CONFIGURAÇÃO DOS ESTÁGIOS CURRICULARES SUPERVISIONADOS NOS CURSOS DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS INTEGRANTES DO SISTEMA ACAFE - ASSOCIAÇÃO CATARINENSE DAS FUNDAÇÕES EDUCACIONAIS Resumo O objetivo deste estudo consiste em identificar como se configuram os estágios curriculares supervisionados nos cursos de Ciências Contábeis componentes do sistema ACAFE – Associação Catarinense das Fundações Educacionais. Para atingir o objetivo inicialmente proposto foi utilizada pesquisa bibliográfica, que buscou desenvolver um referencial teórico sobre o processo de ensino-aprendizagem dando ênfase aos estágios curriculares supervisionados acerca das Diretrizes Curriculares para os cursos de Ciências Contábeis. Quanto aos objetivos, este estudo caracteriza-se como descritivo, pois procurou descrever os estágios curriculares supervisionados nos cursos de Ciências Contábeis do sistema ACAFE, bem como, os procedimentos utilizados para integrar teoria e prática. Realizou-se, assim, um levantamento junto a esta associação, cujo instrumento de coleta de dados constituiu-se de um questionário, composto por perguntas abertas e fechadas. Este foi encaminhado à coordenação dos referidos cursos, sendo que as análises procederam-se de forma qualitativa. Como resultado da pesquisa evidenciou-se que os cursos têm conhecimento do que trata a Resolução CNE/CES nº 10, de 16 de dezembro de 2004, em relação aos estágios curriculares supervisionado, entretanto nem todos contemplam esta prática pedagógica. Os estágios são realizados em ambientes disponibilizados pelas Universidades ou em organizações conveniadas e as principais atividades desenvolvidas concentram-se em constituição de empresas, escrituração contábil e fiscal, contabilidade de custos e controladoria. Na ausência do estágio supervisionado, os cursos adotam a disciplina de laboratório contábil, cursos de extensão e de formação continuada visando integrar teoria e prática. Palavras-chave: Estágios Curriculares Supervisionados, Cursos de Ciências Contábeis, Sistema ACAFE. 1 Introdução Os habituais procedimentos didáticos baseados apenas na transmissão e reprodução de conteúdos não são mais suficientes para atender as novas exigências educacionais originadas em decorrência das crescentes mudanças econômico-sociais. Assim, estes devem ser aprimorados, tendo em vista a necessidade de formar profissionais capacitados para atuarem frente a este contexto de competitividade. Nesse sentido, a preocupação com o processo de ensino-aprendizagem deve ser constante, principalmente nos Cursos de Ciências Contábeis, uma vez que o profissional desta área necessita construir conhecimentos e desenvolver atribuições fundamentais para garantir a continuidade das organizações. De acordo com Marion e Santos (2008) espera-se do contador uma evolução constante, além do desenvolvimento de uma série de atributos inerentes às diversas especializações da profissão, pois atualmente não é mais possível sobreviver apenas com a postura de simples escriturador. Ressalta-se, segundo Masetto (2003), que existem inúmeros métodos de ensino que podem ser utilizados tanto em ambientes universitários presenciais (salas de aula, laboratórios, bibliotecas), como de aprendizagem profissional (estágios, visitas técnicas, excursões), ou virtuais (internet, fórum, vídeo conferências, correio eletrônico). Dentre as técnicas usadas nos ambientes de aprendizagem profissional, convém destacar o estágio, visto que este possibilita a integração dos conhecimentos teóricos com a prática, fator esse essencial a formação do profissional contábil. Dessa forma, considera-se de relevante contribuição para os estudos relacionados ao processo de ensino-aprendizagem a identificação de como essa prática pedagógica está sendo configurada nos Cursos de Ciências Contábeis, bem como ampliar a discussão acerca dos procedimentos utilizados na integração da teoria e prática. Diante disso, o objetivo deste artigo consiste em identificar como se configuram os estágios curriculares supervisionados nos cursos de Ciências Contábeis componentes do sistema ACAFE. Para tanto, fez-se inicialmente uma revisão de literatura sobre o tema em estudo, a qual serviu de embasamento para realização desta pesquisa. Em seguida, descreve-se a metodologia utilizada e apresentam-se os resultados obtidos. 2 O processo de ensino-aprendizagem O processo de ensino-aprendizagem é fundamental para a formação de profissionais de qualquer área de atuação, tendo em vista que estes precisam estar capacitados para desempenhar adequadamente suas atividades. Para Rezende e Almeida (2007, p. 2) “as exigências do mercado de trabalho requerem que os alunos estejam preparados para tais evoluções, assim as Instituições de Ensino devem preparar seus alunos para que possam estar à altura de tais exigências.” Observa-se, neste contexto, que esta responsabilidade recai sob as Instituições de Ensino, sendo que “os velhos métodos, onde prevaleciam a exposição oral e a centralização no professor não atendem mais a nova realidade da sala de aula.” (PARISOTTO; GRANDE; FERNANDES, 2006, p. 4) Dessa forma, Silva e Mendonça (2005) destacam que é necessário o desenvolvimento de competências e habilidade visando possibilitar aos indivíduos a utilização, no cotidiano do ambiente de trabalho, dos conhecimentos empíricos associados com os adquiridos na vida acadêmica. Isso só será possível por meio da definição apropriada “dos conteúdos programáticos, metodologia de ensino-aprendizagem, de avaliação, de práticas pedagógicas inovadoras e atividades acadêmicas complementares.” (SILVA; MENDONÇA, 2005, p. 103) Nesse contexto, Marion, Garcia e Cordeiro (1999) afirmam que a metodologia utilizada no processo de ensino-aprendizagem é fundamental para o sucesso do aluno. Silva e Mendonça (2005, p. 101) observam que, as metodologias de ensino-aprendizagem têm a finalidade de direcionar o funcionamento dos processos de manutenção e produtividade, facilitando a comunicação, a participação e a tomada de decisões. São caminhos para o grupo realizar seus fins. Não são absolutas nem intocáveis, mas ferramentas que o professor pode modificar, adaptar ou combinar. Salienta-se, de acordo com Marion, Garcia e Cordeiro (1999) que a criatividade dos professores conta muito no desenvolvimento deste processo, pois é necessário motivar o aluno à construção do conhecimento. Além disso, o docente deve conhecer o perfil dos acadêmicos, identificando suas formas de entender as informações, que podem ser: visual, auditiva ou cinestética (aprendizado por meio do movimento, toque ou fazer), bem como suas dificuldades individualizadas de aprendizagem, buscando meios para resolvê-las. Amaral et al (2006, p. 2) ressaltam que, o professor é o instrumento principal do processo de ensino-aprendizagem, sendo responsável pela instrução, orientação, comunicação e transmissão de conhecimentos. O seu trabalho é de facilitador de aprendizagem do aluno, por meio dos recursos disponíveis, metodologia, didática, e plano de ensino pré-elaborado. Certamente, com a combinação de todas essas atividades, o docente terá condições de atingir, de maneira progressiva, o desenvolvimento da capacidade mental e intelectual de seus alunos. Cabe observar que, principalmente, nos cursos de Ciências Contábeis deve-se dar atenção especial ao processo de ensino-aprendizagem, tendo em vista que “a contabilidade exige de seus profissionais uma constante atualização e complementação de conhecimentos, para não perderem a capacidade de acompanhar a constante evolução da técnica e da economia em geral.” (ROVER; LANGE, 1998, p. 35) Desse modo, diante das inúmeras mudanças, relacionadas tanto aos aspectos políticos, econômicos, sociais, tecnológicos, entre outros, que afetam significativamente a área contábil, faz-se necessário formar profissionais aptos a enfrentar o mercado de trabalho. De acordo com Silva e Mendonça (2005, p. 102) “os cursos de Ciências Contábeis devem proporcionar uma formação holística e generalista que capacite o profissional a identificar e solucionar problemas vivenciados nos diversos ambientes organizacionais e societários.” Para Parisotto, Grande e Fernandes (2006, p. 2) “o processo de ensino e aprendizagem na formação do profissional contábil, tem o papel de levar seus alunos á construção do conhecimento, com vistas à formação de profissionais que se expressem com criatividade, inovação e competência.” Nesse sentido, cabe destacar os instrumentos de ensino que Marion, Garcia e Cordeiro (1999) apresentam como aplicáveis à contabilidade, que são: a aula expositiva, excursões e visitas, dissertações e resumos, projeção de fitas, seminários, palestras, discussões em classe, resolução de exercícios, estudo de caso, aulas práticas, estudo dirigido, jogos de empresa e simulações. Entretanto, para Rover e Lange (1998, p. 36), “o ensino intelectualizado de sala de aula e mesmo de laboratório precisa estar contextualizado, referindo ao real, quer sob forma de atividade, de trabalho prático, de situação concreta já experimentada ou realizada, quer em realização para que o processo ensino-aprendizagem se complete.” As autoras salientam ainda que o estágio supervisionado tem significativa importância, pois proporciona condições para o acadêmico dar os primeiros passos na profissão. Silva e Mendonça (2005) enfatizam que “a qualidade do ensino deve ser medida pela qualidade das competências que o discente obtém durante a sua vida acadêmica.” Contudo, para que isso ocorra é necessário existir a possibilidade de aplicação dos conhecimentos teóricos em situações similares às da realidade da profissão contábil, possibilitando ao aluno aproximação da vivência prática. Diante disso, convém discorrer na seqüência sobre a prática do estágio, dando ênfase aos estágios curriculares dos cursos de Ciências Contábeis. 2.1 A prática do estágio Em relação a prática pedagógica de estágio, pode-se afirmar, de acordo com Masetto (2003, p. 127), que este “é considerado eixo fundamental de um currículo, e não apenas uma atividade a mais.” Porém, apesar de ser uma prática de formação comum em todas as profissões, muitas vezes, não é aproveitado pedagogicamente. Isso se dá em virtude da exigência de sua realização fora do horário de aula, quando o aluno, juntamente com o responsável do local que está sendo desenvolvido o estágio, tentam realizá-lo o mais rápido possível, visando cumprir unicamente esta obrigatoriedade. De acordo com Espíndula et al (2007) o estágio deve ser uma da experiência acadêmico-profissional que propicie a aplicação das teorias na prática, porém muitas vezes é entendido pelas empresas como uma forma de mão-de-obra barata e pelos estudantes como uma fonte de renda. Desse modo, segundo Masetto (2003), existe a necessidade de resgatar o estágio como ambiente essencialmente necessário para aprendizagem dos alunos. Portanto, é preciso valorizá-lo institucionalmente, colocando-o num lugar de destaque no currículo, pois favorece a integração da teoria com a prática. Além disso, é preciso valorizar o estágio perante os alunos, fazendo com que estes percebam que esta prática é uma das melhores condições de se formar e aprender, desde que seja bem planejado, executado e avaliado. Ressalta-se, segundo Jasinski (1999) (apud ESPÍNDULA el tal; 2007), que durante o estágio o aluno tem oportunidade de utilizar na prática os conhecimentos teóricos construídos no decorrer do curso, isso permite a percepção de como aplicar estes saberes na execução das tarefas e resolução dos problemas. Conforme Rezende e Almeida (2007) o estágio supervisionado consiste em uma estratégia de profissionalização que contempla o processo ensino-aprendizagem, ou seja, é a fase na qual prepara-se o aluno para ingresso no mercado de trabalho, por meio do desenvolvimento de atividades que integram a formação acadêmica com a prática profissional. Salienta-se, ainda segundo Masetto (2003), que essa técnica deve ser desenvolvida de acordo com as características específicas de cada profissão. Portanto, é de responsabilidade da universidade juntamente com os profissionais da área definir como os estágios serão operacionalizados. 2.2 Os estágios curriculares nos Cursos de Ciências Contábeis A legislação que trata dos estágios curriculares supervisionados inerentes aos cursos de Ciências Contábeis está embasada na Resolução CNE/CES nº 10, de 16 de dezembro de 2004, que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para os referidos cursos. Convém destacar que esta Resolução deixa claro, em seu artigo 7º, parágrafo terceiro, que a prática de estágio é opcional à instituição de ensino. Entretanto, observa-se que ao estabelecer os aspectos que deverão estar descritos na organização curricular, bem como no projeto pedagógico dos cursos, faz menção aos estágios curriculares supervisionados. Dessa forma, a Resolução CNE/CES nº 10/2004 determina que, Art. 2º As Instituições de Ensino Superior deverão estabelecer a organização curricular para cursos de Ciências Contábeis por meio do Projeto Pedagógico, com descrição dos seguintes aspectos: I – perfil profissional esperado para o formando, em termos de competências e habilidades; II – componentes curriculares integrantes; III – sistemas de avaliação do estudante e do curso; IV – estágio curricular supervisionado; V – atividades complementares; VI – monografia, projeto de iniciação ou projeto de atividade – como trabalho de Conclusão de Curso (TCC) – como componente opcional da instituição; VII – regime acadêmico de oferta; VIII - outros aspectos que tornem consistente o referido Projeto. Nesse sentido, verifica-se que entre os componentes que deverão estar inseridos no projeto pedagógico, tais como definição do perfil do profissional, sistemas de avaliação, atividades complementares, entre outros, essenciais à formação do bacharel em Ciências Contábeis, encontra-se o estágio curricular supervisionado. Ressalta-se, também, que no artigo 5º, a Resolução CNE/CES nº 10/2004 estabelece os conteúdos necessários que devem estar contemplados no currículo dos referidos cursos, que são, I – conteúdos de Formação Básica [...] II – conteúdos de Formação Profissional [...] III – conteúdos de Formação Teórico-Prática: Estágio Curricular Supervisionado, Atividades Complementares, Estudos Independentes, Conteúdos Optativos, Prática em Laboratório de Informática utilizando softwares atualizados para Contabilidade. Neste contexto, no que tange aos estágios convém observar que, Art. 7º O Estágio Curricular Supervisionado é um componente curricular direcionado para a consolidação dos desempenhos profissionais desejados, inerentes ao perfil do formando, devendo cada instituição, por seus Colegiados Superiores Acadêmicos, aprovar o correspondente regulamento, com suas diferentes modalidades de operacionalização. § 1º O estágio de que trata este artigo poderá ser realizado na própria instituição de ensino, mediante laboratórios que congreguem as diversas ordens práticas correspondentes aos diferentes pensamentos das Ciências Contábeis e desde que sejam estruturados e operacionalizados de acordo com regulamentação própria, aprovada pelo conselho superior acadêmico competente, na instituição. § 2º As atividades de estágio poderão ser reprogramadas e reorientadas de acordo com os resultados teórico-práticos gradualmente revelados pelo aluno, até que os responsáveis pelo estágio curricular possam considerá-lo concluído, resguardando, como padrão de qualidade, os domínios indispensáveis ao exercício da profissão. § 3º Optando a instituição por incluir no currículo do curso de graduação em Ciências Contábeis o Estágio Supervisionado de que trata este artigo, deverá emitir regulamentação própria, aprovada pelo seu Conselho Superior Acadêmico, contendo, obrigatoriamente, critérios, procedimentos e mecanismos de avaliação, observado o disposto no parágrafo precedente. Assim, as instituições que optarem por incluir os estágios curriculares supervisionados em seus currículos, deverão definir como estes serão operacionalizados, emitindo regulamentação específica que, obrigatoriamente, necessita ser aprovada pelo Conselho Superior Acadêmico. Rover e Lange (1998, p. 36) salientam que é “imprescindível que as Instituições ofereçam em seus Cursos de Ciências Contábeis o estágio como suporte fundamental para aliar a teoria à prática.” Desse modo, visando formar profissionais contábeis capacitados para enfrentar o mercado de trabalho, faz-se necessário o desenvolvimento de conhecimentos, habilidades e atitudes. Porém, isto só será possível por meio de um bom embasamento teórico, doutrinário, aliado à atividades práticas, realizadas em sala de aula, laboratórios ou demais ambientes, oportunizando o experimento da teoria na prática que ocorre no dia-a-dia das organizações. 3 Procedimentos metodológicos Para desenvolvimento deste estudo, primeiramente, realizou-se a definição dos procedimentos metodológicos que nortearam sua elaboração. Assim, no que tange aos objetivos, esta pesquisa caracteriza-se como descritiva, pois segundo Gil (1991, p.46) consiste na “descrição das características de determinada população ou fenômeno ou, então, o estabelecimento de relações entre variáveis.” Dessa forma, buscou-se descrever como são configurados os estágios curriculares supervisionados nos cursos de Ciências Contábeis do sistema ACAFE, bem como, as metodologias utilizadas para integrar teoria e prática. Quanto aos procedimentos trata-se de um estudo bibliográfico desenvolvido “a partir de material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos.” (GIL, 1991, p. 48). Abrange, também, levantamento efetuado junto aos coordenadores dos cursos de Ciências Contábeis que fazem parte do sistema ACAFE, totalizando quinze cursos, que são: Universidade Regional de Blumenau - FURB, Universidade do Contestado - UnC, Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC, Universidade para o Desenvolvimento do Alto Vale do Itajaí - UNIDAVI, Centro Universitário de Brusque - UNIFEBE, Universidade do Sul de Santa Catarina - UNISUL, Universidade do Vale do Itajaí UNIVALI, Universidade Comunitária Regional de Chapecó - UNOCHAPECÓ, Universidade do Oeste de Santa Catarina - UNOESC, Centro Universitário Barriga Verde – UNIBAVE, Centro Universitário de Jaraguá do Sul – UNERJ, Universidade do Planalto Catarinense – UNIPLAC, Universidade da Região de Joinville – UNIVILLE, Centro Universitário Municipal de São José – USJ e Fundação Educacional Hansa Hammonia – FEHH/UDESC. Para tanto, foram utilizados como instrumento de coleta de dados questionários, compostos por perguntas abertas e fechadas. Estes foram enviados via e-mail durante o mês de junho e julho de 2008, sendo que da população selecionado obteve-se seis respostas, correspondendo a 40 % do total enviado. A presente pesquisa faz uso de uma abordagem qualitativa, pois busca, descrever a complexidade de determinado problema, analisar a interação de certas variáveis, compreender e classificar processos dinâmicos vividos por grupos sociais, contribuir no processo de mudança de determinado grupo e possibilitar, em maior nível de profundidade, o entendimento das particularidades do comportamento dos indivíduos. (RICHARDSON, 1999, p. 80) Assim, o presente estudo se caracteriza como descritivo, de natureza qualitativa, desenvolvida por meio de levantamento efetuado junto à coordenação dos cursos de Ciências Contábeis integrantes do sistema ACAFE. 4 Descrição e análise de dados Apresenta-se primeiramente a caracterização dos cursos de Ciências Contábeis que compõem o sistema ACAFE. Na seqüência descrevem-se os dados gerais dos respondentes, bem como os resultados obtidos com a pesquisa inerente aos estágios curriculares supervisionados. 4.1 Caracterização dos cursos de Ciências Contábeis do sistema ACAFE De acordo a pesquisa realizada evidencia-se que, dos respondentes, três cursos existem há mais de 30 anos, enquanto os demais são relativamente recentes. Pode-se verificar, também, conforme quadro abaixo, que os cursos com maior tempo de existência possuem número superior de alunos. Ressalta-se que a Instituição E não respondeu a esses questionamentos. INSTITUIÇÃO Tempo de existência do Curso Nº de Alunos Forma de Ingresso Período de oferecimento do curso Duração Carga horária A 35 anos B 33 anos C 34 anos D 11 anos E Não respondeu F 6 anos 1.126 alunos (4 campi) Vestibular e processo seletivo Noturno 547 alunos 510 alunos 280 alunos 150 alunos Vestibular Vestibular Noturno Noturno Vestibular e processo seletivo Noturno Não respondeu Processo seletivo Noturno Noturno 4 anos 4 anos e meio 3.924 horas 4 anos 4 anos 4 anos 4 anos 3.000 horas 2.640 horas 3.580 horas 3.075 horas 3.000 horas Processo seletivo Quadro 1: Caracterização dos cursos de Ciências Contábeis do sistema ACAFE Observou-se, também, que a forma de ingresso nos cursos mais antigos ocorre, principalmente, por meio de vestibular e nos demais por processo seletivo, e estes são oferecidos no período noturno. Em relação ao tempo de duração e carga horária, contatou-se que a maioria dos cursos possui duração de quatro anos e em apenas um a carga horária é inferior 3.000 horas-aula. 4.2 Dados gerais dos respondentes O questionário enviado buscou identificar as características dos respondentes, assim foram levantadas algumas informações para conhecimento do perfil destes, tais como: cargo, tempo de atuação na Instituição e no cargo e formação acadêmica, conforme pode-se observar no quadro a seguir. INSTITUIÇÃO Cargo do Respondente Tempo de atuação na Instituição Tempo no cargo Graduação Especialização Mestrado Doutorado (em andamento) A Coordenador B Coordenador C Coord. adjunto D Coordenador E Coordenador F Coordenador 1998 1989 1997 2003 2003 1999 4 - 8 anos C. Cont. -Cont. gerencial - Gestão Univ. 1 - 4 anos C. Cont. Adm. Financ. e Orçamentária 1 - 4 anos C. Cont. Contabilidade e Controladoria 1 - 4 anos C. Cont. Planej. Tributário 4 - 8 anos C. Cont. Contabilidade de Custos Administração - Contabilidade 1 - 4 anos C. Cont. Gestão Estratégica de Empresas C. Contábeis - C. da educação Quadro 2: Perfil dos respondentes Constatou-se que, dos seis respondentes, apenas um ocupa o cargo de coordenador adjunto, sendo que os demais são coordenadores de cursos. Em relação ao tempo de atuação na Instituição o respondente da instituição B apresenta maior tempo, totalizando 19 anos. Os coordenadores das instituições A, C e F vem atuando, aproximadamente, por 10 anos, enquanto os das instituições D e E por cinco anos. Quanto ao tempo no cargo, os coordenadores dos cursos A e F estão no cargo de coordenador num período compreendido entre 4 à 8 anos, os demais entre 1 à 4 anos. Todos os respondentes possuem formação em Ciências Contábeis e especialização na área, sendo que apenas um é especialista em gestão universitária. Três são mestres e um está cursando doutorado em ciências da educação. 4.3 Aspectos inerentes aos estágios curriculares supervisionados a) Conhecimento e realização dos estágios curriculares supervisionados Primeiramente questionou-se aos cursos se possuem conhecimento do que trata a Resolução CNE/CES nº 10, de 16 de dezembro de 2004, em relação aos estágios curriculares supervisionado, todos os respondentes afirmaram que sim. INSTITUIÇÃO O curso tem conhecimento do que trata a Resolução CNE/CES 10 de 16/12/2004 sobre os estágios curriculares supervisionados? O curso possui estágio na matriz curricular? A Sim B Sim C Sim D Sim E Sim F Sim Sim Sim Sim Não Sim Não Quadro 3: Conhecimento e realização dos estágios curriculares supervisionados Em relação à questão que indagava se esta prática pedagógica está contemplada na matriz curricular dos cursos quatro dos respondentes garantiram que sim e dois não realizam. b) Configuração dos estágios curriculares supervisionados Foi indagado aos cursos que possuem em sua matriz curricular o estágio supervisionado; se esta prática pedagógica está prevista no projeto pedagógico do curso; se possui regulamentação própria e se este regulamento contempla critérios e procedimentos de operacionalização e mecanismos de avaliação dos estágios, todos respondentes que realizam estágio afirmaram que sim. INSTITUIÇÃO O estágio está previsto no projeto pedagógico do curso? Possui regulamentação própria? O regulamento contempla critérios e procedimentos de operacionalização e mecanismos de avaliação dos estágios? A Sim Sim Sim B Sim Sim Sim C Sim Sim Sim D - E Sim Sim Sim F - Quadro 4: Estruturação dos estágios de acordo com Resolução CNE/CES nº 10/2004 O quadro abaixo demonstra que os estágios curriculares supervisionados estão identificados na matriz curricular da maioria dos cursos pesquisados como uma disciplina, sendo que somente um o caracteriza como atividade de formação complementar. INSTITUIÇÃO Como o estágio está identificado na matriz curricular do curso? Carga horária Períodos em que ocorrem os estágio? A Atividade de formação complementar B disciplina C disciplina D - E disciplina F - 240 horas 7º e 8º 324 horas de 5ª a 8ª 180 horas 4º e 5º semestre - 200 horas Não respondeu - Quadro 5: Estruturação dos estágios na matriz curricular dos cursos Em relação à carga horária, constatou-se que todos os cursos divergem neste aspecto, apresentando uma variação entre 180 a 324 horas. Quanto à identificação dos períodos em que ocorrem os estágios, verificou-se que esta prática pedagógica acontece entre o 4º e 8º períodos, sendo que a instituição E não respondeu esta questão. No que tange à operacionalização dos estágios curriculares observou-se, conforme quadro a seguir, que estes são realizados, geralmente, em ambientes disponibilizados pela universidade ou em organizações (empresas, instituições) conveniadas. INSTITUIÇÃO Operacionalização A - Ambientes disponibilizados pela Universidade; B - Ambientes disponibilizados pela Universidade - Organizações conveniadas. O curso dispõe de infra-estrutura adequada para realização dos estágios? Quais Sim Laboratórios; Escr. Modelo; Empresa Júnior. C - Ambientes disponibilizados pela Universidade; D - - Organizações conveniadas. Sim Centro de práticas contábeis; Softwares. E - Ambientes disponibilizados pela Universidade; F - - Organizações conveniadas; Sim - Laboratórios; Softwares; Boletins informativos. - - Extensão universitária. Sim Laboratórios; Softwares. Quadro 6: Operacionalização dos estágios curriculares supervisionados - - Em relação à questão que indagava se o curso dispõe de infra-estrutura adequada para a realização das atividades dos estágios, todos os respondentes afirmaram que sim. Descrevendo como componentes da infra-estrutura laboratórios, escritório modelo, empresa Júnior, centro de práticas contábeis, softwares contábeis e boletins informativos específicos da área. Foi solicitado, também, que os respondentes relacionassem as atividades elencadas com as respectivas fases (períodos) dos estágios em que estas são realizadas, conforme podese verificar no quadro abaixo. ATIVIDADES/INSTITUIÇÃO Constituição de empresas Escrituração contábil e fiscal Contabilidade de custos Contabilidade Orçamentária Controladoria Auditoria e perícia Contabilidade governamental e Terceiro Setor Demais atividades: A 7ª e 8ª 7ª e 8ª 7ª e 8ª 7ª e 8ª 7ª e 8ª 7ª e 8ª 7ª e 8ª B 5ª e 7ª 5ª e 7ª 7ª 8ª 8ª - C 4º 4º e 5º 4º e 5º 5º - D - E - F - Desenvolvimento da problemática, objetivo geral e específico: 7ª e 8ª fase Plano de negócio: 6ª fase - - - - Quadro 7: Desenvolvimento de atividades por fases (períodos) Desse modo, observa-se que somente na Instituição A são desenvolvidas, durante os estágios, atividades de auditoria, perícia, contabilidade governamental e do terceiro setor. Sendo que nos demais, estas se concentram em constituição de empresas, escrituração contábil e fiscal, contabilidade de custos e controladoria. Ressalta-se que a Instituição E não respondeu a este questionamento. Questionou-se, ainda, o número de professores envolvidos com as atividades de estágio, obtendo-se as seguintes respostas: INSTITUIÇÃO Nº de professores envolvidos nos estágios A Todos, atuando como orientadores e examinadores de bancas de estágio B 15 professores e 1 coordenadora de estágio C 2 professores titulares, sendo que os estágios realizados em ambientes empresarias podem ser orientados por qualquer professor D - E 8 professores F - Quadro 8: Número de professores envolvidos nos estágios Esta pesquisa buscou evidenciar, também, se ao término dos estágios os acadêmicos apresentam relatório de estágios e o que deve constar neste relatório, conforme demonstra-se no quadro abaixo. INSTITUIÇÃO Os alunos apresentam relatório de estágio? Estrutura do relatório de estágio A Sim Referencial teórico; Caracterização da empresa; Análise de mercado; B Sim C Sim D - E Sim F - Referencial teórico; Pesquisa de campo relacionada aos conteúdos e Procedimentos contábeis fiscais e gerenciais, desde constituição de empresas, apuração de custos, folha de - Resumo do ambiente encontrado na empresa e perspectivas de melhoria através de sugestões. - continua conclusão Diagnóstico; Prognóstico; Considerações finais; Referências. atividades desenvolvidas durante o estágio. pagamento; escrituração contábil; relatórios contábeis fiscais e gerenciais. Quadro 9: Estrutura do relatório de estágio Todos os respondentes afirmaram que os alunos devem apresentar relatório de estágio, sendo composto, principalmente, por referencial teórico e pesquisa de campo, contemplando análise do ambiente encontrado nas organizações e sugestões de melhorias. c) Expectativas para implementação dos estágios curriculares supervisionados Aos cursos que não possuem estágio curricular supervisionado foi questionado se existe algum projeto para implantação e por quê. Desse modo, a Instituição D respondeu que sim, tendo em vista que o projeto pedagógico do curso está sendo atualizado e este é o momento oportuno para isto. O prazo previsto para esta implementação está compreendido entre um a três anos. Já a Instituição F não pretende implementar o estágio curricular supervisionado, uma vez que foi introduzida na grade curricular a disciplina de laboratório contábil, que, no entendimento do respondente, substitui esta prática pedagógica. Na ausência do estágio supervisionado investigou-se quais metodologias os cursos adotam para integrar teoria e prática. Para a instituição D isso é suprido por cursos de extensão e formação continuada em convênio com o SINDCONT - Sindicato dos Contabilistas, e para a Instituição F por meio de laboratório contábil. 5 Conclusões A realização deste estudo permitiu verificar como os cursos de Ciências Contábeis integrantes do sistema ACAFE configuram seus estágios curriculares supervisionados. Dessa forma, primeiramente caracterizou os cursos, onde foi evidenciado que estes são oferecidos no período noturno, sendo que a forma de ingresso ocorre por vestibular e processo seletivo. Na maior parte das Instituições o tempo de duração do curso corresponde a quatro anos e a carga horária é superior a 3.000 horas-aula. Além disso, constatou-se que os gestores destes cursos, ou seja, coordenadores possuem formação em Ciências Contábeis. No que tange aos estágios curriculares supervisionados, constatou-se que os cursos têm conhecimento do que trata a Resolução CNE/CES nº 10, de 16 de dezembro de 2004, entretanto, nem todos contemplam esta prática pedagógica em suas matrizes curriculares. Cabe ressaltar que os cursos que possuem estágio em seus currículos estão adequados ao art. 7º, § 3º da referida Resolução, que determina que as instituições optando por incluir no currículo do curso de ciências contábeis o estágio supervisionado deverão emitir regulamentação própria que contemplem critérios e procedimentos de operacionalização e mecanismos de avaliação dos estágios. Observou-se, também, que os estágios curriculares supervisionados estão identificados na matriz curricular da maioria dos cursos pesquisados como uma disciplina e ocorrem entre a 4ª e 8ª fase. Porém, em relação à carga-horária há uma variação entre as Instituições. Em relação à sua operacionalização verificou-se que estes são realizados, geralmente, em ambientes disponibilizados pela universidade ou em organizações (empresas, instituições) conveniadas. Assim, todos os cursos afirmaram que possuem infra-estrutura adequada para a realização das atividades dos estágios em ambientes internos da Universidade, tais como laboratórios, softwares específicos, boletins informativos, entre outros. As atividades desenvolvidas durantes os estágios concentram em constituição de empresas, escrituração contábil e fiscal, contabilidade de custos e controladoria. Sendo que em todas as Instituições, ao término dos estágios, os acadêmicos devem apresentar relatório, o qual abrange, principalmente, referencial teórico e pesquisa de campo. Os cursos que não possuem estágio curricular supervisionado adotam disciplinas de laboratório contábil, cursos de extensão e formação continuada como forma de integrar teoria e prática. Referências AMARAL, Patrícia Ferreira do et al. Ensino aprendizagem na área de educação contábil: uma investigação teórico-empírica. 3º Congresso USP de Iniciação Científica em Contabilidade. 27 e 28 de jul de 2006. Disponível em: http://www.congressoeac.locaweb.com.br/artigos32006/120.pdf. Acesso em: 10 jun. 2008. Acesso em: 15 maio 2008. BRASIL. Resolução CNE/CES nº 10, de 16 de dezembro de 2004. Institui as diretrizes curriculares nacionais para o curso de graduação em ciências contábeis, bacharelado, e dá outras providências. Diário Oficial da União, de 28/12/2004. Seção 1, p. 15. GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1991 ESPÍDULA, Raquel Pires et al. Análise sobre a contribuição dos estágios na vida acadêmica e profissional: o caso do curso de Ciências Contábeis na Universidade Federal de Uberlândia. 4º Congresso USP de Iniciação Científica em Contabilidade. 26 e 27 de jul de 2007. 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