FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DE EMPRESAS EBAPE MARCELLO SILVA BARRETO UMA INVESTIGAÇÃO SOBRE O IMPACTO DOS ACCRUALS NA VARIABILIDADE DOS RESULTADOS NOS DIFERENTES CONTRASTES CROSSSECTIONAL NAS FIRMAS BRASILEIRAS DE CAPITAL ABERTO Rio de Janeiro 2012 MARCELLO SILVA BARRETO UMA INVESTIGAÇÃO SOBRE O IMPACTO DOS ACCRUALS NA VARIABILIDADE DOS RESULTADOS NOS DIFERENTES CONTRASTES CROSSSECTIONAL NAS FIRMAS NAS FIRMAS BRASILEIRAS DE CAPITAL ABERTO Dissertação para obtenção do grau de mestre apresentada à Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas EBAPE da Fundação Getulio Vargas. Área de concentração: Ciências Contábeis Orientador: Professor Doutor Ricardo Lopes Cardoso Rio de Janeiro 2012 AGRADECIMENTOS À minha esposa Aline, amor da minha vida, que está sempre ao meu lado e não deixa de me incentivar um só minuto e aos meus filhos amados Gabriel e Juliana, que durante o tempo de realização do mestrado não tiveram a minha presença e dedicação de que eles precisavam e mereciam. Sem a compreensão e o amor deles eu não teria conseguido. Eles são o motivo da minha vida. Ao Professor Diego de Faveri Pereira Lima, pelas valiosas contribuições estatísticas. Ao meu Orientador, Professor Ricardo, pelos ensinamentos e orientações transmitidas na realização desta dissertação. Agradeço também a Deus que sempre me supriu com força, coragem e ânimo para seguir em frente. Sem Ele nada disso teria acontecido. “A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras.” Aristóteles RESUMO Esta dissertação tem como objetivo principal investigar o impacto dos accruals na variabilidade dos resultados corporativos (EVAR) que influenciam a aplicação prática do income smoothing nas firmas brasileiras de capital aberto. Inicialmente, é demonstrada a importância das demonstrações contábeis que devem ser evidenciadas em cumprimento aos princípios contábeis geralmente aceitos. Sua evidenciação deve representar a realidade econômico-financeira da firma para o processo de tomada de decisão dos acionistas e credores. Porém, em determinados momentos, os gestores se sentem motivados a praticar o gerenciamento dos resultados contábeis na tentativa de reduzir a variabilidade dos lucros por meio da utilização dos accruals. Os accruals correspondem à diferença entre o lucro líquido e o fluxo de caixa operacional. Nesse processo de redução da volatilidade dos resultados, os gestores se utilizam da prática do income smoothing procurando reduzir eventuais distorções no preço das ações da firma. A amostra neste estudo é composta por um grupo de 163 firmas de capital aberto listadas na Bovespa e que apresentaram informações financeiras no intervalo de 2000 a 2007, categorizadas por setores através de dados obtidos na Economática. O modelo estatístico utilizado na pesquisa foi a análise de regressão para explicar os diferentes modelos de cross-sectional. Os resultados desta pesquisa indicam que os accruals são significativos para explicar a variabilidade dos resultados corporativos (EVAR) de empresas brasileiras. Além disso, nossos resultados sugerem que o modelo estrutural de identificação do EVAR nas empresas brasileiras deve ser explicado por variáveis não contábeis diferentes das que são apresentadas pelas firmas norte-americanas. Palavras-chave: accruals, income smoothing, variabilidade dos resultados, EVAR, Modelo Jones e Modelo Jones Modificado. ABSTRACT The main objective of this dissertation is to investigate the impact of accruals on the corporate earnings variability (EVAR) results that influence the practical application of income smoothing in Brazilian capital market firms. Initially, it approaches the importance of financial statements that must be evidenced in compliance with accounting principles generally accepted. Its disclosure should represent the reality of the economic-financial firm to the process of decision-making of shareholders and creditors. But at certain times, managers are motivated to practice the earnings management in an attempt to reduce the variability of profits through the use of accruals. The accruals represent the difference between net income and operating cash flow. In the process for reducing results volatility managers use the practice of income smoothing that represents a smoothing of profits, reducing any distortions in the market price of the firm. In this study, the sample is formed by a group of 163 capital market firms listed on Bovespa and presenting financial information in the period 2000 to 2007, categorized by sector, using data obtained in Economática. The statistical model used for this research was the regression analysis in order to explain the different cross-sectional models. These survey results indicate that accruals are significant to explain the EVAR of Brazilian companies. Our results suggest that the identification of structural model corporate earnings variability (EVAR) in Brazilian companies should be evidenced by non-financial variables that differ from those made by U.S. firms. Keywords: accruals, income smoothing, earning variability, EVAR, Model Jones and Modified Model Jones. LISTA DE QUADROS Quadro 1 Incentivos para o gerenciamento de resultados (earnings management) ... 25 Quadro 2 Consequências do gerenciamento de resultados contábeis ....................... 26 LISTA DE TABELAS Tabela 1 Filtros de Seleção da Amostra na Estimação |TAC| – Modelo Jones (1991) ................................................................................................ Tabela 2 44 Filtros de Seleção da Amostra na Estimação |TAC| - Modelo Jones Modificado (1995) ...................................................................................... 45 Tabela 3 Filtros de Seleção da Amostra na Estimação |TAC| ................................... 45 Tabela 4 Resultados da Regressão dos Accruals Totais - Modelo Jones (1991) ...... 47 Tabela 5 Composição da Amostra Estatística - Modelo Jones (1991) ...................... 47 Tabela 6 Resultados da Regressão na Amostra Completa - Modelo Jones (1991) ... 48 Tabela 7 Resultados da Regressão na Amostra Completa Apresentados por Kang & Silhan - Modelo Jones (1991) ................................................................. 49 Tabela 8 Variações do R² – Modelo Jones (1991) .................................................... 50 Tabela 9 Resultados da Regressão dos Accruals Totais - Modelo Jones Modificado (1995) ...................................................................................... 51 Tabela 10 Composição da Amostra Estatística - Modelo Jones Modificado (1995) .. 51 Tabela 11 Resultados da Regressão na Amostra Completa - Modelo Jones Modificado (1995) ...................................................................................... 52 Tabela 12 Variações do R² – Modelo Jones Modificado (1995) ................................. 53 LISTA DE FIGURAS Figura 1 Income smoothing: intencional e natural ................................................... 31 Figura 2 Modalidades de gerenciamento de resultados ........................................... 32 Figura 3 Segregação dos accruals em discricionários e não discricionários ........... 34 Figura 4 Padrões de “gerenciamento” de resultados contábeis a partir dos accruals discricionários (ad) ...................................................................... 35 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 13 1.1 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA ................................................................... 18 1.2 OBJETIVO .......................................................................................................... 19 1.3 DELIMITAÇÃO DE ESTUDO .......................................................................... 19 1.4 HIPÓTESE .......................................................................................................... 19 1.5 RELEVÂNCIA DO ESTUDO ............................................................................ 19 2 REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................................ 20 2.1 O GERENCIAMENTO DE RESULTADOS CONTÁBEIS .............................. 20 2.1.1 Incentivos para o gerenciamento dos resultados contábeis ........................... 21 2.1.1.1 Motivações vinculadas ao mercado de capitais ................................................ 22 2.1.1.2 Motivações contratuais ........................................................................................ 23 2.1.1.3 Motivações regulamentares e custos políticos.................................................... 23 2.1.2 Fatores determinantes e consequências do gerenciamento de resultados .... 25 2.2 OS TIPOS DE GERENCIAMENTO DE RESULTADOS CONTÁBEIS ......... 26 2.2.1 Income smoothing .............................................................................................. 27 2.2.2 Big Bath accounting, Bump up e Cookie Jar Reserve ou Cookie Jar Accounting……………………………………………………………………... 31 2.3 ACCRUALS DISCRICIONÁRIOS E NÃO DISCRICIONÁRIOS ................ 32 3 METODOLOGIA ............................................................................................. 37 3.1 MENSURAÇÃO DO EVAR .............................................................................. 37 3.2 MENSURAÇÃO DOS FATORES QUE SUPOSTAMENTE DETERMINAM O EVAR .............................................................................................................. 38 3.2.1 Outros fatores ................................................................................................... 38 3.2.1.1 Tamanho da firma ............................................................................................... 38 3.2.1.2 Durabilidade do produto ...................................................................................... 39 3.2.1.3 Performance corporativa ..................................................................................... 39 3.2.1.4 Alavancagem financeira ...................................................................................... 40 3.3 ANÁLISE DE REGRESSÃO ............................................................................. 40 3.4 AMOSTRA ......................................................................................................... 44 4 RESULTADOS .................................................................................................. 46 4.1 MODELO JONES ............................................................................................... 46 4.1.1 Estimação de EVAR .......................................................................................... 48 4.2 MODELO JONES MODIFICADO .................................................................... 50 4.2.1 Estimação de EVAR........................................................................................... 52 5 CONCLUSÕES ................................................................................................. 54 REFERÊNCIAS................................................................................................. 56 GLOSSÁRIO ..................................................................................................... 68 ANEXOS ............................................................................................................ 70 13 1 INTRODUÇÃO As fontes fundamentais de informações sobre todas as atividades econômicas das firmas para os públicos interno ou externo são as demonstrações financeiras. Faz-se necessário que estas expressem as implicações financeiras consequentes das atividades econômicas efetuadas sobre o patrimônio e o resultado (lucro/prejuízo) da empresa. É essencial que, para assegurar a representação fidedigna das demonstrações financeiras, os gestores usem de forma adequada e eficaz os princípios contábeis geralmente aceitos na elaboração das demonstrações. Há, entretanto, situações nas quais os gestores são pressionados para atingir metas financeiras e cláusulas contratuais – por exemplo, lucro, retorno sobre o investimento, EVA, endividamento, liquidez e dividendos –, mesmo quando as condições para atingi-las são adversas ou reduzidas, e/ou quando os custos são demasiadamente altos para cumprir os objetivos esperados (FUJI; CARVALHO, 2005; BAPTISTA, 2009; SANCOVSCHI; MATOS, 2003). Nessas circunstâncias, os administradores podem aproveitar a maleabilidade dos princípios contábeis para assegurar que as metas sejam alcançadas (SANCOVSCHI; MATOS, 2003). Quando os gestores através de suas discricionariedades se aproveitam da flexibilidade concedida pelos princípios contábeis para atingir metas financeiras ou de lucro é chamada de earnings management, ou gerenciamento de resultados contábeis (SANCOVSCHI; MATOS, 2003; FUJI; CARVALHO, 2005). Uma forma de gerenciamento desses resultados se encontra na utilização de accruals. Na realidade, o accrual é a diferença temporal do reconhecimento de receitas e despesas pelos regimes de caixa e de competência na apuração do lucro (MARTINEZ, 2004; PAULO; MARTINS; CORRAR, 2007; PAE, 2005; CUPERTINO; MARTINEZ, 2007). Martinez (2004) observou que somente em períodos de longo prazo este processo apresenta diferenças no reconhecimento das contas de resultado, o que já não acontece no cenário de curto prazo, pois não há alteração no resultado. O objetivo da utilização de accruals é mensurar o resultado contábil da entidade, utilizando contas de resultado que não necessariamente impactam a movimentação das disponibilidades de caixa e equivalentes de caixa (MARTINEZ, 2001, 2004; MATSUMOTO e PARREIRA, 2007). 14 Pela discricionariedade, os accruals podem sofrer alterações que atendam aos interesses dos gestores em detrimento das atividades normais da empresa. Desta forma, os accruals podem ser segregados em accruals discricionários (discretionary) e não discricionários (non discretionary) (DECHOW; SLOAN; SWEENEY, 1995; MARTINEZ, 2008; LOPES; MARTINS, 2005). O primeiro tipo tem como objetivo “gerenciar” o resultado contábil (earnings management). Já o segundo é o utilizado de acordo com a realidade do negócio (DECHOW; SLOAN; SWEENEY, 1995; MARTINEZ, 2001). A divulgação de lucros estáveis nas demonstrações contábeis é uma das razões pelas quais os gestores manipulam os resultados da firma na tentativa de diminuir a variabilidade de resultados (MARTINEZ, 2001; MATSUMOTO E PARREIRA, 2007). A variabilidade dos resultados corporativos (EVAR) tem sido associada a uma ampla variedade de questões de negócios, incluindo a previsibilidade de receitas (BAREFIELD; COMISKEY, 1975; KROSS; RO; SCHROEDER, 1990; LUTTMAN; SILHAN, 1995), a previsibilidade de riscos corporativos (FARRELLY; FERRIS; REICHENSTEIN, 1985; BARTH; LANDSMAN; WAHLEN, 1995), os riscos inerentes ao mercado (GHOSH; OLSEN, 2008) e as oportunidades de gestão de riscos (GORDON; LOEB; TSENG, 2009). Geralmente as firmas que reportam em seus resultados uma alta variabilidade dos lucros têm menor propensão a emitir previsões corporativas do que aquelas que apresentam uma baixa variabilidade dos resultados, além de terem uma maior classificação de risco (IMHOFF, 1978; WAYMIRE, 1985; COX, 1985; CLARKSON; KAO; RICHARDSON, 1994; DEFOND; HUNG, 2003; HODDER; HOPKINS; WOOD, 2008; GRAHAM; HARVEY; RAJGOPAL, 2005). A Standard & Poor’s em seus rankings de classificação utiliza a variabilidade dos resultados como um fator para analisar os ganhos de poder e os riscos nos negócios (SANTICCHIA; MURPHY, 2005). Consequentemente, as firmas com negócios mais voláteis alcançam as mais baixas posições no ranking (SANTICCHIA; MURPHY, 2005, p. 18). O valor de mercado das ações é influenciado pela variabilidade dos resultados. A incidência de relatos sobre modificações nos resultados é cada vez maior em firmas de accruals elevados do que nas que apresentam baixos accruals (FRANCIS; KRISHNAN, 1999; BAPTISTA, 2008). Os auditores associam a “intensidade dos accruals” (ou seja, a extensão dos accruals utilizados por uma firma pela média de accruals absolutos) com a incerteza de ganhos da entidade e risco de auditoria (BECKER et al., 1998; FRANCIS; KRISHNAN, 1999; GUL; CHEN; TSUI, 2003). 15 Acionistas e credores tendem a se sentir mais confiantes para investir seus recursos em empresas que exibem lucros estáveis (HEPWORTH, 1953). Esta constatação indica que esses públicos preferem uma baixa variabilidade, que representa controle e pode ser considerada como um indicador da capacidade de gestão da empresa (HEPWORTH, 1953; WANG; WILLIAMS, 1994). O income smoothing é uma forma de gerenciamento cujo objetivo é a redução da variabilidade dos resultados apresentados pela firma. Várias intenções dos gestores incentivam a adoção desta prática, tais como uma previsão melhor nos resultados, custos reduzidos de capital, melhores relações com investidores, planos de compensação, melhoria das relações industriais, aumento de segurança no emprego, e medidas melhores de performance a longo prazo (HEPWORTH, 1953; GORDON, 1964; BEIDLEMAN, 1973; RONEN; SADAN, 1981; MOSES, 1987; TRUEMAN; TITTNAN, 1988; CHANEY; LEWIS, 1995; GOEL; THAKOR, 2003; TUCKER; ZAROWIN, 2006). Com a intenção de reduzir a variabilidade dos resultados a níveis “naturalmente baixos”, os gestores se utilizam de métodos contábeis de mensuração e evidenciação para suavizar os lucros pela utilização dos accruals (BAPTISTA, 2009; SUBRAMANYAM, 1996; JONES, 1991). O impacto líquido dos accruals na variabilidade dos resultados, visto que os accruals se situam em um ambiente imprevisível, é uma questão de ordem empírica. A discricionariedade pode reduzir a variabilidade dos resultados de algumas firmas, mas causar aumento da variação de outras (MATSUMOTO; PARREIRA, 2007). Esforços utilizados para suavizar os lucros por meio da utilização dos accruals podem comprometer os resultados futuros da firma (GOEL; THAKOR, 2003, p. 169; FUJI; CARVALHO, 2005; CASTRO, 2008). Caso ocorra a “suavização do lucro”, esta não pode ser continuada ao longo dos próximos exercícios (COPELAND, 1968; MOSES, 1987). Do ponto de vista estatístico, ainda não é conhecido o efeito da eficácia da suavização (HILLIER; MCCRAE, 1998, p. 76). A suavização de lucros por meio dos accruals envolveria critério proativo (JAYARAMAN, 2008) com uma mistura de previsão e flexibilidade (COPELAND, 1968; SCHIPPER; VICENT, 2003; TAN; JAMAL, 2006). Sem dúvida, a suavização de lucros exigiria um conhecimento particular sobre lucros futuros; entretanto, caso tal conhecimento não seja preciso, o processo de suavização do lucro pode ser desestabilizador (BEAVER, 1970; BALL; WATTS, 1972; WANG; WILLIANS, 1994; WILLET, 2002) e gerar um erro de estimativa (ALBRECHT, 1976; DECHOW; DICHEV, 2002; JAYARAMAN, 2008; CASTRO, 2008). Consequentemente, “técnicas contra a suavização” (COPELAND, 1968), 16 expressões como “contador de suavização” (BEIDLEMAN, 1973) e incentivos à “não suavização” (WHITE, 1970) poderiam surgir. A incerteza aumenta a complexidade do processo contábil (BRIEF; OWEN, 1970; ALBRECHT, 1976), o que, em geral, acrescenta risco inato à organização e possibilita que, em decorrência, erros e reformulações possam ocorrer (LEV; RYAN; WU, 2008). As firmas podem não ser bem-sucedidas na diminuição da variabilidade dos resultados por três motivos. Primeiramente, em cenários de longo prazo, por meio dos accruals pode haver fatores não contábeis que atenuem as tentativas de reduzir a variabilidade dos lucros. Como exemplos que influenciariam essa estabilidade, podem ser citados: fechamento de fábricas, greve de funcionários e dificuldades na cadeia de abastecimento (KANG; SILHAN, 2010). Em segundo lugar, pode haver fatores contábeis que atenuem a suavização (BROOKS; BUCKMASTER, 1976). Questões gerais, tais como erros de exercícios anteriores (ANTHONY; PETRONI, 1997; RICHARDSON et al., 2005), reformulações contábeis (LUNDHOLM, 1999; LEV; RYAN; WU, 2008), reconhecimento de perdas em tempo oportuno (BALL; SHIVAKUMAR, 2006), articulação do balanço patrimonial (DICHEV; TANG, 2009) e as receitas e os custos correspondentes (SU, 2005) colaborariam também para uma variabilidade maior dos resultados. Decisões peculiares, como menos-valia e impairments, também poderiam compensar as tentativas de suavização (ZUCCA; CAMPBELL, 1992). A liberdade de ação futura é essencial para uma suavização bem-sucedida (COPELAND, 1968). Tentativas de suavização em períodos correntes com o objetivo de cumprimento de metas futuras, provavelmente trarão reflexos no aumento na volatilidade dos resultados a longo prazo. Em um primeiro momento, o impacto gerado pela contabilidade e pelas decisões da firma não parece ser óbvio (DHARAN, 1987; FRANCIS, 1990; BARTH; LANDSMAN; WAHLEN, 1995; KOTHARI; LAGUERRE; LEONE, 2002). Quando ocorre a aplicação de diversas estratégias ao mesmo tempo, o income smoothing não deve ser a prática dominante da contabilidade (KIRSCHENHEITER; MELUMAD, 2002). Por esses motivos, o income smoothing pode ser intermitente, esporádico ou usual. Em terceiro lugar, a incidência do income smoothing não pode ser generalizada. Estudos anteriores têm questionado a sua incidência (WHITE, 1970; IMHOFF, 1977; ECKEL, 1981; ALBRECHT; RICHARDSON, 1990; BAO; BAO, 2004; JAYARAMAN, 17 2008), pois esta medida pode ser desnecessária em alguns casos (IMHOFF, 1981; MOSES, 1987). Assim, a baixa incidência de suavização diluiria o impacto geral dos accruals. Em uma amostra de firmas, essas condições reunidas podem atenuar os efeitos de suavização. Assim sendo, é praticamente improvável um processo prolongado de suavização (DASCHER; MALCOLM, 1970; WHITE, 1970; IMHOFF, 1981). Gonedes (1972) informa o que seria necessário para uma realização eficaz do processo de suavização, descrevendo o fluxo dos lucros das empresas a partir de dois processos aleatórios: (1) o processo de geração de números contábeis “básicos” e (2) o processo de geração dos números contábeis “reportados/relatados”. Assim, ao se projetar o futuro, as taxas de retorno poderiam ser definidas como um processo aleatório induzido por um período de multifunção de distribuição de (1) e (2). Em seguida, essa questão é formulada como um problema de programação dinâmica para relatar uma taxa de retorno tão elevada quanto possível e suficientemente próxima à taxa do período anterior de retorno. Dessa maneira, a empresa teria que relatar lucros/investimentos para cada período, ou seja, a taxa base mais o fator de suavização – por exemplo, o fator de ajuste, para conseguir atingir este objetivo. Neste caso, o processo da taxa de retorno relatada é um processo básico transformado. Para isso, a seleção de qualquer ação suavizante teria de reconhecer as consequências das ações atuais de suavização em um vis-àvis de resultados relatados no futuro. Gonedes (1972) conclui que, para a suavização efetiva dos resultados, os gestores teriam que se comportar como se fossem empiricamente guiados pelo modelo dinâmico de programação postulado. Beidleman (1973) observa que: (1) o ajuste desejado deve ser feito com alguma precisão; (2) os gestores devem concordar com objetivo implícito nesse ajuste; (3) para o cumprimento dos objetivos de longo prazo, a variabilidade dos lucros deve ser reduzida; e, (4) uma vez utilizado, a firma não deverá sofrer nenhum tipo de custo particular de ação. Gonedes e Dopuch (1979) fornecem um cenário para analisar ao longo do tempo as propriedades de sequências de números contábeis. Afirmam os autores que estes dependem (1) do ambiente econômico, (2) dos investimentos de produção e decisões financeiras da empresa, e (3) das técnicas contábeis. Assim, a variação dos resultados seria determinada por uma combinação de fatores econômicos e contábeis. Lev (1983) observou que a variabilidade dos resultados é delimitada por fatores econômicos. Utilizando-se dos resultados da análise de regressão múltipla em cross-sectional, com uma amostra de 385 firmas, a pesquisa aponta que a variabilidade dos resultados é influenciada pelo tamanho da firma e a durabilidade do produto. Em seu estudo, ele faz uma 18 advertência sobre a falta de variáveis. Seu modelo de regressão múltipla justifica cerca de 5% da variação no cross-sectional da variabilidade dos resultados. Além do tamanho da empresa e da durabilidade do produto, Luttman e Silhan (1991) justificam as variáveis econômicas líquidas. Adotando a análise de regressão múltipla em uma amostra de 199 firmas, eles obtiveram resultados demonstrativos de que a variabilidade dos lucros também é afetada pelo desempenho das firmas e da estrutura de capital. Seu modelo de variabilidade de resultados justifica cerca de um quarto da variação cross-sectional de variabilidade. 1.1 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA A demonstração do resultado do exercício é um dos demonstrativos contábeis de fundamental importância para análise e tomada de decisão dos stakeholders. Colauto e Beuren (2004, p. 2) avaliam a importância da apuração do resultado como um indicador de política de investimento. Coelho (2007, p. 50) afirma que quando o resultado da firma é apurado corretamente pela contabilidade, os riscos de investimento para credores e acionistas são reduzidos. Entretanto, esta percepção está associada ao fato de os resultados serem avaliados independentemente dos grupos de interesses envolvidos. Com a realidade dos fatos apresentados, ocorrem alguns questionamentos para os gestores. Decisões fundamentadas na contabilidade de risco desempenham um importante papel para a comunidade financeira (BAGINSKI; WHALEN, 2003; SANTICHIA; MURPHY, 2005). Existe muita preocupação quando o assunto é gerenciamento de riscos (GORDON; LOEB; TSENG, 2009, p. 301), e uma melhor compreensão poderia ser aplicada para aprimorar a elaboração das políticas de risco (RYAN, 1997, p. 134). Diante dessas variáveis, surge a questão de quais seriam os fatores determinantes da variabilidade dos resultados: seriam somente os accruals ou existiriam também fatores não contábeis? O tamanho da empresa, a performance corporativa, a durabilidade do produto e a alavancagem financeira seriam os principais impulsionadores da variabilidade dos resultados (PAULO; LIMA; LIMA, 2008)? Esta questão nos conduz à formulação da seguinte pergunta: “Qual é o impacto dos accruals na variabilidade dos resultados?” (KANG; SILHAN, 2010). Este questionamento será o foco central desta. 19 1.2 OBJETIVO O objetivo final deste trabalho é identificar o impacto dos accruals na variabilidade de resultados em diferentes contrastes cross-sectional nas firmas brasileiras de capital aberto. 1.3 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO O presente estudo será delimitado às organizações cujas ações são negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Assim, será utilizada uma amostra não aleatória, cujas empresas estejam ativas e suas informações se encontrem evidenciadas na Economática no período de 2000 a 2007, excetuando-se as instituições financeiras. 1.4 HIPÓTESE O estudo foca sua análise sobre os accruals, o tamanho da firma, a performance corporativa, a durabilidade do produto e a alavancagem financeira como possíveis fatores determinantes da variabilidade dos resultados (EVAR). Nossa principal hipótese é que os accruals influenciam EVAR. 1.5 RELEVÂNCIA DO ESTUDO A literatura apresenta diversos incentivos para a prática do income smoothing. Dentre eles, pode-se destacar a utilização deste tipo de gerenciamento para sinalizar valor ao mercado na medida em que este diminui o risco sistemático, compondo um importante direcionador de valor. Inclusive para aumentar o valor de mercado da firma, os gestores podem utilizar sua discricionariedade para suavizar os resultados. Sua estratégia, portanto, estará voltada para 20 reduzir a variabilidade dos resultados contábeis com o propósito de gerar valor para os acionistas. 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 O GERENCIAMENTO DE RESULTADOS CONTÁBEIS O termo earnings management, conhecido na literatura nacional como gerenciamento de resultados contábeis, é utilizado para definir um grupo de práticas adotadas por gestores que objetivam divulgar resultados que sejam favoráveis aos acionistas da firma (FUJI; CARVALHO, 2005). No processo de gerenciamento dos resultados, o gestor determina suas decisões contábeis em decorrência de outros motivos que colaboram para dirigi-lo a um resultado financeiro almejado distinto do resultado esperado antes das supostas modificações – e não de acordo com a realidade operacional do negócio. Faz-se necessário destacar que estas decisões contábeis precisam estar em acordo com a legislação vigente. Os investidores diante de demonstrações contábeis suavizadas estarão suscetíveis a tomarem decisões equivocadas (PAULO; LIMA; LIMA, 2006). Para que isto seja evitado é de suma importância identificar quais são as empresas que estão praticando o gerenciamento dos resultados contábeis. Como são aplicados diferentes critérios nos métodos de evidenciação e mensuração contábeis, os gestores têm mais facilidade para apresentar demonstrações financeiras da forma desejada, acarretando perdas na análise do desempenho empresarial. A divulgação dos resultados negativos ou abaixo das expectativas dos investidores pode enfraquecer a confiabilidade na firma. Observa-se, também, que em muitas empresas, a remuneração variável dos gestores está condicionada aos resultados contábeis. Diante dessa possibilidade, os gestores podem agir de forma discricionária. Por isso, nas situações nas quais existe a possibilidade do gerenciamento dos resultados contábeis para que não se apresentem desempenhos inferiores, os gestores sentemse incentivados, agindo de forma discricionária, ou seja, utilizando-se de seus conhecimentos 21 técnicos de contabilidade para realizar suas manipulações (MATSUMOTO; PARREIRA, 2007; CASTRO, 2008). Giroux (2004, p. 4) conceitua earnings management como a intencional utilização por parte dos gestores nas escolhas dos métodos contábeis de mensuração e evidenciação e na interferência das atividades operacionais para que a demonstração contábil apresente valores ajustados. Martinez (2001) afirma que o gerenciamento de resultados não acontece em descumprimento da legislação vigente, mas que, em determinados pontos, as normas contábeis facultam certa discricionariedade ao gestor. Neste caso, o gestor não faz suas escolhas de acordo com a realidade dos negócios, mas em função de outros motivos. A expressão earnings management, na concepção de Santos e Grateron (2003), denomina a intervenção do gestor, de acordo com sua conveniência, na aplicação dos princípios contábeis com o objetivo de demonstrar uma imagem distorcida da realidade operacional da empresa. Roychowdhury (2006) e Cardoso e Martinez (2006) enfatizam que a utilização da mensuração dos accruals e/ou a interferência das atividades operacionais “reais” da firma são os fatores determinantes do gerenciamento de resultados. Também na opinião de Schipper (1989, p. 92), o processo de gerenciamento acontece quando os gestores por meio de suas decisões manipulam as demonstrações financeiras externas, com o propósito de obter vantagens, o que é contrário ao papel imparcial de informar os resultados contábeis. 2.1.1 Incentivos para o gerenciamento dos resultados contábeis Vários motivos são apresentados por Watts e Zimmerman (1986, p. 257-261) e Jones (1991, p. 193) como incentivadores do gerenciamento de resultados. Entre as razões que impulsionam a ação oportunista dos administradores, pode-se destacar: (i) evitar a divulgação de perdas (resultados negativos) ou declínio dos resultados contábeis (PAULO, 2007); (ii) reduzir a variabilidade dos resultados, evitando distorções no mercado de capitais; (iii) aumentar a remuneração variável dos gestores condicionados ao desempenho empresarial (HEALY, 1985; WAHLEN, 1999; BARTOV; MOHANRAM, 2004; MARTINEZ, 2001); (iv) captação de novas fontes de investimento (MARTINEZ, 2001; FUJI; CARVALHO, 22 2005; VERHAGEM, SANTOS; BEZERRA, 2011); (v) manutenção do cargo, mesmo que, devido a este fator, a acurácia dos resultados contábeis fique comprometida; (vi) maior captação de recursos financeiros pelo lançamento de títulos através da oferta pública de ações (TEOH et al., 1998; ROOSENBOOM et al., 2003; DARROUGH; RANGAN, 2005). Como já explicitado anteriormente, a divulgação de resultados negativos pode trazer efeitos indesejados, o que é perfeitamente normal em um ambiente de negócios, além de resultados positivos influenciarem na remuneração dos gestores. O uso do gerenciamento dos resultados pode encontrar motivação nestes fatores, levando os administradores a atuarem de forma discricionária. Segundo McKee (2005, p. 29), os analistas financeiros frequentemente estimam a volatilidade dos resultados por meio dos desvios do lucro líquido dos períodos anteriores divulgados nas demonstrações financeiras. Uma maior volatilidade dos resultados passados afeta a capacidade de previsão dos resultados futuros, sugerindo um maior risco de investimento e, consequentemente, resultando em maiores prêmios ou taxas de desconto nos modelos de avaliação de firmas. Quando os gestores são motivados por esse tipo de situação acabam adotando a prática da variabilidade dos resultados, denominada income smoothing. (PAULO; LIMA; LIMA, 2006) Healy e Wahlen (1999) apontam ser uma abordagem comum para investigar a existência de gerenciamento de resultados a análise dos incentivos oferecidos aos gestores para administrar lucros (BAPTISTA, 2009). A pesquisa empírica em gerenciamento de resultados encontra-se classificada por esses autores em conformidade com três incentivos: relacionados ao mercado de capitais, contratuais, e regulamentares e custos políticos. 2.1.1.1 Motivações vinculadas ao mercado de capitais O parecer dos analistas de mercado e as consequentes decisões dos investidores na avaliação dos investimentos podem motivar os gestores a utilizarem o gerenciamento de resultados com o objetivo de influenciar, no curto prazo, o desempenho das ações da firma (ALMEIDA-SANTOS; VERHAGEM; BEZERRA, 2011). A prática da suavização dos resultados tem o poder de influenciar e distinguir tipos específicos de investidores, como os investidores institucionais com um percentual alto de ações da empresa investida, na opinião de Healy e Wahlen (apud BAPTISTA, 2009; ALMEIDA-SANTOS; VERHAGEM; BEZERRA, 2011). Entretanto, há duas posições de 23 investidores institucionais: os orientados para o curto prazo, e os voltados para o longo prazo. Os primeiros se utilizam da prática de oferecer incentivos para que os administradores gerenciem os resultados, enquanto os segundos podem exercer um papel de monitoramento sobre os gestores, inibindo a prática do gerenciamento (ALMEIDA-SANTOS; VERHAGEM; BEZERRA, 2011). 2.1.1.2 Motivações contratuais Healy e Wahlen (1999) afirmam que a contabilidade desempenha um papel fundamental na divulgação de informações que ajudarão no monitoramento da regulação contratual entre a firma, credores e demais stakeholders (BAPTISTA, 2009). Utilizam-se contratos de remuneração de gestores vinculados à informação contábil para alinhar os objetivos destes aos dos stakeholders. Já a elaboração de contratos de empréstimos que dispõem de cláusulas restritivas vinculadas à informação contábil se dá para limitar as ações dos gestores que beneficiam os shareholders em prejuízo dos credores (ALMEIDASANTOS; VERHAGEM; BEZERRA, 2011). Na avaliação de Watts e Zimmerman (1990), entretanto, contratos baseados em informação contábil carecem de eficácia para alinhar interesses de gestores e das demais partes do contrato (ALMEIDA-SANTOS; VERHAGEM; BEZERRA, 2011). No que tange aos contratos de dívida, pode-se analisar a relação entre estes e o gerenciamento sob uma perspectiva ex ante e ex post, como explica Baptista (2009): Numa situação ex ante, as empresas podem praticar o gerenciamento para obter uma menor variância do lucro e, com isso, obter financiamento a um custo menor (SCHIPPER, 1989). Numa situação ex post, o gerenciamento pode ser praticado para evitar a violação das cláusulas de contratos de dívida (WATTS; ZIMMERMAN, 1990). 2.1.1.3 Motivações regulamentares e custos políticos De acordo com Healy e Wahlen (1999), os segmentos sujeitos ao monitoramento regulatório vinculado à informação contábil oferecem motivações para gerenciar as variáveis 24 de relatórios contábeis que interessam ao órgão regulador. Entende-se, portanto, que pode haver influência do ambiente legal sobre o gerenciamento, ou seja, empresas pertencentes “[...] a setores regulados têm incentivos para adotar o gerenciamento, como consequência da legislação que a afeta, e se a mesma puder ser beneficiada com a prática” (BAPTISTA, 2009, p. 9). Da mesma forma, empresas vulneráveis às consequências políticas adversas também apresentam incentivos para gerenciar lucros, com o objetivo de parecerem menos lucrativas. De acordo com Watts e Zimmerman (1978, 1990), existe uma maior probabilidade de que empresas maiores pratiquem o gerenciamento (para diminuir lucro) do que as empresas menores, o que pode ser explicado pela hipótese de custo político (tamanho é uma proxy de custo político) (BAPTISTA, 2009, p. 9). É prerrogativa do governo transferir riqueza entre diversos grupos e, em especial, o setor corporativo é bastante vulnerável a essas redistribuições, ensinam Watts e Zimmerman (apud BAPTISTA, 2009). Também apresentam incentivos semelhantes, segundo Healy e Wahlen (apud BAPTISTA, 2009), as empresas que desejam desfrutar de algum tipo de subsídio ou proteção governamental. De acordo com Schipper (1989), no cenário regulatório o gerenciamento é conduzido por um conjunto de normas/regras. Quando ocorrem alterações nestas, seus efeitos podem levar a mudanças previsíveis no comportamento da manipulação do lucro. Apresenta-se uma síntese das relações entre as principais motivações e os objetivos gerais e específicos no quadro a seguir. Motivações Motivações vinculadas ao Mercado de Capitais Objetivos gerais • Modificar a percepção de risco quanto a investimentos nas ações da empresa Objetivos específicos • Busca de financiamento externo, como lançamento de títulos; • Evitar perdas e manter a continuidade dos resultados; • Atender expectativas de lucro dos analistas; • Pagar dividendos aos acionistas. Motivações contratuais • Monitorar e regular os contratos entre a empresa e os grupos de interesse (stakeholders) • Contrato de dívida (leding agreements); • Contratos de compensação de executivos, para garantir remuneração a partir de bônus condicionados a lucros; • Negociação de convenções coletivas de trabalho; • Contratos implícitos e stakeholders costs; • Para manter acordos pactuados com os credores ou evitar pagar dividendos. 25 Incentivos regulamentares e custo políticos • Evitar desgastes ao despertar inveja, quando os resultados estão muito elevados ou acima da média de outros setores; • Processos políticos; • Proteção de mercado (restrições alfandegárias); • Empresas que estão sendo investigadas. Quadro 1: Incentivos para o gerenciamento de resultados (earnings management) Fonte: Adaptado por Matsumoto e Parreira (2007) a partir de Martinez (2001). 2.1.2 Fatores determinantes e consequências do gerenciamento de resultados Ao possibilitar uma margem de arbitrariedade na elaboração das demonstrações financeiras, a maleabilidade dos princípios e das normas contábeis pode proporcionar a apresentação de informações contábeis voltadas para os interesses dos gestores das empresas. Essas demonstrações contábeis, mesmo em conformidade com a legislação vigente, podem não retratar de forma autêntica a realidade econômico-financeira das organizações, contribuindo para a assimetria informacional, indo contra os interesses dos usuários da informação contábil que podem ser induzidos a tomar decisões equivocadas (FUJI; CARVALHO, 2005). As várias alternativas contábeis, conforme Fuji (2004), podem propiciar decisões que aumentem ou diminuam os resultados da firma em atendimento a mercado de capitais menos ou mais sofisticados, a setores da indústria, a estrutura de controle acionário ou a influência maior da contabilidade tributária perante a societária. A pressão para que metas financeiras sejam cumpridas pode levar gestores a “gerenciar” resultados contábeis, em especial nas situações em que as condições de alcance são reduzidas e /ou custos esperados são considerados altos (FUJI; CARVALHO, 2005). No quadro seguinte, elaborado por Matsumoto e Parreira (2007), é perfeitamente possível perceber algumas das consequências advindas do processo de gerenciamento dos resultados. Consequências • Avaliação positiva da gestão dos dirigentes. • Defesa contra aquisições hostis. • Melhora a posição negociadora dos contratos. • Incrementa a remuneração dos dirigentes. • Maior prestígio profissional Efeitos Incrementa ou estabiliza o valor patrimonial da empresa no mercado de capitais. Motivação Influir nos resultados contábeis 26 • Apresenta uma situação crítica da empresa para tirar proveito no pagamento de impostos. • Evita exigências salariais elevadas. • Oculta a situação real frente aos competidores. • Permite reescalonar dívidas no longo prazo. Diminui as receitas ou aumenta as despesas e custos de forma a reduzir os lucros para sinalizar uma pior situação ao mercado. • Avaliação positiva da gestão dos dirigentes. • Estabilidade na remuneração dos gerentes. • Maior prestígio profissional • Impressiona investidores de capital. Estabiliza as receitas ou os lucros para apresentar um menor perfil de risco ao mercado. • Melhora de posição na celebração de contratos. • Incrementa a remuneração dos executivos. • Maior estabilidade na permanência no cargo. Mostra bons indicadores de rentabilidade, liquidez, solvência e endividamento. • Apresenta uma situação crítica da companhia para tirar Mostra maus indicadores de proveito no momento da renegociação de contratos, rentabilidade, liquidez, solvência e tanto da própria empresa como de remuneração dos endividamento. gerentes. • Poupança para assegurar futuras remunerações. • Melhora de posição na celebração de contratos. • Estabilidade na remuneração dos dirigentes. • Poupança para assegurar futuras remunerações. • Atende imposições acionárias por dividendos. Reduz picos de receitas ou lucros, no sentido de potencializar o nível de confiança na empresa. • Atendimento das exigências sociais. • Contempla as diretrizes de gestão responsável. • Mostra uma situação crítica da empresa para tirar proveito dos recursos públicos. • Evita exigências de reposição salarial. • Minimiza as suspeitas de que a companhia pratica o monopólio ou oligopólio no mercado Mostra maus indicadores de rentabilidade, liquidez, solvência e endividamento. • Permite pleitear aumento de tarifas nos setores que estão sob regulação estatal. • Reduz as dívidas fiscal-tributárias. Mostra maus indicadores de rentabilidade, liquidez, solvência e endividamento. • Minimiza as suspeitas de que a companhia pratica o monopólio ou oligopólio no mercado. • Planejamento do pagamento das dívidas. • Evita reduzir as tarifas em setores regulados. Evita excessivas flutuações que possam vir a deteriorar ou prejudicar a imagem social ou política da empresa. Necessidades Contratuais Interesses políticos e sociais Interesses políticos e sociais Quadro 2: Consequências do gerenciamento de resultados contábeis Fonte: Adaptado por Matsumoto e Parreira (2007) a partir de Cosenza (2000) 2.2 OS TIPOS DE GERENCIAMENTO DE RESULTADOS CONTÁBEIS Mohanram (2003) afirma que as empresas podem utilizar diferentes práticas de gerenciamento de resultados contábeis (CASTRO, 2008). Uma das mais usuais consiste na mudança de critérios de mensuração e evidenciação contábeis, a qual, por ser possibilitada 27 pela maleabilidade das normas e padrões contábeis, faz crescer o grau de complexidade para a averiguação de tais mudanças representarem manipulação ou utilização da prerrogativa de arbitrariedade dos gestores. Para facilitar a compreensão dos propósitos deste trabalho, alguns termos precisam estar bem esclarecidos e definidos. 2.2.1 Income Smoothing Matsumoto e Parreira (2007) definem o income smoothing, ou suavização dos lucros, como o gerenciamento dos resultados que tem como objetivo a redução da variabilidade dos resultados (EVAR) apresentados pela firma. Esse método de gerenciamento é um esforço planejado para diminuir as variações nos lucros divulgados; este procedimento os mantém estáveis, e consequentemente reduz as oscilações do resultado. EVAR tem sido associada a uma grande variedade de questões relacionadas com o risco da firma. Luttman e Silhan (1993) observaram que EVAR é utilizado como um índice de previsibilidade de resultados corporativos. Em outros estudos, EVAR tem sido associado a valores patrimoniais (DALEY, 1984), a qualidade dos resultados (IMHOFF, 1992), a previsões gerenciais (WAYMIRE, 1985 ), a tomada de decisões estratégias (MALONE, 1986), a adoção de planos de desempenho (KUMAR, 1988), a estrutura de propriedade (DEMSETZ e LEHN, 1985), e a política de dividendos (CHANG e RHEE, 1990). Estes diversos estudos ressaltam a importância de EVAR para os investidores. EVAR é uma medida utilizada para quantificar a volatilidade dos resultados em uma série temporal de lucros, cujo o objetivo é a estimação de resultados futuros. As firmas ao divulgarem suas demonstrações financeiras evidenciam o resultado contábil do período. Logo, a diferença entre os resultados demonstrados pela firma em um intervalo de tempo será passível de estimação pelo EVAR. Quanto maior for EVAR, maior será a variabilidade apresentada nos resultados em diferentes períodos. Em contra partida, um menor EVAR demonstrará uma redução na flutuação dos lucros. Dessa forma, os gestores podem tomar decisões no sentido de reduzir o EVAR interferindo nas atividades operacionais e/ou através de escolhas contábeis (MARTINEZ, 2006). Como observado por Lev (1983, p. 31), o principal objetivo de EVAR é ganhar uma compreensão dos processos que afetam os lucros da firma porque tal entendimento é essencial 28 para o estudo de muitas questões em matéria de finanças, contabilidade e economia. De um modo geral, a dispersão dos resultados contábeis é entendida pelos investidores e credores como medida de risco (CASTRO; MARTINEZ, 2009). Por essa razão, as empresas que apresentam menor EVAR costumam ser mais atraentes para os investidores, além de terem como obter empréstimos com custos mais reduzidos. Diante disso, os gestores podem suavizar os resultados para estabilizar o fluxo contínuo de lucros reportados (CASTRO, 2008; CASTRO; MARTINEZ, 2009; MATSUMOTO; PARREIRA, 2007; LOPES; TUKAMOTO, 2007). Stolowy e Breton (2000) definem o propósito da suavização dos resultados como a produção de fluxos de crescimento de lucros estáveis. Income smoothing é uma forma característica de gerenciamento dos resultados com a intenção de manipulação dos resultados para reduzir a sua volatilidade, afirmam Castro e Martinez (2009) citando Black, Sellers e Manly (1998). Estes autores argumentam que desta forma, os gestores conduzirão EVAR em um nível que pode ser considerado natural, preservando assim, os lucros reportados. Na concepção de Imhoff (1981) a suavização dos resultados consiste em um caso especial de divulgação imprópria de informações financeiras. É um método que pressupõe um esforço deliberado no sentido de sua divulgação de forma a que seja reduzida artificialmente a variação dos fluxos de lucros. O income smoothing é tratado por Martinez (2001) como o gerenciamento de resultados para reduzir a variabilidade, com o propósito de manter os resultados em determinado patamar e evitar sua excessiva flutuação. Assim sendo, se os resultados forem baixos, os gestores procuram aumentá-lo, e, quando são bem elevados, há a tendência de reduzi-los. Na visão de Beattie et al. (apud CASTRO; MARTINEZ, 2009), o income smoothing pode ser interpretado como uma forma de diminuir a volatilidade do lucro para conduzi-lo a um nível esperado em um ou mais períodos. De acordo com Beidleman (1973), a prática da suavização dos resultados representa uma suavização proposital nas flutuações de uma série de resultados contábeis. Essa prática é adotada por gestores de várias empresas, já que variações constantes nos resultados geralmente são vistas como sério indicador de risco por parte dos credores e investidores, como já mencionado (CASTRO; MARTINEZ, 2009). Income smoothing é uma forma de gerenciamento de resultados e é geralmente definida como uma tentativa deliberada de suavização das flutuações do lucro cujo objetivo é 29 torná-lo menos volátil em um período de tempo contínuo (CASTRO; MARTINEZ, 2009; RONEM; YAARI, 2008; BARNEA et al., 1976 ). Ronen e Sadan (1981) o definem como uma prática de manipulação cujo objetivo é inibir as flutuações temporais do lucro. Black, Sellers e Manly (1998) entendem que, para que ocorra a prática do income smoothing, os gestores precisam manter os lucros próximos a um patamar considerado normal, evitando assim todo tipo de volatilidade. Em outras palavras, a gestão está inclinada a tomar medidas para aumentar os ganhos quando os lucros são relativamente baixos e diminuir os ganhos quando os lucros são relativamente elevados. Dentre as principais razões para os gestores suavizarem os resultados estão: a maximização da sua própria riqueza, a redução da percepção de risco, o aumento do valor da empresa, o cumprimento dos contratos de dívidas (debt covenants), a redução dos custos fiscais, e a melhoria nas relações com os funcionários, credores e investidores. Os modelos teóricos de income smoothing fornecem duas visões contrastantes sobre o porquê de os gestores optarem pela suavização dos resultados (LOPES; TUKAMOTO, 2007). A primeira percepção considera o incoming smoothing como uma forma oportunista de gerenciar os resultados. Os gestores se sentem motivados a manipultar os resultados da empresa quando desejam estender seus mandatos na organização (FUNDENERG; TIROLE, 1995; DYE, 1988; ARYA et al., 1998), e para suavizar a sua própria compensação ao longo do tempo que é parte integrante da relação de agência entre o principal e o agente, permitindo que a relação entre ambos funcione de forma mais eficiente e eficaz (LAMBERT, 1984), como uma ferramenta de autopromoção, exaltando suas próprias qualidades (CHANEY; LEWIS, 1995). A segunda perspectiva sobre a suavização dos resultados considera o income smoothing como um veículo utilizado pelos gestores para transmitirem aos acionistas, informações privadas sobre as expectativas de desempenhos futuros (RONEN; SADAN, 1981; DEMSKI, 1998; CASTRO, 2008). O income smoothing é segregado em smoothing natural e smoothing intencional (MARTINEZ, 2001). Existem basicamente dois tipos de smoothing intencional: o real e o artificial, no entendimento de Ronen e Yaari (2007). Por esta classificação o real smoothing abrange as tomadas de decisões de investimento e produção como redutores da variabilidade dos resultados contábeis, ao passo que o artificial smoothing é alcançado por meio de escolhas de evidenciação e mensuração contábeis (CASTRO; MARTINEZ, 2009). (Ver Figura 1). Assim os accruals discricionários desempenham um importante papel na suavização dos resultados pelo volume de sua mensuração e pelo reconhecimento do período de sua evidenciação. Os ajustes não podem ser processados de forma indiscriminada sob o 30 risco de comprometer os interesses de longo prazo, porém pequenos ajustes em accruals discricionários, se revertidos em anos seguintes, provavelmente produzirão efeitos permanentes pouco adversos sobre a empresa. Outro ponto importante a ser destacado na prática do income smoothing é que os gestores preferem reportar lucros estáveis (GRAHAM et al., 2005), por entenderem que as empresas que apresentam lucros com aumentos suaves ao longo do tempo desfrutam de avaliações de mercado mais favoráveis (BARTH; ELLIOTT; FINN, 1999), uma vez que os analistas de mercado preferem seguir aquelas que apresentam lucros menos voláteis (PREVITS et al., 1994) e seus pareceres sobre estas empresas produzem impacto direto ou indireto sobre o desempenho de suas ações negociadas no mercado de capitais (LOH; MIAN, 2006; ERTIMUR; SUNDER; SUNDER, 2007). Dessa forma, Badrinath, Gay e Kale (1989) argumentam que os investidores institucionais normalmente evitam empresas que apresentam grandes oscilações em seus resultados, definindo-as como mais propensas a riscos. Moses (1987) observa que o processo de suavização implica uma relação direta de causa-efeito entre as flutuações dos resultados e o risco de mercado. Nesse sentindo, Beaver (2002) argumenta que a gestão de lucros pode melhorar ou prejudicar a qualidade dos resultados, o que determina o valor da empresa. Como o income smoothing é uma forma de gerenciamento dos resultados, também pode interferir na qualidade dos lucros reportados, e, portanto, no valor de mercado da empresa. Faz-se necessário mencionar que a suavização dos resultados ocorre com mais frequência em países que não dispõem de um sistema regulatório mais rígido (LEUZ; NANDA; WYSOCKI, 2003). A Figura 1 apresenta o processo de gerenciamento de resultados conhecido como income smoothing. 31 2.2.2 Big Bath accounting, Bump up e Cookie Jar Reserve ou Cookie Jar Accounting Na modalidade de gerenciamento de resultados conhecida como big bath accounting, os gestores reduzem os lucros correntes para aumentar os lucros futuros quando esses não conseguirem atingir as metas de bônus estabelecidas (KERSTEIN; RAI, 2007; BURGSTAHLER; DICHEV, 1997; MARTINEZ, 2001). Bump up pode ser definido como o gerenciamento de resultado que tem como objetivo ultrapassar as metas estabelecidas no momento em que elas estão muito próximas de serem atingidas para que a firma possa alavancar o preço de suas ações. Dessa forma, os resultados são suavizados por pequenas diferenças de valores (MOHANRAM, 2003). A modalidade de gerenciamento de resultados conhecida como cookie jar reserve ou cookie jar accounting se utiliza da constituição de elevadas provisões em períodos correntes que serão estornadas em períodos futuros com o objetivo de maximizar os resultados destes. Os modelos de gerenciamento de resultados aqui descritos se encontram representados na figura a seguir. 32 Figura 2: Modalidades de gerenciamento de resultados Fonte: Mohanram (2003, p. 4) 2.3 Accruals discricionários e não discricionários Pressupondo racionalidade quase plena dos agentes e que o mercado funciona na forma semi-forte, as empresas precisam oferecer resultados para manter seu valor de mercado maior do que seu valor contábil, objetivando criar expectativas de fluxo de caixa futuro aos seus acionistas e agentes interessados. A exposição desses resultados poderá influenciar no valor das ações, permitindo que o valor de mercado seja diferente do valor contábil da firma. Almeida, Lopes e Corrar (2008, p.2) postulam que No mercado de capitais, uma das medidas mais adotadas para indicar o desprendimento existente entre valor de mercado e valor contábil é o índice marketto-book (CHEN; ZHAO, 2004). Corporações que apresentam este índice muito alto indicam que os agentes possuem alta expectativa por resultados futuros (retorno das ações e fluxo de caixa), ou seja, o mercado reconhece informações que a contabilidade não é capaz de demonstrar claramente devido aos princípios e/ou dispositivos legais. Assim sendo, é possível considerar ser o índice market-to-book um incentivo ao mercado, que faz com que os gestores busquem ir ao encontro do que os acionistas esperam e, ao mesmo tempo, valorizar a importância da sua função. Pode surgir então a ação oportunista no que tange à discricionariedade das tomadas de decisões relativas à contabilidade das empresas por meio da flexibilidade dos princípios contábeis geralmente aceitos. 33 Tal conjuntura decorrente de incentivos ou restrições contratuais (debt covenants), da previsão dos analistas e/ou do mercado, regulatórios ou econômico-financeiros propicia uma oportunidade para os administradores tomarem decisões sobre os accruals, distorcendo a performance da empresa (WATTS; ZIMMERMAN, 1990; LOPES; MARTINS, 2005). Dessa forma, um índice que esteja de acordo com o que o mercado espera demonstra para acionistas e investidores uma boa reputação da organização, o que pode aumentar a liquidez de ações e o valor da empresa (SHAPIRO, 1983; WATTS; ZIMMERMAN, 1990). Segundo McNichols e Wilson (1988) a investigação do gerenciamento por meio dos accruals se realiza por dois gêneros de abordagens: os estudos pela utilização de um grupo de contas como portfolio approach (ou accruals agregados), e os que se realizam por meio de uma conta específica, como representative approach (ou accruals específicos). A principal questão envolvida no uso do gerenciamento de resultados reside no fato de o gestor discricionariamente aumentar ou reduzir esses accruals com o objetivo de ter influência sobre o lucro, incentivado por razões externas ao negócio (MARTINEZ, 2004). Nessas metodologias, os accruals totais são divididos em: a) Accruals discricionários (discretionary accruals) – que são artificiais e possuem o intuito exclusivo de manipular o resultado contábil; e b) Accruals não discricionários (non discretionary accruals) – que são inerentes às atividades da corporação. Os modelos econométricos que foram desenvolvidos avaliam os accruals discricionários como uma proxy do gerenciamento de resultados (HEALY, 1985; JONES, 1991; KANG; SIVARAMAKRISHNAN, 1995). Como se encontra em Paulo (2007, p. 9 ), Apesar de amplamente usados em investigações empíricas, os modelos que têm como base os accruals recebem críticas de alguns pesquisadores, pois falham na distinção dos accruals agregados resultantes das mudanças ocasionadas pelo ambiente econômico e das originadas pela manipulação dos dados contábeis (BENEISH, 2001). Os accruals podem determinar a variabilidade. É importante ressaltar que o valor deles possui um limite que dependerá de cada organização. Isso significa que, por mais que se possa gerenciar o resultado num sentido desejado, sempre se encontrará um impeditivo nas próprias contas contábeis. Diante disto conclui-se que os accruals discricionários não seriam boas proxies do gerenciamento de resultados (BARTOV; MOHANRAM, 2004). A utilização de accruals específicos ou em setores específicos, objetivando investigar quais itens são usados para o gerenciamento de resultados, seria uma alternativa para a 34 utilização das abordagens em accruals (MARTINEZ, 2001). A abordagem desagregada tem como vantagem a necessidade de sustentação teórica que se baseia no entendimento dos pesquisadores e a avaliação de como os tomadores de decisão mudam os incentivos associados com o objetivo contábil de estudo (FRANCIS, 2001). A seguir, apresenta-se a segregação dos accruals (Figura 3) e os tipos de gerenciamentos de resultados existentes (Figura 4). Figura 3: Segregação dos accruals em discricionários e não discricionários Fonte: Martinez (2001) 35 Figura 4: Padrões de “gerenciamento” de resultados contábeis a partir dos accruals discricionários (ad) Fonte: Martinez (2001) O foco deste estudo está no impacto incremental da intensidade dos accruals no EVAR. Os períodos do modelo de Jones (1991) são utilizados para segmentar o accrual total (TAC) dentro dos accruals discricionários (DAC) e os accruals não discricionários (NDAC) para cada ano da amostra. Os valores médios absolutos de NDAC (|NDAC|) e DAC (|DAC|) são regredidos contra a EVAR para determinar seu poder explicativo além de diversos outros fatores. |NDAC| são muitas vezes referidos como accruals normais. A associação entre |NDAC| e EVAR deverá ser positiva, porque estes accruals são em grande parte impulsionados por mudanças nas vendas que refletem eventos econômicos. Imhoff (1977), Lev (1983), Jones (1991) e outros relacionam vendas a esses eventos. Dependendo das circunstâncias, o |DAC| pode aumentar ou diminuir a EVAR (JAYARAMAN, 2008). Em alguns casos, os efeitos líquidos dos accruals poderiam ser uma combinação de efeitos, como um “big bath” write-downs e suavização (KIRSCHENHEITER; MELUMAD, 2002). Em um nível prático, a capacidade de uma empresa para romper a correlação serial no processo de resultados subjacentes através dos accruals está sujeita à flexibilidade do GAAP (GUAY; KOTHARI; WATTS, 1996, p. 88). 36 Para determinados processos, as tentativas de suavização poderiam ter exatamente o efeito oposto (BEAVER, 1970, p. 62). Além disso, a volatilidade operacional geralmente tende a aumentar o |DAC| (HRIBAR; NICHOLS, 2007). 37 3 METODOLOGIA 3.1 MENSURAÇÃO DO EVAR Estudos anteriores demonstram diferentes graus de income smoothing entre as empresas (WHITE, 1970; DASCHER; MALCOLM, 1970; BELKAOUI; PICUR, 1984; ALBRECHT; RICHARDSON, 1990; ASHARI et al., 1994; JAYARAMAN, 2008). Este trabalho se propõe a explorar diferentes questões sobre os determinantes de EVAR. Com o objetivo de ampliar o impacto dos accruals na variação dos resultados no longo prazo, Levy (1983) e Luttman e Silhan (1995) utilizaram a metodologia de cross-sectional na elaboração dos seus estudos sobre os determinantes de EVAR. O EVAR é a variável dependente e foi calculada para o período de 8 anos, que terminou em 2007. Utilizou-se o coeficiente de variação do retorno sobre os ativos (ROA), calculado da seguinte forma: EVAR = σ (ROA) / |µ(ROA)| Eq. 1 Em que: σ (ROA) = desvio padrão do retorno sobre os ativos para a empresa i, ROA = lucro líquido da empresa i no período t, escalonado pelo ativo total no período t-1. |µ(ROA)| = média de retorno sobre os ativos da empresa i. Desta forma, usou-se uma análise de regressão múltipla para testar a hipótese nula de que os accruals não interferem na variabilidade dos resultados. Desta forma, aplica-se a seguinte equação: EVAR = f (accruals, SIZE, DUR, NPM, GROW, LEVR) Eq. 2 Nota: SIZE = tamanho da firma, DUR = durabilidade do produto, GROW = performance corporativa, LEVR = alavancagem financeira. 38 De acordo com a equação 2, o EVAR é uma função da discricionariedade dos accruals contábeis e de diversos outros fatores. A busca pela geração de informação confiável e relevante que represente a substância econômica das transações leva os normatizadores contábeis a elaborar pronunciamentos que privilegiem o exercício de julgamento profissional e estimativas por parte de preparadores e auditores das demonstrações contábeis. Esses julgamentos e estimativas são suscetíveis a erros e ações oportunistas. 3.2 MENSURAÇÃO DOS FATORES QUE SUPOSTAMENTE DETERMINAM O EVAR 3.2.1 Outros fatores Pesquisas anteriores identificaram vários fatores determinantes da EVAR. Usam-se neste trabalho as variáveis de Lev (1983) e Luttman e Silhan (1995) para controlar tais fatores. Para o controle de outros fatores, diversas variáveis são utilizadas, uso este apoiado por pesquisas anteriores como variáveis de controle. 3.2.1.1 Tamanho da firma O tamanho da organização reflete uma variedade de fatores que poderiam afetar a EVAR (LEV, 1983). Estes fatores incluem, por exemplo, a discricionariedade gerencial (WILLIAMSON, 1963), os custos políticos (WATTS; ZIMMERMAN, 1978) e diversificação (SILHAN, 1984). Prevê-se uma associação negativa entre o tamanho da firma e a EVAR. O tamanho foi medido utilizando o reconhecimento das médias anuais de vendas em milhões (2000-2007), que é o critério que a Fortune 500 utiliza em seu ranking anual de vendas para classificar as maiores empresas. Consistentemente com Lev (1983), Cox (1987), Luttman e Silhan (1995), Kothari, Laguerre e Serra (2002), entre outros, o sinal esperado entre tamanho (SIZE) e EVAR é negativo. 39 3.2.1.2 Durabilidade do produto A demanda por bens duráveis é geralmente vista como mais volátil do que a demanda por bens não duráveis. A teoria econômica considera que o consumo dos bens não duráveis é uma função da renda permanente, enquanto os gastos com bens duráveis possuem relação com a renda transitória (LEV, 1983). Por esta razão, prevê-se neste trabalho uma associação positiva entre EVAR e a durabilidade do produto (DUR). 3.2.1.3 Performance corporativa Diversas variáveis de desempenho são incluídas porque o desempenho das empresas tem sido associado a EVAR, especialmente na literatura de estratégia (BOWMAN, 1980; ANDERSEN; DENRELL; BETTIS, 2007). Bowman (1980) verificou que empresas de alto desempenho tendem a ter menor EVAR do que as firmas de baixo desempenho. Esse “paradoxo do risco-retorno” tem sido atribuído a uma variedade de fatores, incluindo comportamentos de risco (BOWMAN, 1982) e capacidade de resposta estratégica (ANDERSEN; DENRELL; BETTIS, 2007). Empresas de alto desempenho refletem a capacidade das organizações de reportar resultados superiores (BOWMAN, 1980). Em um ambiente de mudanças, o tempo de obtenção de adequação estratégica demanda mais (e outros) recursos, o que propicia que uma empresa avalie as mudanças ambientais, formule uma resposta apropriada, e então reconfigure os recursos internos de forma adequada (ANDERSEN; DENRELLA; BETTIS, 2007, p. 410). Curiosamente, os benefícios do gerenciamento de risco corporativo são ligados à incerteza do ambiente (GORDON; LOEB; TSENG, 2009). Luttman e Silhan (1995) incorporam a margem de lucro líquido e crescimento das vendas como determinantes de EVAR associadas ao desempenho. A Standard & Poor’s considera que níveis mais elevados e estáveis de rentabilidade trazem resultados maiores e mais estáveis e aumento nos dividendos (SAMTICCHIA; MURPHY, 2005, p. 23). Devido a esse cenário, prevê-se uma associação negativa entre a margem de lucro líquido (NPM) e EVAR, e uma associação negativa entre crescimento (GROW) e EVAR. 40 A NPM foi medida com percentual médio do lucro líquido sobre as receitas líquidas. Essa medida demonstra as diferenças do cross-sectional na rentabilidade corporativa (SLADE, 1986; SANTICCHIA; MURPHY, 2005). Para refletir a rentabilidade sustentada, a NPM foi baseada em 8 anos de dados. De acordo com Luttman e Silhan (1995), o sinal esperado entre NPM e EVAR é negativo. A GROW foi medida utilizando porcentagem média de crescimento de longo prazo nas vendas anuais. Para que esta medida de desempenho reflita um crescimento sustentado, a mesma é baseada em 8 anos de dados. Consistente com Luttman e Silhan (1995), o sinal esperado entre GROW e EVAR é negativo. 3.2.1.4 Alavancagem financeira Dhaliwal (1988) e outros observaram que seria esperado que a EVAR aumentasse com o aumento da alavancagem financeira. Prevê-se uma associação positiva entre alavancagem (LEVR) e EVAR. A LEVR foi usada para investigar os efeitos da alavancagem financeira sobre EVAR. A LEVR foi medida utilizando a proporção entre a média da dívida total e dos ativos totais. Em conformidade com Luttman e Silhan (1995) e Kothari, Laguerre e Leone (2002), o sinal esperado entre LEVR e EVAR é positivo. 3.3 ANÁLISE DE REGRESSÃO A análise de regressão foi usada para avaliar o poder explicativo dos modelos de cross-sectional a seguir: EVAR = α + β1SIZE + β2DUR + β3NPM + β4GROW + β5LEVR + ε (Modelo 1) Eq. 3 41 EVAR = α + β1 SIZE + β2DUR + β3NPM + β4GROW + β5LEVR + β6|NDAC| + β7|DAC| + ε (Modelo 2) Eq. 4 EVAR = α + β1 SIZE + β2DUR + β3NPM + β4GROW + β5LEVR + β8|TAC| + ε (Modelo 3) Eq. 5 Em que: EVAR = variabilidade dos resultados para a empresa i, SIZE = log das receitas da empresa i, DUR = variável dummy indicando a produção de bens de consumo duráveis da empresa i, NPM = lucro líquido do período t escalonado pelas receitas do período t da empresa i, GROW = receitas do período t, escalonadas pelas receitas no período t-1 da empresa i, LEVR = empréstimos e financiamentos a curto e longo prazo no período t, escalonados pelo ativo total no período t da empresa i, |NDAC| = média de accruals não discricionários escalonados pelo ativo total da empresa i, |DAC| = média de accruals discricionários escalonados pelo ativo total da empresa i, |TAC| = média de accruals totais escalonados pelo ativo total da empresa i. ε = erro de regressão (resíduos) α, β1, β2 , β3 , β4 , β5 , β6 , β7 e β8 = coeficientes estimados da regressão Nesta pesquisa, |NDAC|, |DAC| e |TAC| são as variáveis principais de interesse. Essas variáveis são consideradas como independentes. Com efeito, estas variáveis refletem a variabilidade de accruals numa firma de base sólida ao longo do tempo. A inclusão ou acréscimo no modelo 2 e no modelo 3 proporcionam evidências sobre o poder explicativo incremental dos accruals. Os accruals totais foram calculados baseados na abordagem de estimação pautada nas contas do Balanço Patrimonial (HEALY, 1985; DeANGELO, 1986; JONES, 1991; DECHOW et al., 1995; KANG; SIVARAMAKRISHNAN, 1995; BURGSTAHLER; DICHEV, 1997; TEOH et al., 1998; HEALY; WAHLEN, 1999; MARTINEZ, 2001; ZENDERSKY, 2005; PAE, 2005; ALMEIDA, 2006; PAULO, 2007). 42 TACt = ((∆CAt – ∆Casht) – ∆CLt – Deprt) / At-1 Eq. 6 Em que: TACt = accruals totais da empresa no período t; ∆CAt = variação do ativo corrente (circulante) da empresa no final do período t-1 para o final do período t; ∆Casht = variação das disponibilidades da empresa no final do período t-1 para o final do período t; ∆CLt = variação do passivo corrente (circulante) da empresa no final do período t-1 para o final do período t; Deprt = montante das despesas com depreciação e amortização da empresa durante o período t; At-1 = ativos totais da empresa no final do período t-1. Conforme Jones (1991), o modelo de regressão a seguir foi usado para estimar NDAC e DAC, para cada firma: TACit = α (1/Ait–1) + β1 (∆REVit) + β2 (PPEit) + εit Eq. 7 Em que TACit = accruals totais da empresa i no período t, escalonados pelos ativos totais no final do período t-1; ∆REVit = variação das receitas líquidas da empresa i do período t-1 para o período t, escalonada pelos ativos totais no final do período t-1; PPEit = saldos das contas do Ativo Imobilizado e Ativo Diferido (bruto) da empresa i no final do período t, escalonados pelos ativos totais no final do período t-1; Ait–1 = ativos totais da empresa no final do período t -1; εit = erro de regressão (resíduos) α, β1, β2 = coeficientes estimados da regressão 43 Para cada empresa da amostra, o termo de erro residual εit serve como uma medida de componente DAC. O TAC inclui mudanças no capital de giro (contas a receber, estoque e contas a pagar) e depreciação. As variáveis independentes, ∆ Receitasit e PPEit, estão incluídas para refletir o componente NDAC dos accruals. Alterações nas vendas líquidas e o nível de ativo imobilizado e diferido refletem alterações nas condições de funcionamento. Com efeito, este modelo de regressão assume que a relação entre essas variáveis e NDAC está associada. Todos os accruals são escalonados por ativos defasados para reduzir a heterocedasticidade e mínimos quadrados ordinários são usados para estimar este modelo. Usando esses resultados da regressão, NDAC e DAC foram computados para cada firma, como segue: NDACit = α (1/At–1) + β1 (∆REVit) + β2 (PPEit) Eq. 8 DACit = TACit – NDACit Εq. 9 Levando em conta a possibilidade de manipulação das vendas a prazo, utilizou-se o modelo Jones Modificado (1995) para estimar NDAC, para cada firma: NDACit = α (1/At–1) + β1 (∆REVt – ∆RECt) + β2 (PPEt) Eq. 10 Em que: ∆REVit = variação das receitas líquidas da empresa i do período t-1 para o período t, escalonada pelos ativos totais no final do período t-1; ∆RECit = variação das contas a receber (clientes) da empresa i do período t-1 para o período t, escalonada pelos ativos totais no final do período t-1; PPEit = saldos das contas Ativo Imobilizado e Ativo Diferido (bruto) da empresa i no final do período t, escalonados pelos ativos totais no final do período t-1; Ait–1 = ativos totais da empresa no final do período t -1; Α e β´s = coeficientes estimados da regressão; 44 3.4 AMOSTRA Para analisar os fatores determinantes da variabilidade no processo de income smoothing no mercado brasileiro foi escolhida uma amostra de empresas do país que constam no banco de dados da Economática, com as seguintes características: a) Estão listadas para negociação na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). b) Dispõem de informações contábeis no intervalo de 2000 a 2007, sendo que algumas empresas dispunham de informações para o período completo. c) Estão distribuídas em 19 setores (indústria, comércio e serviços) não financeiros. Desse modo, foram coletados dados de 165 empresas no período 2000-2007. Todas estas empresas apresentavam dados completos em 2007, o que significa que estavam ativas nesse ano. Nossa base, porém, continha alguns missings. Além disso, foram eliminadas as observações cujos dados não pertenciam ao intervalo de três desvios padrão para baixo e três desvios padrão para cima em relação ao valor médio das variáveis consideradas. Os filtros de seleção da amostra estão evidenciados nas tabelas a seguir. A tabela 1 indica que o |TAC| do Modelo Jones foi estimado com 1.118 observações de 163 empresas, o que representa uma média de 6,86 anos de observações/empresas. Tabela 1 – Filtros de Seleção da Amostra na Estimação |TAC| – Modelo Jones (1991) Estimação |TAC| - Modelo Jones Nº Observações Excluídas Início Missings Values Outliers nas Variáveis Outliers nos Resíduos Total 136 36 30 202 % Total Perdas - Outilers % Total Perdas - Missings Values 5% 10% Nº Obersevações 1.320 1.184 1.148 1.118 Quantidade de Empresas 165 165 164 163 Quantidade de Anos 8,00 7,18 7,00 6,86 45 Já o |TAC| do Modelo Jones Modificado, conforme indicado na tabela 2, foi estimado com 1.073 observações de 163 empresas, o que representa uma média de 6,58 anos de observações/empresas. Tabela 2 - Filtros de Seleção da Amostra na Estimação |TAC| - Modelo Jones Modificado (1995) Estimação |TAC| - Modelo Jones Modificado Nº Observações Excluídas Início Missings Values Outliers nas Variáveis Outliers nos Resíduos Total 191 31 25 247 % Total Perdas - Outilers % Total Perdas - Missings Values 4% 14% Nº Obersevações 1.320 1.129 1.098 1.073 Quantidade de Empresas 165 165 164 163 Quantidade de Anos 8,00 6,84 6,70 6,58 Por fim, pela tabela 3 temos que a estimação EVAR contou com 138 empresas, o que representa uma exclusão de aproximadamente 15% de outliers no modelo. Tabela 3 - Filtros de Seleção da Amostra na Estimação |TAC| Estimação EVAR Início Outliers nas Variáveis Outliers nos Resíduos Total % Total Perdas - Outilers Nº Empresas Excluídas Nº Total Empresas 163 14 149 11 138 25 15% 46 4 RESULTADOS Seguindo Kang e Silhan (2010), três modelos foram estimados de forma a avaliar o poder explicativo incremental dos accruals contábeis na estimação de EVAR. O Modelo 1 é a regressão de benchmark sem accruals, o Modelo 2 acrescenta ao Modelo 1 os accruals desagregados (|NDAC| e |DAC|) e o Modelo 3 acrescenta ao Modelo 1 os accruals totais (|TAC|). Além disso, para medir a sensibilidade dos resultados com relação à forma de estimação dos accruals, os modelos 1, 2 e 3 foram estimados considerando-se os modelos Jones e Jones Modificado. Conforme exposto na seção 3.3, diferentemente do Modelo Jones, o Modelo Jones Modificado leva em conta a manipulação das vendas a prazo através do coeficiente β1. Os resultados das estimações estão evidenciados nas tabelas a seguir. A análise destes resultados, bem como a conclusão do presente estudo, será apresentada nas próximas seções. 4.1 MODELO JONES Os resultados da nossa estimação |TAC| de acordo com o Modelo Jones para as 163 empresas consideradas são apresentados na Tabela 4. 47 Tabela 4 - Resultados da Regressão dos Accruals Totais - Modelo Jones (1991) Médias Amostra 1/Ait -1 ∆REVit PPEt R² Durbin- Número de Número de (t-es tat ís t ico ) (t-es t atí s t ico ) (t-es t atí s tico ) Ajustado Watson Anos Firmas 326,815 0,129*** -0,089*** 0,191 1,744 8 163 (0,829) (9,373) (-15,695) |TAC| *. O coeficiente estimado é significante ao nível de 10% **. O coeficiente estimado é significante ao nível de 5% ***. O coeficiente estimado é significante ao nível de 1% Na Tabela 5 temos um resumo das médias, desvios-padrão e correlações. Entre as variáveis de controle, a correlação mais forte foi entre GROW e SIZE (0,287). Já a correlação mais forte com a variável dependente foi entre SIZE e EVAR (-0,231). Ao contrário do que se esperava, as variáveis DUR e EVAR apresentaram correlação negativa (-0,045). No geral, vêse que as correlações entre EVAR e as variáveis explicativas, incluindo |NDAC| e |DAC|, não são muito fortes. Tabela 5 - Composição da Amostra Estatística - Modelo Jones (1991) Variável Média EVAR SIZE DUR NPM GROW LEVR |NDAC| |DAC| Desvio Pearson Mínimo Máximo Padrão EVAR SIZE 1,420 Correlação Coeficiente NPM GROW LEVR |NDAC| |DAC| DUR 0,675 0,261 0,184 1 13,614 1,607 9,647 0,360 0,480 0,000 1,000 -0,045 -0,238*** 0,104 0,072 0,163 0,386 -0,085 -0,062 0,057 1 0,185 0,136 -0,195 0,587 -0,160 0,287** 0,142 -0,027 1 0,103 0,063 0,000 0,351 0,161 0,029 -0,015 -0,190** -0,124 1 0,035 0,016 0,006 0,078 0,150 0,123 -0,253*** 0,290** -0,086 -0,101 0,061 0,031 0,129 0,167 0,124 -0,154 18,386 -0,231*** 1 1 0,194** 0,057 0,227** 1 0,109 -0,176** 1 Nota: EVAR = coeficiente de variação de retorno dos ativos, SIZE = log das receitas (em milhões), DUR = variável dummy para produtos duráveis, NPM = margem do lucro líquido, GROW = taxa de crescimento das vendas, LEVR = grau de 48 alavancagem financeira, |NDAC| = média absoluta do valor dos accruals não discricionários, |DAC| = média absoluta do valor dos accruals discricionários. **. A correlação é significante ao nível de 5% ***. A correlação é significante ao nível de 1% 4.1.1 Estimação de EVAR Os resultados da nossa estimação de EVAR são apresentados na Tabela 6. Na Tabela 7 apresentamos, para efeito de comparação, os resultados encontrados por Kang e Silhan (2010). Tabela 6 - Resultados da Regressão na Amostra Completa - Modelo Jones (1991) Modelo 1 Variável Modelo 2 Modelo 3 Coeficiente Beta t-estatístico Coeficiente Beta t-estatístico Coeficiente Beta t-estatístico Intercepto SIZE [-] DUR [+] NPM [-] GROW [-] LEVR [+] NDAC [+] |DAC| |TAC| R² Ajustado 1,216*** -0,039*** -0,048 -0,252 -0,118 0,601* 0,065 -0,243 -0,088 -0,069 -0,062 0,146 5,953 -2,687 -1,007 -0,819 -0,687 1,716 1,024*** -0,039*** -0,025 -0,561* -0,166 0,558 3,952*** 1,289* (n = 138) 0,117 [ ] Indica os sinais esperados *. O coeficiente estimado é significante ao nível de 10% **. O coeficiente estimado é significante ao nível de 5% ***. O coeficiente estimado é significante ao nível de 1% -0,238 -0,046 -0,154 -0,086 0,135 0,246 0,154 4,829 -2,635 -0,527 -1,777 -0,949 1,612 2,769 1,761 (n = 138) 1,024*** -0,034** -0,045 -0,430 -0,220 0,484 1,756** 0,103 -0,210 -0,083 -0,118 -0,115 0,118 0,219 4,788 -2,348 -0,973 -1,390 -1,272 1,398 2,557 (n = 138) 49 Tabela 7 - Resultados da Regressão na Amostra Completa - Modelo Jones (1991) apresentados por Kang & Silhan Modelo 1 Variável Modelo 2 Modelo 3 Coeficiente t-estatístico Coeficiente t-estatístico Coeficiente t-estatístico 1,8396 -0,1290 0,2024 -8,9287 -1,5790 0,8670 21,847 -13,821 5,110 -24,774 -6,427 7,365 1,2391 -0,0840 0,1593 -7,5984 -2,0589 0,6024 3,9804 5,7947 12,737 -8,232 4,114 -20,510 -8,545 5,196 6,035 7,724 1,2553 -0,0900 0,1745 -7,7411 -2,0008 0,6177 13,022 -9,344 4,563 -21,342 -8,350 5,347 0,4853 (n = 1649) 0,5219 (n = 1649) 6,7540 0,5223 11,322 (n = 1649) Intercepto SIZE [-] DUR [+] NPM [-] GROW [-] LEVR [+] NDAC [+] |DAC| |TAC| R² Ajustado Diferentemente do encontrado por Kang e Silhan (2010), nossos resultados indicam que o poder explicativo dos três modelos – medido pelo R-quadrado ajustado – é muito baixo e muitas variáveis de controle não se mostraram significantes. Isso provavelmente significa que o modelo para o caso brasileiro seria diferente, isto é, EVAR seria explicada por outras variáveis de controle. No Modelo 1 apenas as variáveis SIZE e LEVR são significantes estatisticamente. A variável SIZE apresenta o maior dos coeficientes beta, o que indica que, das variáveis de controle, esta é a que mais influencia o EVAR. Já no Modelo 2, que inclui os accruals como um fator explicativo, SIZE, NPM, |NDAC| e |DAC| são significantes. As variáveis que apresentam os maiores coeficientes beta são SIZE e |NDAC|. O sinal de |NDAC| é positivo, como esperado, refletindo a sua ligação à variabilidade das receitas de vendas. A variável |DAC| também apresenta sinal positivo, o que é consistente com o fato de |DAC| refletir o risco dos accruals (DECHOW; DICHEV, 2002) e a volatilidade operacional (HRIBAR; NICHOLS, 2007). Este resultado, porém, não descarta a prática de income smoothing. Ele indica apenas que o impacto líquido dos accruals parece refletir mais a variabilidade inata do que a suavização discricionária. O Modelo 3 usa |TAC| para representar os accruals em vez de |NDAC| e |DAC|. A variável |TAC| tem sido usada para representar a propensão de uma empresa para gerar os accruals (FRANCIS; MAYDEW; SPARKS, 1999). Na estimação deste trabalho, SIZE e |TAC| foram significativos. Estas duas variáveis também apresentaram os maiores 50 coeficientes beta. |TAC| apresentou uma correlação positiva com EVAR, o que é compatível com Wartfield, Wild e Wild (1995, p.81) e Dichev e Tang (2009, p. 174). Assim como em Kang e Silhan (2010), o R-quadrado ajustado dos Modelos 2 e 3 foi maior do que o do Modelo 1, o que indica que os accruals adicionariam volatilidade além das variáveis de controle contidas no Modelo 1. Por outro lado, o R-quadrado ajustado se reduziu ligeiramente do Modelo 2 para o Modelo 3, passando de 0,117 para 0,103. Tal resultado é diferente ao encontrado por Kang e Silhan (2010) e indica que a separação de |TAC| em |NDAC| e |DAC| aumenta ligeiramente o poder explicativo do modelo. A influência dos accruals também é corroborada pelos resultados apresentados na Tabela 8, uma vez que as variações do R² tanto do Modelo 1 para o Modelo 2 quanto do Modelo 1 para o Modelo 3 são significantes. Tabela 8 – Variações do R² – Modelo Jones (1991) R² Modelo 1 0,099 Modelo 2 0,162 Variação do Modelo 1 para o Modelo 2 -0,063 Modelo 1 0,099 Modelo 3 0,142 Variação do Modelo 1 para o Modelo 3 Valor-P -0,043 0,009 0,012 4.2 MODELO JONES MODIFICADO A Tabela 9 contém os resultados da estimação |TAC| de acordo com o Modelo Jones Modificado para as 163 empresas consideradas. Este novo modelo de estimação dos accruals não parece acrescentar poder explicativo em relação ao Modelo Jones, uma vez que o Rquadrado ajustado encontrado é de 0,149 ante 0,191 do modelo anterior. 51 Tabela 9 - Resultados da Regressão dos Accruals Totais - Modelo Jones Modificado (1995) Médias Amostra 1/Ait -1 ∆REVit - PPEt R² Durbin- Número de Número de ∆RECit (t-es tatís tico ) (t-es tatís tico ) (t-es tatís tico ) Ajustado Watson Anos Firmas 573,219 0,099*** -0,08*** 0,149 1,733 8 163 (1,412) (6,092) (-13,593) |TAC| *. O coeficiente estimado é significante ao nível de 10% **. O coeficiente estimado é significante ao nível de 5% ***. O coeficiente estimado é significante ao nível de 1% A Tabela 10, que traz um resumo das estatísticas descritivas das variáveis, mostra que a correlação entre |NDAC| e |DAC| aumenta, passando de -0,176 no Modelo Jones para -0,293 no modelo atual. Por outro lado, a correlação de cada um dos accruals com EVAR é menor. Tabela 10 - Composição da Amostra Estatística - Modelo Jones Modificado (1995) Variável Média 0,675 EVAR 13,614 SIZE 0,360 DUR 0,104 NPM GROW 0,185 0,103 LEVR |NDAC| 0,035 0,061 |DAC| Desvio Pearson Mínimo Máximo Padrão EVAR SIZE 1,420 Correlação Coeficiente NPM GROW LEVR |NDAC| |DAC| DUR 0,261 0,184 1 1,607 9,647 0,480 0,000 1,000 -0,045 -0,238*** 0,072 0,163 0,386 -0,085 -0,062 0,057 1 0,136 -0,195 0,587 -0,160 0,287** 0,142 -0,027 1 0,063 0,000 0,351 0,161 0,029 -0,015 -0,190** -0,124 0,016 0,005 0,077 0,136 0,031 0,013 0,177 0,106 18,386 -0,231*** 1 1 0,184** -0,293*** 0,291*** -0,127 0,198** 1 -0,157 -0,108 1 0,053 0,250*** 0,138 -0,293*** 1 Nota: D.P. = desvio padrão, EVAR = coeficiente de variação de retorno dos ativos, SIZE = log das receitas (em milhões), DUR = variável dummy para produtos duráveis, NPM = margem do lucro líquido, GROW = taxa de crescimento das vendas, 52 LEVR = grau de alavancagem financeira, |NDAC| = média absoluta do valor dos accruals não discricionários, |DAC| = média absoluta do valor dos accruals discricionários. **. A correlação é significante ao nível de 5% ***. A correlação é significante ao nível de 1% 4.2.1 Estimação de EVAR Os resultados da estimação EVAR são apresentados na Tabela 11. Tabela 11 - Resultados da Regressão na Amostra Completa - Modelo Jones Modificado (1995) Variável Modelo 1 Modelo 2 Modelo 3 Coeficiente Beta t-estatístico Coeficiente Beta t-estatístico Coeficiente Beta t-estatístico 1,216*** 5,953 1,073*** 5,155 1,063*** 5,047 Intercepto -0,243 -0,266 -0,223 -2,687 -0,043*** -2,932 -0,036** -2,499 SIZE [ - ] -0,039*** -0,088 -0,041 -0,086 -1,007 -0,022 -0,464 -0,047 -1,000 DUR [ + ] -0,048 -0,069 -0,117 -0,252 -0,819 -0,596* -0,164 -1,873 -0,426 -1,370 NPM [-] -0,062 -0,064 -0,109 -0,118 -0,687 -0,123 -0,698 -0,210 -1,214 GROW [-] 0,146 0,136 0,112 0,601* 1,716 0,558 1,604 0,463 1,327 LEVR [+] 4,572*** 0,273 2,917 NDAC [+] 0,167 1,36* 1,861 |DAC| 0,206 1,722** 2,400 |TAC| 0,065 (n = 138) 0,119 (n = 138) 0,098 (n = 138) R² Ajustado [ ] Indica os sinais esperados *. O coeficiente estimado é significante ao nível de 10% **. O coeficiente estimado é significante ao nível de 5% ***. O coeficiente estimado é significante ao nível de 1% No Modelo 1, que não inclui os accruals, as variáveis SIZE e LEVR são significativas e SIZE apresenta o maior coeficiente beta1. No Modelo 2, as variáveis SIZE, NPM, |NDAC| e |DAC| apresentam significância. Destas, SIZE e |NDAC| são as que apresentam os maiores 1 Esta estimação é exatamente a mesma apresentada na Tabela 6. 53 betas. Os coeficientes de |NDAC| e de |DAC| têm sinal positivo, tal como encontrado no Modelo Jones. Já no Modelo 3, as variáveis SIZE e |TAC| são significativas e apresentam os maiores beta. |TAC| apresenta sinal positivo, como esperado. A inclusão dos accruals fez com que o R-quadrado ajustado aumentasse, passando de 0,065 no Modelo 1 para 0,119 no Modelo 2 e 0,098 no Modelo 3, o que indica que os accruals são relevantes para explicar a variabilidade. Ademais, como o R-quadrado ajustado do Modelo 2 é maior que o do Modelo 3, tem-se que a separação do |TAC| em |NDAC| e |DAC| acrescentaria poder explicativo à análise de EVAR. As variações do R² mostradas na Tabela 12 indicam que a inclusão dos accruals melhorou o poder explicativo do modelo. Tabela 12 – Variações do R² – Modelo Jones Modificado (1995) R² Modelo 1 0,099 Modelo 2 0,164 Variação do Modelo 1 para o Modelo 2 -0,065 Modelo 1 0,099 Modelo 3 0,137 Variação do Modelo 1 para o Modelo 3 -0,038 Valor-P 0,008 0,018 54 5 CONCLUSÕES Neste trabalho, investigou-se o impacto incremental da intensidade dos accruals na variabilidade dos resultados (EVAR). Com efeito, este estudo serve para estender as evidências de Kang e Silhan (2010), que investigaram este mesmo impacto usando uma amostra de empresas norte-americanas. Além disso, estende-se também o trabalho de Luttman e Silhan (1995), que identificaram os cinco principais determinantes de EVAR à parte de características setoriais. Estes determinantes seriam o tamanho da firma (SIZE), a durabilidade do produto (DUR), a performance da firma (NPM e GROW) e a sua alavancagem financeira (LEVR). O diferencial deste trabalho está não apenas em replicar o estudo de Kang e Silhan (2010) para uma amostra de empresas brasileiras como também em adotar duas diferentes metodologias para a estimação dos accruals – os Modelos Jones e Jones Modificado. Em seu estudo, Kang e Silhan (2010) usam apenas o Modelo Jones para estimar os accruals. Suas estimações dos três modelos EVAR têm um bom poder explicativo – medido pelo R-quadrado ajustado – e apresentam todas as variáveis significativas, o que inclui tantos as variáveis de controle quanto os accruals. Estes resultados permitem aos autores concluir que a intensidade dos accruals é maior nas empresas com alto EVAR do que em empresas com baixo EVAR. No presente estudo, porém, os resultados são um pouco diferentes. O poder explicativo dos três modelos de estimação de EVAR é muito baixo e muitas variáveis previstas no modelo estrutural não se mostraram significativas nos níveis convencionais. Ademais, a separação do |TAC| em |NDAC| e |DAC| parece acrescentar poder explicativo à análise de EVAR. No entanto, a hipótese de que os accruals têm impacto positivo em EVAR foi corroborada. No caso do Modelo 1, que considera apenas as variáveis de controle, conforme identificados por Luttman e Silhan (1995), apenas SIZE e LEVR foram significantes. A variável SIZE apresentou o coeficiente beta mais elevado. Quanto ao Modelo 2, que inclui os accruals desagregados |NDAC| e |DAC|, estas variáveis apresentaram significância para explicar EVAR tanto na estimação pelo Modelo Jones como na estimação pelo Modelo Jones Modificado. Em ambos os casos, as variáveis SIZE e |NDAC| apresentaram os maiores coeficientes beta. 55 Por fim, no Modelo 3, a variável |TAC|, que representa os accruals totais, também apresentou significância nos Modelos Jones e Jones Modificado. As variáveis SIZE e |TAC| apresentaram os coeficientes beta mais elevados. O poder explicativo do Modelo 2 foi ligeiramente maior do que o do Modelo 3 em ambos os modelos. A partir destes resultados, podemos concluir que os accruals adicionam volatilidade aos resultados de empresas brasileiras. Assim sendo, as firmas que apresentam menor EVAR são as que mais praticam o income smoothing. Desta forma os gestores de maneira intencional e artificial utilizam os accruals para reduzir o EVAR nas firmas. Uma vez reduzida a EVAR a patamares desejados pela gestão, a firma pode divulgar em suas demonstrações financeiras um fluxo regular de lucros com o objetivo de reduzir uma possível queda nos preços das ações (MOYER e SHEVLIN, 1995), apresentar uma melhor situação econômico-financeira no momento da oferta pública de ações, minimizar os custos políticos, evitar efeitos indesejados no descumprimento de cláusulas contratuais de crédito ou de dívida e reduzir o custo do capital de terceiros (TRUEMAN; TILMAN 1988). Com a divulgação de resultados com um menor EVAR, as firmas diminuem seus riscos no mercado e consequentemente atraem o interesse de investidores. Em sua pesquisa, Martinez (2006) demonstrou que os gestores se apropriam das despesas com provisão para devedores duvidosos, despesas de depreciação e receitas não operacionais para reduzir a EVAR. Além de identificar que existe uma correlação entre a redução do EVAR e as provisões para perdas em investimentos, reservas de reavaliação e as variações na amortização de ágio/deságio de investimentos. Além dos accruals, o tamanho da empresa parece ser bastante relavante para explicar EVAR. O tamanho da organização pode refletir fatores como a discrionariedade gerencial (WILLIAMSON, 1963), os custos políticos (WATTS; ZIMMERMAN, 1978) e a diversificação (SILHAN, 1984), o que faz com que a associação entre o tamanho da firma e EVAR seja negativa. Por fim, o fato de muitas variáveis de controle não apresentarem significância provavelmente significaria que o modelo para o caso brasileiro seria outro, isto é, que o EVAR das empresas brasileiras seria determinado por variáveis diferentes do EVAR das empresas norte-americanas. 56 REFERÊNCIAS ALBRECHT, W. D.; RICHARDSON, F. M. Income smoothing by economy sector. Journal of Business Finance & Accounting, v. 17, n. 5, p. 713-30, Dec. 1990.. 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J.; CAMPBELL, D. R. A closer look at discretionary writedowns of impaired assets. Accounting Horizons, v. 6, n. 3, p. 30-41, Sept. 1992. 68 GLOSSÁRIO ACCRUALS O termo accruals (acumulações) é apresentado como a diferença entre o lucro líquido e o fluxo de caixa operacional. Desse modo, accruals são as contas de resultado introduzidas na apuração do lucro, mas que não implicam uma movimentação de disponibilidades financeiras com o propósito de mensurar o resultado no sentido econômico, representando acréscimo efetivo na riqueza patrimonial. BENCHMARK Conjunto de normas, usado como ponto de referência para avaliar o desempenho ou o nível de qualidade. BIG BATH WRITE-DOWNS Possui a mesma definição de big bath write-off, ou seja, remove ou reduz os ativos financeiros dos livros contábeis, resultando em menor lucro líquido do exercício. BIG BATH WRITE-OFF O big bath write-off remove ou reduz os ativos financeiros dos livros contábeis, resultando em menor lucro líquido do exercício. DEBT COVENANTS Termo que vem do inglês e significa acordo. Trata-se de uma restrição legal imposta nos contratos de emissão de títulos, ou financiamento, nos quais o tomador de crédito tem suas atividades restritas e cujo objetivo é dar mais segurança ao financiador. EX. ANTE O termo ex-ante (por vezes escrito "ex ante" ou "exante") é uma expressão neolatina cujo significado é "antes do evento". Ex-ante é comumente utilizado na atividade comercial que resulta numa ação específica ou numa série de ações desencadeadas em antecipação. O oposto a ex-ante é ex-post (ou ex post). EX. POST Traduzido do latim significa "depois do fato". A utilização de retornos históricos tem sido tradicionalmente a forma mais comum de prever a probabilidade de incorrer em uma perda em um determinado dia. GAP Palavra de origem inglesa que significa período de tempo, lapso de tempo. IMPAIRMENTS É uma palavra inglesa que significa, em sua tradução literal, diminuição, redução e deterioração. Essa técnica determina que se os ativos estiverem avaliados por valor superior ao valor recuperável por meio do uso ou da venda, a entidade deverá reduzir estes ativos ao seu valor recuperável, reconhecendo no resultado a perda referente a essa desvalorização. MARKET-TO-BOOK É uma relação que compara o preço de mercado das ações ordinárias da firma com o valor do estoque contábil por ação. Essencialmente, o market-to-book relata o que os investidores acreditam que uma empresa vale e o que os contadores da empresa dizem que vale a pena de acordo com princípios contábeis geralmente aceitos. PORTFOLIO APPROACH Expressão utilizada para referenciar os accruals agregados, ou seja, referenciar um grupo de contas contábeis. 69 RATCHET EFFECT É um termo da teoria macroeconómica e se refere às mudanças da relação nominal dos salários ao nível dos preços (salários reais), na variante Keynesiania dos modelos totais para abrir e fechar a economia nacional. REPRESENTATIVE APPROACH Expressão utilizada para referenciar os accruals específicos, ou seja, referenciar contas contábeis específicas. STAKEHOLDERS São todas as partes ou grupos interessados nas atividades da firma: acionistas, governo, clientes, funcionários, fornecedores e sociedade. TAKING A BATH Expressão ou termo de Wall Street utilizado para definir a perda de muito dinheiro. 70 ANEXOS Tabela Modelo Jones Setores Agro e Pesca Alimentos & Bebidas Comércio Energia Elétrica Empresas Rasip Agro Renar Ambev BRF Foods Cacique Excelsior Iguacu Cafe Josapar M. Diasbranco Minupar Oderich Battistella Dimed Grazziotin Lojas Americ Lojas Hering Lojas Renner Minasmaquinas Natura P.Acucar-Cbd Profarma RaiaDrogasil Viavarejo Wlm Ind Com AES Elpa AES Sul AES Tiete Ampla Energ Ampla Invest Bandeirante Energ Ceee-Gt Celesc Celpa Celpe Cemar Cemat Nº Total Observações Nº Total Observações - Missings Values 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 6 8 8 8 8 8 8 4 8 3 4 8 8 8 8 8 8 4 8 2 8 8 5 6 8 8 8 2 8 8 6 8 8 8 1 8 8 4 8 3 4 8 8 8 Nº Total Observações Missing Values - Outlier nas Variáveis Outliers nos Resíduos 8 6 8 8 8 1 8 8 4 8 3 3 8 8 8 8 7 4 8 2 8 8 5 6 8 8 8 2 8 8 6 4 8 2 8 8 5 6 8 8 8 2 8 8 8 8 8 8 8 5 8 8 8 5 7 5 8 8 8 5 7 5 8 8 8 5 7 Nº Total Observações Missing Values Outlier nas Variáveis 71 Cemig Cesp Coelba Coelce Copel CPFL Energia CPFL Geracao CPFL Piratininga Elektro Eletrobras Eletropaulo Emae Energias BR Energisa Enersul Escelsa Ger Paranap Light S/A Neoenergia Paul F Luz Rede Energia Rio Gde Ener Tractebel Tran Paulist Celul Irani Fibria Papel & Celulose Klabin S/A Melhor SP Suzano Papel Ceg Comgas Petróleo & Gas Pet Manguinh Petrobras Bombril Braskem Elekeiroz M G Poliest Química Millennium Ultrapar Unipar Gol Serviço Transporte Tam S/A Embratel Part Telecomunicações La Fonte Tel Oi 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 6 8 8 7 6 8 8 8 6 8 7 6 6 8 8 8 6 8 7 6 6 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 5 7 8 8 8 8 6 6 8 8 8 8 7 8 8 7 8 8 8 8 8 8 8 8 5 8 8 8 5 8 8 8 8 8 8 8 8 5 7 8 8 8 8 6 6 8 8 8 8 7 8 8 7 8 8 8 8 8 8 8 8 5 8 7 8 4 8 8 8 7 8 8 8 8 5 7 8 8 8 7 6 6 8 8 8 7 7 8 8 6 8 8 8 4 8 8 8 8 5 8 7 8 4 8 8 8 7 72 Textil Construção Eletroeletrônicos Infraestrutura Transporte Máquinas Tele Nort Cl Telef Brasil Telemar N L Tim Part S/A Alpargatas Cambuci Cedro Cia Hering Coteminas Dohler Encorpar Fab C Renaux Grendene Guararapes Karsten Marisol Santanense Schlosser Vicunha Text Vulcabras Wembley Brookfield CC Des Imob Company Const A Lind Cyrela Realty Even Gafisa Helbor Lix da Cunha Mendes Jr Rossi Resid Sultepa Itautec Springer Whirlpool AGconcessoes All Amer Lat CCR AS Ecorodovias Fer C Atlant OHL Brasil Santos Bras Triunfo Part Bardella 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 5 3 6 8 8 8 8 7 8 8 2 2 3 8 8 2 8 3 8 8 8 8 8 8 8 5 8 8 4 8 3 7 6 8 8 8 7 7 8 8 8 8 8 8 8 5 3 6 8 8 8 8 7 6 8 2 2 3 7 8 2 8 3 8 8 8 8 8 8 8 5 8 8 3 8 3 7 4 8 8 8 7 6 8 8 8 8 8 8 8 5 3 6 8 8 8 7 7 6 8 2 1 2 5 8 8 3 8 8 8 7 8 8 8 4 8 8 3 8 3 7 4 8 73 Industriais Inds Romi Weg Vale Mineração Eternit Minerais Não Metais Nadir Figuei Aliperti Confab Ferbasa Forjas Taurus Gerdau Gerdau Met Hercules Kepler Weber Lupatech Siderúrgica & Metalúrgica Mangels Indl Met Duque Metisa Mundial Panatlantica Paranapanema Sid Nacional Tekno Usiminas Software & Dados Totvs Bic Monark Cobrasma DHB Embraer Fras-Le Iochp-Maxion Marcopolo Veiculos & Peças Metal Leve Plascar Part Pro Metalurg Randon Part Recrusul Schulz Tupy Wetzel S/A Total 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 7 7 7 8 8 4 8 8 7 8 8 8 8 8 8 3 8 4 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 7 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 7 7 7 7 8 4 8 8 7 8 8 8 8 8 8 2 8 3 8 8 8 8 8 8 8 4 8 8 7 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 7 7 7 7 8 3 8 8 6 8 8 8 8 8 8 1 8 1 8 7 8 7 8 8 7 3 8 6 7 8 8 1320 1184 1148 1118 74 Tabela Modelo Jones Modificado Setores Agro e Pesca Alimentos & Bebidas Comércio Energia Elétrica Empresas Rasip Agro Renar Ambev BRF Foods Cacique Excelsior Iguacu Cafe Josapar M. Diasbranco Minupar Oderich Battistella Dimed Grazziotin Lojas Americ Lojas Hering Lojas Renner Minasmaquinas Natura P.Acucar-Cbd Profarma RaiaDrogasil Viavarejo Wlm Ind Com AES Elpa AES Sul AES Tiete Ampla Energ Ampla Invest Bandeirante Energ Ceee-Gt Celesc Celpa Celpe Cemar Cemat Cemig Cesp Nº Total Observações Nº Total Observações - Missings Values 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 6 8 8 8 5 8 8 4 6 3 4 8 8 8 7 8 8 4 8 2 8 8 5 6 6 8 8 2 8 8 6 8 8 8 1 8 8 4 6 3 4 8 8 8 Nº Total Observações Missing Values - Outlier nas Variáveis Outliers nos Resíduos 8 6 8 8 8 1 8 8 4 6 3 3 8 8 8 8 7 4 8 2 8 8 4 6 6 8 8 2 8 8 6 4 8 2 8 8 4 6 6 8 8 2 8 8 8 8 8 8 8 8 8 5 8 8 8 5 7 8 8 5 8 8 8 5 7 8 8 5 8 8 8 5 7 8 8 Nº Total Observações Missing Values Outlier nas Variáveis 75 Coelba Coelce Copel CPFL Energia CPFL Geracao CPFL Piratininga Elektro Eletrobras Eletropaulo Emae Energias BR Energisa Enersul Escelsa Ger Paranap Light S/A Neoenergia Paul F Luz Rede Energia Rio Gde Ener Tractebel Tran Paulist Celul Irani Fibria Papel & Celulose Klabin S/A Melhor SP Suzano Papel Ceg Comgas Petróleo & Gas Pet Manguinh Petrobras Bombril Braskem Elekeiroz M G Poliest Química Millennium Ultrapar Unipar Gol Serviço Transporte Tam S/A Embratel Part La Fonte Tel Telecomunicações Oi Tele Nort Cl Telef Brasil 8 8 8 8 8 8 8 5 8 8 6 6 8 5 8 7 6 6 8 5 8 7 6 6 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 5 6 8 8 8 8 6 4 8 8 8 8 6 8 8 7 8 8 8 8 8 8 8 8 5 8 8 7 5 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 5 6 8 8 8 8 6 4 8 8 8 8 6 8 8 7 8 8 8 6 8 8 8 8 5 8 7 7 4 8 8 8 7 8 8 8 8 8 8 5 6 8 8 8 7 6 4 8 8 8 7 6 8 8 6 8 8 8 4 8 8 8 8 5 8 7 7 4 8 8 8 7 8 8 76 Textil Construção Eletroeletrônicos Infraestrutura Transporte Máquinas Industriais Telemar N L Tim Part S/A Alpargatas Cambuci Cedro Cia Hering Coteminas Dohler Encorpar Fab C Renaux Grendene Guararapes Karsten Marisol Santanense Schlosser Vicunha Text Vulcabras Wembley Brookfield CC Des Imob Company Const A Lind Cyrela Realty Even Gafisa Helbor Lix da Cunha Mendes Jr Rossi Resid Sultepa Itautec Springer Whirlpool AGconcessoes All Amer Lat CCR SA Ecorodovias Fer C Atlant OHL Brasil Santos Bras Triunfo Part Bardella Inds Romi Weg 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 4 8 8 8 8 7 5 3 6 8 8 8 8 7 4 8 2 2 3 7 8 2 8 3 8 8 8 8 8 8 8 5 8 5 1 8 1 1 4 8 8 7 7 7 8 4 8 8 8 8 7 5 3 6 8 8 8 8 7 3 8 2 2 3 7 8 2 8 3 8 8 8 8 8 8 8 5 8 5 1 8 1 1 3 8 8 7 7 6 8 4 8 8 8 8 7 5 3 6 8 8 8 7 7 3 8 2 1 2 5 8 8 3 8 8 8 7 8 8 8 4 8 5 1 8 1 1 3 8 8 7 77 Vale Eternit Minerais Não Metais Nadir Figuei Aliperti Confab Ferbasa Forjas Taurus Gerdau Gerdau Met Hercules Kepler Weber Lupatech Siderúrgica & Metalúrgica Mangels Indl Met Duque Metisa Mundial Panatlantica Paranapanema Sid Nacional Tekno Usiminas Software & Dados Totvs Bic Monark Cobrasma DHB Embraer Fras-Le Iochp-Maxion Marcopolo Veiculos & Peças Metal Leve Plascar Part Pro Metalurg Randon Part Recrusul Schulz Tupy Wetzel S/A Mineração Total 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 5 7 7 7 8 2 8 8 7 6 8 8 8 8 8 1 8 3 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 4 8 8 8 8 8 8 7 8 5 7 7 7 8 2 8 8 7 6 7 8 8 8 8 1 8 2 8 8 8 7 8 8 8 4 8 8 4 8 8 8 8 8 8 7 8 5 7 7 7 8 1 8 8 6 6 7 8 8 8 8 1 8 1 8 7 8 7 8 8 7 3 8 6 4 8 8 1320 1129 1098 1073 78 Tabela EVAR Setores Agro & Pesca Alimentos & Bebidas Comércio Energia Elétrica Empresas Rasip Agro Renar Ambev BRF Foods Cacique Excelsior Iguacu Cafe Josapar M. Diasbranco Minupar Oderich Battistella Dimed Grazziotin Lojas Americ Lojas Renner Minasmaquinas Natura P.Acucar-Cbd RaiaDrogasil Viavarejo Wlm Ind Com AES Elpa AES Sul AES Tiete Ampla Energ Bandeirante Energ Celesc Celpa Celpe Cemar Cemat Cemig Coelba Coelce Copel CPFL Piratininga Elektro Eletrobras 79 Papel & Celulose Petróleo & Gas Química Serviço de Transporte Telecomunicações Textil Eletropaulo Emae Energias BR Energisa Enersul Escelsa Ger Paranap Light S/A Neoenergia Paul F Luz Rede Energia Rio Gde Ener Tractebel Tran Paulist Celul Irani Fibria Klabin S/A Melhor SP Suzano Papel Ceg Comgas Petrobras Braskem Elekeiroz M G Poliest Millennium Ultrapar Unipar Gol Tam S/A Embratel Part La Fonte Tel Oi Telef Brasil Telemar N L Tim Part S/A Alpargatas Cedro Cia Hering Coteminas Dohler Fab C Renaux Grendene Guararapes Karsten 80 Marisol Santanense Schlosser Vicunha Text Wembley Brookfield Const A Lind Cyrela Realty Gafisa Construção Helbor Lix da Cunha Rossi Resid Sultepa Itautec Eletroeletrônicos Springer Whirlpool CCR SA Fer C Atlant Santos Bras Infraestrutura de Transporte Triunfo Part AGconcessoes All Amer Lat Bardella Máquinas Industustriais Inds Romi Weg Mineração Vale Eternit Minerais Não Metais Nadir Figuei Aliperti Confab Ferbasa Forjas Taurus Gerdau Gerdau Met Lupatech Siderúrgica & Metalúrgica Mangels Indl Met Duque Metisa Panatlantica Paranapanema Sid Nacional Tekno Usiminas Software & Dados Totvs Veiculos & Peças Embraer 81 Fras-Le Iochp-Maxion Marcopolo Metal Leve Plascar Part Randon Part Schulz Tupy Wetzel S/A 138 82 Histograma e Resíduos dos Accruals Totais - Modelo Jones (1991) 83 Histograma e Resíduos dos Accruals Totais - Modelo Jones Modificado (1995)