REVISTA DO CFCH • Universidade Federal do Rio de Janeiro
ISSN 2177-9325 • www.cfch.ufrj.br
Edição Especial JICTAC • agosto/2014
Projeto de Prevenção ao Uso Abusivo de Drogas
Emmanuela Girão [email protected] 10º período
Isabela Serra [email protected] 5º período
Luisa Wolff [email protected] 8º período
Patrick Oliveira [email protected] 10º período
Rodrigo Mattei [email protected] 5º período
Veluma Martins [email protected] 5º período
Instituto de Psicologia – UFRJ
Orientadora: Elza Rocha Pinto – Instituto de Psicologia – UFRJ
Introdução
Em junho deste ano, a FIOCRUZ divulgou um relatório da pesquisa sobre o
consumo de crack, encomendada pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas
(SENAD). Realizada nas principais capitais do país, a pesquisa detectou 370 mil
usuários (menos de 1% da população brasileira). 14% destes são menores de idade.
Sendo assim, apesar das informações encontradas na pesquisa contrariarem a ideia de
“epidemia do crack”, a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas passou a utilizálas como justificativa para as políticas públicas do governo neste campo.
Outro índice que serve a este fim e ilustra o cenário atual é a pesquisa do IBGE
realizada entre 2009 e 2012. Ela revelou um forte aumento do consumo de drogas entre
adolescentes (entre 13 e 15 anos), tendo chegado a 9,9% em 2012 a quantidade de
jovens que experimentaram drogas ilícitas - em 2009, esse número era de 8,7%. Não
faltam, portanto, análises estatísticas que retifiquem as políticas públicas de atuação
nesse cenário.
São também muito significativas as descobertas de novas substâncias
psicoativas, especialmente as sintéticas. Embora as Nações Unidas (UNODC) tenham
apontado a estabilidade no uso de drogas tradicionais, novos psicotrópicos (como
“miau-miau”, “spice” e “sais de banho”) muitas vezes levam os jovens a acreditar que
estão “curtindo uma diversão de baixo risco” (UNODC, 2013). Em paralelo, não é
desconhecida a presença de drogas nos ambientes escolar e familiar, que se mostram
grandes influências nos processos de escolha e subjetivação (IBGE, 2003). De fato, a
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pesquisa que nossa equipe realizou no CIEP César Pernetta, localizada no Complexo da
Maré, no Rio de Janeiro, indica que os alunos consideram a facilidade do acesso aos
traficantes como um fator de risco para o abuso de drogas.
Todavia, é importante não individualizar os contextos. É inegável a influência da
sociedade capitalista, principalmente no que toca a exigência de produtividade. Como
encontramos em Birman (1997:10): “Existe, assim, interesses imensos e incalculáveis
inscritos nos circuitos da produção, da circulação, da distribuição e do consumo das
drogas”. Um panorama que patologiza o cotidiano, frequentemente em prol dos
interesses socioeconômicos, encontra suporte nos fármacos e nas substâncias ilegais
como um todo.
Embora condenemos a apologia ao sofrimento, não se pode ignorar que algumas
questões humanas importantes são evitadas, reprimidas ou negadas (Basaglia, 1980).
Sob a ótica do consumo, elas acabam sendo substituídas por uma busca frenética por
felicidade e bem estar, que encontra atalho no uso de psicotrópicos. As propagandas,
por sua vez, são cada vez mais enfáticas na significação positiva da bebida alcóolica,
por exemplo - ao ponto de provocar a interferência do CONAR sobre o seu conteúdo.
Todavia, o mantra “beba com moderação” é silencioso e bem menos impactante, se
comparado ao apelo causado pela veiculação de figuras públicas e festividades.
Diante desta realidade, é impossível não se preocupar com a questão da
prevenção primária. O desenvolvimento de ações que procurem retardar a primeira
experiência, bem como reduzir o abuso de drogas (lícitas e ilícitas) entre os adolescentes
é de fundamental importância. Dessa forma, é preciso atuar junto aos interesses e
influência dos mesmos. A escola, sendo o seu segundo maior segmento de credibilidade
(ABEAD, 2002), prova-se então um dos cenários essenciais para a concretização dessas
atuações.
Objetivos
De modo a colaborar com a transformação deste contexto, nosso trabalho visa
levantar dados relacionados ao perfil e a adequação das estratégias de prevenção.
Somado a isso, a equipe busca desenvolver intervenções que procure adiar o consumo
precoce de drogas, procurando, assim, evitar o abuso das mesmas junto aos
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adolescentes. Outro foco de nossas atividades é a expansão qualitativa da formação do
futuro bolsista, tanto profissional quanto pessoalmente.
Metodologia
Nossa atuação em 2013 ocorreu no CIEP César Pernetta, localizado no
Complexo da Maré, no Rio de Janeiro. A equipe realizou dinâmicas junto a quatro
turmas do ensino fundamental, totalizando cem alunos, aproximadamente, cujas idades
variaram dos 12 aos 17 anos. Foram aplicados dois questionários: (a) Lista de fatores de
risco e prevenção; e (b) Nível de conhecimento/uso de substâncias psicoativas. Além
disso, as atividades de ambientação foram algumas discussões em grupo, somadas a
criação de murais e painéis e à participação ativa dos alunos na divulgação de materiais
sobre o tema nas redes sociais.
Resultados
Nossas respostas mais significativas se deram como resultado do segundo
questionário. Nele, dos 23 alunos entrevistados, 39% possuíam tanto amigos quanto
familiares usuários de drogas. Encontramos também uma diferença significativa entre
os gêneros, dado que 14 das 17 meninas entrevistadas se declararam usuárias (é
importante notar, contudo, que o questionário incluía a cafeína como substância).
Quanto ao nível de informação, foi constatado que a maconha, o tabaco e o alcool era
conhecido por todos, ao passo que o LSD passava despercebido pela maior parte dessa
população.
Conclusões
Diante de todos os dados apresentados, nota-se a importância de uma
intervenção psicopedagógica com os jovens. Deve-se considerar que, apesar dos fatores
ambientais, é necessária uma atuação vigorosa na passagem de informação e
conhecimento sobre psicoativos para os jovens. Nesse sentido, é necessário que exista a
problematização deste cenário junto aos jovens, estimulando as capacidades de reflexão
e decisão, para tornar autênticas suas escolhas.
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Com nosso projeto, buscamos não só investigar como esses indivíduos
significam a experiência com as drogas, mas, também, debatê-la. A troca de dúvidas e
visões nos parece fundamental para a construção de uma visão que saiba, por si,
identificar o uso e o abuso futuramente. Além disso, a conscientização sobre os
mecanismos de prazer e desprazer, em paralelo, pode se provar crucial para a redução
do caráter proibitivo e sedutor que a droga assume, muitas vezes, na adolescência e
durante toda a vida. Tentamos expandir, dessa forma, o acesso à informação sobre
substâncias tanto lícitas quanto ilícitas, através da parceria com o contexto educacional,
de modo a promover uma ação conjunta e mobilizadora sobre o tema.
Referências bibliográficas
ABEAD - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS SOBRE ÁLCOOL E
OUTRAS DROGAS (2002) - Diretrizes sobre Comorbidades em Dependência ao
Álcool e Outras Drogas.
BAPTISTA, M., CRUZ, M. SANTOS, MATIAS, R. (2003) - Drogas e PósModernidade. Rio de Janeiro: EdUERJ.
BAPTISTA, M., INEM, Clara (1997) – Toxicomanias – Abordagem Multidisciplinar.
Rio de Janeiro: NEPAD/UERJ: Sette Letras.
BIRMAN, JOEL – Que Droga!!! . Em: INEM, CLARA, BAPTISTA, MARCOS (orgs.)
(1997) – Toxicomania: uma abordagem clínica. Rio de Janeiro: NEPAD/UERJ:
Editora Sette Letras
CEBRID/UNIFESP (2001) - I Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Drogas
Psicotrópicas no Brasil. In: CARLINI E.A.; GALDURÓZ, J.C.F.; NOTO, A.R.;
NAPPO, S.A. (2001)
CEBRID/UNIFESP (2003) - Levantamento Nacional sobre o Uso de Drogas entre
Crianças e Adolescentes em Situação de Rua nas 27 Capitais Brasileiras. In:
CARLINI E.A.; CARLINI, C.M.A.; GALDURÓZ, J.C.F.; NOTO, A.R.; NAPPO,
S.A., FONSECA, A.M.; MOURA,Y.G. (2003).
CEBRID/UNIFESP (2005) - II Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Drogas
Psicotrópicas no Brasil – 2005, CEBRID, Departamento de Psicobiologia –
UNIFESP.
ROCHA-PINTO, E. – Alcoolismo Feminino – Conhecer para Prevenir. Tese de
Doutorado, defendida na Pós-Graduação em Saúde da Criança e da Mulher, no
Instituto Fernandes Figueira (FIOCRUZ), em 2010.
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