0 Revista Brasileira de Ensino de F sica, vol. 22, no. 4, Dezembro, 2000 Editorial 1. Avalia c~ ao dos cursos de f sica do pa s O programa de avaliac~ao, promovido pelo MEC, atingiu, neste ano, os cursos de fsica. Nossos graduandos, pela primeira vez, prestaram o Exame Nacional, conhecido como Prov~ao. Uma comiss~ao, formada por Cid Bartolomeu de Araujo (UFPE), Elcio Nogueira (Universidade do Vale da Paraba), Ernst Hamburger (IFUSP), Fernando Cerdeira (UNICAMP), Fernando de Souza Barros (UFRJ), Jose David Mangueira Vianna (UnB) e Lvio Amaral (UFRGS), estabeleceu as diretrizes gerais para o Prov~ao de fsica, denindo seus objetivos, perl, habilidades exigidas do graduando e conteudos gerais e especcos (para bacharelado e licenciatura). A elaborac~ao e correc~ao da prova cou a cargo da Fundac~ao Carlos Chagas. Deve-se destacar que as 40 (quarenta) quest~oes de multipla escolha, abordando os conteudos gerais (fsica basica mais topicos de fsica moderna) foram comuns aos concluintes de bacharelado e licenciatura, enquanto que a parte discursiva { 5 (cinco) quest~oes abordando conteudos especcos { foi diferente para licenciandos e bacharelandos. Segundo Fernando de Souza Barros, \a denic~ao dos conteudos e a identicac~ao dos respectivos `pesos' dos conteudos dos prov~oes, pelas `comiss~oes de cursos', formam, factualmente o `primeiro currculo' do pas. Ha indcios de que cursos de formac~ao de professores do pas ministram apenas parte desses conteudos". Adianta ainda que \os criterios para selec~ao das comiss~oes de provas t^em que ser aprimorados, devendo preciso se exigir experi^encias dessas equipes em tecnicas de avaliac~ao especcas para exames desta natureza". E que a comunidade verique se, de fato, este Prov~ao atendeu as diretrizes e contemplou os conteudos programaticos estabelecidos pela comiss~ao. No entanto, Souza Barros ressalta que \os prov~oes promovem o ensino publico. As divulgac~oes pela mdia dos resultados dos prov~oes nos ultimos cinco anos, s~ao aquelas raras oportunidades nas quais estabelecimentos de ensino superior publico est~ao recebendo alguma apreciac~ao positiva". Os resultados do Prov~ao de fsica comprovam esta asserc~ao pois, exceto em algumas poucas instituic~oes confessionais, o desempenho dos graduandos em universidades publicas supera, em muito, o de formandos em instituic~oes privadas: apenas 13,6% dos cursos de fsica em instituic~oes particulares atingiram os conceitos A e B, enquanto este percentual chega a 48,5% nas instituico~es federais. No conjunto das universidades, os conceitos A e B foram conquistados por 34,3% dos cursos, 38,8% foram avaliados com o conceito C, enquanto que 20,9% obtiveram os conceitos D e E. A Regi~ao Sul foi a que atingiu o maior percentual de cursos { 37,5% { com conceitos A e B, seguida da Regi~ao Sudeste com 34,3%, da Nordeste com 20% e da Centro-Oeste com 16,7%. Os resultados do Prov~ao ja foram divulgados ocialmente e dever~ao ser assimilados, com maior ou menor grau de profundidade, pela comunidade acad^emica. Os resultados divulgados do Prov~ao 2000 n~ao discriminam licenciandos de bacharelandos em fsica. Portanto, as notas por instituic~ao reetem esse fato e como consequ^encia, os respectivos coordenadores de bacharelado e licenciatura nas instituic~oes n~ao conseguem diagnosticar as insuci^encias dos \seus alunos". Comparando os resultados dos Prov~oes dos cursos basicos { fsica, matematica, letras (portugu^es) e biologia { que preparam os professores dos ensino medio e fundamental para os proximos 30 anos {, constata-se que s~ao impressionantes as baixas distribuic~oes das medias gerais desse Prov~ao 2000 para os referidos cursos. Entre medias no intervalo de 0 a 10, a fsica tem o baricentro da distribuic~ao perto de 3,0; a matematica de 1,0; letras de 3,0; e biologia de 2,5. Num exame supercial dessas medias, ca evidente a inu^encia dos cursos de instituic~oes privadas para formar professores, principalmente de matematica, onde s~ao assustadores os baixos rendimentos dos alunos dos estabelecimentos isolados e das faculdades integradas. A avaliac~ao prosseguiu com a analise das condic~oes de oferta dos cursos de fsica (bacharelado, licenciatura plena e licenciatura em ci^encias/habilitac~ao em fsica) em cerca de 80 instituic~oes. O processo foi elaborado e conduzido por uma comiss~ao formada por Eliane Angela Veit (UFRGS), Fernando J. da Paix~ao (UNICAMP), Francisco Arthur Braun Chaves (UFRJ), Frederico C. Montenegro (UFPE), e Roberto Mendonca Faria (IFSCUSP). Mais de oitenta professores visitaram as instituic~oes de ensino superior para avaliar o corpo docente (titulac~ao, dedicac~ao ao curso, produc~ao acad^emico-cientca), o projeto pedagogico do curso (objetivos, concepc~ao curricular, organizac~ao didatico-pedagogica, perl do egresso) e as instalac~oes (salas de aula e de estudos, laboratorios, recursos audiovisuais, biblioteca, infra-estrutura administrativa etc.). A comiss~ao de visita, constituda por dois professores, dispunha de um instrumento de avaliac~ao (um `amigavel' software) contendo os indicadores a serem utilizados no processo de avaliaca~o. Apos a atribuic~ao de conceitos, seguia-se um relato dos pontos fortes e fracos bem como recomendac~oes e observac~oes gerais nos itens avaliados Os questionarios foram analisados e sistematizados pela comiss~ao de especialistas e este trabalho ja foi encerrado. O relatorio nal aguarda divulgac~ao. De acordo com Fernando Paix~ao, \e importante comecar a avaliar. Trata-se de uma grande conquista o estabelecimento de padr~oes Revista Brasileira de Ensino de F sica, vol. 22, no. 4, Dezembro, 2000 1 para avaliar os cursos e o conjunto de professores que participaram da avaliac~ao. A exist^encia da avaliac~ao induz as instituic~oes a reetirem sobre as condic~oes de oferta de seu curso, pelo conhecimento dos criterios implementados no instrumento de avaliac~ao bem como, pelo relatorio com os pontos fortes e fracos indicados pela Comiss~ao. Os resultados, em geral, como apontado pelo Souza Barros, favorecem o ensino publico". Com relac~ao a estes dois sistemas de avaliac~ao dos cursos, Souza Barros destaca que \devido ao espaco que vem recebendo da mdia, o impacto do Prov~ao esta criando na opini~ao publica uma imagem distorcida do que deve ser um processo de avaliac~ao das instituic~oes de ensino superior; as avaliac~oes dessas instituic~oes pelas comiss~oes de especialistas n~ao recebem igual atenc~ao". 2. Lic~ oes a serem aprendidas? 3. O centen ario do quantum de energia A queda no numero de graduados em fsica e a preval^encia do analfabetismo cientco do publico foram indicadores que levaram organizac~oes de fsica dos Estados Unidos, a Associac~ao Americana de Professores de Fsica (AAPT), a Sociedade Americana de Fsica (APS) e o Instituto Americano de Fsica (AIP) a repensar o ensino da graduac~ao. Ruth Howes, presidenta da AAPT, analisa, neste numero da RBEF, as principais mudancas que t^em ocorrido na fsica como ci^encia, no comportamento dos estudantes de fsica e de outros cursos, no mercado de trabalho, nos departamentos de fsica que se dedicam ao ensino de graduac~ao, no atendimento a `clientela' de outros cursos, e na formac~ao de professores para o ensino medio. Relata ainda o desenvolvimento de uma forca-tarefa, patrocinada por essas sociedades, que organizou atividades concentradas na fsica da graduac~ao, para levantar ideias de como mobilizar os departamentos de fsica do pas, sensibilizando-os para as diculdades a serem enfrentadas. A partir de 1996 foram organizadas varias confer^encias envolvendo especialistas e responsaveis pelos programas da graduac~ao em fsica: I. A Fsica na encruzilhada: inovac~ao e revitalizac~ao da fsica da graduac~ao - Planos para ac~ao; II. Confer^encia de Chefes de Departamento de Fsica sobre o topico Educac~ao na Graduac~ao em Fsica: Respondendo as Expectativas de Mudanca; III. Construindo Programas de Fsica na Graduac~ao para o Seculo 21. Outras ac~oes, como ocinas para novos membros do corpo docente destinadas a apresentar-lhes resultados de pesquisa em educac~ao em fsica, considerada como componente indispensavel para o desenvolvimento dos novos currculos. Os resultados desses estudos geraram algumas lic~oes que resumimos abaixo: 1. Ha um consenso crescente, dentro da comunidade de fsica, ou seja de que e necessario procurar ativamente a melhora da fsica na graduac~ao e de que isso n~ao e obvio ou facil; importante que um numero substancial dos professores participe das mudancas necessarias: com atenc~ao 2. E concentrada na educac~ao, no nvel da graduac~ao, incluindo a formac~ao dos futuros professores para ensino fundamental e medio (em qualidade e em numeros adequados a solicitac~ao educacional) assim como dos graduados em fsica, fsicos e engenheiros (mudanca cultural); 3. Um programa de graduac~ao envolve mais do que meramente o currculo. Inclui recrutar alunos, monitoralos e envolv^e-los em pesquisa. Os projetos devem ser divididos entre os docentes para a melhor utilizac~ao das capacidades; evidente que um programa de "padr~ao unico" n~ao se ajusta a todos. A diversidade deve ser reconhecida como 4. E uma caracterstica dos departamentos de fsica. Portanto, e preciso encontrar mecanismos de troca de informac~oes entre departamentos. A soluco~es podem assim ser adaptadas por outras instituic~oes. Ha cem anos, Max Planck introduziu o conceito de quantum de energia de modo a construir uma base teorica para a sua formula emprica da distribuic~ao espectral da radiac~ao do corpo negro. O centenario de nascimento da teoria qu^antica esta sendo comemorado em todo o mundo em confer^encias e simposios, e varios livros foram recentemente editados. No Brasil, diversos seminarios est~ao sendo realizados em varias instituic~oes. A RBEF alia-se a outras revistas e periodicos, com o intuito de homenagear Planck e celebrar este evento historico, publicando dois artigos fundamentais: a sua primeira comunicac~ao, na sess~ao da Sociedade Alem~a de Fsica em 19 de outubro de 1900, em que prop~oe a sua formula para a intensidade espectral a partir de uma engenhosa interpolac~ao entre dois limites de frequ^encia da radiac~ao e o trabalho completo e mais detalhado de suas ideias e calculos, submetido ao Annalen der Physik, poucas semanas apos a sua comunicac~ao de 14 de dezembro de 1900 na, hoje celebre, reuni~ao da Sociedade Alem~a de Fsica, em que inventou o quantum de energia para justicar a sua formula emprica. Em um outro artigo, Nelson Studart discute alguns aspectos historicos e pedagogicos dos trabalhos seminais de Planck.