção entre pensamento e sentimento.
A escala de diferenciação de Murray Bowen trabalha com níveis
básicos, de diferenciação, os quais independem do processo de relação,
sendo amplamente determinado pelo grau de independência emocional
que uma pessoa alcançou de sua família de origem.
Este
grau de independência do indivíduo
é determinado
pela
quantidade de independência emocional que seus pais alcançaram e
estes, por sua vez, do grau de i ndependência emocional de seus avós,
sendo, portanto a diferenciação básica determinada por um processo
multigeracional.
B o w e n ( 1 9 6 6 a p u d N I C H O L S e S C H WA RT Z , 2 0 0 7 , p . 1 2 9 ) r e f e r e
que as pessoas tendem a escolher companheiros com níveis equivalentes
de indiferenciação, assim, seja qual for o problema apresentado, a
dinâmica é semelhante. A indiferenciação nas famílias de origem é
transmitida para os problemas conjugais, que são projetados em um
cônjuge ou filho.
Guerin e Col. (1996) corroboram com esta idéia quando pontuam
que da mesma forma que os conflitos não resolvidos com a família de
origem
são
deslocados
para
a
relação
conjugal, os conflitos
não
resolvidos entre o casal podem ser desviados para a relação com o
filho.
Os estudiosos acrescentam que a falta de diálogo entre o casal
inviabiliza
a
solução
dos
problemas
e
facilita
o
surgimento
dos
sintomas, como no processo de Alienação Parental onde as dificuldades
dos genitores em resolverem seus conflitos são projetadas nas crian ças,
envolvendo-as em um processo fusional.
O fenômeno da Alienação Parental nos remete ao processo de
Tr a n s m i s s ã o M u l t i g e r a c i o n a l , q u e s e g u n d o B o w e n ( 1 9 7 9 ) é t r a n s m i s s ã o
do processo emocional da família através de múltiplas gerações. Há
cada
geração
que
existem
crianças
envolvidas
na
fusão
familiar
43
caminha-se no sentido de uma baixa diferenciação do self, enquanto que
o mínimo de envolvimento faz as crianças progredirem para uma maior
diferenciação. Este conceito remete para uma doença emocional, não
apenas para a criança na família, mas também, para a família nuclear
nas várias gerações.
Bowen (1979) ainda esclarece que sistemas fusionados são aqueles
em que há baixo grau de diferenciação entre seus membros. As pessoas
vivem
sempre
em
blocos,
fundidas
e
tr ianguladas.
Contudo,
os
triângulos ativados privam as pessoas dos recursos que oferecem os
relacionamentos
íntimos
e
autênticos
e,
enquanto
a
triangulação
p e r m a n e c e r, o r e l a c i o n a m e n t o a b e r t o e n t r e o s p a r e s f i c a i m p e d i d o .
Sendo assim, ao contrário do que s e pensa, a solidão e o medo
continuam a existir e a se perpetuar no processo de transferência
multigeracional.
O mesmo autor entende que ao contrário das pessoas diferenciadas,
que
apresentam
aumentadas,
as
menor
carga
pesso as
emotiva
que
estão
e
têm
suas
envolvidas
pela
competências
emoção
e
impulsividade desempenham atitudes irracionais.
O indivíduo impulsivo -emocional, devido ao seu baixo grau de
diferenciação, apresenta maior dificuldade em concretizar a passagem
de um nível afetivo ao outro (no primei ro nível os sentimentos se
manifestam
via
emoção
e
no
segundo
nível
os
sentimentos
são
elaborados pela cognição). Este ciclo de desenvolvimento que não se
efetiva, incapacita o indivíduo de pensar claramente. Em função disso,
desempenha uma reatividade emo cional com suas relações que envolvem
a u t o r i d a d e e p o d e r.
No Processo de Alienação Parental, pode -se perceber que a criança
s e e n c o n t r a f u s i o n a d a e m u m c o n f l i t o f a m i l i a r. O c o r r e q u e m u i t o s
genitores
apresentam
baixo
nível
de
diferenciação
mostrando -se
incapazes de separar-se da sua família de origem.
Dessa forma, incluem seus filhos em um triângulo, dificultando
assim, a constituição de um self diferenciado dos mesmos, que podem,
44
entre outras coisas, tornarem -se incapazes de pensar e sentir por si
próprios.
Como vimos, para que possa haver uma conexão com o outro é
preciso
que
equilibrar
os
genitores
pensamento
e
da
criança
sentimento,
alienada
sejam
agir
acordo
de
capazes
com
de
suas
convicções e tomar decisões a partir do seu referencial e não dos
outros. Agindo sobre emoção, o genitor alienante torna -se autoritário e
abusa do poder desencadeando na criança, entre outras coisas, medo,
insegurança e sensação de abandono.
5.2 TRÍADES, TRIÂNGULOS E SUAS CONEXÕES
As relações em tríade ou triangulares são comuns dentro e fora da
família. Segundo Martins e Cols. (2008) o conceito de triangulação se
refere a um sistema inter-relacional entre três pessoas, envolvendo
sempre uma díade e um terceiro, que será convocado a participar
quando o nível de desconforto e de ansiedade aumentar entre as duas
pessoas. Uma delas, então, buscará uma terceira para aliviar a tensão.
Os triângulos aparecem no processo emocional interacional que se
estabelece no sistema familiar e transge racional.
Andolfi
(1984)
afirma
que
somente
através
da
formação
dos
triângulos é possível estabelecer a diferenciação entre os membros do
sistema. Isto significa que o modelo dual (no qual uma relação entre
duas pessoas se desenvolve) não é mais suficient e para a compreensão
d e u m f e n ô m e n o f a m i l i a r. É p r e c i s o u m t e r c e i r o e l e m e n t o , n o r m a l m e n t e
o pai, para descrever a natureza dinâmica das relações.
Os triângulos, para Kerr e Bowen (1988), são eternos. Em situações
de
menor
tensão,
permanecem
latentes,
reaparecendo
quando
os
conflitos crescem. Assim, os triângulos são susceptíveis à ansiedade,
tornando-se mais ou menos ativos em situações de tensão emocional.
Nesse sentido, o processo de tr iangulação constitui um mecanismo de
45
resposta
que
acontece
nos
processos
relacionais
ante
situações
estressantes.
Segundo Martins e Cols. (2008), os triângulos não são fixos nem
estáticos, sofrendo deslocamentos, a depender do nível de ansiedade e
da dinâmica interna da família. Estão ligados a uma unidade emocional
mais ampla, de onde também recebem influência, denominada triângulos
entrelaçados, onde “a ansiedade, incapaz de ser contida dentro de um
triângulo, se expande para um ou outro triângulo” (KERR; BOWEN,
1988, p. 139). Esses autores denominam esse processo de ativação de
triângulos imbricados , que podem ser de difícil observação.
As mesmas autoras consideram que o entendimento dos processos
de triangulação está ligado, também, à compreensão de como se dá o
processo de comunicação, como a partir da linguagem não -verbal – tom
de voz, mudanças na postura corporal e outros sinais não verbais – que
podem ou não ativar os triângulos.
Andolfi (1985) acrescenta que para Murray Bowen os processos de
triangulação emotiva são o resultado da incapacidade de enfrentar os
problemas da vida de modo autônomo, com um Eu suficientemente
a m a d u r e c i d o . Ta l f e n ô m e n o é f r e q ü e n t e c o m o s f i l h o s , q u a n d o n ã o s e
consegue manter um diálogo e resolver as tensões a nível conjugal,
como no caso da Alienação Parental.
Segundo Bowen (1966), uma pessoa pode assumir diversos papéis
n e s s e t r i â n g u l o : o d e a m o r t e c e d o r, o d e v í t i m a , o d e p e r s e g u i d o r.
Ressalta também que a fixação em um triângulo desenvolve sintomas e
é o que parece acontece r com as crianças vítimas da perseguição do
genitor alienante.
O mesmo autor refere que a maior influencia na atividade de um
triângulo é a ansiedade. Quando esta é baixa, o relacionamento entre
duas
pessoas
pode
ser
calmo
e
confortável.
Quando
a
ansiedade
aumenta, por causas internas ou externas à relação, uma terceira pessoa
se envolve na tensão das duas outras, criando um triângulo. Quanto
mais baixo o nível de diferenciação num sistema, principalmente, o
46
f a m i l i a r, m a i s i m p o r t a n t e é a r e g r a d e t r i a n g u l a ç ã o p a r a p r e s e r v a r a
estabilidade emocional de seus membros.
Em famílias bem diferenciadas, as pessoas conseguem manter
distanciais
emocionais
quando
altamente
estressadas,
assim
a
triangulação é mínima e a estabilidade do sistema não depende disso,
ocorrendo
o
oposto
nas
famílias
com
membros
pobremente
diferenciados.
A s t r í a d e s p o d e m p o s s i b i l i t a r, d e a c o r d o c o m M u r r a y B o w e n , a
negociação de estresses de um subsistema ao permitir a entrada de um
elemento
de
outro
subsistema
naquele.
Quando,
entretanto,
um
subsistema sempre inclui um não membro para resolver suas tensões, o
sistema torna-se disfuncional. Um exemplo comum é a utilização de um
filho pelos pais para afastar ou desviar seus conflitos conjugais, como
acontece no caso da Alienação Parental.
Minuchin
e
Fishman
(1990)
defendem
que
nas
famílias
disfuncionais, as fronteiras entre os subsistemas parental e filial ficam
difusas e a fronteira que envolve a tríade pais -filho passa a ser
inadequadamente rígida. Nesse sentido, o autor ressalta que se d eve
considerar a triangulação como o resultado da falta de fronteiras
demarcadas.
No caso da Alienação Parental observa -se que a fronteira em t orno
da tríade pai, mãe e filho é, exageradamente, rígida. Cada um dos
genitores exige que a criança tome seu par tido contra o outro, sendo
que cada movimento da criança contra um dos pais é sentido como
ataque ao outro.
Constata-se que os casais em processo de divórcio vivenciam o
estresse causado pela separação de forma disfuncional. Envolvendo os
filhos em um triângulo marcado por fronteiras rígidas, o sistema
familiar revela-se instável, e os membros, provavelmente, apresentam
um baixo nível de diferenciação.
Além disso, faz -se necessário salientar que, a indiferenciação do
self
dos
genitores
da
criança
alienada,
aponta
para
a
possível
47
dificuldade dos mesmos em deslocar a sua lealdade da família de
o r i g e m a t é a s u a f a m í l i a n u c l e a r, s e n d o e s t a b e l e c i d a s , d e s s a f o r m a ,
hierarquias distorcidas e fronteiras difusas.
5 . 3 L E A L D A D E N O S I S T E M A FA M I L I A R
Féres-Carneiro (1998) considera que o pior conflito vivenciado
pela criança em casos de separação dos pais é o conflito de “lealdade
invisível” quando exigida pelos pais, mas que no caso da Alienação
Parental ocorre mais pelas mães.
A palavra lealdade quer dizer lei e em bute uma submissão para
cumpri-la.
Através dela as forças das relações familiares tornam -se
poderosas, dependendo diretamente tanto da intersubjetividade como da
interdependência mútua dos seus membros.
As relações que envolvem uma família possuem um cará ter muito
p a r t i c u l a r. D e u m l a d o , n ã o p o d e m o s e s c o l h e r n o s s o s p a i s , n e m n o s s o s
f i l h o s . Ta m b é m n ã o p o d e m o s p ô r f i m à n o s s a f a m í l i a , p o i s , m e s m o q u e
ocorra uma ruptura nas relações, os membros ainda estarão presentes se não em vida, na história familiar e em nossa pessoal.
Segundo Bertin (2004) as leis que governam o sistema familiar são
específicas
e
especiais.
São
elas
que
definem
o
comportamento,
comandam a captura e controlam a liberação dos membros de uma
família. Essas leis possuem o conteúdo das expectativas estruturadas na
família ao longo das gerações.
Bertin (2004) refere que as relações que envolvem uma família
p o s s u e m u m c a r á t e r m u i t o p a r t i c u l a r. D e u m l a d o , n ã o s e p o d e e s c o l h e r
o s p a i s , n e m o s f i l h o s . Ta m b é m n ã o s e p o d e p ô r f i m à f a m í l i a , p o i s ,
mesmo que ocorra uma ruptura nas relaçõ es, os membros ainda estarão
p r e s e n t e s , m e s m o q u e s ó n a h i s t ó r i a f a m i l i a r.
proximidade
que
envolve
esses
Por outro lado,
relacionamentos,
depende
a
dos
48
compromissos de lealdade. A base de qualquer relação humana é, de
fato, a capacidade para assumir compro missos e confiar nos demais.
A mesma autora considera que a lealdade é um sentimento de
solidariedade e compromisso que reúne necessidades e expectativas de
uma família, sendo, também, descrita como uma atitude confiável e
positiva das pessoas.
Porém, lealdade num sistema familiar envolve considerar uma
trama que implica a existência de expectativas estruturadas no grupo,
em relação às quais todos os membros adquirem um compromisso. Ou
seja, a pessoa tem de interiorizar a essência das expectativas do grupo e
assumir uma série de atitudes que traduzam sua especificidade para
cumprir as incumbências internalizadas .
B o s z o r m e yi - n a g y
(2003)
considera
que
os
compromissos
da
lealdade são fundamentados em coalizões 2 e pactos, cuja origem são de
natureza conflituosa . Sua estrutura introjetada se inicia a partir de algo
que se deve a um genitor ou à representação interna da figura parental,
causando culpa se a pessoa não for capaz de cumprir as obrigações.
Bertin (2004) esclarece que a lealdade dependerá da posição d e
cada membro dentro da justiça de seu universo humano, o que, por sua
vez, faz parte da contabilização dos méritos entre as gerações.
E n t e n d e - s e p o r m é r i t o , s e g u n d o B o s z o r m e n yi - N a g y ( 2 0 0 3 ) , u m a
metáfora para expressar a importância do desejo humano por ju stiça.
Por exemplo, se um membro da família sacrifica seus interesses e
possibilidades pessoais a favor de um elemento ou pela família, ele
pode se sentir no direito de ser retribuído por esse sacrifício e,
portanto, espera ser reconhecido. Se essa dívida não for paga pela
geração
beneficiada,
ela
pode
ser
transmitida
à
geração
seguinte
exigindo o seu pagamento. Assim, o autor considera que toda pessoa
2 Colizão é um termo pelo qual se entende um processo de ação conjunta contra uma terceira pessoa, em
contraste com o termo aliança, na qual duas pessoas podem unir-se por interesse comum, independentemente de
uma terceira pessoa. PLAZZOLI et al. Paradoja y contraparadojo- Um nuevo modelo em La terapia de La
família com transaccíon esquizofrênica. Mexico: Editorial Paidós Mexicana 1994, p.147.
49
contabiliza sua percepção por meio do balaço entre o que dá e recebe,
no passado, presente e futuro.
Assim, a lealdade procura através da obrigação ética mobilizar e
estimular os membros comprometidos com ela a praticarem o exercício
d o d e v e r, a e q ü i d a d e e j u s t i ç a .
Mas como nem todos os envolvidos
podem corresponder aos estímulos que lhes são ofertados sentem -se
incapacitados para atender a demanda de obrigações do sistema. Como
resposta surge o sentimento de culpa. Esses sentimentos buscam regular
o
sistema.
Nesse
sentido
podemos
dizer
que, para
um
equilíbrio
homeostático de lealdade, necessariamente deverá e xistir o sentimento
d e c u l p a ( B E RT I N , 2 0 0 4 , p . 11 9 ) .
No caso da Alienação Parental percebe -se que a criança está imersa
em um conflito de lealdade invisível que estaria caracterizado pela
crença inconsciente da criança de que não acreditando nas informaçõ es
contadas
pelo
genitor
alienante
sobre
o
genitor
alienado,
estaria
d e s c u m p r i n d o a s e x i g ê n c i a s d o s e u g r u p o f a m i l i a r, n e s s e c a s o , j á
modificado pelo ciclo do divórcio.
Dessa forma, a criança se manteria fiel ao pacto que estabelece
com o genitor alienant e e estaria, conseqüentemente, se protegendo da
fantasia de ser abandonada.
Mendonça (2009) esclarece esse pacto firmado entre a criança e
genitor alienante afirmando que mesmo quando a criança, inicialmente,
não percebe o genitor ausente sob a ótica d o genitor alienante, ela
passa a “ter que acreditar” nas mesmas coisas devido à culpa, ao seu
vínculo e dependência emocional com o genitor que está mais próximo.
Ou seja, apesar de amar e sentir falta do genitor alienante, a criança
n ã o p o d e d e i x a r t r a n s p a r e c e r t a l s e n t i m e n t o , s o b p e n a d e d e c e p c i o n a r,
c o n t r a r i a r, s e r d e s l e a l a o g e n i t o r c o m q u e m e l a c o n v i v e .
50
5 . 4 L E G A D O S : R E P E T I Ç Ã O D E PA D R Õ E S E N T R E G E R A Ç Õ E S
Segundo Bertin (2004) os legados são os padrões de funcionamento
que são repetidos de uma geração à outra, que podem vir a estabelecer
um
determinado
modo
de
f u n c i o n a r.
Este
processo
ocorre,
sucessivamente, a cada geração e desta forma é gerada uma série de
repetições historicamente relacionadas, pois os produtos herdados em
cada geração serão novamente transmitidos.
A mesma autora considera que para entendermos esse padrão de
funcionamento
repetitivo
observado
em
determinados
sistemas
familiares devemos considerar a família em sua totalidade, pois nenhum
membro isolado trará tal configuração.
Um sistema só existe pelas relações de seus componentes e de
acordo com Maturana (1992) eles interagem pela operação de suas
propriedades que preenchem determinada função na dinâmica estru tural
do sistema e das relações de composição que eles participam.
Considerando que padrão é característica básica do pensamento
sistêmico, Capra (1996) considera que um padrão de organização, é uma
configuração de relações entre os membros do sistema, a qual determina
as
características
primordiais
de
um
sistema
p a r t i c u l a r.
Logo,
as
propriedades sistêmicas são propriedades de um padrão.
Segundo Bertin (2004), a repetição de um padrão cumpre a tarefa
d e e q u i l i b r a r o s i s t e m a f a m i l i a r. P a r a m a n t e r o s e u f u n c i o n a m e n t o , é
exigida de seus membros a constante observância do script da história
f a m i l i a r.
Porém, cada membro da família possui uma representação dessa
história, a qual, muitas vezes, é diversa daquela que o sistema exige;
portanto, para cumprir essa exigência, muitos indivíduos pagam o preço
d a s u a p e r m a n ê n c i a n a f a m í l i a p o r m e i o d a d o r, d o d e s a m o r, d o
abandono, da solidão, da rejeição, entre outros.
51
O s i s t e m a f a m i l i a r, m u i t a s v e z e s , i m p e d e a r e a l i z a ç ã o , a s a t i s f a ç ã o
e a autonomia de seus membros. Bertin (2004) pontua que muitas vezes
sistemas inteiros se aprisionam, enredando -se em certas pautas, lutam
desesperadamente para mantê-las. Outras vezes, quanto mais tentam
livrar-se delas, mais a elas se prendem.
Portanto, para a autora o sentido dessas relações depende da
representação que os elementos possuem das leis do sistema e do
caráter
intersubjetivo,
cuja
proximidade
se
desenvolve
como
compromissos inconscientes de lealdade.
Lealdade é um sentimento de solidariedade e compromisso que une
as necessidades e expectativas de uma família, implica em um vínculo e
tem uma dimensão ética.
Ivone Bertin finaliza considerando que do composto que resulta da
combinação dos elementos num sistema, emerge uma qualidade formada
pelos seguintes elementos: do posto de vista, intrapsíquico, o desejo do
sujeito é ambíguo; do ponto de vista consciente, por não saber que
deseja, rejeita; do ponto de vista do sistema, o processo constrói as
condições que tornam no seu conjunto, uma determinação inconsciente a
ser cumprida, qual seja: o desejo do sistema.
Cada membro do sistema é um participante ativo e responsável pela
história
f a m i l i a r,
o
que
o
torna
um
sujeito
transgeracional.
Os
elementos se combinam de forma dinâmica.
Minuchin (1990) refere que a estrutura familiar é um conjunto
invisível de exigências funcionais que organiza o modo como os
elementos da família interagem.
As propriedades sistêmicas são propriedades de um pad rão. O
padrão
de
funcionamento
repetitivo
é imprescindível
considerar
a
família em sua totalidade. Num sistema, as partes se inter -relacionam e
se
afetam
combinação.
mutuamente.
Logo,
a
Essa
interdependência
composição
d e t e r m i n a r ã o o s i s t e m a f a m i l i a r.
e
é
combinação
a
qualidade
dos
da
vín culos
52
M o r i n , 2 0 0 0 ( a p u d B E RT I N , 2 0 0 4 p . 1 0 4 ) d e s c r e v e q u e t o d a v i d a
humana autônoma é formada por uma diversidade de dependências.
Nascemos dependentes e, justamente através das dependências a que
estamos sujeitas no decorrer da vida, vamos construindo e adquirindo
nossa autonomia. Logo, não podemos concebê -las separadamente.
P o r c o n s e g u i n t e , L i d z , 1 9 8 0 ( a p u d B E RT I N 2 0 0 4 p . 1 0 4 ) c o n s i d e r a
que os membros de uma família acabam se influenciando mutuamente na
m a n e i r a d e p e r c e b e r, p e n s a r e c o m u n i c a r, a f i n a l , “ a n e c e s s i d a d e d e
segurança, que o indivíduo tem, neste mundo de contingências, o leva a
sistematizar
idéias,
que
na
realidade,
podem
contradizer
suas
experiências. Esta é uma das circunstâncias que propiciam a construção
e o desenvolvimento de crenças que o sistema rigidamente mantém”.
Entretanto, para que essa operatividade seja mantida, o sistema
tenderá a produzir um acúmulo de funções e ficará impossibilitado de
modificá-los futuramente.
Esse modo de funcionar interferirá na necessidade de diferenciação
dos seus membros e diante de tal impedimento a família buscará a
seguinte saída: “cria uma rede de funções e são reforçadas mutuamente,
cristalizando as relações em papéis estereotipadas. Conseqüentemente,
os membros perdem a oportunidade de realizar novas e diferenciadas
experiências
percebidas
e
de
como
enriquecer
uma
ameaça
sua
informação,
contra
o
nem
todas
pois,
equilíbrio
estas
do
serão
sistema”
(ANDOLFI 1985, p. 206).
Andolfi
(1985)
refere
que
as
idéias
e
atitudes
compartilhadas dentro de uma família são eficazes para controlar o
sistema. Mas, se uma premissa ou necessidade cumprir uma função
dentro dele, a família exigirá de seus membros uma dedicação para
satisfazê-la. Essa exigência os levará a adequar a percepção d e suas
experiências, muitas vezes distorcendo a realidade, o que certamente
afetará o sistema como um todo.
Para Bertin (2004) faz-se necessário observar que a repetição não
deve ser considerada como uma simples réplica. O processo recebe
53
também, as caract erísticas individuais de cada sujeito que reproduz. O
p r o d u t o h e r d a d o p o d e r á s o f r e r v a r i a ç õ e s a c a d a g e r a ç ã o f a m i l i a r.
N e s s e s e n t i d o , B a r a n e s ( a p u d B E RT I N , 2 0 0 4 , p . 9 7 ) r e f e r e q u e o
processo transgeracional, poderá transmitir uma herança que aliena, e
a s s i m , s e r á a t u a d a e r e p e t i d a . E p o d e r á p r o d u z i r, n o m e l h o r d o s c a s o s ,
uma transformação cujo resultado será diferente do que foi recebido
como herança.
Neste caso, a repetição não se tornaria a caricatura da
herança recebida.
O
Processo
de
Alienação
P arental
provocado
pelos
genitores
divorciados pode ser resultado da transmissão do legado da família de
origem dos genitores, o que poderá interferir no desenvolvimento da
criança; evitando que essas desenvolvam um self diferenciado, sendo,
assim, incapaz de estabelecer vínculos futuros positivos e padrões de
comportamentos construtivos.
Contudo, cabe lembrar que cada sujeito possui uma representação
da história de sua família, que muitas vezes, é diversa daquela que o
sistema considera ideal; da mesma form a, a repetição não é literal: cada
sujeito, de um modo ou de outro, singuraliza seu legado.
54
6
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da compreensão das transformações ocorridas na família
ao longo dos anos, o objetivo do presente trabalho foi apresentar o
conceito de Alienação Parental em contexto de separação de acordo com
a teoria sistêmica.
A revisão da literatura apontou p ara um consenso nos estudos da
área: a família vem passando por uma série de transformações para se
adequar aos novos contextos sociais.
As condições pós-modernas, ao favorecerem a inexistência de um
modelo único de relacionamento, possibilitaram o surgim ento de vários
arranjos conjugais e familiares, tais como famílias compostas por
recasados,
divorciados,
coabitantes,
monoparentais,
arranjos
considerados impróprios há algum tempo.
O estudo da história da família, que ao longo da transição
histórico-medieval-moderna
relações
amorosas,
sofreu muitas mudanças no
conjugais
e
sexuais,
mostrou
que
campo
as
das
novas
configurações familiares que surgiram troux eram desafios e impactos
psicológicos e sociais.
A partir da compreensão da história e evolução do conc eito de
família foi possível compreender o conceito de Alienação Parental, que
consiste em incitar uma criança para que odeie um dos genitores, sem
justificativa, processo que se inicia, em geral, no ambiente da mãe das
crianças, principalmente, porque sua instalação necessita de muito
tempo e por ser ela, na maioria das vezes, a detentora da guarda da
criança. A mãe, dessa forma, coloca o filho contra o pai, fazendo com
que a criança desenvolva sentimentos contraditórios e, muitas vezes,
m e m ó r i a s f a l s a s d e c o r r e n t e s d a s u a r e l a ç ã o c o m o g e n i t o r, c o m o s ã o n o s
casos de mães que inserem na criança memórias de que elas teriam sido
abusadas por pelo pai, sem que tenham verdadeiramente ocorrido.
55
De acordo com a abordagem sistêmica da família a Alienação
Parental está relacionada a problemas no funcionamento da dinâmica
familiar e aos legados que ambos os genitores herdaram de suas
famílias de origem. A ruptura da vida conjugal gera na mãe, ou no
genitor alienante, sentimento de abandono, de rejeição, de traição,
surgindo uma tendência vingativa muito grande. Quando essa não
consegue elaborar adequadamente o luto da separação, desencadeia um
processo
de
destruição,
de
desmoralização,
de
descrédito
do
ex
conjugue.
Outros fatores importantes que pod em predispor Alienação Parental
são o compartilhamento com a criança de decisões e mágoas, como se
e l a f o s s e u m p a r, n e g a n d o a s u a r e l a ç ã o d e d e p e n d ê n c i a d o a d u l t o , a
solidão do ex conjugue, a falta de confiança que o genitor titular da
guarda nutre pelo ex -consorte para cuidar dos filhos, o desejo de
manter somente para si o amor dos filhos, etc.
A dificuldade em dissolver subsistemas também foi apontada pelo
estudo como variável de peso. Quando pais e mães não conseguem
diferenciar
seus
papeis
e
confundem
a
conjugalid ade
com
a
parentalidade e, consciente ou inconscientemente, despertam na criança
a mesma rejeição que sentem em relação ao ex -conjugue.
Isso
fenômeno
leva
à
compreensão
relacional
típico
de
da
que
a
Alienação
pós -modernidade,
que
Parental
está
configura
di retamente
relacionado à separação dos pais e à dificuldade ou incapacidade de encerrar
a relação conjugal sem prejuízo para a relação parental.
No que se refere às conseqüências da Alienação Parental foi
observado
que
as
“falsas”
informações
repassadas
pelo
genitor
alienante sobre o genitor alienado podem gerar na criança fantasias de
ter sido abandonada, abusada sexualmente ou rejeitada, com graves
prejuízos para sua saúde mental.
Esse
contexto
psicológico
contra
também
a
criança
é
considerado
e
pode
um a
desencadear
forma
a
de
abuso
Síndrome
da
Alienação Parental, cujas conseqüências podem incluir sintomas de
depressão, alterações no comportamento, diminuição do rendimento
56
e s c o l a r, a n s i e d a d e d e s e p a r a ç ã o , o u p o d e m , a i n d a , p r o v o c a r o t r a n s t o r n o
de identidade, drogadição ou retraimento social.
Os
legados
das
famílias
que
vivenciam
a Alienação
Parental
influenciam a dinâmica inter-relacional dos seus sistemas familiares de
origem e nuclear e percebe -se a interconexão ex istente entre a repetição
de padrões da família de origem e o tipo de self que os membros da
família nuclear desenvolvem ao longo da vida.
Essa herança transmitida de geração a geração é difícil de ser
afastada ou selecionada, o que faz com que os genitor es da criança
alienada
sintam
emocionalmente
dificuldades
das
suas
quando
famílias
de
desejam
origem,
se
separar
dificultando
a
constituição de um self diferenciado em si e, também, nos seus filhos.
Bowen
contribui
muito
para
a
compreensão
do
fenômeno
postulando que em famílias formadas por pessoas com baixo nível de
diferenciação
é
comum
a
existência
do
processo
de
triangulação
emotiva, onde os pais transmitem aos seus filhos a sua imaturidade e a
falta de diferenciação do self.
Com sua abordagem estrutura l, Minuchin compreende que se deve
considerar a triangulação como o resultado da falta de fronteiras
demarcadas, sendo que no caso da Alienação Parental observa -se que a
fronteira em torno da tríade pai, mãe e filho é exageradamente rígida.
Dessa forma, o sistema familiar revela-se instável, e os membros,
provavelmente, apresentam um baixo nível de diferenciação.
Foi possível constatar que a indiferenciação do self dos genitores
da criança alienada, justifica a possível dificuldade deles em deslocar a
s u a l e a l d a d e d a f a m í l i a d e o r i g e m a t é a s u a f a m í l i a n u c l e a r. A l e a l d a d e
invisível é considerada por Feres -Carneiro o pior conflito vivenciado
pela criança em casos de separação dos pais. As conseqüências para a
criança são o medo de ser abandonada e a culpa, já que ela estaria
d e s c u m p r i n d o o p a c t o e s t a b e l e c i d o c o m o s e u g r u p o f a m i l i a r.
O estudo indica que mesmo que os legados familiares signifiquem e
transmitam sentimentos de culpa, exigência de pagamento de uma
57
geração à outra através de uma obrigação ética ent re os membros
envolvidos; relações de poder onde haverá sempre um credor e um
d e v e d o r,
envolverá
sempre
uma
opção
de
atender -se
ou
não
às
expectativas já anteriormente estabelecidas pelas famílias de origem.
E s s a c o m p r e e n s ã o i m p l i c a , n a c l í n i c a r e l a c i o n a l f a m i l i a r, q u e é
necessário que as pessoas possam experienciar mudanças, a fim de que
n ã o s e s i n t a m c a p t u r a d a s p e l o s p a d r õ e s d o s i s t e m a f a m i l i a r, s e m d e i x a r,
ao
mesmo
tempo,
de
estabelecer
vínculos
e,
conseqüentemente,
compromissos.
Há
importância
em
recon hecer
a
identidade
da
família,
sua
essência, sabendo valorizar principalmente as possibilidades e limites
d e n t r o d e u m p r o c e s s o d i n â m i c o d e i n t e r a ç ã o n o s i s t e m a f a m i l i a r.
Identificar os nossos legados sejam eles construtivos ou destrutivos.
Dar-se conta que mesmo estando atrelado ao sistema, é possível
não alienar-se, viabilizando uma transformação nestes padrões, por
meio
da
ressignificação
sem
desconsiderar
as
características
da
e s t r u t u r a d o s i s t e m a f a m i l i a r. S ã o d i r e t r i z e s p a r a o a c o m p a n h a m e n t o
terapêutico.
A
singularização
dos
legados
exige
manobras
alternativas
e
c o n s i s t e n t e s , r e p r e s e n t a n t e s d a h i s t ó r i a f a m i l i a r, s e m q u e s e e s q u e ç a a
parcela de responsabilidade pelo ponto de interseção entre o sistema
familiar e o self diferenciado de cada um.
A abordagem sistêmica, ao compreender o problema como parte de
um conjunto integrado de manobras, como resultante não de uma
condição puramente individual e predeterminada , mas sim, de um
imbricado de interações dentro de um sistema, lança para a atuação na
clínica
psicológica
e
para
os
serviços
de
atenção
à
possibilidades de intervenções complexas e bem estruturadas.
sentido,
contribui
compreensão
deste,
tanto
entre
para
a
outros
condução
fenômenos
clínica
quanto
relacionais
família
Nesse
para
a
familiares
emergentes que são, em grande parte, reflexos da pós -modernidade.
58
7
RESSONÂNCIAS
Do
ponto
realização
de vista
desta
dos
pesquisa
ganhos
pessoais,
representou
um
consideramos
grande
desafio
que
ao
a
nos
proporcionar a oportunidade de aproximarmo -nos da discussão sobre um
tema de extrema importância na atualidade.
O tema da Alienação Parental revelou -se um campo bastante
amplo, que ainda carece de muita pesquisa tanto âmbito da psicologia
quanto no jurídico. Dessa forma podemos vislumbrar a possibilidade de
continuar trilhando o caminho em direção a uma maior comp reensão da
Alienação Parental, a partir do aprofundamento do estudo sistêmico.
Este estudo nos permitiu, também, fazer contato com a nossa
subjetividade, sendo possível refletir a cerca de nossas famílias e de
nossas práticas como psicólogas clínicas.
Possibilitou,
finalmente,
encontrar
na
abordagem
sistêmica
diretrizes importantes tanto para a compreensão do fenômeno como para
a i n t e r v e n ç ã o n a c l í n i c a c o n j u g a l e f a m i l i a r.
59
REFERÊNCIAS
ANDOLFI, M. et al. Por trás da máscara familiar. Trad. Maria Cristina R. Goulart. Porto
Alegre: Artes Médicas, 1984.
ANDOLFI, M. et al. Dimensiones de La Terapia Familiar. Argentina: Editora Paidós, 1985.
ANDOLFI, M.; ANGELO, C. Tempo e Mito em Psicoterapia Familiar Sistêmica de Milão.
Porto Alegre: Artes Médicas, 1989.
ANDOLFI, M. A crise do casal: uma perspectiva sistêmico relacional. Porto Alegre: Artmed,
2002.
APASE - Associação de Pais e Mães Separados (org.). Síndrome da Alienação
Parental e a Tirania do Guardião - Aspectos Psicológicos, Sociais e Jurídicos.
Porto Alegre: Equilíbrio, 2007.
BADINTER, E. Um amor conquistado: o mito do amor materno. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1985.
BARANES, J. J. Tornar-se Si Mesmo: Avatares e Lugar do Transgeracional in
Tranmissão da Vida Psiquica entre Gerações. In: BERTIN, I. P. B. Repetições (In)
desejadas: uma questão de família. Taubaté, São Paulo: Cabral, 2004.
BERTALANFFY, L.V.Teoria Geral dos Sistemas. 4 ed. Petrópolis: Editora Vozes, 2006.
BERTIN, I. P. B. Repetições (In) desejadas: uma questão de família. Taubaté, São Paulo:
Cabral, 2004.
BOAVENTURA, E. M. Metodologia de Pesquisa: monografia, dissertação, tese. São Paulo:
Atlas, 2004.
BOSZORMENYI-NAGY, L; SPARK, M.G.. Lelatades Invisibles. 1ª ed. Buenos Aires:
Amarrotu, 2003.
BOWEN, M. The use of family theory in clinical practice. Comprehensive Psiquiatrie. v.7,
1966. p.345-374.
BOWEN, M. The use of family theory in clinical practice. In: WENDT, N. C. Fatores de
risco e de proteção para o desenvolvimento da criança durante a transição para a
parentalidade. 2006. 173f. Dissertação (Mestrado em Psicologia) – Programa de PósGraduação em Psicologia, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2006, p.78.
BOWEN, M. De La família AL individuo: la diferenciación del si mismo em el sistema
familiar. Barcelona: Ediciones Paidós Ibérica, 1979.
BOWEN, M.; KEER, M. E. Diferentiaton of self. In: Family Evaluation. W.W. Norton &
Company, New York, 1988.
60
BRASIL. Lei nº 12.318, de 26 de agosto de 2010. Presidência da República. Disponível em
www.planalto.gov.br/ccivil_03. Acesso em 26 nov. 2010.
BRASILEIRO, R.; JABLONSKI, B. e FÉRES-CARNEIRO, T. Papéis de Gênero,
transição para a paternidade e a questão da tradicionalização. Revista Psico. Porto
Alegre, v. 33, n.2, jul-dez., 2002.
BUCHER-MALUSCHKE, J. S.N. F. Lei, transgressões, famílias e instituições: elementos
para uma reflexão sistêmica. Psic.Teor. e Pesq. Local, v. 23, n.especial, p. 83-87. abr., 2007,
CABRAL, J. T. A sexualidade no mundo ocidental. Campinas, SP: Papirus,1995.
CANO, D. S. et al. (Org). Fontes de informação para pesquisadores e profissionais. Belo
Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2000. p. 191-216.
CANO, D. S. et al. As transições familiares do divórcio ao recasamento no contexto
brasileiro. Psicologia Reflexão e Crítica, Santa Catarina,v. 22, n.2, Jan. 2009. Disponível
em: <http://redalyc.uaemex.mx/src/inicio/ArtPdfRed.jsp?iCve=18815252004>. Acesso em:
02 dez. 2010.
CARVALHO, I. M. M. de; ALMEIDA, P. H. de. Família e proteção social. São Paulo
Perspec. [online]. 2003, vol.17, n.2, pp. 109-122. ISSN 0102-8839.
CAPRA, F. A Teia da Vida: uma nova compreensão científica dos Sistemas Vivos. Editora
Cultrix, 1996.
CARTER, B.; McGOLDRICK, M. Trad. Maria Adriana Veríssimo Veronese. As mudanças
no ciclo de vida familiar. 2.ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.
CASTILHO, V. B. F. O Trabalho de Família de Origem. CEFAC- Centro de Estudos da
Família e do Casal: Salvador, 1994. Mimeo.
CERVENY, C. M. O. (Org.). Família e – comunicação, divórcio, mudança, resilência,
deficiência, lei, bioética, doença, religião e drogadição. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004.
CHAVES, H. H. Família e Parentalidade. In: CERVENY, C. M. de O. (Org). Família e...São
Paulo: Casa do Pisicólogo, 2007.
DANTAS, C. R. T. O exercício da paternidade após a separação: um estudo sobre a
construção e a manutenção do vínculo afetivo entre pais e filhos na família contemporânea.
2003, 119 f. Dissertação (Mestrado em Psicologia Clínica) . Pontifícia Universidade Católica
do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2003.
DIAS, Maria Berenice. Síndrome da Alienação Parental. O que é isso? In: APASE –
Associação de Pais e Mães Separados (Org.). Síndrome da Alienação Parental e a Tirania
do Guardião - Aspectos Psicológicos, Sociais e Jurídicos. Porto Alegre: Equilíbrio, 2007.
61
FÉRES-CARNEIRO, T. Alienação Parental: Uma Leitura Psicológica. In: APASE –
Associação de Pais e Mães Separados (Org.). Síndrome da Alienação Parental e a Tirania
do Guardião - Aspectos Psicológicos, Sociais e Jurídicos. Porto Alegre: Equilíbrio, 2007.
FÉRES-CARNEIRO, T. Casamento contemporâneo: o difícil convívio da individualidade
com a conjugalidade. Psicologia: Reflexão e Critica, Porto Alegre, v.11, n. 2, 1998.
Disponível
em:<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010279721998000200014&lng
=pt&nrm=iso>. Acesso em: 7 jun. 2010.
FONSECA, P. M. P. C.. Síndrome da Alienação Parental. In: Revista Brasileira de
Direito de Família. Minas Gerais. v. 8, n. 40, p. 5-16, fev/mar, 2007. Disponivel em:
<http:// www.aliencaoparental.com.br>. Acesso em 01 jun. 2010.
FONSECA, P. M. P. C. Síndrome de alienação parental. Revista de Pediatria.Porto
Alegre , 28, n.3, 2006. Disponível em: <http://www.aliencaoparental.com.br>. Acesso
em: 01 jun. 2010.
GARDNER, R. Family Therapy of the moderate type of parental alienation syndrome.
American Joournal of Family Therapy. New York. v. 27, n. 3/4, p.1-23, 1999.
GIDDENS, A. A transformação da intimidade: sexualidade, amor e erotismo nas
sociedades modernas. São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista, 1993.
GOLDANI, A. M. As famílias brasileiras: mudanças e perspectivas. Caderno de Pesquisa,
São Paulo, N.91, p.7-22, 1994;
GUERIN, P. et.al. Triangulos relacionales: El a-b-c de La psicoterapia. Trad. Ofelia Castillo.
Buenos Aires: Amorrortu, 1996.
GRZYBOWSKI, L. Parentalidade em tempo de mudanças: desvelando o envolvimento
parental após o fim do casamento. Porto Alegre, 2001. Disponível em:<http://tede.pucrs.br>.
Acesso em: 7 jul. 2010.
GRZYBOWSKI, L. Parentalidade em tempo de mudanças: desvelando o envolvimento
parental após o fim do casamento. In: DANTAS, C. et al. Terezinha Paternidade:
considerações sobre a relação pais-filhos após a separação conjugal.
2003, 119 f.
Dissertação (Mestrado em Psicologia Clínica) . Pontifícia Universid ade Católica do Rio de
Janeiro, Rio de Janeiro, 2003.
HETHERINGTON, E.M & STANLEY-HAGAN, M. (1999). The adjustment of
children with divorced parents: A risk and resiliency perspective. The Journal of Child
Psychology and Psychiatry and Allied Disciplines, 40, 129-140. In. SOUZA, R.
Depois que papai e mamãe se separaram: um relato dos filhos. Psic. Teor. e Pesq.
Brasília, v. 16, n. 3, Dez 2000. Disponível em: <http:// www.scielo.com.br>. Acesso
em: 07 set. 2009.
62
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. (2007). Síntese de
indicadores sociais: Uma análise das condições de vida da população brasileira 2007, v. 21.
Estudos e Pesquisas. Informação demográfica e socioeconômica. Rio de Janeiro, RJ: Autor.
KERR, M. E.; BOWEN, M. (1988). Family evolution: An approach based on Bowen theory.
New York: W. W. Norton & Company. Inc.1988.
LIDZ. T. et alli. El Medio Intrafamiliar del Paciente Esquizofrênico: La tranmisión de La
irracionalidade. In: BERTIN, I. P. B. Repetições (In) desejadas: uma questão de família.
Taubaté, São Paulo: Cabral, 2004.
LIDCHI, VG. O processo de entrevistar em casos de abuso e maus -tratos. Parte II:
avaliando famílias. Adolesc. Saúde. v. 1, n. 4, p. 26-30, 2004;
MATURANA , H. El Sentido de lo Humano. 3ª Edicion. Chile: HAchette, 1992.
MARTINS, E. M. de A. et al. Família e o processo de diferenciação na perspectiva de
Murray Bowen: um estudo de caso. Psicol. USP, São Paulo, v. 19, n. 2, jun. 2008.
Disponível em <http://www.revistasusp.sibi.usp.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S167851772008000200005&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 30 nov. 2010.
MENDONÇA, J. D. C. Jornal O Globo. São Paulo, 30 de abril de 2009. Disponível em:
<http://oglobo.globo.com/blogs/brasilcomz/posts/psicologo-explica-os-efeitos-da-alienacaoparental-na-crianca-181978.asp>. Acesso em: 22 jun. 2010.
MINUCHIN, S. Famílias: funcionamento e tratamento. Porto Alegre: Artes Médicas, 1990.
MINUCHIN,S.; FISHMAN, C. H. Técnicas de Terapia Familiar. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1990.
MORIN, E. Ciência com Consciência. In: BERTIN, I. P. B. Repetições (In) desejadas: uma
questão de família. Taubaté, São Paulo: Cabral, 2004.
MOTA, Maria Antonieta Pisano. A Síndrome da Alienação Parental. In: APASE – Associação
de Pais e Mães Separados (Org.). Síndrome da Alienação Parental e a Tirania do
Guardião - Aspectos Psicológicos, Sociais e Jurídicos. Porto Alegre: Equilíbrio, 2007.
NICHOLS, M,; SCHWARTZ,R. Terapia familiar: conceitos e métodos. Porto Alegre:
Artmed, 2007. p. 99.
NORONHA, D. P.; FERREIRA, S. M. S. P. Revisões de Literatura. In: CAMPELLO, B.S. et
al. Fontes de informação para pesquisadores e profissionais. Belo Horizonte: Universidade
Federal de Minas Gerais, 2000. p.191-216.
NORGREN, M. B. P. et al. Satisfação conjugal em casamentos de longa duração: uma
construção possível. Estud. Psicol. Natal, v. 9, n. 3, p.575-584, dez. 2004.
OSÒRIO, L. C. Família Hoje. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.
63
PECK, J. S ; MENOCHERIAN, J. R. O divórcio nas mudanças do ciclo de vida familiar. In:
CARTER, B.; McGOLDRICK, M . As mudanças no ciclo de vida familiar: uma estrutura
para a terapia familiar. 2ª Ed.Porto Alegre:Artes Médicas, 1995.
ROUDINESCO, E. Trad. André Telles. A família em desordem. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
Editor, 2003.
ROSA, Felipe Niemezewski. A síndrome de alienação parental nos casos de
separações judiciais no direito civil brasileiro. 2008, 56f. Monografia (Curso de
Direito). PUCRS, Porto Alegre, 2008.
SANTOS, N. E. B. A triangulação e seus múltiplos aspectos no contexto familiar: um
olhar relacional sistêmico. Florianópolis, 2008.
SARDINHA, A. et al. As relações entre a satisfação conjugal e as habilidades sociais
percebidas no cônjuge. Psic. Teor. e Pesq., Brasília, v.25, n.3, p. 395-402. set. 2009.
Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010237722009000300013&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 20 out. 2010.
SINGLY, F. Un drôle de je: le moi conjugal. Dialogue, n º102, 1988, pp.3-5.
SLUZKI, C. E. A Rede Social na Prática Sistêmica: alternativas terapêuticas. Trad. Claudia
Berliner. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1997.
VILLA, M. B; DEL PRETTE, Z. A. P. Habilidades sociais com conjugais em casais de
diferentes filiações religiosas. 2002. 98f. Dissertação (Mestrado em Ciências) –Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da USP, departamento de Psicologia e Educação,
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2000.
WAGNER, A. (Org.). Possibilidades e Potencialidades da Família: a construção de novos
arranjos a partir o recasamento. In:____ Família em cena: tramas, dramas e transformações.
Petrópolis: Vozes, 2002.
WAGNER, A. et al. Crenças e valores dos adolescentes acerca de família, casamento,
separação e projetos de vida. Psicol. Reflex. Crit., Porto Alegre, v.10, n.1, 1997. Disponível
em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010279721997000100011&lng=pt
&nrm=iso>. Acesso em: 3 dez. 2010.
WENDT, N. C. Fatores de risco e de proteção para o desenvolvimento da criança
durante a transição para a parentalidade. 2006. 173f. Dissertação (Mestrado em
Psicologia) – Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Universidade Federal de Santa
Catarina, Florianópolis, 2006, p.78.
WINNICOTT, D. W. (1994, orig. 1970). Sobre as Bases para o Self no Corpo. In:
WINNICOTT, C.; SHEPHERD, R.; DAVIS, M. Explorações Psicanalíticas. Porto Alegre:
Artes Médicas, 1970.
64
XAXÁ, I. N. A Síndrome de Alienação Parental e o Poder Judiciário. 2008. 76f.
Monografia (Curso de Graduação de Direito). Universidade Paulista – Unip, Brasília.
Disponível em: <http:// www.aliencaoparental.com.br>. Acesso em: 1 jun. 2010.
Download

Alienação Parental e a Transmissão dos Legados Familiares entre