Universidade Federal do Paraná
Departamento de Zootecnia
Centro de Pesquisa em Forragicultura
(CPFOR)
LIMITES ACEITÁVEIS DE MICOTOXINAS EM SILAGENS DE MILHO
Charles Ortiz Novisnki
Patrick Schmidt
Introdução
Os fungos são organismos cosmopolitas, ou seja, são encontrados no
mundo todo e nos mais diversos climas. Estão presentes na água, no solo, no
ar e nos alimentos. Algumas espécies de fungos sob condição de estresse
ambiental e/ou competição por substrato produzem substâncias tóxicas como
forma de defesa. Essas substâncias são chamadas de micotoxinas. Dados da
FAO (1991) mostram que mais de 25% de todos os grãos de cereais
produzidos no mudo podem estar contaminados com algum tipo de micotoxina,
porém, em níveis desconhecidos. Os números exatos do impacto econômico
gerado pelas micotoxinas também permanecem incógnitos. Para Coulibaly
(1989) as perdas econômicas de todos os setores que são afetados de alguma
forma pelas micotoxinas podem gerar um número surpreendente e difícil de ser
estimado.
Níveis seguros de micotoxinas
“Qual o nível seguro de ingestão de micotoxinas, para que não haja
qualquer prejuízo aos meus animais?”. Essa é a primeira pergunta que muitos
produtores fazem quando o assunto micotoxinas é abordado. A resposta é
simples: O ideal é “Nível ZERO”.
No entanto, essa afirmação é utópica e difícil de ser atingida, pois
sabemos que praticamente toda ração animal está sujeita a presença de
fungos ou esporos, que em condições favoráveis se multiplicam rapidamente.
A ciência tem avançado na tentativa de determinar níveis de micotoxinas
que, se presentes na dieta dos animais, não causem prejuízo significativo.
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Essa determinação é complexa, uma vez que vários fatores estão envolvidos
nos danos que as micotoxinas podem causar. Aqui estão expostos alguns
fatores que determinam a severidade de dano das micotoxinas nos animais.
- Estrutura química: quem determina o poder tóxico da micotoxina é sua
estrutura química. A aflatoxina B1 (AFL B1), por exemplo, é a substância
natural com maior poder cancerígeno que existe. Contudo, se apenas uma
ligação de sua molécula for alterada, sua ação tóxica é reduzida de maneira
drástica.
- Associação de micotoxinas: fungos da mesma espécie podem produzir
diferentes micotoxinas. A produção de uma determinada toxina não está
restrita apenas a um fungo específico. Os fungos da espécie Aspergillus
produzem sete tipos diferentes de micotoxinas, entre elas a ocratoxina, que
por sua vez também pode ser produzida pelo Penicillium viridicatum.
Estudos demonstraram que a associação de duas ou mais micotoxinas,
mesmo em menores dosagens, produziram mais danos à produção de leite
que micotoxinas isoladas, em maior concentração. O efeito sinérgico entre
elas promove a potencialização dos danos. Um aspecto importante que
determina quais fungos estão presentes nos alimentos é o clima, portanto
em cada região existe a predominância de um tipo diferente de fungo,
consequentemente o perfil das micotoxinas é alterado. Em climas tropicais
e subtropicais as espécies de Aspergillus encontram condições ideais, ao
passo que Penicillium e Fusarium ssp. são adaptados a locais mais frio.
- Resistência do indivíduo a micotoxinas: estado de saúde, estresse, idade,
raça e até linhagens dos animais, isoladamente ou em conjunto, podem
determinar a resposta do animal ao nível de micotoxinas a que estão sendo
expostos. Entre os animais de produção, as aves são os mais sensíveis às
micotoxicoses. Por outro lado, os ruminantes são considerados mais
resistentes por demonstrarem menos os efeitos gerados pelas toxinas. Essa
falsa impressão é causada pela baixa mortalidade desses animais. No
entanto ocorrem perdas de difícil mensuração, na produção e reprodução. A
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variação da sensibilidade individual somada às características genéticas
dificulta a determinação com precisão da resistência dos bovinos a cada
umas das micotoxinas específicas.
- Duração da exposição: os ensaios realizados em laboratório avaliando os
efeitos das micotoxinas nos animais, embora válidos, não conseguem
definir os níveis exatos de tolerância, nem tampouco estimar o efeito
negativo causado à medida que o período de exposição é prolongado.
Levando em conta que as micotoxinas apresentam um efeito cumulativo no
organismo e os sinais clínicos podem aparecer posteriormente, com o
fornecimento de uma dieta livre de toxinas, é interessante sempre manter
os mais baixos níveis de contaminação.
Diante do acima exposto percebe-se a dificuldade em determinar níveis
seguros de micotoxinas em alimentos destinados aos animais, principalmente
pelo número de variáveis envolvidas na toxicidade destas substâncias. Porém,
subsiste a questão: Mas que nível é seguro?
Diante desta indagação surgiu a necessidade de criar uma ferramenta
de consulta para produtores e técnicos, a fim de comparar os resultados dos
laudos micotoxicológicos. Por meio de uma extensa revisão de literatura
baseada em artigos científicos e em legislações de alguns países, o Centro
de Pesquisas em Forragicultura da Universidade Federal do Paraná (CPFOR)
criou valores de referência para silagens. O objetivo é estabelecer limites, entre
aceitável e crítico, para as micotoxinas frequentemente encontradas em
silagens. Esses valores servirão para orientar os técnicos na interpretação dos
resultados micotoxicológicos em silagens, e propor alterações de manejo
visando reduzir a incidência desse problema.
A tabela abaixo apresenta os limites estabelecidos para silagens,
desconsiderando outras fontes alimentares que podem contribuir para
aumentar a concentração de micotoxinas na dieta.
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Concentração de micotoxinas estabelecidos pelo CPFOR/UFPR em silagens
Micotoxinas1
Aflatoxina B1
ZEA
DON
OCRA
FUM (B1+B2)
µg/kg (ppb)
µg/kg (ppb)
µg/kg (ppb)
µg/kg (ppb)
µg/kg (ppb)
Limite
Aceitável
< 19
< 285
< 929
<5
< 1000
Crítico
> 20
> 286
> 930
>6
> 1000
1
Zearalenona(ZEA), Deoxinivalenol (DON), Ocratoxina (OCRA), Fumonisina (FUM)
Boas práticas no plantio, colheita, ensilagem e manejo do painel do silo
podem reduzir de maneira significativa os níveis de micotoxinas na silagem,
melhorando os índices produtivos dos animais. E o uso de adsorventes de
micotoxinas em dietas com risco de contaminação parece ser uma saída
efetiva na minimização do problema.
Esforços para regulamentação das concentrações em alimentos
destinados aos animais não devem ser economizados considerando o risco
que essas substâncias representam para os animais e para as pessoas, além
do dano econômico que causam nos sistemas de produção animal.
Referências
APPLEBAUM, R.S., R.E. BRACKETT, D.W. WISEMAN, AND E.L. MARTH. 1982. Responses
of dairy cows to dietary aflatoxin: feed intake and yield, toxin content, and quality of milk of
cows treated with pure and impure aflatoxin. Journal of Dairy Science, v.65, p.1503-1509
COULIBALY, B. The problem of aflatoxin contamination of groundnut and groundnut products
as seen by the African Groundnut Council. In D. McDonald & V.K. Mehan, eds.,
International Workshop on Aflatoxin Contamination of Groundnuts, 1989, India.
Proceedings... Patancheru: International Crops Research Institute for the Semi-Arid
Tropics, 1989. p.47-55.
FAO, Food Nutrition and Agriculture 1991. Disponível em:
http://www.fao.org/docrep/U3550T/U3550T00.htm
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