Sobre o preço e o custo real da energia SCHOTI, Camila. “Sobre o preço e o custo real da energia”. Agência CanalEnergia. Rio de Janeiro, 20 de agosto de 2015. A expectativa de que a redução do preço da energia elétrica no mercado de curto prazo se traduza, necessária ou imediatamente, em redução de custos para as indústrias grandes consumidoras de energia é uma percepção equivocada. O problema é que, a partir dessa expectativa, cria-se um risco de se chamar o setor produtivo a assumir custos que não lhe cabem, subsidiando outros agentes de mercado. Ações desse tipo poderiam comprometer ainda mais as condições de produtividade, hoje já extremamente precárias. Além disso, vale lembrar que estudos apontam que o custo da energia para indústria cresceu anualmente, em média, 4 pontos percentuais a mais que a inflação desde 2011. Neste momento, ainda que alguns indicadores de mercado apontem para a redução do preço futuro dos preços dos contratos de energia, ao menos três fatores não podem ser negligenciados. O primeiro refere-se ao perfil de contratação da indústria grande consumidora. Como a energia é um insumo fundamental para sua competitividade e produção, de modo geral sua estratégia é estar coberta com contratos de médio e longo prazos. Portanto, a despeito de uma redução de preços no presente, há pouco espaço para redução do custo do mix de contratos de energia, ou seja, o custo médio ponderado considerando todos os contratos. O segundo fator diz respeito aos atuais níveis de preços. Embora menores que os verificados em 2014, ainda estão muito elevados para os grandes consumidores. As indústrias não só são muito mais sensíveis a variações de custo que outros segmentos de consumo, como observam concorrentes estrangeiros em mercados com condições de fornecimento de energia muito mais competitivas. Daí chegamos ao terceiro fator: apesar de o preço de curto prazo estar indicando alguma redução do custo, na prática o verdadeiro custo marginal da energia, ou seja, o custo da última unidade produzida para atender à demanda, tem um valor aproximadamente três vezes maior que o preço de curto prazo atual. Quem paga por isso são os consumidores, independentemente de seus contratos, por meio de encargos. Há, portanto, grande diferença entre o preço da energia e o custo com que ela efetivamente chega ao consumidor, particularmente ao industrial. Preço em baixa, na conjuntural atual, infelizmente não representa custo em baixa. A situação pode ser exemplificada por situações enfrentadas por indústrias vinculadas à Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace). Com contratos de energia vencendo neste ano, em 2014 várias dessas indústrias foram ao mercado buscar opções de contratação que combinassem o menor preço possível com a extinção do risco de exposição ao mercado de curto prazo num momento em que o Preço de Liquidação das Diferenças (PLD) atingia o valor máximo sistematicamente. O resultado é que tiveram de optar por contratos de cinco anos, até 2019, a valores mais elevados do que os praticados atualmente. Além disso, de lá para cá ocorreu a mudança no PLD, em que parte do custo da geração térmica foi transferido para encargos. Portanto, ainda que haja redução do preço, não há muito espaço para que empresas em tais condições reduzam custos no curto prazo. Camila Schoti é coordenadora de Energia da Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (ABRACE).