7 FACULDADE RUY BARBOSA ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOLOGIA CONJUGAL E FAMILIAR ANA ELISA GOMES MATOS VIEIRA GIORDANA BARRETO GÓES MONISE GUSMÃO ALIENAÇÃO PARENTAL E A TRANSMISSÃO DOS LEGADOS FAMILIARES ENTRE GERAÇÕES: UMA LEITURA SISTÊMICA Salvador 2010 8 ANA ELISA GOMES MATOS VIEIRA GIORDANA BARRETO GÓES MONISE GUSMÃO ALIENAÇÃO PARENTAL E A TRANSMISSÃO DOS LEGADOS FAMILIARES ENTRE GERAÇÕES: UMA LEITURA SISTÊMICA Monografia apresentada ao Curso de Pós-graduação em Psicologia Conjugal e Familiar, Faculdade Ruy Barbosa, como requisito parcial para obtenção do título de Especialista. Orientadora: Profa. Giovana Perlin Salvador 2010 9 AGRADECIMENTOS A professora Giovana Perli n , nossa orientadora, pelo apoio e ensinamentos transmitidos durante a orientação desse trabalho. A Marlene Miranda, orientadora do projeto, pelo carinho e disponibilidade durante as supervisões. Aos nossos pais e irmãos pelo amor e dedicação, por terem contribuído para que chegássemos até aqui. Aos nossos colegas, professores e colaboradores desta Instituição pelos anos de dedicação, aprendizagem, carinho e companheirismo. Aos nossos companheiros Hector, Fábio e Rafael pelo estímulo e paciência nas horas mais difíceis. A todos aqueles que direta ou indiretamente contribuíram para a execução deste trabalho. 10 RESUMO A partir da compreensão de família como uma instituição em constante processo de transformação, o presente trabalho objetivou apresentar o conceito de Alienação Parental em contexto de divórcio com base na teoria sistêmica. Foram apresentados o histórico e os conceitos de família, abordados por diversos autores, assim como os de Alienação Parental e Síndrome de Alienação Parental. De acordo com a abordagem sistêmica da família a Alienação Parental está relacionada a problemas no funcionamento da dinâmica familiar e aos legados que ambos os genitores herdaram de suas famílias de origem. O estudo levou à compreensão de que a Alienação Parental configura fenômeno relacional típico da pósmodernidade que está diretamente relacionado à separação dos pais e à dificuldade ou incapacidade de encerrar a relação conjugal sem prejuízo para a relação parental. Conceitos sistêmicos como diferenciação do self, tríades, triângulos e suas conexões, lealdade no sistema familiar e transmissão de legados entre gerações configuram elementos fundamentais para a compreensão do fenômeno e para a condução em saúde psicológica e relacional da família. Palavras-chave: Alienação parental. Família. Divórcio. Transmissão de legados. Família de origem. 11 ABSTRACT Considering family as an institution in a constant process of transformation, the aim of the present work was to introduce the concept of Parental Alienation in the context of divorce on the basis of the Systems theory. The history and concepts of family, addressed by several authors, Parental Alienation and Parental Alienation Syndrome were presented. According to the Family Systems Approach the Parental Alienation is related to problems in the functioning of family dynamics and the legacy that both parents have inherited from their origin families. The study led to the understanding that the Parental Alienation sets typical post-modernity relational phenomenon that is directly related to parents' separation and the difficulty or inability to end the marital relationship without prejudice to the parental relationship. Systems concepts such as differentiation of self, triads, triangles and their connections, loyalty in the family system and transmission of legacies between generations are fundamental elements for understanding the phenomenon and to conduct psychological and relational health of the family. Keywords: Parental alienation. Family. Divorce. Transmission of legacy. Orign family. 12 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO................................................................................................ 07 2 A HISTÓRIA DA FAMÍLIA........................................................................ 11 3 CONCEITOS DE FAMÍLIA NA VISÃO SISTÊMICA..................................... 16 4 ALIENAÇÃO PARENTAL E SÍNDROME DE PARENTAL: ALIENAÇÃO DEFEITOS, CAUSAS E CONSEQÜÊNCIAS........................................................ 5 A TRANSMISSÃO DE LEGADOS ENTRE GERAÇÕES E A ALIENAÇÃO PARENTAL..................................................................................................................... 22 33 5.1 5.2 5.3 5.4 O PROCESSO DE DIFERENCIAÇÃO DO SELF... .......................................... TRÍADES, TRIÂNGULOS E SUAS CONEXÕES........................................... LEALDADE NO SISTEMA FAMILIAR.................................................................. LEGADOS: REPETIÇÃO DE PADRÕES ENTRE GERAÇÔES.......................... 33 38 41 44 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................... 48 7 RESSONÂNCIAS..................................................................................... 52 REFERÊNCIAS.................................................................... 5 3 1 13 1 INTRODUÇÃO Operadores do direito, psicólogos e profissionais que estão envolvidos nas discussões familiares se deparam, com cada vez mais freqüência, com um fenômeno que atende pelo nome de Alienação Parental, que ocorre quando um dos pais adentra em um processo de t e n t a t i v a s d e c o n d u z i r o s f i l h o s a o a f a s t a m e n t o a f e t i v o d o o u t r o g e n i t o r. Tr a t a - s e d e u m f e n ô m e n o r e l a t i v a m e n t e n o v o q u e , p o r a p r e s e n t a r - s e crescente, demanda atenção especial por parte da sociedade. A inovação se refere, especialmente, à estrutura familiar envolvida no fenômeno: famílias separadas. Há algumas décadas, a separação ou o d i v ó r c i o e r a m p o s s i b i l i d a d e s r e m o t a s . Dantas (2003) s a l i e n t a q u e a f a m í l i a nuclear do século XIX, na qual o pai, a mãe e os filhos conviviam na mesma casa, há muito tempo não representa mais o único modelo familiar predominante. As mudanças constantes nas funções da família são reflexos de necessidades de ajuste a uma nova realidade socia l e em decorrência, também, do desenvolvimento do individualismo e do imenso desejo de felicidade surgidos nos séculos XIX. As condições pós-modernas ao favorecerem a inexistência de um modelo único de relacionamento possibilitam vários arranjos conjugais e familiares, tais como famílias compostas por recasados, divorciados, coabitantes, monoparentais, arranjos considerados impróprios há algum tempo. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2007) mostram que os números de divórcio e separações ocorridos no Brasil, entre os anos de 1993 e 2003, cresceram 44% e 17,8%, respectivamente. Já no período entre 2004 e 2005, as separações judiciais aumentaram 7,4%, mantendo um crescimento gradativo. Destaca-se que os números d o IBGE (2007) não i ncluem as uniões e as dissoluções consensuais, mas, a partir deles, é possível pressupor que, se fossem considerados os dados extra -oficiais, as estatísticas seriam 14 a i n d a m a i o r e s . Te n d o e m c o n t a e s s e s d a d o s e o c o n t e x t o s ó c i o - h i s t ó r i c o atual do segundo mil ênio, o divórcio tornou -se evidente, razão pela qual surge a necessidade de mais pesquisas nacionais sobre o tema para subsidiar uma reflexão contextualizada à realidade brasileira. Segundo Cano e Col. (2009) pode-se inferir o quanto, na atualidade, a família vem se reconfigurando em decorrência dessas transições e de mudanças sociais que alteram a sua organização. Ainda com base em dados do IBGE (2007), denota-se a incidência do crescimento de famílias monopar entais, pois os índices apontam que, em 47% dos domicílios, um dos pais está ausente da constituição f a m i l i a r. Ao considerarem-se os dados brasileiros, com base no IBGE, verifica-se que, somente no ano de 1994, foram registrados 29.690 c a s a m e n t o s e n t r e d i v o r c i a d o s e s o l t e i r a s , 11 . 5 2 8 e n t r e d i v o r c i a d a s e solteiros, e 5.867 entre divorciadas e divorciados (IBGE, 1994). A proporção de casamentos entre indivíduos divorciados com cônjuges solteiros é crescente, principalmente entre homens divorciados que se casam com mulheres solteiras. O índice que, em 1995, era de 4,1% foi para 6,3% no ano de 2005 (IBGE, 2007). Faz-se importante salientar que o artigo 226 „caput‟ da Constituição Federal, diz que a família é a base da sociedade e tem proteção especial do Estado, sugerindo, que todas essas novas configurações famílias merecem a proteção irrestrita do Estado, dos operadores do direito e profissionais de saúde. Dessa forma, a nenhuma espécie de vínculo que tenha por base o afeto se pode deixar de conferir o status de família, merecedora da proteção do Estado. Segundo a Dra. Maria Berenice Dias 1 Casamento, sexo e procriação deixaram de ser os elementos identificadores da família. Na união estável não há casamento, mas há família. O exercício da sexualidade não está restrito ao casamento – nem mesmo para as mulheres -, pois 1 DIAS, M. B. É desembargadora aposentada do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, advogada militante e vice-presidente nacional do Instituto Brasileiro de Direito da Família - IBDFAM. Disponível em: <http://www.epm.sp.gov.br/SiteEPM/Artigos/artigo+212.htm>. Acesso em: 22 Jun 2010. 15 caiu o tabu da virgindade. Diante da evolução da engenharia genética e dos modernos métodos de reprodução assistida, é dispensável a prática sexual para qualquer pessoa realizar o sonho de ter um filho. Todas estas mudanças impõem uma nova visão dos vínculos familiares, emprestando mais significado ao comprometimento de seus partícipes do que à forma de constituição, à identidade sexual ou à capacidade procriativa de seus integrantes. O atual conceito de família prioriza o laço de afetividade que une seus membros, o que ensejou também a reformulação do conceito de filiação que se desprendeu da verdade biológica e passou a valorar muito mais a realidade afetiva. Apesar da omissão do legislador o Judiciário vem se mostrando sensível a essas mudanças. O compromisso de fazer justiça tem levado a uma percepção mais atenta das relações de família. As uniões de pessoas do mesmo sexo, por exemplo, vêm sendo reconhecidas como uniões estáveis. Passou-se a prestigiar a paternidade afetiva como elemento identificador da filiação e a adoção por famílias homoafetivas se multiplicam. Frente a esses avanços soa mal ver o preconceito falar mais alto do que o comando constitucional que assegura prioridade absoluta e proteção integral a crianças e adolescentes (DIAS apud XAXÁ, 2008, p15). Autores da teoria sistêmica familiar trazem importante contribuição para a compreensão dessas novas configurações quando passam a considerar que o indivíduo está sempre inserido em um sistema. Nada existe se não em relação e, assim, a família também é vista como uma unidade em que todas as partes estão interligadas e interagem entre si, existindo um movimento contínuo e circular de troca entre os sub sistemas familiares e a estrutura individual. A partir dessa compreensão de família, o presente trabalho, de natureza descritiva, objetiva apresentar o conceito de Alienação Parental em contexto de separação de acordo com a teoria sistêmica. Para construção desta tarefa, foi realizada revisão de literatura com base sistêmica. Segundo Noronha e Ferreira (2000 apud CAMPELO , 2004, p.47) trabalhos de revisão são estudos que analisam a produção bibliográfica em determinada área temática, dentro de um recorte de tempo, fornecendo uma visão geral ou um relatório do estado -da-arte sobre um tópico específico, evidenciando novas idé ias, métodos, sub-temas que tem recebido maior ou menor ênfase na literatura selecionada. A consulta de um trabalho de revisão propicia ao pesquisador tomar conhecimento, em uma única fonte, do que ocorreu ou está ocorrendo periodicamente no campo estudado , podendo substituir uma série de outros trabalhos. 16 O fator que impulsionou a escolha desse tema foi a proximidade que as autoras tiveram com a sua área de atuação profissional, seja na área de psicologia clínica ou jurídica e o desejo de melhor conhecer a inter-relação da teoria sistêmica com o processo da Alienação Parental. Na prática profissional da clínica, as autoras, sentiram a necessidade de uma maior investigação no estudo da abordagem sistêmica, pois foi observado que as famílias que vivenciam o P rocesso de Alienação Parental apresentavam “problemas” no funcionamento os mecanismos da dinâmica f a m i l i a r. É importante conhecer melhor que afloram a Alienação Parental, para que possamos ter um controle mais eficaz sobre as contribuições que levamos da n ossa família de origem. Estudar a Tr a n s g e r a c i o n a l Te o r i a de dos Bowen Sistemas (1979), Familiares a Abordagem e o Modelo Estruturalista de Minuchin (1990), a conjugalidade abordada por Féres-Carneiro (1998), e a abordagem do tema da Alienação Parental descrita por Xaxá (2008), como principais autores, favorece a compreensão destes contextos, assim como capacita os profissionais que possuem uma visão sistêmica, para o exercício de suas práticas. 17 2 A H I S T Ó R I A D A FA M Í L I A A família nunca permaneceu com o mesmo formato: ao longo da história ela vem passando por diversas transformações e novos arranjos foram se constituindo. Sluzki (1997) afirma que em sua origem, a palavra “família” foi utilizada para denotar todos que viviam em um mesmo ambiente, i n c l u s i v e o s s e r v i ç a i s . A p a r t i r d o s é c u l o X V, o t e r m o t e v e s e u significado ampliado, abarcando todos os membros da casa, tanto servos como mulheres cativas e descendência engendrada pelo chefe de família. Nessa família medieval, o vínculo mais importante era um acordo tácito de proteção e lealdade mútuas, que se tornou mais estável à medida que o tempo foi transcorrendo, e o uso do termo evoluiu progressivamente até o contrato familiar que hoje conhecemos. Cabral (1995) afirma que na transição histórica -medieval- moderna, tudo que se refere ao campo das uniões sexuais sofreu várias mudanças, em virtude do fluxo de correntes de novos ideais sociai s. O Renascimento e a Reforma, sem dúvida, impulsionaram a humanidade a questionar velhos valores, padrões e concepções a respeito da mulher e, sobretudo, do casamento. Neste mesmo período a aristocracia feudal cede lugar a uma nova força social, a burgue sia, que e m e r g i a e s e d e s e n v o l v i a c o m t o d a f o r ç a e p o d e r. De acordo com Cabral (1995) a moral dessa nova classe pautava se em uma radical individualização, novo código da pequena família burguesa, nascendo a concorrência e a propriedade privada. Assim configurou-se o início de novas relações de produção, caracterizadas pela exploração capitalista de um proletariado assalariado. Com isso, a população urbana e principalmente as camadas mais abastadas da sociedade viram-se em crise diante do enfrentamento das correntes opostas de valores, nas relações amorosas, conjugais e sexuais. 18 O mesmo autor coloca que assim se produziu a moral da propriedade individualista e do culto ao eu. Isso se refletiu muito mais intensamente nas relações entre os sexos do que em outr as formas das relações humanas. Fortaleceu a idéia do direito da propriedade de um ser sobre o outro e o velho preconceito da desigualdade entre o homem e a m u l h e r. J á o m o d e l o d e f a m í l i a p a s s o u a s e r a q u e l e e n c e r r a d o e m s i mesmo, cuja responsabilidade é a de ser a célula principal da sociedade. Cabral (1995) conclui pontuando que a moral da nova classe burguesa privilegiou fortemente a idéia da propriedade do marido sobre a esposa. E esse sentimento não se restringiu apenas ao casamento legal: se manifestava em qualquer tipo de união amorosa. No século XVI, o modelo de família começou a modificar -se no sentido de tornarse mais apropriado aos novos tempos. Sob a influência marcante do individualismo, começa a se formar a família n u c l e a r, composta apenas de pais e filhos. Os novos casamentos e a conseqüente formação de novas famílias seguiam as mesmas exigências religiosas e morais da época. Já não se casava mais tão jovem como nos tempos medievais. Mas ao homem era pedido que ao menos pudesse sustentar uma família, enquanto a mulher deveria reunir as condições de dona de casa eficiente, companheira racional e excelente mãe para os filhos. O amor ainda não era o componente principal para a realização de um casamento. Contudo, da convivência se almejava a cumplicidade mútua e a afeição. Foi no século XVIII, também, que o número de nascimentos i l e g í t i m o s v o l t o u a s u b i r. I s s o s i g n i f i c a q u e a s r e l a ç õ e s e x t r a c o n j u g a i s , a p a r e n t e m e n t e a m e n i z a d a s c o m o s u rg i m e n t o d a f a m í l i a n u c l e a r, n ã o desapareceram. Segundo Cerveny (2004) a família moderna surgiu, provavelmente, do modelo burguês europeu do século XVIII, tendo sofrido uma gama de alterações em decorrência das grandes mudanças econômicas e de pensamento nos séculos posteriores. 19 A revolução industrial do século XIX foi uma das responsáveis por parte dessas mudanças como, por exemplo, pelo surgimento do modelo de família nuclear urbana (formada por pais e filhos) em contraposição à família extensa e rural. escolaridade nas classes trabalhado ras A pressão pelo aumento da culminou no adiamento da independência e autonomia dos filhos, o que levou os pais a passarem a exercer a função de proteção e educação da prole por períodos mais longos. Pode-se observar que o investimento e o formato de relação com a prole mudou de forma importante. Dantas (2003) salienta que a família nuclear do século XIX, na qual o pai, a mãe e os filhos conviviam na mesma casa, não representa mais o único modelo familiar predominante. O movimento feminista em meados do século XX e o maior ingresso das mulheres no mercado de trabalho, i nclusive em atividades com melhores renumerações, levou a discussão a questão da divisão sexual de papeis, com conseqüentes mudanças na dinâmica das relações e estruturas familiares. A mesma autora considera que durante o século XX houve a convivência de t rês modelos de família: a tradicional que privilegiava a produção econômica conjunta, enfatizando a autoridade paterna e exercendo intercâmbio entre a comunidade e seus parentes; a moderna, mais individualista, tornando-se mais que distanciou -se nuclear e da igualitária, comunidade focando a e parentes, atenção nos sentimentos; e, por fim, já no final do século, a pluralística (ou pós moderna), que tem como característica principal a abertura às novas formas de relacionamentos, constituídas pela mãe e seus filhos, por pais e mães que estejam em outras uniões matrimoniais, mas que convivem com os filhos de seus outros casamentos. As novas configurações familiares geram desafios e repercussões psicológicas e transformações sociais. À medida que a família vivencia psico -sócio-político-econômico-culturais, as uma multiplicidade de configurações familiares se delineiam, levando os 20 membros a experimentarem processos transacionais de adaptação e acomodação às novas situações ( GRZYBOWSKI, 2001). Entretanto, como já foi dito anteriormente, Osório (1996) aponta que é no século XXI que significativas mudanças e transformações acontecem, entrando em cena a pós-modernidade. Com isso, as transformações aceleradas dos papeis sociais demandam mudanças ainda mais dramáticas nos valores. A família não mais se apresenta como única, pois as mudanças culturais e sociais das últimas décadas fazem surgir diversas maneiras de agrupamento. Para Goldani (1994) a família é fruto de negociações e acordos entre seus membros e sua duração depende disto. Assim, como são frutos de escolhas individuais e negociações interindividuais, a vida dos familiares será cada vez mais idiossincrática e fluída. O desenvolvimento do individualismo e a busca da felicidade surgidos no século XIX levaram às mudanças da vida moderna. A família começa a viver de forma mais íntima e, segundo Badinter ( 1 9 8 5 ) , p a s s a a s e r u m n o v o m o d o d e v i d a , v o l t a d a p a r a o i n t e r i o r, a intimidade que conserva os laços afetivos familiares, onde a mãe é o centro, que adquire uma importância que nunca tivera. Neste movimento de transformações intensas, o casamento deixa de ser um pacto da família indissolúv el, com a garantia da presença divina e passa a ser um contrato livremente consentido entre o homem e a m u l h e r q u e d u r a r á a p e n a s e n q u a n t o d u r a r o a m o r. O s l a ç o s c o n j u g a i s passam a ser cada vez mais transitórios e frágeis, onde o outro assume a posição de fácil descarte. Divórcios, re -casamentos, famílias monoparentais, casais homossexuais, famílias tradicionais patriarcais: uma miríade de modelos de casamentos passou a coexistir (ROUDINESCO, 2003). Giddens (1993) compartilha dessa análise e pontua que a família pós-moderna rompe com os padrões tradicionais, questionando seus valores. Os ideais judaico -cristãos de união entre os sexos opostos, perenidade dos vínculos conjugais, valorização da monogamia, dentre 21 outros, deixam de nortear os vínculos familiares , dando lugar a novas estruturas familiares. Essas estruturas aparentemente se tornam mais fluidas e contam com dois componentes que se integram para fortalecer essa característica: a exacerbação do individualismo e a possibilidade de separação e divórcio. A constatação de que as perspectivas de formação e de continuidade do casamento compreendem os valores e padrões do individualismo, tendo em vista que os ideais de união conjugal demonstram a primazia da autonomia e da satisfação de cada um dos consortes. No entanto, ao mesmo tempo em que os ideais individualistas estimulam a busca pela independência dos companheiros, identifica -se o crescimento da importância dada à necessidade da construção de uma identidade conjugal, que abranja os ideais, os anseios e os projetos comuns. O dilema individualidade -conjugalidade apresenta -se como um cenário constante e pode implicar na percepação de instabilidade, o que é discutido por Carvalho e Almeida (2003) À primeira vista, essa nova realidade pode dar a impressão de que as famílias estão desestruturadas, ameaçadas, ou, até mesmo, em vias de extinção. Uma leitura mais cuidadosa e acurada, porém, deixa patente sua plasticidade e sua enorme capacidade de mudança e de adaptação às transformações econômicas, sociais e culturais mais amplas, bem como sua persistente relevância, notadamente como espaço de sociabilidade e socialização primárias, de solidariedade e de proteção social (CARVALHO; ALMEIDA, 2003, p. 110). Mesmo família diante ainda é da plasticidade considerada a das organizações matriz mais familiares, importante a do desenvolvimento humano e principal fonte de saúde de seus membros. Segundo Dantas (2003) a família tem conseguido sobreviver às crises sociais devido à sua capacidade de ajustar -se às novas demandas. Mas, como discutiu-se, as transformações refletem nas relações e novos fenômenos, como é o caso da Alienação Parental, que revelar-se pode contexto profícuo para emergirem conflitos e crise s no s i s t e m a f a m i l i a r. 22 3 C O N C E I T O S D E FA M Í L I A N A V I S Ã O S I S T Ê M I C A A variabilidade histórica da instituição familiar torna muito difícil a elaboração de um conceito único de família. Ela parece modificar -se temporal e espacialmente, englobando funções políticas e econômicas dentro da sociedade em que está inserida. Além d isso, a história da família não é linear e apresenta diversas rupturas em seu percurso ( D A N TA S , 2 0 0 3 , p . 2 2 ) , c o m o o b s e r v a d o n o c a p í t u l o a n t e r i o r. De acordo com o dicionário Larousse a família é um grupo de pessoas ligadas entre si por laços de casamento ou parentesco. Chaves (2007) apresenta um interessante trecho que bem demonstra a concepção de família: O termo parentesco, originário da antropologia, designa relações familiares como um agrupamento que é formado pelo casamento, filhos provenientes dessa união, conquanto seja licito conceber que outros parentes possam encontrar o seu lugar próximo ao núcleo do grupo (CHAVES, 2007, p.47). Acrescenta ainda, citando como referencia Lévi -Strauss, que os membros da família estão unidos entre si por laços legais, direitos e obrigações e uma quantidade variada e diversificada de sentimentos p s i c o l ó g i c o s , t a i s c o m o a m o r, a f e t o , r e s p e i t o e m e d o . Da mesma forma como a família apresentou diferentes estru turas e formatos ao longo da história da humanidade e das culturas, a compreensão sobre ela varia de acordo com a teoria adotada para explicá-la. Passando por teorias antropológicas, evolucionistas, e, dentro da psicologia, teorias freudianas, comportament ais e sistêmicas, a estrutura conceitual adotada para a compreensão da família reflete diretamente nas análises sobre os fenômenos que a circundam. Para a realização deste trabalho adotou -se a abordagem sistêmica de compreensão da família. Isso não signifi ca, no entanto, consenso absoluto. Minuchin (1990) defende que a teoria sistêmica compreende a família como um sistema aberto e dinâmico, onde seus membros se 23 influenciam mutuamente e constantemente e são influenciados e influenciam o meio em que vivem. A família é considerada como o principal agente socializante do indivíduo, aonde este tende a se moldar às formas básicas do comportamento social, sendo os agentes sócio c u l t u r a i s d e c a r á t e r c o m p l e m e n t a r. Uma das propriedades da família, entretanto, diferen temente de outros sistemas, é a forma de entrada e saída de seus elementos. Novos membros só são incorporados pelo nascimento, adoção ou casamento e os membros somente podem ir embora pela morte ( C A RT E R , MCGOLDRICK E COL, 1995, p.9). Para Andolfi (1989) a família é um sistema aberto e ativo que está sempre se transformando para que a continuidade e o crescimento psicossocial das pessoas que a compõe estejam garantidos. Refere que no grupo familiar coeso o sujeito deve poder se diferenciar progressiva e individualmente, para que se torne cada vez menos dependente do seu sistema familiar original, até se separar e instituir -se, com funções diferentes, um novo sistema. Bowen (1979) define a família como um sistema que segue as leis dos sistemas naturais. “La fa mília es um sistema en la medida em que el cambio de uma parte del sistema va seguido de otras partes de esse sistema. Prefiero pensar em la família como em uma variedad de sistemas e subsistemas” (BOWEN, 1979, p. 29). Minuchin (1990) ainda afirma que a es trutura familiar é um conjunto de exigências funcionais, invisível, que organiza as formas de interação dos membros da família, e esta é um sistema que opera através de padrões transacionais. Os padrões de como, quando, com q u e m s e r e l a c i o n a r, s ã o e s t a b e l e c i d o s p e l a s t r a n s a ç õ e s r e p e t i d a s , e reforçam o sistema. M i n u c h i n e F i s h m a n ( 1 9 9 0 ) n o l i v r o T é c n i c a s d e Te r a p i a F a m i l i a r definem o sistema familiar de acordo com as fronteiras e com a organização hierárquica. Dessa forma, a estrutura familiar é um 24 conjunto de exigências funcionais que organiza as maneiras pelas quais os membros da família interagem. Portanto, uma família é um sistema que opera através de padrões transacionais. De acordo com este autor os padrões “como”, “quando”, e “com quem” são estabelecidos pela repetição das transações e reforçam o sistema regulando o comportamento dos membros da família. Esses padrões são mantidos por dois sistemas de repressão: o genérico, constituindo -se de regras universais responsáveis pela organização familiar; mútuas e de o sistema membros idiossincrático, específicos da envolvendo família. Há as expectativas também padrões alternativos disponíveis dentro do sistema (MINUCHIN, 1990; p145). Ainda subsistemas protegidos conforme formados por Minuchin por fronteiras, e Fishman geração, que o sexo, sistema (1990) é interesse familiar através ou de função, difere ncia-se e consegue levar a cabo suas funções. As fronteiras de um subsistema são as regras que definem quem participa e como. Sua função é a de proteger a diferenciação dos sistemas e subsistemas. Minuchin (1990) afirma que para o funcionamento apropriado da família, as fronteiras dos subsistemas devem ser nítidas, isto é, bem definidas para que não haja interferência indevida, mas sem impedir o contato com membros de outros subsistemas. O mesmo autor esclarece que as fronteiras, também, podem ser rígidas ou difusas. No primeiro caso, em um limite extremo que é o desligamento, os membros da família têm bastante autonomia, porém carecem de sentimentos de lealdade e pertencimento, além de uma dificuldade de comunicação. No caso das fronteiras difusas, os elementos do subsistema têm um sentido de pertencimento elevado, com bom nível de comunicação e preocupação entre eles, o que nos casos extremos, leva invariavelmente a uma perda de autonomia. A família para Cerveny (2004) é vista como um sistema de pessoas que vivem no mesmo espaço físico e mantém relações significativas de interdependência entre os vários subsistemas da família. 25 Carter e Mc Goldrick (1995) consideram que as famílias podem ser vistas como uma rede de triângulos conectadores, em que cada membr o está próximo de alguns e distantes de outros, numa complicada teia de alianças e tensões. Para Roudinesco (2003) a família é um conjunto de pessoas ligadas entre si por casamento e filiação, e inclusive pela sucessão de indivíduos descendentes uns dos ou tros: uma linhagem, uma raça, uma dinastia, uma casa. Santos (2008) refere que o ser humano, desde a sua concepção é poderosamente influenciado pelas expectativas da família nuclear e da família extensa. Com base nesta relação significativa, os relacionamentos a seguir serão influenciados, e por meio das crises e dos processos evolutivos, cumprirão o papel de reavaliar e reorganizar os seus sistemas e subsistemas em expansão. Deste modo, pode-se considerar que os relacionamentos são oportunidades para o indivíduo modificar o seu nível de diferenciação em busca de um funcionamento mais autônomo e autêntico, distanciando-se das polaridades reativas. De acordo percebida como com Lidchi sendo (2004) a família predominantemente funcional é afetuosa, aquela com boa comunicação, coesa e com regras flexíveis, mas limites e fronteiras claramente determinados, dando aos seus membros os recursos necessários ao crescimento individual e o a poio diante de dificuldades da vida ou doenças intercorrentes. O equilíbrio entre proteção e autonomia oferecido adolescentes, pela a confiança família irá d e s e n v o l v e r, básica necessária em crianças à organização e de seu comportamento e à integração de su a auto-estima. Segundo Carvalho e Almeida (2003): A família é apontada como elemento-chave não apenas para a "sobrevivência" dos indivíduos, mas também para a proteção e a socialização de seus componentes, transmissão do capital cultural, do capital econômico e da propriedade do grupo, bem como das relações de gênero e de solidariedade entre gerações. Representando a forma tradicional de viver e uma instância mediadora entre indivíduo e sociedade, a família operaria como espaço de produção e transmissão de pautas e práticas culturais e como organização responsável pela existência cotidiana de seus 26 integrantes, produzindo, reunindo e distribuindo recursos para a satisfação de suas necessidades básicas (CARVALHO & ALMEIDA, 2003, p. 120) Bucher-Maluschke (2007) acredita que a família tem uma função educativa, bem como desenvolve uma relação afetiva para com seus m e m b r o s . Ta n t o a a ç ã o e d u c a t i v a q u a n t o a r e l a ç ã o a f e t i v a s e t r a d u z e m por linguagens e, na medida em que estas são coerentes às questões dos limites e da estruturação de regras, ajudarão a interiorizaçã o da lei, o respeito pela autoridade. A confusão entre os níveis afetivos e educativos gera grandes problemas. S e g u n d o Wa g n e r ( 1 9 9 7 ) a f a m í l i a t r a n s f o r m o u - s e , a p a r t i r d e u m modelo que era legitimado pelo casamento (sendo o poder maior delegado ao pai/ma-rido), para uma união estável entre homem e mulher ou qualquer um dos pais e seus descendentes. A troca deste cenário implica em mudanças importantes na vivência, percepção e construção que os filhos fazem de seus aspectos sócio -afetivos e projetos de vida. O mesmo autor afirma que o papel crucial da família, como responsável pela construção dos projetos de vida dos filhos, assim como dos seus valores e crenças, se dá na medida em que ela é o palco onde se vive e aprende as primeiras cenas, buscando o equi líbrio entre o real e o imaginário. Desse modo, à luz da compreensão sistêmica, onde cada sujeito somente pode ser entendido no seu contexto f a m i l i a r, considerando que qualquer mudança na família afeta todo o sistema. As definições e conceitos apresentados por diversos autores dentro da própria perspectiva sistêmica levam a perceber que dentro da abordagem existem diferentes enfoques e perspectivas. Em que pesem as diferenças, alguns pontos em comum permitem que se possa apresentar um contorno sistêmico do conceito de família que passa por, consensualmente,duas pontuações derivadas da Teoria Geral Sistemas (BERTALANFFY, 2006): 1. a família é um sistema dos aberto e, como tal, possui subsistemas, funções e padrões de funcionamento próprios. Como um sistema, está submetida às mesmas regras gerais que se aplicam a quaisquer sistemas abertos: não somatividade, 27 equifinalidade, homeostase dinâmica (ou estado hierarquias e presença de propriedades emergentes. 2. estacionário), a família não é uma soma de indivíduos. Isso implica dizer que os membros de uma família estão em constante interação e que o foco da compreensão psicológica será a relação entre eles. Assim, pode-se dizer que observar a família através de uma lente sistêmica significa pensar nas relações entre seus membros e entre a sociedade, nas propriedades que emergem de suas interações e nas hierarquias existentes entre seus subsistemas. Significa, ainda, não o desprezo pelas questões individuais, mas direcionar o foco da compreensão e da psicoterapia nas relações e interações entre seus membros. 28 4 A L I E N A Ç Ã O PA R E N TA L E S Í N D R O M E D E A L I E N A Ç Ã O PA R E N TA L : C O N C E I T O S , C A U S A S E C O N S E Q Ü Ê N C I A S As novas configurações familiares geram desafios e repercussões psicológicas e levando membros os sociais, pois a vivenciam transformações experimentarem processos múltiplas, adaptativos e acomodativos às novas situações. Conforme citado anteriormente, Giddens (1993) afirma que na esteira das novas formas de convivência, a família pós -moderna rompe com os padrões tradicionais, questiona seus valores (união entre sexos opostos, perenidade dos vínculos conjugais, valorização da monogamia) e dá lugar a novas estruturas familiares, como os relacionamentos conjugais casamentos homossexuais, onde os dúvidas cônjuges entre moram a em carreira casas e o cônjuge, separadas, uniões estáveis, recasamentos, separações e seus desdobramentos. Brasileiro; Jablonski e Féres-Carneiro (2002) questionam se, ao invés da substituição de modelos tradicionais, o que aconteceu foi o acréscimo de valores, onde padrões tradicionais coexistem com modernos, tanto na cultura quanto dentro do indivíduo. O casamento implica a construç ão de uma nova identidade para os cônjuges, de um “eu -conjugal” na definição de Singly (1988), que vai se construindo através das interações estabelecidas entre eles. Segundo Fonseca ( 2 0 0 7 ) , c a s a m e n t o é a u n i ã o d e d o i s s i s t e m a s q u e f o r m a m u m holos, trazendo consigo suas crenças pessoais e das famílias de origem. Segundo Féres-Carneiro (1998), na família disfuncional, muitos problemas estão em articulação com sistemas mais amplos e muitas vezes já existem dentro do seio da família: via de comunicação confusa, fronteira pouco claras, dificuldade em desenvolver vínculos nutritivos. De acordo com Norgren (2004) deve-se observar ainda que o c a s a m e n t o t r a n s f o r m a - s e a o l o n g o d o c i c l o d e v i d a f a m i l i a r, e a s s i m , o nível de satisfação também varia com o decorrer dos anos de convívio. 29 Argumenta poder ex istir casamentos estáveis e não necessariamente satisfatórios, que se mantêm pelas mais variadas razões: um ou ambos os cônjuges abominam a idéia do divórcio, por ra zões pessoais ou por credo religioso; conseguem lidar podem com ter a medo liberdade da e mudança e da auto -suficiência; solidão; não não querem repartir o patrimônio que construíram ao longo dos anos e, finalmente, estar casado e fazer parte de uma famíl ia pode ser menos ansiógeno do que estar descasado. Os terapeutas estruturais, a exemplo de Salvador Minuchin, consideram que a normalidade da família se caracteriza não pela ausência de problemas, mas pela estrutura disfuncional que as mantém. Uma das conseqüências de um casal disfuncional é o divórcio. P a r a G r z yb o w s k i , ( 2 0 0 1 ) , o d i v ó r c i o t o r n a - s e u m a c o n t e c i m e n t o comum na vida das famílias. Com a aprovação da Lei do Divórcio, em 1977, o número de divórcios vem aumentando, e cada vez mais os casais buscam essa alternativa como solução da insatisfação conjugal. Quando envolve a existência de filhos, essa separação fica mais complexa. Peck e Menocherian (1995) afirmam que uma crise transicional, o divórcio força a interrupção das tarefas desenvolvimentais a s erem negociadas na fase especifica no ciclo vital que a família esta passando, trazendo uma serie de ajustamentos relativos à separação e lançamento da família num estado de desequilíbrio até que ocorra a restabilização. Segundo Norgren (2004) muitos casamentos não sobrevivem à saída, ou mesmo à independência dos filhos, e o divórcio acontece após 20 anos ou mais de casados. No Brasil, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, em 2001, 15% das separações judiciais concedidas em primeira instância ocorreram entre 15 e 19 anos de casamento e 19% com 20 anos ou mais. Esses casais parecem não ser capazes ou não desejarem transformar sua relação, revendo a conjugalidade, dando -lhe, neste momento, maior destaque do que às questões familiares. 30 Segundo Dantas (2003), no processo de divórcio, a identidade conjugal, construída no casamento, vai aos poucos se desfazendo, levando os cônjuges a uma redefinição de suas identidades individuais. Nesse contexto de significações, ente nde-se o divórcio como um processo que ocorre no ciclo vital da família, desafiando sua estrutura e sua dinâmica relacional. Para Norgren (2004) as relações duradouras e satisfatórias, por outro lado, permitem que o sistema conjugal se torne um refúgio em relação aos estressores externos, bem como a matriz para o contato com outros sistemas sociais, o que é bastante relevante frente à longevidade crescente da população idosa . Desse modo, a relação conjugal pode se transformar em fonte de crescimento pessoa l e aprendizagem, se houver espaço para as diferenças e trocas pessoais. Féres-Carneiro (1998) refere que o divórcio legaliza um estado de discórdia entre o casal, leva a uma liberação do clima de disputa e cria novas estruturas domésticas de convivência entre pais e filhos. Para os filhos, inicialmente representa um mistério que precisa ser explicado c o m c l a r e z a e o b j e t i v i d a d e . Tr a t a - s e d e u m m a r c o l e g a l q u e p r o v o c a e m todos os familiares, principalmente em pais e filhos, angústias e incertezas que ameaçam a estabilidade pessoal e causam inúmeras m u d a n ç a s n a d i n â m i c a d o c o t i d i a n o f a m i l i a r. Carter e Mc Goldrick (1995) salientam que o divórcio se configura como grande rompimento no ciclo de vida familiar e afeta todos os membros da família em todos os níveis geracionais, tanto a família nuclear quanto a ampliada, provocando uma crise para a família como um todo e para cada membro desta, aumentando a complexidade das tarefas desenvolvimentais que o grupo familiar estiver vivenciando. De acordo com Sardinha (2009) o aumento paulatino do número de divórcios, tanto no Brasil quanto no mundo, revela dados preocupantes, com um índice de 60% nos EUA, de 40% na Inglaterra e de 25% no Brasil (VILLA; DEL PRETTE, 2002). Problemas de relacionamento entre casais e de insatisfação no casamento têm sido apontados como um dos maiores estressores da vida, levando a transtornos psiquiátricos 31 e enfermidades físicas. O estresse no relacionamento conjugal pode levar à violência en tre os parceiros, cujas consequências mais extremas são o homicídio ou o suicídio. Além disso, perturbações conjugais também trazem consequências negativas para os filhos e familiares, como o processo de Alienação Parental. De acordo com Féres-Carneiro (1998), os casais dificilmente conseguem manter um equilíbrio entre a expressão e satisfação de suas necessidades pessoais e a manutenção da união estabelecida, devido aos valores individualistas da atualidade. Féres-Carneiro (1988) afirma que existe atualmente um aumento do número de separações conjugais, observando que a causa pode ser a busca de homens e mulheres por relacionamentos amorosos mais verdadeiros, com uma exigência exacerbada e não uma desvalorização do casamento. Te r e z i n h a F é r e s - C a r n e i r o ( 1 9 8 8 ) t r a z a i d é i a q u e n o m o m e n t o d a separação é importante deixar os filhos fora do conflito conjugal, pois a forma como a criança ou adolescente vai lidar com a crise vai depender da relação estabelecida entre os pais e da capacidade deles distinguirem a função conjugal da função parental, na tentativa de mostrar aos filhos que as funções parentais de amor e cuidados estarão mantidas. Na prática, porém, as relações entre pais separados parecem estar bem distante dessas pretensões. A forma como muitas separaçõ es vem ocorrendo provoca principalmente com sentimentos as crianças que muito dificultam pequenas que os acordos, precisam de mediação o tempo todo. O contato é quase inevitável e a sua qualidade reflete na saúde dos filhos. Corroborando com esse entendim ento, Hetherington & StanleyHagan (1999 apud SOUZA, 2000) alertam que a saúde mental das crianças está relacionada ao bem estar e à qualidade do relacionamento dos pais, independentemente de viverem juntos. Ressaltam que será melhor para o filho se o divó rcio contiver a escalada de conflitos dos 32 cônjuges, assim como, o que tiver a guarda possa proporcionar um a m b i e n t e t r a n q ü i l o , a p e s a r d a s o b r e c a rg a . Rosa (2008) afirma que tanto no âmbito clínico quanto no forense, estudos demonstram que os conflitos vivid os pelos pais antes e durante o processo de separação causam problemas de ajustamento dos filhos. Quando há separação, a criança enfrenta o medo e as conseqüências negativas de um lar desfeito. Xaxá (2008) refere que diante dessas novas configurações familiares começam a surgir novas questões que envolvem as famílias em processo de divórcio, como é o caso da Alienação Parental e da Síndrome de Alienação Parental, conceitos que muitos autores consideram como sinônimos, mas que no presente estudo irão se d i f e r e n c i a r. A g r a n d e p a r t e d o s a u t o r e s d e s c r e v e o g e n i t o r q u e a l i e n a o filho como Genitor Alienante e o outro como Genitor Alienado, ficando mais fácil, assim, identificá -los. A p a r t i r d a s p r o p o s t a s d e G a r d n e r, 1 9 9 9 ( a p u d F É R E S - C A R N E I R O , 2007, p. 73), entende-se a Alienação Parental como “um processo que consiste em programar uma criança para que odeie um dos genitores, sem justificativa, fazendo uma espécie de campanha para a desmoralização do mesmo”. Esse processo manifesta, em geral, no ambiente da mãe das crianças, notadamente porque sua instalação necessita muito tempo e porque é ela que tem a guarda da criança na maior parte das vezes. To d a v i a , p o d e s e a p r e s e n t a r e m a m b i e n t e s d e p a i s i n s t á v e i s , o u e m culturas onde tradicionalmente a mulher não tem nenhum direito concreto, assim como com outras pessoas que não necessariamente façam parte dessa família. Dessa forma, a mãe, por exemplo, colocaria o filho contra o pai, fazendo com que a criança desenvolvesse sentimentos contraditórios e muitas vezes m emórias falsas decorrentes d a r e l a ç ã o d a m e s m a c o m s e u g e n i t o r, c o m o s ã o n o s c a s o s d e m ã e s q u e inserem na criança memórias que essas foram abusadas por estes, sem que tenham verdadeiramente ocorrido. 33 P a r a D i a s 2 0 0 7 ( a p u d A PA S E , 2 0 0 7 , p . 1 2 ) , a c r i a n ç a q u e a m a s e u genitor é levada a afastar-se dele, quem também a ama. Isso gera contradições de sentimentos e destruição de vínculos entre ambos. Restando órfão do genitor alienado, acaba -se se identificando com o genitor alienante, passando a aceitar como verdad eiro tudo que lhe foi informado. Segundo a Lei nº 12.318, de 2010, em seu artigo 2º, a Alienação Parental se configura como: “a interferência na formação psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este” (BRASIL, 2010). Essa mesma lei indica, no parágrafo único do artigo 2º, que existem formas exemplificativas de Alienação Parental, tais como: I – realizar campanha de desqualificação da conduta do genitor no exercício da paternidade ou maternidade; II – dificultar o exercício da autoridade parental; III – dificultar contato de criança ou adolescente com genitor; IV – dificultar o exercício do direito regulamentado de convivência familiar; V – omitir deliberadamente a genitor informações pessoais relevantes sobre a criança ou adolescente, inclusive escolares, médicas e alterações de endereço; VI – apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiares deste ou contra avós, para obstar ou dificultar a convivência deles com a criança ou adolescente; VII – mudar o domicílio para local distante, sem justificativa, visando a dificultar a convivência da criança ou adolescente com o outro genitor, com familiares deste ou com avós. (BRASIL, 2010) A prática da Alienação Parental fere o direito fundamental da criança ou do adolescente, que é o da convivência familiar saudável, prejudicando, dessa forma, a manutenção de afeto nas relações com g e n i t o r e c o m o g r u p o f a m i l i a r, c o n s t i t u i n d o t a m b é m a b u s o m o r a l c o n t r a os mesmos e descumprimento dos deveres inerentes à autoridade parental. Já a Síndrome de Alienação Parental (SAP) é considerada por Rosa (2008) como uma perturbação psicológica e emocional, onde a criança começa a desenvolver uma serie de sintomas como: ansiedade, depressão, sentimento de culpa, agressividade, nervosismo, aversão ao genitor alienado, o que pode levar ao desencadeamento de um 34 transtorno. Surge principalmente no âmbito das disputas pela guar da e custódia das crianças em processo de divórcio. Assim, Fonseca Alienação (2006) Parental terminantemente afirma refere -se e à que enquanto conduta obstinadamente a do ter filho contato a Síndrome que se com de recusa um dos progenitores, que já sofre a s mazelas oriundas daquele rompimento, a Alienação Parental relaciona -se com o processo desencadeado pelo progenitor que intenta arredar o outro genitor da vida do filho. O mesmo autor enfatiza que os fatores desencadeadores da Alienação Parental são larga mente descritas na literatura. Para se entender os motivos que leva um genitor a alienar seu filho contra o outro genitor devemos entender melhor a dinâmica desse casal e os motivos da sua separação. Embora, o objetivo da alienação seja sempre o mesmo – o banimento do outro genitor da vida do filho, as razões que levam o genitor alienante a promovê-la se denotam bastante diversificadas. Os objetivos variam entre chantagear o ex -parceiro para conseguir vantagens financeiras, por exemplo, até vingar -se por ter saído da relação ''por baixo''. Mas os casos mais graves geralmente estão relacionados à sensação de posse exclusiva, ao desejo irracional de ter os filhos somente para si - sem correr o risco de ter que dividir o amor dos pequenos com o pai (ou mãe) ou com a nova família que ele (ou e l a ) p o s s a f o r m a r. F é r e s - C a r n e i r o 2 0 0 7 ( a p u d , A PA S E , 2 0 0 7 , p . 7 5 ) , t r a z e m u m d o s seus trabalhos pesquisas do IBGE (2003) os quais mostram que são as mulheres quem mais pedem a separação e, normalmente, a pessoa que detém a guarda dos filhos. Com isso, frequentemente, são as mães que alienam os filhos contra seus pais. M o t a 2 0 0 7 ( a p u d A PA S E , 2 0 0 7 , p . 5 3 ) a f i r m a q u e t a n t o o c a s a l q u e se separa quanto seus filhos passam por momentos delicados e difíceis na tentativa de resolver questões práticas, como guarda e visita, ou emocionais, como lidar com a interrupção de certas tradições 35 familiares, a perda da convivência diária com um dos pais e a sensação d e d e s a m o r, r e j e i ç ã o e a b a n d o n o , e e m c a s o s m a i s g r a v e s p o d e r á h a v e r a Alienação Parental por parte dos genitores. Muitas vezes a ruptura da vida conjugal gera na mãe, ou no genitor alienante, sentimento de abandono, de rejeição, de traição, surgindo uma tendência vingativa muito grande. Quando não consegue elaborar adequadamente o luto da separação, desencadeia um processo de destruição, de desmoralização, de descrédito do ex conjugue. Ao ver o interesse do pai em preservar a convivência com o filho, quer vingar -se, a f a s t a n d o - o d o g e n i t o r ( D I A S , 2 0 0 7 , a p u d A PA S E , 2 0 0 7 , p . 7 7 ) . F é r e s - C a r n e i r o ( a p u d A PA S E , 2 0 0 7 , p . 7 4 ) r e f e r e q u e a g r a v i d a d e da Alienação Parental vai depender muito da forma que os pais se separaram e também da relação que o genitor alienador tem com seus filhos. Quando pais e mães conseguem diferenciar seus papeis de pais com os de conjugues a relação entre eles e os filhos não fica comprometida, pois esses genitores percebem que não devem envolver o s f i l h o s n o s s e u s p r ó p r i o s c o n f l i t o s . To d a v i a , i s t o n ã o o c o r r e n o c a s o de Alienação Parental em que um dos pais dificu lta o acesso do outro à criança e, consciente ou inconscientemente, desperta na criança a mesma rejeição que experimenta em relação ao ex -conjugue, confundindo, com graves prejuízos para o filho, a conjugalidade e parentalidade. Muitas vezes, as mães ou os pais que afastam os filhos do ex conjugue não se desenvolvimento conjugalidade dão conta emocional com do quanto saudável parentalidade, dos acreditam estão prejudicando mesmos. que os o Confundindo problemas do relacionamento conjugal se estendem à crian ça, a quem pensam até estar protegendo. Em geral, a alienação é praticada pelo conjugue que sai “por baixo” do relacionamento e alimenta sentimentos de vingança em relação ao outro, sobretudo quando o mesmo já constituiu nova família, 36 o que ocorre com mai s freqüência nos homens, que se casam mais r a p i d a m e n t e . ( F É R E S - C A R N E I R O , 2 0 0 7 , a p u d A PA S E , 2 0 0 7 , p . 7 5 ) . Separar a conjugalidade da parentalidade é uma grande dificuldade no divórcio, pois a redefinição do envolvimento emocional é um processo longo, que ger a falha nas fronteiras do relacionamento e conflitos pós-divórcio. Os papéis e regras parentais precisam ser r e d e f i n i d o s ( G R Z Y B O W S K I , 2 0 0 1 a p u d D A N TA S , 2 0 0 3 , p . 0 5 ) . N e s t e m e s m o s e n t i d o , n o l i v r o d a A PA S E , Te r e z i n h a F é r e s - C a r n e i r o irá trazer outro fator qu e pode predispor a Alienação Parental, como o tipo de relação que o genitor que detém a guarda tem com o filho. Fazer um filho um confidente, compartilhando com ele suas decisões e suas m á g o a s , c o m o s e e l e f o r a u m p a r, u m i g u a l , n e g a n d o a s u a r e l a ç ã o d e dependência do adulto, predispõe a Alienação Parental cujas conseqüências são muito nefastas para a criança. Fonseca (2006) contribui para esse entendimento ao apresentar outros motivos para o surgimento da Alienação Parental, tais como: solidão a que se vê relegado o ex conjugue, principalmente quando não tem familiares próximos; falta de confiança, fundada ou infundada, que o ex- conjugue titular da guarda nutre pelo ex -consorte para cuidar dos filhos; desejo de manter somente para si o amor dos filhos etc . Autores como Xaxá (2008), Rosa (2008) e Fé res-Carneiro (2007) ( a p u d A PA S E , 2 0 0 7 ) a i n d a a c r e s c e n t a m q u e n a s f a m í l i a s q u e v i v e n c i a m a Alienação Parental, a criança se sente tendo que anular os momentos felizes que passou com os dois pais, sendo forçada a lembrar momentos tristes que passou com o genitor alienado. As “falsas” informações contadas pelo genitor alienador sobre o genitor alienado podem gerar na criança fantasias de ter sido abandonada, abusada sexualmente ou rejeitada, já que são sempre registros de desqualificação e críticas destrutivas, com vistas a denegrir a sua imagem p erante a criança. A criança que não sabe que pode haver outros adultos, que delas cuidem, protejam e atendam; adultos separados dessa unidade s i m b i ó t i c a q u e e l a c o m p õ e c o m o a l i e n a d o r, p o d e f i c a r a t e r r o r i z a d a d e 37 deixar o único mundo seguro, que em sua exp eriência, existe, aquele em que ela e o alienador formam uma unidade simbiótica, indissolúvel onde as individualidades e identidades se dissolvem numa unidade i n d i f e r e n c i a d a , c a ó t i c a e p e r t u r b a d o r a d e s a ú d e m e n t a l ( M O TA , 2 0 0 7 , a p u d A PA S E , 2 0 0 7 , p . 5 3 ) . Fonseca (2006) considera que esse contexto é uma forma de abuso psicológico contra a criança, cujas conseqüências podem incluir sintomas de depressão, alterações no comportamento, diminuição do r e n d i m e n t o e s c o l a r, a n s i e d a d e d e s e p a r a ç ã o , o u p o d e m , a i n d a , p r o v o c a r o transtorno de identidade, drogadição ou retraimento social. To d a s essas características são identificadas nas crianças que vivenciam a Síndrome da Alienação Parental, levando-as a necessitarem de acompanhamento psicoterapêutico. Segundo Fonseca (2006), essa alienação pode perdurar anos seguidos, com gravíssimas conseqüências de ordem comportamental e psíquica, e geralmente só é superada quando o filho consegue alcançar certa independência do genitor-guardião, o que lhe permite entrever a irrazoabilidade do distanciamento a que lhe foi induzido No que diz respeito às providencias tomadas pelo Poder Público quando for constatada Alienação Parental, a Lei nº 12.318, de 2010, em seu artigo 4º afirma que “Declarado indício de ato de alienação parental, a requerimento ou de ofício, em qualquer momento processual, em ação autônoma ou incidentalmente, o processo terá tramitação prioritária, e o juiz determinará, com urgência, ouvido o Ministério Público, as medidas provisórias necessárias para preservação da integridade psicológica da criança ou do adolescente, inclusive para assegurar sua convivência com genitor ou viabilizar a efetiva reaproximação entre ambos, se for o caso ” (BRASIL, 2010). O Artigo 6º da mesma lei, por meio dos incisos de I a VII, elenca as medidas punitivas cabíveis quando caracterizados (…) atos típicos de Alienação Parental ou qualquer conduta que dificulte a convivência de criança ou adolescente com o genitor (…): I – declarar a ocorrência de alienação parental e advertir o alienador; II – ampliar o regime de convivência familiar em favor do genitor alienado; III – estipular multa ao alienador; 38 IV – determinar acompanhamento psicológico e/ou biopsicossocial; V – determinar a alteração da guarda para guarda compartilhada ou sua inversão; VI – determinar a fixação cautelar do domicílio da criança ou adolescente; VII – declarar a suspensão da autoridade parental. (BRASIL, 2010) A atribuição ou alteração da guarda será dada, preferencialmente, ao genitor que viabiliza a efetiva convivência da criança ou adolescente c o m o o u t r o g e n i t o r. E s s e t i p o d e g u a r d a s e r á d a d o q u a n d o a g u a r d a compartilhada for inviável. A alteração de domicílio da criança ou adolescente é irrelevante para a determinação da competência relacionada às ações fundadas em d i r e i t o d e c o n v i v ê n c i a f a m i l i a r, s a l v o s e d e c o r r e n t e d e c o n s e n s o e n t r e os genitores ou de decisão judicial. Isso significa salvaguardar os que direitos o Poder Judiciário à integridade tem psicológica como da objetivo criança ou adolescente que sofre de Alienação Parental. Dessa forma, a justiça avaliará quem será o responsável que melhor viabilizará a convivência do menor com a família e primar pelo desenvolvimento pleno de suas funções psicológicas. Nem sempre a decisão judicial é a mais acert ada para a criança ou adolescente. 39 5 A TRANSMISSÃO DE LEGADOS ENTRE GERAÇÕES E A A L I E N A Ç Ã O PA R E N TA L 5.1 O PROCESSO DE DIFERENCIAÇÃO DO SELF A criança nasce fusionada e indiferenciada em relação ao ambiente. A formação de seu self inicia-se em relação com a figura materna e, mais tarde, com o restante da família. P a r a Wi n n i c o t ( 1 9 7 0 ) o s e l f c o n s i s t e n u m a d i f e r e n c i a ç ã o e n t r e e u e não eu numa crescente integração até permitir uma imagem unificada de s i m e s m o e m c o n t r a p o s i ç ã o a o m u n d o e x t e r i o r. E s s e m o v i m e n t o s e d á como conseqüência de um ambiente suficientemente bom que venha possibilitar o desenvolvimento das potencialidades de um self elementar que já existe desde o nascimento. To m a n d o c o m o r e f e r ê n c i a a i d é i a d e S a l v a d o r M i n u c h i n d e q u e a família é a matriz da identidade da criança, ao lhe possibilitar o sentido de pertencimento ao mesmo tempo o de individuação, um ambiente bom para o desenvolvimento do self, seria aquele onde o sujeito fosse inserido e tratado como membro ativo do sistema f a m i l i a r, co- construindo suas crenças, regras, valores, mitos e segredos. Segundo Minuchin (1990) nesse ambiente a criança seria munida de recursos para diferenciar-se até tornar-se autônomo e independente. Andolfi (2002) traz importante contri buição quando pontua que a família é um pouco como a escola onde se apreende conhecimentos básicos sobre os quais cada indivíduo constrói, mais tarde, a sua própria visão de mundo, sendo capaz de alcançar um certo grau de diferenciação. Os modelos de aprendizagem familiar se transmitem de geração a geração, ou seja, o grau de apego emotivo não resolvido dos genitores é determinado pelo grau de apego de cada um dos genitores à sua família 40 de origem e pela forma como os genitores enfrentam a ansiedade nos motivos críticos da vida. A u t o r e s d a t e o r i a s i s t ê m i c a c o m o B o w e n ( a p u d W E N D T, 2 0 0 6 p . 7 8 ) consideram que a diferenciação do self refere -se ao grau de maturidade emocional que um indivíduo pode atingir no processo de individuação ao longo do ciclo vital de forma a se tornar adulto e poder emancipar se, separando-se psicologicamente de sua família de origem e mantendo, ao mesmo tempo, o sentimento de pertencimento a esta família. Para Castilho (1994) uma pessoa bem diferenciada é transparente sobre si mesma, é capaz de ser ela própria, e faz e diz o que deseja, sem sentir-se preocupada com os outros. Bowen (1979) esclarece que para diferenciar seu self o indivíduo deverá, contrapor-se as forças emotivas que tendem a manter um quadro excessivo de coesão f a m i l i a r, conquistando, dessa forma um Eu responsável, que o torne capaz de assumir a responsabilidade pela p r ó p r i a f e l i c i d a d e e p e l o p r ó p r i o b e m e s t a r. Tr a t a - s e d e a p r e n d e r a s e relacionar “de pessoa a pessoa” com seus próprios genitores e com a família extensa. Segundo Bowen (1966), a teoria de sistemas familiares considera a existência de duas forças vitais que se contrabalançam: uma que leva filho e família a ficarem emocionalmente ligados e se comportarem em reação um ao outro; e outra, que im pulsiona o desenvolvimento da c r i a n ç a n a d i r e ç ã o d a i n d i v i d u a ç ã o , t o r n a n d o - o h á b i l p a r a p e n s a r, s e n t i r e agir por si mesmo. O resultado dessas forças é que ninguém consegue uma independência emocional completa da família. A idéia principal de Bowen (1979) refere-se aos diferentes níveis d e d i f e r e n c i a ç ã o d o s e l f q u e a s p e s s o a s p o d e m a l c a n ç a r. O s m o t i v o s q u e contribuem para que isto aconteça são complexos e estão presentes nas famílias em graus diferenciados. Quanto menor o grau de independência emocional qu e as pessoas alcançam em suas famílias de origem maior será a necessidade de 41 envolver os filhos em um processo fusional, t r i a n g u l a r. Essas diferenças entre as pessoas podem ser compreendidas a partir do conceito de escala de diferenciação. Segundo Nichols e Schwartz (2007) a escala de diferenciação do self ajuda a compreender o processo de amadurecimento do indivíduo, as respostas significativas, o funcionamento e as disfunções ocorridas nos processos relacionais. Essa escala, de uma importância teórica mai s do que classificatória, é dividida em quatro quadrantes: no quadrante i n f e r i o r, a d i f e r e n c i a ç ã o d o e u é m í n i m a . As pessoas que funcionam nessa categoria vivem em um mundo de sentimentos e são quase inteiramente dependentes das demais. São pessoas incapazes extremamente de reativas distinguirem e apresentam a emoção da dificuldades razão. São relacionais. No segundo quadrante (25-50), estão aquelas pessoas ainda pobremente diferenciadas, mas capazes de funcionarem de maneira limitada. São pessoas facilmente influenciadas, pois não têm opiniões próprias. No terceiro quadrante (situado entre 50 e 75), estão pessoas que têm opiniões bem diferenciadas, apoiar-se (situado menos entre no conseguem julgamento 75-100), dos estariam assumir a “posição eu” e outros. aquelas No quarto dotadas de quadrante uma plena maturidade, que funcionariam com alto grau de independência. São pessoas seguras necessitem de si, expressá-las com de opinião forma bem definida, dogmática ou embora rígida. não Assumem responsabilidade por seus atos, são tolerantes a opiniões divergentes e não entram em debates para provar que estão certas. Bowen (1966) considera que a característica que mais descreve a diferença entre as pessoas nos vários pontos da escala é a capacidade de distinguirem entre sentimento e pensamento, somada à habilidade de escolha entre ter um comportamento mais sentimental ou mais r acional. Quanto mais intensa a atmosfera emocional em que a pessoa cresce, mais sua vida é governada sentimentais às de outras pessoas. por suas próprias respostas 42 Castilho (1994) pontua que um bom êxito no trabalho de família de origem depende, entre out ras coisas, de contribuir para que o cliente seja capaz de fazer distinção entre pensamento e sentimento. A escala de diferenciação de Murray Bowen trabalha com níveis básicos, de diferenciação, os quais independem do processo de relação, sendo amplamente determinado pelo grau de independência emocional que uma pessoa alcançou de sua família de origem. Este grau de independência do indivíduo é determinado pela quantidade de independência emocional que seus pais alcançaram e estes, por sua vez, do grau de i ndependência emocional de seus avós, sendo, portanto a diferenciação básica determinada por um processo multigeracional. B o w e n ( 1 9 6 6 a p u d N I C H O L S e S C H WA RT Z , 2 0 0 7 , p . 1 2 9 ) r e f e r e que as pessoas tendem a escolher companheiros com níveis equivalentes de indiferenciação, assim, seja qual for o problema apresentado, a dinâmica é semelhante. A indiferenciação nas famílias de origem é transmitida para os problemas conjugais, que são projetados em um cônjuge ou filho. Guerin e Col. (1996) corroboram com esta idéia quando pontuam que da mesma forma que os conflitos não resolvidos com a família de origem são deslocados para a relação conjugal, os conflitos não resolvidos entre o casal podem ser desviados para a relação com o filho. Os estudiosos acrescentam que a falta de diálogo entre o casal inviabiliza a solução dos problemas e facilita o surgimento dos sintomas, como no processo de Alienação Parental onde as dificuldades dos genitores em resolverem seus conflitos são projetadas nas crian ças, envolvendo-as em um processo fusional. O fenômeno da Alienação Parental nos remete ao processo de Tr a n s m i s s ã o M u l t i g e r a c i o n a l , q u e s e g u n d o B o w e n ( 1 9 7 9 ) é t r a n s m i s s ã o do processo emocional da família através de múltiplas gerações. Há cada geração que existem crianças envolvidas na fusão familiar 43 caminha-se no sentido de uma baixa diferenciação do self, enquanto que o mínimo de envolvimento faz as crianças progredirem para uma maior diferenciação. Este conceito remete para uma doença emocional, não apenas para a criança na família, mas também, para a família nuclear nas várias gerações. Bowen (1979) ainda esclarece que sistemas fusionados são aqueles em que há baixo grau de diferenciação entre seus membros. As pessoas vivem sempre em blocos, fundidas e tr ianguladas. Contudo, os triângulos ativados privam as pessoas dos recursos que oferecem os relacionamentos íntimos e autênticos e, enquanto a triangulação p e r m a n e c e r, o r e l a c i o n a m e n t o a b e r t o e n t r e o s p a r e s f i c a i m p e d i d o . Sendo assim, ao contrário do que s e pensa, a solidão e o medo continuam a existir e a se perpetuar no processo de transferência multigeracional. O mesmo autor entende que ao contrário das pessoas diferenciadas, que apresentam aumentadas, as menor carga pesso as emotiva que estão e têm suas envolvidas pela competências emoção e impulsividade desempenham atitudes irracionais. O indivíduo impulsivo -emocional, devido ao seu baixo grau de diferenciação, apresenta maior dificuldade em concretizar a passagem de um nível afetivo ao outro (no primei ro nível os sentimentos se manifestam via emoção e no segundo nível os sentimentos são elaborados pela cognição). Este ciclo de desenvolvimento que não se efetiva, incapacita o indivíduo de pensar claramente. Em função disso, desempenha uma reatividade emo cional com suas relações que envolvem a u t o r i d a d e e p o d e r. No Processo de Alienação Parental, pode -se perceber que a criança s e e n c o n t r a f u s i o n a d a e m u m c o n f l i t o f a m i l i a r. O c o r r e q u e m u i t o s genitores apresentam baixo nível de diferenciação mostrando -se incapazes de separar-se da sua família de origem. Dessa forma, incluem seus filhos em um triângulo, dificultando assim, a constituição de um self diferenciado dos mesmos, que podem, 44 entre outras coisas, tornarem -se incapazes de pensar e sentir por si próprios. Como vimos, para que possa haver uma conexão com o outro é preciso que equilibrar os genitores pensamento e da criança sentimento, alienada sejam agir acordo de capazes com de suas convicções e tomar decisões a partir do seu referencial e não dos outros. Agindo sobre emoção, o genitor alienante torna -se autoritário e abusa do poder desencadeando na criança, entre outras coisas, medo, insegurança e sensação de abandono. 5.2 TRÍADES, TRIÂNGULOS E SUAS CONEXÕES As relações em tríade ou triangulares são comuns dentro e fora da família. Segundo Martins e Cols. (2008) o conceito de triangulação se refere a um sistema inter-relacional entre três pessoas, envolvendo sempre uma díade e um terceiro, que será convocado a participar quando o nível de desconforto e de ansiedade aumentar entre as duas pessoas. Uma delas, então, buscará uma terceira para aliviar a tensão. Os triângulos aparecem no processo emocional interacional que se estabelece no sistema familiar e transge racional. Andolfi (1984) afirma que somente através da formação dos triângulos é possível estabelecer a diferenciação entre os membros do sistema. Isto significa que o modelo dual (no qual uma relação entre duas pessoas se desenvolve) não é mais suficient e para a compreensão d e u m f e n ô m e n o f a m i l i a r. É p r e c i s o u m t e r c e i r o e l e m e n t o , n o r m a l m e n t e o pai, para descrever a natureza dinâmica das relações. Os triângulos, para Kerr e Bowen (1988), são eternos. Em situações de menor tensão, permanecem latentes, reaparecendo quando os conflitos crescem. Assim, os triângulos são susceptíveis à ansiedade, tornando-se mais ou menos ativos em situações de tensão emocional. Nesse sentido, o processo de tr iangulação constitui um mecanismo de 45 resposta que acontece nos processos relacionais ante situações estressantes. Segundo Martins e Cols. (2008), os triângulos não são fixos nem estáticos, sofrendo deslocamentos, a depender do nível de ansiedade e da dinâmica interna da família. Estão ligados a uma unidade emocional mais ampla, de onde também recebem influência, denominada triângulos entrelaçados, onde “a ansiedade, incapaz de ser contida dentro de um triângulo, se expande para um ou outro triângulo” (KERR; BOWEN, 1988, p. 139). Esses autores denominam esse processo de ativação de triângulos imbricados , que podem ser de difícil observação. As mesmas autoras consideram que o entendimento dos processos de triangulação está ligado, também, à compreensão de como se dá o processo de comunicação, como a partir da linguagem não -verbal – tom de voz, mudanças na postura corporal e outros sinais não verbais – que podem ou não ativar os triângulos. Andolfi (1985) acrescenta que para Murray Bowen os processos de triangulação emotiva são o resultado da incapacidade de enfrentar os problemas da vida de modo autônomo, com um Eu suficientemente a m a d u r e c i d o . Ta l f e n ô m e n o é f r e q ü e n t e c o m o s f i l h o s , q u a n d o n ã o s e consegue manter um diálogo e resolver as tensões a nível conjugal, como no caso da Alienação Parental. Segundo Bowen (1966), uma pessoa pode assumir diversos papéis n e s s e t r i â n g u l o : o d e a m o r t e c e d o r, o d e v í t i m a , o d e p e r s e g u i d o r. Ressalta também que a fixação em um triângulo desenvolve sintomas e é o que parece acontece r com as crianças vítimas da perseguição do genitor alienante. O mesmo autor refere que a maior influencia na atividade de um triângulo é a ansiedade. Quando esta é baixa, o relacionamento entre duas pessoas pode ser calmo e confortável. Quando a ansiedade aumenta, por causas internas ou externas à relação, uma terceira pessoa se envolve na tensão das duas outras, criando um triângulo. Quanto mais baixo o nível de diferenciação num sistema, principalmente, o 46 f a m i l i a r, m a i s i m p o r t a n t e é a r e g r a d e t r i a n g u l a ç ã o p a r a p r e s e r v a r a estabilidade emocional de seus membros. Em famílias bem diferenciadas, as pessoas conseguem manter distanciais emocionais quando altamente estressadas, assim a triangulação é mínima e a estabilidade do sistema não depende disso, ocorrendo o oposto nas famílias com membros pobremente diferenciados. A s t r í a d e s p o d e m p o s s i b i l i t a r, d e a c o r d o c o m M u r r a y B o w e n , a negociação de estresses de um subsistema ao permitir a entrada de um elemento de outro subsistema naquele. Quando, entretanto, um subsistema sempre inclui um não membro para resolver suas tensões, o sistema torna-se disfuncional. Um exemplo comum é a utilização de um filho pelos pais para afastar ou desviar seus conflitos conjugais, como acontece no caso da Alienação Parental. Minuchin e Fishman (1990) defendem que nas famílias disfuncionais, as fronteiras entre os subsistemas parental e filial ficam difusas e a fronteira que envolve a tríade pais -filho passa a ser inadequadamente rígida. Nesse sentido, o autor ressalta que se d eve considerar a triangulação como o resultado da falta de fronteiras demarcadas. No caso da Alienação Parental observa -se que a fronteira em t orno da tríade pai, mãe e filho é, exageradamente, rígida. Cada um dos genitores exige que a criança tome seu par tido contra o outro, sendo que cada movimento da criança contra um dos pais é sentido como ataque ao outro. Constata-se que os casais em processo de divórcio vivenciam o estresse causado pela separação de forma disfuncional. Envolvendo os filhos em um triângulo marcado por fronteiras rígidas, o sistema familiar revela-se instável, e os membros, provavelmente, apresentam um baixo nível de diferenciação. Além disso, faz -se necessário salientar que, a indiferenciação do self dos genitores da criança alienada, aponta para a possível 47 dificuldade dos mesmos em deslocar a sua lealdade da família de o r i g e m a t é a s u a f a m í l i a n u c l e a r, s e n d o e s t a b e l e c i d a s , d e s s a f o r m a , hierarquias distorcidas e fronteiras difusas. 5 . 3 L E A L D A D E N O S I S T E M A FA M I L I A R Féres-Carneiro (1998) considera que o pior conflito vivenciado pela criança em casos de separação dos pais é o conflito de “lealdade invisível” quando exigida pelos pais, mas que no caso da Alienação Parental ocorre mais pelas mães. A palavra lealdade quer dizer lei e em bute uma submissão para cumpri-la. Através dela as forças das relações familiares tornam -se poderosas, dependendo diretamente tanto da intersubjetividade como da interdependência mútua dos seus membros. As relações que envolvem uma família possuem um cará ter muito p a r t i c u l a r. D e u m l a d o , n ã o p o d e m o s e s c o l h e r n o s s o s p a i s , n e m n o s s o s f i l h o s . Ta m b é m n ã o p o d e m o s p ô r f i m à n o s s a f a m í l i a , p o i s , m e s m o q u e ocorra uma ruptura nas relações, os membros ainda estarão presentes se não em vida, na história familiar e em nossa pessoal. Segundo Bertin (2004) as leis que governam o sistema familiar são específicas e especiais. São elas que definem o comportamento, comandam a captura e controlam a liberação dos membros de uma família. Essas leis possuem o conteúdo das expectativas estruturadas na família ao longo das gerações. Bertin (2004) refere que as relações que envolvem uma família p o s s u e m u m c a r á t e r m u i t o p a r t i c u l a r. D e u m l a d o , n ã o s e p o d e e s c o l h e r o s p a i s , n e m o s f i l h o s . Ta m b é m n ã o s e p o d e p ô r f i m à f a m í l i a , p o i s , mesmo que ocorra uma ruptura nas relaçõ es, os membros ainda estarão p r e s e n t e s , m e s m o q u e s ó n a h i s t ó r i a f a m i l i a r. proximidade que envolve esses Por outro lado, relacionamentos, depende a dos 48 compromissos de lealdade. A base de qualquer relação humana é, de fato, a capacidade para assumir compro missos e confiar nos demais. A mesma autora considera que a lealdade é um sentimento de solidariedade e compromisso que reúne necessidades e expectativas de uma família, sendo, também, descrita como uma atitude confiável e positiva das pessoas. Porém, lealdade num sistema familiar envolve considerar uma trama que implica a existência de expectativas estruturadas no grupo, em relação às quais todos os membros adquirem um compromisso. Ou seja, a pessoa tem de interiorizar a essência das expectativas do grupo e assumir uma série de atitudes que traduzam sua especificidade para cumprir as incumbências internalizadas . B o s z o r m e yi - n a g y (2003) considera que os compromissos da lealdade são fundamentados em coalizões 2 e pactos, cuja origem são de natureza conflituosa . Sua estrutura introjetada se inicia a partir de algo que se deve a um genitor ou à representação interna da figura parental, causando culpa se a pessoa não for capaz de cumprir as obrigações. Bertin (2004) esclarece que a lealdade dependerá da posição d e cada membro dentro da justiça de seu universo humano, o que, por sua vez, faz parte da contabilização dos méritos entre as gerações. E n t e n d e - s e p o r m é r i t o , s e g u n d o B o s z o r m e n yi - N a g y ( 2 0 0 3 ) , u m a metáfora para expressar a importância do desejo humano por ju stiça. Por exemplo, se um membro da família sacrifica seus interesses e possibilidades pessoais a favor de um elemento ou pela família, ele pode se sentir no direito de ser retribuído por esse sacrifício e, portanto, espera ser reconhecido. Se essa dívida não for paga pela geração beneficiada, ela pode ser transmitida à geração seguinte exigindo o seu pagamento. Assim, o autor considera que toda pessoa 2 Colizão é um termo pelo qual se entende um processo de ação conjunta contra uma terceira pessoa, em contraste com o termo aliança, na qual duas pessoas podem unir-se por interesse comum, independentemente de uma terceira pessoa. PLAZZOLI et al. Paradoja y contraparadojo- Um nuevo modelo em La terapia de La família com transaccíon esquizofrênica. Mexico: Editorial Paidós Mexicana 1994, p.147. 49 contabiliza sua percepção por meio do balaço entre o que dá e recebe, no passado, presente e futuro. Assim, a lealdade procura através da obrigação ética mobilizar e estimular os membros comprometidos com ela a praticarem o exercício d o d e v e r, a e q ü i d a d e e j u s t i ç a . Mas como nem todos os envolvidos podem corresponder aos estímulos que lhes são ofertados sentem -se incapacitados para atender a demanda de obrigações do sistema. Como resposta surge o sentimento de culpa. Esses sentimentos buscam regular o sistema. Nesse sentido podemos dizer que, para um equilíbrio homeostático de lealdade, necessariamente deverá e xistir o sentimento d e c u l p a ( B E RT I N , 2 0 0 4 , p . 11 9 ) . No caso da Alienação Parental percebe -se que a criança está imersa em um conflito de lealdade invisível que estaria caracterizado pela crença inconsciente da criança de que não acreditando nas informaçõ es contadas pelo genitor alienante sobre o genitor alienado, estaria d e s c u m p r i n d o a s e x i g ê n c i a s d o s e u g r u p o f a m i l i a r, n e s s e c a s o , j á modificado pelo ciclo do divórcio. Dessa forma, a criança se manteria fiel ao pacto que estabelece com o genitor alienant e e estaria, conseqüentemente, se protegendo da fantasia de ser abandonada. Mendonça (2009) esclarece esse pacto firmado entre a criança e genitor alienante afirmando que mesmo quando a criança, inicialmente, não percebe o genitor ausente sob a ótica d o genitor alienante, ela passa a “ter que acreditar” nas mesmas coisas devido à culpa, ao seu vínculo e dependência emocional com o genitor que está mais próximo. Ou seja, apesar de amar e sentir falta do genitor alienante, a criança n ã o p o d e d e i x a r t r a n s p a r e c e r t a l s e n t i m e n t o , s o b p e n a d e d e c e p c i o n a r, c o n t r a r i a r, s e r d e s l e a l a o g e n i t o r c o m q u e m e l a c o n v i v e . 50 5 . 4 L E G A D O S : R E P E T I Ç Ã O D E PA D R Õ E S E N T R E G E R A Ç Õ E S Segundo Bertin (2004) os legados são os padrões de funcionamento que são repetidos de uma geração à outra, que podem vir a estabelecer um determinado modo de f u n c i o n a r. Este processo ocorre, sucessivamente, a cada geração e desta forma é gerada uma série de repetições historicamente relacionadas, pois os produtos herdados em cada geração serão novamente transmitidos. A mesma autora considera que para entendermos esse padrão de funcionamento repetitivo observado em determinados sistemas familiares devemos considerar a família em sua totalidade, pois nenhum membro isolado trará tal configuração. Um sistema só existe pelas relações de seus componentes e de acordo com Maturana (1992) eles interagem pela operação de suas propriedades que preenchem determinada função na dinâmica estru tural do sistema e das relações de composição que eles participam. Considerando que padrão é característica básica do pensamento sistêmico, Capra (1996) considera que um padrão de organização, é uma configuração de relações entre os membros do sistema, a qual determina as características primordiais de um sistema p a r t i c u l a r. Logo, as propriedades sistêmicas são propriedades de um padrão. Segundo Bertin (2004), a repetição de um padrão cumpre a tarefa d e e q u i l i b r a r o s i s t e m a f a m i l i a r. P a r a m a n t e r o s e u f u n c i o n a m e n t o , é exigida de seus membros a constante observância do script da história f a m i l i a r. Porém, cada membro da família possui uma representação dessa história, a qual, muitas vezes, é diversa daquela que o sistema exige; portanto, para cumprir essa exigência, muitos indivíduos pagam o preço d a s u a p e r m a n ê n c i a n a f a m í l i a p o r m e i o d a d o r, d o d e s a m o r, d o abandono, da solidão, da rejeição, entre outros. 51 O s i s t e m a f a m i l i a r, m u i t a s v e z e s , i m p e d e a r e a l i z a ç ã o , a s a t i s f a ç ã o e a autonomia de seus membros. Bertin (2004) pontua que muitas vezes sistemas inteiros se aprisionam, enredando -se em certas pautas, lutam desesperadamente para mantê-las. Outras vezes, quanto mais tentam livrar-se delas, mais a elas se prendem. Portanto, para a autora o sentido dessas relações depende da representação que os elementos possuem das leis do sistema e do caráter intersubjetivo, cuja proximidade se desenvolve como compromissos inconscientes de lealdade. Lealdade é um sentimento de solidariedade e compromisso que une as necessidades e expectativas de uma família, implica em um vínculo e tem uma dimensão ética. Ivone Bertin finaliza considerando que do composto que resulta da combinação dos elementos num sistema, emerge uma qualidade formada pelos seguintes elementos: do posto de vista, intrapsíquico, o desejo do sujeito é ambíguo; do ponto de vista consciente, por não saber que deseja, rejeita; do ponto de vista do sistema, o processo constrói as condições que tornam no seu conjunto, uma determinação inconsciente a ser cumprida, qual seja: o desejo do sistema. Cada membro do sistema é um participante ativo e responsável pela história f a m i l i a r, o que o torna um sujeito transgeracional. Os elementos se combinam de forma dinâmica. Minuchin (1990) refere que a estrutura familiar é um conjunto invisível de exigências funcionais que organiza o modo como os elementos da família interagem. As propriedades sistêmicas são propriedades de um pad rão. O padrão de funcionamento repetitivo é imprescindível considerar a família em sua totalidade. Num sistema, as partes se inter -relacionam e se afetam combinação. mutuamente. Logo, a Essa interdependência composição d e t e r m i n a r ã o o s i s t e m a f a m i l i a r. e é combinação a qualidade dos da vín culos 52 M o r i n , 2 0 0 0 ( a p u d B E RT I N , 2 0 0 4 p . 1 0 4 ) d e s c r e v e q u e t o d a v i d a humana autônoma é formada por uma diversidade de dependências. Nascemos dependentes e, justamente através das dependências a que estamos sujeitas no decorrer da vida, vamos construindo e adquirindo nossa autonomia. Logo, não podemos concebê -las separadamente. P o r c o n s e g u i n t e , L i d z , 1 9 8 0 ( a p u d B E RT I N 2 0 0 4 p . 1 0 4 ) c o n s i d e r a que os membros de uma família acabam se influenciando mutuamente na m a n e i r a d e p e r c e b e r, p e n s a r e c o m u n i c a r, a f i n a l , “ a n e c e s s i d a d e d e segurança, que o indivíduo tem, neste mundo de contingências, o leva a sistematizar idéias, que na realidade, podem contradizer suas experiências. Esta é uma das circunstâncias que propiciam a construção e o desenvolvimento de crenças que o sistema rigidamente mantém”. Entretanto, para que essa operatividade seja mantida, o sistema tenderá a produzir um acúmulo de funções e ficará impossibilitado de modificá-los futuramente. Esse modo de funcionar interferirá na necessidade de diferenciação dos seus membros e diante de tal impedimento a família buscará a seguinte saída: “cria uma rede de funções e são reforçadas mutuamente, cristalizando as relações em papéis estereotipadas. Conseqüentemente, os membros perdem a oportunidade de realizar novas e diferenciadas experiências percebidas e de como enriquecer uma ameaça sua informação, contra o nem todas pois, equilíbrio estas do serão sistema” (ANDOLFI 1985, p. 206). Andolfi (1985) refere que as idéias e atitudes compartilhadas dentro de uma família são eficazes para controlar o sistema. Mas, se uma premissa ou necessidade cumprir uma função dentro dele, a família exigirá de seus membros uma dedicação para satisfazê-la. Essa exigência os levará a adequar a percepção d e suas experiências, muitas vezes distorcendo a realidade, o que certamente afetará o sistema como um todo. Para Bertin (2004) faz-se necessário observar que a repetição não deve ser considerada como uma simples réplica. O processo recebe 53 também, as caract erísticas individuais de cada sujeito que reproduz. O p r o d u t o h e r d a d o p o d e r á s o f r e r v a r i a ç õ e s a c a d a g e r a ç ã o f a m i l i a r. N e s s e s e n t i d o , B a r a n e s ( a p u d B E RT I N , 2 0 0 4 , p . 9 7 ) r e f e r e q u e o processo transgeracional, poderá transmitir uma herança que aliena, e a s s i m , s e r á a t u a d a e r e p e t i d a . E p o d e r á p r o d u z i r, n o m e l h o r d o s c a s o s , uma transformação cujo resultado será diferente do que foi recebido como herança. Neste caso, a repetição não se tornaria a caricatura da herança recebida. O Processo de Alienação P arental provocado pelos genitores divorciados pode ser resultado da transmissão do legado da família de origem dos genitores, o que poderá interferir no desenvolvimento da criança; evitando que essas desenvolvam um self diferenciado, sendo, assim, incapaz de estabelecer vínculos futuros positivos e padrões de comportamentos construtivos. Contudo, cabe lembrar que cada sujeito possui uma representação da história de sua família, que muitas vezes, é diversa daquela que o sistema considera ideal; da mesma form a, a repetição não é literal: cada sujeito, de um modo ou de outro, singuraliza seu legado. 54 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir da compreensão das transformações ocorridas na família ao longo dos anos, o objetivo do presente trabalho foi apresentar o conceito de Alienação Parental em contexto de separação de acordo com a teoria sistêmica. A revisão da literatura apontou p ara um consenso nos estudos da área: a família vem passando por uma série de transformações para se adequar aos novos contextos sociais. As condições pós-modernas, ao favorecerem a inexistência de um modelo único de relacionamento, possibilitaram o surgim ento de vários arranjos conjugais e familiares, tais como famílias compostas por recasados, divorciados, coabitantes, monoparentais, arranjos considerados impróprios há algum tempo. O estudo da história da família, que ao longo da transição histórico-medieval-moderna relações amorosas, sofreu muitas mudanças no conjugais e sexuais, mostrou que campo as das novas configurações familiares que surgiram troux eram desafios e impactos psicológicos e sociais. A partir da compreensão da história e evolução do conc eito de família foi possível compreender o conceito de Alienação Parental, que consiste em incitar uma criança para que odeie um dos genitores, sem justificativa, processo que se inicia, em geral, no ambiente da mãe das crianças, principalmente, porque sua instalação necessita de muito tempo e por ser ela, na maioria das vezes, a detentora da guarda da criança. A mãe, dessa forma, coloca o filho contra o pai, fazendo com que a criança desenvolva sentimentos contraditórios e, muitas vezes, m e m ó r i a s f a l s a s d e c o r r e n t e s d a s u a r e l a ç ã o c o m o g e n i t o r, c o m o s ã o n o s casos de mães que inserem na criança memórias de que elas teriam sido abusadas por pelo pai, sem que tenham verdadeiramente ocorrido. 55 De acordo com a abordagem sistêmica da família a Alienação Parental está relacionada a problemas no funcionamento da dinâmica familiar e aos legados que ambos os genitores herdaram de suas famílias de origem. A ruptura da vida conjugal gera na mãe, ou no genitor alienante, sentimento de abandono, de rejeição, de traição, surgindo uma tendência vingativa muito grande. Quando essa não consegue elaborar adequadamente o luto da separação, desencadeia um processo de destruição, de desmoralização, de descrédito do ex conjugue. Outros fatores importantes que pod em predispor Alienação Parental são o compartilhamento com a criança de decisões e mágoas, como se e l a f o s s e u m p a r, n e g a n d o a s u a r e l a ç ã o d e d e p e n d ê n c i a d o a d u l t o , a solidão do ex conjugue, a falta de confiança que o genitor titular da guarda nutre pelo ex -consorte para cuidar dos filhos, o desejo de manter somente para si o amor dos filhos, etc. A dificuldade em dissolver subsistemas também foi apontada pelo estudo como variável de peso. Quando pais e mães não conseguem diferenciar seus papeis e confundem a conjugalid ade com a parentalidade e, consciente ou inconscientemente, despertam na criança a mesma rejeição que sentem em relação ao ex -conjugue. Isso fenômeno leva à compreensão relacional típico de da que a Alienação pós -modernidade, que Parental está configura di retamente relacionado à separação dos pais e à dificuldade ou incapacidade de encerrar a relação conjugal sem prejuízo para a relação parental. No que se refere às conseqüências da Alienação Parental foi observado que as “falsas” informações repassadas pelo genitor alienante sobre o genitor alienado podem gerar na criança fantasias de ter sido abandonada, abusada sexualmente ou rejeitada, com graves prejuízos para sua saúde mental. Esse contexto psicológico contra também a criança é considerado e pode um a desencadear forma a de abuso Síndrome da Alienação Parental, cujas conseqüências podem incluir sintomas de depressão, alterações no comportamento, diminuição do rendimento 56 e s c o l a r, a n s i e d a d e d e s e p a r a ç ã o , o u p o d e m , a i n d a , p r o v o c a r o t r a n s t o r n o de identidade, drogadição ou retraimento social. Os legados das famílias que vivenciam a Alienação Parental influenciam a dinâmica inter-relacional dos seus sistemas familiares de origem e nuclear e percebe -se a interconexão ex istente entre a repetição de padrões da família de origem e o tipo de self que os membros da família nuclear desenvolvem ao longo da vida. Essa herança transmitida de geração a geração é difícil de ser afastada ou selecionada, o que faz com que os genitor es da criança alienada sintam emocionalmente dificuldades das suas quando famílias de desejam origem, se separar dificultando a constituição de um self diferenciado em si e, também, nos seus filhos. Bowen contribui muito para a compreensão do fenômeno postulando que em famílias formadas por pessoas com baixo nível de diferenciação é comum a existência do processo de triangulação emotiva, onde os pais transmitem aos seus filhos a sua imaturidade e a falta de diferenciação do self. Com sua abordagem estrutura l, Minuchin compreende que se deve considerar a triangulação como o resultado da falta de fronteiras demarcadas, sendo que no caso da Alienação Parental observa -se que a fronteira em torno da tríade pai, mãe e filho é exageradamente rígida. Dessa forma, o sistema familiar revela-se instável, e os membros, provavelmente, apresentam um baixo nível de diferenciação. Foi possível constatar que a indiferenciação do self dos genitores da criança alienada, justifica a possível dificuldade deles em deslocar a s u a l e a l d a d e d a f a m í l i a d e o r i g e m a t é a s u a f a m í l i a n u c l e a r. A l e a l d a d e invisível é considerada por Feres -Carneiro o pior conflito vivenciado pela criança em casos de separação dos pais. As conseqüências para a criança são o medo de ser abandonada e a culpa, já que ela estaria d e s c u m p r i n d o o p a c t o e s t a b e l e c i d o c o m o s e u g r u p o f a m i l i a r. O estudo indica que mesmo que os legados familiares signifiquem e transmitam sentimentos de culpa, exigência de pagamento de uma 57 geração à outra através de uma obrigação ética ent re os membros envolvidos; relações de poder onde haverá sempre um credor e um d e v e d o r, envolverá sempre uma opção de atender -se ou não às expectativas já anteriormente estabelecidas pelas famílias de origem. E s s a c o m p r e e n s ã o i m p l i c a , n a c l í n i c a r e l a c i o n a l f a m i l i a r, q u e é necessário que as pessoas possam experienciar mudanças, a fim de que n ã o s e s i n t a m c a p t u r a d a s p e l o s p a d r õ e s d o s i s t e m a f a m i l i a r, s e m d e i x a r, ao mesmo tempo, de estabelecer vínculos e, conseqüentemente, compromissos. Há importância em recon hecer a identidade da família, sua essência, sabendo valorizar principalmente as possibilidades e limites d e n t r o d e u m p r o c e s s o d i n â m i c o d e i n t e r a ç ã o n o s i s t e m a f a m i l i a r. Identificar os nossos legados sejam eles construtivos ou destrutivos. Dar-se conta que mesmo estando atrelado ao sistema, é possível não alienar-se, viabilizando uma transformação nestes padrões, por meio da ressignificação sem desconsiderar as características da e s t r u t u r a d o s i s t e m a f a m i l i a r. S ã o d i r e t r i z e s p a r a o a c o m p a n h a m e n t o terapêutico. A singularização dos legados exige manobras alternativas e c o n s i s t e n t e s , r e p r e s e n t a n t e s d a h i s t ó r i a f a m i l i a r, s e m q u e s e e s q u e ç a a parcela de responsabilidade pelo ponto de interseção entre o sistema familiar e o self diferenciado de cada um. A abordagem sistêmica, ao compreender o problema como parte de um conjunto integrado de manobras, como resultante não de uma condição puramente individual e predeterminada , mas sim, de um imbricado de interações dentro de um sistema, lança para a atuação na clínica psicológica e para os serviços de atenção à possibilidades de intervenções complexas e bem estruturadas. sentido, contribui compreensão deste, tanto entre para a outros condução fenômenos clínica quanto relacionais família Nesse para a familiares emergentes que são, em grande parte, reflexos da pós -modernidade. 58 7 RESSONÂNCIAS Do ponto realização de vista desta dos pesquisa ganhos pessoais, representou um consideramos grande desafio que ao a nos proporcionar a oportunidade de aproximarmo -nos da discussão sobre um tema de extrema importância na atualidade. O tema da Alienação Parental revelou -se um campo bastante amplo, que ainda carece de muita pesquisa tanto âmbito da psicologia quanto no jurídico. Dessa forma podemos vislumbrar a possibilidade de continuar trilhando o caminho em direção a uma maior comp reensão da Alienação Parental, a partir do aprofundamento do estudo sistêmico. Este estudo nos permitiu, também, fazer contato com a nossa subjetividade, sendo possível refletir a cerca de nossas famílias e de nossas práticas como psicólogas clínicas. Possibilitou, finalmente, encontrar na abordagem sistêmica diretrizes importantes tanto para a compreensão do fenômeno como para a i n t e r v e n ç ã o n a c l í n i c a c o n j u g a l e f a m i l i a r. 59 REFERÊNCIAS ANDOLFI, M. et al. Por trás da máscara familiar. Trad. Maria Cristina R. Goulart. Porto Alegre: Artes Médicas, 1984. ANDOLFI, M. et al. Dimensiones de La Terapia Familiar. Argentina: Editora Paidós, 1985. ANDOLFI, M.; ANGELO, C. Tempo e Mito em Psicoterapia Familiar Sistêmica de Milão. Porto Alegre: Artes Médicas, 1989. ANDOLFI, M. A crise do casal: uma perspectiva sistêmico relacional. Porto Alegre: Artmed, 2002. APASE - Associação de Pais e Mães Separados (org.). Síndrome da Alienação Parental e a Tirania do Guardião - Aspectos Psicológicos, Sociais e Jurídicos. Porto Alegre: Equilíbrio, 2007. BADINTER, E. Um amor conquistado: o mito do amor materno. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985. BARANES, J. J. Tornar-se Si Mesmo: Avatares e Lugar do Transgeracional in Tranmissão da Vida Psiquica entre Gerações. In: BERTIN, I. P. B. Repetições (In) desejadas: uma questão de família. Taubaté, São Paulo: Cabral, 2004. BERTALANFFY, L.V.Teoria Geral dos Sistemas. 4 ed. Petrópolis: Editora Vozes, 2006. BERTIN, I. P. B. Repetições (In) desejadas: uma questão de família. Taubaté, São Paulo: Cabral, 2004. BOAVENTURA, E. M. Metodologia de Pesquisa: monografia, dissertação, tese. São Paulo: Atlas, 2004. BOSZORMENYI-NAGY, L; SPARK, M.G.. Lelatades Invisibles. 1ª ed. Buenos Aires: Amarrotu, 2003. BOWEN, M. The use of family theory in clinical practice. Comprehensive Psiquiatrie. v.7, 1966. p.345-374. BOWEN, M. The use of family theory in clinical practice. In: WENDT, N. C. Fatores de risco e de proteção para o desenvolvimento da criança durante a transição para a parentalidade. 2006. 173f. Dissertação (Mestrado em Psicologia) – Programa de PósGraduação em Psicologia, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2006, p.78. BOWEN, M. De La família AL individuo: la diferenciación del si mismo em el sistema familiar. Barcelona: Ediciones Paidós Ibérica, 1979. BOWEN, M.; KEER, M. E. Diferentiaton of self. In: Family Evaluation. W.W. Norton & Company, New York, 1988. 60 BRASIL. Lei nº 12.318, de 26 de agosto de 2010. Presidência da República. Disponível em www.planalto.gov.br/ccivil_03. Acesso em 26 nov. 2010. BRASILEIRO, R.; JABLONSKI, B. e FÉRES-CARNEIRO, T. Papéis de Gênero, transição para a paternidade e a questão da tradicionalização. Revista Psico. Porto Alegre, v. 33, n.2, jul-dez., 2002. BUCHER-MALUSCHKE, J. S.N. F. Lei, transgressões, famílias e instituições: elementos para uma reflexão sistêmica. Psic.Teor. e Pesq. Local, v. 23, n.especial, p. 83-87. abr., 2007, CABRAL, J. T. A sexualidade no mundo ocidental. Campinas, SP: Papirus,1995. CANO, D. S. et al. (Org). Fontes de informação para pesquisadores e profissionais. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2000. p. 191-216. CANO, D. S. et al. As transições familiares do divórcio ao recasamento no contexto brasileiro. Psicologia Reflexão e Crítica, Santa Catarina,v. 22, n.2, Jan. 2009. Disponível em: <http://redalyc.uaemex.mx/src/inicio/ArtPdfRed.jsp?iCve=18815252004>. Acesso em: 02 dez. 2010. CARVALHO, I. M. M. de; ALMEIDA, P. H. de. Família e proteção social. São Paulo Perspec. [online]. 2003, vol.17, n.2, pp. 109-122. ISSN 0102-8839. CAPRA, F. A Teia da Vida: uma nova compreensão científica dos Sistemas Vivos. Editora Cultrix, 1996. CARTER, B.; McGOLDRICK, M. Trad. Maria Adriana Veríssimo Veronese. As mudanças no ciclo de vida familiar. 2.ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995. CASTILHO, V. B. F. O Trabalho de Família de Origem. CEFAC- Centro de Estudos da Família e do Casal: Salvador, 1994. Mimeo. CERVENY, C. M. O. (Org.). Família e – comunicação, divórcio, mudança, resilência, deficiência, lei, bioética, doença, religião e drogadição. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004. CHAVES, H. H. Família e Parentalidade. In: CERVENY, C. M. de O. (Org). Família e...São Paulo: Casa do Pisicólogo, 2007. DANTAS, C. R. T. O exercício da paternidade após a separação: um estudo sobre a construção e a manutenção do vínculo afetivo entre pais e filhos na família contemporânea. 2003, 119 f. Dissertação (Mestrado em Psicologia Clínica) . Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2003. DIAS, Maria Berenice. Síndrome da Alienação Parental. O que é isso? In: APASE – Associação de Pais e Mães Separados (Org.). Síndrome da Alienação Parental e a Tirania do Guardião - Aspectos Psicológicos, Sociais e Jurídicos. Porto Alegre: Equilíbrio, 2007. 61 FÉRES-CARNEIRO, T. Alienação Parental: Uma Leitura Psicológica. In: APASE – Associação de Pais e Mães Separados (Org.). Síndrome da Alienação Parental e a Tirania do Guardião - Aspectos Psicológicos, Sociais e Jurídicos. Porto Alegre: Equilíbrio, 2007. FÉRES-CARNEIRO, T. Casamento contemporâneo: o difícil convívio da individualidade com a conjugalidade. Psicologia: Reflexão e Critica, Porto Alegre, v.11, n. 2, 1998. Disponível em:<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010279721998000200014&lng =pt&nrm=iso>. Acesso em: 7 jun. 2010. FONSECA, P. M. P. C.. Síndrome da Alienação Parental. In: Revista Brasileira de Direito de Família. Minas Gerais. v. 8, n. 40, p. 5-16, fev/mar, 2007. Disponivel em: <http:// www.aliencaoparental.com.br>. Acesso em 01 jun. 2010. FONSECA, P. M. P. C. Síndrome de alienação parental. Revista de Pediatria.Porto Alegre , 28, n.3, 2006. Disponível em: <http://www.aliencaoparental.com.br>. Acesso em: 01 jun. 2010. GARDNER, R. Family Therapy of the moderate type of parental alienation syndrome. American Joournal of Family Therapy. New York. v. 27, n. 3/4, p.1-23, 1999. GIDDENS, A. A transformação da intimidade: sexualidade, amor e erotismo nas sociedades modernas. São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista, 1993. GOLDANI, A. M. As famílias brasileiras: mudanças e perspectivas. Caderno de Pesquisa, São Paulo, N.91, p.7-22, 1994; GUERIN, P. et.al. Triangulos relacionales: El a-b-c de La psicoterapia. Trad. Ofelia Castillo. Buenos Aires: Amorrortu, 1996. GRZYBOWSKI, L. Parentalidade em tempo de mudanças: desvelando o envolvimento parental após o fim do casamento. Porto Alegre, 2001. Disponível em:<http://tede.pucrs.br>. Acesso em: 7 jul. 2010. GRZYBOWSKI, L. Parentalidade em tempo de mudanças: desvelando o envolvimento parental após o fim do casamento. In: DANTAS, C. et al. Terezinha Paternidade: considerações sobre a relação pais-filhos após a separação conjugal. 2003, 119 f. Dissertação (Mestrado em Psicologia Clínica) . Pontifícia Universid ade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2003. HETHERINGTON, E.M & STANLEY-HAGAN, M. (1999). The adjustment of children with divorced parents: A risk and resiliency perspective. The Journal of Child Psychology and Psychiatry and Allied Disciplines, 40, 129-140. In. SOUZA, R. Depois que papai e mamãe se separaram: um relato dos filhos. Psic. Teor. e Pesq. Brasília, v. 16, n. 3, Dez 2000. Disponível em: <http:// www.scielo.com.br>. Acesso em: 07 set. 2009. 62 INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. (2007). Síntese de indicadores sociais: Uma análise das condições de vida da população brasileira 2007, v. 21. Estudos e Pesquisas. Informação demográfica e socioeconômica. Rio de Janeiro, RJ: Autor. KERR, M. E.; BOWEN, M. (1988). Family evolution: An approach based on Bowen theory. New York: W. W. Norton & Company. Inc.1988. LIDZ. T. et alli. El Medio Intrafamiliar del Paciente Esquizofrênico: La tranmisión de La irracionalidade. In: BERTIN, I. P. B. Repetições (In) desejadas: uma questão de família. Taubaté, São Paulo: Cabral, 2004. LIDCHI, VG. O processo de entrevistar em casos de abuso e maus -tratos. Parte II: avaliando famílias. Adolesc. Saúde. v. 1, n. 4, p. 26-30, 2004; MATURANA , H. El Sentido de lo Humano. 3ª Edicion. Chile: HAchette, 1992. MARTINS, E. M. de A. et al. Família e o processo de diferenciação na perspectiva de Murray Bowen: um estudo de caso. Psicol. USP, São Paulo, v. 19, n. 2, jun. 2008. Disponível em <http://www.revistasusp.sibi.usp.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S167851772008000200005&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 30 nov. 2010. MENDONÇA, J. D. C. Jornal O Globo. São Paulo, 30 de abril de 2009. Disponível em: <http://oglobo.globo.com/blogs/brasilcomz/posts/psicologo-explica-os-efeitos-da-alienacaoparental-na-crianca-181978.asp>. Acesso em: 22 jun. 2010. MINUCHIN, S. Famílias: funcionamento e tratamento. Porto Alegre: Artes Médicas, 1990. MINUCHIN,S.; FISHMAN, C. H. Técnicas de Terapia Familiar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1990. MORIN, E. Ciência com Consciência. In: BERTIN, I. P. B. Repetições (In) desejadas: uma questão de família. Taubaté, São Paulo: Cabral, 2004. MOTA, Maria Antonieta Pisano. A Síndrome da Alienação Parental. In: APASE – Associação de Pais e Mães Separados (Org.). Síndrome da Alienação Parental e a Tirania do Guardião - Aspectos Psicológicos, Sociais e Jurídicos. Porto Alegre: Equilíbrio, 2007. NICHOLS, M,; SCHWARTZ,R. Terapia familiar: conceitos e métodos. Porto Alegre: Artmed, 2007. p. 99. NORONHA, D. P.; FERREIRA, S. M. S. P. Revisões de Literatura. In: CAMPELLO, B.S. et al. Fontes de informação para pesquisadores e profissionais. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2000. p.191-216. NORGREN, M. B. P. et al. Satisfação conjugal em casamentos de longa duração: uma construção possível. Estud. Psicol. Natal, v. 9, n. 3, p.575-584, dez. 2004. OSÒRIO, L. C. Família Hoje. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996. 63 PECK, J. S ; MENOCHERIAN, J. R. O divórcio nas mudanças do ciclo de vida familiar. In: CARTER, B.; McGOLDRICK, M . As mudanças no ciclo de vida familiar: uma estrutura para a terapia familiar. 2ª Ed.Porto Alegre:Artes Médicas, 1995. ROUDINESCO, E. Trad. André Telles. A família em desordem. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2003. ROSA, Felipe Niemezewski. A síndrome de alienação parental nos casos de separações judiciais no direito civil brasileiro. 2008, 56f. Monografia (Curso de Direito). PUCRS, Porto Alegre, 2008. SANTOS, N. E. B. A triangulação e seus múltiplos aspectos no contexto familiar: um olhar relacional sistêmico. Florianópolis, 2008. SARDINHA, A. et al. As relações entre a satisfação conjugal e as habilidades sociais percebidas no cônjuge. Psic. Teor. e Pesq., Brasília, v.25, n.3, p. 395-402. set. 2009. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010237722009000300013&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 20 out. 2010. SINGLY, F. Un drôle de je: le moi conjugal. Dialogue, n º102, 1988, pp.3-5. SLUZKI, C. E. A Rede Social na Prática Sistêmica: alternativas terapêuticas. Trad. Claudia Berliner. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1997. VILLA, M. B; DEL PRETTE, Z. A. P. Habilidades sociais com conjugais em casais de diferentes filiações religiosas. 2002. 98f. Dissertação (Mestrado em Ciências) –Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da USP, departamento de Psicologia e Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2000. WAGNER, A. (Org.). Possibilidades e Potencialidades da Família: a construção de novos arranjos a partir o recasamento. In:____ Família em cena: tramas, dramas e transformações. Petrópolis: Vozes, 2002. WAGNER, A. et al. Crenças e valores dos adolescentes acerca de família, casamento, separação e projetos de vida. Psicol. Reflex. Crit., Porto Alegre, v.10, n.1, 1997. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010279721997000100011&lng=pt &nrm=iso>. Acesso em: 3 dez. 2010. WENDT, N. C. Fatores de risco e de proteção para o desenvolvimento da criança durante a transição para a parentalidade. 2006. 173f. Dissertação (Mestrado em Psicologia) – Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2006, p.78. WINNICOTT, D. W. (1994, orig. 1970). Sobre as Bases para o Self no Corpo. In: WINNICOTT, C.; SHEPHERD, R.; DAVIS, M. Explorações Psicanalíticas. Porto Alegre: Artes Médicas, 1970. 64 XAXÁ, I. N. A Síndrome de Alienação Parental e o Poder Judiciário. 2008. 76f. Monografia (Curso de Graduação de Direito). Universidade Paulista – Unip, Brasília. Disponível em: <http:// www.aliencaoparental.com.br>. Acesso em: 1 jun. 2010.