Trabalho desenvolvido na Unidade Municipal de Educação
Infantil - Umei Ouro Minas -Prefeitura de Belo Horizonte
Coordenação: Vera Lúcia Otto Diniz, Janaína Pedrosa, Beatriz
Gravei.
Responsáveis pela realização do projeto: Haidê Cristina Silva
Teixeira Macedo, Alcione Mara de Araújo, Crise Rodrigues dos
Santos, Fernanda Rodrigues Silva, Lilian Araújo Grossi Félix,
Maria Auxiliadora Gomes de Oliveira, Vera Lúcia Miranda
Ferreira1
O berçário da UMEI – Ouro Minas atende 12 ( doze) crianças, seis meninas e
seis meninos de quatro a 10 meses de idade. Podemos dizer que estes bebês
sob nossa responsabilidade, embora possuam modos muito singulares de
sentir e pensar o mundo que os cerca, em função de suas vivências sócio
culturais, apresentam muitas características comuns a tantos outros da
mesma faixa etária: são observadores, espontâneos, autênticos, impulsivos,
investigativos, comunicativos e muito competentes. São capazes de brincar
sozinhos ou em pequenos grupos, de imitar os adultos à sua volta, de
representar algumas cenas familiares, de explorar os espaços e objetos
disponíveis, de construir e reconstruir suas próprias hipóteses numa lógica
que lhes é peculiar. Utilizam o corpo todo para se comunicar. Assim, o choro,
o sorriso, o abraço, a rejeição ao alimento, são algumas das formas de
linguagens, que nós adultos teremos que aprender a compreender para
podermos participar e atuar, no mundo deles, com intencionalidade
pedagógica. Por isso é que acreditamos que o início do ano exige de nós,
educadoras, um nível grande de observação da linguagem corporal das
crianças para compreendê-las e ajudá-las a se organizar em um novo
ambiente, não familiar. Para isso, é muito importante que todos que passam
pelo berçário conversem com as crianças, demonstrem o quanto estão felizes
com a presença delas na escola, expliquem a elas tudo o que está
acontecendo, o que estão fazendo ou irão realizar. De início, pode parecer
que os bebês não estão entendendo, mas, depois de alguns dias, eles vão
demonstrando essa compreensão, através de interesse pelos brinquedos, pelo
cessar do choro, por meio de gestos, apontando o que querem fazer ou pegar,
ou da pronúncia de sílabas. Todas essas linguagens vão sendo significadas
pelas educadoras e devolvidas às crianças durante situações reais de uso. Por
exemplo, na hora da alimentação, é interessante estimulá-las a agradecer as
pessoas que fizeram a sopa, a identificar e a nomear os colegas e as
educadoras.
Procurando colocar os bebês no centro de nossa ação educativa,
buscamos conhecê-los a partir das questões apontadas nas
Proposições curriculares da educação Infantil de Belo Horizonte:
“quem são, do que gostam e do que precisam?” Assim,
reconhecendo que trazem desejos próprios e apresentam
especificidades no seu desenvolvimento nas várias dimensões
( física, afetiva, cognitiva, linguística, social, ética e estética) e
acreditando, ainda, que a infância é um tempo de vivência com
sentido em si mesma e não um momento de preparação para outra
fase da vida, é que
fizemos algumas opções pedagógicas,
1
*Relato retirado do 3º capítulo do livro “Currículo na Educação Infantil: diálogo com os demais
elementos da proposta pedagógica” de Fátima Salles e Vitória Faria Editora Ática , 2012, 2ª edição (no
prelo).
procurando enfatizar a construção das seguintes capacidades ou
habilidades: construir uma imagem positiva de si; familiarizar-se
com a imagem do próprio corpo; deslocar-se com destreza
progressiva no espaço, desenvolvendo atitude de confiança nas
próprias capacidades motoras; ter iniciativa para brincar;
interessar-se por situações de aprendizagem; interagir com o meio,
em situações do cotidiano; interagir com as pessoas (pares,
educadores, pais, colaboradores), ampliando suas possibilidades de
compreensão e expressão; compartilhar o espaço e os materiais;
selecionar as preferências; manipular materiais com diversas
texturas para enriquecimento do seu repertório sensitivo e
ampliação do seu conhecimento de mundo.
Tudo
isso,
associado à busca do favorecimento de um ambiente afetivo,
lúdico, prazeroso, rico em estímulos, onde as crianças poderão
conhecer e viver novas experiências, expressar seus sentimentos e
emoções através de algumas experimentações como: “o cesto dos
tesouros”; brincadeiras no banho; ouvir e cantar diferentes
músicas, brincar no túnel sonoro; no tapete ou armário de
sensações; tocar diferentes móbiles dependurados na sala; leitura
de livros; participação em rodas de contação de histórias;
interpretação de suas ações e emoções pelos adultos; visitas a
diferentes espaços da UMEI; pinturas ou desenhos com diferentes
objetos como, por exemplo, macarrão, sagu, gelatina; brincar com
sua imagem refletida no espelho; brincar com bolas de diferentes
tamanhos e texturas; experimentar frutas de cores e sabores
diversos; participar de brincadeiras e banho de sol com outras
turmas, etc.
Dentre os muitos elementos necessários à composição dessa prática,
destacamos a importância da organização do espaço do berçário, já que o
mesmo exerce forte impacto sobre as ações das crianças e educadores,
interferindo e oportunizando as diversas interações. Procuramos organizar os
espaços, primeiramente “mais abertos”, onde as educadoras pudessem ter
maior visibilidade e consequentemente, maior conhecimento de cada um.
Com o passar dos dias, assim como as crianças, o ambiente foi se adaptando,
ganhando alguns espaços mais “circunscritos” onde as crianças pudessem ter
maior individualidade e desprendimento dos adultos enquanto brincavam,
como por exemplo, no túnel sonoro, com cortinas de fitas, em tendas de
tecidos, no tapete de estimulação, entre outros. Consideramos que a
organização do espaço vai ganhando as características do próprio grupo, se
moldando às necessidades das crianças e às propostas das educadoras, quer
seja pela retirada de alguns objetos que já não interessam mais às crianças,
ou pela introdução de novos desafios ( objetos diferentes, novos espaços ou
pessoas da escola e da família).
Baseados na convicção de que, nesta fase de vida das crianças, a ação
da escola deve ser compartilhada com a família, convidamos os pais ou avós
a compartilharem conosco alguns momentos da rotina, com atividades
preparadas para aumentar o vínculo afetivo e de confiança entre eles e a
escola e vice-versa. Iniciamos com uma reunião de pais ou responsáveis,
onde foram apresentados: o grupo de profissionais, os espaços do berçário e
algumas intencionalidades educativas para o trabalho com essa faixa etária.
Depois, aos poucos, chamamos para entrevistas, para preenchimento de
fichas individuais e para realizarem atividades de cuidados básicos como
banho, troca de fraldas, amamentação ou outras refeições, brincar com os
diferentes objetos da escola, participar de uma experimentação de banho de
balde, de pinturas, de rodas com músicas, entre outras. Percebemos que as
famílias também vão se apropriando do ambiente escolar e da proposta
pedagógica para seus bebês. No cotidiano, elas vão demonstrando o afeto, o
reconhecimento pelo empenho e cuidado das pessoas da escola para com as
crianças e, principalmente, a confiança de que escola de educação infantil é
um bom lugar para seus bebês.
Ao final, destacamos o papel da avaliação neste fazer. Acreditamos que
esta se dá a partir da análise diária da observação do desempenho dos bebês,
das características de seu processo de aprendizagem e principalmente das
relações estabelecidas. Ao longo do processo, observamos e registramos
fatos e dados sobre o envolvimento dos bebês, seus avanços e entraves, bem
como conquistas, inquietações e intenções para futuras intervenções. Os
dados coletados vão compondo o portfólio de cada criança, que pode ser
acompanhado e analisado pelos profissionais da escola e pela família.
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Relato 1 - Educadores