804 O HOMO ACADEMICUS NAS MALHAS DO DIGITAL: DISCURSOS, PRÁTICAS E REPRESENTAÇÕES DO INTELECTUAL E DO SABER NA CIBERMÍDIA. Mauricio Junior Rodrigues da Silva (Universidade de Franca)1 Maria Regina Momesso (Universidade de Franca)2 1. INTRODUÇÃO [...] Se você é um intelectual, o ´tato´ é o melhor modo de referir-se à covardia. Para remediar parcialmente a fragilidade humana, o intelectual tem que seguir a trilha que leva ao malfeito. [...] (FULLER, 2006, p.29) O trecho da obra O Intelectual de Steve Fuller (2006) nos faz refletir acerca dessa figura que, segundo o autor, tem o poder de remediar a fragilidade humana por meio do avesso, do malfeito: o intelectual. Ao longo da história, a intelectualidade já esteve relacionada com os mais diversos setores da sociedade, como: o eclesiástico, o científico, o artístico, o acadêmico etc. No campo filosófico, muitos pensadores já se fiaram a estudar tal figura: Hegel, por exemplo, associa a intelectualidade ao corpo burocrático do Estado, o pensador recusa o caráter universalista que muito se imputou historicamente à figura; Lewis Feuer, por sua vez, estabelece um liame entre o intelectual e as ideologias; no mesmo caminho, Norberto Bobbio (1997) assevera que os intelectuais sempre existiram, sobretudo em consonância ao poder ideológico. Segundo o pensador: Embora com nomes diversos, os intelectuais sempre existiram, pois sempre existiu, em todas as sociedades, ao lado do poder econômico e do poder político, o poder ideológico, que se exerce não sobre os corpos como o poder político, jamais separado do poder militar, não sobre a posse de bens materiais, dos quais se necessita para viver e sobreviver, como o poder econômico, mas sobre as mentes pela produção e transmissão de idéias, de símbolos, de visões de mundo, de ensinamentos práticos, mediante o uso da palavra (o poder ideológico é extremamente dependente da natureza do homem como animal falante). [...] (BOBBIO, 1997, p.11) O sociólogo Pierre Bourdier (2008) também se dedicou a estudar tal temática. Na obra Homo Academicus, o pensador propõe uma análise do habitus de professores em ambientes universitários. A finalidade do estudo seria perceber como se dá a organização do espaço universitário e o modo como esse ambiente 805 engendra uma luta de poder entre as várias disciplinas e o academismo do corpo professoral. Por homo academicus, Bourdier entende o sujeito imbuído de saber acadêmico, dito intelectualizado, que lida ou nutre a literatura, a filosofia, e as artes em geral. O excerto a seguir explica o fundamento do poder universitário segundo Bourdier (2008): El poder propiamente universitario está fundado principalmente en el dominio de los instrumentos de reproducción del cuerpo profesoral,jurado de agregación, comité consultor de las universidades (que designa a los profesores titulares), es decir, en la posesión de un capital que se adquiere en la universidad, en particular en la École Norrnale, y que es detentado principalmente por los profesores de la universidad -de la Sorbona-, en especial de las disciplinas canónicas, con frecuencia hijos ellos mismos de docentes, profesores de enseñanza secundaria o superior y sobre todo maestros, Yvale casi exclusivamente dentro de los límites de la universidad (francesa).3 Ao aludir tal obra, a presente pesquisa pretende se inserir nesse amplo quadro de debates acerca do intelectual. Desse modo, se em Pierre Bourdier o mesmo era esquadrinhado no contexto das grandes escolas francesas, neste trabalho o intelectual 4 há de ser examinado em um ambiente fundamentalmente contemporâneo: a cibermídia. É de suma importância delimitar o significado do termo citado e distingui-lo da rubrica “ciberespaço”. Para tal, Berguel & Berleant nos explicam que: Cyberspace in this sense is the union of multimedia information sources which are accessible through the digital networks by means of client-server technologies. As a working characterization, we will refer to the entire body of this multimedia information as cybermedia. Currently cybermedia consists of audio information (e.g., Internet Talk Radio), video information (e.g., mpeg videos), a-v programming (movies), 3-D images and animations (e.g., 3DRender files), interactive algorithmic animations via telnet, conventional text + graphics, and much more. Laboratory work is underway to bring the entire spectrum of sensory information under the cybermedia rubric, with digitized touch the next cybermedium.5 Pelo excerto é possível entender a cibermídia como um conjunto de mídias digitais que não se restringem ao plano virtual, isto é, estendem-se a interfaces externas como a telefonia celular móvel, as tecnologias wireless, os ciber centers, e as lan houses (MCADAMS, 2008). Já ciberespaço pressupõe um imanente contato com a realidade virtual. Malgrado essa proximidade conceitual, fica evidente que os termos não se confundem. Para reiterar tais diferenças, é preponderante citar as 806 palavras de Maria Regina Momesso de Oliveira e Maria Silvia Olivi Louzada. Segundo as autoras: [Pode-se] afirmar que a cibermídia é diferente de ciberespaço, na medida em que não tem necessidade, especificamente, da ´imersão´ em uma realidade virtual. Ao contrário de ciberespaço, a experiência com a cibermídia permite ao usuário distinguir a realidade física da digital, ou seja, o ciberespaço é constituído de um espaço imaterial por onde trafega a informação e independente da conexão de sentidos, enquanto cibermídia precisa, obrigatoriamente, fazer um uso efetivo da informação vinda do mundo real/material. (OLIVEIRA; LOUZADA, 2008, p. 202). Feitas essas distinções, é valido mencionar que no campo da cibermídia continuadamente irrompem-se diferentes práticas de discurso, que engendram perspectivas distintas de representação e de identidade acerca do intelectual. Essa variabilidade de práticas nos permite chegar ao escopo primacial da pesquisa, que é perceber que mecanismos discursivos e efeitos de sentido são produzidos na hodiernidade quando o assunto é a intelectualidade e o saber6. Ao examinar tais mecanismos, é forçoso que se considere também as condições de produção em que emergem tais discursos. Sobre a importância de tal procedimento em nossa empresa, Hélia Oliveira esclarece que: É inconcebível analisar um discurso desconsiderando as condições de produção, uma vez que estão intimamente ligadas à constituição do discurso. Isso quer dizer que o sentido de um enunciado depende das condições históricas e sociais e da situação em que o sujeito que o produz se encontra. As condições de produção do discurso também estão relacionadas com as relações de poder e de lugar ocupado pelo sujeito do discurso e pelos interlocutores, o que nos leva a acreditar que a força do discurso de um locutor é determinada pela sua posição social. (OLIVEIRA, s.d., Acesso em: 01 mai. 2010) Ao considerar as referidas condições no contexto de análise proposto, a representação do intelectual ganha, na contemporaneidade, características peculiares, distintas das concepções clássicas que se tem do mesmo. Desse modo, pode-se dizer que com o advento de novas tecnologias, o saber e intelectualidade ganham cada vez mais representações em âmbitos cada vez mais distintos. Mauricio Salles Brasil, na assertiva a seguir, apresenta a posição de Foucault acerca do intelectual nesse contexto da modernidade líquida: Para Foucault o intelectual moderno ideal para o figurino dos nossos dias, não é mais portador de valores universais, ele é agora alguém que ocupa posição específica, eu diria também estratégica, na sociedade; um 807 combatente pela verdade ou em torno da verdade; estabelecendo regras (método) para distinguir com maior precisão possível o verdadeiro do falso dentro de uma perspectiva de verdade/poder. Para Foucault não há espaço para exercícios utópicos em torno da verdade, pois ela não seria concebida sem um sistema de poder que a sustentasse, aquilo que ele chamou de o Regime da Verdade. (SALLES BRASIL, 2009) As palavras de Salles Brasil (2009) sobre Foucault indicam que, na modernidade líquida (BAUMAN, 2005), a representação da intelectual enquanto um indivíduo engajado, militante, pautado por um regime de verdade, perdeu espaço para uma variabilidade de representações que, nas práticas discursivas, dificultam o estabelecimento de caracterizações fechadas e de pouca variação. Frente a essa variabilidade representativa, optou-se por eleger como corpus do trabalho e - textos do site CPFL Cultura7, um ambiente virtual que lida com o saber intelectualizado e que se mostra amplamente propício a verificar as representações hodiernas que se tem da intelectualidade. A CPFL Cultura é um órgão da CPFL Energia surgido em 2003 com intuito de divulgar eventos, palestras, espetáculos artísticos que a instituição promove e patrocina. Num primeiro contato com o site, chama logo a atenção o modo como o sítio é apresentado na subseção O que é da seção Institucional. Consta na mesma que "a CPFL Cultura não é apenas um espaço, mas um conceito" (O QUE, s.d., Acesso: em 10 mai. 2010). Cumpre, portanto, ao presente trabalho analisar que conceito é este que sítio julga ser. Fundado no desígnio de pesquisa citado, parte-se da hipótese de que a cibermídia, esse conjunto de mídias digitais em ambientes híbridos fixos ou móveis, traz consigo - por meio dos sítios virtuais - inúmeros dispositivos de ordem estratégica determinantes à produção ou à reprodução de saberes nesses ambientes. Aliás, essa inferência mostra claramente como os enunciados não devem ser tomados em seu sentido literal, mas postos em consonância a um lugar histórico. Sobre tal premissa, Eni Orlandi (2005) ao citar Pecheux (1983) nos ensina que: [...] as palavras não têm um sentido ligado a sua literalidade, o sentido é sempre uma palavra por outra, ele existe nas relações de metáfora (transferência) acontecendo nas formações discursivas que são seu lugar histórico provisório. De tal maneira que, em conseqüência, toda descrição está exposta ao equívoco da língua: todo enunciado é intrinsecamente suscetível de tornar-se outro, diferente de si mesmo, se deslocar discursivamente de seu sentido para derivar para um outro´. (PÊCHEUX, 1983, p. 53, apud ORLANDI, 2005, p.11). 808 O excerto acima representa o suporte teórico utilizado na presente pesquisa. Para ser mais preciso, adotou-se como arcabouço teórico e metodológico perspectivas lingüísticas derivadas da Análise do Discurso (AD), de linha francesa, baseada em Michel Pêcheux e Michel Foucault, sobretudo ao considerar que o sujeito constitui-se por meio de práticas discursivas. É interessante perceber que nesse horizonte do sujeito - de acordo com Jacques Guilhamou (2004) - o método da AD, por meio de uma transvaloração discursiva, supera os limites da materialidade e empirismo lingüístico. Segundo o pesquisador francês: [...] le geste inaugural de l’analyse de discours enclenche une transvaluation, au sens où s’impose d’emblée et se maintient, dans l’approche discursive des matériaux empiriques construits à l’horizon d’un sujet émancipateur, un lien consubstantiel entre la matérialité de la langue et la discursivité de l’archive. (GUILHAMOU, 2004, Acesso em: 01 mai. 2010)8 Dito de outro modo, pode-se atinar que para a AD o sujeito não se acha subsumido somente pela língua, como também pela ideologia, pela História e pelo inconsciente. No excerto de Michel Foucault é possível observar essa perspectiva segundo a qual o sujeito se constrói por meio de práticas de sujeição posta na cultura e na História: É preciso distinguir. Em primeiro lugar, eu efetivamente penso que não há um sujeito soberano, fundamentador, uma forma universal de sujeito que se poderia encontrar em qualquer lugar. Sou muito cético e muito hostil a esta concepção de sujeito. Penso, ao contrário, que o sujeito se constitui através de práticas de sujeição, ou, de uma maneira mais autônoma, através das práticas de liberação, de liberdade, como na Antigüidade, a partir, é claro, de um certo número de regras, estilos, convenções, que se encontram no meio cultural. (FOUCAULT, 2005) Essa fundamentação teórica é certamente pertinente para a análise de um complexo objeto de estudo, como é o saber, em meio tão variável e de difícil categorização como é o da cibermídia. Poder esquadrinhar as dimensões conceituais do saber - dito intelectualizado - nesse campo se apresenta não só como um desafio teórico, como também uma possibilidade de contribuir para uma problematização em um meio que ganha cada vez mais relevância na vida hodierna. Observa-se a importância de trabalhos como este não só em virtude da existência de poucos estudos sobre o tema, mas principalmente por ser um tema adstrito à contemporaneidade, e como parte desta, mostra um entrecruzamento 809 multidisciplinar de distintas e relevantes áreas do saber como a lingüística, a história, o jornalismo, a filosofia, etc. Portanto, é a esperança deste artigo explorar de modo satisfatório todas as idéias propostas para poder abordar este complexo e almo tema. 2. CPFL CULTURA & ENERGIA: UM BREVE HISTÓRICO Antes de iniciar a análise das formações discursivas que permeiam o site da CPFL Cultura, é preponderante que se trace um histórico do mesmo. O sítio é parte da CPFL Cultura, uma instituição vinculada à Companhia Paulista de Força e Luz, que foi construída com a finalidade de incentivar, divulgar ou patrocinar eventos culturais. O grupo CPFL Energia surgiu em 1912 a partir da junção de quatro pequenas empresas de energia que atuavam no interior paulista. A empresa ampliou seu campo de atuação quando: [...] em 1927 a companhia foi adquirida pela American & Foreign Power (Amforp), – empresa do grupo norte-americano Electric Bond & Share Corporation (Ebasco), ligado a General Eletrict, permanecendo sob seu controle até 1964, quando passou ao controle da Eletrobrás, do governo Federal. Em 1975, o controle acionário da CPFL Paulista foi transferido para a Companhia Energética de São Paulo (Cesp), do governo do Estado de São 9 Paulo. No ano de 1997, a CPFL Energia deixou de ser uma empresa pública, por meio de um processo de privatização, e passou a ser controlada pela "VBC Energia (Grupo Votorantim, Bradesco e Camargo Corrêa), pelo Fundo de Pensão dos Funcionários do Banco do Brasil (Previ), e pela Bonaire Participações (que reúne os fundos de pensão Funcesp, Sistel, Petros e Sabesprev)."10 Com essa reformulação em sua gestão, discursivamente a empresa passou a se pautar por uma fala de maior participação social. Prova disso é que a empresa instituiu, em 2003, a CPFL Cultura. Segundo o sítio da empresa: "[A CPFL Cultura se constitui enquanto] um amplo programa cultural que promove reflexões sobre os desafios e oportunidades da contemporaneidade.” 11 A programação cultural da empresa iniciou com uma parceria com a Tv Cultura para a transmissão do Café Filosófico, "[um] ponto de encontro dos mais renomados intelectuais com os mais diversos públicos, onde se organizam teorias e 810 onde informações são transformadas em conhecimento."12. Graças às transmissões dos encontros pela Tv , os encontros do Café Filosófico ganharam maior divulgação e popularidade. Essas transmissões também ajudaram a robustecer a CPFL Cultura como uma importante empresa no trato com a intelectualidade e com o saber. Transcorridos sete anos desde sua criação, a empresa, com encontros e palestras anteriormente restritos à cidade de Campinas, ampliou seu campo de atuação e chegou a mais seis cidades: Bauru, Caxias do Sul, Santos, São Paulo, Sorocaba e Ribeirão Preto. Alguns números postados pelo sítio da CPFL Cultura retratam a importância da empresa no trato com a cultura e com o saber. Eis os números que o sítio apresenta: - 5 anos de atividade; - 2,5 mil atividades realizadas; - Mais de 400 mil freqüentadores; - 260 programas editados, 4 exibições semanais na TV, com 150 mil telespectadores por exibição na Grande São Paulo (fonte: IBOPE); - Mais de mil registros em vídeo no acervo.13 Além dessas importantes formas de divulgação, uma forma específica, não citada, nos chama a atenção: sítio da CPFL Cultura. Eis o objeto a ser analisado pelo presente trabalho. 3. CPFL CULTURA E A INTELECTUALIDADE: MAIS DO MESMO? A fim de perquirir acerca das possíveis representações do intelectual no campo da internet optou-se por observar como no sítio virtual da CPFL Cultura, esse sujeito, dito intelectualizado, vindo de ambientes eruditos e acadêmicos se mostra discursivamente. Logo em sua tela de apresentação, o site CPFL Cultura mostra um mosaico de fotos relacionadas aos eventos que a instituição patrocina ou divulga. Esses eventos envolvem desde a apresentação dos vídeos dos Cafés Filosóficos, até informações sobre teatro, concertos e televisão. As cores que adornam o sítio aduzem uma suave combinação entre o violeta, o verde, o azul e o vermelho, sobrepujadas por um branco que se sobreleva no ambiente. Essa junção sugere a construção de um efeito de sentido de um ambiente 811 calmo, denotado por uma amena combinação de cores, que supostamente propiciam uma construção visual de um ambiente imparcial, por vezes até inerme. Essa breve análise do não-verbal, como nos dispomos a fazer ao analisar as cores, representa a mais completa utilização da "caixa de ferramentas foucaultiana" como sugere Maria do Rosário Gregolin (2008, p. 33) [...] uma análise de discursos pensada a partir da caixa de ferramentas foucaultiana deve ser um projeto que proponha compreender a formação, a circulação, a transformação das práticas discursivas. Essas práticas têm natureza semiológica, são verbais e não-verbais: são elas que Foucault propõe analisar quando fala em “outras arqueologias” e se refere à pintura [...] (GREGOLIN, 2008, p. 33, grifo nosso) Justificada a opção de análise, é preponderante retomar a descrição da tela inicial. Nesta, por meio das fotos que moldam o mosaico citado, há um realçamento da imagem dos filósofos ou pensadores com palestras ou apresentações em destaque na semana. Ademais, há uma barra de ferramentas horizontal que propicia ao usuário um contato com os conteúdos oferecidos pelo sítio. Dividida em quatro partes a paleta conta com as seguintes seções: Institucional; Programação, na qual há uma datação dos principais eventos a serem apresentados; Multimídia, onde é possível encontrar vídeos, entrevistas, podcasts; e Ao vivo, que abre a possibilidade de acesso em tempo real às principais palestras que sítio divulga. Na seção Institucional, há uma apresentação do programa da instituição, além de uma exposição das formas de participação, de acesso, da composição da equipe da empresa, das principais dúvidas relacionadas ao programa e um tour virtual dos espaços disponíveis para os eventos. Para disponibilizar esses conteúdos, a referida seção se divida em sete subseções: O que é; Como participar; Como chegar; Tour virtual; Equipe; Imprensa; e Dúvidas. Para iniciar a análise, é preponderante mencionar o modo como o sítio é apresentado na subseção O que é da seção Institucional. Consta na mesma que: [...] a CPFL Cultura não é apenas um espaço, mas um conceito. [...] A CPFL Cultura prima pela multiplicidade, o diálogo e a diferença e, desta maneira, busca cruzar as fronteiras dos públicos, das disciplinas e das visões de mundo para refletir, experienciar e inventar o contemporâneo.14 Pelo enunciado, fica evidente a fala de uma instituição que se pretende neutra, democrática. Tal formação discursiva se evidencia pela utilização dos vocábulos 812 “multiplicidade”, “diálogo”, e “diferença". Essa FD 15 é própria de um momento histórico em que se exige adoção de uma atuação sócio-ambiental das empresas. Segundo SILVA & QUELHAS (2006), no mundo contemporâneo: É crescente a valorização das questões ambientais no segmento empresarial, atendendo às novas exigências legais, de mercado e da sociedade em geral. O enfoque econômico, antes preponderante no planejamento, vem sendo substituído por um conceito mais amplo de desenvolvimento sustentável [...] (SILVA & QUELHAS, 2006, p. 385) A citação apresentada mostra como para que uma empresa adquira uma boa fama empresarial na contemporaneidade não basta que ela simplesmente apresente bons produtos ou serviços adequados, mas que ela atue em respeito aos componentes sociais, ambientais e culturais. Ainda segundo SILVA & QUELHAS (2006), o termo sustentabilidade não se reduz ao campo ambiental: O conceito de desenvolvimento sustentável vem se aprimorando ao longo do tempo, num processo contínuo de reavaliação da sociedade em relação ao crescimento econômico e meio ambiente. Seus princípios devem corresponder aos anseios da própria sociedade, refletindo seu contexto socioeconômico e cultural. Por seu lado, o segmento corporativo tem buscado o equilíbrio entre o que é viável em termos econômicos e o que é ecologicamente sustentável e socialmente desejável. (SILVA & QUELHAS, 2006, p. 393). Essa contextura justifica a fala do sítio. O excerto a seguir extraído da subseção O que é confirma tal ilação: Todas as atividades realizadas pela CPFL Cultura são gratuitas. A programação é aberta a todas as correntes de pensamento, sem predominância de nenhuma ideologia, a fim de contribuir para o aproveitamento das possibilidades do tempo presente e planejamento futuro. Sustentabilidade e responsabilidade corporativa fazem parte da estratégia da CPFL Energia. Além de agir para promover e disseminar a cultura no País, a empresa incorpora o desenvolvimento sustentável e inclusivo em sua visão e em suas atividades. A CPFL Cultura é um dos principais programas de responsabilidade corporativa da empresa e a elaboração de seu conteúdo contribui para o desenvolvimento de modelos mais sustentáveis e inclusivos de desenvolvimento.16 Ao enunciar os vocábulos “sustentabilidade” e “responsabilidade corporativa”, a empresa pretende criar o sentido de uma instituição responsável socialmente. Fica evidente a FD da responsabilidade social empresarial. O lugar discursivo que advém dessa formação representa um discurso propagandístico hodierno, no qual é 813 preponderante que uma empresa se apresente discursivamente enquanto neutra, sem ideologias, para que possa ter maior visibilidade mercadológica. Essa enunciação própria do campo empresarial e publicitário da contemporaneidade, cria o efeito de sentido de uma empresa preocupada com a questão mercadológica, na qual para que a mesma tenha uma boa imagem é preponderante que ela se mostre socialmente responsável e incentivadora da cultura. Sobre as condições de possibilidade de recepção, o usuário ou internauta que se tem acesso ao sítio, tende a ver a empresa de forma positiva, e enquanto uma instituição incentivadora do saber e da cultura. Assim, a posição discursiva que o site se imputa é a da democracia, do saber sem paradigmas, sem dogmas. Em tal FD, o intelectual aparece como mero joguete do discurso propagandístico da empresa. Não que o mesmo seja um "pau-mandado" com o intuito de propagandear abertamente o discurso da empresa nas palestras. Ao contrário, esse servilismo só se torna aparente no âmbito discursivo, onde ressurte o jogo entre saber e poder. Segundo Foucault o poder: [...] não é em si mesmo uma violência que, às vezes, se esconderia, ou consentimento que, implicitamente, se reconduziria. Ele é um conjunto de ações sobre ações possíveis; ele opera sobre o campo de possibilidades onde se inscreve o comportamento dos sujeitos ativos; ele incita, induz, desvia, facilita, ou torna mais difícil, amplia ou limita, torna mais ou menos provável; no limite, ele coage ou impede absolutamente, mas é sempre uma maneira de agir sobre um ou vários sujeitos ativos, e o quanto eles agem ou são suscetíveis de agir. Uma ação sobre ações. (FOUCAULT, 1995, p. 243) Chama a atenção que o intelectual que aparece no sítio se mostra como um sujeito que segue os mesmos ditames discursivos da empresa, e desse modo, também se apresenta “sem dogmas”, pretensamente democrático, quase apolítico. Essa posição neutra perpassa uma prática discursiva contida ao sítio, e que se estende a um modus operandi do intelectual na contemporaneidade. Isso fica evidente pelas palavras de Semeraro (2006, apud VATTIMO, 1996, p. 182), segundo o qual, na contemporaneidade: [...] a figura do intelectual "engajado" entra em declínio e fala-se cada vez menos de intelectuais "orgânicos", das "classes" trabalhadoras, de "militantes" e de educadores populares. Por toda parte, despontam gestores, intelectuais céticos e políticos pragmáticos. As convicções de princípio, a visão de conjunto e a revolução são suplantadas pela incerteza e o pensamento da "errância", pelo gosto do particular e o narcisismo privado. (VATTIMO, 1996, p. 182, apud, SEMERARO, 2006) 814 Pelo excerto é possível perceber que a representação contida no sítio difere no que tange à forma, da representação clássica da intelectualidade: caracterizada em geral pelo sujeito que se mostra como uma figura orgânica, politizada, engajada com questões de classe, de partido, etc. Ao mesmo em que existe tal evidente distinção, há também uma semelhança quanto à função: uma vez que segundo o sítio é tarefa do mesmo "iluminar o caos contemporâneo e trazer material para pensar nossos afetos e conflitos". (QUEM, s.d., Acesso em: 10 mai. 2010). Isto quer dizer que embora exista essa distinção quanto à politização do intelectual, há uma semelhança no que concerne à sua função: de suscitar o avesso, o diferente. Em outros termos, a representação do intelectual na contemporaneidade não tem uma forma estática, cerceada a uma função política. Mas ao contrário, uma das FDs que se destacam no site mostra o mesmo como um democrata, como um sujeito quase um apolítico, mas que ainda detém com a premissa de ser a luz no fim do túnel, ou como diz Steve Fuller (2006, p. 29): de ser "a trilha que leva ao malfeito". 4. CONCLUSÃO Concluímos este artigo ressaltando a importância do tema analisado, tanto por este perpassar um campo de crescente influência na hodiernidade, tanto pela pouca quantidade de estudos sobre o mesmo. A finalidade do presente trabalho foi suscitar formas de como a intelectualidade e o saber são tratados discursivamente no cenário da internet. Utilizou-se como corpus e - textos da subseção O que é? do site CPFL Cultura. Textos que nos auxiliaram a compreender como o discurso de uma empresa – percebido por meio do site - subsume a um momento histórico de enunciação em que se demanda discursos propagandísticos como estes. A partir do fora apresentado foi também possível notar como a estratégia de criar um discurso pretensamente inerme e democrático, de sustentabilidade, de apoio ao saber, corrobora na construção de efeitos de sentido de uma empresa dita moderna, preocupada com demandas culturais, sociais, e de sustentabilidade. O problema é que esses efeitos ocultam estratégias discursivas que trazem consigo uma posição instituidora do saber, que determina quais falas intelectuais 815 participarão dos encontros, dos cafés, e divulgação midiática. Em outros termos, ao cumprir com uma demanda empresarial moderna e se enveredar no campo da cultura, da intelectualidade e do saber, o sítio acaba por padronizar conceitos e instituir estratégias de saber em um meio com um potencial de saber amplamente iconoclasta: a cibermídia. Diante de tal padronização, a figura do intelectual aparece como mero joguete na estratégia de empresa moderna. Como fora dito, não que o mesmo seja um "fâmulo" com a obrigação de propagandear abertamente o discurso da empresa nas palestras. Ao contrário, esse servilismo só se torna perceptível no campo discursivo. E como exposto no final do capítulo anterior, apesar do intelectual atuar discursivamente em consonância ao discurso do sítio, no que tange à sua funcionalidade, o intelectual contemporâneo não se difere da figura clássica que era imbuído dentre outras coisas de problematizar o mundo que o cerca: assim, observadas as devidas distinções, haveria um pouco do mais do mesmo. No que concerne às condições de possibilidade de recepção, o usuário comum do sítio acaba por ter pouca ou nenhuma interferência nos conteúdos apresentados. Situação que demonstra como um saber tratado a priori como democrático se apresenta, na verdade, de forma completamente institucionalizada. Essa institucionalização engendra a possibilidade de se pensar em consonância com o pensamento foucaultiano e afirmar a que cibermídia é mais um meio onde há um continuo deslocamento de subjetividades, que possibilitam ao homem um múltiplo contato com subjetividades distintas, e que o fazem cada vez mais um produto de construções históricas. Ao concluir, espera-se que o presente artigo tenha traçado satisfatoriamente as bases para o entendimento do tema abordado, e desta forma, possibilitado uma macro visão exemplificativa de como a cibermídia atua na abordagem da intelectualidade e do saber. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BAUMAN, Identidade. Tradução de Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005. 816 BERGHEL, H. BERLEANT D. . The challenge of customizing cybermedia. Heuristics. 7. Summer/Fall 1994, pp. 33-43. Disponível em : <http://ifsc.ualr.edu/jdberleant/papers/challenge.pdf> Acesso em : 06 mai. 2010. BOURDIER, Pierre. Homo Academicus. 1.ed. 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Acesso em: 01 mar. 2010 NOTAS BIBLIOGRÁFICAS 1 Mestrando do Programa de Pós-Graduação - Mestrado em Linguística da Unifran, discente pesquisador do grupo de pesquisa GTEDI, UNIFRAN. 2 Doutora, Coordenadora, Docente e pesquisadora da Programa de Pós-Graduação - Mestrado em Linguística da Unifran, e pesquisadora do grupo de pesquisa GTEDI, UNIFRAN. 3 O poder propriamente universitário está fundado principalmente no domínio dos instrumentos de reprodução do corpo professoral, jurado de agregação, comitê consulttivo das universidade ( que designa os professores titulares), ou seja, na posse de um capital que se adquire na universidade, especialmente na École Normale, e que é exercido principalmente pelos professores da Universidade de Sorbonne, em especial das disciplinas canônicas, muitas vezes filhos de docentes, professores de ensino secundário ou superior, e especialmente os professores, que atuam quase exclusivamente dentro da universidade (francesa). (BOURDIER, 2006, p. 136, tradução nossa) 4 No presente trabalho o intelectual é pensado enquanto um construto discursivo, histórico e cultural. 5 Ciberespaço, nesse sentido, é a união de fontes de informação multimídias que são acessíveis através das redes digitais por meio de tecnologias de cliente-servidor. Como um trabalho de caracterização, nos referimos a todo o corpo da informação multimídia, como CyberMedia. Atualmente a CyberMedia é composta por informações de áudio (por exemplo, Internet Talk Radio) por exemplo, informações (vídeo, vídeos mpeg), programação av filmes), imagens 3D e animações (por exemplo, os arquivos 3DRender), animações interativas algorítmicas via telnet, o texto convencional + gráficos,e muito mais. O trabalho do laboratório está em andamento para trazer todo o espectro de sentidos informação sob a rubrica CyberMedia [...].(BERGHEL; BERLEANT, 1994., Acesso em: 06 mai. 2010, tradução nossa) 6 O saber tomado enquanto objeto no presente trabalho não diz respeito a formas de conhecimento ordinárias, dadas no dia-a-dia, ou no simples contato de um indivíduo com sua realidade. Esse vocábulo é aqui circunscrito ao saber dito intelectual, acadêmico, associado às artes, à filosofia, à literatura, e à cultura erudita de um modo geral (GUILHAMOU, 2004, Acesso em : 01 mai. 2010, tradução nossa). 7 Não serão analisados textos virtuais de todo o sítio, apenas da seção chamada Institucional, na subseção O que é: uma parte do site dedicada à apresentação de seu espaço virtual e da filosofia da empresa CPFL Cultura. 8 […] o gesto inaugural da análise do discurso envolve uma transmutação, no sentido que imediatamente se destaca e que permanece na abordagem discursiva do material empírico produzido no horizonte de um sujeito emancipado, uma ligação consubstancial entre materialidade da língua e a discursividade do arquivo. 9 CPFL ENERGIA. História. Disponível em: <http://www.cpfl.com.br/HistóriaCPFLEnergia/tabid/106/Default.aspx>. Acesso em: 01 mai. 2010 10 Ibidem. Disponível em: <http://www.cpfl.com.br/HistóriaCPFLEnergia/tabid/106/Default.aspx> Acesso em: 02 mai. 2010 11 CPFL CULTURA. O que é. Institucional. Disponível em: <http://www.cpflcultura.com.br/site/o-quee/>. Acesso em: 02 mai. 2010 12 Ibidem. 13 Ibidem. 14 Ibidem. 15 A partir desse ponto utilizaremos o termo “FD” para designer as formações discursivas. 16 CPFL CULTURA. Loc. Cit. Disponível em: <http://www.cpflcultura.com.br/site/o-que-e/>. Acesso em: 02 mar. 2010.