Conceituação, análise e
possibilidades de inserção da
Nova Era no currículo do
Ensino Religioso
Talita Bender Teixeira
Doutoranda em Teologia – EST/São
Leopoldo/RS
Eixo temático Currículo e Saberes
• Os cinco eixos temáticos através dos quais se
configura o currículo do Ensino Religioso abrem
espaço para que o aluno possa dialogar com a
diversidade do fenômeno religioso. As variantes
permitem uma ampla abordagem sobre o
Transcendente.Busco
com
este
trabalho
analisar a inserção das abordagens sobre a
Nova Era no saber que é construído através dos
eixos temáticos previstos nos Parâmetros
Curriculares Nacionais para o Ensino Religioso.
Para tanto, cabe um primeiro questionamento:
afinal, o que é a Nova Era?
• Para Sanchis (2003), a Nova Era constituise numa exuberante proliferação de
ramificações,
encontros,
fusões,
superposições, tradições particulares e
sedimentações universais, representando
a contundente afirmação e a radical
negação
de
uma
modernidade
individualista, racional e dessacralizadora.
• Características da Nova Era: É preciso considerar o
sincretismo flexível do simbolismo e das práticas new
age, tendendo ao eclético. Trata-se de fenômenos de
difícil delimitação, diante da velocidade e do volume em
que combinações radicais ocorrem. É nesse sentido que,
em vez de ‘religiosidade’, diversos autores adotam o
termo ‘movimento’, por ser mais abrangente e incluir
práticas, representações e autores não ligados ao
campo da ‘religião’ – incluindo setores médicos,
científicos, paracientíficos e psicológicos. Assim, o termo
‘movimento’ é tanto mais amplo quanto mais preciso que
‘religiosidade’ para designar o fenômeno como um todo,
ainda que certamente existam grupos que possam ser
identificados como religiosos ou preguem alguma forma
de religiosidade (‘cósmica’, ‘holística’, ‘natural’).
(D’Andrea, 1996, p.60)
• Elementos e práticas da Nova Era: cristais,
pirâmides, anjos, gnomos, astrologia, tarô,
runas, búzios, ufos, mediunidade e projeção
astral, poderes parapsíquicos (tais como a
premonição e a clarividência), bioenergia,
florais, ayahuasca, terapias de regressão (TVP),
biodança, dança étnica, yoga, shiatsu, do-in, taichi-chuan, reiki (uma técnica japonesa de
imposição de mãos), meditação, magia (wicca),
xamanismo, o resgate do Feminino sagrado,
best-sellers de auto-ajuda.
• O movimento Nova Era é também permeado
pela preocupação sobre a sustentabilidade
ecológica, difundindo uma interação sistêmica
entre todos os seres. Por este motivo, as
práticas terapêuticas da Nova Era também são
conhecidas como terapias holísticas. A
preocupação com o bem-estar e com a
qualidade de vida se estende também para
hábitos alimentares e de consumo, sendo que
muitos de seus adeptos vivenciam a prática da
macrobiótica, do vegetarianismo e do
veganismo
Mas afinal....
• Por que o educador e a educadora devem
ainda dar conta de mais este conteúdo,
uma vez que se apresenta tão
fragmentado e aparentemente tão distante
da realidade escolar?
• No espaço plural da sala de aula
convivem indivíduos de diferentes tribos,
jovens geralmente com amplo acesso aos
meios de comunicação e formação
familiar diversa, muitos possuindo uma
religiosidade característica da Nova Era.
• Cf. Junqueira, (2004) inserida na sociedade pósmoderna, a Educação como um todo precisa estar
reafirmando continuamente seu papel transformador, ao
mesmo tempo em que lida com uma série de temas
desafiantes: relações de poder, tecnologia, violência,
globalização, mercado de trabalho, ontologia...nesse
sentido, o autor ressalta a função do educador como
catalisador de mudanças e especificamente do
professor de Ensino Religioso enquanto responsável por
uma disciplina fundada no respeito às diferenças – tão
necessárias no mundo atual. Para este autor, o Ensino
Religioso é transformador para educador e educando,
pois permite - através da dialogicidade que lhe é
característica - a descoberta da sensibilidade, da
criatividade e do compromisso ético.
• É possível desdobrar a Nova Era sob o viés
dos cinco eixos temáticos previstos nos
Parâmetros Curriculares Nacionais?
• no eixo Cultura e Tradições Religiosas, através da
variante Filosofia da Tradição Religiosa, as muitas
tradições que compõem as temáticas da Nova Era
podem
encontrar
lugar
para
análise,
se
compreendermos tais temáticas como fruto de um saber
construído ao longo de séculos e até milênios de
história. É o caso da yoga – prática milenar que
incorpora um sistema místico-filosófico da Índia, o qual
procura, mediante determinados exercícios, o domínio
do espírito sobre a matéria e a união com a divindade,
oriundo do Hinduísmo e que remonta aos Vedas,
tradição ainda mais antiga. Também neste eixo podem
ser inseridos Xamanismo, Tai-Chi-Chuan e Ayahuasca,
cada qual com suas especificidades.
• No eixo Escrituras Sagradas e/ou Tradições
Orais é possível inserir o conhecimento sobre o
ifá, o oráculo sagrado das tradições afrobrasileiras, popularmente conhecido como jogo
de búzios. Os orixás – divindades do panteão
iorubá -, que respondem ao fiel no oráculo,
correspondem a representações sagradas dos
arquétipos masculino e feminino, podem ser
analisadas sob o viés da variante Divindades,
presente no eixo Teologias. As questões
relativas a mediunidade, poderes parapsíquicos
e reencarnação podem ser analisadas de forma
a tornar o debate mais amplo: como estes
temas
são
observados
no
Espiritismo
Kardecista? E no Budismo?
• Se bem conduzido, o debate sobre as
temáticas da Nova Era pode enriquecer o
conhecimento produzido a partir da sala
de aula. Para tanto, é necessário um tanto
de desprendimento de um saber
institucionalizado, valorizando as culturas
vividas pelos estudantes e construindo um
currículo flexível, onde as experiências e
saberes sejam efetivamente incorporadas.
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