XXVII Congresso Interamericano de Engenharia Sanitária e Ambiental I-001 - AVALIAÇÃO DO POTENCIAL DA FLOTAÇÃO POR AR DISSOLVIDO SOB PRESSÃO COMO PÓS-TRATAMENTO PARA EFLUENTES DE REATORES ANAERÓBIOS DE FLUXO ASCENDENTE Antônio Carlos Teixeira Pinto Filho(1) Engenheiro Químico pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Engenheiro de Saúde Pública pela Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ). Mestre em Tecnologia Ambiental e Recursos Hídricos pela Universidade de Brasília (UnB). Coordenador de Operações da Área Oeste da Superintendência de Operação, Manutenção e Tratamento de Esgotos da Companhia de Saneamento do Distrito Federal (CAESB). Cristina Celia Silveira Brandão Professora Adjunta do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade de Brasília. Ph.D. em Engenharia Ambiental pelo Imperial College of Science, Technology and Medicine. Endereço(1): SQS 315 - Bloco I - apto. 406 - Asa Sul - Brasília - DF - CEP: 70384-090 - Brasil - Tel: (61) 245-4791 e-mail: [email protected] RESUMO Este trabalho apresenta uma avaliação da flotação por ar dissolvido sob pressão - FAD como sistema de póstratamento para efluentes de reatores anaeróbios de fluxo ascendente. O procedimento operacional incluiu uma etapa de mistura rápida, seguida de floculação e flotação em escala de bancada, empregando sulfato de alumínio como coagulante. Foram avaliados a influência das condições do pré-tratamento, como faixa de dosagem ótima de coagulante e tempo de floculação, e a influência dos parâmetros de processo da flotação, como a taxa de aplicação superficial e a taxa de recirculação. A eficiência do processo foi avaliada pelas determinações de turbidez, pH, alcalinidade, sólidos em suspensão totais, DQO e ortofosfato, nas amostras brutas e tratadas. A dosagem ótima de coagulante pareceu ser muito influenciada pela alcalinidade presente nas amostras. Todavia, foi observado que o ajuste do pH de coagulação poderia, a um só tempo, reduzir as dosagens de coagulante aplicadas com manutenção do mesmo nível de desempenho da FAD. O tempo de floculação foi influenciado pelas características do material particulado presente nesse tipo de efluente, sendo que valores na faixa de 10 minutos foram suficientes. Foram obtidas elevadas remoções para taxas de aplicação até 8,1 m3/m2.h. Entretanto, ao ser duplicada a taxa de aplicação para 16,2 m3/m2.h. notou-se considerável redução na eficiência do processo. O emprego de uma taxa de recirculação de 5% não obteve sucesso, sendo necessários valores na faixa de 10% a 20% para garantir a razão ar/sólidos e a dosagem de ar adequados. A FAD, em condições operacionais adequadas, alcançou elevada eficiência, com remoções de 79% para turbidez, 73% para DQO, 74% para sólidos em suspensão e 99% para ortofosfato filtrado, produzindo um efluente com 7 uT de turbidez, 77 mg/L de DQO, 16 mg/L de sólidos em suspensão e 0,25 mg PO4-3/L de ortofosfato filtrado. PALAVRAS-CHAVE: Flotação por Ar Dissolvido sob Pressão - FAD, Pós-tratamento, Reator Anaeróbio de Fluxo Ascendente, Tratamento Químico. INTRODUÇÃO Brasília foi construída no Planalto Central, com altitudes variando de 1000 metros a 1300 metros acima do nível do mar. Os corpos d’água locais possuem elevada qualidade e baixas vazões, resultando em suprimento limitado de água potável e baixo poder de diluição para os esgotos produzidos no Distrito Federal. Visando solucionar o problema de abastecimento de água potável na região, encontra-se em fase adiantada de estudos a construção de um novo reservatório na bacia do rio Corumbá. Todavia, um fator problemático para a viabilização do projeto é o atual despejo de efluentes de estações de tratamento de esgotos - ETEs, operadas pela Companhia de Saneamento do Distrito Federal - Caesb, em rios tributários dessa bacia. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 1 XXVII Congresso Interamericano de Engenharia Sanitária e Ambiental Em função da grande disponibilidade de área, adotou-se nessas ETEs processos naturais de tratamento (lagoas de estabilização, reatores anaeróbios de fluxo ascendente etc.), os quais, apesar de apresentarem baixo custo operacional e grande remoção de matéria orgânica biodegradável e patógenos, produzem efluentes finais com elevados teores de fósforo total, sólidos em suspensão - SS, nitrogênio e Demanda Química de Oxigênio - DQO, algumas vezes exigindo um pós-tratamento para adequá-los à legislação ambiental e/ou possibilitar sua reutilização. Os excelentes resultados operacionais da FAD obtidos no pós-tratamento dos efluentes secundários das ETEs Sul e Norte, também operadas pela Caesb, aliado ao sucesso do processo a nível mundial, indicaram a possibilidade da FAD ser empregada no pós-tratamento de efluentes de reatores anaeróbios de fluxo ascendente- RAFA. A FAD vem sendo considerada, desde a década de 70, uma opção eficiente tanto no tratamento de água quanto de esgotos, quer na clarificação de efluentes quanto no adensamento de lodos. A partir de estudos pioneiros de Vrablik (1959), várias pesquisas confirmaram a grande potencialidade do processo, como as realizadas por van Vuuren et. al. (1970), Bratby and Marais (1974), Hide et al. (1977), Zabel (1984) e ∅degaard (1995), entre muitos outros. O objetivo do presente trabalho foi avaliar o potencial da flotação por ar dissolvido sob pressão - FAD como pós-tratamento para o efluente do reator anaeróbio de fluxo ascendente da ETE Paranoá. Na pesquisa foram avaliados a influência das condições do pré-tratamento, como faixa ótima de dosagem de sulfato de alumínio e tempo de floculação, bem como a variação dos parâmetros de processo, como taxa de aplicação superficial e tempo de floculação. O desempenho da FAD foi determinado pelas medições de turbidez (T), pH, alcalinidade (Alc.), sólidos em suspensão totais (SS), DQO e ortofosfato filtrado (Ortof), tanto para as amostras brutas quanto para as amostras tratadas. A influência da dosagem de coagulante em pH controlado também foi estudada. MATERIAIS E MÉTODOS Os experimentos foram realizados com uma unidade de flotação em escala de bancada, mostrada na Figura 1, similar às utilizadas nos experimentos de Edzwald e Wingler (1990), Malley e Edzwald (1991) e Reali et al. (1998). A unidade compreende três colunas de flotação, uma câmara de saturação e um compressor. Figura 1 - Diagrama esquemático da unidade de flotação em escala de bancada. Cada coluna de flotação foi confeccionada em acrílico transparente, com 1.000 mm de altura e volume útil de 4 litros. Em função dos vasos serem dotados de agitadores de eixo vertical com velocidade variável, as etapas de coagulação, floculação e flotação podiam ser realizadas na mesma coluna. As atividades de coleta de ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 2 XXVII Congresso Interamericano de Engenharia Sanitária e Ambiental amostras e dosagem de coagulante foram realizadas através de pontos de amostragem e seringas de 20 mL, respectivamente, distribuídos ao longo de cada coluna. Todas colunas de flotação foram conectadas à câmara de saturação, de modo a receber o fluxo de água saturada para a etapa de flotação. A câmara de saturação, igualmente confeccionada em acrílico, possui volume útil de 3 litros e capacidade de resistir a pressões até 1.000 kPa. De modo a cumprir os objetivos propostos, foi estabelecido um programa compreendendo cinco etapas: • Etapa A - Influência da dosagem de sulfato de alumínio (D) - Inicialmente a dosagem de coagulante foi amplamente variada, com o objetivo de identificar a faixa de dosagem de coagulante onde o processo de FAD apresentava maior eficiência de remoção. Nessa fase inicial foram medidos pH e turbidez do efluente tratado. Na faixa de dosagens onde foram observadas as maiores remoções de turbidez, novos ensaios foram realizados, em duplicata, variando-se a dosagem a intervalos menores. Nessa fase foram acrescentados outros parâmetros de controle, como DQO, sólidos em suspensão totais, ortofosfato filtrado e alcalinidade. • Etapa B - Influência da taxa de aplicação superficial (Vf) - A avaliação da influência da taxa de aplicação superficial na eficiência do processo foi realizada pela construção das curvas de flotação, adotando metodologia análoga à utilizada para elaboração das curvas de sedimentação. As taxas de aplicação testadas variaram de 5,4 m3/m2.h a 16,2 m3/m2.h. Para o desenvolvimento dessa etapa adotou-se uma dosagem de sulfato de alumínio situada dentro da faixa ótima determinada na etapa A. • Etapa C - Influência do tempo de floculação (Tf) - Os tempos de floculação testados foram 2,5, 5, 10, 15 e 20 minutos. Nesses ensaios foi mantida uma dosagem de sulfato de alumínio dentro da faixa ótima obtida na etapa A. Houve também preocupação em empregar uma taxa de aplicação superficial próxima dos valores utilizados nas unidades em escala real. • Etapa D - Influência da taxa de recirculação (R) - As taxas de recirculação foram variadas de 5% a 25%, a intervalos de 5%. Nessa etapa foram adotadas as melhores condições operacionais obtidas nas etapas anteriores. O procedimento operacional para realização dessa variação, consistiu em admitir, na coluna de flotação, volumes pré-definidos de água saturada com ar, proporcionais ao volume de esgoto contido na coluna de flotação, que era fixado 3,3 litros. • Etapa E - Influência da dosagem de coagulante com pH controlado - O objetivo desses experimentos foi verificar se o controle de pH, em valor mais ácido que seu valor original, poderia trazer ganhos ao processo, tanto no aspecto de redução de dosagem de coagulante quanto de aumento de eficiência de remoção. A manutenção do pH dentro de uma estreita faixa de variação foi conseguida através da adição de ácido clorídrico. A tabela 1 apresenta cada etapa em detalhe. Os valores em itálico indicam os parâmetros que foram variados em cada etapa específica. Tabela 1: Programa Experimental - Efluente do Reator Anaeróbio de Fluxo Ascendente da ETE Paranoá. Etapa A B C D E D (mg/L) 0 to 320 200 200 200 0 to 240 Tf (min) 15 2,5 to 20 10 10 10 Vf (m3/m2.h) 8,1 8,1 5,4 to 16,2 8,1 8,1 R (%) 15 15 15 5 to 25 15 Em todos os experimentos realizados foram mantidos constantes: período de tempo de 1 minuto para a mistura rápida com gradiente de velocidade ao redor de 1.000 s-1; gradiente de velocidade na floculação em torno de 100 s-1 e pressão de saturação de 500 kPa. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 3 XXVII Congresso Interamericano de Engenharia Sanitária e Ambiental RESULTADOS E DISCUSSÃO As características físico-químicas das amostras empregadas nos experimentos encontram-se detalhadas na Tabela 2. Os dados refletem uma flutuação natural da qualidade do efluente do processo anaeróbio, tendo em vista que os trabalhos de campo para coleta de amostras demandaram um período aproximado de um mês. Tabela 2 : Características do efluente do reator anaeróbio de fluxo ascendente da ETE Paranoá. Alc. (*) Efluente pH T (uT) DQO (mg/L) SS (mg/L) Ortof (mg PO4-3/L) Reator anaeróbio (*) mg CaCO3/L 7,4 -7,8 25-57 279 -542 61- 143 28,0 - 33,0 338 - 380 Influência da dosagem de sulfato de alumínio (D) Os elevados teores de alcalinidade e matéria orgânica solúvel nas amostras processadas na FAD, implicaram em grandes dosagens de coagulante. De fato, como pode ser observado na Figura 2, os melhores resultados de turbidez foram obtidos com dosagens de sulfato de alumínio expressivas, na faixa de 200 mg/L a 240 mg/L. Todavia, o aumento da dosagem para valores superiores à essa faixa acarretou um processo de reversão de carga das partículas, levando a processos de floculação e flotação menos eficientes. 50 8 T urbidez pH 7,5 7 30 pH Turbidez (uT) 40 6,5 20 6 10 5,5 0 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220 240 280 5 320 Dosagem de sulfato de alumínio anidro (mg/L) Figura 2: Variação da dosagem de coagulante e seu efeito sobre a turbidez e o valor do pH de coagulação do efluente do RAFA submetido à FAD. A Figura 3 mostra que podem ser obtidas elevadas remoções das frações solúveis de fósforo em ampla faixa de dosagens de sulfato de alumínio, atingindo valores da ordem de 99%. A remoção de DQO, por sua vez, seguiu comportamento similar ao observado na Figura 2 para a turbidez, com queda de rendimento nas dosagens de coagulante acima de 240 mg/L. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 4 500 450 400 350 300 250 200 150 100 50 0 4 3,5 3 Ortof (mg PO4/L) DQO (mg/L) XXVII Congresso Interamericano de Engenharia Sanitária e Ambiental 2,5 2 1,5 1 0,5 0 0 0 40 80 120 160 200 240 280 320 360 Dosagem de sulfato de alumínio anidro (mg/L) 40 80 120 160 200 240 280 320 360 Dosagem de sulfato de alumínio anidro (mg/L) (a) (b) Figura 3: Variação da dosagem de coagulante e seu efeito sobre (a) DQO e (b) ortofosfato filtrado do efluente do RAFA submetido à FAD. 3 2 Influência da taxa de aplicação superficial (m /m .h) 220 200 180 160 140 120 100 80 60 40 20 0 DQO (mg/L) SS (mg/L) A Figura 4 mostra os resultados obtidos pela FAD, quanto a sólidos em suspensão e DQO, para o efluente do reator anaeróbio, à medida que a taxa de aplicação foi variada. Pode ser observado um comportamento estável do processo até a taxa de aplicação superficial de 8,1 m3/m2.h. e uma redução da eficiência de remoção do processo quando essa taxa foi elevada de 8,1 m3/m2.h. para 16,2 m3/m2.h. 270 240 210 180 150 120 90 60 30 0 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 Taxa de aplicação superficial (m3/m2.h) 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 Taxa de aplicação superficial (m3/m2.h) (a) (b) Figura 4: Variação da taxa de aplicação e seu efeito sobre (a) sólidos em suspensão e (b) DQO do efluente do RAFA submetido à FAD. O bom desempenho da FAD para taxas de aplicação de 5,4 m3/m2.h a 8,1 m3/m2.h, vem confirmar resultados obtidos por diversos autores, como Schneider et al. (1991), Kaminski (1991), ∅degaard (1995) e Reali et al. (1998), de que a aplicação de taxas de aplicação superficial até um faixa limite de 9 m3/m2.h a 12 m3/m2.h pouca alteração causa na qualidade do efluente. A queda de rendimento da FAD observada nos ensaios com taxa de aplicação fixada em 16,2 m3/m2.h, no caso específico de efluentes de RAFA, pode estar associada às características dos sólidos em suspensão presentes na amostra processada. Esses sólidos, carreados junto com o efluente do RAFA, são compostos de grânulos de lodo anaeróbio, de consistência densa, de separação mais difícil por flotação. O emprego de elevadas dosagens de coagulante, adicionando mais massa ao sistema, pode ter sido outro fator prejudicial à FAD quando operada com taxas de aplicação superiores às utilizadas nas unidades em escala real. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 5 XXVII Congresso Interamericano de Engenharia Sanitária e Ambiental Influência do tempo de floculação (TF) Os resultados apresentados na Figura 5 mostram que o aumento do tempo de floculação de 2,5 minutos para 10 minutos resultou em ganho crescente da remoção de sólidos em suspensão e DQO. Entretanto, tempos de floculação superiores a 10 minutos levaram à formação de flocos visualmente maiores, inadequados à flotação, causando perdas de eficiência da FAD na remoção de material particulado. 160 30 140 25 DQO (mg/L) SS (mg/L) 120 20 15 10 100 80 60 40 5 20 0 0 0 5 10 15 20 Tempo de floculação (min) 0 25 5 (a) 10 15 20 Tempo de floculação(min) 25 (b) Figura 5: Variação do tempo de floculação e seu efeito sobre (a) sólidos em suspensão e (b) DQO do efluente do RAFA submetido à FAD. 100 95 90 85 80 75 70 65 60 55 50 100 95 Remoção de SS (%) Remoção de DQO (%) A análise da Figura 6 indica que para efluentes de reatores anaeróbios de fluxo ascendente podem ser empregados baixos tempos de floculação com bons resultados em termos de remoção de DQO e sólidos em suspensão. Reali et al. (1998), tratando efluente de RAFA com FAD, relatam aumento de remoção de DQO à medida que o tempo de floculação aumentava de 15 minutos para 25 minutos. Os resultados do presente experimento, para tempos de floculação situados na faixa de 10 minutos a 20 minutos, não sugerem tendência similar, uma vez que as remoções mantiveram-se bem próximas entre si. 90 85 80 75 70 65 60 2,5 5 10 15 Tempo de floculação (min) 20 2,5 (a) 5 10 15 Tempo de floculação (min) 20 (b) Figura 6: Variação do tempo de floculação e seu efeito remoção de (a) DQO e b) sólidos em suspensão do efluente do RAFA submetido à FAD. Influência da taxa de recirculação (R) A Figura 7 apresenta as remoções de sólidos em suspensão e DQO, à medida que a taxa de recirculação foi variada de 5% a 25%. Os resultados mostram que a taxa de recirculação de 5% foi inadequada ao processo de FAD, ante o fornecimento insuficiente de ar para uma flotação eficiente. Taxas de recirculação situadas na faixa de 10% a 20% revelaram-se adequadas, fornecendo dosagens aproximadas de ar de 7 mg/L e 14 mg/L, respectivamente, calculadas de acordo com valores de dissolução de ar citados por Rees et al. (1980). ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 6 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Rwmoção de DQO (%) Remoção de SS (%) XXVII Congresso Interamericano de Engenharia Sanitária e Ambiental 0 5 10 15 20 Taxa de recirculação (%) 25 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 30 0 5 10 15 20 Taxa de recirculação (%) (a) 25 30 (b) Figura 7: Variação da taxa de recirculação e seu efeito na remoção de a) sólidos em suspensão e b) DQO do efluente do RAFA submetido à FAD. Influência da dosagem de coagulante com pH controlado Os resultados experimentais indicados na Figura 8, mostram que dosagens de sulfato de alumínio com um valor de pH fixado na faixa de 5,0 a 5,5 resultaram em maiores remoções de DQO empregando menores dosagens de coagulante. Uma dosagem de 100 mg Al2 (SO4)3/L na condição de pH controlado, resultou em remoção de DQO similar à obtida com uma dosagem de 160 mg/L na condição de pH sem ajuste. 90 70 DQO (mg/L) Remoção de DQO (%) 80 60 50 40 30 20 10 0 0 50 100 150 200 250 300 Dosagem de sulfato de alumínio anidro (mg/L) sem ajuste de pH com ajuste de pH 350 500 450 400 350 300 250 200 150 100 50 0 0 40 80 120 160 200 240 280 320 360 Dosagem de sulfato de alumínio anidro (mg/L) sem ajuste de pH (a) com ajuste de pH (b) Figura 8: Variação da dosagem de coagulante com ajuste de pH e sem ajuste de pH e seu efeito sobre a) remoção de DQO e b) DQO do efluente do RAFA submetido à FAD. CONCLUSÕES A dosagem ótima de sulfato de alumínio foi muito influenciada pelas características particulares do efluente do reator anaeróbio de fluxo ascendente, notadamente pela elevada alcalinidade presente nas amostras. A faixa de dosagem de coagulante que forneceu as melhores eficiências de remoção situou-se de 160 mg/L a 240 mg/L. As dosagens situadas acima da faixa ótima resultaram no processo de reversão de carga das partículas acompanhada de floculação deficiente, com conseqüente perda de eficiência de remoção. Dosagens de coagulante com ajuste de pH obtiveram melhores resultados que aquelas realizadas sem tal controle, trazendo ganhos quanto a menor consumo de sulfato de alumínio. O aumento do tempo de floculação de 2,5 minutos para 10 minutos elevou substancialmente o desempenho da FAD. Contudo, à medida que esse tempo era incrementado para 15 minutos, os flocos visualmente começaram a ficar mais pesados, inadequados à flotação, causando redução da eficiência do processo. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 7 XXVII Congresso Interamericano de Engenharia Sanitária e Ambiental ∅degaard (1995) reporta que a FAD é capaz de operar de forma eficiente mesmo quando submetida a elevadas taxas de aplicação superficial. Entretanto, os experimentos do presente trabalho indicaram que a presença de uma quantidade excessiva de material floculado na coluna de flotação, com flocos apresentando características inadequadas à separação por flotação, pode implicar em redução considerável do desempenho da FAD em taxas de aplicação superficial superiores às adotadas normalmente nas unidades em escala real. Taxas de recirculação variando de 10% a 20% foram necessárias para garantir adequados valores de razão ar/sólidos e dosagem de ar, ao passo que uma taxa de 5% revelou-se inadequada para o processo de flotação. O efluente do reator anaeróbio de fluxo ascendente da ETE Paranoá, tratado por FAD, na condição operacional ótima, apresentou concentrações inferiores a 7 uT, 77 mg/L para DQO, 16 mg/L para sólidos em suspensão e 0,25 mg/L para ortofosfato filtrado. Considerando a qualidade inicial do efluente do reator anaeróbio citado, as taxas de remoção obtidas foram: turbidez: 79%, DQO: 73%, SS: 74% e ortofosfato filtrado: 99%. O trabalho experimental demostrou o potencial da FAD, associada ao pré-tratamento químico, na obtenção de efluentes de boa qualidade a partir de efluentes de RAFA. Os elevados níveis de remoção de material particulado e nutrientes, bem como o desempenho estável do processo em taxas de aplicação superficial de uso corrente nas unidades de escala real, credenciam a FAD como uma alternativa eficiente e confiável no pós-tratamento de efluentes de reatores anaeróbios de fluxo ascendente. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. BRATBY, J. e MARAIS, G. V. R. Dissolved air flotation.Filtration &Separation,11, (6), 614-625, 1974. EDZWALD, J. K. e WINGLER, B. J. Chemical and physical aspects of dissolved-air flotation 2. for the removal of algae. Aqua, 39, 24-35, 1990. 3. HYDE, R. A., MILLER, D. G., PACKHAM, R.F. e RICHARDS, W. N. Water clarification by flotation. 4. Journal of American Water Works Association, 69 (7), 369-374, 1977. KAMINSKI, G. S., DUNN, H. J., EDZWALD, J.K. Comparison of dissolved air flotation to other high-rate clarification methods. Proceedings of American Water Works Association Annual Conference. Filadelfia, Estados Unidos da América, 343-365, 1991. 5. MALLEY, J. P. e EDZWALD, J. K. Laboratory comparison of DAF with conventional treatment. Journal of American Water Works Association, 83 (9), 56-61, 1991. 6. ∅DEGAARD, H. Optimization of flocculation/flotation in chemical wastewater treatment. Water Science & Technology, 31(3/4), 73-82, 1995. 7. REALI, M. A. P., PENETRA, R. G. e CAMPOS, J. R. Influência da floculação na flotação de efluentes de reatores anaeróbios (UASB). XXVI CONGRESSO INTERAMERICANO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL (AIDIS). Lima, Peru, 1998. REES, A. J.,RODMAN, D. J. e ZABEL,T.F. Evaluation of dissolved air flotation saturator performance. WRC. Technical Report, TR 413, Medmenham, Inglaterra, 1980. 8. SCHNEIDER, O. D. NICKOLS, D. e LEBAN, E. R. Dissolved air flotation and polyaluminium chloride - an effective economical combination. American Water Works Association Annual Conference, Filadelfia, Estados Unidos da América, 1991. 9. VAN VUUREN, L. R. J., HENZEN, M. R., STANDER, G. J. e CLAYTON, A. J. The full scale reclamation of sewage effluent for the augmentation of domestic supplies at Windhoek. 5 th International Water Pollution Research Conference, São Francisco, Califórnia, Estados Unidos da América, 1970. 10. VRABLIK, E. R. Fundamental principles of dissolved air flotation of industrial wastes. 14 th Industrial Waste Conference, Purdue University, Lafayette, Indiana, Estados Unidos da América, 1959. 11. ZABEL, T. Flotation in water treatment. Ives K. J. (ed.) The Scientific Basis of Flotation ,NATO ASI Series, Martinus Nijhoff Publishers, Hague, Holanda, 349-377, 1984. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 8