O currículo do Ensino Religioso: formação do ser humano a partir da diversidade cultural Prof. Ms. Henri Luiz Fuchs Pedagogo e teólogo. Professor no Centro Universitário La Salle, Canoas, RS. Integrante do Grupo de Pesquisa Currículo, Identidade Religiosa e Práxis Educativa. [email protected] • O currículo do Ensino Religioso, a partir da LDB 9.394/96, requer uma nova compreensão enquanto espaço de construção do conhecimento. A proposta curricular elaborada pelo FONAPER e assumido como Parâmetros Curriculares Nacionais do ER, após uma década de implantação, carece de uma avaliação para contribuir na reflexão e planejamento de atividades educativas que levem em consideração a diversidade cultural religiosa do Brasil. • A diversidade cultural está presente nos espaços educativos. O ser humano que constrói sua identidade a partir deste contexto histórico marcado pela diversidade, necessita de um espaço para refletir, experienciar e desenvolver um caminho para sua vida considerando os referenciais culturais e religiosos. • A diversidade cultural possibilita a construção da área de conhecimento Ensino Religioso que estuda o fenômeno religioso. O objeto de estudo do Ensino Religioso é “aquilo que aparece”, “que se mostra”. Desta forma, é possível “identificar a religião nas suas manifestações coletivas e individuais” (BENINCÁ, 2001, p. 56). Através desta análise, podemos perceber os elementos fundantes da religião. • O conhecimento religioso é um “conhecimento humano historicamente constituído, sem a conotação de conhecimento revelado” (FONAPER, 2000, p. 19). • a proposta curricular para o Ensino Religioso deve proporcionar o acesso às experiências religiosas de seres humanos em diferentes culturas. A cultura é um “conjunto de objetos materiais, de instituições, modos de vida e de pensamento que não são característicos do indivíduo, mas que caracterizam um grupo social [...] é a vida de um povo, assim como se formaliza em contatos, instituições, aparatos tecnológicos, costumes e tradições característicos [...] todas aquelas coisas, instituições, objetos materiais, reações típicas das situações que caracterizam um povo e o distinguem dos outros” (MONDIN, 2002, p. 183). • A escola é desafiada a construir conhecimentos a partir da informação, observação e reflexão. O conhecimento não pode ser resultado de acúmulo de informações memorizadas, mas “fruto de experiência e reflexão, envolvendo ampliação da capacidade de pensar daquele que o possui” (CASTRO, 2005, p. 17). • O currículo do Ensino Religioso deve possibilitar o maior acesso possível ao conhecimento religioso com o objetivo de provocar o educando a buscar suas próprias verdades. • O currículo do Ensino Religioso deve proporcionar um espaço para acessar informações, refletir sobre a trajetória humana e proporcionar práticas vivenciais que proporcionem experiências vitais na sala de aula. • O currículo escolar contribui na formação da identidade de cada ser humano na medida em que favorece e estimula a diversidade cultural religiosa que dá a sustentação, o referencial para a vida na sua totalidade, contrariando, desta forma, o pensamento cartesiano que orienta a ciência e fragmenta o ser humano e o mundo no qual vivemos. • os professores de Ensino Religioso buscam um manual que apresente um roteiro explícito para uma aula e, ao deparar-se com os eixos, não consegue traduzi-los para uma situação de ensino e aprendizagem em uma sala de aula. Até mesmo os componentes curriculares que são apresentados pelo sistema de ensino tornam-se difíceis de tradução para o contexto específico do professor. Esta dificuldade reside tanto na formação do profissional quanto na delimitação dos aspectos apresentados no documentos norteadores das práticas educativas. Percebe-se uma lacuna que precisa ser observada entre os eixos e os conteúdos do currículo. O FONAPER já adverte que “os conteúdos programáticos não são o produto do conhecimento religioso mas uma interpretação passível de sua produção/construção em cada ciclo (série)” (FONAPER, 2000, p. 31). • A partir dos eixos do currículo, o conhecimento religioso aponta para uma metodologia da observação objetiva, descritiva dos fenômenos religiosos para contribuir na construção da verdade, da essência da religião, seja da própria religião, seja da experiência humana a ela sempre ligada. A observação, a reflexão e a informação sobre o fenômeno religioso, enquanto manifestação pessoal e coletiva presente na vida dos educandos, manterá acesa a humanidade presente em cada indivíduo que, informado e orientado a partir dos conhecimentos já produzidos, organiza os conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais (FONAPER, 2000, p. 29) na preservação da vida dentro de uma cultura. • O professor de ER é desafiado a contribuir na construção do sentido da vida dos seus alunos numa realidade complexa que supera os limites da fragmentação moderna. O currículo do Ensino Religioso, para dar conta dos desafios da diversidade, deve ser desenvolvido numa perspectiva interdisciplinar. • Diante das reflexões realizadas, o currículo do Ensino Religioso ainda tem muitos desafios pela frente. Entre estes: contribuir na reorganização do currículo na perspectiva da superação da fragmentação do conhecimento, viabilizando uma interação entre as áreas de conhecimento através de projetos de estudo que incentivem os educandos e educadores a dialogar com profundidade sobre os aspectos essenciais para o resgate e preservação do sentido da vida. Isto requer uma dinâmica inclusiva dos seres humanos na história que é marcado por três tempos simultâneos e complementares: passado, presente e futuro. Através da escola, os seres humanos devem ser inseridos na história e não obrigatoriamente no sistema industrial alienante que apresenta um deus que somente se satisfaz no consumo que gera um vazio existencial.