1618 X Salão de Iniciação Científica PUCRS Uso de uma atividade didática baseada em analogia para o ensino de genética: o que há de comum entre dois prédios iguais e cromossomos homólogos? Carla Vargas Pedroso 1, Mary Angela Leivas Amorim 1 (orientador) 1 Grupo de Estudo e Pesquisa sobre Educação e Biologia, Centro de Educação, UFSM. Resumo No presente artigo, relatamos o uso de uma Atividade Didática baseada em analogia (ADA) para o ensino de genética. A ADA foi implementada no 2º ano do Ensino Médio da Educação de Jovens e Adultos, seguindo os 6 passos propostos no modelo Teaching with Analogies (GLYNN, 1991; HARRISON e TREAGUST, 1993). Os resultados apontam que o uso de analogia é uma estratégia significativa no ensino, pois instiga a participação dos alunos, permite que estes formulem uma compreensão dos conceitos, ao invés de decorá-los, e evita a efetivação de pré-concepções. Introdução O ensino de genética no ensino médio é um dos assuntos que permite desenvolver conteúdos muito interessantes para o aluno, pois aborda temas relacionados à realidade e a problemática dos alunos (enfermidades, medicamentos, tratamentos, herança, dentre outros). Fatalmente, este tema vem sendo prejudicado, ou mesmo insignificante para os alunos, devido à forma tradicional de ensino. É comum no ensino de genética, os educadores aplicarem exemplos sobre cruzamentos de flores ou cobaias e, empregarem aulas teóricas com auxilio do livro didático para o ensino dos conceitos básicos (AZNAR e ORCAJO, 2006). Este método apesar de válido, faz com que muitos alunos decorem os conceitos e, após um tempo, estes apresentam dificuldades na aprendizagem dos demais assuntos de genética, ou não conseguem fazer relações com os outros conteúdos. Acreditamos que, para uma compreensão efetiva da biologia escolar, o aluno deve realizar uma aprendizagem significativa. Essa aprendizagem, segundo Ausubel (1978) é alcançada quando o aluno consegue estabelecer relações entre a informação nova e os conhecimentos que já possui. Visando um ensino que prioriza a aprendizagem significativa, várias propostas são citadas na literatura da área de Ensino de Ciências (EC). Uma alternativa é o uso de apresentações analógicas (AA) que, através de comparações de semelhança e de diferença estabelecidas entre um domínio conhecido ou familiar ao aluno (análogo) e de um domínio desconhecido ou pouco familiar (alvo), auxiliam na construção de conceitos pelos alunos, a partir dos seus conhecimentos prévios. Segundo Cachapuz (1989), as analogias pode provocar o interesse dos alunos porque “são maneiras” de se usar X Salão de Iniciação Científica – PUCRS, 2009 1619 um estilo menos rígido e mais expressivo no EC. Cabe ressaltar que, ao auxiliar na construção dos conceitos, as AA permitem evitar concepções alternativas (DUARTE, 2005). No caso da genética, as AA são de grande utilidade, pois auxiliam na compreensão de conceitos teóricos (LAWSON, 1993), ou seja, que não possuem exemplares perceptíveis no ambiente. Exemplos de conceitos teóricos são: conceitos de átomo, gene, cromossomo, alelo, dentre outros. Metodologia Por meio da disciplina “Estágio Curricular Supervisionado das Ciências Biológicas no Ensino Médio” (MEN 1148 e MEN 1149), ministrada no Curso de Ciências Biológicas Licenciatura, pela professora Dra. Mary Angela Leivas Amorim, partiu a proposta de execução de métodos alternativos capazes de contornar as tradicionais aulas expositivas. Diante disto, sucedeu-se a confecção de atividades didáticas para o ensino de genética, por uma acadêmica que realiza seu estágio no Ensino Médio e, é bolsista/estagiária do projeto Grupo de Estudo e Pesquisa sobre Educação e Biologia (GEPEB/CE/UFSM). Dentre estas atividades, relatamos, neste trabalho, a proposta de uma Atividade Didática baseada no uso de Analogia (ADA), implementada em uma turma de 2º ano do Ensino Médio da Educação de Jovens e Adultos (EJA), da Escola Estadual de Educação Básica Professora Margarida Lopes, na localidade de Santa Maria, RS. A ADA foi elaborada pelo Setor de Ensino de Biologia do Núcleo de Educação em Ciências (NEC/UFSM). Ela foi implementada seguindo os 6 passos do modelo Teaching with Analogies (GLYNN, 1991 e modificado por HARRISON e TREAGUST, 1993). A ADA consiste na comparação entre um cromossomo homólogo e 2 prédios de mesma planta arquitetônica. O objetivo é a construção de conceitos básicos da genética, como: cromossomos homólogos, genes, lócus gênico, genes alelos, genes alelos homozigotos e heterozigotos. Resultados e Discussão Inicialmente, a acadêmica fez uma exposição dos principais conceitos que seriam trabalhados na aula, para verificar o que os alunos sabiam sobre cromossomos, genes homozigotos e heterozigotos (passo 1 do TWA - Apresentação da "situação alvo" a ser tratada). A seguir, para auxiliar na compreensão dos conceitos de cromossomo e genes alelos, os alunos foram questionados sobre seus conhecimentos a respeito da estrutura de um prédio. Neste momento (passo 2), a acadêmica sugeriu o uso da analogia, com a seguinte “situação análoga”: dois prédios vizinhos que possuem a mesma planta arquitetônica. Junto com o passo 2, os alunos discutiram coletivamente as “características relevantes” do análogo (passo 3). Muitos alunos lembraram de diversas características dos prédios, segundo suas experiências pessoais. Então, a acadêmica projetou uma lâmina de retroprojetor, contento uma comparação entre um desenho de dois prédios e um X Salão de Iniciação Científica – PUCRS, 2009 1620 cromossomo homólogo (AMABIS e MARTHO, 1994). Ao visualizarem o desenho muitos alunos exclamaram, que “agora entendiam a estrutura do tal prédio que estava sendo discutido”. Foi solicitado a participação dos alunos, para preencherem no quadro as comparações entre as situações alvo e análogo (passo 4) e as limitações da ADA (passo 5), a partir das caracterizações de ambos, anteriormente discutidas. Os alunos não apresentaram muitas dificuldades na realização do passo 4, entretanto, no passo 5, eles não conseguiram propor diferenças entre análogo e alvo. No passo 6, os alunos elaboraram uma síntese em seus cadernos sobre os conceitos aprendidos. Foi solicitado que, alguns alunos apresentassem suas sínteses. Assim, a acadêmica pode verificar que a maioria dos alunos compreendeu os conceitos alvo. Posteriormente, foram aplicados exercícios de resolução de problemas, para averiguar, se ao longo do tempo, os alunos lembravam dos conceitos e sabiam aplicá-los. Do total de 12 alunos, 7 responderam corretamente a todos os exercícios, 2 a mais que 75% e 3 a mais que 50%. Conclusão A experiência desta atividade comprova a importância do emprego de diferentes estratégias didáticas no ensino. Embora, existam algumas limitações no uso de ADA, os resultados evidenciam que é significativo o seu uso na construção e melhor compreensão, principalmente, de conceitos. Ponderamos que o uso de imagens é igualmente relevante no EC, pois permitem ao aluno uma melhor visualização dos conceitos. Além disso, o uso de ADA proporcionou um maior envolvimento dos alunos em relação a outras atividades propostas, pois espontaneamente, eles tentavam acertar as comparações entre alvo e análogo e, conseqüentemente, acabavam participando. Referências AMABIS, J. M.; MARTHO, G. R. Biologia das células: origem da vida, citologia, histologia e embriologia. São Paulo: Moderna, 1994. ISBN 85-16-01001-5. AUSUBEL, David P.: (1978). Psicología educativa: Un punto de vista cognoscitivo. México: Trillas. AZNAR, M. M. M.; ORCAJO, M. T. I. Resolver situaciones problemáticas en genética para modificar las actitudes relacionadas con la ciencia. Enseñanza de las ciencias. 24(2), 193-206, 2006. CACHAPUZ, Antônio (1989). Linguagem metafórica e o ensino de ciências. In: Revista Portuguesa de Educação, v.2, n.3, p.117-129. DUARTE, Maria da Conceição: (2005). Analogias na Educação em Ciências: contributos e desafios. In: Investigações no Ensino de Ciências, v.10, n.1. Porto Alegre: Instituto de Física da Ufrgs. < http://www.if.ufrgs.br/public/ensino/ revista.htm>. Acesso em 08 out. 2007. GLYNN, Shawn M.: (1991). ‘Explaining Science Concepts: A Teaching-With-Analogies Model’. In: S. M. Glynn, R.H. Yeany and B.K. Britton (eds.), The Psychology of Learning Science, p.219-240. Hilsdalle/NJ/USA: Lawrence Erlbaum. HARRISON, Alan G.; TREAGUST, David F.: (1993). ‘Teaching with Analogies: A case Study in Grade-10 Optics’. In: Journal of Research in Science Teaching, v.30, n.10, p.1291-1307. LAWSON, Anton E. ‘The importance of analogy: a prelude to the special issue’. In: Journal of Research in Science Teaching, v.30, n.10, p. 1291-1307, Dez. 1993. X Salão de Iniciação Científica – PUCRS, 2009