Processos criativos
intersubjetivos – a autoria
colaborativa em rede
Beatriz C. Martins
Doutoranda ECA/USP
Acta Media 8 – In-Pacto
São Paulo – agosto/2010
@twiterbook
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HISTÓRIA II
Hoje minha mulher morreu. E eu não sei se senti tristeza ou
alívio. Descendo a escadaria do prédio, me peguei pensando nas
piores coisas que disse à ela. E todas pareciam fazer sentido...
Mas a pior coisa que disse a ela lembro bem. Era domingo, eu estava
de preto, ela de branco e eu disse "sim, eu aceito". Na doença e na
saúde, até que a morte nos separe. O porteiro me olha estranhamente.
Nunca gostei desse sujeito. E com seu tique nervoso de piscar o olho
esquerdo, seguiu meus passos até eu cruzar o portão. De longe, ouço:
"Assassino!" Era só o que faltava. Aguentar aquela megera 45 anos e
ter que ouvir isso. Se quisesse matá-la, teria feito no primeiro dia.
Mas por outro lado pensei: voltar a ser solteiro aos 67 pode ser
interessante. No caso, viúvo.
FIM
@twiterbook
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Foram escritas cinco estórias entre 28 de
julho e 21 de dezembro de 2009, através de
135 tweets de 67 co-autores.
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Blog do projeto
Twitter Opera
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@youropera
A criação colaborativa de uma ópera via twitter para
apresentação no Royal Opera House, em Londres.
Começou em 31 de julho de 2009 e continuou
durante o mês de agosto seguinte
A apresentação da ópera foi em 5 e 6 de setembro
do mesmo ano
Uma iniciativa do Projeto Deloitte Ignite Opera
Blog do projeto
Vídeo do preview
La Plissure du texte
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Experimento coordenado
por Roy Ascott
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Parte do Electra, Electricity
and Electronics in the Art of
the XXth Century, no Musée
d’Art Moderne de la Ville de
Paris, no outono de 1983
Tradução: Plissando o texto
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Le plaisir du texte,
de Roland Barthes

“Texto significa tecido, mas, enquanto até
agora consideramos esse tecido como um
produto, um véu recém-produzido, atrás do
qual se encontra, mais ou menos oculto, o
significado (verdade), agora estamos
enfatizando, no tecido, a idéia gerativa de
que o texto é feito, é formulado em um
entrelaçamento perpétuo; perdido nesse
tecido – nessa textura – o sujeito se desfaz,
como uma aranha que se dissolve nas
secreções construtivas de sua teia.”
Le plaisir du texte,
de Roland Barthes
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
O conceito de juissance – extremo prazer
Ascott decidiu criar um experimento da
telemática da utopia, em suas palavras:
“(dar/oferecer) prazer narrativo no contexto
de sistemas abertos de tempo não-linear
(assincrônico) e de espaço ilimitado (nãolocalizável)”
Vladimir Propp


Estrutura narrativa e da morfologia do conto
de fadas
Sete dramatis personae principais: o vilão, o
doador, o ajudante, a princesa, o
mensageiro, o herói e o falso herói (ou antiherói), que desempenham 31 funções
Obra em contexto

Objetivo: desenvolver um projeto envolvendo
caminhos associativos múltiplos para uma
narrativa distribuída mundial, um conto de
fadas global coletivo, que se desenrolaria no
tempo de acordo com as diversas interações
que recebesse. Um processo de plissar o
texto que seria assincrônico, de múltiplos
níveis e não-linear em suas bifurcações.
Convite inicial (resumo)
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Dated: july 18 1983
Projeto de narrativa colaborativa, envolvendo uma rede de
artistas ao redor do planeta
Objetivo: Criar um texto de conto de fadas gerado por artistas
localizados na Áustria, Austrália, Canadá, Holanda, França,
Havaí, Inglaterra, Gales e EUA
Papéis: Os artistas colaboradores irão gerar o texto do ponto de
vista de um papel ou identidade assumidos. Cada um irá se
tornar um personagem no conto de fadas, atribuído pelo
organizador do projeto, como vilão, herói, falso herói, princesa,
ajudante, etc.
Duração: Primeiras três semanas de dezembro.
Método: terminais de dados ligados ao IP Sharp Artbox, com
terminais de exibição e cópia no Musée D’Art Moderne de la Ville
de Paris.
Obra em andamento
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Artistas e grupos de artistas em onze cidades
da Europa, América do Norte e Austrália
concordaram em juntar-se ao projeto.
La plissure du texte esteve ativo on-line por
24 horas, durante doze dias – de 11 a 23 de
dezembro de 1983.
Roy Ascott:

“Com terminais em onze cidades, a rede
desenvolveu-se até incluir redes locais de artistas,
amigos e membros aleatórios do público geral que
estivessem visitando o museu ou o espaço artístico
onde estivessem localizados os terminais. Durante
o período de três semanas do projeto, centenas de
“usuários” envolveram-se em um grande intertexto,
na feitura de um “tecido” que não poderia ser
classificado, se bem que, ostensivamente, o projeto
deveria gerar um “conto de fadas planetário”.”
La Plissure du texte - trechos

WHIRLED IN THE POSSED, THE PRESENCE, AND THE FUTILE, KIMO B.S.
KIM CHEE IS CAUGHT IN THE INEXORABLE FOSTER'S TIME TUBE.
CARDBOARD CLONES AND CYCLONES TOURNER IN THE TUBE.
PRINCESS CHLOROPHYLL PRESSES HER BURNING BREATHST TO HIS GASPING
MOUSE AND SOON BLESSED AYER FILLS HIS LUNGES.
PLACEZ VOTRE BETE NOIRE ET ROUGE. NOTRE BETE ENCIENTE, LA BETE
DE BETLEEN AGITE DANS LA CHAMBRE IN AYER.
WARP AND WOOF THE HOUNDS OF BOTANY BAYED AT THE MOONING MAGICIAN
WAND DURING THE FOSTER'S TIME TUBE.
TOTO, TOTO, AUNTIE EM, WHERE ARE YOU?
TROIS REVIERES, KIDNAPPED PRINCESS FROM THE POOLS OF PEE,
PUDDLED STEAL FROM THE PRINCE OF PITTSBURGH.
CALIGULA, VILEBREQUIN OF THE DEUS EX MAEHINA, GRUNT HIS
LOATHSOME LOUP+GARON.
Novidade?
A produção colaborativa é nova?
Produção discursiva na Antiguidade
Produção discursiva na Antiguidade
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
Quem é o autor de
Ilíada e de Odisséia?
Homero ou o coletivo
da cultura oral?
Um processo autoral
fluido e anônimo
O texto pertence a
todos e a ninguém
Produção discursiva na Antiguidade
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
Cada declamador era ao
mesmo tempo um repetidor
de poemas
Nenhuma performance era
igual a outra e a invenção
era parte da apresentação
Uma transcendência, a
inspiração das Musas, era a
fonte da criação
Musas como corporificação
da tradição da poesia oral
Escrita medieval


Um escrita interativa
através dos comentários
nas margens dos
manuscritos
Uma autoridade
religiosa avalizava a
produção: a Auctoritas
Escrita medieval

“Um homem pode escrever trabalhos alheios, sem
acrescentar ou mudar nada, neste caso ele é
simplesmente chamado de “copista” (scriptor).
Outro escreve trabalhos alheios com adições que
não são suas; e ele é chamado de “compilador”
(compilator). Outro escreve tanto trabalhos alheios
como o seu, mas com os trabalhos alheios em
primeiro plano, adicionando o seu próprio a título de
explanação; e ele é chamado de “comentador”
(comentator)... Outro escreve tanto o seu trabalho
como os alheios, mas com o seu em primeiro plano
adicionando outros a título de confirmação; e este
homem pode ser chamado de “autor” (auctor)”
São Boaventura, século XIII
Escrita medieval
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


A escrita era um
exercício coletivo de
hermenêutica
Anônimo
Deus era a fonte
suprema de inspiração,
o verdadeiro autor
A produção não tinha
um caráter privado
A modernidade

A era do projeto do sujeito
autônomo:
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

A noção cartesiana de sujeito
A Reforma Protestante
O Humanismo Renascentista
O Iluminismo
A Modernidade
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


O conhecimento passa a circular em torno do
sujeito
Os empirismo inglês
Kant e a crítica da razão
O ser humano adquire autonomia para criar e
saber por sua própria conta
A noção de autor como um criador individual
é fortalecida
O Romantismo
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


O autor deixa de ser um artesão admirado
por sua capacidade de imitação (mimésis)
Passa a ser valorizado por suas habilidades
subjetivas
A capacidade de criar algo único e original
Surge o gênio criador
Cujo talento único deve ser recompensado
monetariamente – o direito autoral
O autor em dissolução

A autonomia autoral é posta em questão:

Barthes e a morte do autor: “o texto é um
tecido oriundo de mil focos da cultura”

Foucault e a historicidade da autoria, a
função autor
Função autor

“A função autor é, assim, característica do modo de
existência, de circulação e de funcionamento de
alguns discursos no interior de uma sociedade”
FOUCAULT



Autor é o que dá forma ao discurso, dando-lhe unidade e
coerência
Desempenha um papel na circulação do discurso na
sociedade
Vai além de atributos pessoais
Função autor

Não tem caráter universal, sua configuração
varia em diferentes períodos históricos:



Na Idade Média, os discursos médicos tinham
que ser atribuídos a alguém para terem valor:
“Hipócrates disse...”
E os textos literários circulavam sem que fosse
preciso definir sua autoria
Já nos séculos XVII/XVIII, a situação se inverte
Função autor

“perguntar-se-á a qualquer texto de poesia
ou de ficção de onde é que veio, quem o
escreveu, em que data, em que
circunstâncias ou a partir de que projeto”
FOUCAULT
Função autor

A função autor varia através do tempo:




As maneiras como as obras são validadas
Autoria atribuída ou não
Individual ou coletiva
Nomeada ou anônima
Função autor


Quais foram as condições que permitiram a
emergência de algo como sujeito na ordem
do discurso
O indivíduo autor é uma construção histórica
Quem é o autor na rede?
Wikipédia




Mais de 12 milhões de colaboradores/autores
Mais de 3 milhões de artigos em inglês
Mais de 600 mil artigos em português
Qualquer um pode editar a grande maioria de
seus artigos ou criar novos verbetes
Quem é o autor da Wikipédia?

Anônimos?
Quem é o autor da Wikipédia


São anônimos e nomeados
São o autor em coletivo, uma combinação
entre os atributos do individual e do
intersubjetivo
Como é o autor na rede?

A época atual verá reforçar-se a pertinência do
autor individual (forjado pela cultura do livro)
mergulhando ao mesmo tempo em uma
configuração tecnocultural que articula o indiviso e o
indivíduo. Assim, há de se desenhar precisamente a
figura do autor em coletivo, totalmente voltada para
o prazer do coletivo [...] e levada incessantemente a
produzir diferença, a produzir original; esse
endereçamento à originalidade torna-se, é claro,
uma condição coletiva.
WEISSBERG
Como é a autoria em rede?





interconectada
aberta
interativa
colaborativa
intersubjetiva
Overmundo – autoria dialógica




Website de notícias sobre cultura brasileira
produzidas pelo próprio público participante
Lançado em março de 2006
Interface aberta e colaborativa, isto é,
qualquer pessoa, desde que se registre no
site, pode enviar matérias
Cerca de 40.000 participantes, autores
potenciais
Autoria dialógica



O espaço virtual como um espaço público,
um espaço de debate
A produção discursiva textual como diálogo
Comentários como conversas,construindo
um discurso co-autorado
Como é a autoria em rede?







interconectado
aberto
interativo
colaborativo
intersubjetivo
transindividual
dialógico
Interfaces da tese na rede

Blog Autoria em rede:
http://autoriaemrede.wordpress.com/

Wiki experimental
Obrigada!

Contatos:


@biacm
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Processos criativos intersubjetivos - Autoria em rede