UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO MESTRE A IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO CONTINUADA PARA O PROFESSOR E PARA A EDUCAÇÃO NO DISTRITO FEDERAL Por: ELEUSMAR SILVA SOUZA Orientador Prof. Dr. Vilson Sérgio de Carvalho Brasília 28/10/2010 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE A IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO CONTINUADA PARA O PROFESSOR E PARA A EDUCAÇÃO NO DISTRITO FEDERAL Apresentação de monografia à Universidade Candido Mendes como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Docência do Ensino Superior Por: . Eleusmar Silva Souza 3 AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus, por ter me dado a enorme graça da vida. A meus pais pela trajetória inicial, a minha filha Julia que nasceu durante este processo de construção e a minha esposa Eliana que muito contribuiu nos momentos de dificuldade. 4 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho a todos os professores que atuam nos diferentes níveis de escolaridade, pois tenho certeza que são profissionais em sua grande maioria abnegados e crentes no fato de que só através da educação teremos uma sociedade mais justa. 5 EPÍGRAFE “Na formação permanente dos professores, o momento fundamental é o da reflexão crítica sobre a prática. É pensando criticamente a pratica de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima prática”. Paulo Freire 6 RESUMO O presente trabalho monográfico trata da questão da formação continuada e da formação em serviço de professores que acontece nos momentos de coordenação pedagógica e no ambiente de trabalho. Discute-se a importância dessa formação para o profissional e para a educação, verificando-se seu nível de influência da determinação da qualidade do ensino e da aprendizagem.constituem-se objetivos deste trabalho verificar o processo histórico e as bases legais de construção da formação docente, assim como levantar conceitos que auxiliem a compreensão e a contextualização da formação continuada para professores, verificando as mudanças ocorridas no contexto educativo. O estudo teve cunho qualitativo e exploratório realizandose por meio de pesquisa bibliográfica e aplicação de entrevistas a quatro professores da rede pública de ensino do Distrito Federal. Concluindo-se que os professores consideram importante participar de cursos de formação continuada e em serviço, aproveitando-se o espaço da coordenação pedagógica para promover estudos e pesquisas, essa participação acontece porque os docentes buscam o aperfeiçoamento e a construção de estratégias interventivas que os ajudem a intervir pedagogicamente na realidade dos alunos, apresentando um ensino mais dinâmico, criativo e reflexivo. Palavras-chaves: 1. Formação 2. Docente 3. Qualidade 7 METODOLOGIA α) Tipo e Descrição Geral da Pesquisa Conforme Minayo (2003) a metodologia de pesquisa é o caminho do pensamento a ser seguido, ocupando um lugar central na teoria, tratando-se basicamente do conjunto de técnicas a ser adotada para construir uma realidade. Para apresentar um modelo metodológico que atenda aos objetivos da pesquisa científica são necessárias as interpretações do método científico, que segundo Menezes e Silva (2001) é o conjunto de processos ou operações mentais que devem ser empregadas na investigação, desenvolvidos por meio de métodos, classificados como dedutivo, indutivo, hipotético-dedutivo, dialético e fenomenológico. A fim de aprofundar o tema tratado, adotou-se o referencial de pesquisa exploratória e descritiva, utilizando-se pressupostos da abordagem qualitativa. Para Ludke e André (1986 apud Piovesani e Temporini, 2009) a pesquisa exploratória ou estudo exploratório tem por objetivo conhecer a variável de estudo tal como se apresenta, seu significado e o contexto onde ela se insere, contribuindo para que se conheçam melhor as características da população e, assim, planejar mais eficientemente o tamanho amostral. Para Gil (1991) a pesquisa exploratória tem propósito de proporcionar maior familiaridade com o problema, tornando-o mais claro para permitir que idéias sejam aprimoradas ou reconstruídas, por meio da verificação de hipóteses, tendo “como objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno, ou então, o estabelecimento de relações entre variáveis” (p.46). Tratando da abordagem do problema, Menezes e Silva (2001) classificam as pesquisas em dois grupos: qualitativas e quantitativas. A pesquisa quantitativa considera que tudo possa ser quantificável, utilizando para isso recursos e técnicas estatísticas. Em contrapartida, a pesquisa qualitativa considera haver uma indissociabilidade entre o mundo objetivo e a 8 subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido em números. Há um grupo de autores que classificam um terceiro tipo de pesquisa, mesclando-se os referencias das duas primeiras, a quantitativa-qualitativa. Nela, predomina o modo e as interpretações qualitativas, porém, em sua construção são utilizadas técnicas estatísticas. Para Godoy (1995) a pesquisa qualitativa é uma forma de abordagem que se preocupa com a análise dos dados, intuitiva e indutivamente, não requerendo o uso de técnicas e métodos estatísticos, mantendo o foco na interpretação de fenômenos e na atribuição de resultados. O autor ainda acrescenta a respeito da pesquisa qualitativa: “A pesquisa qualitativa não procura enumerar e/ou medir os eventos estudados, nem emprega instrumental estatístico na análise dos dados, envolve a obtenção de dados descritivos sobre pessoas, considera o ambiente como fonte direta dos dados descritivos sobre pessoas, lugares e processos interativos pelo contato direto do pesquisador com a situação estudada, procurando compreender os fenômenos segundo a perspectiva dos sujeitos e participantes da situação em estudo. “(p. 58). Sampieri (2006) afirma que a pesquisa qualitativa é um tipo de estudo que busca observar o fenômeno no ambiente usual, no contexto social e cultural em que as pessoas pesquisadas estão inseridas, procurando-se absorver o maior número de informações possíveis, no sentido de coletar dados que auxiliem a compreender o problema da pesquisa e a apontar respostas. Partindo desse pressuposto, define o objetivo da pesquisa exploratória que consiste em “examinar um tema ou problema de pesquisa pouco estudado, do qual se tem muitas dúvidas ou não foi abordado antes”. No mesmo sentido, Barbato (2008, p. 16) afirma que o estudo qualitativo gera “conhecimento mais aprofundado de um fenômeno, as dimensões complexas de um problema ou tema, envolvendo um número restrito de participantes ou apenas um, num estudo de caso”. Com base nesses argumentos, pode-se afirmar que o tema da pesquisa exige do pesquisador uma postura integradora, para levá-lo a relacionar situações práticas contextualizadas a partir da realidade dos pesquisados a 9 referenciais normativos. Nesse sentido, adotou-se o segundo tipo de pesquisa, a qualitativa, porque analisa os fenômenos relacionados à formação continuada de professores, pesquisando a opinião desses profissionais a respeito do assunto e estabelecendo uma relação prática entre as percepções dos pesquisados e os referenciais teóricos utilizados para compor este trabalho monográficos. Em relação à natureza da pesquisa, pode-se afirmar que se trata de pesquisa aplicada, que segundo Vergara (2006) “é fundamentalmente motivada pela necessidade de resolver problemas concretos, tendo, portanto, finalidade prática”.(P.47) Foi feita coleta de dados, sem medição numérica para descobrir ou aperfeiçoar questões relacionadas à Formação Continuada, por este motivo foram investigadas ações, experiências e opiniões dos professores do Ensino Fundamental e Médio a respeito desse tipo de formação, seguindo o método de entrevistas semi-estruturadas (Creswell, in Barbato, 2008) e por meio de pesquisa bibliográfica, a fim de levantar fundamentos para ressaltar a importância da formação continuada de docentes para imprimir mudanças no contexto pedagógico, na realidade dos alunos e na qualidade da educação ofertada. β) População e Amostra/Participantes da Pesquisa Partindo da classificação de Vergara (2006, p. 50) que afirma constituir- se a população ou universo pesquisado de “um conjunto de elementos que possuem as características que serão objeto de estudo”, e do que Gil (2002, p. 122, apud SILVA, 2000, p. 75) afirma sobre a existência de levantamentos que acabam abrangendo um universo grande de elementos, tornando-se impossível considerá-lo em sua totalidade, sendo por este motivo, necessário a definição e adoção de amostras, definida pelo autor como sendo “uma 10 pequena parte dos elementos que compõem o universo”, escolheu-se uma pequena parte do universo de professores do Distrito Federal, que representam professores de Ensino Fundamental e do Ensino Médio da rede pública. Dez professores foram convidados a participar da pesquisa, entretanto, devido a sobrecarga de trabalho destes profissionais e a dificuldade para agendar um horário para a realização da entrevista, somente quatro professores participaram da pesquisa. Dois eram professores de atividades que trabalham em uma escola classe que atende do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental e dois são professores de áreas específicas, um de história e o outro de matemática, ambos trabalham em uma escola de Ensino Médio. Os quatro participantes trabalham em regime de quarenta horas semanais e com escolas de jornada ampliada, ou seja, com cinco horas de aula e 3 horas de coordenação, diariamente. Eles foram escolhidos seguindo três critérios: a participação em cursos de formação continuada, a participação em momentos de formação em serviço e nunca ter participado de cursos de formação continuada. Assim, três professores fizeram alguns cursos de formação continuada em instituição conveniada com a Secretaria de Educação. Dos quatro participantes, dois afirmaram já ter participado de momentos dedicados a formação em serviço e um deles nunca participou de curso de formação continuada. Entre os participantes, dois professores fizeram curso de especialização na Universidade de Brasília – UNB em convênio com a Secretaria de Educação, um fez pós-graduação na Universidade Católica e um está fazendo mestrado em entidade particular. Obteve-se uma amostra heterogênea, participaram da pesquisa, dois homens e duas mulheres. Eles trabalham na Secretaria de Educação do DF há cerca de 20 anos. 11 χ) Caracterização dos Instrumentos de Pesquisa Para levantar dados consistentes que justificassem a eleição do tema e respondessem ao problema elencado neste trabalho, adotou-se a pesquisa bibliográfica e a aplicação de entrevistas a quatro professores da rede pública do Distrito Federal, fundamentados em definições como a de Selltiz et all (1967, p.63, citado por Gil, 1991, p. 45) que afirmam que a pesquisa exploratória envolve, geralmente, a pesquisa bibliográfica, entrevistas e análise de exemplos. E de Gil (1991 ) que define a pesquisa bibliográfica como suporte teórico para a pesquisa de campo, sendo “desenvolvida a partir de material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos” (p.48), cuja finalidade é colocar o pesquisador em contato direto com tudo o que foi escrito, dito ou filmado sobre determinado assunto, inclusive conferências seguidas de debates que tenham sido transcritos por alguma forma, quer publicadas, quer gravadas, não sendo mera repetição do que já foi dito ou escrito sobre certo assunto. Neste sentido, propicia o exame de um tema sob novo enfoque ou abordagem, chegando a conclusões inovadoras. A entrevista é classificada por Lodi (1976) como sendo “uma técnica que envolve duas pessoas numa situação ‘face a face’ e em que uma delas formula questões e outra responde” (p.90). Com isso, formulam-se questões que possam elucidar a pesquisa e ajudar a responder o problema estudado, levantando opiniões, sugestões e percepções dos participantes sobre o assunto abordado. Foram feitas seis perguntas aos pesquisados, todas as respostas foram registradas manualmente pelo entrevistador, ao término da entrevista, as anotações foram lidas pelos participantes que fizeram correções e ajustes para aprová-las. 12 δ) Modelo Analítico Foram selecionadas duas escolas na Região Administrativa de Ceilândia, selecionadas segundo o critério de proximidade do local de trabalho do pesquisador. A primeira é uma Escola Classe que atende alunos de seis a catorze anos, em turmas de primeiro ao quinto ano do Ensino Fundamental. É uma unidade educativa reconhecida pela comunidade por sua qualidade no atendimento aos alunos, pela responsabilidade dos professores e pelos projetos pedagógicos desenvolvidos em torno das necessidades e interesses dos alunos, conquistando a confiança e a participação da comunidade em vários eventos. Apresenta-se como uma escola que organiza seu trabalho e ações a partir de projetos políticos pedagógicos, desde a década de 90 e investe na formação continuada de seus professores, incentivando-os a participarem de cursos de extensão e especialização, treinamentos, palestras, reflexões e encontros docentes realizados no ambiente de trabalho, com o propósito de melhorar a educação oferecida e promover maior participação da comunidade nas decisões pedagógicas da instituição. A formação em serviço é prevista no Projeto Político Pedagógico e se acontece nas coordenações pedagógicas realizadas semanalmente, por meio de palestras, estudos, reflexões, aulas demonstrativas e experimentais, com participação de todos os professores. Os eventos são planejados pela equipe pedagógica que se responsabiliza pela manutenção do espaço, pela apresentação de temas e assuntos de interesse e necessidade dos professores e pelo convite a pessoas de fora da escola que possam contribuir com a formação como psicólogos, psiquiatras, professores de outras escolas e estados e, em alguns casos de profissionais que estejam relacionados com temas de projetos em que os professores verificam necessidade de 13 aprofundamento, como de agentes de saúde, médicos e enfermeiras para falarem de epidemias como a dengue, por exemplo. São separados três momentos específicos durante o ano a escola reúne os professores dos dois turnos e se concentra em reflexões e discussões pedagógicas, esses momentos são utilizados para avaliar o trabalho desenvolvido durante o ano (bimestre ou semestre) e para programar novas ações. A Escola Classe funciona em dois turnos, possui trinta professores e conta com quatro pessoas na gerência, além de três coordenadores, uma pedagoga, uma Psicopedagoga e uma Orientadora Educacional na Equipe de Apoio à Aprendizagem, Sala de Orientação Educacional e Sala de Recursos e, vinte servidores. Conta em sua estrutura física com uma sala para professores, 15 salas de aula, uma sala de leitura, uma sala destinada ao Centro de Referência de Alfabetização, uma sala de Recursos, uma sala de Orientação e outra da Equipe de Apoio à Aprendizagem, um parque e uma quadra de esportes, dentre outras instalações que agregam sala de direção, de auxiliares, secretaria, cantina e banheiros. A segunda escola trabalha com a modalidade do Ensino Médio há mais de 40 anos, possuindo larga experiência no trato com jovens e adolescentes. Atende a mil duzentos e setenta e seis alunos entre treze a trinta anos, distribuídos em quarenta turmas envolvendo os três turnos em que funciona. Possui cinqüenta e quatro professores, dezenove servidores, seis membros de direção, três coordenadores, um Orientador Educacional, quinzes salas de aula regulares e cinco e cinco destinadas a classes especiais, uma sala de coordenação de professores, quatro laboratórios (Informática, Física, Química e Biologia), uma Biblioteca, uma sala de Assistência Pedagógica, uma sala de professores, dentre outras instalações administrativas e uma quadra de esportes. A instituição trabalha a partir do planejamento do Projeto Político Pedagógico, do qual participam todos os professores e onde são previstos 14 projetos interdisciplinares, organizadas as disciplinas da parte diversificada do currículo e definidas as datas para provas bimestrais e semestrais, assim como para as reuniões com pais e conselhos de classes, dos quais participam alunos representantes de turma e professores. São previstos momentos de reflexões e estudos entre professores, sendo realizados em coordenações coletivas, não há citação da expressão formação em serviço. A maior parte dos objetivos do Projeto Político Pedagógico foca as necessidades dos alunos identificadas pelos professores e comunidade escolar, buscando, construir ações concretas para conscientizar os alunos e diminuir os problemas detectados. Apesar da pequena ênfase para a formação continuada, muitos dos professores contactados para participar da pesquisa, afirmaram possuir cursos de especialização e participação em cursos de formação continuada oferecidos pela EAPE (Escola de Aperfeiçoamento Profissional da Secretaria de Educação). ε) Procedimento de Coleta e Análise dos Dados Utilizou-se a pesquisa bibliográfica e a aplicação de entrevistas a professores de séries iniciais do Ensino Fundamental e do Ensino Médio A pesquisa foi realizada em três momentos específicos, no primeiro foi feita a pesquisa Bibliográfica, levantando-se a Literatura existente sobre o assunto tratado, no segundo momento fez-se a Pesquisa de Campo, por meio da aplicação de entrevistas a dois professores da Escola de Ensino Fundamental e dois professores do Ensino Médio. O terceiro momento foi dedicado a análise e discussão dos resultados da pesquisa de campo, utilizando-se os referenciais teóricos levantados na pesquisa bibliográfica e as Propostas Pedagógicas das instituições onde os pesquisados trabalham, a fim de extrair dados referentes à estrutura física, administrativa e pedagógica e, a 15 existência de propostas relacionadas à Formação Continuada de seus professores, assim como o reconhecimento da relação desse nível de formação com mudanças no contexto escolar. As respostas das entrevistas foram analisadas e confrontadas com as informações teóricas obtidas durante a pesquisa bibliográfica, sendo apresentados seus resultados no último item do estudo, onde se configura a importância da formação continuada e em serviço para esses professores. 16 SUMÁRIO METODOLOGIA ----------------------------------------------------------------------------- 07 INTRODUÇÃO -------------------------------------------------------------------------------- 17 CAPÍTULO I Bases, Princípios e Características da Formação Continuada -------------- 22 CAPÍTULO II Conceitos Importantes Sobre Formação Continuada ------------------------ 36 CAPÍTULO III Formação Continuada como Elemento Propulsor de Mudanças----------- 50 CAPÍTULO IV Experiências Docentes com Formação -------------------------------------------- 60 4.1. Pergunta1 ---------------------------------------------------------------------------------62 4.2. Pergunta 2 --------------------------------------------------------------------------------64 4.3. Pergunta 3 --------------------------------------------------------------------------------66 4.4. Pergunta 4 --------------------------------------------------------------------------------70 4.5. Pergunta 5 --------------------------------------------------------------------------------71 4.6.Pergunta 6 ---------------------------------------------------------------------------------73 CONCLUSÃO ----------------------------------------------------------------------------------78 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS -----------------------------------------------------82 ANEXOS ----------------------------------------------------------------------------------------86 Modelo da entrevista ------------------------------------------------------------------------87 17 ‘ INTRODUÇÃO O professor é um agente educacional importante e imprescindível no processo de ensino e aprendizagem. Várias teorias e abordagens educacionais posicionaram-se historicamente para discutir o papel e a função do professor no processo educativo e muitas teorias foram construídas em torno dessa reflexão. Em alguns momentos, o professor foi compreendido como o autor da aprendizagem, alguém que deveria possuir o conhecimento e transmiti-lo aos alunos, como defendiam as abordagens tradicionais e tecnicistas, baseados em estudos comportamentais e ambientalistas, em outros eram compreendidos como aqueles que auxiliavam os alunos a despertarem seus talentos inatos, como acreditavam os inatistas. Em abordagens que focam o conhecimento e o sujeito como a construtivista e a sócio-interacionista, divulgadas no contexto brasileiro após a década de 90, o professor é parte do processo educativo, ele é um mediador, um colaborador, um co-autor, a figura que media, que intervém, que auxilia os sujeitos que aprendem a construir suas estruturas e caminhos de pensamento. Cada uma dessas abordagens representa uma concepção de homem, de sociedade, de aprendizagem e de história. Em qualquer uma delas, o professor é concebido dentro de um processo educativo, como figura envolvida com a aprendizagem cotidianamente. Essa relação do professor com a aprendizagem também tem sido objeto de estudo de educadores, estudiosos e amantes da educação, pois compreendê-la torna-se vital para se definir os objetivos da ação educativa. Uma vez que se verifica a importância do professor para a aprendizagem e da aprendizagem para o professor, pode-se delimitar o campo da educação, ou seja, é preciso partir do pressuposto de que o docente precisa aprender sempre e mais, a cada dia, em cada contexto, 18 com cada situação, por cada momento, aprendendo com os ambientes, com as pessoas, construindo, elaborando, reestruturando, refazendo, questionando, criticando, pensando sobre todas as situações e circunstâncias. Há uma relação intrínseca entre educador e aprendizagem. E é sobre essa relação que se pretende refletir nesse estudo monográfico. Sabendo-se que existem inúmeras formas de aprender, dentre elas, as escolares, por meio da formação acadêmica em cursos de graduação, de especialização e lactus sensus, em mestrados e doutorados, ou por meio da formação continuada que pode acontecer por meio de participação em cursos de profissionalização e de qualificação profissional, assim como por meio de seminários, palestras, estudos dirigidos, conversas e discussões que podem acontecer no local de trabalho. Existem modalidades de formação que agregam essas duas dimensões, oferecem estudos em entidade educativa com horas presenciais e estudos que precisam ser realizados no local de trabalho. A ênfase de todos eles é a formação docente com vistas à profissionalização, a instrumentalização e a qualificação do docente. Os objetivos desses cursos nem sempre se coadunam com os objetivos dos docentes, em muitos casos, há uma distância muito grande entre aquilo que se apresenta nos currículos e a realidade experimentada pelos educadores. Há cursos que se distanciam da prática educativa. Em oposição, há cursos que privilegiam a relação teoria e prática, introduzindo a reflexão, a crítica e a construção contextual de conhecimentos, estes se aproximam um pouco mais dos objetivos desta pesquisa, pois reconhecem que a formação docente só tem propósito se puder provocar mudanças na rotina e na prática pedagógica. Segundo a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN/96 - deve haver uma preocupação constante do Estado e dos governos com a formação docente, incluindo-se a responsabilização pela oferta de cursos e de condições propícias para que o professor invista em sua formação geral, continuada e em serviço. Assim, torna-se um requisito legal a 19 formação docente, incluindo-se a necessidade de aperfeiçoamento e de aprendizagem constante e contínua. Os locais de trabalho se apresentam como ricos espaços para a construção de conhecimentos, para a reelaboração de teorias, de idéias educacionais, assim como para a experimentação, para a reflexão coletiva, para a construção de novas perspectivas e paradigmas. Na verdade, a escola representa o local de construção de conhecimentos, envolvendo-se todos os sujeitos nessa construção. Sob esse enfoque, combate-se a idéia de que a educação seja um processo voltado para o aluno, ela é um processo humano, cíclico, que envolve todas as estruturas e pessoas dentro da escola, assim, professores, pais, funcionários, gestores e alunos aprendem e constroem aprendizagens. A presente pesquisa reflete sobre a importância da formação continuada para professores, refletindo sobre a formação permanente e contínua que acontece no próprio local de serviço. Pretende-se identificar os responsáveis pela promoção e manutenção de uma formação de qualidade para os professores, assim como verificar o quanto esse tipo de formação pode interferir na rotina pedagógica, na vida dos alunos e na qualidade da educação ofertada. Defende-se a educação humanista e construtivista que é organizada sobre princípios dialógicos e críticos, onde se estabelece relação entre teoria e prática. O grande problema observado em torno desta temática refere-se a descobrir qual a importância da Formação Continuada para professores do DF e em que sentido essa formação pode promover mudanças na prática pedagógica. Para responder a questão colocada, a pesquisa pretende demonstrar o quanto a formação continuada, principalmente, em serviço é necessária para a construção de habilidades e competências pedagógicas, políticas, didáticas, sociais e cognitivas, entendendo que essas capacidades ajudarão o professor a enfrentar, compreender, diagnosticar, refletir e dialogar com situações 20 cotidianas desafiadoras e com os processos de ensino-aprendizagem, além disso, pretende verificar em que sentido a formação continuada consegue promover mudanças no contexto escolar, considerando-se a realidade e necessidades dos docentes, a qualidade no processo de ensino e aprendizagem e o desempenho escolar. Metodologicamente, adotou-se a abordagem qualitatitiva para desenvolver uma pesquisa exploratória e descritiva, construída a partir de levantamento bibliográfico e aplicação de entrevistas a professores de duas escolas públicas do Distrito Federal, uma de Ensino Fundamental com Séries Iniciais e a outra, do Ensino Médio. Para facilitar a compreensão do texto, o trabalho monográfico foi dividido em capítulos, dentre os quais, o primeiro traz os resultados de toda literatura pesquisada, recebendo o título de Bases, Princípios e Características da Formação Continuada, onde são exploradas as bases legais para a formação docente e sua história, utilizando conceitos e relatos sobre a estrutura da educação. No segundo capítulo são explorados alguns conceitos importantes sobre Formação Continuada, discutindo-se idéias que garantem uma formação contínua, permanente, democrática e crítica aos docentes. O terceiro capítulo trata da formação continuada como elemento propulsor de mudanças educacionais, onde se discutem os principais paradigmas que regem os cursos de formação continuada oferecidas aos professores no DF, considerando-se duas abordagens educacionais, a tradicional/tecniscista e a sócio-interacionista/construtivista, além de tratar mais especificamente sobre a relação teoria e prática e a capacidade de instrumentalizar o professor para aplicar as teorias construídas nos cursos à prática da sala de aula de forma crítica, criativa e contextualizadora e discute a necessidade de investimento na formação continuada de professores, considerando sua importância para o crescimento e aperfeiçoamento contínuo do profissional. Nesse sentido, coloca-se a responsabilidade do Estado, por meio do Ministério da Educação, suas Secretarias, Conselhos e Gerências de 21 Ensino de suprir programas, recursos e investimentos em cursos de formação continuada de qualidade, verificando-se a relação entre a capacitação/ motivação profissional e mudanças na prática pedagógica/resultados da educação. O quarto capítulo apresenta idéias e intervenções de professores que participaram da pesquisa, por meio de entrevistas, apresentando suas impressões a respeito dos cursos de formação continuada, assim como suas necessidades, interesses e sugestões. As respostas são relacionadas às idéias apresentadas no primeiro capítulo, buscando assim, situar a importância da formação continuada para o professor, para a escola e para a educação, referendando mudanças na estrutura das escolas para que sejam privilegiados e organizados momentos de formação em serviço e, investimentos em cursos de formação continuada que instrumentalizem professores para lidarem com os problemas cotidianos. Seguindo os capítulos, apresenta-se a conclusão, onde são apresentadas algumas considerações do pesquisador sobre o assunto e sugestões. Após isso, seguem os anexos, contendo o modelo da entrevista aplicada aos participantes. A partir do trabalho monográfico, pretende-se fomentar a discussão acerca da formação docente, incentivando professores e responsáveis pela educação brasileira a repensar e reestruturar estratégias de ensino e objetivos instrucionais, sociais, políticos, e educacionais dos cursos de formação disponíveis. 22 CAPÍTULO I Bases, Princípios e Características Históricas da Formação Docente A qualidade da educação depende de investimentos em estrutura física, pedagógica e tecnológica, sendo importante privilegiar a formação de professores. A partir da aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da educação nacional - LDB em 1996 e do Plano Nacional de Educação em 2001, a formação docente foi contemplada em capítulo próprio, onde a formação de nível superior é exigida para o exercício da profissão e a continuidade da formação é apresentada como uma necessidade para construção de competências profissionais, aperfeiçoamento e melhorias pedagógicas que imprimam maior qualidade à educação ofertada. Nesse sentido, estados e municípios brasileiros devem se organizar política e educacionalmente para prover formação docente em várias dimensões, inclusive, a formação em serviço e a especialização, visando melhor qualificação profissional, aperfeiçoamento e formação de novas habilidades e competências para capacitar e instrumentalizar crítica, reflexiva e pedagogicamente os professores para que possam lidar com os inúmeros desafios apresentados pela educação brasileira. Há uma necessidade latente de planejamento e implantação de políticas públicas que priorizem a formação docente. Essa formação tem que estar voltada para a prática e estabelecer uma relação dialógica entre os referenciais teóricos necessários à construção do saber científico e o contexto sócio-cultural, histórico, político e pedagógico dos professores, apresentando flexibilidade para que os conhecimentos sejam reestruturados e aplicados à realidade dos alunos, das escolas e das comunidades onde os docentes estão inseridos. 23 A discussão sobre a formação docente confunde-se com a própria trajetória da educação brasileira. As primeiras escolas responsáveis pela formação oficial de professores surgem no século XIX, são as escolas normais. Período em que se fortaleceram idéias em defesa da formulação de um plano Nacional de educação, mas somente no século XX, acompanhando as mudanças políticas e sociais, como ressalta Saviani (1999) é que se estrutura a educação brasileira, assumindo cunho de educação nacional. Em 1937 foi criado o Ministério da Educação, período que alavancou movimentos e fatos que fortaleceram a idéia de que a educação deveria ser preocupação de todo país (de seu governo), conforme destaca Saviani (1999): Reformas do Ministro Francisco Campos (1931); Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova (1932) – direcionava para a construção de um Sistema Nacional de Educação; Constituição de 1934 – coloca a exigência de fixação das diretrizes da educação e elaboração de plano nacional de educação; Conjunto de reformas promulgadas (entre 1942 e 1946) por Gustavo Capanema (na época Ministro da Educação do Estado Novo) – as Leis Orgânicas do Ensino; Lei Nacional referente ao ensino primário (1946). A Constituição de 1946 definiu a educação como direito de todos e determinou que a União fixasse diretrizes e bases para a educação nacional. Em 1947 teve início os trabalhos de elaboração da Lei de Diretrizes e Bases da Educação, levando treze anos para ser aprovada na Lei n. 4024 de 1961, tornando-se insuficiente, na opinião de Saviani (1999) porque limitava a democratização do acesso ao ensino fundamental e não dispunha de mecanismos para superar esses problemas. Essa lei constituía-se basicamente de um conjunto de metas quantitativas e qualitativas a serem alcançadas num prazo de oito anos. Sofreu uma alteração em 1966 construindo-se assim o Plano Complementar de Educação que introduziu mudanças na distribuição dos recursos federais, beneficiando a implantação de ginásios orientados para o trabalho e o atendimento de analfabetos com mais de dez anos. 24 Em 1971 a educação passou a ser regulada pela lei 5692/71 que fixou diretrizes e bases para o ensino de primeiro e segundo graus, elegendo o segundo grau como o nível de ensino profissionalizante, aquele que deveria preparar o indivíduo para o trabalho. A referida lei regeu a estrutura e a organização da educação brasileira durante todo o período da ditadura, sendo combatida fortemente por educadores e defensores da democratização e universalização da escola pública. Foi substituída após a aprovação da Nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN em 1996, após a promulgação da Constituição de 1988 e uma série de mobilizações de professores, especialistas e interessados em educação. Assis (2009) analisa a educação no período ditatorial, destacando a tendência do ensino de reforçar a opressão e o controle exercido pelo Estado sobre a população, aumentando a disputa de classes e a formação deficiente da classe trabalhadora. Para ele as reformas educacionais deste período foram instrumentos do Estado para desvalorizar o sistema de ensino, os professores e acirrar as diferenças sociais, conforme destaca: O Governo do Brasil, juntamente com outras parcerias, objetivando pôr em prática os seus planejamentos econômicos e políticos, reprimiu professores, burocratizou a educação, incluindo-a numa “linha hierárquica” dentro de um sistema militar, concorrendo para a constante perda da autonomia docente. Com essa política repressora e burocrata, os militares conduziram o sistema de ensino brasileiro às modificações em sua estrutura interna e externa, principalmente com as leis 5.540/68 e 5.692/71; reforma universitária e reforma do 2º grau, respectivamente. A partir dessas reformas no ensino brasileiro, nota-se mais intensamente, um esforço por parte do Estado (comandado pelos militares) em submeter o sistema educacional a uma progressiva desvalorização. A lei nº 5.692/71, assim como a reforma universitária – elaboradas pelos militares - caracterizava a ‘materialização’ dos objetivos de uma determinada classe econômica e política em colocar a educação brasileira completamente sob os seus domínios, inserindo-a numa política cada vez mais rígida e burocrática.(Assis, 2009, p.06 e 07) Sobre a análise de Assis (2009) os professores foram extremamente atacados por meio dessas reformas, dado a seu poder de influência social, os riscos de se alcançar um processo de conscientização, defendido por Freire (1984) por meio da ação, do discurso e da organização, os docentes teriam 25 que ser combatidos pelo regime militar, por isso, a questão da formação docente ocupou espaço de destaque entre as políticas educacionais, o sistema voltou-se para distanciar o profissional da realidade, assim, os cursos de graduação focavam a formação técnica, científica em detrimento da prática, formavam-se os especialistas, alheios à realidade, como destaca Fonseca (2004): Entretanto, durante as últimas três décadas do século XX, predominou o modelo de formação que combinava licenciaturas curtas e plenas de um lado e bacharelado de outro, estruturados com base na dicotomia conhecimentos específicos da disciplina/conhecimentos pedagógicos, preparação para o ensino/preparação para a pesquisa, conhecimentos teóricos/prática... Nos anos 80 ampliaram-se os debates entre os profissionais da área e a luta em defesa de um outro processo de formação, da profissionalização dos professores... A crítica à formação livresca, distanciada da realidade educacional brasileira, à dicotomia bacharelado/licenciatura se processou articulada à defesa de uma formação que privilegiasse o professor/pesquisador. (Fonseca, 2004, p.61-62). A educação tecnicista delimitou os currículos escolares e definiu modelos educacionais tanto para os alunos de cursos regulares, profissionalizantes, quanto dos cursos de graduação, que podiam ser classificados em cursos de licenciatura curta (dois anos) e plena (quatro ou cinco anos). Segundo descreve Fonseca (2004) os cursos destinados a formar professores estavam contaminados por forte conteúdo ideológico: Modelo de formação inicial de professores de História e Geografia, realizados nos cursos de licenciatura curta de estudos sociais, instituídos no Brasil durante a ditadura militar, no interior do projeto de desqualificação estratégica, articulado a diversos mecanismos de controle e manipulação ideológica que vigoraram no Brasil no período do regime militar. (Fonseca, 2004, p.60-64). Conforme descreve Freire (1994) o modelo de educação no período da ditadura, fundamentado nos princípios de educação tecnicista e comportamentalista, dedicava-se à formação técnica, levando professores a assumirem papel de transmissores do conhecimento enquanto alunos deveriam recebê-lo passivamente. Ao professor cabia aprender a produzir comportamentos observáveis e quantificáveis que poderiam ser avaliados, por 26 meio de provas. O ensino consistia na aprendizagem de técnicas e métodos de ensino. A Constituição Federal promulgada em 1988 após a quebra do regime ditatorial conferiu no artigo 214, a obrigatoriedade de um plano nacional de educação que tivesse força de lei para conferir estabilidade às iniciativas governamentais na área de educação, assim, a partir da década de 90, no seio de movimentos políticos e em meio a mudanças sociais nacionais, começam a ressurgir idéias educacionais com cunho libertário e popular e não só por dispositivo legal, mas em resposta a grande mobilização de professores e de defensores da educação brasileira (quer para contê-la ou retaliá-la) é publicada a Lei nº 9.394/96. A Nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996 substituiu a lei 5692/71 e introduziu uma série de mudanças estruturais, políticas e filosóficas. Apesar de não atender a todos os anseios do professorado brasileiro permite o avanço de várias idéias educativas que colocam abaixo e em crise os pressupostos tradicionais da sociedade autoritária, dirigida pelo antigo regime militar. Em 2001, o Plano Nacional de Educação foi aprovado, tomando por base o Plano Decenal de Educação para Todos, preparado de acordo com as recomendações da reunião organizada pela UNESCO, realizada em Jomtien, na Tailândia, em 1993. A nova lei fortalecida pelo PNE, pelas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) e Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) determina mudanças na organização e estrutura da educação brasileira, corrigindo algumas distorções das leis anteriores, sem, contudo, contemplar todas as exigências e necessidades que a escola, os professores e a população apresentam. Dentre as mudanças mais significativas, citam-se as que se referem aos níveis de ensino, a ampliação da responsabilidade financeira dos Estados e municípios, a extensão da obrigatoriedade da educação pública até o Ensino Superior, mudanças conceituais em relação à avaliação, ao currículo escolar, à aprendizagem, à recuperação e à formação docente. 27 A LDBN/96 acabou com os cursos profissionalizantes em nível de segundo grau, substituindo-o pelo Ensino Médio e integrando-o ao Ensino Fundamental, colocando-o como uma etapa conclusiva e de acesso ao nível Superior. Essa mudança, seguindo a política de democratização da escola pública, prevista no Plano Nacional de Educação (PNE), responsabiliza financeiramente, o Estado pelo custeio e oferta desse nível de ensino, organizando-o administrativa e curricularmente, adotando para isso as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN’s) e os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s), que compreendem as habilidades e competências que devam ser formadas nesse nível de ensino, reconhecendo a necessidade da formação cidadã, crítica e autônoma, que alia formação para o trabalho e para a ação social dos educandos. Dentre as demais questões que passaram por mudanças, a referida LDBN/96 acabou também com os cursos Normais de nível médio e de Ensino Superior de curta duração. Em contrapartida, permitiu a ampliação de cursos semi-presenciais, inclusive em instituições de ensino superior públicas, reconheceu os cursos tecnológicos, imprimindo a eles caráter de formação superior. Para substituir o magistério em nível de segundo grau, previu a criação do Curso Normal Superior que passou a ser responsável pela formação Básica do professor. O Curso Normal Superior não substitui os cursos de Pedagogia e as Licenciaturas Plenas em áreas Específicas, mas se apresenta como mais uma área de habilitação. Apesar de haver uma larga discussão acerca do Curso Normal Superior, cabe, entretanto, destacar, que a preocupação desse texto é apontar as mudanças na formação docente, nesse sentido, o Curso Superior tem o propósito de formar academicamente o docente, conferindo-lhe a graduação, condição indispensável para o exercício da profissão de professor em todo Brasil, de acordo com a LDBEN/96. No contexto da escola tradicional, os cursos profissionalizantes e os cursos de Ensino Superior de curta graduação eram responsáveis pela 28 preparação técnica do docente. Os cursos de qualificação visavam à transmissão de técnicas e metodologias de ensino voltados para a reprodução de conhecimentos e a repetição de saberes julgados necessários à prática docente. Gadotti (1996) ressalta a importância dos cursos com função de treinamento aos professores, denunciando o poder ideológico transmitido por meio dos programas e dos conteúdos curriculares selecionados. As questões centrais desses cursos voltam-se para métodos e técnicas de ensino e avaliação, que exercia as funções de verificação, seleção e quantificação do desempenho e rendimento. Muitos desses programas vinculavam-se políticas públicas de combate a repetência e evasão escolar. O Plano Nacional da Educação (PNE) que fixa diretrizes e políticas educacionais, exigindo, em cumprimento à LDBEN/96, a formação superior para os professores, responsabiliza os Estados e suas secretarias de educação a implantarem programas de formação em nível de graduação para os docentes que ainda não possuem curso superior. Atendendo a essa exigência, o governo do DF tem investido nessa formação, desde o fim da década de 90, tendo firmado convênio com Universidade Pública e particular para elevar o número de professores com graduação de nível superior. Para dar corpo pedagógico à LDBN/96 os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s), escritos a partir das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) apresentaram novas elaborações educativas e o entendimento das novas demandas e paradigmas que se apresentam à escola e à educação brasileira. Destrinchando conceitos construtivistas e sócio-interacionistas, tomando como referência vários educadores renomados mundial e historicamente, trazendo de volta as idéias de Vygostsky, Piaget, Wallon, Baktin e outros contemporâneos que aludiram o ensino de uma maneira mais crítica, reconhecendo os processos de construção da aprendizagem porque passam os seres humanos, desde o nascimento. Nos PCN’s, o estudante constitui-se o centro da ação educativa, os conteúdos foram substituídos por competência e habilidades, que dão a clara 29 noção de que o educando tem que ser compreendido em sua complexidade e integralidade, percebendo-se todos os elementos que estão envolvidos no processo de ensino-aprendizagem. Sob esse prisma, professores passam a ser educadores, có-autores do processo, os conhecimentos deixam de ser apresentados de uma forma estanque, pronta e metodicamente divididos, mas passam a ser frutos da construção sócio-temporal e política, interferindo os fatores biológicos, sociais, econômicos, geográficos, físicos entre outros, na sua formulação. As mudanças legais em relação à educação brasileira acompanham as mudanças sociais, políticas, culturais e históricas porque passou o Brasil desde o final do século XX, sendo ainda muito recentes, por isso, cultural e pedagogicamente a escola e os professores carregam estruturas e paradigmas da escola tradicional. Em contrapartida, permearam o campo das discussões e das normatizações inúmeros conceitos e paradigmas que mudam o foco do ensino, tirando-o da prática reprodutivista para a construtivista, com isso, os inúmeros conceitos em torno dessa abordagem passaram a modificar as estruturas escolares, principalmente em torno da formação de professores cujo foco deixou de ser o ensino de técnicas e métodos para ser o processo de aprendizagem, o estudo dos caminhos porque passa o indivíduo enquanto aprende. Os professores começaram a ter que aprender teorias em torno da aprendizagem, dos processos sociais e culturais de aprendizagem. Nesse sentido, os cursos de formação docente tiveram e continuam tendo que passar por inúmeras reformulações, incluindo os currículos, as práticas de ensino e avaliação, a exigência de um nível mais elaborado de formação dos professores do Ensino Superior, a readequação das estratégias de ensino e dos materiais disponibilizados aos docentes, assim como a introdução da pesquisa e experimentação como exigência para esse nível de formação. A questão teoria e prática passou a ser um indicador de qualidade para cursos de formação docente, tomando lugar central nas pesquisas recentes sobre formação docente. 30 Somente a partir da década de 90 é que surgem os novos enfoques e paradigmas educacionais que relacionam prática pedagógica, saberes pedagógicos e epistemológicos relativos ao conteúdo escolar a ser ensinado/aprendido. È exatamente neste período que se firmam pesquisas sobre a complexidade da prática pedagógica e dos saberes docentes, muitas pesquisas buscam resgatar o papel do professor, verificando o quanto é importante pensar em sua formação a partir de “uma abordagem que vá além da acadêmica, envolvendo o desenvolvimento pessoal, profissional e organizacional da profissão docente” (Nunes, 2001). Neste contexto, surgem várias pesquisas que tratam da formação de professores. Em algumas há classificação de saberes docentes, assim como de competências e habilidades ligadas ao ato de educar. A maior parte dessas foi construída a partir de uma abordagem téorico-metodológica que incluiu análise de trajetórias e histórias de vida, que se destacam por se oporem ao modelo reducionista que limitava a profissão docente a um conjunto de competências e técnicas, que segundo Nóvoa (1995) gerou uma grande “crise de identidade nos professores”, uma vez que era exigido deles uma cisão entre o eu profissional e o eu pessoal para que houvesse bom desempenho funcional. Contrapondo essa visão, as pesquisas passaram a conceber o professor como ser integral, analisando-se fatores pessoais na determinação de características profissionais. Nesse sentido, passou-se a estudar a constituição do trabalho docente levando-se em conta os diferentes aspectos da história individual e profissional do docente, considerando os saberes já construídos pelos professores. Essa visão reforçou o movimento em torno da valorização dos professores, destacando-se a importância de investir nos conhecimentos pré-existentes para construir novos elementos e concepções teórico-conceituais (Nóvoa, 1992, p.27) e pensar na formação docente a partir da análise da prática pedagógica. O aparecimento da questão dos saberes, segundo identifica Pimenta (1999, citada por Nunes, 2001) fornece bases para os estudos sobre a identidade da profissão do professor que segundo ele: 31 Parte da premissa de que essa identidade é construída a partir da significação social da profissão; da revisão constante dos significados sociais da profissão; da revisão das tradições e da reafirmação das práticas consagradas culturalmente que permanecem significativas. Práticas que resistem a inovações porque prenhes de saberes válidos às necessidades da realidade. Do confronto entre as teorias e as práticas, da análise sistemática das práticas à luz das teorias existentes, da construção de novas teorias. Dessa forma, resgata a importância de se considerar o professor em sua própria formação, num processo de auto-formação, de reelaboração dos saberes iniciais em confronto com sua prática vivenciada. Assim seus saberes vão-se constituindo a partir de uma reflexão na e sobre a prática. (Pimenta, 1999, citada por Nunes, 2001, p. 19) A tendência reflexiva representa um novo paradigma na formação de professores, incentivando a promoção de políticas que prevejam concomitantemente, o desenvolvimento pessoal e profissional dos professores e das instituições escolares. Silva (1997) destaca que a construção de novos conceitos sobre os saberes docentes constituem importante referencial para a compreensão de todo trabalho docente que depende das ações e pensamentos dos docentes para que se formulem valores, princípios e fundamentos do trabalho pedagógico, constituindo-se importantes referenciais também para as reflexões sobre formação docente. No entanto, o fato de pensar/produzir uma teoria a partir da prática educativa, considerando a sabedoria e experiência dos professores, não significa a negação do papel da teoria na produção do conhecimento, a esse respeito Therrien (1995, citado por Nunes, 2001) salienta que: Os estudos sobre a formação do professor persistem numa dissociação entre a formação e a prática cotidiana, não enfatizando a questão dos saberes que são mobilizados na prática, os saberes da experiência. Esses saberes são transformados e passam a integrar a identidade do professor, constituindo-se elemento fundamental nas práticas e decisões pedagógicas, sendo caracterizados como um saber original. Essa pluralidade de saberes que envolve os saberes da experiência é tida como central na competência profissional e é oriunda do cotidiano e do meio vivenciado pelo professor. Esses saberes da experiência que se caracterizam por serem originados na prática cotidiana podem refletir tanto a dimensão da razão instrumental que implica num saber-fazer ou saber-agir tais como habilidades e técnicas que orientam a postura do sujeito, como a dimensão da razão interativa que permite supor, julgar, decidir, modificar e adaptar de acordo com os condicionamentos de situações complexas. (Therrien, 1995, citado por Nunes, 2001, p. 3) 32 Pensar na formação docente é pensar na importância de identificar e analisar os saberes docentes a partir da ótica dos próprios sujeitos envolvidos, considerando que tanto a escola como os professores mudaram. Nesse sentido, o professor precisa ser visto como um profissional que adquire e desenvolve conhecimentos a partir da prática e no confronto com as condições da profissão. Tardif (1999) considera que a diferença entre as profissões está na natureza do conhecimento profissional, por isso apresenta algumas características que podem ser implantadas e desenvolvidas no ensino e na formação de professores, assim ele define: a)É especializado e formalizado;b) é adquirido na maioria das vezes na universidade, que prevê um título; c) é pragmático, voltado para a solução de problemas; d) é destinado a um grupo que de forma competente poderá fazer uso deles; e) é avaliado e autogerido pelo grupo de pares; f) requer improvisação e adaptação a situações novas num processo de reflexão; g) exige uma formação contínua para acompanhar sua evolução; h) sua utilização é de responsabilidade do próprio profissional.( Tardif,1999, citado por Nunes, 2001) A profissão docente assim como as concepções sobre conhecimento que interferem na direção dos cursos de formação docente precisam articular conhecimento teórico-acadêmico, cultura escolar e reflexão sobre a prática docente, desenvolvendo assim “uma epistemologia da prática” (Guarnieri,1997, citado por Nunes, 2001) para superar o modelo da racionalidade técnica. Para isso, os cursos de formação docente precisam redirecionar as relações entre teoria e prática, centrando suas análises na prática docente e procurando identificar quais conhecimentos são desenvolvidos pelo professor ao atuar, no âmbito da cultura escolar e das condições mais adversas do seu trabalho, uma vez que essas articulações possibilitam o desenvolvimento da capacidade reflexiva, que favorece o compromisso com o ensino de qualidade e a competência para atuar. (Nunes, 2001, p. 6) 33 Damasceno e Silva (1996, citados por Nunes, 2001) analisa a questão do saber docente na sua prática pedagógica e na relação do saber advindo da prática social, verificando que o trabalho docente ainda está embasado por uma racionalidade instrumental. Apesar disso, em seu estudo, verifica que os professores sabem que é importante pensar na prática pedagógica a partir da realidade dos alunos. Dessa forma, pensar na formação do professor envolve sua capacitação para tratar “com o conflito resultante do confronto entre os saberes diversificados dos diferentes grupos sociais que freqüentam a escola” e o “saber sistematizado presente em um determinado momento históricosocial e que a escola se propõe a transmitir.” (Nunes, 2001, p. 20) Em síntese para que os cursos de formação docente possam se opor a pura capacitação técnica e teórica antes difundida, é preciso considerar a análise da prática que o professor vem desenvolvendo, enfatizando o saber docente e os saberes da experiência. O artigo 62 da LDBEN/96 trata da formação docente, acenando para a valorização do magistério, determinando que governantes e dirigentes educacionais assumam compromissos e responsabilidades para promover uma formação de qualidade aos professores. A referida lei determina que haja uma formação mínima para o professor, ou seja, em nível superior, em cursos de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação. Acentua-se também a necessidade de uma formação permanente e continuada com vistas ao aperfeiçoamento e melhor qualificação profissional. Melo e Luz (2005) descrevem que a universidade virtual brasileira surgiu a partir de 1994, com a expansão da Internet junto às instituições de ensino superior, após a publicação da LDBN/96 que oficializou a Educação a Distância (EAD) como modalidade válida e equivalente para todos os níveis de ensino. A partir deste período, várias instituições dedicam-se à pesquisa e a oferta de cursos superiores à distância, inserindo como ferramentas de ensino e aprendizagem, as novas tecnologias. Segundo Melo e Luz (2005) os 34 professores buscam os cursos à distância com frequência, porque lhe conferem facilidades: A oferta de cursos e vagas para suprir a demanda por formação de professores provenientes da educação básica que precisam cumprir os requisitos de formação mínima, estabelecidos pela Lei 9394/96, ainda está prioritariamente direcionada ao Ensino a Distância, até mesmo por uma questão estratégica e de facilidades ao professor que está no exercício diário da profissão. (Melo e Luz, 2005, p.58) Após a formação inicial do professor que acontece em nível de graduação, no nível superior, apresentam-se os cursos de pós-graduação, que segundo Melo e Luz (2005) dividem-se em lato sensu e stricto sensu, tendo o propósito de atender milhares de profissionais liberais, professores e estudantes que após concluírem o nível superior desejam complementar seus conhecimentos ou formação acadêmica, para atividades de pesquisa e docência. A procura por esse nível de ensino tem crescido, principalmente, no campo educacional devido à expansão das Instituições de ensino superior privadas, pela exigência da qualificação do corpo docente como um dos critérios da avaliação institucional, como uma exigência para ascensão funcional e como referencial de qualidade da educação. O MEC apresenta a seguinte definição para os cursos de latus e strictus sensus: Os cursos de lato sensu com duração mínima de 360 horas têm um formato semelhante ao dos cursos tradicionais, com aulas, seminários e conferências, ao lado de trabalhos de pesquisa sobre os temas concernentes ao curso. O critério de seleção para o ingresso no lato sensu é definido em cada instituição, sendo composta de uma avaliação e de uma entrevista, a única exigência formal a ser cumprida pelo interessado se refere à posse de um diploma de nível superior. Os cursos de Stricto Sensu são direcionados para a continuidade da formação científica e acadêmica, como mestrado e doutorado de alunos com nível superior. O curso de mestrado tem a duração de até 24 meses, período no qual o aluno desenvolve a dissertação e cursa as disciplinas coerentes à sua pesquisa. No doutorado, com duração de até 48 meses, o aluno deve cumprir um número mínimo de disciplinas, estipulado em cada programa, além da elaboração de uma tese (MEC/INEP, 2005, citado por Melo e Luz, 2005) Partindo da compreensão de que o investimento na formação do professor possa ser um fator que determine melhorias na qualidade da 35 educação e procurando alcançar as metas de formação previstas no Plano Nacional de Educação, o governo brasileiro tem organizado alguns programas de capacitação e formação de professores, mantendo convênio com Universidades Federais. Esses cursos devem obedecer aos princípios estabelecidos pelo PNE: a) sólida formação teórica nos conteúdos específicos a serem ensinados na Educação Básica, bem como nos conteúdos especificamente pedagógicos; b) ampla formação cultural; c) atividade docente como foco formativo; d) contato com a realidade escolar desde o início até o final do curso, integrando a teoria à prática pedagógica; e) pesquisa como princípio formativo; f) domínio das novas tecnologias de comunicação e da informação e capacidade para integrá-las à prática do magistério; g) análise dos temas atuais da sociedade, da cultura e da economia; h) inclusão das questões relativas à educação dos alunos com necessidades especiais e das questões de gênero e de etnia nos programas de formação; i) trabalho coletivo interdisciplinar; j) vivência, durante o curso, de formas de gestão democrática do ensino; k) desenvolvimento do compromisso social e político do magistério; e l) conhecimento e aplicação das diretrizes curriculares nacionais dos níveis e modalidades da educação básica (PNE, 2001). Em 2003, de acordo com Rezende e Martins (2003) o Ministério da Educação criou o Sistema Nacional de Formação Continuada e Certificação de Professores que é constituído por três elementos básicos: a rede nacional de pesquisa e desenvolvimento da educação; o exame nacional de certificação de professores e a bolsa federal de incentivo à formação continuada que vem se tornando uma necessidade competitiva e de permanência no mercado de trabalho. 36 CAPÍTULO II Conceitos Importantes sobre Formação Continuada De acordo com Nóvoa (1991) a partir da década de 80, intensificaramse as ações em torno da formação continuada de professores no Brasil, entretanto, foi somente na década de 90 que este tipo de formação “passou a ser considerada como uma das estratégias fundamentais para o processo de construção de um novo perfil profissional do professor” (Nóvoa, 1991; Estrela, 1997; Gatti, 1997; Veiga, 1998), havendo diferentes tendências que se construíram a partir de diferentes concepções de educação e de sociedade que estiveram presentes na história, na cultura e na realidade brasileira. Apesar dessas diferenças, a orientação teórico-conceitual crítico-reflexiva é apontada por diversos estudos como a orientação “mais adequada para a formação continuada de professores (Carvalho e Simões, 1999; Almeida, 2003; Silva, 2002; Porto, 2000; Marques, 1992; Mercado, 1999; Silva e Araújo, 2004). Freire (1997) concebe a formação continuada como um processo contínuo e permanente de desenvolvimento pessoal e profissional, verificando a inter relação entre formação inicial e continuada, onde a primeira corresponde ao período de aprendizado nas instituições de nível superior e a segunda diz respeito à aprendizagem dos professores no exercício da profissão, mediante ações dentro e fora das escolas, denominado pelo Ministério da Educação (MEC), de formação permanente (SEF, 1999). Sobre o termo Freire apresenta a seguinte definição: A educação é permanente não por que certa linha ideológica ou certa posição política ou certo interesse econômico o exijam. A educação é 37 permanente na razão, de uma lado, da finitude do ser humano, de outro, da consciência que ele tem de finitude. Mas ainda, pelo falto de, ao longo da história, ter incorporado à sua natureza não apenas saber que vivia mas saber que sabia e, assim, saber que podia saber mais. A educação e a formação permanente se fundam aí. (Freire, 1997 p. 20). Nesse sentido, pode-se definir dois tipos de formação profissional: a continuada que se concretiza em cursos de formação e a que se realiza na própria instituição escolar, no local de trabalho, dentro da carga horária do servidor, chamada de formação em serviço. Não obstante, torna-se possível conciliar os dois tipos oferecendo cursos de formação continuada em serviço, oportunizando situações extra e intra-escolares, que levam os educadores a estabelecerem relação íntima e contígua entre a teoria apresentada nos seminários e cursos e, a realidade escolar, da sala de aula, do grupo de docentes e da gestão pedagógica. Se compreendida como prática inerente à própria ação educativa, necessária ao bom desempenho da função educadora, a Formação Continuada pode assumir três características: primeiro, de educação pragmática, estabelecendo relação entre as teorias estudadas e as necessidades práticas da escola, dos educandos e das comunidades, segundo, como educação em serviço, sendo aquela que ocorre dentro da instituição escolar, nos momentos de coordenação, por meio de treinamentos, seminários, palestras, discussões e reflexões sobre a cotidianidade e realidade, e, em terceiro, como formação por meio de cursos, treinamentos, capacitação, aperfeiçoamento e qualificação profissional, sendo realizados por entidades educativas, devidamente credenciadas. O termo Formação Continuada gera uma série de discussões acerca dos objetivos que envolvem essa formação, das modalidades e estratégias de ensino e dos propósitos que movem o professor e os empregadores (incluindo o Estado) a investirem seu tempo e recursos em cursos e estratégias de formação continuada. Vygotsky (1994) compreende essa modalidade de formação como sendo um importante espaço de construção coletiva de conhecimentos, uma rica oportunidade para que a aprendizagem seja 38 construída por meio da interação social, vertente defendida em sua teoria, da seguinte forma: A Formação Continuada deve constituir-se um espaço de produção de novos conhecimentos, de troca de diferentes saberes, de repensar e refazer a prática do professor, da construção de competências do educador. Considerando o conhecimento como uma construção social, a linguagem tem um importante papel no aspecto da interação e mediação na formação do professor (Vygotsty, 1994, 1998) Aliando o conceito de formação continuada com o de formação permanente defendida por Freire (1997) pode-se afirmar que a formação continuada de professores tem que incentivar a apropriação dos saberes pelos professores, rumo à autonomia, e levar a uma prática crítico-reflexiva, abrangendo a vida cotidiana da escola e os saberes derivados da experiência docente. Assim, o conceito de formação continuada de professores deve contemplar de forma interligada: (1) a socialização do conhecimento produzido pela humanidade; (2) as diferentes áreas de atuação; (3) a relação ação-reflexão-ação; (4) o envolvimento do professor em planos sistemáticos de estudo individual ou coletivo; (5) as necessidades concretas da escola e dos seus profissionais; (6) a valorização da experiência do profissional. Mas, também: (7) a continuidade e a amplitude das ações empreendidas; (8) a explicitação das diferentes políticas para a educação pública; (9) o compromisso com a mudança; (10) o trabalho coletivo; (11) a associação com a pesquisa científica desenvolvida em diferentes campos do saber”. (Alves, 1995 apud Carvalho e Simões, 1999 p.4). Em pesquisa sobre o assunto, encontra-se a legislação educacional vigente em Portugal que prioriza a formação continuada, colocando-a como condição essencial para qualificação docente. Neste sentido, essa modalidade de formação deve ser diversificada, para assegurar o complemento, aprofundamento e atualização de conhecimentos e de competências profissionais, possibilitando a mobilidade e a progressão na carreira. A legislação portuguesa define princípios para a formação de educadores e professores, que podem servir como modelo e inspiração para os cursos brasileiros. Silva (2000) comenta a lei, da seguinte forma, consideramos ser 39 importante salientar o que vem referido nas alíneas f, g e h do artigo antes mencionado: 1 - A formação de educadores e professores se assenta nos seguintes princípios: f) formação que, em referência à realidade social, estimule uma atitude simultaneamente crítica e actuante; g) formação que favoreça e estimule a inovação e a investigação, nomeadamente em relação com a actividade educativa; h) formação participada que conduza a prática reflexiva e continuada de autoinformação e auto-aprendizagem. Este mesmo Decreto-Lei (artigo 25) salienta que a formação contínua é um direito e um dever e define três objectivos fundamentais (artigo 26, n 1): a) melhorar a competência profissional dos docentes nos vários domínios da sua actividade; b) incentivar os docentes a participar activamente na inovação educacional e na melhoria da qualidade da educação e do ensino; c) adquirir novas competências relativas à especialização exigida pela diferenciação e modernização do sistema educativo. (Silva, 2000) Segundo o texto destacado, ao observar-se os objetivos fundamentais da Formação Continuada, pode-se estabelecer uma clara relação entre a competência profissional e a construção de competências e habilidades para trabalhar com situações desafiadoras e problemáticas apresentadas em sala de aula, além disso, compreende a relação entre a formação docente e melhorias na qualidade da educação e do ensino, colocando a formação continuada como um elemento importante para que haja mudanças significativas no ensino, no contexto escolar e consequentemente na educação. A mudança na vida do professor, em seus conhecimentos, em seus pontos de vista sobre educação, aprendizagem e desenvolvimento, por exemplo, pode gerar mudanças em sua prática pedagógica, em sua maneira de ensinar e aprender. A reflexão sistemática sobre o saber do fazer de cada professor e da escola como um todo é impulsionadora do processo de produção do conhecimento que se instaura como uma atividade crítica desde as origens da formação do professor. Ao eleger o fazer como o objeto da reflexão, a formação é concebida a partir do envolvimento dos alunos e professores em situações complexas, cuja intervenção exige a explicitação de conhecimentos e valores que referenciam competências afinadas com uma concepção de professor reflexivo, dotado da capacidade intelectual, autonomia e postura ética, indispensáveis ao questionamento das interpretações que apoiam, inclusive, suas intervenções no exercício da atividade profissional. O professor, nesse caso, é sujeito do seu conhecimento e se define 40 como intelectual no âmbito de sua atividade profissional que é reconhecidamente ‘prática e contextualizada’. (Soares, 1999, p.121) Segundo Freire (1996) o docente necessita de formação constante, contínua, progressiva, devendo preparar-se cada vez mais para o exercício de sua ação pedagógica, que além de pedagógica é política e humana, para isso, necessariamente tem que construir a idéia de “inacabamento” e, dentre as muitas competências necessárias ao ato de ensinar, precisa compreender a necessidade de estabelecer relação entre as teorias aprendidas e a prática cotidiana, para ser capaz de discutir, refletir e intervir sobre essa realidade, respeitando os saberes dos educandos e suas necessidades. Gadotti (2006) defende um projeto de educação permanente que coloca o professor num contexto sócio-político e filosófico para levá-lo a discutir as intenções do Estado sobre a educação pública e desmistificar as ideologias que estão por detrás dos currículos escolares e dos programas de ensino que buscam na formação docente, um caminho para solucionar os problemas relacionados à qualidade na educação, acabando por responsabilizar o professor por esses índices e desempenhos e isentar a Administração Pública de seus deveres legais, morais e éticos. Contribui para essa discussão, e estudo de Fiorentini (1998), que analisou a relação teoria/prática para identificar e caracterizar os saberes docentes, verificando como poderiam ser apropriados/produzidos pelos professores através de uma prática pedagógica reflexiva e investigativa. O pesquisador percebeu que a articulação da teoria com a prática poderia contribuir com a formação do professor/pesquisador de forma contínua e coletiva, utilizando a prática pedagógica como instância de problematização, significação e exploração dos conteúdos da formação teórica. Colocando sob foco o saber, Fiorentini (1998) baseando-se em Haberman, destaca que as pesquisas educacionais da prática escolar brasileira parecem priorizar dois tipos de interesse que constituem o saber: O interesse técnico instrumental, em que se utilizam explicações científicas objetivas, baseado no modelo da racionalidade técnica; e o 41 interesse prático, que efetiva a interpretação dos significados produzidos pelos praticantes do mundo-vida como subsídio para a emissão de um juízo prático. Haveria ainda um terceiro que seria o interesse emancipatório, aquele que “exige que se ultrapassem quaisquer interpretações estreitas e acríticas para com os significados subjetivos, a fim de alcançar um conhecimento emancipador que permite avaliar as condições/determinações sociais, culturais e políticas em que se produzem a comunicação e a ação social” (Fiorentini, 1998, p. 315). Sobre esses pressupostos, pode-se afirmar que a educação permanente e contínua deve partir da realidade educativa daqueles que estão envolvidos no processo de ensino-aprendizagem, permitindo a reelaboração e reconstrução de saberes, por meio da experimentação, da investigação e do diálogo sincero, coerente, crítico e responsável com os educandos. Essa formação precisa fomentar no educador/educando a vontade de aprender sempre, a partir de situações reais e concretas, para ser capaz de elaborar e responder desafios, dúvidas e situações novas de aprendizagem. Nesse sentido, Gauthier et all (1998) realizaram um estudo considerando a existência de um repertório de conhecimentos de ensino que envolve os saberes pessoais e profissionais do próprio professor, partindo da premissa de que se “a atividade docente não consegue revelar os seus saberes, as ciências da educação acabam por produzir outros saberes que não condizem com a prática”, identificam a existência de três categorias relacionadas às profissões: ofícios sem saberes; saberes sem ofício e ofícios feitos de saberes. Sobre os quais fundamentam-se as ações docentes e os cursos de formação continuada, assim, ele classifica: Ofícios sem saberes abrange uma falta de sistematização de um saber próprio do docente envolvendo bom senso, intuição, experiência. Os saberes sem ofício caracterizam-se pela formalização do ensino, reduzindo a sua complexidade e a reflexão que é presente na prática docente. Acabam-se tornando saberes que não condizem com a realidade. Ofício feito de saberes que abrange vários saberes mobilizados pelo professor e sua prática envolvendo o saber: a) Disciplinar, referente ao conhecimento do conteúdo a ser ensinado; b) Curricular, relativo à transformação da disciplina em programa de ensino; c) das Ciências da Educação, relacionado ao saber profissional específico que não está diretamente relacionado com a ação pedagógica; d) da Tradição Pedagógica, relativo ao saber de dar aulas que será adaptado e modificado pelo saber experencial e, principalmente, validado ou não pelo saber da ação pedagógica; e) da Experiência, referente aos julgamentos privados responsáveis pela 42 elaboração, ao longo do tempo, de uma jurisprudência de truques; f) da Ação Pedagógica, que se refere ao saber experencial tornado público e testado. Segundo o autor, os saberes docentes são aqueles adquiridos para o ou no trabalho e mobilizados tendo em vista uma tarefa ligada ao ensino e ao universo de trabalho do professor, exigindo da atividade docente uma reflexão prática.(Gauthier et all, 1998) Constrói-se a partir dessas elaborações a base para uma nova fundamentação da pedagogia e do trabalho do professor que passa a tratado como um “profissional, como um sujeito que julga, delibera, decide, posicionase diante de situações conflitantes, com base em sua experiência e construção teórica. Assim, não se pode exigir do professor que ele assuma um modelo preconcebido de racionalidade, ele pode ser racional de forma prática. Nesse sentido, “o saber é considerado como resultado de uma produção social, sujeito a revisões e reavaliações, fruto de uma interação entre sujeitos, fruto de uma interação lingüística inserida num contexto” (Nunes, 2001) A aprendizagem construída nos cursos de formação continuada deve requerer a consciência crítica e fomentar o saber prático, concreto e transformador, impedindo a reprodução ideológica e a mecanização da aprendizagem de teorias e conceitos que são, inerentemente, incapazes de produzir resultados na vida do docente e na realidade educativa, como destaca Silva (2000) ao se apropriar das palavras de Chauí e Sacristán, da seguinte maneira: Levar o professor a identificar as concepções que embasam as teorias discutidas nos encontros de formação e relacioná-las com a sua ação na escola é diferenciar o ‘saber’ da ‘ideologia’ (Chauí, 1997). O ‘saber’ ou conhecer pressupõe compreender, analisar e utilizar profissionalmente os novos dados e descobertas cujo acesso lhes é possibilitado, porque: “Aqueles que dominam o conhecimento intervêm nas relações sociais, ao fazer que um mundo determinado se aceite ou se transforme, isto é, que o domínio da teoria não pode ser desligado das práticas sociais” (Sacristán, 1999, p.25, apud, Silva, 2000) Pimenta (1999) relaciona a prática pedagógica, ou seja, a mobilização dos saberes da experiência do professor à formação de sua identidade, considerando importante a conjugação dessas duas dimensões para a 43 definição de políticas e programas de formação inicial e contínua. O autor identifica três tipos de saberes da docência: o da experiência, que é aprendido pelo professor na condição de aluno e o que é produzido na prática, por meio de um processo de reflexão e troca com os colegas; o do conhecimento, adquirido na escola por meio da transmissão dos conhecimentos e o dos saberes pedagógicos que abrange a questão do conhecimento juntamente com o saber da experiência e dos conteúdos específicos construídos sobre as necessidades pedagógicas reais. È preciso, porém, que esses saberes sejam relacionados e re-significados na formação dos professores. Ao considerar a Formação Continuada como uma necessidade para o professor e como espaço de formação e transformação da rotina escolar e dos paradigmas educacionais, cabe ressaltar, porém, que a formação não é o único elemento que garante uma boa ou má atuação profissional, assim como não é elemento que garante a qualidade da educação, para isso, concorrem uma série de fatores, dentre eles, a valorização do profissional, as questões salariais, o ambiente e as condições de trabalho oferecidas ao professor, incluindo a administração e a gestão pública, a situação social, familiar e emocional dos educandos e da comunidade escolar, os projetos educacionais e políticas públicas de Governo, dentre outros. Entretanto, ao tratar da Formação Continuada cabe ressaltar que o professor precisa investir em cursos e estratégias para se manter em constante estado de formação, entendendo sua condição de aprendente. O professor que não se atualiza está fadado ao fracasso, como afirma Rubem Alves. É preciso construir-se a preocupação com esse nível de formação, negando a participação em cursos que somente reproduzem conhecimentos, sem motivar a interação social, a reflexão e a crítica. Há cursos de formação continuada na modalidade à distância, seguindo a normatização dos cursos de nível superior, dos quais muitos professores lançam mão por considerarem mais oportunos, rápidos e pouco invasivos. Os materiais são apresentados aos cursistas, que ao lerem, respondem questões 44 correlatas e após, correção e avaliação, recebem diplomação. Discute-se, entretanto, a qualidade desses cursos e a capacidade que possuem de intervir na realidade educativa, a começar pela realidade do educador, sem contudo, desprezar o potencial existente na modalidade de Educação à Distância, que tem sido reconhecida como um importante recurso de formação em várias áreas de atividade e que alcança níveis de qualidade iguais ou superiores aos cursos presenciais. O que se destaca nesse sentido, é a atitude docente, de rejeitar a participação em cursos presenciais que exigem tempo e uma diversidade de trabalhos, com isso, busca cursos à distância para adquirir certificação, com vistas a progressão profissional, uma vez que os planos de carreira garantem essa progressão mediante a certificação. O Plano Nacional de Educação define a formação Continuada na modalidade de Ensino à Distância, atribuindo-lhe padrão de qualidade e exigindo alguns encontros presenciais, a fim de que se garanta o aperfeiçoamento baseado na reflexão e na relação teoria e prática, da seguinte forma: A formação continuada do magistério é parte essencial da estratégia de melhoria permanente da qualidade da educação, e visará à abertura de novos horizontes na atuação profissional. Quando feita na modalidade de educação a distância, sua realização incluirá sempre uma parte presencial, constituída, entre outras formas, de encontros coletivos, organizados a partir das necessidades expressas pelos professores. Essa formação terá como finalidade a reflexão sobre a prática educacional e a busca de seu aperfeiçoamento técnico, ético e político.(Brasil, 2000, p. 78) A formação Continuada apresenta-se como uma necessidade docente para a progressão profissional, podendo ser substituídos os objetivos de qualificação, de aquisição de conhecimentos e construção de habilidades e competências para melhorar a prática docente e operacionalizar mudanças no ensino e na educação pelo simples propósito de adquirir certificação ou diplomação. Essa condição é conceitual, paradigmática, comportamental e condicional, uma vez que está ligada a qualidade dos cursos oferecidos, onde se observa os temas tratados, as metodologias de ensino e avaliação e, o 45 atendimento às necessidades e interesses dos docentes. Se os cursos de formação continuada não conseguem promover a discussão sobre os problemas cotidianos dos professores e levá-los a construir respostas que sejam aplicáveis à prática, procurando solucionar os problemas e obter resultados de sucesso e bom desempenho, eles não conseguem motivar os participantes. A aplicabilidade de conceitos e idéias é observada a partir do momento em que o educando pode refletir sobre cada uma dessas idéias e conceitos, confrontando-os, por meio de situações concretas, com a realidade que o cerca. Como acreditava Piaget (1896-1980) seria preciso estabelecer interação entre o sujeito e o conhecimento, de maneira concreta, a fim de que estruturas de pensamento pudessem ser modificadas, para só assim ocorrer à aprendizagem, que se construiria pelo processo de assimilação- equilibração e acomodação. Vygotsky (1896-1934) no mesmo sentido ressaltou a importância da interação entre os sujeitos para que o conhecimento pudesse ser construído, essa interação poderia se dar no contato direto entre os sujeitos, por meio de grupos, sendo uma condição sinequanum para se construir o conhecimento. Na medida em que o educando só estabelece relação vertical com os conceitos apresentados, a aprendizagem é mecânica, podendo ser esquecida e dificilmente será reelaborada para ser utilizada em situações cotidianas. A aprendizagem que não capacita o educando a intervir de modo dinâmico, criativo, crítico e consciente na realidade e no ambiente, não é aprendizagem prática, é reprodução. Opta-se, neste trabalho, por um tipo de formação que parta da realidade do educando, que abra espaço para reelaboração e reconstrução do conhecimento, entendendo-o como algo em construção, que provoque a reflexão e a crítica sobre as situações cotidianas e forneça condições para solucionar problemas e desafios educacionais surgidos no cotidiano do docente. Defendendo-se um processo de formação de professores onde as 46 escolas sejam instituições essenciais para o desenvolvimento de uma democracia crítica e também para a defesa dos professores que conseguem relacionar reflexão e prática, a serviço da educação de estudantes, a fim de sejam cidadãos reflexivos e ativos, conforme defende Giroux (1997). A prática reflexiva é apresentada como uma orientação fundamental para os cursos de formação continuada de professores. Firmando-se sobre essa visão, Imbernón (2001) afirma: A formação terá como base uma reflexão dos sujeitos sobre sua prática docente, de modo a permitir que examinem suas teorias implícitas, seus esquemas de funcionamento, suas atitudes etc., realizando um processo constante de auto-avaliação que oriente seu trabalho. A orientação para esse processo de reflexão exige uma proposta crítica da intervenção educativa, uma análise da pratica do ponto de vista dos pressupostos ideológicos e comportamentais subjacentes. (Imbernón, 2001 p.48-49). Neste sentido, a formação em serviço, que aproveita o espaço da coordenação e a sala de aula como ambiente de experimentação, pesquisa e reflexão para construção de conhecimentos, transforma-se em modelo para a formação continuada. Contribuem com essa afirmação os estudos de Schön (1992; 2000), Alarcão (2003) e Gómez (1992) que sistematizaram as operações que envolvem o modelo reflexivo a partir de quatro conceitos e/ou movimentos básicos: o conhecimento na ação; a reflexão na ação; a reflexão sobre a ação; e a reflexão para a ação. Aqui se entende por ação toda atividade profissional do professor. O conhecimento na ação é o conjunto de saberes interiorizados (conceitos, teorias, crenças, valores, procedimentos), adquiridos através da experiência e da atividade intelectual, mobilizados de forma inconsciente e mecânica nas ações cotidianas do professor, em situações reais do exercício profissional. A reflexão na ação é desencadeada durante a realização da ação pedagógica, sobre o conhecimento que está implícito na ação. É o melhor instrumento de aprendizagem do professor, é no contato com a situação prática que o professor adquire e constrói novas teorias, esquemas e conceitos, tornando-se um profissional flexível e aberto aos desafios impostos pela complexidade da interação com a prática. A reflexão realizada sobre a ação e para a ação é de fundamental importância, elas podem ser utilizadas como estratégias para potencializar a reflexão na ação. A reflexão sobre a ação é a reflexão desencadeada após a realização da ação pedagógica, sobre essa ação e o conhecimento implícito nessa ação. A reflexão para a ação é a reflexão 47 desencadeada antes da realização da ação pedagógica através da tomada de decisões no momento do planejamento da ação que será desenvolvida. (Silva e Araújo, 2005) Esses princípios justificam a necessidade de se preparar o ambiente escolar para produzir experiências práticas e reflexivas. A LDBN/96 estabelece a coordenação como uma prática necessária ao docente, compreendendo-a como período de elaboração de estratégias de ensino, formação docente e preparação pedagógica. Anualmente, a Secretaria de Estado de Educação do DF apresenta portaria que define a jornada de trabalho do professor do Estado, definindo o período da Coordenação pedagógica como extensão do trabalho em sala de aula e como tempo específico para programação de atividades didáticas, para estudos do professor e para coordenação coletiva, onde todos os professores e equipe pedagógica devem reunir-se e planejar atividades que possam ser desenvolvidas por toda escola e para se dedicar a treinamentos, discussões, avaliações e formação. Todas as escolas do DF devem seguir esse cronograma e aproveitar o período de coordenação para formação em serviço, discutindo assuntos educacionais que possam contribuir com o crescimento profissional e com a melhoria do ensino e da educação. Segundo o Plano Nacional de Educação o Estado tem que “Destinar entre 20 e 25% da carga horária dos professores para preparação de aulas, avaliações e reuniões pedagógicas”. (PNE, 2000, p. 79) Historicamente, a garantia do período de coordenação pedagógica foi conquistada por meio de lutas e calendário de reivindicação dos docentes brasileiros e tem sido motivo de discussão no meio educacional, onde se verifica a importância e o aproveitamento desse direito. Arrisca-se dizer que a maior parte das escolas do DF utiliza os períodos de coordenação pedagógica, principalmente aqueles dedicados à coordenação coletiva, com a participação de todo grupo docente para fins de estudo, aperfeiçoamento, discussão e formação. 48 Concordam com essa afirmação, Silva e Araujo (2005) que afirmam ser a escola o local mais adequado para a formação do professor e sua prática educativa, o conteúdo dessa formação. Para Almeida (2002) o professor reflexivo será “um investigador da sala de aula, formulando suas estratégias e reconstruindo sua ação pedagógica” (p.28), pois como ressalta Silva (2002 p.28), “a prática transforma-se em fonte de investigação, de experimentação e de indicação de conteúdo para a formação”. O processo formativo deve propor situações para possibilitar troca de saberes entre professores, promovendo projetos articulados de reflexão conjunta. Para tanto, Silva e Araújo (2005) indicam alguns dispositivos metodológicos: “o estudo compartilhado; o planejamento e o desenvolvimento de ações conjuntas; estratégias de reflexão da prática; análise de situações didáticas”. Nas escolas pesquisadas, conforme poderá ser comprovado no capítulo quatro, semanalmente os professores se reúnem, durante essas reuniões, discutem temas educacionais, envolvendo avaliação, estratégias de ensino sobre o ponto de vista da abordagem sócio-construtivista-interacionista e problemas cotidianos, programam e organizam projetos pedagógicos com propósito de solucionar os problemas levantados, além de realizarem a avaliação das atividades desenvolvidas e das posturas dos educadores e gestores. Esses profissionais realizam, na prática, a formação em serviço, uma vez que partem da realidade educativa para investigá-la, associando estudos, teorias e conceitos existentes na tentativa de encontrar aqueles que se adequem à realidade e que ofereçam subsídios para construírem intervenções pedagógicas e mudanças no cotidiano escolar. Com isso, são construídos novos conhecimentos e mudanças no ensino, na avaliação e no desempenho dos alunos. Apesar de todo campo conceitual em defesa de uma formação que fundamente-se na prática reflexiva, é preciso compreender o caráter complementar de todos os momentos do processo de formação dos 49 professores, a fim de evitar que o campo da prática não acabe se torne o único domínio da formação dos professores. Não se pode substituir uma forma de racionalidade por outra, ou seja, a racionalidade técnica pela racionalidade prática. Quando se elege a escola ou o fazer-docente como o campo por excelência, da formação docente, não a tornamos espaço exclusivo da educação continuada, mas declaramos que se transforma em um espaço adequado para a formação em serviço, que segundo Sales (2009) diz respeito “à valorização da prática docente como única possibilidade de êxito do professor aplicar criativamente a racionalidade técnica obtida no processo de aquisição de competências escolares”. Não há como negar que a formação docente possa ocorrer em outros contextos que amplificam ou mesmo aprimoram as experiências intraescolares. Essa formação acontece em meio à organização social, política e cultural, os professores se formam nas lutas democráticas e sindicais, na vida familiar, nos momentos de lazer e de fruição estética e em tantos outros que, como se pode perceber, excedem a experiência profissional restrita ao ambiente escolar, reforçando a idéia de que os saberes se constroem pela soma das experiências pessoais e profissionais. 50 CAPÍTULO III FORMAÇÃO CONTINUADA COMO ELEMENTO PROPULSOR DE MUDANÇAS EDUCACIONAIS Einstein (1879-1955) declara sabiamente que “a mente que se abre a uma nova idéia, jamais voltará ao tamanho normal”. Ele entendeu a capacidade transformadora do conhecimento sobre o homem. Como se defende nesta pesquisa, a partir do momento em que o docente passa a buscar novos conhecimentos, encontra-se com o mundo do querer-ser-saber, acabando com isso, modificando-se multidimensionalmente. As transformações sociais e políticas que alavancaram mudanças educacionais vieram como respostas às novas demandas de aprendizagem, a novas exigências de saberes dos estudantes da era da tecnologização e da informatização, criando-se assim novos imperativos educacionais, com isso a Pedagogia Tradicional que acreditava ser a aprendizagem resultante de métodos e teorias de ensino e da apresentação esmerada de programas de treinamento vem se tornando insuficiente para dar conta desses novos imperativos. Na mesma direção, verifica-se que após o governo do PT no DF o investimento em cursos de capacitação e aperfeiçoamento profissional 51 oferecidos pela Escola de Aperfeiçoamento Profissional (EAPE) da própria Secretaria foram amplamente divulgados e apresentados aos professores, tendo um bom nível de participação, em função da adequação às novas propostas educativas, como a da Escola Candanga implantada por aquele governo. Desde então, a referida escola tem investido na formação de seus docentes e repassado suas novas orientações em inúmeros cursos, com o intuito de produzir e construir o processo de formação permanente. As mudanças, entretanto, não ocorrem somente por intermédio da legislação, muitos educadores, no bojo de suas lutas e na concretude de seus trabalhos vêm construindo histórias de transformação educativa, mudando as ideologias que ainda vigoram nos programas educacionais. Compreendendo que por detrás dos programas atuais disfarçam-se intenções políticas e sociais que sustentam nossa sociedade e suas estruturas liberais. Esses profissionais, a partir de sua cotidianidade, partiram para sua formação na ação de pensar, investigar e fazer, refazer e reconstruir noções junto com os educandos, extraise desse exemplo, Freire (1996) que por meio de sua pedagogia libertária a favor da libertação do oprimido trouxe de forma bem objetiva, a natureza do ato educativo questionador, do conflito, da dúvida, da pergunta, a Pedagogia que se constrói junto com o outro, sendo ao mesmo tempo o docente, educador e educando, sujeito e ação, construtor e ajudador da construção do outro. As idéias de Freire influenciaram vários grupos educativos no Brasil, dentre eles, o Grupo de Estudos sobre Educação, Metodologia de Pesquisa e Ação (GEEMPA), liderado por Esther Pillar Grossi, e a Fundação Paulo Freire, dos quais Gadotti, Madalena Freire fazem parte. O GEEMPA não só levantou uma proposta de alfabetização infantil, traduzindo para a realidade brasileira e para a época presente as idéias de Vygostsky, mas implementou um modelo de formação docente que merece ser investigado e seguido. Os momentos de educação e formação principiam a ação educativa, todos os professores participam de momentos de reflexão, onde discutem sua prática pedagógica e as situações de sala de aula, recorrendo a estudos de autores construtivistas 52 para avaliarem a teoria e a ressignificarem na prática, podendo validá-las, refutá-las, reconstruí-las, adequá-las e em outros momentos descartá-las, se observadas inválidas e distantes da realidade. O método de trabalho desses profissionais é pensar e refletir a prática e a realidade para construir estratégias de intervenção e mediação didática, levando em conta a realidade dos alunos, suas necessidades, interesses e problemas apresentados. A aprendizagem é construída em conjunto, a partir da interação professor-professor, professor-aluno, professor-especialista. Dessa interação nasceram os conhecimentos apresentados na trilogia intitulada, Didática da Alfabetização por Grossi (1990). Como se pode conferir pela observação de Madalena Freire ao prefaciar o livro: Fundamental é que o educador alfabetizador, seja ele o professor ou orientador, perceba que para poder trabalhar este movimento de construção de hipóteses, tanto das crianças, quanto sobre as dele na construção didática, é indispensável conhecer, detalhadamente os desafios cognitivos de cada uma. Desta forma, poderá construir sua intervenção, refletida, elaborada, buscando desequilibrar e encaminhar adequadamente a hipótese que desafia a cada aluno. Neste sentido, esses educador alfabetizador exercita sua pesquisa cotidiana. Não com os mesmos objetivos do pesquisador acadêmico, mas como aquele que investiga, indaga sobre as hipóteses que almeja constatar na sua ação pedagógica. (Freire, 1989, p.10, grifo do autor) Fontana (2003) apresenta outra proposta de trabalho baseado na formação em serviço, a autora registrou diversos momentos em que as professoras aprendem e constróem suas aprendizagens a partir da reflexão e avaliação da prática em sala de aula e dos textos teóricos que marcam e direcionam a educação, por meio da discussão realizada em grupos de estudos. Esses grupos assumem o caráter de formação em serviço, pois são aludidos vários teóricos educacionais, assim como referenciados textos de cunho filosóficos, sociológicos e psicológicos para fundamentarem toda discussão e reflexão e para formularem estratégias de ensino que respondam aos desafios apontados pela realidade educativa. A prática reflexiva serve ao fazer pedagógico, pois ocorre de forma cíclica, os professores diagnosticam problemas, levantam referenciais teóricos 53 que possam apontar saídas para os problemas, elaboram estratégias interventivas, retornam com os resultados, avaliam cada um deles, observando o que se aplicou e construindo novos conhecimentos e conceitos. A construção do conhecimento é uma ação cíclica e transformadora. Nesse fazer e aprender, as professoras participantes da pesquisa de Fontana, acabaram desenhando sua identidade de professora, como declaram: No “re-ver-se”, no “re-planejar”, estão embutidos nossos esforços de “encontrar uma explicação e um sentido para o vivido” e/ou de “compreender a que se destina nosso fazer”, que deixam de ser dados implícita e imediatamente no contexto do nosso trabalho. (Fontana, 2003, p. 157) A formação em serviço, entretanto, distancia-se daquela que coloca o professor longe da realidade mais global, ilhando-o na sala de aula e no universo da escola, pelo contrário, é o tipo de formação que precisa abrir o caminho e a ação docente para o âmbito social, cultural e histórico. Freire (1996) destaca o aspecto libertador da educação, na medida em que aprende, o indivíduo se liberta da consciência de oprimido, da condição de incapaz, de limitado, de ignorância da sua existência sócio-cultural e histórica. A educação serve como instrumento de libertação e como meio para a construção da consciência crítica que permite a ação democrática e cidadã, imbuída de natureza política e social, de mudança e transformação. A prática da reflexão em serviço deve e pode levar o professor a enxergar o mundo de forma mais ampla, levando-o a construir um ser político e cultural, com necessidade de inserção histórica. É muito comum, a participação de professores em sindicatos, em partidos políticos e associações, pois consideram uma via de manifestação e organização política e histórica essencial a existência de sua profissão, dentre outras questões relevantes. Para Gadotti (1989) o processo educativo é fomentador da dúvida, necessária a mudança e propulsora do conflito, essencial para desestabilizar as situações acomodadoras e tradicionais que mantém o sujeito educador preso aos sofismas e 54 sistemas educativos, sem com isso permitir seu crescimento pessoal e, em consequência, o do educando. Para lutar contra essa realidade, o escritor sugere a Pedagogia do Conflito, em consonância com as idéias de Freire sobre a Pedagogia da Libertação e da Pergunta, onde é preciso lutar conta as forças imobilizadoras de uma educação tradicional e bancária que insiste em reproduzir modelos e conhecimentos. Gadotti afirma: Ora, esta luta contra o niilismo, contra a força real e o peso das coisas, pode e deve encontrar lugar especialmente no ensino. Até se provar o contrário, a educação tem necessidade dos educadores e dos educandos. Enquanto o educador tiver a possibilidade de dizer, de ser, de transformar-se e de agir, a dúvida, movida pela preocupação de existir autenticamente, achará um ponto de apoio e uma ocasião de “morder” ao andamento das coisas. A educação se constitui num espaço político-pedagógico e de liberdade, portanto, onde os homens preocupados em se situar podem lutar por uma existência mais autêntica e uma sociedade mais justa.” (Gadotti, 1989, p. 21) A partir dessas elaborações, pode-se deduzir que a formação que caminha para mudanças pedagógicas e da realidade dos educadores e educandos deve conciliar teoria e prática, proporcionando o diagnóstico da realidade educativa, a seleção de teorias que possam oferecer respostas às situações levantadas, a análise contextual de cada teoria, a experimentação e a pesquisa, a avaliação dos resultados alcançados e a reelaboração das práticas interventivas, que geram ao final, novos conhecimentos. A formação continuada deve proporcionar a construção de conhecimentos a partir da prática educativa, incentivando o crescimento pessoal do educador e sua inserção histórico, político e social. A esse respeito, Freire (1996) afirma ser o educador o propulsor de mudanças, Vigotsky (1994) credita a ele, a função de mediador do conhecimento. Esses conceitos atribuem o papel ativo, criador e transformador do docente, exigindo dele um processo constante e contínuo de aprendizagem, que pode vir por meio de formação acadêmica, em cursos de graduação e especialização, em cursos de formação continuada, oferecidos por instituições especializadas, e, por situações em serviço, onde se constrói a discussão 55 sobre a prática, relacionando-se teorias aprendidas à prática educativa, validando ou descartando aquelas que não respondem às necessidades discentes e docentes, como acreditam Nóvoa (1995 a) e Perrenoud (2000): A Formação Continuada tem entre outros objetivos, propor novas metodologias e colocar os profissionais a par das discussões teóricas atuais, com a intenção de contribuir para as mudanças que se fazem necessárias para a melhoria da ação pedagógica na escola e consequentemente da educação. É certo que conhecer novas teorias, faz parte do processo de construção profissional, mas não bastam, se estas não possibilitam ao professor relacioná-las com seu conhecimento prático construído no seu dia-a-dia (Nóvoa, 1995a; Perrenoud, 2000). Entende-se que a questão da formação de professores tem sido discutida há décadas, tendo extrema relevância para a definição de políticas educacionais e para os resultados e ações educativas, incluindo-se avaliações de qualidade da educação e da escola brasileira. Essa preocupação é refletida na LDBN/96 que ao tratar da Educação Superior e da profissão docente dá especial atenção à formação contínua e progressiva, colocando-a como essencial para o bom desempenho da profissão, destacando a necessidade de estabelecer relação entre teoria e prática, “inclusive mediante a capacitação em serviço” (Art. 61, Inciso I) e a garantia em estatuto e plano de carreira de aperfeiçoamento profissional continuado, progressão funcional baseada na titulação ou habilitação e períodos reservados a estudos, planejamento e avaliação, incluído na carga de trabalho. (art.67, Inc. II, IV e V). O Plano Nacional de Educação (PNE/2000) trata de forma especial com a formação docente, traçando como meta do Estado, do Ministério da Educação e de suas Secretarias, que funcionam seguindo orientações e normatizações do Conselho Nacional, a formação de todos os docentes brasileiros em nível superior, estabelecendo-se um prazo para que essa formação aconteça. Ao lado da formação superior, o PNE/00 trata da formação continuada, destacando seu caráter permanente e de aperfeiçoamento, dando especial atenção à formação em serviço. Dessa forma, afirma que: 56 A formação continuada assume particular importância, em decorrência do avanço científico e tecnológico e de exigência de um nível de conhecimentos sempre mais amplos e profundos na sociedade moderna. Este Plano, portanto, deverá dar especial atenção à formação permanente (em serviço) dos profissionais da educação. (Brasil, 2000, p.77) Esse importante documento que traça diretrizes de ação educacional para todo território brasileiro, trata do Magistério na Educação Básica no Capítulo IV. Em seu texto verifica-se a preocupação em incluir a formação docente entre os elementos que constituem uma política global de magistério, destacando-se a importância da valorização do profissional e a relação entre sua formação e a qualidade da educação, objetivo principal da proposta jurídica e dos esforços de vários países em torno da democratização da escola pública e da melhoria da qualidade da educação ofertada. Segundo o texto do PNE/00 essa formação é obtida na prática docente e por meio da valorização do profissional, incluindo-se no processo de valorizar a construção de uma política global de magistério, incluindo-se formação inicial, condições de trabalho, de salário, de carreira e de formação continuada, conforme pode-se conferir no trecho destacado: A melhoria da qualidade do ensino só poderá ser alcançada se for promovida a valorização do magistério. Essa valorização só pode ser obtida por meio de uma política global de magistério, implicando, simultaneamente, a formação profissional inicial; as condições de trabalho, salário e carreira; a formação continuada. Formar mais e melhor os profissionais do magistério é apenas uma parte da tarefa. É preciso criar condições que mantenham o entusiasmo inicial, a dedicação e a confiança nos resultados do trabalho pedagógico. É preciso que os professores possam vislumbrar perspectivas de crescimento profissional e de continuidade de seu processo de formação. Se, de um lado, há que se repensar a própria formação, em vista dos desafios presentes e das novas exigências no campo da educação, que exige profissionais cada vez mais qualificados e permanentemente atualizados, desde a educação infantil até a educação superior, por outro lado é fundamental manter na rede de ensino e com perspectivas de aperfeiçoamento constante os bons profissionais do magistério. (Brasil, 2000, p. 63) Ainda tratando das políticas de valorização do magistério e de reconhecimento de seu papel transformador na sociedade, o PNE fixa como diretriz principal a “implementação de políticas públicas de formação inicial e 57 continuada dos profissionais da educação”. A Formação Continuada, nesse sentido, é apresentada como “uma condição e um meio para o avanço científico e tecnológico, uma vez que a produção do conhecimento e a criação de novas tecnologias dependem do nível e da qualidade da formação” (Brasil, 2000), estabelecendo-se uma relação dialógica entre a qualidade da formação oferecida e a qualidade da educação pretendida. A valorização está ligada a formação profissional e continuada. Neste sentido, considera-se que a primeira deva assegurar o desenvolvimento da pessoa como cidadão e profissional, o domínio dos conhecimentos que devem ser trabalhados com os alunos e dos métodos pedagógicos que promoverão as aprendizagens, e, a segunda, deve incentivar o educador a construir conhecimentos culturais de domínio no mundo letrado, de forma crítica e sobre uma perspectiva humanista, como destaca o PNE (2000, p.63) O poder público é responsável pela oferta e custeio de cursos de formação docente, devendo ser garantido pelas Secretarias de Educação estaduais e municipais, “cuja atuação incluirá a coordenação, o financiamento e a manutenção dos programas como ação permanente e a busca de parceria com universidades e instituições de ensino superior” (Brasil, 2000, p. 79). Para cumprir essa meta, as Secretarias de Educação Estaduais em parceria com as Universidades Federais e Estaduais oferecem cursos de graduação em Pedagogia e Magistério para os professores que não possuem essa formação. No Distrito Federal, a Universidade de Brasília (UNB), ao lado de universidades e faculdades particulares como a Universidade Católica e Uniceub ofereceram cursos de formação docente para professores do Ensino Fundamental desde a década de 90. Com isso, a maior parte dos docentes da Secretaria de Educação do Distrito Federal possuem formação de nível superior. Foi iniciativa também da UNB e da SEEDF a oferta de cursos de especialização para professores do Ensino Médio com a participação de professores da Educação Básica, onde formaram-se cerca de cinco mil professores entre os anos de 2004 a 2008. Também tem sido prática desta 58 Secretaria, por meio da Escola de Aperfeiçoamento Profissional (EAPE) a oferta de vários cursos de formação continuada entre 60 a 300 horas. Dos quais participam professores do quadro da Secretaria e alguns em regime de contratação temporária. Além da Secretaria de Educação, buscando-se a formação crítica e cidadã, sob enfoque humanista, o Sindicato dos Professores do DF (SINPRO/DF) também oferece cursos de especialização semi-presenciais aos seus sindicalizados, por meio de processo seletivo e inscrição, gratuitamente e em parceria com Universidades públicas de outros estados. A oferta de cursos atende aos requisitos legais e é variada, oportunizando-se ao docente vários possibilidades de aprendizagem e aperfeiçoamento. Neste sentido, o PNE (2000) divide a responsabilidade pelas melhorias preconizadas entre o Estado, em relação a oferta, manutenção e custeio e professores que precisam desejar participar e aproveitar os cursos de formação e os momentos específicos para construir crítica e autonomamente conhecimentos que o instrumentalizem para tratar com os assuntos educacionais e com a realidade escolar, assim, a melhoria da qualidade da educação depende também do profissional, da assunção de sua responsabilidade diante do aluno, conforme se pode verificar pelo trecho do documento destacado: Os quatro primeiros precisam ser supridos pelos sistemas de ensino. O quinto depende dos próprios professores: o compromisso com a aprendizagem dos alunos, o respeito a que têm direito como cidadãos em formação, interesse pelo trabalho e participação no trabalho de equipe, na escola. Assim, a valorização do magistério depende, pelo lado do Poder Público, da garantia de condições adequadas de formação, de trabalho e de remuneração e, pelo lado dos profissionais do magistério, do bom desempenho na atividade. Dessa forma, há que se prever na carreira, sistemas de ingresso, promoção e afastamentos periódicos para estudos que levem em conta as condições de trabalho e de formação continuada e a avaliação do desempenho dos professores. (Brasil, 2000, p.77) Outra característica básica da formação docente diz respeito à previsão de condições adequadas para que o profissional possa dedicar-se ao estudo e 59 aprimoramento de suas capacidades e competências profissionais. Apesar de ser previsto a construção de sistemas de ingresso, promoção e afastamentos periódicos para estudos, esse último item ainda causa problemas a professores no DF e em toda rede de ensino nacional. O afastamento para estudos não é previsto no plano de carreira dos professores do DF e só é concedido a um número reduzido de profissionais, de acordo com a LDBN/96 e Lei 8112/90 que trata do Regime Jurídico Estatutário, lei que rege o serviço público no DF por falta de legislação específica. Esse afastamento é restrito a cursos de mestrado e doutorado ligados à Educação e para ser requerido, o professor tem que estar matriculado a pelo menos um semestre. Isso indica que terá que participar das aulas, em prejuízo do horário de trabalho, o que torna impossível a conjugação das duas tarefas. Ocorrendo uma falha entre o que é previsto legalmente e o que é praticado pelos órgãos públicos. A questão não só da formação dos professores, mas da educação como um todo, depende das políticas públicas seguidas pelo governo. A partir do momento que essas políticas seguem no intuito de servir a interesses externos e atender formulações de órgãos financeiros, o que se percebe é um visível sucateamento do ensino público. 60 CAPÍTULO IV EXPERIÊNCIAS DOCENTES COM FORMAÇÃO CONTINUADA Para realizar a pesquisa foram feitas entrevistas com dois professores do Ensino Médio e dois professores da Educação Básica do Ensino Fundamental. Os professores do Ensino Médio trabalham em área específica de matemática, Geografia e História. Os professores do Ensino Básico trabalham com classes de alfabetização, quarto e quinto anos, sendo professores de Atividades. Dois dos professores entrevistados possuem curso de pós-graduação, três deles afirmaram ter participado de vários cursos de formação continuada oferecidos pela Secretaria de Educação através da EAPE e cursos particulares, principalmente na área do Ensino Especial. Os professores do Ensino Médio afirmaram não participar de momentos de formação na coordenação coletiva que acontece na escola. Em contraposição, os da Escola Classe afirmaram que os momentos de coordenação coletiva em sua escola são utilizados para formação profissional, que se realiza por meio de palestras, discussões e estudos de temas educacionais. Foram feitas 06 perguntas para os participantes da pesquisa, envolvendo questões de experiência e formação profissional, incluindo-se cursos de especialização, lactus sensus e pós-graduação, cursos de formação 61 continuada oferecidos pela Secretaria de Educação e por entidades privadas, avaliando-se a qualidade desses cursos e a aprendizagem construída neles, além de levantar sua participação em momentos de formação em serviço. Os resultados das entrevistas foi apresentado por categorias de análise, onde se agregam as perguntas por assunto escolhido nas categorias, a fim de apresentar as opiniões e percepções dos participantes, destacando-se as semelhanças e diferenças entre elas. As respostas dos entrevistados foram registradas na forma escrita, na medida em que iam se posicionando, ao final da entrevista, as respostas foram lidas pelos participantes, verificando-se a compatibilidade entre o que foi dito e escrito, obtendo-se a aprovação de todos. Os professores do Ensino Médio foram contactados por meio de uma visita feita à instituição de ensino, após obter autorização da equipe diretiva, durante seu horário de coordenação. Apresentou-se a pesquisa a um grupo de professores, coletivamente, em seguida, dois deles foram convidados a participar respondendo a uma entrevista. Foram marcados horários para a realização da entrevista com cada professor, na semana seguinte, oportunidade em que foi feita. Os professores aproveitaram o tempo de coordenação e responderam prontamente cada questão colocada. Obteve-se autorização da direção da Escola Classe pesquisada e, no momento de coordenação coletiva foi apresentada a proposta de entrevista para compor a pesquisa monográfica, dois professores se ofereceram para participar e no mesmo dia foram feitas as entrevistas, individualmente. Cada professor levou cerca de 30 minutos para responder às questões propostas. As respostas foram registradas na forma escrita, a frente de cada proposição, ao fim do registro, as anotações foram lidas e conferidas pelos participantes, que fizeram as correções e observações procedentes, concordando com a redação final que será apresentada. 62 A participação dos professores foi determinante para os resultados desta pesquisa, pois permitiu estabelecer uma relação dialógica entre teoria e prática. A realidade docente nem sempre é considerada nos currículos de cursos de formação docente, em muitos casos, os conteúdos e assuntos tratados são definidos a partir de concepções teóricas alijadas da realidade e contexto escolar. Por isso, o grande destaque para os cursos que levam os docentes a estabelecerem relação prática com a teoria, podendo experimentála, testá-la, manuseá-la, adaptá-la e avaliá-la em seus métodos de ensino e avaliação, significando assim as aprendizagens. A maior parte dos entrevistados criticou cursos que não apresentam propostas de intervenção na prática pedagógica, suas “falas” demonstram a necessidade que possuem de adquirir e construir conhecimentos que os capacitem a intervir adequada, eficientemente e com segurança no processo de ensino e aprendizagem para produzirem resultados de mudanças e melhoria na qualidade da educação oferecida. Os Projetos Políticos Pedagógicos (PPP) das escolas participantes da pesquisa foram analisados na fase da pesquisa bibliográfica, verificando-se que as duas escolas utilizam as coordenações coletivas como espaços para reflexão e estudos. Conforme as informações do PPP, a escola Classe inclui entre as metas educacionais, a formação em serviço por meio de encontros, palestras, estudos, reflexões e seminários. Já no PPP da escola de Ensino Médio, não há referência específica a esse nível de formação As perguntas serão apresentadas na mesma ordem em que foram dispostas para os participantes, seguidas das respostas dos quatro entrevistados e de comentários: 4.1. Pergunta 1 Fale sobre a sua experiência profissional e sua formação: 63 • Respondente 1 - Trabalho há dezoito anos na Secretaria de Estado de Educação do DF sempre com séries iniciais, neste ano estou trabalhando com uma turma de segundo ano em nível de alfabetização. Sou graduada em Pedagogia e pós-graduada em Avaliação no Ensino Médio realizados na UNB, em parceria com a SEEDF; • Respondente 2 – Já estou na Secretaria há 20 anos. Atuei em turmas de séries iniciais, coordenação pedagógica, Sala de Leitura e na vicedireção de Escola Classe, atualmente estou na regência de classe de uma turma de quinto ano. Sou graduado em Pedagogia pela Universidade Católica e pós-graduado em Avaliação no Ensino Médio pela UNB, no programa firmado entre a Universidade e a SEEDF para professores do Ensino Médio que foi acessível aos professores das séries iniciais; • Respondente 3 – Entrei na Secretaria há mais de 15 anos, já fui professora de atividades nas séries iniciais, professora de Educação Artística trabalhando com turmas de quinta a oitava séries do Ensino Fundamental e atualmente trabalho com a disciplina de História com turmas do Ensino Médio. Fiz dois cursos de graduação, um em História, graduação curta, e de Educação Artística na Faculdade Dulcina. Fiz pós-graduação em Ensino Especial na Universidade Católica de Brasília, terminando em 2009; • Respondente 4 – É professor da SEEDF há mais de treze anos, trabalhou com matemática, física e química no Ensino Fundamental com sétima e oitava série e no Ensino Médio. Atualmente leciona a disciplina de matemática com turmas do Ensino Médio, já foi coordenador de exatas por dois anos. Fez curso de matemática na graduação, pós-graduou-se em Física e está fazendo mestrado na área de química. Todos os participantes são graduados, possuindo a formação mínima para o exercício da profissão docente e todos eles buscaram a especialização como forma de aperfeiçoamento. Os quatro participantes 64 demonstram possuir bom tempo de experiência docente e interesse por seu processo de formação acadêmica. O Respondente 4 além de participar de programa de pós-graduação lactus sensus, declarou estar cursando o mestrado na área de química. Dois deles participaram do programa de formação continuada desenvolvido pela Secretaria de Educação em convênio com a Universidade de Brasília realizado entre os anos de 2008 e 2009 que foi uma iniciativa governamental para cumprir as metas definidas no Plano Nacional e Decenal de Educação. Além do curso de especialização que atendeu várias áreas de formação, dentre elas: Avaliação, Coordenação Pedagógica, Ciências Sociais e Ciências Naturais, todas voltadas para o contexto do Ensino Médio, a Secretaria de Educação em Convênio com a UNB e com o UNICEUB desenvolveu o Programa de formação de professores em Início de Escolarização para elevar quase cinco mil professores à condição de graduados, obtendo a formação mínima para o exercício da profissão, de acordo com a determinação da LDBN/96 Os Respondentes 1 e 2 são professores de Escola Classe que trabalham com turmas de primeiro ao quinto anos do Ensino Fundamental e os Respondentes 3 e 4 são professores do Ensino Médio. A Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal possui cerca de 30 mil professores, dos quais, cerca de noventa por cento já possuem o curso de graduação, dessa parcela, cerca de sessenta por cento possui ou participa de programa de pós-graduação lactus sensus e somente cerca de vinte por cento desses profissionais realizou ou participa de cursos de mestrado, menor ainda é a parcela de professores que concluiu ou participa de programas de doutorado, de acordo com informação fornecida pelo SINPRO/DF. A procura pelos cursos de graduação deve-se em primeiro lugar a exigência legal para o exercício da profissão, a demanda pelos cursos de especialização está mais ligada aos incentivos funcionais, uma vez que o 65 plano de carreira dos professores prevê aumento salarial para os avanços acadêmicos conquistados pelos professores, prevendo um escalonamento percentual para cada nível: pós-graduação lactus sensus e strictus sensus (mestrado e doutorado). 4.2. Pergunta 2 Você já participou de cursos de Formação Continuada? Quais? • Respondente 1 – Participei de vários promovidos pela Secretaria de Educação, por meio da EAPE, todos voltados para área de alfabetização e letramento como BIA, Ceform, Leitura e Produção de Texto, Vira-Brasília. Fiz também alguns em entidades particulares como o SESC e CENED também voltados para alfabetização e Letramento. • Respondente 2 – eu já participei de alguns realizados pela EAPE voltados pra minha área de atuação, ou seja, para alfabetização e letramento, tanto da área de português quanto de matemática. Fiz o Ceform, o curso do BIA, o Profa, Leitura e Produção de Textos e de Matemática nas séries iniciais. • Respondente 3 – sim, principalmente de oficinas práticas como xadrez, ciências aplicadas às séries iniciais, Redação, Estimulação Precoce, Novas abordagens na Educação Infantil e Ensino Especial. • Respondente 4 –Não participei de cursos de formação da Secretaria, nunca me interessei e sempre tive muito envolvido realizando os cursos de graduação e especialização, quase não dá tempo para mais nada, ainda mais que não consegui afastamento pra terminar o mestrado. Com exceção do Respondente 3, todos os outros afirmaram participar de formação continuada através de cursos oferecidos pela Secretaria de Educação via Escola de Aperfeiçoamento Profissional (EAPE). Os cursos 66 indicados estão relacionados às áreas de atuação dos docentes e demonstram uma relação entre a necessidade percebida pelos professores e a capacidade que estes cursos possuem para fornecer informações teóricas que possam ser aplicadas à prática educativa. As respostas dos professores fortalecem tudo que foi destacado a respeito da formação reflexiva que coaduna teoria e prática. Os cursos de formação precisam estar ligados às necessidades práticas e contextuais dos professores, formando nos docentes a capacidade para transcrever na prática, as teorias aprendidas nos cursos, ou seja, para significar por meio da construção coletiva e interativa entre alunos e colegas as aprendizagens construídas no contato com teorias e concepções apresentadas nos currículos formativos. 4.3. Pergunta 3 Você percebe que os cursos de formação continuada tem contribuído para o melhor andamento do trabalho pedagógico em sala? • Respondente 1 – Sim, porque quanto mais informações obtemos, mais sucesso pedagógico temos para ensinar, e não só ensinar conteúdos, mas também direcioná-los para ter um melhor desenvolvimento afetivo e social. Quanto mais o professor se atualiza, mais condições terá para preparar aulas dinâmicas e criativas que atendam as reais necessidades do aluno. • Respondente 2 – Sim, pois nos dão oportunidade de estar melhorando e aperfeiçoando os nossos conhecimentos em prol dos alunos. Várias atividades que aprendi nos cursos podem ser utilizadas em sala. • Respondente 3 - Apesar de buscar informações novas que melhorem minha prática em sala de aula, percebo que os cursos de que participei estão um pouco distantes da realidade escolar, recebi muitas 67 informações, apesar das dinâmicas e das sugestões práticas senti muita necessidade de avaliar como essas atividades estão sendo aplicadas na sala de aula e quais os resultados delas. Sinto dificuldades para lidar com certos problemas, com certos alunos e não encontrei ainda reforço ou ajuda nos cursos de que participei. Considero que sejam bons, por isso, continuo participando, acredito que posso contribuir com algumas mudanças questionando e levando sugestões também para esses encontros. • Respondente 4 – como não participei de cursos de formação continuada, tenho um pouco de receio de expressar opiniões a respeito, mas ouço meus colegas fazendo alguns comentários que não me estimulam muito, a maior parte deles reclama das atividades de avaliação realizadas, reclamam de terem que ir toda semana, demonstram cansaço e certa irritação, parecem que em alguns momentos participam destes cursos por obrigação. Mas se eu levar em conta os cursos de graduação e de especialização que já participei e ainda participo por causa do mestrado, percebo que há muita teoria, muitas técnicas e estratégias, os professores desses cursos ainda pensam muito em termos de metodologia, mesmo que seja de ensinar e aprender, mas muito método, não há muito espaço pra pensar, pra questionar, pra sugerir mudanças, é meio difícil pegar tudo que se aprende em cursos e aplicar na sala de aula, a gente acaba fazendo isso, por experimentação, por tentativa e erro, pela própria experiência com os alunos e com a conversa com os colegas, que muitas vezes oferecerem alternativas melhores. As respostas dos participantes dão a clara noção da direção que os cursos de formação continuada para professores têm assumido, expressando de certa forma, as metodologias de ensino e aprendizagem, tanto quanto de avaliação utilizadas por esses cursos. A formação docente de acordo com os professores pesquisados ainda não está estruturada sobre concepções reflexivas, fundamentadas na prática educativa, contextualizadas nas 68 realidades dos professores, de suas escolas e alunos, ainda não conseguem conjugar necessidades e interesses de seus alunos com as concepções, idéias, paradigmas e conjunto teórico que representam em seus currículos. Na verdade, todo curso tem um comprometimento teórico e curricular para que possa ser aprovado legalmente, entretanto, a construção desse currículo e das diretrizes instrucionais tem que conjugar princípios e propostas de ensino, baseados em dispositivos legais como a LDBN/96, DCN, PCN, Currículo do Ensino Superior entre outras. Os cursos de formação continuada têm certa liberdade para escolher temas e assuntos que serão tratados, por isso, podem facilmente ser construídos a partir de um levantamento de necessidades e interesses dos professores a que se dedicam. O que se percebe é muitos cursos preocupam-se mais com a apresentação de listas de competências e habilidades que pretendem formar nos professores, que com suas reais necessidades, desconsiderando sua concretude, seu contexto histórico, social e educativo, abandonando assim a capacidade reflexiva, necessária ao educador. Apesar das considerações feitas pelos participantes, verifica-se que os cursos de formação continuada são procurados pelos professores com propósito de adquirir recursos e estratégias de intervenção junto aos alunos, eles buscam esses cursos para encontrar respostas aos problemas cotidianos e para melhorarem aspectos do trabalho pedagógico. As aprendizagens nem sempre são construídas por meio de conteúdos, como ressalta o respondente 2, mas como informações que podem ser aplicadas para buscar o desenvolvimento dos alunos, como meios e instrumentos de ensino e aprendizagem. Os professores entrevistados demonstram preocupação com as necessidades dos alunos e a busca pelos cursos de formação acontece em primeiro lugar para sanar essa preocupação, para respondê-la e construir estratégias de ensino. O aperfeiçoamento está ligado à construção de capacidades, competências e habilidades que facilitarão a aprendizagem e o 69 desenvolvimento dos alunos. Quase não demonstram uma preocupação com satisfação pessoal, exceto o Respondente 4 que mesmo não participando de cursos de formação continuada fornece algumas percepções importantes para esse trabalho. Primeiro, ele avalia os cursos a partir das avaliações dos colegas, demonstrando que há uma construção cultural dentro da escola. As atitudes dos colegas indicam que os cursos apresentam problemas em relação às dinâmicas de avaliação e estratégias de ensino que não promovem motivação aos professores, segundo, o respondente, os professores demonstram desânimo e falta de interesse ao reclamarem da obrigatoriedade do curso. Nesse sentido, esses cursos não estão organizados para motivar e interessar o educador, eles se apresentam em certos momentos como obrigação, denunciando que muitos professores podem participar de cursos de formação, motivados pela progressão funcional, prevista no plano de carreira da categoria e não movidos por satisfação pessoal. Outra importante contribuição refere-se à estrutura dos cursos de que participa, para ele, ainda há uma ênfase para o método, para as técnicas, denunciando a presença de concepções tradicionais e tecnicistas mantidas até hoje no discurso dos professores, principalmente daqueles que formam professores. Giroux (?) denuncia a presença do currículo oculto nas falas e comportamentos dos professores, embora os currículos de cursos de formação passem por revisão, readequação a leis e contextos, a postura dos professores, suas concepções, crenças, dificuldades, imaginários são apresentados diretamente aos alunos, por meio de atitudes, de expressões, de estratégias. Os traços pessoais dos professores, assim como sua história de vida interferem na educação que representa e acaba reproduzindo, por isso, torna-se tão importante pensar no professor e no educando como um sujeito concreto, devendo-se considerar os saberes construídos dentro e fora da escola para formular novos saberes. 70 Há presença de contra valores no contexto analisado pelo respondente 4, na mesma medida em que os cursos de formação fundamentam-se sobre concepções modernas de educação que incluem princípios humanistas, construtivistas, sócio-interacionistas contidos nos documentos normativos da educação e dos currículos escolares, a prática docente na formação de professores ainda conserva traços de concepções tradicionais, tecnicistas e comportamentais, a começar pelas metodologias de avaliação, onde se mantém por via de regra a prova ou a apresentação de trabalhos escritos como únicos instrumento avaliativos. 4.4. Pergunta 4 Você considera que dentro da Secretaria de Educação existem incentivos para que o professor busque formação continuada? Quais? • Respondente 1 – Penso que não existe um incentivo efetivo que realmente atraia o professor a buscar essa formação, existe sim, oferta de alguns cursos pouco atrativos onde um professor mais motivado se propõe a fazer ou por questões financeiras. • Respondente 2 – Existem sim, considero que a oferta de cursos pela EAPE, os cursos de especialização em convênio com universidades, realizados no horário de serviço e a disponibilização de espaços com as coordenações e reuniões pedagógicas são em si mesmos incentivos em relação à formação continuada de professores. • Respondente 3 – Sim, mas são limitados. Há o incentivo de gratificações por determinados cursos. Algumas funções exigem que o professor tenha determinado curso ou formação, como por exemplo para ocupar a função de pedagogo em uma Equipe de Apoio à Aprendizagem que diagnostica alunos com dificuldades de aprendizagem, é preciso que o professor seja formado em Pedagogia e 71 de preferência em psicopedagogia. Para atuar com turmas de alfabetização, nas séries iniciais, o professor tem que ter cursos de alfabetização e letramento e para trabalhar com o Ensino Especial, é preciso a participação em vários cursos relacionados à área. • Respondente 4 – Considero que a Secretaria de Educação oferece condições para que os professores participem de cursos de formação continuada, mas não incentivos. O único incentivo que percebo que move os professores é a progressão funcional, porque de cinco em cinco anos os professores precisam apresentar cursos acima de 180 horas para pularem barreira e receberem um pequeno percentual de aumento. Incentivo estaria relacionado a premiações, semelhante ao que o Estado de São Paulo faz. Como foi destacado pelos entrevistados, a Secretaria de Educação fornece algumas condições para que os professores participem dos cursos de formação continuada, ofertando uma diversidade de cursos voltados pra diversas áreas de conhecimento e de interesse. Permite que os professores possam participar desses cursos em horário de trabalho, durante as coordenações, além de definir, em dispositivo normativo, um horário para estudos e formação em serviço por meio da coordenação coletiva. Apesar das condições de acesso e permanência nesses cursos, a única política de incentivo está ligada a progressão funcional, via plano de carreira, conquistado por meio da organização e luta sindical. Como afirmou o respondente 3, outro motivo que leva professores a freqüentarem cursos é a exigência que algumas funções requerem. O respondente 4 estabeleceu uma diferença entre incentivo e apresentação de condições, para ele incentivo estaria ligado a políticas motivacionais, a situações que despertem o real interesse de professores, e, por sua avaliação, não existem essas políticas. 72 4.5. Pergunta 5 Em sua opinião, por que o professor deve continuar estudando? • Respondente 1 – Para melhorar seu desempenho pedagógico no sentido de agregar novos conhecimentos aos anos de experiências que já possui. • Respondente 2 – Para acompanhar as novas tecnologias, acompanhando o processo de globalização e buscar capacitação para trabalhar com os novos desafios da educação, como a inclusão e a interdisciplinaridade, por exemplo. O professor precisa estar aprendendo sempre, porque ele trabalha com o conhecimento, se ele não adquire novos conhecimentos, como pode influenciar pessoas a construí-los? • Respondente 3 – As aulas sempre necessitam de uma novidade, de um estímulo novo. Algo que o professor consegue vendo outras experiências, conversando com os colegas e estudando. Ele precisa se atualizar para fazer parte do processo de transformação • Respondente 4 – o processo educativo é processual, é cíclico, sempre se renova, sempre se transforma, para dar conta dessas transformações, o professor precisa estar em construção constante, sempre buscando se aperfeiçoar, conhecer e saber mais. É preciso que some conhecimentos, que substitua aqueles julgados ultrapassados, que crie novos. Vivemos sobre paradigmas do construtivismo, entendemos que os homens evoluem, mesmo que tenha me especializado em uma área exata, entendo que as ciências servem ao homem e não o homem às ciências,por isso, sei que situações podem mudar e o homem precisa se adaptar e muitas provocar mudanças. Assim é no terreno da educação, provocamos mudanças quando nos 73 revestimos de conhecimentos, eles são essenciais, adquirimos esses conhecimentos no contato com o outro, na experiência e também, principalmente, nos livros, em estudos e pesquisa, em teoria, no conhecimento sistematizado e científico, por isso, o professor precisa viver estudando. Retornando ao pensamento de Freire (1997) o professor precisa ter a clara noção de seu “inacabamento”, sabendo que precisa estar em constante movimento para aprender e ser mais. O autor elenca algumas competências necessárias ao ato de aprender, compreendendo a relação do professor com a aprendizagem de maneira reflexiva, crítica e humanista, sem pretender criar uma lista de referenciais para transformar esse sujeito em um especialista, visão que combate veementemente. Na verdade, ele coloca situações para que o educador reflita sobre sua condição de sujeito da história e do ato educativo, como alguém que precisa aprender a respeitar, a conviver harmonicamente, a criticar, a questionar, a desafiar e a construir conhecimentos. Uma das competências mais necessárias é compreender que o educador não é um reprodutor de conhecimentos, entendendo que sua relação com o conhecimento não pode ser passiva, nem descontextualizada, pelo contrário, trem que ser prática, reflexiva, permeada por conhecimentos científicos que possam ser experimentados, testados, avaliados e transformados. O conhecimento é para o homem um instrumento de apropriação de sua humanidade e de sua libertação, devendo ser perseguido e fazer parte da vida do educador, como ponto para a mudança. Os entrevistados demonstraram que essa competência está sendo construída a partir de suas ações, ao menos a compreensão de que o professor precisa estar em contato com todos os tipos de conhecimento, que fornecem fontes para novas experiências, informações que podem ser transcritas para a prática pedagógica, reforçando a idéia de que os cursos de 74 formação devam manter essa preocupação, a de fomentar o desejo por conhecer mais e por aprender a dialogar com diversas formas de saberes. 4.6. Pergunta 6 Em sua escola, como funciona a coordenação pedagógica coletiva? • Respondente 1 – Uma vez por semana temos coordenações coletivas com a participação dos professores, ela acontece em dois turnos. A equipe pedagógica juntamente com a equipe de apóio a aprendizagem (pedagoga, psicopedagoga e orientadora educacional) e com o grupo do Centro de Referencia à Alfabetização ficam responsáveis pelas coordenações, para apresentar textos, programas, estratégias de ensino, aprendizagem, avaliação, desenvolver temas curriculares e do interesse dos professores. • Respondente 2 – As coordenações são semanais, ocorrem em dois turnos, somente três vezes no ano, às vezes quatro juntamos os professores dos dois turnos para planejar e construir o Projeto Pedagógico e as metas que serão alcançadas durante o ano, semestre ou bimestre. Nas coordenações planejados as aulas, estudamos, refletimos, discutimos assuntos do dia-a-dia, a equipe pedagógica sempre apresenta sugestões de atividades, de estratégias de ensino e aprendizagem, voltadas para cada série. Gosto muito desses momentos, aprendemos bastante com os colegas, com as intervenções e discussões, realmente são momentos de formação em serviço. • Respondente 3 – Uma vez por semana, nas quartas-feiras acontece a coordenação coletiva, mas fazemos setorizada, na verdade, só participamos de uma coletiva por mês, com o grupo de área. Nessas coordenações são apresentadas questões administrativas como datas de reuniões, de avaliações, de 75 entrega de notas e diários e planejamos atividades para o mês de acordo com o projeto pedagógico, quando temos um tema pra trabalhar com toda escola, pegamos algumas sugestões de atividades que são passadas pelos coordenadores e por alguns colegas. Quase não há momentos com palestras ou discussões de temas ou assuntos educacionais. • Respondente 4 – as coordenações coletivas são feitas por área, acontecem toda semana, mas os grupos só participam de uma por mês, durante o ano são feitas quatro reuniões com a participação de todos os professores: pra escolha de turmas e de carga horária, pra montar o projeto pedagógico, pra discutir atividades que serão realizadas por toda a escola e pra apresentar resultados finais. Os conselhos de classe são bimestrais e envolvem os professores de cada série. Não há momentos dedicados a formação em serviço, embora perceba que os professores do Ensino Médio precisem desses momentos, temos pouco tempo juntos e corremos muito, quase não refletimos sobre o que precisamos e fazemos. As respostas a esta pergunta revelam duas realidades diferentes em relação às escolas pesquisadas. Os dois professores de escola Classe afirmaram que as reuniões pedagógicas acontecem semanalmente, atendendo a exigência normativa da circular que dispõe sobre a escolha de turmas no início do ano e sobre o horário de trabalho dos professores. De acordo com a circular do ano de 2010, as coordenações coletivas devem acontecer semanalmente, na quarta-feira, devendo servir como momento de estudo, de avaliação e de formação em serviço. Os professores das séries iniciais declararam que em suas escolas essas coordenações cumprem seus objetivos e promovem momentos importantes de aprendizagem e formação que acabam interferindo na qualidade do ensino ofertado aos alunos. 76 Já na escola de Ensino Médio, apesar de as indicações da circular se aplicarem a esse nível de ensino, com algumas particularidades em relação ao horário dos professores e período de coordenação, a coletiva acontece semanalmente, mas não com a participação de todos os professores e não cumprem os propósitos de estudos e formação em serviço, são utilizadas como momentos de reuniões para tratar de assuntos administrativos e organizacionais, pouco contribuem com a formação dos profissionais ou com a solução dos problemas apresentados pela comunidade. Como observa o respondente 4, os professores do Ensino Médio dispersam suas ações, passando pouco tempo juntos, isso se deve, provavelmente, à grande quantidade de profissionais numa mesma escola, a diversidade de áreas de conhecimento, a falta de um trabalho interdisciplinar, a rapidez com que as informações devam ser passadas e avaliadas, dentre outros fatores não identificados nesta pesquisa, que caracterizam e particularizam a modalidade de Ensino Médio. Nesse sentido, a escola, por meio de sua equipe pedagógica, deveria se organizar para aproveitar o espaço da coordenação pedagógica, que é obrigatória como carga horária e promover atividades de interesse dos professores para incentivá-los a discutir os problemas cotidianos e a pensarem coletivamente em soluções e estratégias para resolvê-los, utilizando-se base teórica. Uma boa sugestão é o convite de outros profissionais na escola para ministrarem palestras, estudos e seminários. A coordenação pedagógica foi uma conquista dos professores dos Distrito Federal e como tal deve ser priorizada não por parcela da categoria, mas por todos os professores e escolas, independente da modalidade de ensino a que se dedique. Partindo da premissa de que os professores precisam estabelecer um vínculo estreito com o conhecimento para melhorarem sua prática pedagógica e imprimirem maior qualidade ao ensino ofertado, os momentos de coordenação pedagógica são importantes para essa construção. 77 Na medida em que a escola se organiza pensando no aluno e no professor como um sujeito importante para o processo de aprendizagem, ela prevê em seu Projeto Político momentos de formação em serviço, estímulos para que professores participem dos cursos de formação continuada e condições para que os conhecimentos construídos nesses ambientes possam ser ressignificados na interação com os colegas e com os alunos, assim ela acaba participando de um processo de mudanças na prática pedagógica e no trabalho pedagógico. Mudando esses aspectos, os alunos são os primeiros beneficiados, pois professores mais seguros, motivados e amparados coletivamente ajudam a construir alunos com as mesmas características. Aquilo que o professor considera importante em relação a si mesmo, ele reproduz em relação ao aluno. Em torno das perguntas e respostas apreciadas, verifica-se que os professores relacionam a formação continuada a melhorias no trabalho escolar e, consequentemente, na qualidade da educação, do ensino e da aprendizagem desenvolvidos em sala de aula e pela escola. Os professores sabem que investindo em seu processo de aprendizagem, acabam investindo na aprendizagem de seus alunos e nos resultados de desempenho. De acordo com o projeto pedagógico da Escola Classe, os alunos tiveram um desempenho acima da média do ano anterior em relação à Prova Brasil, ocupando um papel de destaque na região administrativa de Ceilândia. De acordo com o texto do documento esse crescimento se deve às propostas de trabalho coletivo, de pedagogia de projetos e de investimentos em formação em serviço, além das estratégias de avaliação que sofreram mudanças, introduzindo princípios de análise psicogenética nas produções escritas e do letramento matemático. Todas essas ações tendem a motivar o professor a melhorar, investindo em aspectos de vida pessoal e profissional, o que acaba reproduzindo na qualidade do ensino e dos resultados dos alunos. 78 CONCLUSÃO De posse do resultado das entrevistas e de todo levantamento bibliográfico, observa-se o quanto a formação continuada e em serviço tornase importante para a dinâmica educativa. Os professores precisam estar em constante aprendizagem e em processo de aperfeiçoamento para dar conta dos desafios educacionais e dos dilemas presentes no contexto educacional. Além disso, precisam formar e se posicionar teórica, social, histórica e cultural, políticas e educacionalmente, considerando-se que o ato educativo está imbricado em diversas concepções e ideologias e nem de longe se constitui em ações desinteressadas, por detrás das políticas educacionais, das filosofias e sistemas de ensino apresentam-se várias intenções do Estado, do Regime Político, de uma situação histórica. A educação está carregada de sentidos que precisam ser conhecidos pelos educadores, assim como desmistificados, descortinados e desideologizados, para isso, é preciso conhecer, é preciso saber. Os cursos de formação docente histórica e culturalmente serviram às estruturas estatais e durante muito tempo dedicaram-se a preparação de reprodutores de conhecimentos considerados válidos e necessários a sobrevivência da elite, assim, tinham o papel de reproduzir as diferenças sociais e econômicas. Sob o enfoque tradicional e tecnicista que controlou o sistema educacional até meados da década de 90, os métodos, técnicas e estratégias de ensino eram o foco dos cursos de formação. Procurando apresentar mudanças conceituais decorridas após a quebra da ditadura e as grandes mudanças sociais ocorridas a nível mundial, os cursos passando por alterações, começaram a se preocupar com a formação de competências e habilidades docentes para levar o professor a se adaptar às novas exigências legais, impostas pela LDBN/96, PNE/00 e DCN e outras disposições. Na verdade, essas propostas forma construídas em cima de muita 79 confusão, característica dos processos transacionais, acabou-se em certo momento exigindo que o professor aprendesse novos métodos e técnicas de ensino. Os mais recentes cursos de formação docente procuram se estruturar sobre princípios que correlacionam teoria à prática e formação reflexiva, como defendido no capítulo de conceitos importantes para a formação continuada. Há inúmeras propostas nesse sentido, mas de acordo com as percepções dos professores entrevistados, esses cursos deveriam se organizar a partir da pesquisa das necessidades e interesses docentes, do contexto das escolas onde trabalham e oferecer oportunidades para que discutam, reflitam, pesquisem, descubram teorias e conhecimentos que possam fundamentar ações práticas, na verdade, sua proposta é partir da prática para selecionar conhecimentos que possam ser retomados para prática, construindo assim, um ciclo: realidade – conhecimentos científicos – realidade. A prática pedagógica passa a ser o lócus da pesquisa, que incentiva a busca por raciocínios, conhecimentos e informações que permitam a análise dessa prática e a construção de respostas, de saídas e estratégias para intervirem na realidade prática, produzindo resultados diferentes em cada situação. Essa dinâmica de aprendizagem tem sido experimentada em classes de alfabetização que trabalham sobre os princípios da epistemologia genética de Emilia Ferreiro e Esther Pillar Grossi, baseadas em estudos de Piaget e Vygotsky, nesse contexto, os professores aprenderam a observar seus alunos, verificar aquilo de que precisam, o que lhes desperta o interesse, o que lhes causa dificuldade, eles aprenderam a analisar cada aluno, cada situação didática à luz das teorias piagetianas e psicogenéticas, aprenderam a discutir essas teorias nos cursos de formação continuada, nos locais de trabalho, durante as coordenações, enquanto analisavam testes, atividades dos alunos, enquanto conversavam entre si, trocando experiências, os saberes existentes foram sendo somados a novos saberes, assim, foram aprendendo a estabelecer uma relação dialógica e reflexiva entre saberes da prática e saberes da pesquisa para produzir resultados de aprendizagem na prática. 80 Tomamos esse exemplo para os cursos de formação que ainda não aprenderam a entrar na realidade dos docentes que os freqüentam, não aprenderam a sondar necessidades e interesses para levantar conhecimentos aliados a essas necessidades, nem para permitir esses momentos de discussão, de reflexão, de pesquisa, de experimentação, de confronto. Destaca-se a opinião de Giroux (1997) sobre a escola como um espaço de transformação, por meio desse ambiente, as mudanças contextuais e factuais podem acontecer, desde que haja uma resistência a tudo que possa impedir o crescimento, o aperfeiçoamento e a libertação, proposta por Freire (1989). A escola é um terrena de construção de resistências, de cultura de resistência contra o erro, contra a impunidade, contra a passividade, contra a mentira, contra os discursos velados, contra a apatia, contra a opressão, contra as diferenças sociais, contra toda forma de mito, de contra-cultura ao crescimento dos sujeitos. Nesse sentido, os cursos de formação podem se transformar em lócus de construção dessa cultura de resistência e de libertação, podendo oportunizar aos docentes inúmeras oportunidades de repensarem os saberes existentes, de construírem novos saberes, a partir da aplicação destes à realidade prática da sala de aula. Mesmo que não haja incentivos por parte do Estado, mesmo que haja poucos investimentos em relação a isto. Não se pode dizer que o Estado e o Governo do Distrito Federal não invistam na formação de professores, pelo contrário, esse governo tem projetado e implantado programas de formação, porque entendem o poder da educação para a manutenção da ordem social, como acreditavam as teorias reprodutivistas de Estado. A Secretaria de Educação por meio da EAPE oferece vários cursos de formação continuada, ofertando a um bom número de professores anualmente, disponibiliza horas para coordenação coletiva, conciliando esse tempo com a formação em serviço e continuada. Investe na formação superior e em nível de especialização, cumprindo assim, sua obrigação legal. 81 Além dessa estrutura estatal há inúmeras entidades de ensino privadas que também dispõem cursos em diversas áreas de conhecimento para professores, inclusive á distância, com certificação de qualidade junto ao MEC e avaliações Nacionais. A oferta de formação é ampla, cabe um pouco o interesse do professor e sua decisão de se posicionar em favor de uma educação transformadora, em prol da cidadania. A simples oferta de cursos não é indicativo de que a formação oferecida apresente qualidade ou que possa promover mudanças no contexto educativo. É preciso uma política de valorização profissional que inclua melhores condições de trabalho, salários dignos e adequados às reais necessidades docentes, plano de carreira que conceda os mesmos direitos reservados as demais categorias de nível superior, políticas públicas que invistam em formação que alcance todo o universo de professores da secretaria, além de restauração do respeito, da dignidade e da auto-estima profissional, por uma série de medidas como plano de saúde, plano de moradia, entre outras vantagens concedidas a outros trabalhadores e o respeito da opinião pública, ferido por inúmeros ataques por parte de autoridades públicas, dentre outras questões que podem dar aos professores motivação e satisfação por continuar investindo em melhorias profissionais. Os cursos de formação continuada fazem parte de uma política de valorização profissional, podendo influenciar até certo ponto nos resultados e na qualidade da educação, e estão muito relacionados à disposição dos professores de mudar e transformar a realidade em que vivem e a que são submetidos. Na medida em que se consideram parte do processo de ensino, reconhecendo sua condição de “oprimido” como classifica Freire (1989) conseguem aliar-se aos alunos e a comunidade para lutar contra todas as formas de opressão e desumanização, descobrindo assim que o conhecimento é um caminho para a assunção de sua identidade e de seu papel fundamental na sociedade. Sem se posicionar política, cultural, histórica, filosófica e educacionalmente, o professor não consegue aperfeiçoar-se e crescer. 82 83 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALARCÃO, I. Professores reflexivos em uma escola reflexiva. São Paulo: Cortez, 2003. ALMEIDA, E. R. de S. 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São Paulo: Martins Fontes, 1984. 87 ANEXOS 88 MODELO DA FICHA DE ENTREVISTA PESQUISA DE CAMPO 1) Fale sobre a sua experiência professional e a sua formação. l................................................................................................................. l................................................................................................................. l................................................................................................................. l................................................................................................................ 2) Você já participou de cursos de formação? Quais? l................................................................................................................. l................................................................................................................. ...............l.................................................................................................. l................................................................................................................. 3) Você percebe que os cursos de formação continuada tem contribuído para o melhor andamento do trabalho pedagógico em sala? l................................................................................................................. l................................................................................................................. l................................................................................................................. l................................................................................................................. 4) Você considera que dentro da Secretaria de Educação existem incentivos para que o professor busque uma formação continua? Quais? l................................................................................................................. l................................................................................................................. l................................................................................................................. l................................................................................................................. 5) Na sua opinião, porque o professor deve continuara estudando? l................................................................................................................. l................................................................................................................. l................................................................................................................. l................................................................................................................. 6) Na sua escola funciona a coordenação coletiva? l................................................................................................................. l................................................................................................................. l................................................................................................................. l................................................................................................................. 89 INDICE FOLHA DE ROSTO 2 AGRADECIMENTO 3 DEDICATÓRIA 4 EPÍGRAFE 5 RESUMO 6 METODOLOGIA 7 SUMÁRIO 16 INTRODUÇÃO 17 CAPÍTULOS I - Bases, Princípios e Características da Formação Continuada 22 II - Conceitos Importantes Sobre Formação Continuada 36 III - Formação Continuada como Elementos Propulsor de Mudanças 50 IV - Experiências Docentes com Formação 60 CONCLUSÃO 78 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 85 ANEXOS 89 ÍNDICE 90 90 FOLHA DE AVALIAÇÃO Nome da Instituição: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES Título da Monografia: A IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO CONTINUADA PARA O PROFESSOR DO DISTRITO FEDERA Autor: ELEUSMAR SILVA SOUZA Data da entrega: 21/10/2010 Avaliado por: Conceito: