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O Estado do Maranhão - São Luís, 1º de março de 2015 - domingo
5
Alzheimer discutido em filme
Fotos/Divulgação
Para Sempre
Alice, que é
protagonizado
pela atriz
Julianne Moore,
aborda os
conflitos de uma
mulher notável
que descobre
ter Mal de
Alzheimer
precoce; atuação
de Moore lhe
rendeu o Oscar
2015 de
Melhor Atriz
A atriz Julianne Moore ganhou o Oscar pela bela interpretação
O filme Para Sempre Alice tem no elenco os atores Alec Baldwin e Juliane Moore vivendo um casal
Italo Stauffenberg
Da equipe de O Estado
S
O filme mostra de maneira sensível a perda gradativa de memória de um paciente com Alzheimer
ensível, tocante e perturbador. Só quem vive na
pele ou próximo de alguém diagnosticado com Alzheimer entende as crises, os
conflitos, o medo e a impotência interpretada por Julianne
Moore através de Alice Howard,
personagem central do filme Para Sempre Alice. A produção ainda não estreou nos cinemas brasileiros, mas já rendeu vários
prêmios a atriz, entre eles o Globo de Ouro, SAG Awards, BAFTA
e o Oscar 2015.
Apesar de não ter uma trilha
sonora forte e uma fotografia
que chame atenção, Para Sempre Alice é puxado pela brilhante atuação de Julianne Moore
que encarna indubitavelmente
uma mulher de 50 anos, doutora em Linguística pela Universidade de Columbia, mãe de três
filhos e esposa dedicada que enfrenta uma batalha física e mental contra um tipo de Alzheimer
raro e precoce diagnosticado em
estágio inicial. O que mais impressiona em todo o filme é o fato de Moore não parecer imitar
alguém que perde gradativamente a lucidez, mas de fato, alguém que a está perdendo.
O drama começa em uma
reunião familiar de Alice com o
esposo John (Alec Baldwin), os
filhos Tom (Hunter Parrish) e Anna (Kate Bosworth), que está
acompanhada do marido Charlie (ShaneMcRae), para comemorar seu aniversário de 50 anos.
Linda e alegre, ela celebra a data
e a brilhante carreira, que lhe
permitiu ser a mais jovem professora de Linguística na Columbia e palestrante internacional.
Narrativa - Construído em torno dos lapsos de memória de
Alice, o filme apresenta desde o
início pequenas falhas nas lembranças da personagem, como
o esquecimento das palavras em
uma palestra na Universidade
de Los Angeles. Ironicamente,
ela, por ser doutora na arte de se
comunicar por meio das palavras, percebe que vai perdendo
a capacidade de formular novos
vocábulos. Em um dado momento do filme,a protagonista
decide caminhar pelas ruas do
Campus da Columbia e no trajeto assimila sua perda de localização. Movida a descobrir o que
está lhe acontecendo decide ir a
uma consulta neurológica.
É nesse momento que os diretores do filme (Richard Glatzer
e Wash Westmoreland), a colocam em primeiro plano para ser
entrevistada por seu neurologista. O recurso fílmico destaca as
reações de Alice ao ser sabatina
e não saber retomar as respostas dadas por ela mesma.
Compreendendo que suas
melhores amigas, as palavras, estão indo embora,ela passa a utilizar alguns recursos para se manter sã, como anotar receitas em
um quadro de giz na cozinha ou
até jogar um aplicativo de caçapalavras no celular. É nesta cena
que ela esquece a receita de um
pudim de pão, iguaria que está
acostumada a fazer há anos, e não
percebe que já foi apresentada a
namorada do próprio filho.
Diagnóstico - Em sua volta ao
neurologista com o marido, também professor da Columbia, recebe o diagnóstico de “memória
esporádica e enfraquecimento
totalmente fora de proporção
para sua idade com evidências
de redução nos níveis de função
mental”. Ou seja, fica comprovado que ela é portadora de Alzheimer raro e familiar.
Apesar de John ser relutante
em noticiar aos filhos a doença
da esposa, Alice reúne a família
e apresenta aos três filhos sua
nova realidade e a possibilidade
deles também serem portadores
da doença, que no caso dela é
hereditária. A partir de então, sua
filha mais distante, Lydia (Kristen Stweart), que reside em Los
Angeles para tentar alavancar a
carreira de atriz mesmo não possuindo formação alguma, aproxima-se e os laços, antes afetados pela relutância da mãe em
tornar a filha uma mulher de
profissão digna como a dos outros filhos que são advogados e
médicos, são reconstruídos.
Com isso, a Alice linda, ma-
quiada e feliz dá lugar a uma
mulher que se torna vítima de
uma doença que não escolheu
ter. Os trajes exuberantes e luxuosos que lhe vestiam passam
a dar lugar a moletons e roupas
largas. Os cabelos antes bem hidratados ficam desleixados e o
rosto bastante desgastado. Ela é
afastada das suas atividades universitárias e passa a viver reclusa dentro da própria casa.
Outro recurso apresentado
pelos diretores no filme é a desconstrução de uma linha de
tempo. Tudo passa muito rápido e sem que haja uma explicação. Tudo isto para que o expectador entenda a rotina de um
portador de Alzheimer no dia a
dia com seus lapsos de tempo,
dificuldade de se situar e confusões mentais.
Também construído em cima de críticas a posturas tomadas pela sociedade que ainda
não sabe lidar o Alzheimer, o filme apresenta uma cena em que
Alice confessa preferir ter câncer
já que, segundo ela, quando se
tem esta doença as pessoas usam fitas rosas, fazem caminhadas, levantam fundos e fazem de
tudo para que o canceroso não
se sinta oprimido.
Motivada a lutar contra seus
medos, ela decide dar um breve
testemunho para pessoas que
sofrem o Alzheimer. Em um discurso emocionante, ela salienta:
“Quem nos leva a sério quando
estamos tão diferentes do que
éramos? Nosso comportamento estranho e fala confusa mudam a percepção que os outros
têm de nós e a nossa percepção
de nós mesmos. Tornamo-nos
ridículos. Incapazes. Cômicos.
Mas isso não é quem nós somos.
Isso é a nossa doença. E como
qualquer doença, tem uma causa, uma progressão e pode ter
uma cura”. Aplaudida pelo público ela volta para casa e continua sobrevivendo as astutas perdas de memória que lhe fazem
esquecer o nome dos filhos, como amarrar um cadarço de tênis ou até seu plano de tirar a
própria vida quando já não conseguir mais responder as suas
próprias perguntas arquivadas
em seu inseparável celular.
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