Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciência e Tecnologia - PPGECT Investigando a compreensão de alunos do ensino superior sobre a representação de reações químicas Fabiele Cristiane Dias Broietti Sônia Regina Giancoli Barreto Flaveli Aparecida de Souza Almeida Raisa Correia Resumo A linguagem não é apenas um instrumento de comunicação, sendo fundamental na compreensão dos conceitos. Aprender química significa apropriarse da linguagem falada e escrita, atribuindo ao professor a tarefa de diminuir a distância entre os conceitos químicos e a realidade. O objetivo deste trabalho foi investigar e identificar como os licenciandos em química compreendem e representam simbolicamente as reações químicas. O estudo foi realizado em uma Universidade pública e os alunos responderam a dois questionários, um com questões discursivas e outro com questões de múltipla escolha. Constatou-se que os estudantes, de forma geral, apresentaram dificuldades na transferência dos aspectos observáveis no nível fenomenológico para o representacional, outra comprovação foi que a maioria dos estudantes apresentou problemas para escrever a equação iônica de algumas reações, e até mesmo a equação geral. Isto II Simpósio Nacional de Ensino de Ciência e Tecnologia 07 a 09 de outubro de 2010 Artigo número: 206 ISSN: 2178-6135 Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciência e Tecnologia - PPGECT foi atribuído ao grande número de informações que os estudantes devem mobilizar mentalmente para que consigam fazer a representação. Palavras-chave: reação química, representação, ensino superior. Abstract Investigating student understanding of higher education on the representation of chemical reactions. Language is not just a communication tool and is central to understanding the concepts. Learn chemical means ownership of the spoken and written language, the teacher assigning the task to bridge the gap between chemistry concepts and reality. The aim of this study was to investigate and identify how the undergraduates in chemistry and understand symbolically represent chemical reactions. The study was conducted in a public university and the students answered two questionnaires, a free-response and other issues with multiplechoice-questions. It was found that students in general, had difficulties in transferring the observable features in the phenomenological level to the representational, other evidence was that most students had trouble writing the equation of some ionic reactions, and even the general equation . This was attributed to the large amount of information that students must mobilize mentally so they can make a representation. Keywords: chemical reaction, representation, higher education. II Simpósio Nacional de Ensino de Ciência e Tecnologia 07 a 09 de outubro de 2010 Artigo número: 206 ISSN: 2178-6135 Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciência e Tecnologia - PPGECT Introdução A linguagem é uma “ferramenta” essencial à prática pedagógica do docente e a aula um espaço para dialogar sobre os significados do conhecimento. Para Vygotsky (2001), a linguagem tem um papel central na compreensão dos conceitos por parte dos sujeitos e não apenas como um “instrumento de comunicação”. De acordo com Moraes (2002) aprender química, significa apropriar-se da linguagem falada ou escrita da Química, possibilitando a reconstrução de conceitos, por meio do discurso do professor com o aluno ou do aluno com os pares ocorrendo o confronto da linguagem do cotidiano e da química. Mortimer e Scott (2002), em seus escritos afirmam que as interações discursivas fazem parte do processo de construção de significados, pois no processo de aprendizagem ocorre a negociação entre as concepções que o aluno possui e os conceitos científicos apresentados, num espaço comunicativo no qual há o encontro entre diferentes culturas, num processo de crescimento mútuo. Nesse contexto, um dos desafios do educador de química é fazer com que o discurso da sala de aula diminua a distância entre os conceitos químicos e a realidade, interagindo com os conhecimentos que os alunos já possuem levando-os a interpretação e a reconstrução do conhecimento. Diante disso, como os educadores de química podem melhorar o desempenho dos estudantes nas aulas? Os educadores podem ajudar nessa tarefa enfatizando conceitos ao invés de fatos individuais. Palavras, conceitos como: mol, átomos, soluções, equilíbrios, grandezas, reações químicas, são utilizadas com freqüência nas aulas de química. Sobre “como” esses conceitos químicos são ensinados e aprendidos pelos alunos tem sido tema de muitas pesquisas, tendo-se a compreensão que a elaboração dos mesmos na sala de aula é extremamente complexa e envolve uma série de fatores difíceis de serem controlados. O foco da sala de aula, não está no professor, nem nos alunos, ou nos conteúdos, mas sim no movimento das interações que ocorrem ao longo do processo. Foi Vygotsky (1988) que se dedicou a estudar as relações entre a linguagem e o pensamento, oferecendo contribuições importantes relacionadas ao papel da linguagem na elaboração conceitual. Dessa forma a palavra assume um papel fundamental e central, configurando-se como mediadora da compreensão dos II Simpósio Nacional de Ensino de Ciência e Tecnologia 07 a 09 de outubro de 2010 Artigo número: 206 ISSN: 2178-6135 Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciência e Tecnologia - PPGECT conceitos por parte dos sujeitos e principal agente de abstração e generalização. Assumindo um papel indispensável na elaboração conceitual, não apenas o mero papel comunicativo ou de instrumento. No ensino de química, em especial no ensino de reações, é observada certa dificuldade dos alunos em compreendê-las no nível microscópico e representá-las simbolicamente de forma correta, no entanto, os alunos normalmente conseguem ter uma boa percepção macroscópica das reações químicas. Muitas vezes a representação simbólica mostra-se um tanto quanto superficial e mecânica sem que haja plena compreensão dos aspectos conceituais envolvidos (NARDIN et al, 2005). Esses aspectos são muitas vezes memorizados, sem que haja o entendimento do que realmente ocorre em uma reação química a nível microscópico. Os alunos, algumas vezes, conseguem representar os elementos químicos individualmente nas equações, porém têm grande dificuldade em representá-los como substâncias e predizer os produtos de uma reação química, ou seja, como as substâncias interagem entre si. Essa dificuldade dos alunos no campo representacional pode estar associada à pelo menos dois fatores, ao fato de que num primeiro momento o aluno não compreende a linguagem química em si, expressada pelo professor e também ligada ao fato de que a representação de reações químicas requer ao estudante lidar com a complexidade, que é, estrategicamente administrar muitos fatores. Segundo Johnstone (1984, 1986), deve-se considerar o número de fatos separados ou idéias necessárias para escrever uma equação. O desempenho dos estudantes está associado à quantidade de informações necessárias para a sua resolução. De acordo com o mesmo autor o desempenho dos estudantes decresce nas questões que requerem mais do que cinco tipos de informações, presumivelmente porque a capacidade média da memória de funcionamento das pessoas é de cinco itens conceituais. O mesmo limite de cinco itens se aplica na escrita de reações? Conforme Ragsdale e Zipp (1992) que examinaram esta possibilidade por meio da análise de respostas dadas a dois tipos de reações, os mesmos verificaram que o desempenho dos alunos é dependente do número de itens que devem ser considerados pelos alunos ao resolver uma questão. Esse aspecto também ressalta a importância de correlacionar os conteúdos respeitando uma ordem lógica de pré-requisitos para que o aluno domine aqueles conteúdos que são necessários para compreensão da seqüência de outro (NARDIN et al, 2005). II Simpósio Nacional de Ensino de Ciência e Tecnologia 07 a 09 de outubro de 2010 Artigo número: 206 ISSN: 2178-6135 Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciência e Tecnologia - PPGECT De açodo com Andrade Neto et al (2009) a simbologia na química tem que ser vista como uma maneira de facilitar a compreensão de aspectos abstratos inerentes ao assunto. O significado dos símbolos deve ser apresentado correlacionado com a teoria do assunto abordado familiarizando o aluno não só com o conteúdo, mas também com a linguagem que está sendo utilizada. Se ocorrer o domínio da linguagem é possível à manipulação de sistemas de símbolos e a compreensão dos aspectos teóricos (DAMASCENO et al, 2008). Considerando a relevância da linguagem química para a elaboração de conceitos em sala de aula, o objetivo deste trabalho consistiu em investigar e identificar como os alunos compreendem e representam simbolicamente algumas reações químicas. Metodologia A alfabetização em química se constitui do uso dos seus códigos para explicar os fatos e os fenômenos que compõe esta ciência. Este trabalho foi realizado com os alunos de licenciatura dos quatro anos do curso de Química de uma Universidade pública do estado do Paraná. Os alunos responderam a dois questionários, que foram adaptados do estudo realizado por Ragsdale e Zipp (1992). No primeiro questionário composto por nove reações citadas a seguir, os alunos deveriam fazer suas representações, seguindo algumas instruções dadas antecipadamente. As instruções foram: - escrever a fórmula para mostrar os reagentes e os produtos; - as reações ocorrem em solução aquosa, caso contrário será mencionado; - representar as substâncias como íons, se a substância é extensivamente ionizada; - omitir a fórmula de íons ou moléculas que não mudam na reação; - em todos os casos a reação ocorre; - não é necessário balancear as reações. As nove reações são apresentadas a seguir: 1.Soluções de iodeto de sódio e nitrato de chumbo são misturadas. II Simpósio Nacional de Ensino de Ciência e Tecnologia 07 a 09 de outubro de 2010 Artigo número: 206 ISSN: 2178-6135 Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciência e Tecnologia - PPGECT 2.Uma solução de amônia é adicionada a uma solução de cloreto férrico. 3.Uma solução de peróxido de hidrogênio é aquecida. 4.Soluções de nitrato de prata e cromato de sódio são misturadas. 5.Gás sulfeto de hidrogênio é borbulhado em uma solução de hidróxido de potássio. 6.Pentóxido de dinitrogênio sólido é adicionado à água. 7.Um pedaço de bismuto é aquecido fortemente na presença de oxigênio. 8.Solução de ácido clorídrico e solução hidróxido de sódio são misturadas. 9.Um pedaço de cobre metálico é adicionado a uma solução concentrada de ácido sulfúrico. Na tentativa de verificar se os estudantes poderiam ter um desempenho melhor predizendo os produtos da reação se as respostas fossem fornecidas num formato de múltipla escolha, foi elaborado um segundo questionário com duas das questões dadas no questionário 1. No segundo questionário as questões 6) e 9) foram apresentadas aos alunos na forma objetiva. O enunciado destas questões manteve-se igual ao do questionário discursivo. Foram dadas cinco alternativas contendo somente uma alternativa correta. As alternativas para estas questões são mostradas a seguir. Para a reação 6: a) H+, NO 3 - ,O 2(g) b) HNO 3 somente c) H+, NO 3 - somente d) NO 2(g) e OHe) H+, NO 3 - e OHPara a reação 9: a) CuSO 4 (s) e H 2 (g) somente b) Cu2+,SO 2 (g) e H 2 O c) Cu2+,H 2 (g) e H 2 O d)CuSO 4 (s), H 2 (g) e SO 2 (g) II Simpósio Nacional de Ensino de Ciência e Tecnologia 07 a 09 de outubro de 2010 Artigo número: 206 ISSN: 2178-6135 Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciência e Tecnologia - PPGECT e)Cu2+,SO 3 (g) e H 2 O Pode-se pensar se os estudantes poderiam ter um melhor desempenho predizendo os produtos da reação se as respostas fossem fornecidas num formato de múltipla escolha. Desta forma, teve-se a intenção em propor o questionário com as questões objetivas. As questões do segundo questionário, que foi objetivo, foram deixadas para a segunda etapa de resolução de modo a não interferir nas respostas do questionário discursivo. O professor aplicador utilizou cinco minutos para explicar as atividades que os alunos iriam desenvolver; e também havia um exemplo presente na folha do questionário, para não existir dúvidas em como respondê-las. Os alunos tiveram 30 minutos para responder as nove questões sem nenhuma intervenção do professor; pois também foi avaliada a interpretação da linguagem química nas questões. Após este tempo, o primeiro questionário foi recolhido e em seguida foi distribuído o segundo questionário e para esta etapa os alunos tiveram 10 minutos. Ao analisar as respostas no questionário discursivo foi constatado que a maioria dos alunos não seguiu rigorosamente as instruções pré-estabelecidas. Diante disto no momento das análises foi necessário o estabelecimento de alguns critérios para realizar as discussões. Para a análise das respostas dos questionários aplicados foram selecionados os critérios conforme o fluxograma representado na Figura 1. Figura 1: Categorização dos critérios para análise do questionário discursivo. II Simpósio Nacional de Ensino de Ciência e Tecnologia 07 a 09 de outubro de 2010 Artigo número: 206 ISSN: 2178-6135 Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciência e Tecnologia - PPGECT Resultados e Discussão As Figuras 2 e 3 mostram os resultados das análises realizadas com o questionário discursivo dos alunos e seus relativas anos, que seguiram e não as instruções, respectivamente. Figura 2: Porcentagem de acerto dos alunos que seguiram as instruções. 1R 1P 1G 2R 2P 2G 3R 3P 3G 4R 4P 4G 100 90 80 % (acerto) 70 60 50 40 30 20 10 0 -10 1 2 3 4 5 6 7 8 9 reações Figura 3: Porcentagem de acerto dos alunos que não seguiram as instruções. II Simpósio Nacional de Ensino de Ciência e Tecnologia 07 a 09 de outubro de 2010 Artigo número: 206 ISSN: 2178-6135 Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciência e Tecnologia - PPGECT A Figura 2 mostra que para a reação 1 praticamente não foi verificado diferença quantitativa de acertos quanto a representação dos reagentes e produtos quando se considera as instruções solicitadas no teste. A figura indica também um aumento da quantidade de acertos dos 3º e 4° anos comparados aos 1° e 2° anos. Na Figura 3 observa-se que em geral, ocorreu um ligeiro aumento dos alunos que acertaram os reagentes, os produtos e a reação como um todo, uma vez que foi considerada a representação da fórmula correta sem levar em conta o fato das substâncias iônicas estarem em solução aquosa. A maior dificuldade de grande parte dos alunos, com relação à reação 1, refere-se ao NOx dos íons das substâncias iônicas e a representação da fórmula de substâncias insolúveis. A representação desta equação feita por alguns alunos é mostrada a seguir: Reação Ano Na 2 +I + Pb + NO 3 - NaNO 3 + PbI 2º 3NaI + Pb(NO 3 ) 3 3Na NO 3 + PbI 3 2º Pb2+ + IO2- Pb + IO 2 4º Na 2 I + Pb 2 (NO 3 ) PbI + Na 2 (No 3 ) 4º NaI + Ag NO 3 Na NO 3 + AgI 3º NaI + PbNO 4 Na Pb + INO 4 1º Na+I- + Pb 3 +N 3 - Na+ 3 N 3 - + Pb3+I 3 - 1º Como observado na Figura 2, para a reação 2, não houve acertos levando em consideração as instruções e na Figura 3 nota-se que metade dos alunos do 2° ano escreveram corretamente a fórmula dos reagentes, NH 3 (aq) e FeCl 3 (aq) , comparado a 0; 4 e 17% dos alunos dos 1°, 3° e 4° anos respectivamente. Esta porcentagem de acerto equivalente ao 2° ano pode estar relacionada ao fato de estarem cursando disciplinas que envolvam este tipo de conteúdo. Com relação à equação geral nota-se que em todos os anos os alunos apresentam dificuldade em predizer o produto da reação e fazer sua representação, com raras exceções dos alunos do 4° ano. A representação desta equação feita por alguns alunos é mostrada a seguir: II Simpósio Nacional de Ensino de Ciência e Tecnologia 07 a 09 de outubro de 2010 Artigo número: 206 ISSN: 2178-6135 Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciência e Tecnologia - PPGECT Reação Ano NaOH + FeCl 2 NaCl + Fe(OH) 2 2º NH 3 + + FeCl 3 NH 3 Cl + Fe3+ 2º NH 4 + + FeCl NH 4 Cl + Fe 4º NH 3 + Fe3+ Fe(NH 3 ) 3 3º NH 3 + FeCl 2 N 2 Cl 2 +H 6 Fe 3 1º NH 3 + Fe(ClO) 3 Cl 2 O- 1º Com relação à reação 3, referente à decomposição do peróxido de hidrogênio, não verificamos diferença percentual com relação as figuras 2 e 3. Isto pode ser justificado devido ao fato de ser a representação de uma reação usual, muito comentada nos livros didáticos do ensino médio e superior. Nota-se que em torno de 50% dos alunos dos quatro anos acertaram esta reação, uma vez que os reagentes e produtos são substâncias moleculares e simples de serem representadas. A reação 4, se assemelha à reação 1, pois trata-se de uma reação entre duas soluções aquosas salinas formando um produto insolúvel, Ag 2 CrO 4(s) . As Figuras 2 e 3, mostram uma porcentagem de acertos para esta reação ainda menor se comparada à reação 1, pois o íon cromato foi poucas vezes escrito corretamente comparado ao íon nitrato solicitado na reação 1. A representação desta equação feita por alguns alunos é mostrada a seguir: Reação Ano PtNO 3 + NaCrO 3 PtCrO 3 + NaNO 3 2º Ag NO 3 + Na 3 Cr NaNO 3 + Ag 3 Cr 2º Ag+ + CrO 2 - AgCrO 2 4º Ag NO 3 + Na 2 (CrO 3 ) AgCrO 3 + Na 2 (NO 3 ) 4º 2 Ag NO 3 + Na 2 Cr Ag 2 Cr + 2 NaNO 3 3º Ag+ + CrO AgCrO 3º Ag(NO 2 ) + NaCr NaNO 2 + AgCr 1º II Simpósio Nacional de Ensino de Ciência e Tecnologia 07 a 09 de outubro de 2010 Artigo número: 206 ISSN: 2178-6135 Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciência e Tecnologia - PPGECT 2Ag2NO 3 + 2Na2Cr 2Ag 2 Cr + 2Na 2 NO 3 1º A Figura 2 mostra que apenas os alunos do 2° ano, ainda que minimamente, conseguiram acertar a reação 5, conforme as instruções, pois o gás sulfeto de hidrogênio deveria aparecer na equação escrito na forma molecular e a solução de hidróxido de potássio representada apenas pelo íon hidroxila. Analisando os dados expressos na Figura 3, em que foi considerado como reagentes e produtos apenas o fato de representarem as fórmulas corretas sem levar em consideração as instruções citadas no material, percebe-se um relativo aumento no número de acertos. Porém, a porcentagem de acerto da equação geral fica em torno de 25%, ressaltando a dificuldade dos alunos em predizer quais serão os produtos formados e também reconhecê-los e representá-los corretamente por fórmulas. A representação desta equação feita por alguns alunos é mostrada a seguir: Reação Ano HSO 4 + KOH K+ + SO 3 - 2º H+ + OH- + K+ +S- KS+ H 2 0 2º HSO 3 + KOH K SO 3 + H 2 0 4º OH- + S4+ S6+ + H- 4º H2S + NaOH NaS + H 2 0 3º H+ + OH- H 2 0 3º HSO 2 + KOH H+ +K+ 1º SH 2 + KOH- SOH + K + H 2 1º Para a reação 6, a porcentagem de acertos dos reagentes é muito próxima em ambos os gráficos, sendo que 60% do total de alunos acertam com ou sem instruções. Na Figura 2 nota-se que apenas 5% dos alunos do 3° ano acertam os produtos e a equação geral, tal como pedido nas instruções, a formação do ácido nítrico em solução aquosa, logo H+ e NO 3 -. Considerando que na Figura 3 bastava que os alunos soubessem representar a substância produzida na reação, independente de seguir as instruções, observou-se que na turma do 1° ano apenas 4 alunos responderam corretamente o produto da reação, os demais alunos desta turma, II Simpósio Nacional de Ensino de Ciência e Tecnologia 07 a 09 de outubro de 2010 Artigo número: 206 ISSN: 2178-6135 Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciência e Tecnologia - PPGECT mostraram total desconhecimento do assunto. Com relação aos demais anos, embora tenha ocorrido um aumento do número de acertos do produto da reação, este não ultrapassou uma quantidade equivalente a 50% dos alunos. Este episódio pode ser justificado, pela dificuldade apresentada pelos alunos em predizer o produto das reações químicas. A representação desta equação feita por alguns alunos é mostrada a seguir: Reação Ano N 2 O 5 +3H 2 O 2NH 3 + 4 O 2 2º P 5 O2 + H 2 O H 2 P 5 O 3 2º N 2 O5 N 2 O7 + O 2 4º N 2 O 5 + H 2 O NO + N 2 O 4º N 2 O 5 + H 2 O H+ + NO 3 - + NO 2 ↑ 3º N 2 O 5 + H 2 O NO 2 + NO 3 + H 2 3º N 2 (OH) 5 + H 2 O HN + H 2 O 1º N 2 O5 + H 2 O N 2 O2 + H 2 O5 1º Para a reação 7 observa-se que a porcentagem de acertos dos reagentes é semelhante em ambos as figuras. A reação 7 é uma reação entre um metal do grupo 15 da tabela periódica e o gás oxigênio, esta reação é conhecida nos livros didáticos como uma reação de óxido-redução. Os resultados mostram que praticamente todos os alunos reconheceram o produto da reação como um óxido, no entanto, não expressam corretamente as valências do bismuto e do oxigênio, consequentemente a fórmula do óxido de bismuto, como pode ser observado no baixo índice de acertos dos produtos e da reação geral, representados nas Figuras 2 e 3. A representação desta equação feita por alguns alunos é mostrada a seguir: Reação Ano Bi + O 2 Bi2+ 2º Bs BiO 2 2º Bi + O 2 Bi 2 O 4º II Simpósio Nacional de Ensino de Ciência e Tecnologia 07 a 09 de outubro de 2010 Artigo número: 206 ISSN: 2178-6135 Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciência e Tecnologia - PPGECT Bi + ½ O 2 BiO 3º Bi + O 2 CO 2 +H 2 O 1º Com relação à reação 8 e considerando as instruções pedidas no material, observa-se que há um aumento gradativo com relação aos anos analisados. No entanto, a porcentagem de acertos mostra-se baixa, 2, 4, 9 e 17% para o 1°, 2º, 3° e 4° anos respectivamente, em se tratando de uma reação comum de neutralização entre soluções aquosas de ácido clorídrico e hidróxido de sódio. Estes valores podem estar associados à caracterização feita pelos alunos, desta reação de neutralização obtendo o sal como sendo o principal produto da reação em solução, em detrimento da formação da água. Para a mesma reação, na Figura 3, nota-se que as porcentagens de acerto para a equação global foram em média de 80%. Esse aumento se deve ao fato, de para nessa segunda análise ter sido considerado que os alunos representassem esta equação com a presença de todas as espécies, independente das mesmas participar ou não efetivamente da reação. Sendo possível reafirmar como dito anteriormente que para alguns alunos o único produto entre HCl (aq) e NaOH (aq) é a formação do NaCl, pois foi registrado por alguns alunos a seguinte representação para a reação solicitada: Na+ + Cl - → NaCl. A reação 9 é uma reação entre um metal de transição e um ácido concentrado. Os alunos apresentaram muita dificuldade em representar e predizer corretamente a equação da reação 9 conforme solicitado no material, isto pode ser observado na Figura 2. Os resultados, apresentados na Figura 3 mostram que cerca de 62% dos alunos reconheceram e representaram os reagentes desta reação, contrapondo-se a quase unanimidade dos alunos em reconhecer e representar os produtos da reação. O que foi observado com certa freqüência, na análise do material respondido pelos alunos, foi à representação desta reação, como sendo uma simples reação de deslocamento, sem levar em consideração a presença do metal em um ácido concentrado, com alto poder de oxidação. A representação desta equação feita por alguns alunos é mostrada a seguir: Reação Ano Cu + H 2 SO 4 CuSO 4 + H 2 O 2º Cu + H 2 SO 4 CuSO 4 + H 2 2º II Simpósio Nacional de Ensino de Ciência e Tecnologia 07 a 09 de outubro de 2010 Artigo número: 206 ISSN: 2178-6135 Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciência e Tecnologia - PPGECT Cu + H+ H 2 + Cu2+ 4º Cu + H 2 SO 4 CuSO 4 + H+ 3º Cu + H 2 SO 4 CuSO 3 + H 2 O 1º Cu2+ + H 2 SO 4 Cu(OH) 2 + SO 4 2- 1º A Figura 3 mostra que as reações 4, 2 e 7 foram as que apresentaram as menores porcentagens de acertos, assim, as mesmas serão discutidas particularmente. O baixo desempenho dos alunos na representação e na predição dos produtos destas reações provavelmente está associado ao fato de que esses processos requerem do estudante lidar com muitos fatores para a tomada de decisões. Para as reações 4, 2 e 7 os fatores que um estudante deve saber ou perceber para responder as equações são: Para a reação 4: 1) As fórmulas dos reagentes 2) Que se trata de uma reação de dupla troca entre duas soluções aquosas salinas 3) Que os sais são substâncias iônicas 4) Ocorre a formação de uma substância insolúvel, por se tratar do cromato de prata 5) Que o NaNO 3 é um sal solúvel em água 6) O NOx dos cátions e ânions dos reagentes Para a reação 2: 1) As fórmulas dos reagentes 2) Que a amônia e a água são substâncias moleculares 3) Que o cloreto férrico é uma substância iônica 4) O NOx do íon férrico 5) Que a amônia e o cloreto férrico são solúveis em água 6) Trata-se de uma reação de dupla troca II Simpósio Nacional de Ensino de Ciência e Tecnologia 07 a 09 de outubro de 2010 Artigo número: 206 ISSN: 2178-6135 Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciência e Tecnologia - PPGECT 7) Ocorre a formação de um hidróxido insolúvel em água Para a reação 7: 1) As fórmulas dos reagentes 2) Que se trata de uma reação redox 3) O bismuto é um metal 4) Que o oxigênio é um gás 5) O produto de oxidação do Bi é um óxido 6) O NOx dos elementos envolvidos 7) Trata-se de um elemento do mesmo grupo do alumínio As três reações citadas acima, assim como as demais, exigem dos alunos mais do que cinco fatores conceituais para a sua resolução, explicando desta forma, o baixo desempenho dos alunos se estes fatores não forem mobilizados para a resolução. Para uma segunda etapa, os possíveis produtos das reações foram expressos em questões de múltipla escolha. Neste caso, os alunos deveriam encontrar a alternativa que continha os produtos expressos na forma correta para a reação e de acordo com as instruções fornecidas no material. A Figura 4 mostra a porcentagem de acertos das reações entre cobre metálico e ácido sulfúrico concentrado e entre pentóxido de dinitrogênio e água. II Simpósio Nacional de Ensino de Ciência e Tecnologia 07 a 09 de outubro de 2010 Artigo número: 206 ISSN: 2178-6135 Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciência e Tecnologia - PPGECT 36 2ano 1ano 3ano 4ano 32 28 % de acerto 24 20 16 12 8 4 0 -4 1 2 Reações Figura 4: Porcentagem de acertos das questões objetivas, das reações entre cobre metálico e ácido sulfúrico concentrado (1) e pentóxido de dinitrogênio e água (2). Embora nesta segunda etapa as questões solicitadas apresentassem alternativas de resposta, o que observamos na Figura 4 é que o número de acertos foi ainda pequeno, não ultrapassando 35%, ainda que este tipo de questão possa proporcionar um direcionamento. Este resultado permite inferir que muito mais que a representação da simbologia química, a deficiência apresentada pelos alunos está relacionada ao conhecimento dos fenômenos químicos no nível microscópico e na sua posterior transição desse nível para o nível representacional. CONCLUSÃO Embora a carga horária das disciplinas experimentais do curso de química licenciatura da universidade em questão seja elevada, constatou-se que os estudantes do curso, de uma forma geral, apresentaram dificuldades na transferência dos aspectos observáveis no nível fenomenológico para o nível representacional. Este fato está associado à falta de entendimento conceitual por parte dos alunos, do nível microscópico que auxiliam na construção de modelos explicativos coerentes. Outra comprovação foi que a maioria dos estudantes apresentou dificuldades para escrever a equação iônica de algumas reações, e até mesmo a equação geral. Isto foi atribuído ao grande II Simpósio Nacional de Ensino de Ciência e Tecnologia 07 a 09 de outubro de 2010 Artigo número: 206 ISSN: 2178-6135 Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciência e Tecnologia - PPGECT número de informações que os estudantes devem mobilizar mentalmente para que consigam fazer a representação. Com base nos resultados verificados, os docentes podem contribuir nesta tarefa articulando os diversos aspectos do conhecimento químico – fenomenológico, teórico e representacional, independente do tipo de aula e, além disso, os docentes devem utilizar a linguagem em suas aulas a favor da construção de caminhos para uma nova significação do conhecimento químico. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRADE NETO, A. S., RAUPP, D., MOREIRA, M. A. A evolução histórica da linguagem representacional química: uma interpretação baseada na teoria dos campos conceituais. In: VII ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS. nº 7., 2009, Florianópolis, Atas do VII ENPEC. Florianópolis: ENPEC, 2009. DAMASCENO, H. C., BRITO, M. S., WARTHA, E. J. As representações mentais e a simbologia química. In: XIV Encontro Nacional de Ensino de Química, 2008, Curitiba. Anais do XIV ENEQ. Curitiba: ENEQ, 2008. JOHNSTONE, A. H. & EL-BANNA, H. 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II Simpósio Nacional de Ensino de Ciência e Tecnologia 07 a 09 de outubro de 2010 Artigo número: 206 ISSN: 2178-6135 Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciência e Tecnologia - PPGECT NARDIM, C. S., SALGADO, T. D. M., DEL PINO, J. C. Análise de uma proposta de ensino de reações químicas entre compostos inorgânicos referenciada em mecanismos de reação. In: V ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS, nº 5., 2005, Bauru. Atas do V ENPEC. Bauru: ENPEC, 2005. RAGSDALE, R. O., ZIPP, A. P. Helping students to improve their approach to predicting the products of chemical reactions. Journal of chemical education, USA, v.69, n. 5, p. 390 – 392, may. 1992. VYGOTSKY, L. S. A construção do pensamento e da linguagem. Tradução de Paulo Bezerra, São Paulo: Martins Fontes, 2001. VYGOTSKY, L. S., LURIA, A. R., LEONTIEV, A. N. Linguagem desenvolvimento e aprendizagem. São Paulo: Ícone: Editora da Universidade de São Paulo, 1988. Fabiele Cristiane Dias Broietti. Professora da Universidade Estadual de Londrina. [email protected] Sônia Regina Giancoli Barreto. Professora da Universidade Estadual de Londrina. [email protected] Flaveli Aparecida de Souza Almeida. Professora da Universidade Estadual de Londrina. [email protected] Raisa Correia. Aluna da Universidade Estadual de Londrina. [email protected] II Simpósio Nacional de Ensino de Ciência e Tecnologia 07 a 09 de outubro de 2010 Artigo número: 206 ISSN: 2178-6135