O MOVIMENTO FEMINISTA NEGRO: PARTICULARIDADES E ESPECIFICIDADES DA MULHER NEGRA NO BRASIL. Lécia Alves Aluna de Graduação em Serviço Social da UFRN, Natal – RN. e-mail: [email protected] Quênia Gomes da Silva Aluna de Graduação em Serviço Social da UFRN, Natal – RN. e-mail: [email protected] 1. RESUMO: Nos últimos anos, os movimentos sociais ganharam destaque no cenário brasileiro, porém, alguns deles ainda são pouco discutidos em nossa sociedade. O desconhecimento acerca dos movimentos sociais, sua organização e suas lutas, levam a população a estigmatiza-los, culpabilizando e criminalizando os movimentos, sem o devido conhecimento sobre sua organização, lutas e seus projetos societários. O presente trabalho se propõe analisar o movimento feminista negro, por acreditarmos ser um movimento com pouca visibilidade, apesar de muitos anos de luta; apresentaremos, assim, um breve histórico sobre os novos movimentos sociais abordando principalmente o movimento feminista negro, e discutiremos a inserção da mulher negra nesse ambiente de lutas, analisando as desigualdades presentes entre o movimento feminista e o movimento feminista negro, bem como as suas reivindicações e a importância do papel formativo para a conquista e efetivação de direitos sociais. O presente estudo é fruto de um trabalho realizado na disciplina de Classes e Movimentos Sociais, do curso de Serviço Social, tendo como metodologia a pesquisa bibliográfica a qual possibilitou-nos um aprofundamento de conhecimentos teóricos referentes ao tema. PALAVRAS-CHAVE: Movimento Feminista, Movimento Feminista Negro, Desigualdades, Lutas Sociais. 2. ABSTRACT: In recent years, social movements have gained prominence in the Brazilian scenario, however, some of them are still little discussed in our society. The ignorance about the social movements, their organization and their struggles, lead people to stigmatize them, blaming and criminalizing the movements, without proper knowledge about your organization, struggles and its corporate projects. This study aims to analyze the black feminist movement, we believe it is a movement with little visibility, despite many years of struggle; present, as well, a brief history of the new social movements mainly addressing the black feminist movement, and discuss the inclusion of black women that fights environment, analyzing the inequalities present between the feminist movement and the black women's movement and their claims and the importance of the formative role for the achievement and realization of social rights. This study is the result of work conducted in the discipline of Classes and 1 Social Movements, the Social Service course, with the methodology the literature which allowed us a theoretical knowledge on the subject. KEY WORDS: feminist movement, black feminist movement, social inequalities, social struggles. 3. INTRODUÇÃO “Que nada nos defina. Que nada nos sujeite. Que a liberdade seja a nossa própria substância”. Simone de Beauvoir Os movimentos sociais surgem no contexto mundial, no século XIX, atrelados à industrialização, e configuram-se como produto da exploração capitalista. Esses movimentos estavam ligados diretamente à economia e foram impulsionados pelas más condições de trabalho e de moradia a qual a classe trabalhadora era submetida. Os movimentos sindicais foram uma das formas de organização que o proletariado encontrou para lutar pelos seus direitos diante da precarização do trabalho que lhes era imposta. Contanto, o mundo sofreu várias transformações nos últimos séculos; as formas de trabalho ganharam nova roupagem; a questão social ganhou novas expressões, e novos movimentos sociais surgiram no mundo como forma alternativa e/ou complementar às lutas já existentes. No Brasil, essas transformações ocorreram um pouco mais tarde, porém as novas expressões da questão social também fizeram emergir novos movimentos, que tem como intuito a luta por direitos e o fim da segregação para homossexuais, negros, mulheres entre outros. Na atualidade, esses movimentos têm se tornado cada vez mais expressivos em nossa sociedade. Em função disso, nosso estudo se debruçou sobre o movimento feminista negro, para compreendermos as suas particularidades e entendermos a importância do mesmo como instrumento de luta para as mulheres afrodescendentes brasileiras, visto que o movimento feminista negro apresenta formas peculiares por se pautar nas condições de vida da mulher negra, cujo determinante é a questão racial. Logo, existe um abismo entre as mulheres brancas e negras composto por diversas desigualdades, às quais entendemos ser fruto de uma cultura escravocrata, na qual todos os direitos da mulher eram violados. 4. OS NOVOS MOVIMENTOS SOCIAIS: MOVIMENTO FEMINISTA E MOVIMENTO NEGRO. 2 Segundo Duriguetto e Montaño (2011), os novos movimentos sociais, entre eles o feminista e o negro, surgiram no Brasil e na América latina, ora como complemento, ora como alternativa aos movimentos sindicais e aos partidos políticos de esquerda, inspirados em diversos processos revolucionários e em várias revoltas. A razão da eclosão dos novos movimentos foi impulsionada pela impossibilidade de gestão de um projeto societário, que abrangesse, não apenas a classe trabalhadora, mas também, toda a sociedade, que se encontrava em situação de opressão. Sobre essa opressão da classe trabalhadora, os autores acima citados afirmam: Entretanto, a luta operária e sua expressão no espaço produtivo fabril não conseguiu converter-se num projeto societal hegemônico dos trabalhadores, contrário ao capital. Ou seja, as práticas auto-organizativas acabaram por se limitar ao plano microcósmico da empresa ou dos locais de trabalho, e não conseguiram criar mecanismos capazes de lhes dá longevidade. (ANTUNES apud DURIGUETO e MONTAÑO 2011, p. 265). Nesse contexto de efervescência, vários movimentos tornaram-se expressivos no cenário mundial. O movimento feminista surge, em meados do século XIX, buscando o fortalecimento da mulher diante da cultura patriarcal, e tem se disseminado por anos e anos objetivando diminuir a segregação entre homens e mulheres. Segundo Tânia Mara Cruz (S/A), o movimento feminista foi marcado por três momentos importantes: o primeiro foi durante as revoluções burguesas, movimento no qual as mulheres da classe média lutavam pela igualdade de direitos entre homens e mulheres, o segundo se deu no decorrer do século XIX e início do século XX com as lutas socialistas, e o terceiro com o ressurgimento dos movimentos sociais da década de 60. A autora afirma que no final do século XVIII já era possível se observar na Inglaterra e na França, mulheres reivindicando por seus direitos, e cita como exemplo, a luta pela “Declaração dos Direitos da Mulher”. No mesmo período, segundo Duriguetto e Montaño (2011), o movimento negro emergiu apresentando a perspectiva de luta por acesso aos direitos civis nos estados unidos. Porém, apesar de se fazer presente desde as lutas protagonizadas no Brasil colônia, Moura, Rodrigues e Godinho (2013), ressaltam que o movimento negro só veio ter papel de destaque no Brasil na década de 1980, com a criação de centenas de grupos afrobrasileiros e o fortalecimento do Movimento Negro Unificado (MNU) contra a discriminação racial, que lutava contra o discurso da democracia raciali. Eles discorrem ainda que, na década de 1990, tal movimento ganha espaço no cenário político propriamente em 1995 - quando com a criação do Grupo de Trabalho Interministerial para 3 a valorização da população negra (GTI), começam as discussões acerca das políticas públicas envolvendo a questão racial. 5. PARTICULARIDADES E ESPECIFICIDADES DA MULHER NEGRA NO BRASIL. Categoricamente a análise histórica da trajetória da mulher negra na sociedade brasileira, não pode abandonar nem afastar a questão do gênero e da cor/raça por ser intrínseco ao processo de lutas do movimento feminista negro. Apesar de o racismo ser o objeto norteador desse movimento, existem outras questões segregadoras como o gênero, por exemplo - uma vez que não se pode falar de mulheres sem levantar a bandeira contra o sexismo. No Brasil, a cultura patriarcal capitalista consolidou-se historicamente, refletindo o que ocorria em outros países. Essa é uma cultura que concede direitos sexuais aos homens sobre as mulheres. Saffioti (2004) acredita que o sistema patriarcal e sua ideologia impregnam a sociedade e o Estado. Para a autora, na ordem patriarcal de gênero, o poder é exercido por quem for homem, branco e heterossexual. A sociedade é perpassada não apenas por discriminações de gênero, como também de raça, etnia, classe social e orientação sexual. Saffioti (2004) acrescenta que a grande contradição da sociedade atual é composta pelo nó patriarcado, racismo e capitalismo. Para ela, não há separação entre dominação patriarcal e exploração capitalista. Destaca ainda que, apesar dos progressos femininos na busca por emancipação, a base material do patriarcado não foi destruída. Outros autores também discorrem sobre a temática da cultura patriarcal na sociedade capitalista: ... da análise da formação social brasileira como sociedade capitalista, que nasce como colônia escravocrata, baseada na exploração do trabalho e na sua divisão e hierarquização por sexo, e no patriarcado, como „sistema de estruturas e práticas sociais em que os homens dominam, oprimem e explora as mulheres‟ em todos os âmbitos da vida. (SILVA, 2010, p. 13). Dessa forma, Simone de Beauvoir (1970) em seu livro “O Segundo Sexo” observava as semelhanças discriminatórias entre as mulheres e os negros que se davam no mundo, levando em conta a origem da opressão sofrida por essas categorias. Nesse sentido, ela expõe que: ... há profundas analogias entre a situação das mulheres e a dos negros: umas e outros emancipam-se hoje de um mesmo paternalismo e a casta anteriormente dominadora quer mantê-los "em seu lugar", isto é, no lugar que escolheu para eles; em ambos os casos, ela se expande em elogios mais ou menos sinceros às virtudes do "bom negro", de alma inconsciente, infantil e alegre, do negro 4 resignado, da mulher "realmente mulher", isto é, frívola, pueril, irresponsável, submetida ao homem. (BEAUVOIR, 1970, p. 18). Entretanto, as opressões sofridas por mulheres brancas e negras apesar de ser produto da mesma cultura paternalista capitalista, se configuram de formas diferenciadas, necessitando o desenvolvimento de um projeto societário que abranja as demandas das mulheres negras; uma vez que entre elas ocorrem desigualdades que precisam ser compreendidas: O movimento feminista é um processo sistemático de ações coletivas de mulheres contra a dominação patriarcal, a exploração capitalista, o racismo, o controle da sexualidade e muito mais. Razão pela qual a sua pedagogia se fundamenta em análises sobre a situação de mulheres compreendendo, as desigualdades entre elas, pois se trata de projetar a educação centrada na emancipação das mulheres como grupo social e como pessoas, o que exige compreender o feminismo como sujeito político voltado para a transformação social, mas que comporta diferentes expressões individuais e congrega diferentes articulações políticas de mulheres identificadas com causas coletivas como, por exemplo, o feminismo negro e o feminismo lésbico. (SILVA, 2010, p. 11-12). No II CONINTER, Congresso Internacional Interdisciplinar em Sociais e Humanidades, Moura, Rodrigues e Godinho (2013), explanam sobre a situação das mulheres negras, diante do movimento feministas e negro e a necessidade de formação de um movimento que buscasse se deter nas especificidades da raça negra. Eles discorrem que é a partir do ano de 1970, que o Movimento feminista negro, surge e se consolida no Brasil. Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA 2013, apontam que em 2009 o total de mulheres negras era cerca de um quarto da população brasileira o que correspondia a 600 mil. A pesquisa mostrou que houve um aumento significativo de mulheres negras entre os anos 2008 à 2009, o que representou um saltou de 70 mil para os 600 mil já mencionados. Esse crescimento só foi possível por haver uma maior identidade entre as mulheres e ocorrer à valorização e o reconhecimento da mulher negra como tal. Percebe-se que essas mulheres se concentram nas regiões norte e nordeste do país, evidenciando o peso da questão racial, como estruturante do processo histórico de ocupação do território nacional. Desse modo, observa-se que as desigualdades são muitas, a extrema pobreza está presente na vida de 16% dessas mulheres, em comparação com as mulheres brancas, que ocupam 5,7%. Quanto à expectativa de vida, elas também se mantêm em posição inferior às mulheres brancas - embora seja uma diferença pequena; no campo de trabalho, ocupam os trabalhos mais inferiorizados, da mesma forma que a sua inserção ao ensino superior ainda se mantém a passos lentos, afirma o IPEA 2013. 5 Embora alguns estudos, apresentem dados significativos que descrevem a real situação da mulher negra no Brasil, Sueli Carneiro (2003), militante do movimento feminista negro, defende que as experiências históricas dessas mulheres e a opressão por elas sofrida, ainda não são reconhecidas pelo discurso clássico relacionado à opressão feminina, e que nossa sociedade não tem reconhecido os efeitos dessa opressão na vida dessas mulheres. A mesma ainda afirma que alguns movimentos feministas não conseguiam compreender as desigualdades, existentes entre mulheres brancas e negras: Nós, mulheres negras, fazemos parte de um contingente de mulheres, ii provavelmente majoritário, que nunca reconheceram em si mesmas esse mito , porque nunca fomos tratadas como frágeis. Fazemos parte de um contingente de mulheres que trabalharam durante séculos como escravas nas lavouras ou nas ruas, como vendedoras, quituteiras, prostitutas...mulheres que não entenderam nada quando as feministas disseram que as mulheres deveriam ganhar as ruas e trabalhar!(CARNEIRO, 2003, p.01). As especificidades da raça negra trazem discussões que vão das lutas por direitos sociais às lutas por direitos básicos de sobrevivência, visto que muitas das mulheres negras podem estar inseridas na linha de pobrezaiii. As contradições presentes nas relações de gênero necessitam ser observadas em conjunto com a racial, visto que ambos acentuam as relações de desigualdade já existentes. Um dos benefícios que a opressão assegura aos opressores é de o mais humilde destes se sentir superior: um "pobre branco" do sul dos E.U.A. tem o consolo de dizer que não é "um negro imundo" e os brancos mais ricos exploram habilmente esse orgulho. Assim também, o mais medíocre dos homens julga-se um semideus diante das mulheres. (BEAUVOIR, 1970, p.18). Essa situação, das mulheres negras no Brasil, além de deparar-se com toda a problemática de gênero, atrela-se à questão racial que se configura como a principal particularidade do Movimento Feminista Negro, sem que se excluam as outras questões. Dessa forma, não se pode considerar que todas as mulheres brasileiras possam ser contempladas por um projeto feminista sem que o mesmo se debruce sobre as problemáticas de cada grupo; nem esquecer que os movimentos possuem particularidades e que essas mulheres não são iguais. Também não podemos considerar que todas as dificuldades são acometidas apenas às mulheres e negros e/ou às mulheres negras. Deve-se observar que há outros fatores relevantes, que não discutiremos aqui, porém devem ser levados em conta, como aponta Teixeira (2009), em um trabalho sobre as políticas de enfrentamento à pobreza e o cotidiano das mulheres: “outro fator importante [...], é a discriminação espacial. Em geral as mulheres beneficiárias residem na 6 periferia das cidades e são discriminadas porque são mulheres, porque são negras e porque são da periferia”. Dessa forma, percebe-se a complexidade que envolve as mulheres brasileiras e a importância de movimentos sociais que consigam apreender as suas diferenças e as especificidades de cada grupo. 6. O MOVIMENTO FEMINISTA NEGRO Enfatizando que as desigualdades raciais e de gênero que acometem as mulheres negras no Brasil são produtos da cultura escravocrata e patriarcal, e entendendo que a hierarquia de gênero e raça, em solo brasileiro, se enraizou desde o período colonial, submetendo as mulheres negras a vários tipos de violência, física, psicológica, sexual entre outras, apreende-se o papel significativo do movimento feminista negro para a diminuição dessas disparidades. Esse foi elaborado ao perceber que as mulheres negras, não estavam sendo contempladas pelo movimento feminista e que carecia de uma compreensão mais aprofundada que olhasse para as suas necessidades como mulher e negra, já que as reivindicações do movimento feminista não abarcavam todas as especificidades da raça. Discorrendo sobre as desigualdades raciais, Carmem Silva enfatiza: Há que fazer um esforço de analisar as desigualdades entre mulheres brancas e negras, compreender as questões trazidas pelo feminismo negro e pelo feminismo lésbico, abrir possibilidades para articulação com novos sujeitos coletivos organizados a partir das mulheres (sindicalistas, camponesas, quilombolas, indígenas, jovens etc.) entre outras. (SILVA, 2010, p.20). Dessa forma preza-se à importância da aderência das mulheres negras aos movimentos sociais, por se configurar um ambiente de lutas que objetiva melhorias significativas na vida das mulheres negras. Como assegura (III) congresso, quando diz que as participações em movimentos sociais que estão engajados nas causas dos menos favorecidos, contribuem para muitas conquistas como, por exemplo, a implementação de politicas públicas para a população negra, avanços da democracia e garantias de direitos. A reflexão posta sobre o movimento negro nos remete ao papel da educação formativa que leva a mulher e o negro a obter sua autoconstrução tornando-se um sujeito autônomo favorecendo o processo de mudança de suas vidas; Carmem Silva (2010) no livro “Experiências em Pedagogia Feminista” ressalta que: Ser feminista, é, ao mesmo tempo, preocupar-se com a situação de todas as mulheres, e cuidar de si, como mulher, inserida nesta situação. Ser feminista é caminhar no rumo de sua autonomia, pessoal e, ao mesmo tempo, lutar coletivamente pela autonomia e liberdade de todas as mulheres. (Silva, 2010). 7 O papel formativo que nutre o movimento negro se espelha na pedagogia de Paulo Freire, aprendendo a partir de sua concepção, a importância da educação popular, possibilitando às mulheres uma formação política, fincadas nas experiências e problematizações vivenciadas pelo grupo, no espaço em que vivem, criando nessas mulheres um pensamento crítico e permitindo a autoconstrução de sujeitos autônomos, como afirma Silva (2010); A perspectiva pedagógica que se desenvolveu no movimento feminista apoiou-se na concepção de educação de Paulo Freire e articulou a isso ideias e dinâmicas da psicologia e reflexões oriundas da sociologia crítica e da teoria feminista. [...] geraram um pensamento educacional que pode ser resumido a partir do ideário que o sintetiza: a valorização da cultura popular; a participação dos educandos na formação dos objetivos e métodos de ação do programa educativo; a afirmação do caráter politico da educação; a ênfase na metodologia; a proposta de partir sempre da vida dos participantes; a ligação entre aprendizagem e organização. Entre reflexão e ação político-social das camadas populares; a “dialogicidade”; a relação pedagógica horizontal; as técnicas de grupalização, o estimulo à autoestima e desinibição de todos os participantes e o privilegiamento da organização de base. (SILVA, 2010, P.10-11) Portanto, as lutas feministas tem uma perspectiva, de romper com a cultura paternalista e escravocrata, a qual todas as mulheres estão submetidas, independente de classe social ou da raça, e acabar com a segregação, entre homens e mulheres, que desencadeiam várias formas de opressão e violência de gênero. Simone de Beauvoir (1970), afirma que é indispensável, para que isso ocorra, que se desconstrua os velhos conceitos pré-existentes em nossa sociedade, pois é ele o maior impasse para que os projetos que visam igualdade para todos os cidadãos, não se efetivem. Ela afirma que “são as resistências do velho paternalismo capitalista que na maioria dos países impede que essa igualdade se realize: ela o será no dia em que tais resistências se quebrarem”. 7. CONCLUSÃO Sabe-se que a condição de ser mulher no Brasil nunca foi favorável, sobretudo da mulher negra, pois sobre esta recai um peso ainda maior frente às dificuldades que lhes são impostas no seu cotidiano e pelas adversidades oriundas das discriminações provenientes da raça e gênero. Apesar das grandes transformações no mundo e dos avanços da tecnologia e da ciência, a discriminação ainda se faz presente, muitas vezes e de forma sutil, encoberta por um discurso moderno, porém, conservador, no qual as mulheres negras se configuram como vitimas e como produto da circunstância vivenciada, ou seja, são inseridas em uma situação de desfavorecimento econômico, político e/ou social. 8 O movimento negro tem um papel bastante relevante na vida das mulheres negras do Brasil, pois se percebe que as desigualdades entre mulheres brancas e negras são significativas. Nesse contexto, o Movimento Negro, trabalha com as especificidades da cor/raça, tendo como centro, o enfrentamento ao racismo, porém, sem afastar da luta as questões de gênero que são estruturantes para aprofundar as desigualdades no nosso país. O estudo aqui, exposto trouxe a reflexão de que não se podem generalizar as problematizações vivenciadas pelas mulheres e defini-las como comum a todas as mulheres. É preciso ter a preocupação de defender um projeto societário que abranja todas as mulheres, mas também que olhe para as particularidades de cada grupo. i Discurso que prega a harmonia entre os indivíduos de todas as camadas sociais e grupos étnicos. ii Mito da fragilidade feminina iii O texto de Carmelita Yasbek (2012) “A pobreza no Brasil contemporâneo e formas de seu enfrentamento” aborda dados do Plano Brasil sem Miséria, onde 70,8% da população assistida é negra (Pardas e pretas). 8. REFERÊNCIAS ALMEIDA, Daniele; GEHLEN, Vitória; RAIMUNDO, Valdenice José. Mulher negra: inserção nos movimentos sociais, feminista e negro. S/A. 8 p. Disponível em: <http://www.fundaj.gov.br/geral/observanordeste/valdenice.pdf>. Visualizado em: 18 de out. de 2014 ÁVILA, Maria Betânia; COSTA, Albertina; FERREIRA, Veronica; SILVA, Rosane; SOARES, Vera. Divisão Sexual do trabalho, Estado e Crise do capitalismo. Recife: SOS CORPO-instituto feminista para a democracia, 2010. 194p. – 1° edição. 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