REPRESENTAÇÃO SOCIAL DE PROFESSORES SOBRE A PROGRESSÃO CONTINUADA Lívia Paulo de Araújo RESUMO Tendo em vista o debate sobre a efetividade das novas estratégias para combater o fracasso escolar na rede pública de ensino, como o sistema de ciclos, de aceleração da aprendizagem e da progressão continuada, o objetivo desta dissertação foi investigar as representações sociais de professores que atuam nas classes de progressão sobre essa proposta. Sob abordagem qualitativa e referencial teórico-metodológico das representações sociais, a pesquisa de campo realizou-se com 23 professores de 15 escolas municipais das Zonas Sul (8) e Norte (7) do Rio de Janeiro. Utilizou-se como instrumentos de coleta de dados fichas de identificação () socioculturais, questionários abertos e fichas de acompanhamento. Constatou-se que, dos 23 professores, apenas 5 optaram por trabalhar com a progressão. Destes, 2 cursaram especialização em problemas de aprendizagem. Os resultados mostraram, além da rotatividade, que os professores sentem-se despreparados para lidar com o perfil do aluno da progressão, demonstrando baixo engajamento e insatisfação em relação à proposta. Nos processos representacionais, verificou-se que os professores deslocaram o foco da proposta para o aluno da progressão, gerando () a formação de dois estigmas distintos em torno deste aluno: o “aluno-burro”, com o sentido de incapaz para a aprendizagem; e o “alunoproblema”, aquele cujas condições sociais e econômicas são desfavoráveis ao aprendizado. O resultado deste deslocamento é que os professores não constroem uma representação autônoma sobre a proposta da progressão ancorada na ação pedagógica. Na ausência de uma representação ancorada na ação pedagógica, os professores recorrem às representações constituídas historicamente; no imaginário social, prevalece o ideário de que a escola pública é para a criança pobre e que esta criança é menos capaz. Assim justifica-se uma política de segregação através da progressão continuada, ancorando-a à imagem de Gueto. Os alunos da progressão, que nem ao menos concluíram o processo de alfabetização, fazem parte de um segmento da pobreza para o qual a escola constitui apenas um espaço de proteção da violência e de ocupação do tempo ocioso; para estes alunos, a escola deixa de cumprir qualquer função cognitiva, revelando a antecipação que esta instituição faz da inutilidade social destas crianças. Palavras-chave: políticas públicas; fracasso escolar; ciclo; progressão; representações sociais.