! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! Anais do ! V Seminário Nacional Sociologia & Política ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! 14, 15 e 16 de maio de 2014, Curitiba - PR! ISSN: 2175-6880 POLÍTICA E DEMOCRACIA EM MAX WEBER, ALGUMAS CONSIDERAÇÕES. Luana Thaysa Piola1 Fernando Cavalheiro Maciel2 Resumo Este texto tem por objetivo contextualizar o pensamento político de Max Weber, identificando o conteúdo dos conceitos de representação na ordem sócio-política, analisando para tanto o período estudado por tal autor em seu contexto político, a Alemanha do século XX, apresentando como os conceitos de sua teoria mesmo em esferas diferentes estão interligadas, sendo pela imposição da burocracia a determinada forma de regime político ou a racionalidade técnica que deve, segundo Weber, ser empregada para o melhor funcionamento de um sistema de governo, quer seja ele um parlamentarismo “puro” ou um presidencialismo (plebiscitário), observando para tanto a transição do pensamento do próprio autor a cerca dos regimes expostos. PALAVRAS-CHAVES: Max Weber; Democracia; Burocracia Estatal. Resumen Este texto tiene como objetivo contextualizar el pensamiento político de Max Weber, la identificación del contenido de los conceptos de representación en el orden socio-político, tanto para analizar el período estudiado por este autor en su contexto político, Alemania del siglo XX, que muestra cómo los conceptos de su teoría, incluso en diferentes ámbitos están interconectados, y la imposición de la burocracia forma particular de régimen político o la racionalidad técnica que debería, según Weber, se emplea para mejorar el funcionamiento de un sistema de gobierno, ya sea que el parlamentarismo "pura "o el presidencialismo (plebiscito), observando tanto la transición a la propia reflexión del autor sobre los programas expuestos. PALABRAS LLAVES: Max Weber, la democracia, la burocracia del Estado. 1 Acadêmica do Curso de Direito da Faculdade Cenecista de Joinville – FCJ – 3º ano. e-mail: [email protected]. 2 Acadêmico do Curso de Direito da Faculdade Cenecista de Joinville – FCJ – 3º ano. e-mail: [email protected] Sumário: Introdução; 1. Weber e a teoria política 1.1 O Estado 1.2 A política 1.3 A representação 1.4 A democracia 2. Contexto Político: A Alemanha de Weber 3. Política, burocracia e racionlização 4. Democracia Parlamentar (Parlamentarismo) 4.1 Democracia Parlamentar em face do Cezarismo 4.2 Alemanha Pós I Guerra Mundial e a Democracia Plebiscitaria (Presidencialismo). Considerações Finais; Referências bibliográficas. Introdução O presente artigo procura trazer algumas conclusões parciais a partir do projeto de iniciação científica iniciado em 2013 no curso de Direito da Faculdade Cenecista de Joinville (FCJ) tratando do tema da história da democracia e sob a orientação do Prof. Msc. Mauricio Mesurini da Costa. O objetivo geral da pesquisa é analisar o pensamento político de Max Weber, verificando para tanto os conceitos de seus escritos políticos para então adentrar ao período analisado, a política alemã do século XX, observa-se as mil facetas do autor que trabalha no campo sócio-político trazendo considerações importantes, interligando seus conceitos para a construção e/ou declínio para novas teorias no período analisado. O presente estudo mostrará que toda relação política, no Estado moderno, é marcada pela burocracia, fator este essencial para as bases de um governo, qualquer seja ele, implicando em consequências que, se não observadas levam ao declínio de tal regime a outro, esta é uma imposição de natureza histórica, tendo em vista a burocracia decorrer da dominação, um dos conceitos-chave da teoria weberiana, sendo a mesma o elemento legitimador, assim, tal estudo seguirá a política alemã do século XX juntamente com a teoria de Weber, verificando o que levou tal pensador a formular o conceito de parlamentarismo plebiscitário. Convém ressaltar que o trabalho se reservará a análise do recorte histórico já apresentado, tendo em vista a vastidão de possibilidade e analises decorrentes da teoria weberiana, sendo esta uma análise dos conceitos político de tal autor neste determinado contexto. 1. Weber e a Teoria Política, alguns conceitos. Quando pensamos em teoria política, antes de adentrar a problemática devemos ter em mente o contexto estrutural da época analisada, no nosso caso, a estrutura política alemã, mais especificadamente a política alemã do século XX, a reflexão de Max Weber3 acerca da política está fundada no liberalismo, já que o mesmo propunha um equilíbrio entre direito, poder, lei e força, assim para chegarmos a essa conclusão passaremos, de forma singela, a alguns pontos essências para a compreensão dos conceitos políticos weberianos, buscando: o Estado, a política, a representação e a democracia4, e a partir de tais dados construir a linha política do Autor. 1.1 O Estado Para Weber Estado nada mais é do que o monopólio da violência legítima, “Evidentemente, a coação não é o meio normal ou o único do Estado - não se cogita disso -, mas é seu meio específico. No passado, as associações mais diversas - começando pelo clã - conheciam a coação física como meio perfeitamente normal. Hoje, o Estado é aquela comunidade humana que, dentro de determinado território - este, o "território", faz parte da qualidade característica -, reclama para si (com êxito) o monopólio da coação física legítima, pois o específico da atualidade é que a todas as demais associações ou pessoas individuais somente se atribui o direito de exercer coação física na medida em que o Estado o permita. Este é considerado a única fonte do "direito" de exercer coação.”5 Assim, temos por Estado a relação de dominação de homens sobre homens, apoiada na coação legítima, devendo as pessoas dominadas reconhecer a legitimidade dos que os dominam em dado momento, quando, porque e como o fazem já são características internas e externas de determinada comunidade da qual se apoiam a dominação6e sua natureza. 3 “Max Weber nasceu e teve sua formação intelectual no período em que as primeiras disputas sobre a metodologia das ciências sociais começavam a surgir na Europa, sobretudo em seu país, a Alemanha. Filho de uma família da alta classe média, Weber encontrou em sua casa uma atmosfera intelectualmente estimulante. Seu pai era um conhecido advogado e desde cedo orientou-o no sentido das humanidades. Weber recebeu excelente educação secundária em línguas, história e literatura clássica. Em 1882, começou os estudos superiores em Heidelberg, continuando-os em Göttingen e Berlim, em cujas universidades dedicou-se simultaneamente à economia, à história, à filosofia e ao direito. Concluído o curso, trabalhou na Universidade de Berlim, na qualidade de livre-docente, ao mesmo tempo que servia como assessor do governo. Em 1893, casou-se e, no ano seguinte, tornou- se professor de economia na Universidade de Freiburg, da qual se transferiu para a de Heidelberg, em 1896. Dois anos depois, sofreu sérias perturbações nervosas, que o levaram a deixar os trabalhos docentes, só voltando à atividade em 1903, na qualidade de co-editor do Arquivo de Ciências Sociais (Archiv für Sozialwissenschaft), publicação extremamente importante no desenvolvimento dos estudos so ciológicos na Alemanha. A partir dessa época, Weber somente deu aulas particulares, salvo em algumas ocasiões, em que proferiu conferências nas universidades de Viena e Munique, nos anos que precederam sua morte, em 1920.” WEBER, Max. Textos Selecionados. Trad. Maurício Tragtenberg. 2ª ed. São Paulo: Abril Cultural, 1980, p. 6 - 7. 4 SILVA, Lílian Lenite da; AMORIM, Wellington Lima. Política, democracia e o conceito de “representação política” em Weber. Revista Interdisciplinar Científica Aplicada, Blumenau, v.2, n.4, p.01-16, Sem II. 2008, p. 2 5 WEBER, Max. Economia e sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. Trad. Regis Barbosa e Karen Elsabe Barbosa; Revisão técnica de Gabriel Cohn - Brasília, DF: Editora Universidade de Brasília: São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 1999. p. 525-526. 6 Para maior esclarecimento de tal pontuação, na teoria weberiana a dominação pode ser pautada em três grandes tipos: 1. de caráter racional: baseado na crença na legitimidade das ordens estatuídas e do direito de mando daqueles que, em virtude dessas ordens, estão nomeados para exercer a dominação (dominação legal, ou; 2. de caráter tradicional: baseada na crença cotidiana na santidade das tradições vigentes desde sempre e na legitimidade daqueles que, em virtude dessas tradições, representam a autoridade (dominação tradicional) ou, por fim; 3. de caráter carismático: 1.2 A política Já pelo conceito de política temos a tentativa de participar no poder, quer seja influenciando a distribuição do mesmo entre vários Estados, seja dentro de um Estado entre os grupos de pessoas que este abrange, tanto por que, Weber distingue no conceito de política duas acepções, uma geral e outra restrita. No sentido mais amplo, política é entendida por ele como “qualquer tipo de liderança independente em ação”. No sentido restrito, política seria liderança de um tipo de associação específica; em outras palavras, tratar-se-ia da liderança do Estado. Este, por sua vez, é defendido por Weber como “uma comunidade humana que pretende o monopólio do uso legítimo da força física dentro de determinado território”.7 Isto corresponde, em um exemplo citado pelo próprio Weber, ao uso da palavra na linguagem corrente, quando se diz que uma problemática é uma questão "política", de um ministro ou funcionário que é um funcionário "político", de uma decisão que é "politicamente" condicionada, sempre se tem em mente que interesses de distribuição, conservação ou deslocamento de poder é decisivo para a solução daquela questão, condicionam aquela decisão ou determinam a esfera de ação daquele funcionário. Assim, quem pratica política, reclama poder: poder como meio ao serviço de outros fins ideais ou egoístas -, ou poder "pelo próprio poder", para deleitar-se com a sensação de prestígio que proporciona8. 1.3 A representação Por representação, Weber entende a ação de determinado representante de um grupo, partido ou associação, lembrando que como já exposto, todas as ações são atribuídas aos representantes de modo legítimo, ou seja, partem do pressuposto da dominação, existindo em cada sociedade e em cada momento histórico sua particularidade que vem a corresponder a um dos tipos de representações, baseada na veneração extracotidiana da santidade, do poder heróico ou do caráter exemplar de uma pessoa e das ordens por esta reveladas ou criadas (dominação carismática). 7 WEBER, Max. Textos Selecionados. Trad. Maurício Tragtenberg. 2ª ed. São Paulo: Abril Cultural, 1980, p. 14. 8 WEBER, Max. Economia e sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. Trad. Regis Barbosa e Karen Elsabe Barbosa; Revisão técnica de Gabriel Cohn - Brasília, DF: Editora Universidade de Brasília: São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 1999. p. 526. A tipologia apresentada por Weber é a seguinte: 1. Representação apropriada: “um membro do quadro administrativo tem por apropriação o direito de representação (...). O poder representativo tem dimensão tradicional”. Exemplo: esse tipo de representação acontece em associações de todas as espécies e principalmente nas patrimoniais, por isso que é apropriada. 2. Representação estamental; é a por direito próprio, são direitos e privilégios apropriados. “Mas adquire caráter de representação na medida em que o efeito da aprovação de um acordo estamental atinge, além da pessoa do privilegiado, as camadas nãoprivilegiadas”. Exemplo: este tipo de representação acontece em todas as cortes feudais e grupos estamentais na baixa idade média e moderna alemã. 3. Representação vinculada; são “representantes eleitos (ou determinados por outro meio semelhante), cujo poder representativo é limitado interna ou externamente por mandato imperativo e direito de revogação, e vinculado dos representados”. Exemplo: representantes eleitos foram encontrados nas comunas francesas e nas repúblicas sovietes. 4. Representação livre: os representantes livres são também eleitos, porém, não devem favores ou seguem interesses dos seus delegantes, exceto por sua livre e espontânea vontade. No caso da eleição do representante, ele é somente senhor dos seus eleitores, e não o seu servidor. Adotaram especialmente esse caráter as modernas representações parlamentares, as quais tem em comum, nesta forma, a objetivação geral – vinculação a normas abstratas (políticas, éticas) – que é a característica do poder legal”. Exemplo: parlamentos.9 Analisando os quatro tipos expostos o que mais se aproxima do Estado moderno é a última forma de representação, que caberá também na analise aqui realizada, vejamos que, o que passa do representante ao representado nada tem em haver com a vontade, pois a atividade do governo não é guiada por ela mas sim pela razão, o governo não é feito de atos de vontade, mas sim de juízo racional, e se passarmos tal analise ao parlamento, iremos perceber que seus membros não confrontam vontades, mas interesses, que divergem entre os membros, e interesses locais a interesses de toda uma comunidade10. Assim, a relação entre representante e representado é muito mais de ruptura do que de continuidade, o que leva a representação ser um processo de legitimidade onde um deve mostrar ao outro que seus ideais são os mesmos, mantendo as bases da dominação legítima que o levou ao poder. 1.4 A democracia 9 SILVA, Lílian Lenite da; AMORIM, Wellington Lima. Política, democracia e o conceito de “representação política” em Weber. Revista Interdisciplinar Científica Aplicada, Blumenau, v.2, n.4, p.01-16, Sem II. 2008, p. 11-12. 10 COSTA, Pietro. Poucos, muitos, todos: lições de história da democracia; trad. Luiz Ernani Fritoli. Curitiba. Editora da UFPR, 2012. p. 87-8 Tal temática encontra relevante discussão na obra de Max Weber, para ele democracia é – como para Tocqueville – antes mesmo que uma forma de regime, uma condição de civilização: o caráter de uma civilização que encontra na igualdade dos seus membros o seu traço característico11. Porém tal determinante traz o outro lado, uma vez igualados os membros em seus direitos políticos acabam por trazer não somente a democracia, mas trazem consigo a burocracia, que é de toda forma a marca do Estado moderno. Assim, Weber visualizava a democracia em seu sentido procedimental, ou seja, como sistema de escolhas de lideranças políticas pelas massas, sem, entretanto, ultrapassar esse limite no que diz respeito à participação popular na condução política da nação. Uma vez exercido o direito de voto e sagrados os vencedores do pleito eleitoral, a vontade popular estaria atendida, cabendo aos seus representantes, de maneira autônoma, a direção governamental do país.12 Construindo a seguinte linha, a democracia proclama a igualdade política entre os sujeitos, que por sua vez traz a igualdade na submissão ao poder da burocracia, sendo ela inseparável do sufrágio universal13, o que condiciona a existência dos partidos, tema trabalhado pelo autor interligado com o conceito de democracia14. 2. Contexto histórico: A Alemanha de Weber Como bem se pode observar a vida e o pensamento de Weber são expressões de fatos e acontecimentos políticos, Suas posições devem ser compreendidas em termos dos contextos privados, bem como dos acontecimentos públicos, constituem um tema inseparavelmente ligado a Weber como homem e intelectual, pois ele foi homem político e um intelectual político. 15 11 COSTA, Pietro. Poucos, muitos, todos: lições de história da democracia; trad. Luiz Ernani Fritoli. Curitiba. Editora da UFPR, 2012. p. 271. 12 VALENTE, Manoel Adam Lacayo. Democracia em Max Weber. Revista de Informação Legislativa. Brasília a. 41 n. 164 out./dez. 2004. 149-155. p. 149-150 13 COSTA, Pietro. Poucos, muitos, todos: lições de história da democracia; trad. Luiz Ernani Fritoli. Curitiba. Editora da UFPR, 2012. p. 272. 14 Para Weber a democracia não pode abrir mão dos partidos, mas os partidos não são somente a vontade do demos mas sim a confirmação do primado da elite, e esse vinculo além de ser uma necessidade histórica vem a ser uma vantagem para a civilização moderna, pois é a única força que pode exprimir uma liderença capaz de conter a onipotência da burocracia. COSTA, Pietro. Poucos, muitos, todos: lições de história da democracia; trad. Luiz Ernani Fritoli. Curitiba. Editora da UFPR, 2012. p. 272. 15 AMORIM, Aluízio Batista de. Elementos de Sociologia do Direito em Max Weber. Florianópolis: Insular, 2001, p.46 Assim também foi um sociólogo que se interessa pela sociedade partindo pela coisa pública, ou seja, suas estruturas e construções políticas, tanto é a paixão de Weber pela politica que chegara a ser apelidado de “Maquiavel Alemão” pois, Como Maquiavel, é um desses sociológos nostálgicos da ação politica, e desejava participar da luta politica e exercer o poder. Sonhava em ser estadista. Na verdade ele não foi um homem politico, mas somente um conselheiro do príncipe, conselheiro que não foi ouvido como ele confessa. 16 Nascido no antigo Estado alemão imperial, Weber assistiu o processo de unificação da Alemanha, sendo um crítico desse regime autoritário-burocrático17. Weber ao escrever sobre o legado de Bismarck afirma que, O grande estadista não deixou nenhuma tradição política. Ele não atraía e nem mesmo tolerava cabeças independentemente políticas, para não mencionar personalidades fortes politicamente. Além disso tudo, constituiu infortúnio para a nação o fato de que ele nutria intensa desconfiança para com todos os seus vagamente possíveis sucessores, e, ainda, de que tinha um filho cujos talentos políticos excessivamente medíocres Bismarck superestimava. Um parlamento completamente impotente foi o resultado puramente negativo de seu tremendo prestígio. É sabido que, após ter deixado o cargo e experimentado pessoalmente a conseqüência dessa condição, Bismarck acusou-se de ter cometido um erro. Contudo, essa impotência do parlamento significava também que o nível intelectual de seus componentes estava reduzido grandemente. A ingênua lenda moralizadora de nossos críticos apolíticos inverte a relação de causa e assegura que o parlamento permaneceu merecidamente impotente devido ao baixo nível da vida parlamentar. Mas fatos e considerações simples revelam o estado real das coisas, que aliás é evidente a toda pessoa que raciocina. O nível do parlamento depende da condição de que este não simplesmente debata grandes questões, mas de que as solucione decisivamente; em outras palavras, sua qualidade depende da seguinte alternativa: o que ocorre no parlamento tem realmente importância ou o parlamento não passa de um mal tolerado boi de presépio de uma burocracia dominante18. Assim é possível identificar os pontos dos quais Weber tinha total aversão, o governo de Bismarck deixou por legado a baixa formação política, uma nação sem senso crítico, cômoda, sem qualquer tipo de vontade - ação - política. Do exposto temos o conceito puro de “parlamento” uma democracia representativa, entendida por ele como “acéfala”, um governo sem lideranças, e através dela o motiva a formular sua concepção de democracia plebiscitária, como nova estrutura da liderança política. 16 AMORIM, Aluízio Batista de. Elementos de Sociologia do Direito em Max Weber. Florianópolis: Insular, 2001, p.46 17 AMORIM, Aluízio Batista de. Elementos de Sociologia do Direito em Max Weber. Florianópolis: Insular, 2001, p.47 18 WEBER, Max. Textos Selecionados. Trad. Maurício Tragtenberg. 2ª ed. São Paulo: Abril Cultural, 1980, p. 38 3. Política, burocracia e racionalização. Antes de adentrarmos aos conceitos de democracia existentes na Alemanha do século XX ou no conceito de democracia plebiscitária e o porquê de sua formulação, faz-se necessária esta etapa metodológica, para dar conta de todo o exposto a seguir. Politica e democracia, estes conceitos para Weber caminham lado a lado, a politica como conceito mais amplo vem a ser a união de sujeitos para a criação de uma associação – ou qualquer outro nome que se queira conceder – para impor a determinado grupo algo, no esquema dominador e dominadores, deste conceito temos o Estado moderno que possui sua marca, a burocracia que por sua vez traz a racionalização, já escreveu o Autor, Em um Estado moderno, o verdadeiro poder está necessária e inevitavelmente nas mãos da burocracia, e não se exerce por meio de discursos parlamentares nem por falsos monarcas, mas sim, mediante a condução da administração, na rotina do dia-a-dia.(...) O Estado democrático, assim como o Estado absoluto, elimina a administração feudal, patrimonial, patrícia, ou de outros dignitários que exercem o poder de forma honorária ou hereditária, e a substitui por funcionários civis.(...) O moderno exército de massa também é um exército burocrático.19 Sua análise vem da compreensão do Estado alemão, escrevendo a partir dessa realidade, sendo a burocracia e a racionalização concomitantes, e por assim ser a política também, tendo em vista o Estado estar marcado por estas características que são levadas a política, já que “num Estado Moderno necessário e inevitavelmente a burocracia realmente governa, pois o poder não é exercido por discursos parlamentares nem por proclamações monárquicas, mas através da rotina da administração”20. 4. Democracia Parlamentar (Parlamentarismo) O Weber “pós Unificação da Alemanha e governo de Bismark” busca reorganizar a Política do Estado Nacional Alemão. Para ele essa reorganização deveria acontecer por uma Democracia Parlamentar ativa, pois somente um parlamento com responsabilidade governativa satisfaria aos dois grandes desafios da liderança política, a saber: 1) a preponderância do político 19 WEBER, Max. Textos Selecionados. Trad. Maurício Tragtenberg. 2ª ed. São Paulo: Abril Cultural, 1980, p. 39 WEBER, Max. Parlamentarismo e governo numa Alemanha reconstruída. 2º edição. São Paulo: Abril Cultural, 1980. p. 16 20 sobre o burocrático e, 2) a possibilidade de seleção de políticos com vocação para a condução e liderança política.”.21 Ele observa o Parlamentarismo como uma maquina de guerra contra o Cezarismo22 e a Burocracia crescente daquele momento, então Weber busca um parlamento positivo, “atuante”, que ira se transforma em “um centro de recrutamento de líderes políticos”.23 Porque, 1– (...) o parlamento mantém um certo grau de abertura no governo. Como um foro para debater política publicamente, ela assegura a oportunidade para a expressão de idéias e interesses competitivos. 2. – (...) a estrutura da discussão parlamentar, a natureza do debate e o requisito de que, para ser-se “persuasivo” é preciso atingir um elevado padrão de oratória torna o parlamento um importante campo de testes para aspirantes a líderes (...). 3 – (...) o parlamento proporciona espaço para negociações sobre posições arraigadas. 24 Será através desse parlamento “positivo” que ira surgir líderes capazes de comandarem politicamente a Alemanha que está segundo weber em decadência, pois o legado deixado pelo governo cezarista de Bismark e a dominação dos “Junkers Prussianos”25 naquele momento ainda estava muito presente de modo psicológico na sociedade, a mesma vai ser considerada por Weber como uma sociedade “a-historia e apolítica”26 Max weber pensava no futuro da nação alemã, procurava inserir na sociedade um pensamento nacionalista de crescimento estatal, para haver uma maior preocupação política e, sobretudo um crescimento econômico (industrialização). Parlamentarismo até esse momento seria a estrutura política que iria viabilizar esses desejos weberianos. 4.1 Democracia Parlamentar em face do Cezarismo 21 SELL. Carlos Eduardo. Max Weber: Democracia Parlamentar Ou Plebiscitária?. Rev. Sociol. Polít., Curitiba, v. 18, n. 37, p. 137-147, out. 2010. p. 10 22 Pietro Costa explica que o Cezarismo é “um tipo de poder, centralizado e autoritário sim, e todavia não confundível com uma ditadura “clássica”: um poder que não se sustenta somente pela força coativa e pela repressão, mas ao jogar suas cartas conta não só com os instrumentos de controle, mas também com o envolvimento do povo, com a celebração do sufrágio universal. São os “todos” a estabelecer uma união direta com o chefe e é aos “todos” que o chefe se dirige, começando a desenvolver técnicas de persuasão funcionais ao fortalecimento dessa união privilegiada” COSTA, Pietro. Poucos, muitos, todos: lições de história da democracia; trad. Luiz Ernani Fritoli. Curitiba. Editora da UFPR, 2012, p 224. 23 WEBER, Max. O Estado Nacional e a Política Econômica. São Paulo: Ática 2003. p 75. 24 SILVA, Lílian Lenite da; AMORIM, Wellington Lima. Política, democracia e o conceito de “representação política” em Weber. Revista Interdisciplinar Científica Aplicada, Blumenau, v.2, n.4. p 9 25 Eram denominados “Junkers” os membros da nobreza constituída por grandes proprietários de terras nos estados alemães anteriores e durante o 2.º Reich nas palavras de Weber “Qualquer pessoa que os conheça pessoalmente apreciára, sem dúvida a sua companhia na caça, junto a um bom copo, ou no jogo de cartas; e, em suas casas hospitaleiras, tudo é autêntico. Mas tudo se torna espúrio quando estilizamos essa camada essencialmente “burguesa” de Empresarios para fazer dela uma “aristocracia”. Economicamente os “Junkers” dependem totalmente de sua atividade como empresarios agícolas”. WEBER, Max. Textos Selecionados. Trad. Maurício Tragtenberg. 2ª ed. São Paulo: Abril Cultural, 1980. 26 WEBER, Max. O Estado Nacional e a Política Econômica. São Paulo: Ática 2003. p. 75 Na teoria weberiana está presente o temor da irracionalidade das massas e do cezarismo que predominou na França com a era Napoleônica e a própria Alemanha com o governo de Bismark. Nesse sentido ele “caracteriza a democracia moderna como uma democracia essencialmente plebiscitária. Em Parlamento e Governo, Weber apontou para este fenômeno chamando a atenção para o “modo cesarista de seleção”.”27 Segundo Sell para Weber “no âmbito da democracia, o parlamento funciona como um corretivo racional dos impulsos emocionais das massas” pois o perigo é que toda a democracia propende nesta direção. Afinal de contas, a técnica especificamente cesarista é o plebiscito. Não é o voto ou uma eleição comum, mas uma profissão de fé na chamada daquela que exige estas aclamações.28 A Democracia Parlamentar “busca avidamente eliminar os métodos plebiscitários de seleção de líderes, pois tais métodos são perigosos ao poder parlamentar”29 em suma “contra as tendências irracionalistas da democracia plebiscitária, Weber contrapõe a racionalidade da democracia parlamentar”.30 4.2 Alemanha pós I Guerra Mundial e a democracia plebiscitaria (presidencialismo) Após a derrota da “primeira guerra mundial (1918) e a abdicação do Imperador Guilherme II, a Alemanha mergulhou numa enorme confusão política”31. Weber assistia e analisava esse momento caótico do Estado nacional alemão. Foi nesse contexto histórico que o pensador alemão abruptamente viu nascer o capitalismo, a mudança para a produção de riqueza em troca de salários, massa assalariada, ela vem como uma força motriz, Esse fato econômico de extrema importância: a “separação” entre o trabalhador e o meio material de produção, de destruição, de administração, de pesquisa acadêmica, e de finanças, em geral, é a base comum do Estado moderno, em suas esferas políticas, cultural, militar, e da economia privada capitalista. Em ambos os casos, a autoridade sobre esses meios acha-se nas mãos daquele poder a quem o aparelho burocrático (de juízes, funcionários, oficiais, supervisores, escrivães e sub-oficiais) obedece diretamente ou a quem está sempre disponível, em caso de necessidade.32 27 SELL. Carlos Eduardo. Max Weber: Democracia Parlamentar Ou Plebiscitária?. Rev. Sociol. Polít., Curitiba, v. 18, n. 37, p. 137-147, out. 2010. p. 11 28 WEBER, Max. O Estado Nacional e a Política Econômica. São Paulo: Ática 2003. p. 75 29 WEBER, Max. O Estado Nacional e a Política Econômica. São Paulo: Ática 2003. p 75. 30 SELL. Carlos Eduardo. Max Weber: Democracia Parlamentar Ou Plebiscitária?. Rev. Sociol. Polít., Curitiba, v. 18, n. 37, p. 137-147, out. 2010. p.12. 31 ARRUDA, José Jobson de Andrade. Historia Moderna e Contemporânea. 15. ed. São Paul: Ática, 1982. p 336. 32 WEBER, Max. Textos Selecionados. Trad. Maurício Tragtenberg. 2ª ed. São Paulo: Abril Cultural, 1980, p. 40 Ou seja, há alteração no período histórico, mas perceba a burocracia continua e sempre continuará presente, marcando todo o Estado moderno, que nos conduz na direção de uma nova transição: do parlamentarismo para o presidencialismo, ou democracia plebiscitária. Weber re-avaliou sua posição a respeito do papel do parlamento no contexto da vida democrática. Como sabemos, nestes últimos textos, Weber abandona o modelo parlamentarista e advoga o modelo presidencialista como resolução dos desafios colocados à Alemanha naquele momento histórico.33 Essa ruptura com o modelo parlamentar aconteceu nas palavras de Sell porque “Weber deixou de acreditar no parlamento como mecanismo eficiente de direção política efetiva porque entendeu que este acentuava a fragmentação e dispersão política do Estado.”34 A Alemanha pós-primeira guerra mundial estava fragmentada e a nação alemã em grande parte não possuía um espirito “nacional de unidade do país”, não confiava no governo e sofria com a crise econômica, Nosso assim dito governo monárquico nada mais é do que esse processo de seleção negativa, ou, em termos mais simples, desvia todos os grandes talentos para o serviço dos interesses capitalistas. Pois apenas no terreno do capitalismo privado existe hoje algo que se aproxima de uma seleção de homens com talentos de liderança. Por quê? Porque a Gemütlichkeit (comodidade, conforto) — neste caso, a retórica dos críticos — chega ao fim, logo que interesses econômicos envolvendo milhões e bilhões de marcos e dezenas e centenas de milhares de trabalhadores são afetados. E por que não existe tal seleção no governo? Porque um dos piores legados de Bismarck foi o fato de que ele considerava necessário a seu regime cesarista buscar abrigo atrás da legitimidade do monarca. Seus sucessores, que não eram césares mas austeros burocratas, imitaram-no fielmente. A nação politicamente sem instrução aceitou a retórica de Bismarck em seu valor aparente, e os críticos forneceram o aplauso costumeiro. Isso é lógico, pois eles examinam os futuros funcionários e consideram-se funcionários e pais de funcionários. Seu ressentimento dirige-se contra todos que buscam e ganham o poder sem se legitimarem por um diploma. Desde que Bismarck tinha desabituado a nação de se preocupar a respeito de assuntos públicos e especialmente de política exterior, ela se deu ao luxo de se deixar convencer a aceitar como sendo “governo monárquico” o que na realidade era o domínio irrestrito da burocracia35 Clara fica a mudança que ocorreu em seu pensamento, tomado pelas questões do momento Weber busca o presidencialismo (Democracia Plebiscitaria) que tinha por objetivo manter a unidade do Estado, nas palavras dele “só um presidente do Reich se apoiando sobre milhões de pessoas 33 SELL. Carlos Eduardo. Max Weber: Democracia Parlamentar Ou Plebiscitária?. Rev. Sociol. Políta., Curitiba, v. 18, n. 37, p. 137-147, out. 2010. p. 13 34 SELL. Carlos Eduardo. Max Weber: Democracia Parlamentar Ou Plebiscitária?. Rev. Sociol. Polít., Curitiba, v. 18, n. 37, p. 137-147, out. 2010. p. 13 35 WEBER, Max. Textos Selecionados. Trad. Maurício Tragtenberg. 2ª ed. São Paulo: Abril Cultural, 1980, p. 61 sobre milhões de votos pode ter a autoridade que lhe permite engajar a socialização” continuando “o particularismo reclama alguém que seja o vetor da ideia de unidade do Reich” 36 Esse “Presidente do Reich” para Weber terá que ser instituído por meio de uma eleição direta, pelo sufrágio universal, que neste período, É muito mais uma aclamação periódica que confirma o carisma do líder escolhido. Em momento algum, identifica a participação das massas com a participação no poder. A participação das massas é importante na escolha dos líderes enquanto mais um fator de seleção de homens hábeis para conduzir a nação37 Assim, ele será posto no poder pelo emocional das massas. Nesse sentido podemos perceber outra mudança significativa na teoria weberiano pois agora o líder será aquele em que a massa depositara toda confiança, um “líder carismático”, que terá uma certa autonomia sobre o parlamento, que atuara “apenas , no limite, como guardião dos excessos, mas não mais da racionalidade do fluxo político”38. Pois, Os políticos, para Weber, seriam a expressão da representatividade máxima da nação e, portanto, seus condutores autorizados. A burocracia estatal ao contrário, ameaçava, com sua expansão técnica, a “saúde” da democracia e deveria ser controlada, com vigor, por lideranças carismáticas. Essa mescla de burocracia profissional, de um parlamento formado por elites e de lideranças carismáticas, formava o que o próprio Weber denominava como “democracia plebiscitária”, que constituiria “o tipo mais importante de democracia de líderes – em seu sentido genuíno, é uma espécie de dominação carismática oculta sob a forma de uma legitimidade derivada da vontade dos dominados e que só persiste em virtude desta”(...) Dessa maneira, a dominação carismática, interpretada em seu sentido original como autoritária, pode ser reinterpretada como antiautoritária, pois a potencialidade da autoridade carismática se reveste da legitimação eleitoral que ratifica o primitivo reconhecimento carismático. Nessa situação, o senhor legítimo, em virtude do próprio carisma, transforma-se em um líder livremente.39 Ele esta preocupado com a questão da burocracia e enxerga no “Presidente do Reich” um líder carismático que ira conseguir estagná-la, nesse sentido ele aplica uma “redefinição do carisma como antiautoritário” como exposto no livro “Economia e Sociedade” A redefinição do carisma como antiautoritário conduz, em regra, ao caminho da racionalidade. O dominador plebiscitário procurará geralmente apoiar-se num 36 WEBER, Max. Le président du Reich. Ouevres politiques. Paris: Albin Michel, 2004b, p.503-508. VALENTE, Manoel Adam Lacayo. Democracia em Max Weber. Revista de Informação Legislativa. Brasília a. 41 n. 164 out./dez. 2004. 149-155. p. 150 38 SELL. Carlos Eduardo. Max Weber: Democracia Parlamentar Ou Plebiscitária?. Rev. Sociol. Polít., Curitiba, v. 18, n. 37, p. 137-147, out. 2010. p. 13 39 VALENTE, Manoel Adam Lacayo. Democracia em Max Weber. Revista de Informação Legislativa. Brasília a. 41 n. 164 out./dez. 2004. 149-155. p. 152 37 quadro de funcionários que opere com rapidez e sem atritos. Quanto aos dominados, tentará vinculá-los a seu carisma, como ‘ratificado’, ou por meio de honra e glória militar ou promovendo seu bem-estar material – em certas circunstâncias, pela combinação de ambas as coisas (Weber, 1994, p.177).40 O líder carismático que será invocado por Weber para unificar o Estado Nacional Alemão, uma vez “a democracia plebiscitária weberiana se inspira nessa concepção de denominação carismático-eleitoral. O plebiscito é o instrumento de legitimação periódica do líder carismático como homem de confiança das massas”41 e ser essa a solução para o momento histórico, uma vez a “democracia plebiscitária de Weber, com a figura do líder carismático legitimado pelas urnas, foi idealizada como uma contraposição ao paradigma tradicional da democracia representativa, que ele entendia como “acéfala”, sem liderança”42. Segundo interpretação de Bobbio estas teorias foram influenciadas em conceitos já conhecidos como o “O Príncipe” de Maquiavel e o “Herói” de Hegel43. Considerações Finais O objetivo geral deste estudo foi analisar, primeiramente, os conceitos políticos de Max Weber, mostrando como sua análise da política alemã do século XX o levou a formular o conceito de democracia plebiscitária. Conhecedor da politica de sua época, Weber via a quebra do parlamento “puro” como consequência de um mau governo de Bismarck, atentando para o legado que o mesmo deixou: uma nação apolítica, através disto se faz necessária uma nova forma de governo que encontre equilíbrio entre o parlamento e as massas, aí está o brilhantismo do seu novo conceito, a legitimação das massas por meio de um presidente eleito, este um ser carismático, que exerce uma dominação carismática, que atenda o clamor das massas, por sua vez ainda temos a existência do parlamento, que serve em sua teoria como um freio contra as abusividades do presidente. Assim, temos um novo conceito para uma nova fase política, controlando com a democracia plebiscitária, a crescente burocratização existente no Estado alemão, já que Weber via na racionalização uma crescente transformação das associações em instituições organizadas de maneira racional com relação a fins, sendo o líder carismático a quebra desta burocracia. 40 WEBER, Max. Economia e Sociedade. 3 ed. Brasília: Unb, 1994 (vol.01). VALENTE, Manoel Adam Lacayo. Democracia em Max Weber. Revista de Informação Legislativa. Brasília a. 41 n. 164 out./dez. 2004. 149-155. p. 152 42 VALENTE, Manoel Adam Lacayo. Democracia em Max Weber. Revista de Informação Legislativa. Brasília a. 41 n. 164 out./dez. 2004. 149-155. p. 153 43 BOBBIO, Noberto. Teoria Geral da Política: a Filosofia Política e as Lições dos Clássicos; organizado por Michelangelo Bovero, tradução Daniela Boccaccia Versiani. Rio De Janeiro: Elsevier, 2000, 20ª reimpressão, p 147. 41 Convém ressaltar que até mesmo no Brasil já tivemos modelos que se aproximam do exposto, podemos citar o governo de Getúlio Vargas, mas precisamente o Estado Novo44 (19371945) momento crítico onde o descontentamento com a unidade nacional traz consigo a necessidade de uma democracia de massa, o clamor do momento pede um líder carismático, exatamente pela fascinação que este exerce sobre aquela, figura esta personificada em Vargas, gerando por meio dele um vínculo entre o representante e o representado, já que “as massas encontram-se sob a fascinação da personalidade carismática. Este é o centro da integração política”45. Assim temos a operosidade universal e prática dos conceitos de Max Weber, no campo sócio-político podemos reconhecer a preocupação de seus escritos: a luta contra os efeitos da burocracia na democracia – e em todas as esferas da vida social - acreditava ele, que toda a sociedade estava, e está, fadada a eterna jaula de ferro que nossa crescente racionalização acabou por criar, tornando espíritos em máquinas altamente burocratizadas, ou como ele mesmo escrevia: o exercito burocrático. Referencias Bibliográficas AMORIM, Aluízio Batista de. Elementos de Sociologia do Direito em Max Weber. Florianópolis: Insular, 2001. ARRUDA, José Jobson de Andrade. Historia Moderna e Contemporânea. 15. ed. São Paul: Ática, 1982. BOBBIO, Noberto. Teoria Geral da Política: a Filosofia Política e as Lições dos Clássicos; organizado por Michelangelo Bovero, tradução Daniela Boccaccia Versiani. Rio De Janeiro: Elsevier, 2000, 20ª reimpressão. CAMPOS, Francisco. O Estado Nacional. Brasília: Senado Federal, 2001. COSTA, Mauricio Mesurini da; MENEGUETTI, Laraísa Cristina Quachio; DIRSCHNABEL, Leandro. A Democracia Antiliberal de Francisco Campos. III Seminário Nacional de Sociologia e Política. PPGSOCIO/UFPR, 2010. COSTA, Pietro. Poucos, muitos, todos: lições de história da democracia; trad. Luiz Ernani Fritoli. Curitiba. Editora da UFPR, 2012. 44 “O Estado Novo nasceu como uma imposição da ambiência social e política que vínhamos vivendo. (...) O Estado era uma “terra de ninguém” mais ou menos ao alcance dos imperialismo estaduais, que medravam e cresciam à custa da unidade espiritual e política da Nação. Era imperioso remover os obstáculos que impediam a ação, imediata e eficaz, necessária para recompor e restaurar aquela unidade.” CAMPOS, Francisco. O Estado Nacional. Brasília: Senado Federal, 2001, p. 316 45 COSTA, Mauricio Mesurini da; MENEGUETTI, Laraísa Cristina Quachio; DIRSCHNABEL, Leandro. A Democracia Antiliberal de Francisco Campos. III Seminário Nacional de Sociologia e Política. PPGSOCIO/UFPR, 2010. p. 5 SELL. Carlos Eduardo. Max Weber: Democracia Parlamentar Ou Plebiscitária?. Rev. Sociol. Polít., Curitiba, v. 18, n. 37, p. 137-147, out. 2010. SILVA, Lílian Lenite da; AMORIM, Wellington Lima. Política, democracia e o conceito de “representação política” em Weber. Revista Interdisciplinar Científica Aplicada, Blumenau, v.2, n.4, p.01-16, Sem II. 2008. VALENTE, Manoel Adam Lacayo. Democracia em Max Weber. Revista de Informação Legislativa. Brasília a. 41 n. 164 out./dez. 2004. 149-155 WEBER, Max. Economia e sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. Trad. Regis Barbosa e Karen Elsabe Barbosa; Revisão técnica de Gabriel Cohn - Brasília, DF: Editora Universidade de Brasília: São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 1999. WEBER, Max. O Estado Nacional e a Política Econômica. São Paulo: Ática 2003. WEBER, Max. Le président du Reich. Ouevres politiques. Paris: Albin Michel. WEBER, Max. 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