REVISTA DO CFCH • Universidade Federal do Rio de Janeiro ISSN 2177-9325 • www.cfch.ufrj.br Edição Especial JICTAC • agosto/2014 “África: De que continente estamos falando?”: desconstruindo estereótipos e repensando ações docentes Fernanda Gabrielly Terra Moura [email protected] Gabriela Graciosa da Fonseca [email protected] Instituto de História – 13º período Orientadora: Carmen Teresa Gabriel Anhorn – Faculdade de Educação Projeto PIBID UFRJ – História O objetivo do presente trabalho consiste em analisar o processo de reelaboração de uma oficina desenvolvida no âmbito do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência – História, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Tendo como local de atuação o Colégio Estadual Antonio Prado Junior, o projeto visa, entre outras práticas, possibilitar o constante repensar das ações docentes e das relações com o saber e os sujeitos que o integram, como parte do processo de formação inicial dos graduandos, de grande relevância para a construção de uma prática de docência responsável. Nesse sentido, percebeu-se ser necessária a análise da primeira atividade do projeto “África(s)”, relacionada a reflexões sobre o continente africano, de modo que a discussão sobre as ações dos bolsistas e a própria estrutura da atividade fossem levadas em consideração. A culminância desse processo ocorreu com a elaboração e aplicação da oficina “África: De que continente estamos falando”, cuja finalidade é apresentar para os educandos do ensino médio da escola em questão novos olhares acerca do continente africano. O que se deu como tentativa de questionar com esses alunos construções de estereótipos e relações de alteridade sobre modos de vivências distantes e semelhantes do círculo de experiências desse grupo de estudantes. A oficina foi aplicada três vezes, nos dias 14 e 16 de maio de 2013, em turmas de primeiro e terceiro anos do Ensino Médio. A atividade foi dividida em três partes. A primeira etapa O Varal, foi iniciada com o estranhamento dos alunos a algumas imagens que retratam realidades do continente africano: A sala é dividida em quatro grupos com nomes de orixás, já com a seleção de imagens para cada um. Os estudantes entram em 1 REVISTA DO CFCH • Universidade Federal do Rio de Janeiro ISSN 2177-9325 • www.cfch.ufrj.br Edição Especial JICTAC • agosto/2014 sala com música de artistas africanos contemporâneos ao fundo e pedimos que escolham 3 imagens que representem a África para montar o varal. Em seguida, o segundo momento, O Vídeo, quando foi exibido o vídeo da nigeriana Chimamanda Adichie, “Os perigos de uma História única”: Pedimos que os alunos relacionem suas escolhas com a fala da escritora nigeriana e, ao final do vídeo, perguntamos se eles gostariam de trocar ou acrescentar alguma imagem no varal. Segundo Adichie: A história única cria estereótipos. E o problema com estereótipos não é que eles sejam mentira, mas que eles sejam incompletos. Eles fazem a história tornar-se uma histórica única.(...) Quando nós rejeitamos uma história única, quando percebemos que nunca há apenas uma história sobre nenhum lugar,nós reconquistamos um tipo de paraíso. Frente às mudanças, iniciamos a última etapa, As Legendas, quando os alunos justificaram suas escolhas: e a partir delas os bolsistas expuseram o porquê das escolhas daquelas imagens, o que elas representavam, avaliando se havia estereótipos em suas falas e ressaltando falas de diversidade na escolha das imagens: Os grupos apresentam 2 REVISTA DO CFCH • Universidade Federal do Rio de Janeiro ISSN 2177-9325 • www.cfch.ufrj.br Edição Especial JICTAC • agosto/2014 suas escolhas e explicam suas modificações no varal. Após as apresentações, os bolsistas PIBID informam que todas as imagens são da África e leem as legendas das imagens escolhidas do varal e mais algumas que os estudantes escolham por curiosidade. Como exemplo, a imagem de um menino sentado em Ganvié, no Benin: O que você vê nessa foto? O retorno dos alunos foi positivo frente às novidades com as quais entraram em contato e à possibilidade da multiplicidade de abordagens que passaram a ter de uma realidade. A oficina enquanto prática de reflexão consciente de ações relacionadas ao saber e ao ensino, entendendo a escola como espaço plural, alcançou seus objetivos de problematizar os estereótipos sobre África. Do mesmo modo que possibilitou um espaço de desconstrução dessas visões através de diálogo aberto entre os mediadores da oficina e os educandos envolvidos nessa atividade. Referências bibliográficas COSTA, M. A. F. ; DOMINGUES, M. P. B. . "De que continente estamos falando? A oficina "África(s) em debate". In: III Encontro Internacional de Ensino de História e VIII Encontro Nacional Perspectivas do Ensino de História, 2012, Campinas. ARAUJO, Cinthia Monteiro de. A colonialidade do saber histórico escolar: um ponto de vista sobre a história da história ensinada. In: Educação, Autonomia e Identidades na América Latina: IX Congresso Iberoamericano de história da educação latino- americana. Rio de Janeiro, 2009. BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Ensino de História: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2009. 3 REVISTA DO CFCH • Universidade Federal do Rio de Janeiro ISSN 2177-9325 • www.cfch.ufrj.br Edição Especial JICTAC • agosto/2014 BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação nº 9394 de 20 de dezembro 1996. Brasília: Câmara dos Deputados, Coordenação Edições Câmara, 2010. Disponível em: http://bd.camara.gov.br/bd/bitstream/handle/bdcamara/2762/ldb_5ed.pdf. Acesso em: 04 jun. 2012. HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 11 ª ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2006. HEYWOOD, Linda. (Org.) Diáspora Negra no Brasil. São Paulo: Editora Contexto, 2008. 222 p. LIMA, Mônica. Aprendendo e ensinando história da África no Brasil: desafios e possibilidades. In: GONTIJO, Rebeca; MAGALHÃES, Marcelo de Souza & ROCHA, Helenice Aparecida Bastos. A escrita da História escolar: memória e historiografia. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2009. M’BOKOLO, Elikia. África Negra: história e civilizações. 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