opinião 2 A A GAZETA CUIABÁ, QUARTA-FEIRA, 30 DE DEZEMBRO DE 2009 Editorial Avisos não faltaram polêmica que envolve a coleta de lixo em Cuiabá e Várzea Grande, que é feita por uma mesma empresa, já havia dado a senha há muitos meses que ocorreriam problemas, principalmente na Capital, onde por vários anos, desde a gestão do O cenário é muito ex-prefeito Roberto França, o serviço preocupante e vinha sendo feito sem licitação, por meio deixa em alerta a de contrato de emergência. Quem acompanhou o desenrolar dos população fatos percebeu que não houve muito esforço para tornar o serviço legal. O problema passou por vários anos e sempre havia, por parte da empresa, alguma falha na coleta. No fim deste ano, em que aumenta o volume de lixo doméstico e o produzido pelo comércio, há um certo ar A de negligência, já que a empresa coletora não vai participar da licitação no ano que vem. E há duas semanas que a retirada de resíduos não é feita, com mais incidência nos bairros afastados do centro. Nota-se que houve desaceleração do cronograma. Falta de aviso não foi. O que aconteceu já estava escrito. Até o mais desatento cidadão já percebia que a coleta de lixo iria ser suspensa. Mas não houve uma certa atenção do Poder Público dos dois municípios para evitar o caos que se instalou em Cuiabá e Várzea Grande. E o acúmulo de lixo em frente das casas pode levar a inúmeras consequências desastrosas. Surgirão doenças transmitidas por insetos e roedores, com mais incidência para a dengue, que já tem causado muitas mortes. O cenário é muito preocupante e deixa em alerta a população, que já não aguenta o desserviço público. Em Cuiabá, a prefeitura resolveu tomar à frente da empresa e está retirando o lixo acumulado com utilização de caçambas certamente contratadas de empresas em regime de urgência. Porém, o serviço não é o mesmo que seria feito por uma empresa especializada. Inclui-se nesse detalhe a falta de condições para quem lida diretamente com o produto, que é um risco grave à saúde. A situação não vai ficar sob controle, ainda. Isso porque em Cuiabá a nova licitação será preparada em janeiro. Somam-se ao menos dois meses para que a modalidade seja colocada em prática. Em avaliação mais otimista uma nova empresa deve instalar-se somente em março ou abril. Até lá conta-se com a sorte para não haver surto de qualquer doença. A política e o homem público Dejamil 009 chega ao fim deixando a impressão de que a política, aqui e alhures, não passou no teste para aferir sua qualidade. A frustração generalizada com os pífios resultados da conferência de Copenhague aponta para o fracasso da missão de mandatários importantes, a partir de Barack Obama, em que se depositavam as maiores esperanças da coletividade mundial. Espraia-se por todos os continentes o sentimento de que a política, além de não corresponder aos anseios das sociedades, não GAUDÊNCIO TORQUATO é representada pelos melhores cidadãos, como estatuía o ideário aristotélico. A estampa dos homens públicos também se apresenta esboroada. Basta olhar para o nariz e os dentes quebrados do premier italiano, Silvio Berlusconi, pelo impacto de uma pequena réplica do Domo de Milão, jogada por um manifestante de rua. Aquela imagem reflete o sexto compromisso não cumprido pela democracia, que trata da educação para a cidadania, e que foi objeto de análise de um dos mais proeminentes pensadores da ciência política, o também italiano Norberto Bobbio, em seu vigoroso ensaio sobre o ideário democrático. Governantes das mais diferentes ideologias dão efetiva contribuição à degenerescência da arte de governar, pela qual Saint Just, um dos jacobinos A reengenharia da Revolução Francesa, já expressava, nos meados do século 18, grande desilusão: “Todas voltada para o as artes produziram maravilhas, menos a arte de resgate da moral governar, que só produziu monstros”. A frase se na vida pública é destinava a enquadrar perfis sanguinolentos. Mas, na atualidade, a canalhice e a tarefa para mais mediocridade também frequentam espaços de uma geração públicos. Quando Bill Clinton foi flagrado em atitudes não muito litúrgicas nos salões da Casa Branca, o panteão da esculhambação se elevou às alturas. Da mesma forma, ao admitir ter recebido doações do caixa 2, o expresidente Helmut Kohl cindiu o escudo da ética alemã. O declínio da política é acentuado. Ela deixou o espaço missionário para entrar no mercado das profissões. Por que os mecanismos clássicos da política vivem crise descomunal? As nações democráticas registram, neste princípio de século, forte declínio da participação dos cidadãos no exercício da vida pública. Basta apurar o retraimento dos eleitores por ocasião dos pleitos. O profundo desinteresse das populações pela política se explica pelos baixos níveis de escolaridade e ignorância sobre o papel das instituições, e pelo desinteresse dos políticos em relação às causas sociais. Este fenômeno - a distância entre a esfera pública e a vida privada - se expande de maneira geométrica. Na Grécia antiga, a existência do cidadão se escudava na 2 “ Enquete RESULTADO PARCIAL Saúde, amor e para o Brasil muita paz que o resto será consequência e fruto de se plantar o bem para a humanidade. O que você deseja para 2010? WALTER NERE, 52, REPRESENTANTE COMERCIAL 60% 15% Consciência global, porque o que ficou claro em Copenhague é que isso não está existindo mais, e que os governantes se conscientizassem da real situação. 25% MÁRIO FRIEDLANDER, 49, FOTÓGRAFO Eu acho que falta equilíbrio e sustentabilidade, além de consciência natural para o ser humano. saúde amor paz JACKELINE SILVA, 24, CERIMONIALISTA Do Leitor El Niño, benefícios ou prejuízos? O “El Niño” é um fenômeno atmosféricooceânico causado pela alteração da diferença de temperatura entre o Oceano Pacífico na região equatorial próxima a Oceania e a região próxima à América. Sua ocorrência provoca alteração na circulação atmosférica local e de várias regiões do planeta, alterando principalmente o regime de precipitação e, em alguns casos, a temperatura. Além da alteração na circulação atmosférica, a mudança da temperatura do oceano interfere na circulação da água oceânica e assim são alterados também os locais de ressurgência (subida de água das partes profundas para a superfície, transportando consigo nutrientes), que permitem a sustentação de cadeia alimentar para os cardumes de peixes. O “El Niño” recebeu este nome pela associação que os pescadores peruanos faziam entre a modificação temperatura do oceano com a ocorrência de cardumes de peixe por ocasião do período de comemoração do nascimento do menino Jesus. Pois este ano o “El Niño” chegou mais cedo, mas está permanecendo até a época do Natal. No primeiro semestre a Temperatura da Superfície do Mar do Oceano Pacífico Equatorial e próxima do continente americano (TSM niño 3) aumentou e passou de uma fase fria para uma fase quente. Em julho, esse processo produziu valor próximo do unitário, o que caracteriza a instalação do fenômeno “El Niño” e que inclusive teve pequeno incremento até dezembro. Com essa situação, estão ocorrendo precipitações acima da média no Sul do Brasil, e abaixo da média no Nordeste do país. Isso afeta a agricultura dessas regiões e causa reduções na produtividade devidas aos excessos ou às deficiências hídricas para as culturas. Na região Centro-Oeste, não há evidências de alterações nos padrões de precipitação e de temperatura causados pelo fenômeno. Contudo, este ano, durante todo o período de ocorrência do fenômeno, estamos observando aumento da precipitação na região do Distrito Federal, e o prognóstico é de que esta situação se mantenha no trimestre que vai até fevereiro. Apesar disso, não é descartada a possibilidade de veranico na capital do país, apenas a possibilidade de ocorrência é menor, visto que existe correlação entre menor ocorrência de veranicos em anos com maior lâmina de precipitação. Portanto existe na região uma situação favorável para a agricultura em termos de menor risco de perdas de produtividade nos cultivos anuais de sequeiro provocadas por deficiência hídrica nos seus períodos mais sensíveis. Justamente no período de aumento das chuvas, essas lavouras devem florescer e iniciar o enchimento de grãos (o que deve ocorrer até fevereiro). Contudo, juntamente com as precipitações ocorre o aumento do período de molhamento foliar o que aumenta a possibilidade de infecções e desenvolvimento de doenças nas culturas. Assim os agricultores terão de ficar atentos aos sinais de ocorrência de doenças e aos alertas sanitários para que esta situação meteorológica seja realmente benéfica. 010: Ano Novo. Paz na Terra. Concórdia internacional. Ano eleitoral. Transformação e mudança. Renovação e esperança. Velhos camaradas nas mesmas promessas de Igualdade. A mesma Fraternidade por um Brasil resistente em cada alvorecer. A mesma cartilha da Liberdade no ideal republicano. Outros instantes de cidadania além de um perímetro urbano. O mesmo sangue humano derramado em vão. A mesma segurança pública sem efetivo operante. O mesmo crime AÍRTON REIS organizado com mais de um comandante. Outras favelas com mais de um público pagante. O mesmo povo errante e sem terra para cultivar. Outros braços cruzados e sem nada para ofertar. A mesma saúde pública sem leito hospitalar. As mesmas rodovias para morrer e matar. As mesmas reformas políticas sem a força do verbo legislar. O mesmo meio ambiente cada vez mais degradado. Os antigos e deformados poderes de um Estado constitucional. Os arcaicos parlamentos calados pela ordem social. O mesmo As mesmas progresso na contra mão da história. O prefeituras mesmo eleitorado sem memória. As mesmas candidaturas nem tão cândidas em probidade municipais administrativa. Outras verdades ignoradas conjugadas pelos além dos editoriais da pátria viva em direitos verbos omitir e errar e deveres sem vigilância. As mesmas manchetes de jornais sobre a aceleração do crescimento em constante vacância. Outras tempestades impiedosas. Os mesmos desabrigados 2 “ Ponto Bradesco está otimista com as condições para o crédito no país no ano que vem e estima expansão entre 20% e 25% para sua carteira em 2010. REDAÇÃO Fone (065) 3612-6000 ADMINISTRAÇÃO www.gazetadigital.com.br Propriedade da Gráfica e Editora Centro-Oeste Ltda. 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E-MAIL: [email protected] DIRETOR SUPERINTENDENTE João Dorileo Leal [email protected] esfera pública. Esta era sua segunda natureza. A pólis constituía o espaço contra a futilidade da vida individual, o território da segurança e da permanência. Até o final da Idade Média, a esfera pública se imbricava com a esfera privada. Nesse momento, os produtores de mercadorias (os capitalistas) invadiram o espaço público. Aí começa o ciclo da decadência. Que, na primeira década do século 20, se acentuou com o declínio moral da classe governante. Assim, o conceito aristotélico de política - a serviço do bem comum - passou a abrigar o desentendimento. E a ambição. Com a transformação dos estamentos, as corporações profissionais se multiplicaram. Campos privados articularam com o poder público leis gerais para as mercadorias e as atividades sociais. Sensível mudança se processa. Agora, a esfera pública vira arena de interesses. Disputas abertas e intestinas são deflagradas, na esteira de discussões violentas. Bifurca-se o caminho da res publica com a vereda do negócio privado. O diagnóstico é de Hannah Arendt: “A sociedade burguesa, baseada na competição, no consumismo, gerou apatia e hostilidade em relação à vida pública, não somente entre os excluídos, mas também entre elementos da própria burguesia”. Em suma, a atividade econômica passou a exercer supremacia sobre a vida pública. Os eleitores se distanciaram de partidos, juntando-se em núcleos ligados ao trabalho e à vida corporativa - sindicatos, associações, movimentos. Eis a nova face da política. O discurso institucional, levado a efeito por atores individuais e partidos, não faz eco. Mas a estética da política pontua e remanesce nos sistemas cognitivos, emoldurando a policromia e o polimorfismo do modus operandi dos atores em seus palcos: parlamentares se atracando em plenários, dentes quebrados, sangue jorrando pelo nariz, encontros mafiosos, orações de propina, dólares na cueca, descrições de cenas de sexo, ovos podres atirados em autoridades, etc. O que fazer para limpar a sujeira que borra a imagem do homem público? Não adianta colocar sobre ela camadas de tinta. Equivaleria a pintar uma parede sem argamassa, oca. A pintura deve ser feita por dentro. A reengenharia voltada para o resgate da moral na vida pública é tarefa para mais de uma geração. Mas pode ser iniciada já. Primeiro passo: o homem público deve cumprir rigorosamente o papel que lhe cabe. Segundo: punir os que saem da linha. Terceiro: revogam-se as disposições em contrário. EDITORA EXECUTIVA Janã Pinheiro (0xx65) 3612.6327 EDITOR DE POLÍTICA Jorge Estevão (0xx65) 3612-6318 [email protected] EDITORA DE ECONOMIA Glenda Cury (0xx65) 3612-6319 [email protected] EDITORA DE GERAL EDITOR DE ARTE Cláudio Castro - (0xx65) 3612.6315 Andréia Fontes (0xx65) 3612-6321 [email protected] [email protected] EDITOR DE ESPORTE Oliveira Junior (0xx65) 3612-6322 EDITOR DE SEGUNDA-FEIRA Waldemir Felix (0xx65) 3612-6317 [email protected] [email protected] EDITORA DO VIDA E ZINE Liana D’ Menezes (0xx65) 3612-6324 EDITORA DE SUPLEMENTOS Rita Comini (0xx65) 3612-6323 [email protected] [email protected] GAZETA DIGITAL [email protected] (0xx65) 3612-6320 pelas chuvas torrenciais. Outros impactos ambientais. Outras clareiras clandestinas. As mesmas oficinas. Outros obreiros. Novos brasileiros. As mesmas universidades públicas e privadas sem pesquisas e sem doutores. As mesmas escolas municipais e estaduais sem livros e sem professores. As mesmas assembléias esvaziadas em representação popular. As mesmas prefeituras municipais conjugadas pelos verbos omitir e errar. Saltos desviados em corredeiras de uma mesma humanidade sem nascente e sem vazão. Mesas sem o pão de cada dia. Camas de papelão. Miséria e exclusão. Violência sem justiça, sem condenação. Criminosos sem reabilitação. Infantes alistados nos bolsões da marginalidade. Crescimento não planejado de cidade em cidade. Realidade no itinerário dos agentes. Verdades ocultas em tapetes de retalhos. Alhos trocados por bugalhos. Aposentados vestidos de espantalhos. Velhos camaradas de um mesmo muro erguido pelos ditadores latino-americanos. Novos baianos nem tão inovadores de carnaval em carnaval. Tropicália dos repaginados senhores do capital internacional. Trocadilhos nas novas reservas de petróleo explorado em nome do Pré sal. Monteiro sem Lobato. Machado sem Assis. Barão sem Melgaço. Mariano sem Rondon. Jorge sem Amado. Silva sem Freire. Guilherme sem Dicke. Dunga sem Rodrigues. Deus nos livre e guarde de uma história sem democracia social. Deus nos livre e guarde de uma pátria amada sem versos em poesia nacional. Ponto final. Feliz virada! AÍRTON REIS É POETA EM CUIABÁ/MT. E-MAIL: [email protected] Contraponto CVM multa em R$ 300 mil a ex-presidente da BrT Carla Cico por contratar agências envolvidas no escândalo do mensalão. ARTICULISTAS Alexandre Garcia, Carlos Monforte, Mônica Waldvogel, Carlos Chagas, Lourembergue Alves e Alfredo Menezes AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS Estado, Folha, Associated Press, Carta Z, Agência Brasil e Alô Comunicação. COLUNISTAS Fernando Baracat e Ungareth Paz Os artigos de opinião assinados por colaboradores e/ou articulistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores Cartas para as seções de Opinião e Do Leitor: Rua Professora Tereza Lobo, 30 Bairro Consil - Cuiabá-MT - CEP 78.048-700 - Fax: (0xx65) 3612-6330 [email protected]