06/12/2012 Operação para blindar a AGU Sob pressão, Adams tenta tornar mais rigorosas indicações para cargos de confiança Vinicius Sassine BRASÍLIA Após o escândalo revelado pela Polícia Federal na Operação Porto Seguro, o governo decidiu agir para tentar blindar a Advocacia Geral da União de interferências externas. Com a anuência do Planalto, o advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, assinou ontem três portarias que tornam mais rigorosas as normas de contratação para cargos de confiança e estabelecem regras para reuniões e audiências na AGU. A partir de agora, toda nomeação para cargos comissionados e de confiança dependerá do aval da Corregedoria-Geral da AGU. Haverá avaliação prévia sobre a existência de procedimentos disciplinares contra os indicados. Os indicados terão que assinar uma declaração afirmando que não têm parentes até terceiro grau em outros postos do governo. Será preenchido um formulário de indicação, com análise do perfil do interessada no cargo. Antes de ter a nomeação publicada no Diário Oficial da União, o indicado para o cargo terá o nome submetido à Comissão de Ética Pública. Será criada a Comissão de Ética da AGU. Outra portaria assinada ontem por Adams proíbe os funcionários da AGU de falar em nome do comando do órgão sem autorização expressa do titular. Todas as reuniões terão que ser relatadas aos superiores, com um documento que descreva o assunto, quem participou, a data e o local. Agora, as audiências na AGU farão parte da agenda das autoridades envolvidas. A participação nas reuniões dependerá de autorização do chefe da unidade. Ontem, Adams prestou um depoimento de quatro horas na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, e detalhou as medidas adotadas na AGU desde o suposto envolvimento de José Weber Holanda Alves, ex-advogado-geral adjunto da União, no esquema de compra e venda de pareceres jurídicos. Logo no início da sessão, Adams foi vaiado por servidores da própria AGU, que pediram sua demissão. Weber chegou ao cargo de advogado-geral adjunto por indicação de Adams, que ignorou a existência de processos administrativos disciplinares contra o auxiliar na CGU. Alguns dos processos foram movidos há mais de dez anos. Adams foi além na portaria: disse que os advogados da União que participarem das audiências só poderão falar em nome do titular do órgão se estiverem "formalmente autorizados": - O órgão deve identificar qual servidor vai procurar a AGU. O assunto tratado em audiência vai compor o processo. A corregedoria emitirá uma certidão de antecedentes, e nenhuma nomeação será feita sem seguir essa rotina. O advogado-geral da União foi ao Senado acompanhado do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que tinha estado na Câmara dos Deputados na véspera. Adams passou boa parte do depoimento tentando se desvincular de Weber e reduzir a importância do ex-braço-direito nas decisões da AGU. Ele disse que Weber não participou de reunião para discutir o programa de investimento em portos, a ser lançado hoje pela presidente Dilma Rousseff. - Somente eu, Fernando (Albuquerque, advogado-geral substituto) e Marcelo (de Siqueira, procurador-geral federal) atuamos na elaboração do programa. Havia uma exigência de qualificação muito grande para participar do grupo - afirmou Adams, que negou influência do ex-advogado-geral adjunto na discussão sobre a concessão de aeroportos. Adams encerrou o depoimento na CCJ falando em "erro da confiança": - Nunca procurei um parlamentar, um representante do PT, para me apoiar na indicação ao cargo de advogado-geral da União. Disso eu tenho orgulho, é o meu patrimônio. Eu tenho a tristeza do erro da confiança. Adams admitiu que Weber participou do acordo entre a AGU e o ex-senador Luiz Estevão para a devolução de dinheiro público desviado da construção do Tribunal Regional do Trabalho em São Paulo. Pelo acordo, devem ser devolvidos R$ 468 milhões à União, R$ 80 milhões à vista. Segundo Adams, Weber apenas assessorou a negociação: - Eu não tinha tempo de acompanhar tudo e tinha alguém para acompanhar. Weber chegou a participar do anúncio do acordo, mas isso era normal do contexto da instituição. adicionada no sistema em: 06/12/2012 03:45