ISSN 0047-2077 Setembro/Outubro 2013 Volume 101 Número 5 Tuberculose Biomarcadores diagnósticos em pleurologia Dengue grave Hipoglicemia em adultos Aspectos atuais do tratamento medicamentoso da fibromialgia Pancreatite aguda Insuficiência adrenal aguda Os artigos dessa edição foram temas do II Simpósio JBM de Atualização – Emergências Endócrinas, Gastroenterológicas e Infecciosas O modo prático de regularizar o trânsito intestinal.1,2 Indicado para tratamento da constipação e diarreia4 Prático, pois não é necessário diluir em água3,4 Pode ser utilizado por gestantes4,5 Ingerir com um copo cheio de água.5 1 a 2 comprimidos a cada 12 horas, preferencialmente, durante ou após as refeições.4 Referências Bibliográficas: 1.DANHOF IE. Pharmacology, toxicology, clinical efficacy, and adverse effects of calcium polycarbophil, an enteral hydrosorptive agent. Pharmacotherapy. 1982; 2(1): 18-28. 2. Miller MJS.Therapeutic approaches to constipation, diarrhea and functional bowel disorders: a review of calcium polycarbophil. JANA. 2003; 6(2): 24-32. 3. Osterberg L,Blaschke T. Adherence to medication. N Engl J Med. 2005; 353(5): 487-97. 4. Bula do produto. 5. DRUGDEX DRUG EVALUATIONS. Calcium Polycarbophil. Vol. 114. Colorado: Micromedex, 2002. Bula do produto: Benestare - policarbofila cálcica. Indicações: tratamento da constipação ou diarreia, associadas a condições tais como constipação crônica, diverticulose e síndrome do intestino irritável. Contraindicações: hipersensibilidade a policarbofila. Não deve ser usado quando houver dor abdominal, náusea ou vômitos de causa não esclarecida ou na suspeita de obstrução em qualquer parte do tubo digestivo. USO ADULTO E PEDIÁTRICO. Registro no MS: 1.0181.0568. SE PERSISTIREM OS SINTOMAS, O MÉDICO DEVERÁ SER CONSULTADO. “Benestare É UM MEDICAMENTO. SEU USO PODE TRAZER RISCOS. PROCURE O MÉDICO E O FARMACÊUTICO. LEIA A BULA”. ©Medley 2013 ® Marca Registrada – BENESTARE ANUNCIO 1 2013 – 50517326 - Agosto/2013. Material destinado a profissionais de saúde habilitados a prescrever ou dispensar medicamentos. editorial ISSN 0047-2077 Uma edição especial Editor: José Maria de Sousa e Melo In memoriam Gerente Geral: Daila B. Melo Gerência Executiva: Lícia M.a S. Andrade Assistente: Thereza C. P. Jouan N os dias 25 e 26 de outubro últimos, no anfiteatro da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro, mais de 150 médicos participaram do II Simpósio de Atualização JBM — Emergências Endócrinas, Gastroenterológicas e Infecciosas. Redação Editor Científico: Dr. José Galvão-Alves Redator-Chefe: Dr. Almir L. da Fonseca Coordenação Editorial: Sheila Guedes Revisores: Joel Vasconcellos Sueli B. dos Santos Tráfego: Jorge de Moura Bastos Sob a coordenação científica do Prof. José Galvão-Alves, o evento abordou os temas mais relevantes da clínica de emergência e morbidades relacionadas à Endocrinologia, Gastroenterologia e Infectologia, com aulas ministradas por consagrados professores das mais importantes instituições de ensino médico do Rio de Janeiro. Programação Visual Edson de Oliveira Vilar Editoração Eletrônica Valter Batista dos Santos Sonia R. Vianna e Silva Publicidade Executivo de Contas (RJ): Silvio F. Faria Assistente: Raissa Negri Santiago Executivo de Contas (SP): Anna Maria Caldeira Assistente: Sirlei T. S. de Lima Jornal Brasileiro de Medicina é uma revista médico-científica bimestralmente enviada a mais de 25.000 médicos com clínica ativa em todo o território nacional. JBM NÃO ACEITA EM HIPÓTESE ALGUMA MATÉRIA PAGA EM SEU ESPAÇO EDITORIAL. A edição de setembro/outubro do Jornal Brasileiro de Medicina traz aos leitores seis dos temas apresentados no evento — Hipoglicemia em adultos, Dengue grave, Biomarcadores diagnósticos em pleurologia, Pancreatite aguda, Insuficiência adrenal aguda e Tratamento medicamentoso da fibromialgia —, contemplando e valorizando a atualização médica, princípio que rege o conceito editorial do JBM. Desfrutem da edição. Editora de Publicações Científicas Ltda. Rio de Janeiro: Av. das Américas, 1.155 — Salas 1401 a 1404 — Barra da Tijuca — Tels.: 2492-1856 e 24932694 — Fax: 2492-1279 — CEP 22631-000 — Inscrição: 81.413.177 — CNPJ 33.897.679/0001-12 — E-mail: [email protected] — Site: www.epuc.com.br Dr. José Galvão-Alves São Paulo: Rua Estela, 96 — Cj 21 — Vila Mariana — Tel./Fax: 5549-2982 — CEP 04011-000 — Inscrição 108.704.425.112 — CNPJ 33.897.679/0002-01 — E-mail: [email protected] Número avulso: R$ 30,00 Registrado na Base de Dados Lilacs, organizada pela Bireme (ex-Index Medicus Latino Americano) Periodicidade: Bimestral Impressão: Gráfica Trena Distribuição: Door to Door e Diremadi Representante no México: Intersistemas S.A. de C.V. - México JBM reserva-se todos os direitos, inclusive os de tradução, em todos os países signatários da Convenção Pan-Americana e da Convenção Internacional sobre Direitos Autorais. Os trabalhos publicados terão seus direitos autorais resguardados pela EPUC que, em qualquer situação, agirá como detentora dos mesmos. Publicações do Grupo: JBM SETEMBRO/OUTUBRO VOL. 101 No 5 3 sumário Conselho Científico Presidente 3 Uma edição especial Dr. José Galvão-Alves editorial José Galvão-Alves Membros Honorários 7 Dengue grave Drs. Luiz José de Souza, Pedro Gomes de Vasconcelos Silva, Prisicila da Silva Pereira e Raphael Freitas Jaber de Oliveirai artigos Amaury Coutinho (PE) Affonso Berardinelli Tarantino (RJ) Clementino Fraga Filho (RJ) Mário Barreto Corrêa Lima (RJ) Renato Dani (MG) Membros Titulares 11 Hipoglicemia em adultos Bahia Zilton A. Andrade Luis Guilherme Lyra Dras. Joana Rodrigues Dantas, Monique Alves da Silva, Ana Paula Borges Santos de Lucena, Samara Pimentel de Souza e Melanie Rodacki Brasília Columbano Junqueira Neto 21 25 sumario.indd 4 Espírito Santo Carlos Sandoval Drs. Cyro Teixeira da Silva Junior, Joeber Bernardo Soares de Souza, Jorge Luiz Barillo, Renato Bergalo Bezerra Cardoso, Salim Kanaan, Analúcia Rampazzo Xavier, Gilberto Perez Cardoso e Elizabeth Giestal de Araujo Goiás Celmo Celeno Porto Minas Gerais Julio Chebli Paraná Miguel Riella Sergio Bizinelli Aspectos atuais do tratamento medicamentoso da fibromialgia Pernambuco José Roberto de Almeida Drs. Rafael Mendonça da Silva Chakr e Ricardo Machado Xavier 33 Pancreatite aguda — Terapêutica clínica 43 Insuficiência adrenal aguda 50 4 Biomarcadores diagnósticos de tuberculose em pleurologia Rio de Janeiro Aderbal Sabrá Azor José de Lima Evandro Tinoco Fábio Cuiabano Gilberto Perez Cardoso Jorge Alberto Costa e Silva José Manoel Jansen Marta C. Galvão Mauro Geller Henrique Sergio Moraes Coelho Glaciomar Machado Dr. José Galvão-Alves Dr. Yolanda Schrank Noticiário São Paulo Capital Adib Jatene Flair José Carrilho José Eduardo Souza José Osmar Medina Pestana Nestor Schor Sender Miszputen seção Botucatu Oswaldo Melo da Rocha JBM SETEMBRO/OUTUBRO VOL. 101 No 5 5/12/2013 13:50:04 Melhor relação custo-benefício entre os IBPs 1,3,4,11 Alívio aos pacientes 5 Ação rápida 5 Comodidade posológica 5 Efeito prolongado5 Eficácia 6 Ação bactericida6 Prazol®: liderança em receituário na molécula de lansoprazol Segurança 7-10 2 Referências Bibliográficas: 1. Revista ABC Farma – PMC 18% - Junho/2013. 2. Dados Close Up MAT – Maio/2013. 3. Welage LS Berardi RR. Evaluation of omeprazole, lansoprazole, pantoprazole and rabeprazole in the treatment of acid-related diseases. J Am Pharm Assoc. 2000; 40 (1): 52-62. 4. Manzzionna G, Pace F, Porro GB. Efficacy of lansoprazole in the short and long-term treatment of Gastro- oesophageal reflux disease. A Systematic Overview. Clin Drug Invest. 1997; 14: 450-56. 5. Bula do Produto. 6. Nakao M, Malfertheiner P. Growth inhibitory and bactericidal activities of lansoprazole compared with those of omeprazole and pantoprazole against Helicobacter pylori. Helicobacter. 1998 Mar;3(1):21-7. 7. Blume H, Donath F, Warnke A, Schug BS. Pharmacokinetic drug interaction profiles of proton pump inhibitors. Drug Saf. 2006;29(9):769- 84. 8. Andersson T. Pharmacokinetics, metabolism and interactions of acid pump inhibitors. Focus on omeprazole, lansoprazole and pantoprazole. Clin Pharmacokinet. 1996 Jul;31(1):9-28. 9. Matheson AJ, Jarvis B. Lansoprazole: an update of its place in the management of acid-related disorders. Drugs. 2001;61(12):1801-33. 10. Freston JW, Hisada M, Peura DA, Haber MM, Kovacs TO, Atkinson S, Hunt B. The clinical safety of long-term lansoprazole for the maintenance of healed erosive oesophagitis. Aliment Pharmacol Ther. 2009 Jun 15;29(12):1249-60. 11. Howden CW, Ballard II ED, Robieson W. Evidence for Therapeutic Equivalence of lansoprazole 30 mg and esomeprazole 40 mg in the treatment of erosive esophagits. Clin Drug Invest. 2002. (22): 99-109. Prazol® – lansoprazol. Indicações: Prazol® 30 mg: cicatrização e alívio sintomático de esofagite de refluxo, de úlcera duodenal e de úlcera gástrica em tratamento de curto prazo. Para tratamento a longo prazo de pacientes hipersecretores, portadores ou não de síndrome de Zöllinger-Ellison; Prazol® 15 mg: manutenção da cicatrização de esofagite de refluxo erosiva, de úlcera duodenal e de úlcera gástrica. Contraindicações: hipersensibilidade conhecida ao lansoprazol ou a qualquer outro componente da fórmula. Precauções e Advertências: ingerir as cápsulas pela manhã, inteiras, sem mastigar e em jejum. O perfil farmacocinético de lansoprazol pode ser modificado por insuficiência hepática moderada a severa, bem como em idosos. Cautela na prescrição a pacientes idosos com disfunção hepática, durante a gravidez e no período de amamentação. Cautela na administração de doses subsequentes maiores que 30 mg por dia para idosos. Não foram estabelecidas sucralfato, cetoconazol, ésteres da ampicilina, sais de ferro, digoxina. Reações a segurança e a eficácia do uso em crianças. Cautela em portadores de diabetes. Interações Medicamentosas: Adversas: dor abdominal, cefaleia, síndrome gripal, ferimentos acidentais, dor no peito, infecção, diarreia, anomalias gastrointestinais (pólipos), vômitos, alterações dentárias, náusea, gastroenterites, alterações retais, artralgia, lupus cutâneo eritematoso, hipomagnesemia. Posologia: úlcera duodenal: 30 mg ao dia, por duas a quatro semanas; úlcera gástrica e esofagite de refluxo, incluindo úlcera de Barrett: 30 mg ao dia, por quatro a oito semanas; síndrome de Zöllinger-Ellison: dose inicial de 60 mg ao dia, por três a seis dias. Tratamento de manutenção da cicatrização de esofagite de refluxo, de úlcera duodenal e de úlcera gástrica: 15 mg uma vez ao dia. USO ADULTO. Registro no MS: 1.0181.0214. VENDA SOB PRESCRIÇÃO MÉDICA. SE PERSISTIREM OS SINTOMAS, O MÉDICO DEVERÁ SER CONSULTADO. teofilina, ©Medley 2013 ®Marca Registrada - PRAZOL ESTUDO COMPARATIVO 2013 – 50518097 – Novembro/2013. Material destinado a profissionais de saúde habilitados a prescrever ou dispensar medicamentos. SemSimples título-1 PRAZOL 1 An 2013C Onda-NOV2013.indd 1 5/12/2013 13:59:35 12/4/13 1:57 PM Dengue grave Luiz José de Souza Diretor do Centro de Referência da Dengue em Campos dos Goytacazes. Pedro Gomes de Vasconcelos Silva Prisicila da Silva Pereira Raphael Freitas Jaber de Oliveira Acadêmicos da graduação de Medicina e estagiários do Centro de Referência da Dengue. Resumo Summary A dengue é uma doença febril infecciosa, caracterizada como um problema de saúde pública. É transmitida através da picada do mosquito Aedes aegypti, e a infecção pode ser causada por quatro sorotipos diferentes (DENV-1 a DENV-4). Dentre suas formas clínicas, a mais preocupante atualmente é a dengue grave, responsável pelo maior número de óbitos. Uma abordagem sistematizada, descartando os principais diagnósticos diferenciais e iniciando uma terapia adequada e precoce, é fundamental para evitar uma evolução desfavorável do quadro e suas possíveis complicações. Dengue fever is an infectious disease characterized as a public health problem. It is transmitted through the bite of the mosquito Aedes aegypti, and the infection can be caused by four distinct serotypes (DENV-1 to DENV-4). Among its clinical forms, the most worrying is currently severe dengue, the largest number of deaths. A systematic approach, dismissing the differential diagnosis and appropriate therapy and starting early, is essential to avoid an unfavorable evolution of the condition and its complications. Introdução saliva contendo o vírus, o qual é introduzido na corrente sanguínea da vítima. O período de incubação no homem é de dois a 15 dias. Apenas a partir deste período é que surgirão os primeiros sintomas da doença (3). Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 2,5 bilhões de pessoas no mundo estão suscetíveis a contraírem a infecção. Cerca de 80 milhões de indivíduos são infectados anualmente, em mais de 100 países com clima predominantemente tropical, cuja temperatura e umidade propiciam a proliferação do vetor (1). No Brasil, as epidemias de dengue vêm ocorrendo anualmente, desde 1986. Estima-se que, por ano, ocorram em média 50 milhões de casos, com pelo menos 500 mil casos graves e 21 mil óbitos, principalmente de crianças (4). A dengue é caracterizada por doença febril aguda com ampla variedade de manifestações clínicas, as quais podem incluir desde casos assintomáticos de curso benigno até casos graves, com presença de síndrome hemorrágica, choque e grave risco de morte (5). No Brasil, Atualmente, dentre as doenças reemergentes, a dengue constitui o problema mais grave de saúde pública (1). Esta arbovirose é causada por um vírus RNA do gênero Flavivirus e transmitida pela picada da fêmea do mosquito Aedes aegypti, inseto urbano e de hábitos diurnos. Existem quatro sorotipos distintos do vírus da dengue: DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4 (2). Embora epidemiologicamente semelhantes, os quatro sorotipos são geneticamente e antigenicamente distintos. Por isso, a infecção com um sorotipo leva à proteção permanente contra uma reinfecção homóloga e apenas parcial contra uma infecção heteróloga (3). O ciclo de transmissão da dengue inicia-se após a ingestão, pela fêmea do A. aegypti, de sangue contendo o vírus, obtido a partir de um indivíduo virêmico (2). O período de incubação intrínseca dentro do mosquito dura de oito a 12 dias, após o qual o mosquito pode infectar. Finalmente, ao picar o hospedeiro, a fêmea do mosquito regurgita a JBM Dengue Grave.indd 7 SETEMBRO/OUTUBRO VOL. 101 No 5 II Simpósio JBM de Atualização Dengue grave Unitermos: Dengue grave; manejo; diagnóstico diferencial; complicações. Keywords: Severe dengue; management; differential diagnosis; complications. 7 5/12/2013 13:27:14 Dengue grave é uma doença de notificação compulsória, o que facilita a localização provável dos focos de infecção e a adoção de medidas de prevenção nos locais mais atingidos pelo vetor (4). Com o objetivo de simplificar a antiga classificação das formas clínicas da dengue (assintomática; indiferenciada; dengue clássica; febre hemorrágica da dengue; e síndrome do choque da dengue), a OMS propôs um novo sistema de classificação, que se divide em: dengue sem sinais de alerta; dengue com sinais de alerta; e dengue grave (6). Fundamentado nesta atualizada classificação, este artigo tem por finalidade esclarecer alguns conceitos sobre dengue grave. Aspectos gerais Pontos-chave: > A dengue grave é definida como a variante clínica que cursa com a fase crítica mais intensa; > Apresenta extravasamento de líquido significativo; > Leva à insuficiência respiratória, choque hipovolêmico, sangramentos significativos e até mesmo à disfunção orgânica. 8 Dengue Grave.indd 8 Após o período de incubação, a dengue se manifesta através de três fases: febril, crítica e fase de recuperação ou resolução (6). A fase febril se caracteriza por febre alta de início súbito, com duração média de dois a sete dias, e pode ser acompanhada de rash facial, eritema cutâneo, exantema, mialgia, artralgia e cefaleia, além de anorexia, náuseas e vômitos, que são sintomas comuns. Odinofagia e hiperemia de faringe e conjuntiva podem ser relatadas (1). Nesta fase é complexo diferenciar a dengue das outras síndromes febris. Um método simples que pode ajudar no diagnóstico diferencial com outras doenças é a prova do laço, que, quando positiva, ajuda a fechar o diagnóstico de dengue (2). É importante ressaltar que nesta primeira fase não há diferença entre os quadros leves e graves. Daí a importância da monitorização do surgimento de sinais de alarme (7). Algumas manifestações hemorrágicas leves podem estar presentes, como petéquias, gengivorragias e epistaxes (2). Em alguns casos pode ser encontrada hepatomegalia (7). O achado laboratorial mais precoce é a leucopenia (4). Após a resolução gradual da febre inicia-se a fase crítica, que dura em média três a sete dias, e pode ou não ser acompanhada de aumento da permeabilidade capilar (7). A leucopenia se intensifica, e há redução do número de plaquetas (4). Os pacientes sem aumento da permeabilidade capilar logo melhoram, porém aqueles com aumento da mesma podem evoluir para quadros mais graves (1). A permeabilidade vascular pode ser detectada através do hemograma, da radiografia de tórax ou da ultrassonografia abdominal, que podem revelar hemoconcentração, derrame pleural ou ascite, respectivamente (7). Por fim, a fase de recuperação é caracterizada pela reabsorção do líquido extravasado em excesso. Há melhora do estado geral, retorno do apetite, normalização dos sintomas gastrointestinais, estabilização hemodinâmica, retorno da diurese e normalização dos exames complementares. Nesta fase podem aparecer prurido generalizado, rash cutâneo, caracterizado como “ilhas de branco no mar vermelho”, bradicardia e alterações eletrocardiográficas (7). Conceito e manejo clínico da dengue grave A dengue grave é definida como a variante clínica que cursa com a fase crítica mais intensa. Apresenta extravasamento de líquido significativo, levando à insuficiência respiratória, choque hipovolêmico, sangramentos significativos e até mesmo à disfunção orgânica (6). Os mecanismos fisiopatológicos que levam à dengue grave ainda estão sob investigação, mas atualmente a literatura relata três componentes que tentam explicar esta condição (8). O primeiro é a falta de regulação da imunidade celular. As células dendríticas infectadas pelo vírus ativam as células T, que produzem citocinas exageradamente. O segundo componente é o realce dependente de anticorpos. Alguns anticorpos reconhecem o epítopo do vírus da dengue e facilitam sua internalização nas células dendríticas. Além disso, esses anticorpos podem aumentar a produção de citocinas e o extravasamento vascular por mecanismos autoimunes. O terceiro componente é o sistema complemento. Este pode atuar estimulando também a produção de citocinas envolvidas no processo da dengue grave. Estes três componentes juntos interagem entre si e se reforçam, criando uma resposta inflamatória sistêmica, que leva ao aumento da permeabilidade vascular e a transtornos hemostáticos, os quais traduzem extravasamento plasmático e sangramentos, principais fatores que contribuem para o mau prognóstico da doença (9). O aumento da permeabilidade vascular pode levar ao choque hipovolêmico. O seu reconhecimento precoce se dá através de alguns sinais, como taquicardia, pulso fino, enchimento capilar reduzido e extremidades frias e úmidas (3). A pressão arterial no período de compensação do choque pode estar normal JBM SETEMBRO/OUTUBRO VOL. 101 No 5 5/12/2013 13:27:14 Dengue grave ou baixa, e uma característica importante é o aumento da pressão diastólica e a diminuição da pressão sistólica, pelo aumento da resistência vascular sistêmica e pela hipovolemia, respectivamente. No início, os pacientes também se encontram lúcidos e conscientes, além de normotensos, como já visto; nesta fase, o diagnóstico pode passar despercebido. Mais tardiamente o choque descompensa, e as pressões caem abruptamente; se não for revertido a tempo, pode gerar insuficiência de múltiplos órgãos (7). Em resumo, deve-se considerar como portador de dengue grave todo paciente que esteja em área de risco, que se apresente com febre de dois a sete dias e com pelo menos um dos seguintes sinais de evidência de extravasamento vascular: aumento significativo ou progressivo do hematócrito; derrame pleural ou ascite; comprometimento circulatório ou choque; sangramento significativo; alteração do nível de consciência (letargia, agitação, coma ou convulsões); envolvimento gastrointestinal grave (vômitos incoercíveis, dor abdominal, icterícia); e comprometimento grave de órgãos (10). Desta maneira, os termos “febre hemorrágica” e “choque da dengue” estão desaconselhados, pois o que determina gravidade não são as alterações da coagulação ou perda sanguínea, e sim a resposta imune com ativação endotelial e sua consequente disfunção (7). Como a dengue é uma doença de evolução dinâmica, o paciente pode evoluir de um estágio a outro rapidamente. O manejo adequado depende do reconhecimento precoce dos sinais clínicos nas diferentes fases da doença, do contínuo monitoramento e da pronta aplicação de condutas que garantam a estabilidade hemodinâmica e ventilatória dos pacientes, além das medidas de suporte aos eventuais comprometimentos orgânicos (6). O atendimento realizado nos níveis primário e secundário de atenção à saúde, onde os indivíduos são submetidos a uma triagem e conduta, é de extrema importância, e determina o prognóstico do paciente. Uma abordagem correta não somente reduz o número de hospitalizações desnecessárias, como contribui para diminuir as taxas de mortalidade e letalidade da doença (7). Todos os pacientes com dengue grave devem ser internados em um hospital com acesso a instalações de unidade de terapia intensiva, JBM Dengue Grave.indd 9 SETEMBRO/OUTUBRO VOL. 101 No 5 com monitorização contínua dos sinais vitais e reavaliações periódicas. A fluidoterapia intravenosa é a principal intervenção, e geralmente a única necessária (10). A solução de cristaloides deve ser isotônica, e o volume apenas em quantidade suficiente para manter uma circulação eficaz durante o período de extravasamento de plasma. Para melhor avaliação da resposta terapêutica, pode-se obter o hematócrito antes e depois da reposição volêmica (7). É importante ressaltar que a dengue pode estar associada a comorbidades preexistentes. Portanto, torna-se necessário, nessas situa ções, priorizar o acompanhamento clínico em todas as etapas, adequando o tratamento geral da dengue às necessidades específicas de cada situação (6). Diagnóstico diferencial A suspeita clínica de dengue grave comporta um amplo espectro clínico. Diante da impossibilidade de confirmação diagnóstica, cabe a investigação dos seguintes diagnósticos diferenciais: leptospirose, hepatite viral aguda grave, influenza, rickettsiose (febre maculosa), síndrome mononucleose símile (mononucleose, síndrome retroviral aguda, toxoplasmose, citomegalovirose, sífilis secundária, herpesvírus humano tipo 6), encefalite viral, sepse bacteriana, meningococcemia, malária, febre tifoide, febre amarela, hantavirose, doenças exantemáticas (doença de Kawasaki, rubéola, sarampo), doenças hematológicas (púrpuras trombocitopênicas, leucemia) e síndrome de dor abdominal (pancreatite, apendicite, colecistite, gastroenterite aguda grave) (11, 12). Como a dengue é uma doença de evolução dinâmica, o paciente pode evoluir de um estágio a outro rapidamente. O manejo adequado depende do reconhecimento precoce dos sinais clínicos nas diferentes fases da doença, do contínuo monitoramento e da pronta aplicação de condutas que garantam a estabilidade hemodinâmica e ventilatória dos pacientes, além das medidas de suporte aos eventuais comprometimentos orgânicos. Complicações As complicações que acompanham a evolução da dengue grave, fisiopatologicamente, correspondem à lesão inflamatória endotelial, que promove um intenso extravasamento plasmático para o espaço extravascular. Este desbalanço volêmico nos compartimentos corporais resulta em progressiva instabilidade hemodinâmica, que varia de discretas alterações perfusionais e circulatórias (cianose, hipotensão e taquicardia) até o choque hipovolêmico (13). A inflamação também atinge as serosas (serosites), causando deposição de transudato nas cavidades corporais (pleura, pericárdio, abdome e pelve). No paciente crítico, esses 9 5/12/2013 13:27:15 Dengue grave fenômenos endoteliais caracterizam uma descompensação cardiorrespiratória, sendo imprescindível a internação, com reavaliação médica constante (com atenção para os sinais de alerta) e, se necessário, monitorização hemodinâmica. O centro de atendimento primário deve manter contato com uma unidade de terapia intensiva (UTI), para certificar-se da disponibilidade de vaga, caso haja evolução clínico-laboratorial desfavorável (13, 14). Os pacientes selecionados para uma atenção especial, pelo risco acentuado de descompensação, compõem um grupo heterogêneo: aqueles com menos de 15 ou mais de 60 anos, grávidas, obesos, diabéticos, portadores de patologias cardiopulmonares (insuficiência cardíaca, insuficiência coronariana, asma brônquica e doença pulmonar obstrutiva crônica), doenças hematológicas (anemia falciforme e trombocitopenias crônicas), insuficiência renal crônica, doença acidopéptica em atividade, doenças autoimunes ou em uso continuado de medicamentos, tais como antiagregantes plaquetários, anticoagulantes, anti-inflamatórios e imunossupressores (14, 15). A trombocitopenia menor que 20.000 por milímetro cúbico de sangue representa um risco significativo de manifestações hemorrágicas, principalmente digestivas, que até dado momento podem ser ocultas, como o hematoma retroperitoneal. A leucopenia menor ou igual a 1.000 por milímetro cúbico de sangue expõe o indivíduo a uma intensa fragilidade Referências Endereço para correspondência: Luiz José de Souza Sociedade Brasileira de Clínica Médica/Regional-RJ Av. Alberto Torres, 217 — Centro 28035-581 Campos dos Goytacazes-RJ [email protected] 10 Dengue Grave.indd 10 11. SOUZA, L.J. — Dengue — diagnóstico, tratamento e prevenção. 2. ed., Rio de Janeiro, Editora Rubio, 2008. caps. 2-4. 12. FOCACCIA, R.; DIAMENT, D. et al. — Tratado de Infectologia. 4. ed., São Paulo, Editora Atheneu, 2009. 13. NUNES, J.S. — Dengue: etiologia, patogênese e suas implicações a nível global. 2011. 59p. Tese (Mestrado em Medicina) — Universidade da Beira Interior, Covilhã, 2011. 14. MASERA, D.C.; SCHENKEL, G.C. et al. — Febre hemorrágica da dengue: aspectos clínicos, epidemiológicos e laboratoriais de uma arbovirose. Revista Conhecimento Online, 3(2): 1-22, 2011. 15. MARTINS, H.F.; NETO, R.A.B. et al. — Emergências médicas — abordagem prática. 7. ed., São Paulo, Manole, 2012. p. 781-7. 16. VERDEAL, J.C.R.; FILHO, R.C. et al. — Recomendações para o manejo de pacientes com formas graves de dengue. Revista Brasileira de Terapia Intensiva, 23(2): 125-33, 2011. à aquisição de infecções bacterianas. A internação muitas vezes é necessária, porém facilita a aquisição de infecções por germes do ambiente hospitalar (2, 14). A injúria do compartimento hepático está relacionada à intensa resposta inflamatória endotelial e suas repercussões hemodinâmicas, resultando em isquemia. Contudo, o vírus da dengue tem tropismo pelo hepatócito, o que agrava a intensidade da lesão. A hepatite pelo vírus da dengue, assim como as demais hepatites virais agudas, resulta em níveis maiores que 10 vezes o valor do limite superior das transaminases (3, 4, 15). As repercussões neurológicas são explicadas pelos mesmos mecanismos das complicações acima. No sistema nervoso, as alterações inflamatórias e infecciosas evoluem com edema cerebral, hemorragia cerebral, hiponatremia, falência hepática fulminante com encefalopatia portossistêmica, anoxia cerebral e hemorragia microcapilar, manifestos como convulsão, acidente vascular encefálico hemorrágico, hemorragia subaracnoidea, encefalite, polirradiculoneurite aguda, paralisia facial periférica e síndrome de Guillain-Barré (16). Conclusão O manejo da dengue grave deve respeitar as recomendações supracitadas, atentando para a possibilidade de refratariedade ao tratamento proposto. Isto requer reavaliação constante, para o diagnóstico de possíveis complicações que interferem numa evolução satisfatória. 17. FARIAS, M.S. — Análise de óbitos por dengue da epidemia 2007/2008 na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. 2011. 75p. Tese (Mestrado em Saúde Coletiva) — Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2011. 18. FIGUEIREDO, L.T.M. — Patogenia das infecções pelos vírus da dengue. Medicina, 32: 15-20, 1999. 19. QUIJANO, F.A.D. — Definições de caso e classificação da gravidade do dengue e suas implicações no aprimoramento da vigilância e de intervenções em Saúde Pública. 2011. 148p. Tese (Doutorado em Saúde Pública) — Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2011. 10. BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. SISTEMA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE — Dengue — diagnóstico e manejo clínico — adulto e criança. 4. ed., Brasília, Ministério da Saúde. Obs.: As seis referências restantes que compõem este artigo se encontram na Redação, à disposição dos interessados. JBM SETEMBRO/OUTUBRO VOL. 101 No 5 5/12/2013 13:27:16 II Simpósio JBM de Atualização Hipoglicemia em adultos Joana Rodrigues Dantas Monique Alves da Silva Ana Paula Borges Santos de Lucena Samara Pimentel de Souza Melanie Rodacki Do Serviço de Nutrologia e Diabetes — Departamento de Clínica Médica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Resumo Summary A hipoglicemia é um evento potencialmente grave, com significativa morbidade. É rara em indivíduos sem diabetes, e pode ocorrer com frequência variável em pacientes com diabetes mellitus, especialmente naqueles que utilizam insulina. Para minimizar esse risco é imprescindível que se individualize o tratamento, estabelecendo metas glicêmicas de acordo com a idade, expectativa de vida, comorbidades e estilo de vida. Hypoglycemia is a potentially serious event with significant morbidity. It is rare in individuals without diabetes and can occur in a quite variable frequency in diabetic patients, especially in those that use insulin. In order to minimize its risk in these groups, it is essential to individualize treatment, establishing glycemic targets according to age, life expectancy, comorbidities and lifestyle. Introdução prolongada, pode evoluir para parada car diorrespiratória e/ou morte cerebral (1, 3). Além disso, pode ser tratada de acordo com a etiologia e, dependendo do caso, curada. A maioria dos casos de hipoglicemia ocorre em pacientes com diabetes mellitus em tratamento com medicação antidiabética oral e/ou insulinoterapia exógena. É até três vezes mais frequente em pacientes com dia betes tipo 1 (DM 1), se comparados àqueles com diabetes tipo 2 (DM 2). Por outro lado, a principal causa de admissão em emergências por conta de hipoglicemia decorre do trata mento do DM 2, uma vez que é mais preva lente na população que o DM 1. Além das limitações no dia a dia dos pacientes, relacio nadas ao trabalho e ao lazer, pode causar al terações cognitivas, principalmente quando ocorre em crianças com menos de cinco anos, e aumento da mortalidade em todas as idades. Nesta revisão abordaremos a investi gação e o tratamento da hipoglicemia em pacientes sem diabetes. A hipoglicemia em indivíduos sem diabe tes é um achado laboratorial raro que pode ser secundário a patologias específicas ou associado ao uso de determinadas medica ções. Em adultos saudáveis, as concentra ções plasmáticas normais de glicose em je jum variam de 70 a 100mg/dl, porém níveis entre 60 e 50mg/dl podem ser encontrados com menor frequência após jejum prolonga do, em crianças e grávidas (1, 2). Não há con senso na definição do valor da glicemia plas mática que caracteriza hipoglicemia em pa cientes saudáveis, porém abaixo de 45mg/dl, em geral, está associado a uma doença de base ou ao uso de medicações (4). A presen ça da tríade de Whipple é importante para se confirmar a hipoglicemia e prosseguir a in vestigação. Consiste em sintomas de hipogli cemia, glicemia plasmática baixa na presença de sintomas e na melhora dos sintomas com administração de glicose. A hipoglicemia pode causar significativa morbidade e, se JBM SETEMBRO/OUTUBRO Hipoglicemia-em-adultos.indd 11 VOL. 101 No 5 Unitermos: Hipoglicemia; insulinoma; insulina. Keywords: Hypoglycemia; insulinoma; insulin. 11 5/12/2013 13:28:25 Hipoglicemia em adultos Controle sistêmico da glicemia e mecanismos hormonais contrarregulatórios Pontos-chave: > A glicose é a principal fonte energética cerebral; > Em condições fisiológicas, estados de hipoglicemia causam déficit da função neuronal; > Esta é rapidamente convertida com elevação da glicemia. 12 Hipoglicemia-em-adultos.indd 12 A glicose é a principal fonte energética cerebral. Em condições fisiológicas, estados de hipoglicemia causam déficit da função neuronal, que é rapidamente convertida com elevação da glicemia. Apesar da grande va riação da ingestão calórica e da atividade físi ca ao longo do dia, o organismo consegue manter a glicemia plasmática dentro de um intervalo estreito (60 a 140mg/dl), permitindo um adequado suprimento energético para o cérebro (1, 3). A alimentação é a principal fonte de glico se do organismo; já o fígado é o principal órgão produtor endógeno, através da glico genólise e gliconeogênese, essencial para a manutenção da glicemia no jejum e nos pe ríodos interprandiais. Na maioria dos indiví duos, o estoque de glicogênio hepático é suficiente para manter a glicemia plasmática nesta faixa normal por oito a 12 horas, po dendo ser menor no caso de doenças agudas ou atividade física. O rim também tem a ca pacidade de fazer gliconeogênese, porém em menor proporção que o fígado (1, 2, 5). Durante jejum prolongado (24 a 48 horas), a utilização de glicose pelo músculo e tecido adiposo é reduzida, e a lipólise e a proteólise são aceleradas, para fornecerem substrato para a gliconeogênese. Além disso, há pro dução de corpos cetônicos, a partir da Acetil CoA gerada na lipólise, os quais podem ser utilizados temporariamente pelo cérebro como fonte de energia (1, 2). A cetogênese só ocorre na ausência absoluta de insulina; portanto, nos casos de hipoglicemia media dos por hiperinsulinemia, não há produção de corpos cetônicos (1, 2, 5). Muitos hormônios são importantes para manter esse fino controle glicêmico. Durante a hipoglicemia diversos mecanismos fisioló gicos são desencadeados para corrigi-la. A primeira alteração é a diminuição da secre ção de insulina quando os níveis de glicemia plasmática estão em torno de 80 a 85mg/dl; com isso há redução do consumo muscular e estímulo para a glicogenólise, lipólise e gli coneogênese (1-3, 5). Com a queda progressiva da glicemia, em torno de 65 a 70mg/dl, ocorre aumento da secreção de glucagon, estimulando tam bém a glicogenólise e gliconeogênese. Como esse hormônio age principalmente no fígado, é necessária uma adequada fun ção hepática. Esse também é o limiar glicê mico para a secreção da epinefrina, que tem a mesma ação hepática do glucagon e tam bém estimula a gliconeogênese renal. Além disso, inibe a secreção de insulina e a utiliza ção de glicose por diversos tecidos, além de aumentar a lipólise. Nesse momento tam bém ocorrem sintomas adrenérgicos — pal pitação, tremores, palidez cutânea. Persis tindo a hipoglicemia por muitas horas e/ou com queda para níveis inferiores a 60mg/dl, há ainda a liberação de cortisol e GH. Am bos agem aumentando a produção hepática de glicose, estimulando a lipólise e reduzin do a utilização de glicose por alguns teci dos. O cortisol também aumenta a proteóli se, produzindo substrato para a gliconeogê nese (1, 2, 3, 5, 6-15). Esses mecanismos fisiológicos compensa tórios são eficientes, fazendo com que a hipo glicemia seja um evento raro em pessoas não diabéticas. Já em pacientes diabéticos, princi palmente nos que apresentam falência total de células β, como os portadores de DM1 ou DM2 de longa duração, esses mecanismos re gulatórios estão deficientes. A hiperinsuline mia iatrogênica, tanto por estímulo à secreção endógena como à utilização exógena, faz com que não ocorra a sinalização para a liberação do glucagon. A ação da epinefrina também está atenuada, especialmente nos que apre sentam episódios recorrentes de hipoglice mia, levando à diminuição da percepção dos sintomas e aumentando muito o risco de hi poglicemias graves (16-20). Quadro clínico Os sinais e sintomas são inespecíficos e variáveis. Podem ser divididos em neurogê nicos (autonômicos) e neuroglicopênicos (pri vação glicêmica cerebral), com níveis glicê micos < 60mg/dl e < 50mg/dl, respectiva mente. Esse limiar pode ser modificado no caso de hipoglicemia crônica, podendo ocor rer em limiares menores ou de forma assinto mática (3, 5). Sintomas neurogênicos incluem os adre nérgicos (mediados por catecolaminas), como palpitações, tremor, náusea e ansieda de, e os colinérgicos (mediados por acetilco JBM SETEMBRO/OUTUBRO VOL. 101 No 5 5/12/2013 13:28:26 Hipoglicemia em adultos lina), como sudorese, fome e parestesias. Os sinais adrenérgicos que podem estar presen tes são palidez, diaforese, taquicardia e ele vação da pressão arterial sistólica. Já os sin tomas neuroglicopênicos são representados por disfunção cognitiva, alterações compor tamentais, anormalidades psicomotoras, convulsões e coma. Além disso, podem cau sar déficit neurológico focal, fazendo diag nóstico diferencial de acidente vascular ence fálico e ataque isquêmico transitório, reversí veis com a correção da hipoglicemia (9-13). É importante considerar o diagnóstico di ferencial com síndrome do pânico, transtor no de ansiedade generalizada, outros distúr bios psiquiátricos e feocromocitoma. Hipoglicemia em pacientes sem diabetes mellitus É fundamental para o diagnóstico que a tríade de Whipple esteja presente. Na sua ausência, os pacientes podem ser submeti dos desnecessariamente a avaliações dispen diosas, sem benefício clínico (4). A classificação tradicional das hipoglice mias em pacientes sem diabetes inclui as ocorridas no estado pós-prandial (hipoglice mia reativa) ou em jejum (hipoglicemia pós -absortiva). Porém, esta classificação tem sido suplantada pela categorização clínica, composta por pacientes aparentemente sau dáveis e pacientes doentes e/ou em uso de medicamentos (3, 4). Esta última classificação é de grande auxí lio no manejo clínico, contribuindo para a decisão sobre a realização dos exames com plementares e interferindo diretamente no manejo terapêutico. O uso de drogas é a causa mais comum de hipoglicemia (1, 2, 4). Pode estar presente em qualquer dos dois grupos de pacientes, sendo resultado, por exemplo, de ingestão acidental ou abusiva em indivíduos aparente mente saudáveis, ou de efeito colateral ou erro de prescrição no grupo de pacientes sa bidamente doentes (21). Também é importante considerar causas de pseudo-hipoglicemia, situação em que o valor verificado de glicose na amostra de sangue colhida está falsamente baixo. Isto pode ocorrer em caso de leucocitose, eritro citose, trombocitose e se a centrifugação da amostra de sangue for tardia. JBM SETEMBRO/OUTUBRO Hipoglicemia-em-adultos.indd 13 VOL. 101 No 5 Hipoglicemias em pacientes sem diabetes doentes ou em uso de drogas A ocorrência de hipoglicemia em pacien tes com doença de base conhecida necessita de pouca investigação complementar, reque rendo-se apenas o reconhecimento desta as sociação. Deve-se atentar para o uso de dro gas predisponentes e a retirada das mesmas, caso possível (21). Drogas A hipoglicemia induzida por droga sem pre deve ser incluída no diagnóstico dife rencial, devendo ser considerada em todos os pacientes com alteração do estado men tal. Em um estudo, a hipoglicemia induzida por droga foi responsável por 23% das ad missões hospitalares atribuídas a eventos adversos de medicações, o que represen tou 4,4% de todas as admissões (22). As principais substâncias associadas à hipogli cemia são o uso exógeno de insulina, os antidiabéticos orais secretagogos da insuli na e o álcool (3). O álcool inibe a gliconeogênese, a res posta do GH e do cortisol, além de retardar a resposta da epinefrina e do glucagon à hipo glicemia, mas não interfere na glicogenólise. Tipicamente, causa hipoglicemia após seu consumo moderado a intenso, associado à baixa ingesta alimentar, estando relacionado, portanto, à depleção do glicogênio. Pode ocorrer tardiamente na cetoacidose alcoóli ca, porém é incomum (23). Em revisão sistemática de 448 publica ções sobre hipoglicemia induzida por dro gas, excluindo-se hipoglicemiantes e ál cool, 164 diferentes drogas foram associa das com redução da glicemia plasmática, porém a maioria destas tinha nível de evi dência clínica de qualidade muito baixa. Essas substâncias estão listadas na Tabela 1. Dentre esses medicamentos, os mais co mumente associados com hipoglicemia fo ram quinolonas, pentamidina, quinina, be tabloqueadores, inibidores da enzima con versora de angiotensina e IGF-1 (22). A pentamidina é tóxica para células β pan creáticas, estando relacionada a hipoglice mias geralmente assintomáticas. Em longo prazo pode levar ao desenvolvimento de diabetes (3, 22). O uso de drogas é a causa mais comum de hipoglicemia. Pode estar presente em qualquer dos dois grupos de pacientes, sendo resultado, por exemplo, de ingestão acidental ou abusiva em indivíduos aparentemente saudáveis, ou de efeito colateral ou erro de prescrição no grupo de pacientes sabidamente doentes. 13 5/12/2013 13:28:26 Hipoglicemia em adultos TABELA 1: Drogas associadas à hipoglicemia — grau de evidência de associação (21) Evidência moderada Evidência baixa Cibenzolina Cloroquina Gatifloxacino Artesunato Pentamidina IGF-1 Quinina Lítio Indometacina Propoxifeno Glucagon Pontos-chave: > A sepse é uma causa relativamente comum de hipoglicemia; > Ocorre quando não é possível manter um equilíbrio entre o aporte e a demanda de glicose; > As citocinas inflamatórias, além de aumentarem o consumo de glicose, podem inibir a gliconeogênese. 14 Hipoglicemia-em-adultos.indd 14 Pacientes críticos e com outras patologias Pode ocorrer hipoglicemia grave durante o curso de diversas doenças críticas (4). Em estudo retrospectivo, realizado em unidade de terapia intensiva adulta, o choque sépti co, insuficiência renal, ventilação mecânica, gravidade da doença, insulinização intensiva e o diagnóstico prévio de diabetes foram considerados fatores de risco independentes para o desenvolvimento de hipoglicemia nesse grupo de pacientes (25). A sepse é uma causa relativamente co mum de hipoglicemia. Ocorre quando não é possível manter um equilíbrio entre o aporte e a demanda de glicose (4, 26). As citocinas inflamatórias, além de aumentarem o consu mo de glicose, podem inibir a gliconeogêne se (27). É importante lembrar também que os pacientes sépticos podem estar mal perfun didos, o que pode gerar valores falsamente baixos de glicose quando a monitorização é feita pela glicemia capilar; portanto, é neces sário confirmar com medidas séricas. A causa da hipoglicemia na doença renal crônica é menos conhecida e pode envolver múltiplos mecanismos — dentre eles o com prometimento da contrarregulação da glico se, menor clearance da insulina e redução da produção renal de glicose (1, 2). Pode ocor rer em pacientes em hemodiálise, possivel mente devido a um aumento do metabolis mo anaeróbico dos eritrócitos causado pelas mudanças do pH citoplasmático (3). Pode ocorrer também na insuficiência hepática grave, mais comumente quando a lesão do fígado é rápida e maciça. A hipoglicemia é pouco comum nas formas usuais de hepatite viral não complicada, cirrose e metástases hepáticas (1). A hipoglicemia pode estar presente na malária, em suas formas graves, e relaciona das com o seu tratamento (4, 21). Também pode ocorrer na desnutrição, como resultado da limitação do substrato da gliconeogênese e glicogenólise. Foi relatada em pacientes com anorexia nervosa (28). Tumores de células não β Hipoglicemia grave foi observada em pe queno número de pacientes com tumores vo lumosos de células não β. A maioria destes tumores é de células mesenquimais ou epite liais. Os mesenquimais são intra-abdominais, retroperitoneais ou intratorácicos, geralmente malignos e de crescimento lento. Os tumores epiteliais relacionados incluem os hepatomas, carcinomas gástricos, adrenocorticais e tumo res carcinoides. Neoplasias do sistema linfáti co também foram associadas à hipoglicemia, como linfomas, leucemias e mieloma múltiplo. A hipoglicemia nesses tumores sólidos decorre da produção excessiva de big IGF II, que é uma forma de IGF-II incompletamente processada que chega mais rapidamente aos tecidos-alvo, por não formar complexos com proteínas transportadoras. A produção endó gena de insulina é suprimida, estando muito baixa (ou indetectável) nos episódios de hi poglicemia, assim como as dosagens de peptídeo C (PC) e pró-insulina. A secreção de GH também está suprimida por um mecanis mo de feedback negativo. As dosagens de IGF-I são baixas, levando à relação IGF-II/IGF-I elevada (1, 2, 4, 29, 30). JBM SETEMBRO/OUTUBRO VOL. 101 No 5 5/12/2013 13:28:27 Hipoglicemia em adultos Outros mecanismos potenciais de hipogli cemia nos tumores de células não β, porém menos comuns, são o consumo de glicose pela própria neoplasia, a produção de auto anticorpos contra a insulina ou o receptor de insulina. A produção de insulina pelo próprio tumor, como síndrome paraneoplásica, é ra ríssima; também há relatos na literatura de tumores produtores de GLP-1 e somatostati na causando hipoglicemia. Extensas metásta ses para o fígado ou suprarrenais podem comprometer a produção hepática de glico se ou a produção de cortisol, respectivamen te, causando hipoglicemia (29, 30). Hipoglicemia por deficiências hormonais A deficiência de hormônios como corti sol e hormônio do crescimento (GH) pode ser a causa de hipoglicemia, porém é etiolo gia mais frequente na faixa pediátrica. É mais comum na insuficiência adrenal secun dária, por deficiência de ACTH, e nos casos de hipopituitarismo em que há deficiência dos dois hormônios. É mais comumente re latada quando há aumento da demanda gli cêmica nesses pacientes, como no exercício físico ou gestação. A hipoglicemia pode ocorrer por diminuição da gliconeogênese, que em geral é corrigida com a reposição de glicocorticoide, mas não de GH (1). Nes ses casos, tanto a dosagem da insulina quanto a do peptídeo C estarão baixas no momento da hipoglicemia (1). Hipoglicemia por erros inatos do metabolismo Os erros inatos do metabolismo (EIMs) são distúrbios de natureza genética que geralmente correspondem a um defeito enzimático capaz de acarretar a interrupção de uma via metabólica de lipídios, carboi dratos ou proteínas e que pode levar à hi poglicemia, na dependência da enzima afetada. Os EIMs que causam hipoglicemia são geralmente diagnosticados na infância e acompanhados por outros sinais e sinto mas (48). O adulto com diagnóstico prévio de determinado EIM pode apresentar hipo glicemias, geralmente mais leves e menos frequentes, quando comparadas com as da infância. Porém, raramente a hipoglice mia pode ser um sinal de apresentação de JBM SETEMBRO/OUTUBRO Hipoglicemia-em-adultos.indd 15 VOL. 101 No 5 EIM na idade adulta. Estes diagnósticos não devem ser esquecidos, especialmente nos casos de hipoglicemia que permane cem com etiologia inexplicada após inves tigação extensa das causas mais usuais e com envolvimento de múltiplos órgãos (48). A avaliação inicial laboratorial destes casos pode ser feita com dosagem de lac tato plasmático, ácidos graxos livres, β hi droxibutirato, acilcarnitinas, amônia séri ca, carnitina livre e total, ácidos graxos li vres e ácidos orgânicos e cetonas urinárias durante episódio de hipoglicemia, em je jum ou após a refeição, de acordo com a via metabólica acometida (48). Seu diag nóstico requer extensa investigação meta bólica e molecular (48). Entre os EIMs que cursam com hipoglice mia e podem ser diagnosticados durante a fase adulta estão a deficiência de frutose-1 -fosfatase uridiltransferase (49, 50), a glico genose tipo III (51) e a deficiência de acil -CoA desidrogenase de cadeia média (MCAD) (52). O adulto com diagnóstico prévio de determinado EIM pode apresentar hipoglicemias, geralmente mais leves e menos frequentes, quando comparadas com as da infância. Porém, raramente a hipoglicemia pode ser um sinal de apresentação de EIM na idade adulta. Estes diagnósticos não devem ser esquecidos, especialmente nos casos de hipoglicemia que permanecem com etiologia inexplicada após investigação extensa das causas mais usuais e com envolvimento de múltiplos órgãos. Hipoglicemias em pacientes sem diabetes aparentemente saudáveis Hiperinsulinemia endógena O hiperinsulinismo endógeno é mais pro vável de ocorrer em pessoa aparentemente saudável, ou seja, sem história clínica rele vante de uso de medicamentos, doenças crí ticas, deficiências hormonais ou tumores de células não β. Nestes indivíduos também é importante considerar a administração aci dental de medicamentos ou a hipoglicemia factícia (1, 2). Nesses casos não ocorre supressão/redu ção fisiológica da secreção de insulina quan do há redução da glicemia plasmática. O mesmo deveria ocorrer com o peptídeo C (PC), que é cossecretado com a insulina. Ou seja, as dosagens plasmáticas de insulina, PC e pró-insulina estarão inapropriadamente elevadas para determinado nível glicêmico (1, 2, 4). A hipersecreção endógena de insulina pode ser causada por tumores de célula β (insulinomas), síndrome de hipoglicemia pan creatogênica não insulinoma, produção de anticorpos anti-insulina ou por secretagogos de insulina (ex.: sulfonilureia). 15 5/12/2013 13:28:27 Hipoglicemia em adultos Pontos-chave: > O insulinoma é a causa mais comum de hipoglicemia hiperinsulinêmica endógena; > Caracteriza-se tipicamente por hipoglicemia em jejum; > Pode ocorrer também hipoglicemia pós-prandial. 16 Hipoglicemia-em-adultos.indd 16 O insulinoma é a causa mais comum de hipoglicemia hiperinsulinêmica endógena. Caracteriza-se tipicamente por hipoglicemia em jejum, mas pode ocorrer também hipogli cemia pós-prandial. Possui incidência de 0,4 por 100 mil pessoas/ano (31) e predominân cia discretamente maior nas mulheres (2). Menos de 10% dos casos são malignos, múl tiplos ou associados à neoplasia endócrina múltipla tipo 1 (NEM1) (4). A doença maligna só pode ser confirmada na presença de me tástase (principalmente para o fígado e linfo nodos regionais). A maioria destes tumores são intrapancreáticos, distribuindo-se de for ma homogênea no órgão, sendo 90% meno res que 2cm e 40% inferiores a 1cm. Tumores maiores também estão associados com ma lignidade (2). A síndrome de hipoglicemia pancreato gênica não insulinoma (SHPNI) é derivada da hipertrofia das ilhotas pancreáticas, podendo associar-se à hiperplasia das mesmas (nesi dioblastose). É caracterizada por períodos de hipoglicemia, que ocorrem geralmente, mas não exclusivamente, no período pós-pran dial, achado oposto ao dos insulinomas. Sua prevalência é superior em homens e bem in ferior à do insulinoma (3, 24). A nesidioblas tose é a hiperplasia primária das ilhotas pan creáticas, sendo geralmente diagnosticada na infância — porém há relatos de diagnósti co na vida adulta (32). Os pacientes submetidos a bypass gástrico (gastroplastia bariátrica em Y de Roux) podem apresentar hipoglicemia por hiperinsulinismo, sendo na maioria das vezes por uma síndrome semelhante à SHPNI, com hiperplasia de ilho tas (33-35). Existem também alguns relatos de insulinomas diagnosticados após essa cirurgia (33). Alterações hormonais, como aumento de GLP-1 e/ou redução de grelina, ruptura na ho meostase da resistência à insulina e hiperinsu linemia com rápida perda de peso, podem estar envolvidas no desenvolvimento da hi perplasia das ilhotas, com consequente hipe rinsulinismo (33-35). A hipoglicemia autoimune por produção de anticorpos anti-insulina ou contra receptor de insulina é frequentemente associada a doenças reumatológicas ou hematológicas, ou induzidas por medicações. Dentre as medi cações associadas, as que possuem o grupo sulfidrila estão relacionadas a 41% dos pacien tes asiáticos com a síndrome; o metimazol foi uma das principais drogas envolvidas (36). O anticorpo anti-insulina é raro na popula ção caucasiana, sendo descrito primariamen te nas populações japonesa e coreana (4). Nesses casos, a insulina secretada em res posta a uma refeição se liga ao anticorpo e, em seguida, dissocia-se de uma forma não regulada, causando hiperinsulinemia e hipo glicemia, especialmente no período de tran sição do estado pós-prandial para o pós-ab sortivo (1-3). A presença de anticorpos contra o receptor de insulina é rara, e geralmente causa resistência à insulina, porém pode cau sar hipoglicemia — devido à ativação do re ceptor de insulina pelo anticorpo (3, 37). A incidência é maior em mulheres afroamerica nas com outros processos autoimunes asso ciados, como lúpus eritematoso sistêmico, tireoidite de Hashimoto, miastenia gravis e doenças hematológicas (4). No diagnóstico diferencial da hiperinsuli nemia é importante considerar a hipoglice mia factícia, devido ao uso de secretagogo da insulina (3). Já o uso de insulina exógena também deve ser considerado, podendo ser diferenciado das formas endógenas pelos ní veis de peptídeo C (Tabela 2). Diagnóstico laboratorial da hiperinsulinemia O diagnóstico deve ser feito pela tríade de Whipple associada à insulina plasmática ≥ 3µU/ml (18pmol/l), peptídeo C ≥ 0,6ng/ml (0,2nmol/l) e pró-insulina ≥ 5pmol/l em vi gência de concentrações de glicose plasmá tica inferiores a 55mg/dl, ou preferencial mente menores que 45mg/dl (2). Outra dosagem laboratorial útil é a de β-hidroxibutirato, pois a hiperinsulinemia su prime a lipólise e a cetogênese, mantendo os níveis dessa substância abaixo de 2,7mM/l durante o jejum (4). Ocasionalmente, alguns pacientes com insulinoma não apresentam os níveis de corte de insulina supracitados, porém os níveis de pró-insulina e peptídeo C preenchem os cri térios diagnósticos. Junto às dosagens hormonais acima, de vem ser realizadas as dosagens de sulfonilu reia e anticorpo anti-insulina, sendo que este último não necessita ser dosado em vigência de hipoglicemia (4). JBM SETEMBRO/OUTUBRO VOL. 101 No 5 5/12/2013 13:28:27 Hipoglicemia em adultos TABELA 2: Perfil hormonal da hipoglicemia de acordo com a etiologia Diagnóstico Insulina (μU/ml) Peptídeo C (nmol/l) Pró-insulina (pmol/l) ß-hidroxibutirato (mmol/l) Anticorpo anti-insulina Sulfonilureia Normal <3 < 0,2 <5 > 2,7 Ausente Ausente Insulinoma, SHPNI ≥3 ≥ 0,2 ≥5 ≤ 2,7 Ausente Ausente Insulina exógena ≥3 < 0,2 <5 ≤ 2,7 Ausente* Ausente Induzido por sulfonilureia ≥3 ≥ 0,2 ≥5 ≤ 2,7 Ausente Presente HAI Ac. anti-insulina ≥3 ≥ 0,2 ≥5 ≤ 2,7 Presente Ausente Mediada por IGF-2† <3 < 0,2 <5 ≤ 2,7 Ausente Ausente HAI: Hipoglicemia autoimune. Ac.: anticorpo. *O anticorpo anti-insulina pode ser positivo. † Níveis elevados de IGF-2 livre, pró-IGF2 e relação IGF-2/IGF-1 elevada. Adaptado de Cryer, P.E. (1). Esses critérios podem ser detectados em vários pacientes após uma noite de jejum, especialmente quando obtidos em três mo mentos diferentes. Caso não seja possível o diagnóstico ambulatorial após uma noite de jejum, ou espontaneamente, durante atendi mento médico no qual o paciente esteja sin tomático, deve-se considerar a realização de teste de jejum prolongado. Teste de jejum prolongado O teste pode começar ambulatorialmen te, após a última refeição noturna, e conti nuar com o paciente hospitalizado (4). Duran te o jejum prolongado o paciente deve inge rir líquidos sem calorias. As coletas de san gue devem ser realizadas de 6/6 horas, até que se constate glicemia menor que 60mg/dl. Nesse ponto as coletas devem passar a ser realizadas a cada 1-2 horas. As dosagens hor monais devem ser iniciadas depois de se atingir um valor de glicose sérica inferior a 60mg/dl (37). Quando o paciente apresentar sintomas de hipoglicemia e for documentada glicemia plasmática inferior a 45mg/dl, o tes te deverá ser interrompido. Caso o paciente apresente sintomas antes de se atingir esse valor, é importante manter o teste até se con firmar glicose sérica inferior a 55mg/dl (4, 6). A elevação progressiva dos níveis de β-hidroxibutirato (superiores a 2,7mM/l após 18 horas de jejum) prediz um teste de jejum negativo para hiperinsulinemia (38). A grande maioria dos portadores de insu linoma cumpre os critérios diagnósticos em JBM SETEMBRO/OUTUBRO Hipoglicemia-em-adultos.indd 17 VOL. 101 No 5 menos de 48 horas — dois terços em menos de 24 horas. Porém, em uma série de 205 pa cientes com insulinoma, 14% não desenvol veram a tríade de Whipple até 48 horas de jejum e, por isso, recomenda-se manter o je jum até 72 horas (39). Ao término do teste de jejum devem ser coletados pró-insulina, insulina, peptídeo C, β-hidroxibutirato e secretagogos de insulina. Deve-se administrar 1mg de glucagon endo venoso, coletar amostras de glicose após 10, 20 e 30 minutos e depois fornecer alimenta ção ao paciente. O incremento de 25mg/dl ou mais na glicose plasmática após a infusão de glucagon sugere o diagnóstico de hipe rinsulinemia. É esperado que o estoque de glicose hepática tenha se consumido após o jejum prolongado; portanto, não haverá um incremento significativo de glicose após a in fusão de glucagon. Já os indivíduos com hi perinsulinemia terão os estoques mantidos, e poderão responder ao estímulo do gluca gon, uma vez que a insulina inibe a glicoge nólise e permite a retenção de glicogênio no fígado (3, 4, 37, 40). Após a confirmação diagnóstica da hipo glicemia e da hiperinsulinemia é possível fa zer o diagnóstico diferencial entre as causas. Na Tabela 2 encontramos os diferentes perfis hormonais esperados, de acordo com a etio logia. Teste após refeição mista Os portadores de hipoglicemia autoimu ne, síndrome de hipoglicemia pancreatogê 17 5/12/2013 13:28:28 Hipoglicemia em adultos nica não insulinoma e alguns pacientes com insulinoma apresentam hipoglicemia pós -prandial. Nestes casos pode-se realizar a in gestão de uma refeição com alimentos reco nhecidos pelo paciente como possíveis de sencadeantes de hipoglicemia. Suplementos orais podem servir como alternativa à refei ção. O paciente deverá ser mantido em ob servação por cinco horas após a alimentação, realizando as dosagens glicêmicas e hormo nais seriadas (insulina, peptídeo C, pró-insuli na). Assim como o teste de jejum prolonga do, a presença da tríade de Whipple é indis pensável, e somente as amostras com glice mia < 60mg/dl deverão ser analisadas. Não existem normas estabelecidas para a inter pretação deste teste, porém utilizam-se na prática clínica os critérios aplicados no teste de jejum (4). O teste de tolerância oral à gli cose com 75g de dextrosol (TTOG) não deve ser realizado para diagnóstico, porque os re sultados são inconsistentes — a hipoglicemia no TTOG, em grande parte dos casos, não é reprodutível no teste de refeição mista; 10%30% dos indivíduos submetidos ao TTOG apresentam G < 50mg/dl no teste, sem sinto mas. Os pacientes com hipoglicemia pancrea togênica não insulinoma não costumam apre sentar hipoglicemia no teste de jejum de 72 horas, podendo ser submetidos ao teste da refeição mista. Pontos-chave: > A ressecção cirúrgica é o melhor tratamento, por ser geralmente curativa no caso dos tumores solitários; > A enucleação é a técnica de escolha; > A pancreatectomia corpocaudal de maior extensão pode ser realizada nos casos de múltiplos adenomas. 18 Hipoglicemia-em-adultos.indd 18 Exames complementares de localização Nos casos em que foram descartados a presença de hipoglicemia autoimune e o uso de drogas como agentes causais, com au mento da produção de insulina endógena comprovado laboratorialmente, deve-se rea lizar os exames complementares de imagem na tentativa de localizar o insulinoma, já que este é a principal causa de hiperinsulinemia endógena em adultos (1, 4). A tomografia computadorizada (TC) é ca paz de detectar 70% a 80% dos insulinomas, e a ressonância magnética (RNM), cerca de 85% dos casos (41). A sensibilidade do OctreoScan é de aproximadamente 50% (3). Dentre os procedimentos invasivos, a ultras sonografia endoscópica de pâncreas (USEP) possui alta sensibilidade, com a opção de punção aspirativa do tumor por agulha fina. Em alguns centros a sensibilidade é superior a 90% (42, 43). Em uma série da Mayo Clinic, a sensibilidade da USEP foi de 75% (38). A utilização da tomografia computadorizada com emissão de pósitrons (PET) com fluoreto 18-L-diidroxifenilalanina (18F-DOPA), nos ca sos em que a localização tumoral não foi pos sível através de TC ou RNM, ainda não tem validação na prática clínica, com estudos pre liminares apresentando resultados divergen tes (44, 45). Nos casos em que os exames de imagem não foram capazes de detectar o insulinoma, a injeção arterial pancreática seletiva de cál cio (teste de Imamura-Doppman) pode aju dar na localização deste tumor, sendo, no entanto, raramente necessária (1, 2, 4). Este exame é o método de escolha para confirma ção da SHPNI e nos casos de hipoglicemia pós-bypass gástrico (4, 33, 34, 46). Nesse procedimento cateterizam-se as artérias es plênicas, mesentérica superior e gastroduo denal e injeta-se gluconato de cálcio em cada artéria de maneira sequencial, coletan do-se insulina, glicose e cálcio na veia hepá tica direita após cada infusão (3). O resultado positivo é definido como a duplicação ou tri plicação da concentração de insulina no soro venoso hepático basal. No insulinoma a res posta é geralmente localizada, exceto nos casos em que este tumor seja irrigado por duas artérias ou na presença de múltiplos in sulinomas (47). Na SHPNI, as respostas posi tivas são normalmente observadas após a injeção de múltiplas artérias (4, 46). Com a adequada combinação de modali dades invasivas e não invasivas, a maioria dos insulinomas é localizada ainda no pré-opera tório (4). No caso dos tumores não localiza dos no pré-operatório, a ultrassonografia transoperatória (USTO) possibilita a localiza ção em 75%-100% dos insulinomas, além de auxiliar na detecção de tumores não palpá veis pelo cirurgião e definir a relação do tu mor com estruturas vitais, como ducto pan creático e grandes vasos. A sensibilidade combinada da USTO e da palpação pelo ci rurgião pode chegar a 100% em alguns cen tros (2). Tratamento Se o paciente estiver consciente, deve in gerir imediatamente 15 a 20g de carboidrato por via oral, podendo repetir, caso necessá rio. Deve-se evitar alimentos com gordura, já JBM SETEMBRO/OUTUBRO VOL. 101 No 5 5/12/2013 13:28:28 Hipoglicemia em adultos que retardam a correção da glicemia. Caso esteja inconsciente, deverá receber o carboi drato por via intravenosa. O tratamento es pecífico irá depender da etiologia. Hipoglicemia associada a doenças críticas, deficiências hormonais, EIM e drogas O tratamento da hipoglicemia associada a outras comorbidades e deficiências hormo nais envolve a pronta reversão da hipoglice mia com a administração de glicose, a obser vação rigorosa dos níveis glicêmicos e o tra tamento da doença de base. No caso de tu mores células não β, a administração de gli cocorticoides, hormônio de crescimento ou ocasionalmente de octreotida pode ser útil enquanto se aguarda o tratamento do tumor de base. Se o diagnóstico for de insuficiência adre nal, a reposição do cortisol resolverá pronta mente a hipoglicemia. No caso do EIM, o tratamento deve ser direcionado para a defi ciência metabólica diagnosticada. Nos casos que têm como origem o uso de drogas deve-se tentar retirar o medicamento em questão, ato dificultado diante de hipo glicemia factícia. Insulinoma A ressecção cirúrgica é o melhor trata mento, por ser geralmente curativa no caso dos tumores solitários. A enucleação é a téc nica de escolha, mas a pancreatectomia cor po-caudal de maior extensão pode ser reali zada nos casos de múltiplos adenomas, e a duodenopancreatectomia pode ser necessá ria nos tumores de cabeça de pâncreas. A taxa de recorrência após a ressecção cirúrgi ca é de 7% nos pacientes sem NEM1 e de 21% naqueles com NEM1 (34). A terapia me dicamentosa pode ser considerada nos pa cientes cujo insulinoma não é passível de ressecção ou quando há contraindicação à cirurgia devido a comorbidades clínicas, por opção do paciente ou em caso de doença metastática não ressecável (3). As opções te rapêuticas para evitar a hipoglicemia são o diazóxido, octreotida, lanreotídeo e verapa mil (1, 3, 4, 53). O diazóxido é capaz de diminuir a secre ção de insulina e deve ser dado de maneira fracionada, na dose máxima de 1.200mg/dia. JBM SETEMBRO/OUTUBRO Hipoglicemia-em-adultos.indd 19 VOL. 101 No 5 O verapamil, um bloqueador do canal de cálcio, tem sido usado com algum sucesso (3, 53). A octreotida é um análogo da somatosta tina que inibe o GH. Em doses elevadas é capaz de inibir a secreção de insulina, TSH e glucagon. Possui alta eficácia no controle dos sintomas de glucagonomas, VIPomas e tu mores carcinoides, mas um efeito menos pre visível no insulinoma. É uma opção para os pacientes que não respondem bem ao diazó xido (3, 53). O everolimus, um imunossupressor que inibe a proliferação de células T, possui ainda experiência limitada, mas alguns dados su gerem que pode ser útil nos casos refratários (54, 55). Nos casos em que foram descartados a presença de hipoglicemia autoimune e o uso de drogas como agentes causais, com aumento da produção de insulina endógena comprovado laboratorialmente, deve-se realizar os exames complementares de imagem na tentativa de localizar o insulinoma, já que este é a principal causa de hiperinsulinemia endógena em adultos. SHPNI Alteração dietética com redução de car boidratos, aumento do teor proteico e refei ções frequentes e medicamentos como oc treotida, verapamil, diazóxido e acarbose podem melhorar os sintomas hipoglicêmicos nos pacientes com hipoglicemia após bypass gástrico e nos portadores de SHPNI com sin tomas mais leves (1, 3). A cirurgia é o tratamento de escolha para a SHPNI e para a hipoglicemia pós-bypass gástrico que não responde às medidas de su porte clínico. A melhoria dos sintomas pode ser esperada com pancreatectomia parcial guiada pelos resultados do teste de estimu lação de cálcio (4). Nas situações em que não se tem acesso a essas alternativas de tratamento pode ser necessária infusão contínua de glicose ou grandes doses de amido de milho cozido (4). Hipoglicemias autoimunes Na maioria dos pacientes é possível obter a melhoria ou resolução completa da hipogli cemia. Em uma série de casos, a primeira li nha de tratamento foi o uso de refeições com baixo teor de carboidratos, para prevenir a hipoglicemia pós-prandial. Foram utilizados corticosteroides em 38% dos pacientes, sen do na maioria prednisona oral. Nos casos em que a autoimunidade foi induzida por medi camentos, a suspensão da droga levou à re solução dos sintomas. Quatro pacientes (13%) foram submetidos à cirurgia pancreáti ca, por suspeita de insulinoma, e um pacien 19 5/12/2013 13:28:28 Hipoglicemia em adultos te foi submetido à pancreatectomia subtotal, devido a hipoglicemia de difícil controle. Ou tros medicamentos (como acarbose, soma tostatina e diazóxido) têm sido tentados, com resultados variáveis (56). Referências Endereço para correspondência: Melanie Rodacki Av. Alexandre Ferreira, 420 Apto. 403 — Lagoa 22470-220 Rio de Janeiro-RJ 1. CRYER, P.E. — Hypoglycemia. In: Kronenberg, H.; Melmed, S. et al. (eds.) — Williams textbook of endocrinology. 12. ed., Philadelphia, Saunders, an imprint of Elsevier, Inc., 2011. p. 155277. 2. CRYER, P.E. — Glucose homeostasis and hypoglycemia. In: Kronenberg, H.; Melmed, S. et al. (eds.) — Williams textbook of endocrinology. 11. ed., Philadelphia, Saunders, an imprint of Elsevier, Inc., 2008. p. 150333. 3. VILAR, L.; GOMES, V. et al. — Manutenção da hipoglice mia em não diabéticos. In: Vilar, L. (ed.) — Endocrinologia clínica. 5. ed., Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 2013. p. 797811. 4. CRYER, P.E.; AXELROD, L. et al. — Evaluation and manage ment of adult hypoglycemic disorders: An Endocrine Society Clinical Practice Guideline. J. Clin. Endocrinol. Metab., 94: 709, 2009. 5. AMIEL, S.A. — Counterregulation to hypoglycaemia: Physio logy. Ann. Endocrinol., 65(1): 857, 2004. Hipoglicemia factícia O manejo agudo é a correção da hipogli cemia com a administração de alimento oral ou glicose oral ou venosa, conforme o nível de consciência, como em todas as demais formas de hipoglicemia. O manejo em longo prazo envolve tratamento psicoterápico, com alteração comportamental. 6. CRYER, P.E. — Hypoglycemia in diabetes: Pathophysiology, prevalence and prevention. American Diabetes Association, Alexandria, VA 2009. 7. CRYER, P.E. — The barrier of hypoglycemia in diabetes. Diabetes, 57: 3169, 2008. 8. DUNNING, B.E. & GERICH, J.E. — The role of alphacell dysregulation in fasting and postprandial hyperglycemia in type 2 diabetes and therapeutic implications. Endocr. Rev., 28: 253, 2007. 9. CRYER, P.E. — Mechanisms of hypoglycemiaassociated au tonomic failure in diabetes. N. Engl. J. Med., 369: 362, 2013. 10. HEPBURN, D.A.; DEARY, I.J. et al. — Symptoms of acute insulininduced hypoglycemia in humans with and without IDDM. Factoranalysis approach. Diabetes Care, 14: 949, 1991. Obs.: As 61 referências restantes que compõem este artigo se encontram na Redação à disposição dos interessados. www.def.com.br Consulta fácil, dinâmica e atualizada. Um produto da Editora de Publicações Científicas Ltda. 20 Hipoglicemia-em-adultos.indd 20 JBM SETEMBRO/OUTUBRO VOL. 101 No 5 5/12/2013 13:28:33 Biomarcadores diagnósticos de tuberculose em pleurologia Cyro Teixeira da Silva Junior Joeber Bernardo Soares de Souza Jorge Luiz Barillo Renato Bergalo Bezerra Cardoso Salim Kanaan Analúcia Rampazzo Xavier Gilberto Perez Cardoso Elizabeth Giestal de Araujo II Simpósio JBM de Atualização Biomarcadores diagnósticos de tuberculose em pleurologia Da Unidade de Pesquisa em Doenças Pleurais do Hospital Universitário Antonio Pedro. Do Laboratório de Pesquisa em Líquido Pleural do Instituto de Biologia da Universidade Federal Fluminense. Resumo Summary Atualmente o diagnóstico de tuberculose pleural pode ser realizado com a dosagem de biomarcadores diagnósticos no líquido pleural, especificamente com a dosagem da enzima adenosina desaminase. Os quadros clínico, laboratorial, imagem e citopatologia sugestivos sempre devem ser valorizados no conjunto do diagnóstico. Tal abordagem elege somente o procedimento de toracocentese como necessário para início do diagnóstico. Na maioria das apresentações clínicas, procedimentos cirúrgicos mais invasivos (biopsias pleurais), com complicações potencialmente fatais, não precisam ser realizados para exame histopatológico. Currently the diagnosis of pleural tuberculosis can be performed with the dosage of diagnostic biomarkers in pleural fluid, specifically the enzyme adenosine deaminase. The clinical, imaging and cytology suggestive should always be valued in the set of diagnosis together laboratory measurements. This approach selects only a thoracentesis procedure for early diagnosis. In most clinical presentations, more invasive surgical procedures (pleural biopsies) with life-threatening complications for histopathological examination need not be performed. Conceito e tipos de biomarcadores a predição de riscos, causa, diagnóstico, progressão, regressão, estratificação ou desfecho do tratamento de determinada doença (2). Os biomarcadores podem ser de diversos tipos, tais como fisiológicos (funções de órgãos), físicos (alterações características em estruturas biológicas), histológicos (amostras de tecido obtidas por biopsia) e anatômicos. Podem ser células específicas, genes, enzimas, hormônios ou moléculas diversas. Os mais relevantes em investigação médica são os marcadores bioquímicos, que podem ser obtidos com relativa facilidade a partir de líquidos orgânicos (2). Os biomarcadores são definidos como alterações celulares, bioquímicas ou moleculares que são mensuráveis em meios biológicos, tais como tecidos humanos, células ou líquidos orgânicos (1). Recentemente, a definição foi ampliada para incluir as características biológicas, que podem ser efetivamente medidas e avaliadas como indicadores de processos biológicos normais, patogênicos, ou devido à resposta farmacológica resultante de intervenção terapêutica (2). Na prática clínica, os biomarcadores incluem ferramentas e tecnologias que podem ajudar a compreender Unitermos: Derrame pleural; biomarcadores; adenosina desaminase; interferon-gama; toracocentese. Keywords: Pleural effusion; tuberculosis; biomarkers; adenosine deaminase; interferongamma; thoracentesis. Os autores declaram não ter conflito de interesses. Trabalho de pesquisa sem suporte financeiro de instituições públicas e/ou particulares. O Comitê de Ética do hospital aprovou o projeto da linha de nossa pesquisa para seres humanos. Os procedimentos e exames relatados no artigo estão incluídos no projeto aprovado. JBM SETEMBRO/OUTUBRO Biomarcadores Diagnósticos.indd 21 VOL. 101 No 5 21 5/12/2013 13:30:06 Biomarcadores diagnósticos de tuberculose em pleurologia Síndrome do derrame pleural O derrame pleural é uma síndrome que pode acompanhar diversas doenças, quer sejam primárias da pleura, secundárias às lesões do parênquima pulmonar ou às enfermidades sistêmicas (3). Apesar de todos os avanços tecnológicos ocorridos nos últimos anos, ainda há dificuldade para o diagnóstico da causa básica da síndrome do derrame pleural, principalmente em serviços de saúde não especializados em doenças torácicas. A literatura mundial relata que atualmente, mesmo sendo o paciente exaustivamente investigado, em 11% a 20% dos casos a causa não é estabelecida (3). Para o diagnóstico da causa do derrame pleural podem ser necessários os procedimentos de toracocentese, biopsia pleural fechada com agulha, toracoscopia e toracotomia (3). Eventualmente, a broncoscopia e a mediastinoscopia podem ser necessárias antes da toracotomia (4). Tuberculose pleural Pontos-chave: > Na prática clínica, o diagnóstico de TB pleural baseia-se no exame histopatológico; > Geralmente obtido pela biopsia pleural fechada de pleura parietal com agulha; > Uma alternativa relatada nos últimos anos, para o diagnóstico de tuberculose pleural, é a dosagem de numerosos biomarcadores inflamatórios não específicos.. 22 Biomarcadores Diagnósticos.indd 22 Anualmente, em todo o mundo, mais de um milhão de pessoas são atendidas devido a derrame pleural (3). No Ambulatório de Pleurologia do Hospital Universitário Antonio Pedro, no estado do Rio de Janeiro, em pesquisa publicada recentemente, observa-se a prevalência de 56% de tuberculose (TB) como causa de derrame pleural (3). No Brasil, o derrame pleural representa a manifestação mais frequente de tuberculose extrapulmonar. O derrame pleural tuberculoso ocorre em aproximadamente 30% dos casos de TB (5). Os exames convencionais para o diagnóstico de tuberculose pleural, nos materiais obtidos pelos procedimentos citados, incluem, tradicionalmente, a pesquisa do bacilo álcool-ácido resistente (BAAR), a cultura de micobactérias e o exame histopatológico pleural (5). Na prática clínica, a pesquisa do BAAR possui baixa sensibilidade. No líquido pleural são necessários 10 mil bacilos/ml de material para a coloração por Ziehl-Neelsen diagnosticar uma baciloscopia como positiva (5). Diversos trabalhos relatam a sensibilidade deste exame como de menos de 10% dos casos, porém na coinfecção pelo HIV o alcance da baciloscopia pode chegar a 20% (5). A cultura de micobactérias no líquido pleural, em meio sólido (Löwenstein-Jensen), demanda uma espera de até 60 dias para análise efetiva. Necessita de 10 a 100 bacilos viáveis/ml de líquido pleural, e sua sensibilidade pode variar entre 12% e 70% nas diversas séries de casos pesquisadas, sendo na maioria delas menor do que 30% (5). O cultivo de micobactérias, em meio líquido, por sistemas automatizados (exemplo: BACTEC) ainda é pouco difundido no Brasil. Entretanto, cabe lembrar que a média de tempo para liberação dos resultados é de 18 dias (5). A técnica da PCR (polymerase chain reaction) é ainda muito dispendiosa, mas rápida nos resultados. Tem como base a amplificação de fragmentos de DNA micobacteriano e não requer imunidade intacta para aumentar seus parâmetros diagnósticos. São necessários menos de 10 bacilos viáveis/ml de líquido pleural para o diagnóstico. Em diversas séries pesquisadas sua sensibilidade varia entre 20% e 90%, com especificidade entre 78% e 100% para diversas sequências de DNA sendo amplificadas. Cabe ressaltar que a presença de bacilos inviáveis e contaminação são causas de exames falso-positivos (5). Na prática clínica, o diagnóstico de TB pleural baseia-se no exame histopatológico, geralmente obtido pela biopsia pleural fechada de pleura parietal com agulha (5). Nas diversas séries de casos pesquisadas a copositividade deste exame ficou entre 50% e 97% dos casos com presença de granulomas no infiltrado inflamatório, necrose caseosa ou presença de BAAR. Quando a cultura para micobactérias é realizada nos fragmentos pleurais oriundos de biopsia pleural, a copositividade do exame fica entre 39% e 80% dos casos (5). Aceita-se a presença de granulomas pleurais como diagnóstico de TB, na ausência de imunossupressão ou de doença pulmonar sugestiva de sarcoidose, artrite reumatoide, nocardiose e doença por fungos (5). Biomarcadores de tuberculose pleural Uma alternativa relatada nos últimos anos, para o diagnóstico de tuberculose pleural, é a dosagem de numerosos biomarcadores inflamatórios não específicos e biomarcadores de resposta imune (6). Porém, os únicos que possuem parâmetros estatísticos para serem JBM SETEMBRO/OUTUBRO VOL. 101 No 5 5/12/2013 13:30:06 Biomarcadores diagnósticos de tuberculose em pleurologia utilizados são a citocina interferon-gama e a enzima adenosina desaminase (ADA), dosadas no líquido pleural (L) (6, 7). Na prática clínica, a ADA-L já foi validada no Brasil e no exterior para ser utilizada como biomarcador de tuberculose pleural (7). Interferon-gama O interferon-gama, embora seja um marcador sensível, ainda não é utilizado na rotina clínica. Nas diversas séries de casos pesquisadas, a sensibilidade variou entre 78% e 100%, com especificidade entre 95% e 100% (5, 6). Uma comparação entre as diferentes séries não é possível, porque os métodos de dosagem são diferentes, juntamente com valores diversos de limites de referência no líquido pleural (5, 6). Adenosina desaminase pleural (ADA-L) O objetivo específico deste trabalho é atualizar e divulgar a dosagem da ADA como biomarcador de tuberculose pleural. ADA é uma denominação genérica de um grupo de enzimas com pesos moleculares distintos, que possuem função química semelhante no metabolismo das purinas. A ADA é uma enzima localizada principalmente no citoplasma celular (citosol) e na superfície celular (7). Nesta última localização a ADA tem sido detectada em células hematopoéticas, e possui uma função estimulatória de linfócitos, independente de sua função catalítica (7). Duas diferentes isoenzimas da ADA, designadas ADA1 e ADA2, foram encontradas em mamíferos e vertebrados inferiores. No Referências 1.ATKINSON, A.J. et al. — Biomarkers and surrogate endpoints: Preferred definitions and conceptual framework. Clin. Pharmaco & Ther., 69(3): 89-95, 2001. 2.MAYEUX, R. — Biomarkers: Potential uses and limitations. J. Am. Soc. Exp. Neuro Ther., 1: 182-8, 2004. 3.SOCIEDADE BRASILEIRA DE PNEUMOLOGIA E TISIOLOGIA — Diagnóstico e tratamento das doenças pleurais (Silva Junior, C.T., org.). Rio de Janeiro, AC Farmacêutica, 2013. 4.QUINN, T. et al. — Decision making and algorithm for the management of pleural effusions. Thorac. Surg. Clin., 23(1): 11-6, 2013. 5.SILVA JUNIOR, C.T. — Diagnostic approach to tuberculosis in the pleura, lymph nodes, kidneys, and central nervous system. Pulmão, 21(1): 32-5, 2012. JBM SETEMBRO/OUTUBRO Biomarcadores Diagnósticos.indd 23 VOL. 101 No 5 homem, quase toda atividade da ADA é atribuída à ADA1 (7). No Brasil existem trabalhos pioneiros sobre diagnóstico de TB pleural com dosagem de ADA no líquido pleural (ADA-L). As conclusões dessas diversas pesquisas afirmam que com níveis de atividade de ADA total maiores ou iguais a 40UI/l, dosada no líquido pleural pelo método colorimétrico in house, de Giusti e Galanti, aceita-se o diagnóstico de TB pleural. A sensibilidade atual por este kit artesanal é de mais de 80%, e a especificidade é superior a 90%, somente com o procedimento de toracocentese, após avaliação do quadro clínico, imagem e citopatologia do líquido pleural (7). A dosagem combinada de ADA e interferon-gama aumenta a acurácia diagnóstica do derrame pleural por tuberculose (8). Estamos pesquisando, em nossa unidade de pesquisa no Hospital Universitário Antonio Pedro (Universidade Federal Fluminense), a validação clínica de um kit comercial, automatizado por método colorimétrico enzimático, para dosagem da ADA-L (9). Concluímos que atualmente o diagnóstico de tuberculose pleural pode ser realizado com a dosagem de biomarcadores diagnósticos no líquido pleural, especificamente com a dosagem da enzima ADA-L. Quadro clínico, imagem e citopatologia sugestivos sempre devem ser valorizados no conjunto do diagnóstico. Tal abordagem elege somente o procedimento de toracocentese como necessário para início do diagnóstico. Na maioria das apresentações clínicas, procedimentos cirúrgicos mais invasivos (biopsias pleurais), com complicações potencialmente fatais, não precisam ser realizados para exame histopatológico. 6.PORCEL, J.M. — Pleural fluid biomarkers: Beyond the light criteria. Clin. Chest Med., 34: 27-37, 2013. 7.SILVA JUNIOR, C.T.; BEHRSIN, R.F. et al. — Evaluation of adenosine deaminase activity for the diagnosis of pleural TB in lymphocytic pleural effusions. Biomarkers in Med., 7(1): 113-8, 2013. 8. YAN-BIN, W.U. et al. — Combined detections of interleukin 27, interferon-gamma, and adenosine deaminase in pleural effusion for diagnosis of tuberculous pleurisy. Chin. Med. J., 126(17): 3215-21, 2013. 9.FERES, M.C. et al. — Laboratorial validation of an automated assay for the determination of adenosine deaminase activity in pleural fluid and cerebrospinal fluid. J. Bras. Pneum., 34(12): 1033-9, 2008. O interferon-gama, embora seja um marcador sensível, ainda não é utilizado na rotina clínica. Nas diversas séries de casos pesquisadas, a sensibilidade variou entre 78% e 100%, com especificidade entre 95% e 100%. Uma comparação entre as diferentes séries não é possível, porque os métodos de dosagem são diferentes, juntamente com valores diversos de limites de referência no líquido pleural. Endereço para correspondência: Cyro Teixeira da Silva Junior Rua da Conceição, 13/sl. 210 24020-080 Niterói-RJ [email protected] 23 5/12/2013 13:30:07 Diferente dos outros, parecido com o osso. ©Medley 2013. ®Marca Registrada. OSTEONUTRI ANÚNCIO MÉDICO 2013 – 50512716 – Maio/2013. 1-3 Reduz em 43% o risco de fraturas osteoporáticas4 94% das pacientes não apresentam eventos gastrointestinais5 Serviço de Informações Medley 0800 7298000 www.medley.com.br Referências: 1. Marcus R. Fármacos que afetam a calcificação e a renovação do osso. Cálcio, fosfato, paratormônio, vitamina D, calcitonina e outros compostos. In: Goodman & Gilman. As bases farmacológicas da terapêutica. 9ª ed. Mc-Graw Hill, Rio de Janeiro. 1996. p. 1126-46. 2. Heaney RP. Phosphorus nutrition and the treatment of osteoporosis. Mayo Clin Proc 2004;79:91-7. 3. Bula do Produto. 4. Chapuy MC, Arlot ME, Duboeuf F, Brun J, Crouzet B, Arnaud S, Delmas PD, Meunier PJ. Vitamin D3 and calcium to prevent hip fractures in elderly women. N Engl J Med 1992;327:1637-42. 5. Chapuy MC, Pamphile R, Paris E, Kempf C, Schlichting M, Arnaud S, Garnero P, Meunier PJ. Combined calcium and vitamin D3 supplementation in elderly women: confirmation of reversal of secondary hyperparathyroidism and hip fracture risk: the Decalyos II study. Osteoporos Int. 2002; 13 (3): 257-64. OsteoNutri® - fosfato de cálcio tribásico e colecalciferol - vitamina D3. Indicações: prevenção e tratamento auxiliar da desmineralização óssea (osteoporose); na osteomalácia, raquitismo e tratamento de hipocalcemia; como suplemento vitamínico e mineral durante a gestação e aleitamento materno. Contraindicações: hipersensibilidade conhecida aos componentes do produto; para os casos de hipercalcemia, insuficiência renal grave, sarcoidose, hipercalciúria grave e hipervitaminose D. USO ADULTO. Registro no MS: 1.0181.0522. SE PERSISTIREM OS SINTOMAS, O MÉDICO DEVERÁ SER CONSULTADO. Material destinado aos profissionais de saúde habilitados a prescrever ou dispensar medicamentos. “OsteoNutri É UM MEDICAMENTO. SEU USO PODE TRAZER RISCOS. PROCURE O MÉDICO E O FARMACÊUTICO. LEIA A BULA”. ® OT_0001_13D.indd 1 Sem título-1 1 5/12/2013 14:02:35 Aspectos atuais do tratamento medicamentoso da fibromialgia Rafael Mendonça da Silva Chakr Ricardo Machado Xavier Do Serviço de Reumatologia do Departamento de Medicina Interna da Faculdade de Medicina do Hospital de Clínicas de Porto Alegre — Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Resumo Summary Fibromialgia (FM) é a síndrome de dor difusa crônica acompanhada de sintomas somáticos, tais como fadiga, transtornos do humor, do sono e da cognição. Em uma abordagem prática do paciente com FM, além das medidas não farmacológicas, cada sintoma pode ser tratado com medicamento específico. Este artigo provê revisão atualizada da literatura sobre os principais medicamentos atualmente disponíveis no Brasil para o tratamento da FM em adultos. Fibromyalgia (FM) is the chronic widespread pain syndrome associated with fatigue, mood, sleep and cognitive disorders. Besides non-pharmacological approach, each symptom should be treated with a specific drug. The goal of this study is to provide up-to-date literature review on main aspects of adult FM drugs available for use in Brazil. Introdução gimento da síndrome está uniformemente associado a fatores genéticos e ambientais, tais como polimorfismos da COMT (catecol-O-metil transferase) e tabagismo (4, 5). O principal fenômeno fisiopatológico da FM é a sensibilização central, caracterizada pela atenuação das vias nociceptivas inibitórias descendentes e pelo favorecimento das vias pró-nociceptivas ascendentes (Figura) (6). A fibromialgia (FM) é uma síndrome de dor difusa crônica acompanhada de sintomas somáticos, tais como fadiga, transtornos do humor, do sono e da cognição (1). Está presente em 2,5% a 5% da população, sendo predominante em mulheres (10 mulheres para um homem), com pico de incidência entre os 30 e 50 anos de idade (2, 3). O sur- l íve Sensibilidade s n se In II Simpósio JBM de Atualização Aspectos atuais do tratamento medicamentoso da fibromialgia Unitermos: Fibromialgia; tratamento; terapia; drogas.. Keywords: Fibromyalgia; treatment; therapy; drugs. Do r Pró-nocicepção Antinocicepção [NGF, SP, EAA, PG...] [5HT, NE, DA, EO...] Figura: Desequilíbrio nociceptivo observado na sensibilização central. Adaptada de Russell & Larson (6). NGF: fator de crescimento neuronal; SP: substância P; EAA: aminoácidos excitatórios; PG: prostaglandinas; 5HT: serotonina; NE: noradrenalina; DA: dopamina; EO: opioides endógenos. JBM SETEMBRO/OUTUBRO Aspectos Atuais do Tratamento.indd 25 VOL. 101 No 5 25 5/12/2013 13:31:01 Aspectos atuais do tratamento medicamentoso da fibromialgia Esse desequilíbrio nociceptivo manifesta-se por alodinia (dor ao leve toque da pele) e hiperalgesia (dor amplificada), presentes na FM. O diagnóstico pode ser feito a partir dos critérios de classificação do Colégio Americano de Reumatologia (Tabela 1) (7, 8). A FM pode afetar a qualidade de vida e a capacidade funcional dos indivíduos de forma mais intensa do que artropatias infla- matórias como artrite reumatoide e espondiloartrites (9). Além disso, aumenta custos e a utilização de recursos em saúde (10). Para que esses prejuízos sejam minimizados, recomendam-se educação do paciente e família, exercício físico, psicoterapia e farmacoterapia. A associação dessas intervenções farmacológicas e não farmacológicas oferece os melhores resultados terapêuticos (1). TABELA 1: Critérios de classificação de fibromialgia do Colégio Americano de Reumatologia Critérios de 1990 Critérios de 2010 Dor nos quatro quadrantes do corpo Uma das duas condições: a) IDD ≥ 7 e EGS ≥ 5¶ b) IDD 3-6 e EGS ≥ 9¶ Dor há pelo menos 3 meses Sintomas há pelo menos 3 meses Presença de pelo menos 11 de 18 pontos dolorosos* Outras causas de dor excluídas Outras causas de dor excluídas IDD: índice de dor difusa; EGS: escala de gravidade de sintomas. *Occipital, cervical baixo, trapézio, supraespinhoso, segunda costela, epicôndilo lateral, glúteo, trocanter maior e joelho bilateralmente. ¶ Índice de dor difusa (0-19): mandíbula, cintura escapular, braço, antebraço/mão, quadril, coxa e perna/pé bilateralmente, coluna dorsal, coluna lombar, pescoço, tórax, abdome; escala de gravidade de sintomas (0-12): soma das gravidades (0 = nunca, 1 = de vez em quando, 2 = quase sempre, 3 = sempre) de fadiga, despertar de sono não restaurador, sintomas cognitivos e sintomas somáticos em geral na última semana. TABELA 2: Abordagem farmacológica da FM por sintoma SintomasMedicamentos Fadiga Amitriptilina, 10-75mg/dia, preferencialmente à noite Duloxetina, 30-120mg/dia, preferencialmente pela manhã ou a cada 12 horas Fluoxetina, 20-80mg/dia, preferencialmente pela manhã Nortriptilina, 10-75mg/dia, preferencialmente à noite Insônia Amitriptilina, 10-75mg/dia, preferencialmente à noite Ciclobenzaprina, 5-30mg/dia, preferencialmente à noite Nortriptilina, 10-75mg/dia, preferencialmente à noite Pramipexol, 0,125-0,5mg/dia, antes de dormir Pregabalina, 150-450mg/dia, à noite ou a cada 12 horas Zolpidem, 10mg/dia, antes de dormir Blues (tristeza) Amitriptilina, 10-75mg/dia, preferencialmente à noite Duloxetina, 30-120mgdia, preferencialmente pela manhã ou a cada 12 horas Fluoxetina, 20-80mg/dia, preferencialmente pela manhã Nortriptilina, 10-75mg/dia, preferencialmente à noite Rigidez Ciclobenzaprina, 5-30mg/dia, preferencialmente à noite Ow! (dor) Amitriptilina, 10-75mg/dia, preferencialmente à noite Duloxetina, 30-120mg/dia, preferencialmente pela manhã ou a cada 12 horas Fluoxetina, 20-80mg/dia, preferencialmente pela manhã Gabapentina, 1.200-1.400mg/dia, a cada 8 horas Nortriptilina, 10-75mg/dia, preferencialmente à noite Paracetamol, 500-3.000mg/dia, até a cada 8 horas Pregabalina, 150-450mg/dia, à noite ou a cada 12 horas Tramadol, 50-300mg/dia, até a cada 8 horas Adaptado de Boomershine & Crofford (11). 26 Aspectos Atuais do Tratamento.indd 26 JBM SETEMBRO/OUTUBRO VOL. 101 No 5 5/12/2013 13:31:02 Aspectos atuais do tratamento medicamentoso da fibromialgia Em uma abordagem prática do paciente com FM, além das medidas não farmacológicas, cada sintoma pode ser tratado com medicamento específico (Tabela 2) (11). Além da dor, a depressão, ansiedade, sono não reparador, fadiga, rigidez matinal, síndromes funcionais da bexiga e do intestino, parestesias, percepção de edema, prurido, disautonomia, entre outros, compõem a miríade de expressões clínicas da FM (8). Diante dessa variedade de sintomas e de condições associadas, é recomendável a utilização do questionário de impacto da fibromialgia (FIQ) como ferramenta auxiliar no reconhecimento dos domínios mais limitantes da síndrome. O FIQ é um instrumento validado para avaliar a gravidade dos sintomas da FM e medir a resposta terapêutica tanto em pesquisa quanto na prática assistencial (12). Consiste de perguntas sobre capacidade funcional e laboral, impacto global e sintomas específicos da síndrome (Tabela 3) (13). Sua pontuação varia de 0 a 100, sendo considerados com maior impacto os pacientes acima de 70 pontos. Como medida de resposta terapêutica, a menor variação clinicamente significativa do FIQ é de 14% (14). Com o entendimento do funcionamento anômalo das vias nociceptivas na sensibilização central (Figura), novos medicamentos puderam ser aprovados para uso assistencial, aumentando as chances de sucesso do controle sintomático. O objetivo deste artigo é prover revisão atualizada da literatura sobre os principais medicamentos atualmente disponíveis no Brasil para o tratamento da FM em adultos. Métodos Foi realizada busca, no PubMed/Medline e na Cochrane, por meta-análises e ensaios clínicos randomizados (ECRs) dos últimos dez anos sobre o tratamento medicamentoso da FM em adultos. Foram selecionados os estudos que abordavam medicamentos recomendados pelo Consenso Brasileiro de Tratamento da Fibromialgia (1). Resultados Antidepressivos Antidepressivos tricíclicos (ATs; amitriptilina e nortriptilina, 10 a 75mg/dia), inibidores da monoaminoxidase (IMAOs; moclobemida, 300 a 600mg/dia), inibidores seletivos da recaptação da serotonina JBM SETEMBRO/OUTUBRO Aspectos Atuais do Tratamento.indd 27 VOL. 101 No 5 TABELA 3: Questionário de impacto da fibromialgia* 1. Com que frequência você consegue: a) Fazer compras (0, 1, 2 ou 3) b) Lavar roupa (0, 1, 2 ou 3) c) Cozinhar (0, 1, 2 ou 3) d) Lavar louça (0, 1, 2 ou 3) e) Limpar a casa (0, 1, 2 ou 3) f) Arrumar a cama (0, 1, 2 ou 3) g) Andar vários quarteirões (0, 1, 2 ou 3) h) Visitar parentes ou amigos (0, 1, 2 ou 3) i) Cuidar do quintal ou do jardim (0, 1, 2 ou 3) j) Dirigir carro ou andar de ônibus (0, 1, 2 ou 3) A FM pode afetar a qualidade de vida e a capacidade funcional dos indivíduos de forma mais intensa do que artropatias inflamatórias como artrite reumatoide e espondiloartrites (9). Além disso, aumenta custos e a utilização de recursos em saúde. Nos últimos sete dias: 2. Em quantos dias você se sentiu bem? (0, 1, 2, 3, 4, 5, 6 ou 7) 3. Você deixou de trabalhar por causa da fibromialgia? (0, 1, 2, 3, 4, 5, 6 ou 7) 4. Quanto a fibromialgia interferiu na capacidade de fazer seu serviço? (0 a 10) 5. Quanta dor você sentiu? (0 a 10) 6. Você sentiu cansaço? (0 a 10) 7. Como você se sentiu ao se levantar de manhã? (0 a 10) 8. Você sentiu rigidez? (0 a 10) 9. Você se sentiu nervoso/a ou ansioso/a? (0 a 10) 10. Você se sentiu deprimido/a ou desanimado/a? (0 a 10) Adaptado de Marques et al. (13). * Na questão 1 calcula-se a média de pontos dos itens marcados: M1. Na questão 2 utiliza-se o valor correspondente à resposta, segundo a regra: 0 = 7, 1 = 6, 2 = 5, 3 = 4, 4 = 3, 5 = 2, 6 = 1, 7 = 0 (Q2). Na questão 3 utiliza-se o valor direto da resposta: Q3. Nas questões 4 a 10 utiliza-se o valor direto da resposta: Q4 a Q10. A pontuação final é dada pela fórmula: (M1 x 3,33) + (Q2 x 1,43) + (Q3 x 1,43) + Q4 + Q5 + Q6 + Q7 + Q8 + Q9 + Q10. (ISRSs; fluoxetina, 20 a 80mg/dia) e inibidores da recaptação de serotonina e noradrenalina (IRSNs; duloxetina, 30 a 120mg/ dia) são os tipos de antidepressivos mais estudados na FM. Em 2009, Häuser et al. publicaram meta-análise de ECRs com o objetivo de avaliar a eficácia dos antidepressivos no tratamento da FM. O estudo incluiu 18 ECRs, com 1.427 participantes, e demonstrou melhora substancial em dor, fadiga, humor depressivo, distúrbios do sono e qualidade de vida. O tamanho de efeito na redução da dor foi considerado grande para ATs, médio para IMAOs e pequeno para ISRSs e IRSNs (15). Em ECRs com cruzamento entre os grupos, houve benefício medido pelo FIQ de fluoxetina e amitriptilina em relação ao pla27 5/12/2013 13:31:02 Aspectos atuais do tratamento medicamentoso da fibromialgia Pontos-chave: > Meta-análise analisou a eficácia e os malefícios dos antidepressivos na FM; > Esse estudo demonstrou que poucos pacientes apresentam relação risco-benefício muito favorável com antidepressivos; > Há melhora pequena ou moderada da dor, fadiga, sono e da qualidade de vida. 28 Aspectos Atuais do Tratamento.indd 28 cebo, e a melhora foi ainda mais acentuada quando ambos os medicamentos foram associados (16). Esses resultados devem ser interpretados com cautela, devido a limitações do desenho do estudo. Em 2010, Häuser et al. publicaram outra meta-análise de ECRs, com o objetivo de comparar a eficácia e a segurança da duloxetina, do milnaciprano (IRSN; não disponível no Brasil) e da pregabalina (anticonvulsivante alfa-2-ligante) no tratamento da FM. Dezessete ECRs demonstraram que os três medicamentos foram superiores ao placebo após seis meses, exceto a duloxetina para fadiga, o milnaciprano para distúrbios do sono e a pregabalina para humor deprimido. As perdas de seguimento devido a eventos adversos foram semelhantes. Em comparações indiretas, a duloxetina e a pregabalina foram superiores ao milnaciprano na atenuação da dor e dos distúrbios do sono, a duloxetina foi superior ao milnaciprano e à pregabalina na redução do humor deprimido e o milnaciprano e a pregabalina foram superiores à duloxetina na melhora da fadiga. Houve risco aumentado de náusea e cefaleia com a duloxetina e o milnaciprano, e de diarreia com a duloxetina (17). Em 2011, Häuser et al. publicaram resultado de meta-análise de ECRs controlados por placebo, com o objetivo de comparar a eficácia da amitriptilina, da duloxetina e do milnaciprano. Com um total de 10 estudos de amitriptilina (612 participantes), quatro de duloxetina (1.411 participantes) e cinco de milnaciprano (4.129 participantes), os três medicamentos foram superiores ao placebo, exceto a amitriptilina para a qualidade de vida, a duloxetina para a fadiga e o milnaciprano para os distúrbios do sono. Em comparações indiretas ajustadas, a amitriptilina foi superior à duloxetina e ao mil naciprano na melhora da dor, dos distúrbios do sono, fadiga e qualidade de vida; a duloxetina foi superior ao milnaciprano na melhora da dor, dos distúrbios do sono e da qualidade de vida, e o milnaciprano foi superior à duloxetina na melhora da fadiga. Entretanto, a qualidade metodológica foi considerada baixa no caso da amitriptilina, prejudicando tais resultados comparativos (18). Em 2012, Häuser et al. publicaram meta-análise de ECRs, visando analisar a eficácia e os malefícios dos antidepressivos na FM. Com 35 ECRs, esse estudo demonstrou que poucos pacientes apresentam relação risco- -benefício muito favorável com antidepressivos, havendo melhora pequena ou moderada da dor, fadiga, sono e da qualidade de vida, com várias perdas de seguimento por falha ou evento adverso (19). Os IMAOs apresentaram benefício na dor e na contagem de pontos dolorosos em meta-análise de ECRs recentes; no entanto, tais efeitos devem ser vistos com restrições, já que apenas dois estudos pequenos foram incluídos (20). Em outra revisão sistemática, publicada em 2013, Häuser et al. analisaram os resultados de 10 ECRs, que compararam IRSNs com placebo. Nessa meta-análise, a duloxetina e o milnaciprano apresentaram melhor benefício, em relação ao placebo, na melhora da dor. As melhoras observadas na fadiga e na qualidade de vida não foram consideradas clinicamente relevantes. Não houve diferença estatisticamente significativa no padrão de sono entre duloxetina, milnaciprano e placebo. Apesar de haver mais perdas de seguimento por eventos adversos com a duloxetina e o milnaciprano, quando comparados ao placebo, não houve diferença significativa quanto aos eventos adversos graves. Os eventos adversos mais comuns foram náusea, boca seca, constipação, cefaleia, sonolência e insônia (21). Anticonvulsivantes Os alfa-2-ligantes (moduladores do canal de cálcio alfa-2-delta) são o tipo de anticonvulsivante mais estudado na FM (pregabalina: 150 a 450mg/dia; gabapentina: 1.200 a 2.400mg/dia). Em meta-análise de Tzellos et al., publicada em 2010, comparações indiretas de doses diferentes de pregabalina em três ECRs demonstraram aparente superioridade da dose de 450mg/dia sobre a de 300mg/dia, mas não com a de 600mg/dia. Essa aparente contradição sugere que tais resultados sejam interpretados de forma cautelosa. Recentemente, Uceyler et al. publicaram meta-análise com oito ECRs, para avaliar os benefícios e malefícios dos anticonvulsivantes na FM. O único anticonvulsivante com evidências suficientes para embasar as conclusões foi a pregabalina. O número necessário para tratar (NNT) com pregabalina e melhorar a dor foi de 12 (IC 95%: 9-21). Não JBM SETEMBRO/OUTUBRO VOL. 101 No 5 5/12/2013 13:31:02 Aspectos atuais do tratamento medicamentoso da fibromialgia houve redução da fadiga em relação ao placebo, mas foi observado discreto benefício adicional no sono. O NNT com pregabalina para malefício foi de 13 (IC 95%: 9-23), sendo a tontura o evento adverso mais frequente. Não houve diferença de eventos adversos graves entre pregabalina e placebo (22). Em ECRs visando comparar a eficácia e a segurança de duas posologias de pregabalina (uma dose noturna e duas doses diárias), Nasser et al. não encontraram diferença a favor nem contra um dos esquemas de administração (23). A gabapentina foi estudada na FM em ECR controlado por placebo de 12 semanas de duração, com 150 participantes. A gabapentina foi superior ao placebo no desfecho principal do estudo (questionário de dor) e também no impacto da síndrome (FIQ) (24). Analgésicos Quando usados de forma contínua, o paracetamol (acetaminofeno) e o tramadol foram bem tolerados, e apresentaram benefício no controle da dor, no FIQ e na qualidade de vida de pacientes com FM (25, 26). Relaxantes musculares A ciclobenzaprina (5 a 30mg/dia) é um medicamento tricíclico, sem efeito antidepressivo significativo, usualmente empregado como relaxante muscular. Em 2004, Tofferi et al. publicaram meta-análise de ECRs controlados por placebo, com o objetivo de revisar a eficácia da ciclobenzaprina na FM. Com cinco ECRs, esse estudo calculou OR = 3,0 (IC 95%: 1,6 a 5,6) para melhora sintomática, principalmente de sono e dor, que melhoraram nas primeiras semanas de acompanhamento, ao passo que a fadiga e a contagem de pontos dolorosos não apresentaram melhora significativa (27). Em um ECR controlado por placebo, com 36 participantes, posterior a essa meta-análise, a ciclobenzaprina melhorou a dor, o dolorimento, a fadiga, os sintomas depressivos e o padrão eletroencefalográfico do sono após oito semanas (28). Antiparkinsonianos O pramipexol (0,125 a 0,5mg/dia) foi estudado em ECR controlado por placebo de 14 semanas de duração, com 60 pacientes. JBM SETEMBRO/OUTUBRO Aspectos Atuais do Tratamento.indd 29 VOL. 101 No 5 Houve melhora significativa da dor, da fadiga, da capacidade funcional e do estado global. Os principais eventos adversos foram ansiedade transitória e perda de peso (29). Essa é uma evidência limitada de benefício, e seu uso na FM deve ser balizado por outros fatores, como a associação com distúrbios do sono e síndrome de pernas inquietas (1). A vitamina D tem sido estudada no tratamento da fibromialgia, porém os resultados conflitantes dos poucos ECRs disponíveis não permitem um posicionamento sobre o seu uso. Indutores do sono O zolpidem (10mg/dia) melhorou os distúrbios do sono na FM, mas esse resultado deve ser interpretado com cautela, devido à escassez de estudos semelhantes (30). Em revisão sistemática recente (31), o clonazepam não apresentou evidências suficientes para uma conclusão sobre seus efeitos na FM. Medicamentos sem benefício direto na fibromialgia Os glicocorticoides e os anti-inflamatórios não esteroidais não promovem melhora dos sintomas da FM, exceto quando há síndromes dolorosas regionais que respondem a esses agentes, que, quando atenuadas, podem amenizar a dor difusa da FM (1, 32-34). Perspectivas de pesquisa A vitamina D tem sido estudada no tratamento da fibromialgia, porém os resultados conflitantes dos poucos ECRs disponíveis não permitem um posicionamento sobre o seu uso (35). O antidepressivo trazodona foi estudado em ensaio clínico aberto de 12 semanas de duração, com 66 pacientes. Houve benefícios no sono, no FIQ, em escores de depressão e ansiedade e na dor (36). A naltrexona, um antagonista central de receptores de opioides, em baixa dose (4,5mg/ dia), mostrou melhora significativa da dor da FM, quando comparada ao placebo (37). Em ECR piloto, a quetiapina, um antipsicótico de segunda geração, mostrou-se benéfica no sono e humor dos pacientes com FM, quando utilizada em associação ao tratamento inicial (38). Em ECR multicêntrico e controlado por placebo, com 120 participantes, acompanhados por 18 meses, baixas doses de hormônio do crescimento associado ao tratamento inicial (por seis ou 12 meses) reduziram a dor de forma sustentada (39). 29 5/12/2013 13:31:03 Aspectos atuais do tratamento medicamentoso da fibromialgia A suplementação com creatina melhorou o desempenho muscular de indivíduos com FM em ECR controlado por placebo de 16 semanas de duração (40). Discussão O tratamento medicamentoso da FM inclui diversas classes farmacológicas bem estudadas. É comum o uso de vários medicamentos durante o acompanhamento desses pacientes (41, 42). Em estudo de coorte recente, com dezenas de milhares de pacientes, verificou-se que apenas 20% deles mantiveram o tratamento por um ano (42). A seguir, listamos alguns princípios práticos que podem aumentar a eficácia em longo prazo do tratamento medicamentoso da FM. Princípios do tratamento medicamentoso da FM Os princípios práticos do tratamento medicamentoso da FM aqui expostos são embasados em recomendações de sociedades de Reumatologia e na opinião dos autores (1, 43). • A escolha do medicamento deve considerar os sintomas predominantes, o perfil de eventos adversos, custos, experiência com o uso e a preferência do paciente. • É recomendável começar o tratamento medicamentoso com monoterapia, devido aos frequentes eventos adversos. • A dose inicial dos medicamentos deve ser a menor possível, com aumento gradual, conforme a tolerância, até o controle do sintoma ou a dose máxima recomendada. Referências Endereço para correspondência: Rafael Mendonça da Silva Chakr Rua Ramiro Barcelos, 2.350/ sl. 645 90035-903 Porto Alegre-RS [email protected] 30 Aspectos Atuais do Tratamento.indd 30 11. HEYMANN, R.E.; PAIVA, E.S. et al. — Brazilian consensus on the treatment of fibromyalgia. Rev. Bras. Reumatol., 50(1): 56-66, 2010. 12. ASSUMPÇÃO, A.; CAVALCANTE, A.B. et al. — Prevalence of fibromyalgia in a low socioeconomic status population. BMC Musculoskelet Disord., 10: 64, 2009. 13. CARMONA, L.; BALLINA, J. et al. — The burden of musculoskeletal diseases in the general population of Spain: Results from a national survey. Ann. Rheum. Dis., 60(11): 1040-5, 2001. 14. CHOI, C.J.; KNUTSEN, R. et al. — The association between incident self-reported fibromyalgia and nonpsychiatric factors: 25-years follow-up of the Adventist Health Study. J. Pain, 11(10): 994-1003, 2010. 15. OLIVER, J.E. & SILMAN, A.J. — What epidemiology has told us about risk factors and aetiopathogenesis in rheumatic diseases. Arthritis Res. Ther., 11(3): 223, 2009. 16. RUSSELL, I.J. & LARSON, A.A. — Neurophysiopathogenesis of fibromyalgia syndrome: A unified hypothesis. Rheum. Dis. Clin. North Am., 35(2): 421-35, 2009. • Antes de progredir no tratamento medicamentoso da FM, o médico deve verificar se as medidas não medicamentosas estão otimizadas. • Em casos refratários, recomenda-se buscar causas associadas dos sintomas, tais como doenças autoimunes sistêmicas, hipotireoidismo, neoplasias e infecções crônicas. • Pode-se realizar associação de medicamentos, para a melhora de sintomas limitantes. As associações mais empregadas são: baixas doses de IRSN (duloxetina) pela manhã e alfa-2-ligante (pregabalina, gabapentina) à noite; baixas doses de ISRS (fluoxetina) ou de IRSN (duloxetina) pela manhã e AT (amitriptilina, nortriptilina) à noite. Limitações Por ser uma revisão narrativa da literatura, este artigo não se propõe a responder uma pergunta científica sobre o tratamento medicamentoso da FM, mas sim a discorrer sobre as principais evidências científicas disponíveis até o momento referentes ao assunto. Conclusão Antidepressivos, anticonvulsivantes, analgésicos e relaxantes musculares estão entre as principais classes de fármacos atualmente disponíveis para uso no Brasil. O sucesso terapêutico da FM depende, essencialmente, do uso racional de medicamentos voltados para os sintomas refratários às medidas não farmacológicas. 17. WOLFE, F.; SMYTHE, H.A. et al. — The American College of Rheumatology 1990 Criteria for the Classification of Fibromyalgia. Report of the Multicenter Criteria Committee. Arthritis Rheum., 33(2): 160-72, 1990. 18. WOLFE, F.; CLAUW, D.J. et al. — The American College of Rheumatology preliminary diagnostic criteria for fibromyalgia and measurement of symptom severity. Arthritis Care Res. 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JBM SETEMBRO/OUTUBRO VOL. 101 No 5 5/12/2013 13:31:03 5,6 O PRIMEIRO CONTINUA LÍDER 2,3 4, e d a enor d i m l i i b u a s s r Tole soprazoldepoin4t,5eração lanncidênciaentosa i edicam m 6,7 ação ia Eficác xa de 6erradic AlotaHt.apylori 7 d ciente pticos7 a p o dispe para Alívio os sintomas a e i Alivio dação da bualccteerra7 Elimatirnização da cic 14 anos de pioneirismo no tratamento do H. pylori 1 7 dias 28 dias 14 dias MARCA DE REFERÊNCIA: RECOMENDADA PELO CONSENSO BRASILEIRO SOBRE H. pylori 8 1 O tratamento tríplice com lansoprazol, o IBP comprovadamente eficaz.9,10 Referências Bibliográficas: 1. Dados IMS PMB. Maio/2013- Classe A02B2. 2. Dados Close Up MAT – Maio/2013. 3. Dados IMS Close Up – MAT e Mês – unidades e reais - Maio/2013 - Classe A02B2. 4. Blume H, Donath F, Warnke A, Schug BS. Pharmacokinetic drug interaction profiles of proton pump inhibitors. Drug Saf. 2006;29(9):769-84. 5. Andersson T. Pharmacokinetics, metabolism and interactions of acid pump inhibitors. Focus on omeprazole, lansoprazole and pantoprazole. Clin Pharmacokinet. 1996 Jul;31(1):9-28. 6. Bellelis P, Samano EST, Nunes RC, Ribeiro LM, Chehter EZ, Catapani WR. Efficacy of a triple therapy for Helicobacter pylori eradication in a well-developed urban area in Brazil. São Paulo Med J. 2004; 122(2): 73-75. 7. Bula PyloriPac®/ PyloriPac® IBP. 8. Coelho LGV, Zaterka S, Federação Brasileira de Gastroenterologia e Núcleo Brasileiro para o Estudo do Helicobacter. II Consenso Brasileiro sobre Helicobacter pylori. Arq Gastroenterol. 2005; 42 (2): 128-32. 9. Uthaisaengsook W. Low dose, one-week triple therapy (lanzoprazole, amoxycillin, clarithromycin) for eradication of Helicobacter pylori infection. J Med Assoc Thai. 2003 Jul;86(7):599-602. 10. Fennerty MB, Kovacs TO, Krause R, Haber M, Weissfeld A, Siepman N, Rose P. A comparison of 10 and 14 days of lansoprazole triple therapy for eradication of Helicobacter pylori. Arch Intern Med. 1998 Aug 10-24;158(15):1651-6. PyloriPac® - PyloriPac® IBP - lansoprazol + claritromicina claritromicina + amoxicilina. Indicações: alívio dos sintomas sintomas dispépticos relacionados à infecção por Helicobacter pylori e sua erradicação; pacientes com úlceras ativas ou história de úlcera há um ano. Contraindicações: hipersensibilidade aos componentes da fórmula, à eritromicina, a outros macrolídeos; distúrbios eletrolíticos, problemas cardíacos; pacientes em tratamento com terfenadina. Precauções e Advertências: não abrir ou mastigar as cápsulas; cautela em pacientes idosos, com disfunção hepática e/ou insuficiência renal moderada ou grave; possibilidade de resistência cruzada com outros macrolídeos; pode ocorrer anafilaxia, principalmente em histórias de hipersensibilidade às penicilinas, às cefalosporinas, não existem estudos adequados durante a gestação humana; a amoxicilina é excretada no leite materno. Interações medicamentosas: lansoprazol: teofilina, sucralfato, claritromicina: teofilina, carbamazepina, digoxina, cisaprida, primozida,terfenadina, astemizol, zidovudina; amoxicilina: probenecida, antibacterianos cterianos bacteriostáticos, alopurinol, digoxina, contraceptivos orais. Reações adversas: diarreia, cefaleia, tontura, náusea, constipação, epigastralgia, vômito, paladar alterado, elevação transitória de enzimas hepáticas incluindo aumento de enzimas hepáticas, hepatite colestática e/ou hepatocelular, com ou sem icterícia, glossite, estomatite e monilíase oral, reações alérgicas, desde urticária e erupções cutâneas leves, até anafilaxia e síndrome de Stevens-Johnson, colite pseudomembranosa, anemia, trombocitopenia, púrpura trombocitopênica, eosinofilia, leucopenia e agranulocitose, lupus cutâneo eritematoso, hipomagnesemia. Posologia: Pyloripac®: 1 cápsula de lansoprazol 30 mg, 1 comprimido de claritromicina 500 mg e 2 cápsulas de amoxicilina 500 mg, ingeridos à cada 12 horas, em jejum, durante 7, 10 ou 14 dias. Pyloripac® IBP: 1 cápsula de lansoprazol 30 mg, uma vez ao dia, de 1 a 2 semanas. Após o uso de lansoprazol, iniciar o esquema tríplice ingeridos a cada 12 horas, em jejum, durante 7 dias. Pode-se também utilizar 1 cápsula de lansoprazol 30 mg, por 1 a 2 semanas após o esquema de eliminação do H. pylori pylori,, para complementação do tratamento e cicatrização da úlcera péptica. USO ADULTO. Registro no M.S: 1.0181.0319. VENDA SOB PRESCRIÇÃO MÉDICA - SÓ PODE SER VENDIDO COM RETENÇÃO DA RECEITA. SE PERSISTIREM OS SINTOMAS, O MÉDICO DEVERÁ SER CONSULTADO. pacientes com história de reação alérgica às pe penicilinas, nicilinas, fármacos que dependam do pH gástrico; ©Medley 2013 ® Marca Registrada – Gastro Fascículo APROG 2 - 50804211 – Novembro/2013. Material destinado a profissionais de saúde habilitados a prescrever ou dispensar medicamentos. An IBP 2013 Onda Nov-2013.indd 1 SemSimples título-1 PYLORIPAC 1 11/28/13 5:07 PM 5/12/2013 14:07:28 Terapêutica clínica Pancreatite aguda Terapêutica clínica José Galvão-Alves Chefe da 18a Enfermaria do Hospital Geral da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro — Serviço de Clínica Médica. Professor titular de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da Fundação Técnico-Educacional Souza Marques. Professor titular de Pós-graduação em Gastroenterologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Membro titular da Academia Nacional de Medicina. Presidente da Federação Brasileira de Gastroenterologia (2010-2012). Professor de Clínica Médica da Uni-FOA — Universidade da Fundação Osvaldo Aranha. Resumo Summary AUm dos grandes desafios da medicina clínica cirúrgica é a terapêutica da pancrea tite aguda (PA), em especial na forma grave, na qual a necrose da glândula e da gordura peripancreática tem sido o fator de risco predominante para a má evolução. Nos EUA, mais de 300 mil pacientes são admitidos anualmente por conta de PA e cerca de 20 mil evoluem para óbito neste mesmo período. A prevenção da síndrome de resposta inflama tória sistêmica (SRIS), da infecção e da sepse diminuiria a falência múltipla de órgãos e a morbiletalidade. One of the challenges in clinical medicine surgery is the treatment of acute pancrea titis (PA), specially in severe ones, in which gland necrosis and fat peripancreatic have been the main risk fact for not effective evo lution. In USA, over three hundred thousand of patients are anually admitted due acute pancreatitis and about two hundred thou sand of patients die in this same phase. The prevention for systemic inflammatory respon se syndrome, infection and sepsis would re duce multiple organ failure and the mortality. Definição tanto, cursa com enzimas e tomografia computadorizada normais. Embora não possamos excluir PA, também não podemos confirmá-la. Este grupo de pacientes, que responde por 5% a 10% do total das pancreatites agudas, deve ser orientado para investigações futuras, mais especializadas, e para manter-se atento a novos episódios dolorosos (3). Entende-se por pancreatite aguda o processo inflamatório do pâncreas e/ou do tecido peripancreático, de inúmeras etiologias, que se manifesta, em sua maioria, por dor abdominal, elevação das enzimas pancreáticas (amilase e/ou lipase) no sangue e alteração morfológica, identificada à tomografia computadorizada de abdome (TC) ou à ultrassonografia (US). Considera-se, com propósito diagnóstico, elevação das enzimas pancreáticas aquela em nível acima de três vezes o seu limite superior. A associação de dor com mais um dos parâmetros anteriormente citados, elevação das enzimas ou alteração morfológica, é diagnóstica de PA. Merece apreciação a situação de dor abdominal em barra no andar superior do abdome, associada a náuseas e vômitos, muito sugestiva de origem pancreática, que, no enJBM SETEMBRO/OUTUBRO Pancreatite Aguda.indd 33 VOL. 101 No 5 II Simpósio JBM de Atualização Pancreatite aguda Unitermos: Pancreatite aguda; sepse; terapêutica. Keywords: Acute pancreatitis; sepsis; therapeutics. Classificação Em 1992, um grupo de 40 especialistas em doenças pancreáticas reuniu-se em Atlanta, EUA, sob a coordenação do Professor Edward L. Bradley III, responsável pelo Departamento de Cirurgia da Memory University School of Medicine, para rever as principais definições e terminologias sobre pancreatite aguda, que constituem guias ainda atuais do nosso conhecimento sobre esta patologia (4, 5). Mais recentemente, algumas considerações buscam atualizar esta classificação. 33 5/12/2013 13:25:43 Pancreatite aguda Terapêutica clínica Pancreatite aguda leve (edematosa intersticial) Forma mais comum de apresentação (80% a 90%), caracteriza-se por doença restrita ao pâncreas, com evolução clínica e laboratorial favorável. Por vezes é de diagnóstico extremamente difícil, pois pode cursar com enzimas pancreáticas e tomografia computadorizada do pâncreas normais. Embora possa apresentar toxicidade sistêmica, esta é geralmente autolimitada. A mortalidade gira em torno de 2%, e muitas vezes está relacionada ao estado clínico prévio do paciente (Tabela 1) (6). TABELA 1: Classificação Formas evolutivas Leve (intersticial) Pontos-chave: > Existem duas grandes formas evolutivas de PA, com apresentações clínicas distintas; > O paciente com pancreatite aguda leve pode ser adequadamente tratado em um leito de enfermaria por uma equipe experiente; > O portador de pancreatite aguda grave necessita de internação em centro de terapia intensiva, muitas vezes com uma equipe mais completa. 34 Pancreatite Aguda.indd 34 Grave (necrosante) Necrose estéril Necrose infectada Pancreatite aguda grave (necrosante) Doença sistêmica grave, com necrose pancreática e peripancreática e síndrome da resposta inflamatória sistêmica (SRIS). Evolui frequentemente com falência de órgãos e complicações locais, como necrose infectada, pseudocisto e abscesso. A mortalidade pode variar de 20% a 40%. Nessa forma de apresentação, a tomografia computadorizada com contraste em bolo (mapeamento dinâmico do pâncreas) apresenta um índice diagnóstico próximo a 95%. Fica bastante claro que existem duas grandes formas evolutivas de PA, com apresentações clínicas distintas, e que envolvem condutas diagnósticas e terapêuticas diferentes. Enquanto o paciente com pancreatite aguda leve pode ser adequadamente tratado em um leito de enfermaria por uma equipe experiente, o portador de pancreatite aguda grave necessita de internação em centro de terapia intensiva, muitas vezes com uma equipe mais completa, da qual devem fazer parte clínicos, cirurgiões, endoscopistas, intensivistas, radiologistas intervencionistas, nutrólogos, fisioterapeutas respiratórios, entre outros. Coleção fluida aguda Esta condição ocorre precocemente no curso da PA. Localiza-se mais frequentemente próximo ao pâncreas, e não há tecido de granulação ou fibrose que a envolva (Figura 1). Estas coleções constituem o substrato para o pseudocisto e o abscesso pancreático agudo. Necrose pancreática Corresponde a uma área focal ou difusa de parênquima pancreático não viável, que é tipicamente associado à necrose gordurosa peripancreática (Figura 2). É o principal fator morfológico de gravidade da PA, e o padrão ouro para sua identifiMortalidade (%) cação é a tomografia computadorizada com <2 contraste oral e venoso. A distinção entre ne10 crose estéril e infectada é crítica, pois a presença 30 de infecção aumenta a Figura 1: Pancreatite aguda. Coleção líquida aguda. Figura 2: Pancreatite aguda. Necrose parenqui matosa e peripancreática. JBM SETEMBRO/OUTUBRO VOL. 101 No 5 5/12/2013 13:25:44 Pancreatite aguda Terapêutica clínica morbiletalidade e obriga-nos a uma drenagem preferencialmente cirúrgica. Já a necrose estéril pode nos permitir um criterioso acompanhamento clínico-laboratorial. Esta importante distinção, entre estéril e infectada, deve ser conduzida através de punção por agulha fina guiada por TC, cujo material coletado será encaminhado à coloração pelo Gram e cultura (Figura 3). Figura 3: Punção, por agulha fina, de coleção sus peita de infecção, guiada por tomografia. Infec ção confirmada. Pseudocisto agudo O pseudocisto é uma coleção de suco pancreático, envolvida por uma parede não epitelizada (Figura 4), originário de pancrea tite aguda, trauma pancreático ou pancreatite crônica. Abscesso pancreático Coleção intra-abdominal, purulenta, circunscrita, geralmente na proximidade do pâncreas, contendo pouco ou nenhum tecido necrótico, e que se origina de pancreatite aguda ou trauma pancreático (Figura 5). Ocorre tardiamente na evolução da PA, geralmente a partir da quarta semana ou mais do início do quadro. Origina-se muito provavelmente de uma necrose delimitada, com subsequente liquefação e infecção secundária. Deve ser diferenciado da necrose infectada, pois esta não é bem delimitada e contém grande quantidade de tecido necrótico, ao passo que o abscesso apresenta pouca necrose em seu interior e contém pus com cultura positiva para bactéria ou fungo. Mais recentemente, tem-se proposto a denominação “necrose organizada” para a situação em que a necrose é bem delimitada por um tecido granuloso, mas ainda não liquefeito para tornar-se pseudocisto e também bastante rico em conteúdo necrótico para ser considerado abscesso. Logo, a partir do tecido necrótico poderíamos ter inúmeras formas de apresentação (ver algoritmo). É fundamental ter a percepção atual de que necrose infectada é diferente de abscesso, e que pseudocisto infectado deve ser considerado abscesso. Saliente-se que o índice de mortalidade por necrose infectada é o dobro daquele por abscesso pancreático. O pseudocisto é uma coleção de suco pancreático, envolvida por uma parede não epitelizada, originário de pancreatite aguda, trauma pancreático ou pancreatite crônica. É rico em enzimas pancreáticas e estéril. Sua formação requer quatro ou mais semanas a partir do início da pancreatite aguda. Figura 4: Pseudocisto no corpo pancreático. É rico em enzimas pancreáticas e estéril. Sua formação requer quatro ou mais semanas a partir do início da pancreatite aguda. JBM SETEMBRO/OUTUBRO Pancreatite Aguda.indd 35 VOL. 101 No 5 Figura 5: Abscesso pancreático em cauda pancreática. 35 5/12/2013 13:25:45 Pancreatite aguda Terapêutica clínica ALGORITMO: Pancreatite aguda — formas evolutivas PA N C R E AT I T E A G U D A INÍCIO 1 o -4 o dia Intersticial 6 o -21o dia Resolução Necrosante Necrose não organizada estéril Necrose não organizada infectada Necrose organizada 4 o -7 o semana Abscesso Pseudocisto J. Galvão, 2009. Terapêutica Pontos-chave: > A apresentação clássica da pancreatite aguda tem como sintoma cardinal a dor; > Está presente em aproximadamente 95% dos pacientes; > A localização epigástrica é a forma de apresentação mais comum. 36 Pancreatite Aguda.indd 36 A apresentação clássica da pancreatite aguda tem como sintoma cardinal a dor, presente em aproximadamente 95% dos pacientes (7, 8). Embora a dor “em barra” ou “em cinto” seja a mais característica, esta se encontra presente em no máximo 30% a 50% dos casos, sendo a localização epigástrica a forma de apresentação mais comum (60%). Cabe lembrar que muitas vezes ela se comporta de maneira atípica, e pode localizar-se em qualquer ponto do tórax ou do abdome. Náuseas acompanhadas de vômitos, presentes em 80% das vezes, podem tornar-se incoercíveis, impossibilitando a hidratação oral e contribuindo para o estado de hipovolemia desses pacientes (7, 8). Distensão abdominal por diminuição de peristalse (íleo paralítico), equimose periumbilical (sinal de Cullen) ou nos flancos (sinal de Grey-Turner) e ascite livre podem ser identificadas ao exame físico do abdome. A presença de equimose, vista em apenas 3% das pancreatites, traduz necrose e hemorragia no retroperitônio e, assim como a ascite, relaciona-se com maior gravidade do quadro (7, 8) (Figura 6). Figura 6: Sinais de Cullen (equimose periumbi lical) e de Grey-Turney (equimose no flanco) por complicações hemorrágicas da pancreatite aguda. Manifestações sistêmicas, distantes do pâncreas, representam também pior prognóstico. Podem expressar-se através de alterações nos mais variados aparelhos e sistemas. A primeira deliberação na terapêutica do paciente com pancreatite aguda é decidir em que setor ele deverá ser internado. Nos casos indicativos de forma leve optamos por deixá-lo num leito de enfermaria, ao passo que aqueles com sinais de gravidade e/ou comorbidades significativas devem ser lotados no Centro de Terapia Intensiva. Este grupo de pacientes depende de médicos competentes, instituição qualificada JBM SETEMBRO/OUTUBRO VOL. 101 No 5 5/12/2013 13:25:45 Pancreatite aguda Terapêutica clínica e de uma equipe de saúde harmonizada e experiente. Reposição volêmica Em decorrência da não ingestão hídrica adequada, da perda volêmica decorrente de vômitos, sudorese, perspiração, íleo paralítico e queimadura retroperitoneal, a volemia destes pacientes será tão menor quanto a gravidade do quadro, e a mesma poderá agravar o estado geral, em decorrência de má perfusão renal, intestinal e pancreática. Na PA grave associa-se ainda a vasodilatação decorrente da liberação de mediadores inflamatórios. Portanto, pouco volume numa rede vascular mais dilatada tem como consequências possíveis a hipotensão e o choque. Apesar da aceitação universal de que o paciente com PA deva receber uma ressuscitação volêmica generosa, poucos são os estudos em humanos que avaliam tal paradigma. Estudos de Banks & Freeman (23), correlacionando a hemoconcentração como um marcador de gravidade da PA, reforçam esta teoria. Outros estudos, no entanto, não reforçam esta conduta como obrigatória (24-26). Somos de opinião que a ressuscitação hídrica deve obedecer a uma cuidadosa avaliação hemodinâmica do paciente, bem como a coexistência de comorbidades que possam dificultar a introdução de grandes volumes, como a insuficiência cardíaca e/ou renal. Isto visto, propomos reidratação de acordo com a gravidade da depleção volêmica. Sendo assim, os mais graves deverão receber em torno de 500 a 1.000ml na primeira hora e posteriormente, cerca de 250 a 350ml/hora (27). Deve-se ressaltar a importância de se entender a reposição de fluidos como uma conduta dinâmica e baseada em parâmetros clínico-laboratoriais de vigília contínua. Outro ponto a se discutir na hidratação endovenosa é o tipo de fluido a ser administrado. Na PA leve não há dúvida quanto à preferência pelos cristaloides (Ringer lactato 3); no entanto, quando se trata de forma necrosante, é bem provável que tenhamos de associar os coloides, em especial a albumina humana. Em casos especiais de PA em alcoolista com hepatopatia crônica concomitante, pode-se cogitar o uso de plasma fresco. JBM SETEMBRO/OUTUBRO Pancreatite Aguda.indd 37 VOL. 101 No 5 A administração de concentrado de hemácias deve ser indicada quando o hematócrito está abaixo de 25% ou quando entre 25% e 30%, mas com instabilidade hemodinâmica (27). Analgesia A dor é o mais comum sintoma da pancreatite aguda e principal razão de busca ao setor de emergência. Por vezes é lancinante e de difícil controle, necessitando desde analgésicos comuns até o uso de opiáceos. Existem várias medidas disponíveis para alívio da dor, a começar pelo jejum, denominado dieta zero oral, que elimina o estímulo gastroentérico ao pâncreas e, por conseguinte, a secreção pancreática. Em presença de íleo paralítico substancial, a introdução de uma sonda nasogástrica de curta duração (24 a 48 horas) pode promover alívio sintomático significativo. A analgesia farmacológica deve evitar a via oral e, preferencialmente, se faz por via endovenosa. Os analgésicos comuns, como a dipirona (metamizol) em infusão contínua, na dose de 320mg/hora, ou em bolus, na dose de 2 gramas via endovenosa a cada oito horas, têm se mostrado efetivos no controle da dor da PA (26). Esta substância não é agressiva à mucosa gastrointestinal e aos rins; no entanto, apresenta risco de agranulocitose em pequeno número de usuários (26). Tem sido nossa primeira opção há muitos anos, inclusive devido a sua disponibilidade e custo. Os anti-inflamatórios não hormonais são os mais utilizados na prática clínica como analgésicos não opioides; no entanto, seus principais paraefeitos, como hemorragia digestiva, disfunção renal e mielotoxicidade, obrigam-nos a recomendá-los com cautela e por curto período. Por último, observa-se o uso dos opioi des EV, em ordem progressiva — tramadol, meperidina e morfina (Tabela 2). Devem ser utilizados cuidadosamente, pois têm ação nos receptores opioides do sistema nervoso central e seu uso pode associar-se à dependência, em especial nos alcoolistas (27). Embora citado na literatura (27), não temos indicado o fentanil como analgésico em PA. Os opioides também têm sido recomendados para uso por via epidural. No entanto, A analgesia farmacológica deve evitar a via oral e, preferencialmente, se faz por via endovenosa. Os analgésicos comuns, como a dipirona (metamizol) em infusão contínua, na dose de 320mg/hora, ou em bolus, na dose de 2 gramas via endovenosa a cada oito horas, têm se mostrado efetivos no controle da dor da PA. 37 5/12/2013 13:25:45 Pancreatite aguda Terapêutica clínica TABELA 2: Analgésicos opioides Nome Tramadol Dose 100 a 150mg ViaIntervalo EV 6/6h-8/8h Meperidina 10mg EV4/4h-6/6h Morfina 2mg EV4/4h-6/6h não a utilizamos na PA e sim, por vezes, na dor refratária de pancreatite crônica e câncer pancreático. Pontos-chave: > A dieta zero por via oral deve ser conduta comum a todas as formas de pancreatite aguda; > Tem sido recomendada em todos os guidelines sobre o assunto; > Na PA leve esta conduta deve ser mantida por quatro a sete dias. 38 Pancreatite Aguda.indd 38 Nutrição A dieta zero por via oral deve ser conduta comum a todas as formas de pancreatite aguda. Tem sido recomendada em todos os guidelines sobre o assunto (23, 28). Na PA leve esta conduta deve ser mantida por quatro a sete dias, quando então uma evolução clínica e laboratorial favorável nos autorizaria a reintroduzir lenta e progressivamente a alimentação oral. Naqueles com alívio precoce da dor, peristalse presente, sensação de “fome”, leucócitos e PCR próximos ao normal, por volta do quarto dia reiniciamos a alimentação apenas com líquidos claros, no sentido de observar a aceitação. Em caso de boa resposta, progredimos para uma dieta branda, líquido pastoso, isenta de lipídios. Caso a aceitação seja difícil, o reinício da alimentação oral deverá ser conduzido com maior cuidado e de forma mais lenta. Já nas formas de apresentação mais grave, por tratar-se de condição hipermetabólica e catabólica, a perda de proteínas é de tal relevância que aumenta significativamente a morbiletalidade destes pacientes (30, 31). Neste grupo impõe-se a intervenção nutricional o mais precocemente possível, pois ao cabo de uma semana se esgotará a reserva proteica, se não suplementada adequadamente (32). A primeira decisão sobre a nutrição do paciente com PA grave diz respeito à via de inserção do suplemento alimentar. Os cinco maiores estudos comparativos, randomizados (33-35), e sua meta-análise (36) demonstram que a alimentação enteral é consistentemente superior à nutrição parental, com menor custo, menos complicações e melhor evolução. Isto se deve especialmen- te à maior eficiência da nutrição enteral em preservar a função intestinal, diminuir a translocação bacteriana e melhorar a imunidade local e sistêmica, diminuindo a desnutrição, a infecção, a sepse e a falência múltipla de órgãos (32). As dietas ricas em ácido graxo ômega-3, arginina e glutamina têm mostrado redução significativa das complicações sépticas e da falência múltipla de órgãos em pacientes com lesão intra-abdominal moderada a grave (37). O cuidado ao optar-se pela nutrição enteral é posicionar a sonda nasoenteral, ainda que por via endoscópica, a cerca de 20 a 30cm do ângulo de Treitz (32) (Figura 7). Figura 7: Sonda nasoenteral. Em algumas situações, como íleo paralítico grave, não aceitação da dieta enteral e outras, pode-se necessitar da nutrição parenteral total, embora tenha maior custo, com risco de hiperglicemias extremas e de infecção no cateter. Ambas necessitam de um grupo de nutrição enteral/parenteral de excelência. Antibioticoterapia Em razão da alta frequência da infecção bacteriana em pacientes com pancreatite aguda necrosante e sua clara correlação com elevada morbiletalidade, este assunto tem provocado inúmeras reuniões e trabalhos científicos, buscando-se a conduta antimicrobiana mais adequada (38). Na pancreatite aguda leve, sem necrose, não há nenhum motivo para o uso de antimicrobianos, muito menos profilático. JBM SETEMBRO/OUTUBRO VOL. 101 No 5 5/12/2013 13:25:46 Pancreatite aguda Terapêutica clínica O principal substrato para a infecção pancreática e/ou peripancreática é a presença de necrose e sua extensão (39). Em pacientes com menos de 50% de tecido necrótico, 23% apresentarão infecção, ao passo que nos pacientes com mais de 50% de área de necrose a infecção pode atingir até 84% (39). O risco de infecção aumenta também com a duração da doença, podendo atingir até 70% por volta da terceira semana (40) (Figura 8). Infecção x Tempo 71% 36% 24% <7 > 7 < 14 > 14 < 21 Figura 8: Infecção e duração da pancreatite aguda. Os pacientes com agressão aguda do tipo necrótica apresentam diminuição significativa das defesas imunes, o que os torna mais vulneráveis a infecção local e sistêmica (41). Os patógenos podem então atingir o tecido necrótico por via hematogênica, linfática ou por translocação bacteriana através do trato gastrointestinal (38, 41). O trato gastrointestinal, inflamado e parético, é a mais importante fonte dos patógenos envolvidos na infecção da PA (39, 41, 42), o que pode ser confirmado pela identificação dos bacilos Gram-negativos entéricos em 50% a 70% das culturas do tecido necrótico infectado (41) (Tabela 3). Por último, sabendo-se que a necrose e sua extensão são importantes fatores de risco de infecção local na PA, e que os patógeTABELA 3: Microrganismos identificados na necrose infectada Patógeno% Gram-negativos 50 a 70 Cocos Gram-positivos 20 a 40 ≤ 10 Anaeróbios Fungos JBM SETEMBRO/OUTUBRO Pancreatite Aguda.indd 39 10 a 40 VOL. 101 No 5 nos na infecção primária, em sua maioria, são bacilos Gram-negativos entéricos, cabe-nos avaliar quais os antimicrobianos mais adequados a esta situação. O imipenema-cilastatina foi o primeiro agente antimicrobiano que se mostrou efetivo em reduzir as complicações infecciosas neste grupo de pacientes (43). Este antimicrobiano de amplo espectro concentrava-se adequadamente no tecido pancreático e peripancreático (43). O segundo grupo de escolha para infecção bacteriana na PA é a quinolona, em especial o ciprofloxacino, que, associado ao metronidazol, tem se tornado uma opção ao imipenema, quando este não está disponível. Inúmeros trabalhos (38) têm avaliado o uso adequado dos antimicrobianos profiláticos na pancreatite necrosante; no entanto, não há consenso na literatura sobre o mesmo (38, 42). Quanto à infecção fúngica, especificamente a relacionada com Candida albicans, parece ser de ocorrência secundária, posterior ao uso de antimicrobianos profiláticos (44). Sabedores, pois, de que a pancreatite aguda necrosante apresenta alto índice de infecção, que as bactérias envolvidas são sensíveis a antimicrobianos de amplo espectro, como carbapenens e a associação de ciprofloxacino e metronidazol, e que estes se concentram de forma eficaz no pâncreas inflamado, natural pensar em utilizá-los precocemente na pancreatite aguda grave, e com isto diminuir o risco de infecção, sepse e mortalidade. Artigos de Beger et al. (40), na década de 1980, e de Pederzoli et al. (43), na década de 1990, pareciam indicar que o uso “profilático” de antimicrobianos na pancreatite aguda necrosante havia diminuído a sepse e suas complicações. Seguiram-se outros trabalhos (45, 46) indicando que o uso nas primeiras 72 horas poderia diminuir a morbiletalidade. Com base nestas informações, universalizou-se o uso precoce de antimicrobianos, com o objetivo de evitar a infecção da necrose pancreática. Em sequência, dois grandes estudos, multicêntricos, randomizados, duplos-cegos, passaram a mudar nossa opinião quanto ao uso de antimicrobianos na necrose pancreática estéril. Isenmann et al. (47) O trato gastrointestinal, inflamado e parético, é a mais importante fonte dos patógenos envolvidos na infecção da PA, o que pode ser confirmado pela identificação dos bacilos Gram-negativos entéricos em 50% a 70% das culturas do tecido necrótico infectado. 39 5/12/2013 13:25:47 Pancreatite aguda Terapêutica clínica publicaram, em 2004, em Gastroenterology, estudo basea do em evidências mostrando que o uso de ciprofloxacino e metronidazol não previne a infecção e suas complicações na pancreatite aguda grave. Em seguida, Dellinger et al. (48), em estudo multicêntrico envolvendo 32 centros nos EUA e Europa, compararam o uso de meropenem e placebo no quinto dia pós-admissão de pacientes com pancreatite aguda grave. A medicação foi administrada continuamente por sete a 21 dias. Este importante estudo não demonstrou diferença entre o grupo que usou antimicrobiano e o placebo quanto à infecção pancreática e peripancreática, intervenção cirúrgica e mortalidade. Com base nesses estudos, o uso de antimicrobiano fica restrito à presença de sepse biliar ou infecção pancreática e peripancreática confirmada. Para tanto, em casos que desconfiamos da possível presença de infecção bacteriana optamos por rastreá-la cuidadosamente com culturas de sangue, urina e, se disponível, de tecido, ou secreção da área de necrose, coletada através de punção com agulha fina guiada por TC (Figura 3). Necrose infectada Aproximadamente 30%-40% dos pacientes com pancreatite necrosante desenvolvem infecção da necrose. O método ideal de diagnosticá-la é a punção guiada por agulha à tomografia computadorizada, com sensibilidade de 95% apenas ao Gram. Na ausência de infecção a necrose é tratada conservadoramente. Referências Endereço para correspondência: José Galvão-Alves Rua Real Grandeza, 108/Sl 123 — Botafogo 22281-034 Rio de Janeiro-RJ [email protected] 40 Pancreatite Aguda.indd 40 1.SANDLER, R.S.; EVERHART, J.E. et al. — The burden of selected digestive disease in United States. Gastroenterology, 122(5): 1500-11, 2002. 2. CAVALLINI, G.; FRULLONI, L. et al. — Prospective multicentre survey on acute pancreatitis in Haly (ProInf-AISP): Results on 1,005 patients. Dig. Liver Dis., 36(3): 205-11, 2004. 3. BANKS, P.A. & FREEMAN, M.L. — Practice guidelines in acute pancreatitis. Am. J. Gastroenterol., 1001: 2379-400, 2006. 4.BRADLEY, E.L. — Acute pancreatitis, diagnosis and therapy. Nova York, Raven Press, 1994. 5.BRADLEY III, E.L. — A clinically based classification system for acute pancreatitis. Summary of the International Symposium on Acute Pancreatitis, Atlanta, Ga, September 11 through 13, 1992. Arch. Surg., 128: 586-90, 1993. 6. BANKS, P.A. — Acute pancreatitis: Medical and surgical management. Am. J. Med., 89(8): 578-85, 1994. 7.STEINBERG, W.M. — Acute pancreatitis. In: Feldman, M.; Friedman, L.S. & Brandt, L.J. — Slairenger and Fordtiansis. Na necrose infectada deve-se iniciar imediatamente antimicrobianos que atinjam alta concentração pancreática, como os carbapenens (imipenem e meropenem) e quinolonas com metronidazol, com altas doses de cefalosporinas. Caso o paciente apresente forte suspeita de infecção e a punção por TC não esteja disponível, fato comum em nosso meio, deve-se iniciar antibióticos. Aqui não estamos falando de prevenção, mas de terapêutica da infecção. Já a drenagem cirúrgica, endoscópica ou radiológica deve ser realizada no momento adequado, de acordo com a condição de cada paciente. No passado o diagnóstico de infecção na necrose pancreática era indicação de intervenção cirúrgica imediata; no entanto, isto tem se modificado. Em resumo, a conduta atual mais adequada seria melhor estabilizar o paciente, já em uso de antimicrobianos, permitindo maior e melhor organização da necrose infectada (49). Após revisão de 11 estudos, com 1.136 pacientes, os autores concluíram que há significativa relação entre o momento cirúrgico e a mortalidade (49). O consenso atual é que o manejo inicial da necrose infectada, em pacientes clinicamente estáveis, deve observar um curso de duas a quatro semanas de antimicrobianos antes da abordagem cirúrgica. Nos casos mais graves a conduta deve ser selecionada “caso a caso”. Gastrointestinal and liver disease: Pathophysiology, diag nosis, management. Philadelphia, Saunders Elsevier, 2006. p. 1241-64. 8. STEER, M.L. — Exocrine pancreas. In: Townsend, C.M. — Sa biston textbook of surgery. Philadelphia, Saunders Elsevier, 2008. p. 1589-1623. 9.LANKASCH, P.G.; MAISONNEUVE, P. & LOWENFELS, A.B. — Etiology and epidemiology of acute pancreatitis. In: Beger, H.G.; Matsuno, S. & Cameron, J.L. — Diseases of the pancreas. Berlin, Springer, 2008. p. 131-42. 10.DOMINGUES-MUÑOZ, J.E. — Guidelines for the detection of the etiologic factor of acute pancreatitis. In: Domingues-Muñoz, J.E. — Clinical pancreatology. Massachusetts, Blackwell, 2005. p. 40-6. Obs.: As 39 referências restantes que compõem este artigo se encontram na Redação à disposição dos interessados. JBM SETEMBRO/OUTUBRO VOL. 101 No 5 5/12/2013 13:25:47 Não é fácil entrar nesta lista. Unimed-Rio. Eleita uma das 500 maiores empresas do país, pelo 9º- ano consecutivo, e a 11ª- maior no setor de serviços, segundo o especial Melhores e Maiores, da revista EXAME. AnR EPUC 20.5X27.5 500 maiores e melhores 2013.indd 1 06/08/13 18:41 1 Zanidip® tão eficaz quanto besilato de anlodipino.2 Zanidip® reduz 56% do edema de mmii comparado a outros ACC.3 Zanidip® tem maior aderência ao tratamento comparado a outros ACC.4 50518404 - Anúncio Zanidip® - Dezembro/2013. © Medley 2013 ® Marca Registrada. Direitos reservados - é proibida a reprodução total ou parcial sem prévia autorização da Medley. A evolução dos antagonistas de cálcio Apresentações: 10mg e 20mg com 30 comprimidos 5 Zanidip® - cloridrato de lercanidipino. Indicações: tratamento da hipertensão essencial leve a moderada. Contraindicações: gravidez e lactação, grave insuficiência renal ou hepática, obstrução das vias de saída do ventrículo esquerdo, angina pectoris instável, insuficiência cardíaca congestiva não tratada ou até um mês após a ocorrência de infarto do miocárdio, hipersensibilidade a substância ativa, a qualquer diidropiridina ou a qualquer componente da formulação. Precauções e Advertências: doenças cardíacas (disfunção cardíaca descontrolada, obstrução do fluxo sanguíneo, angina instável) e intolerância à lactose. Não deve ser administrado durante gravidez e lactação. Mulheres em idade fértil devem utilizar algum método contraceptivo efetivo. Cuidado ao dirigir ou utilizar máquinas. Algumas diidropiridinas podem causar dor precordial e angina. Interações medicamentosas: metoprolol, ciclosporina, suco toranja (grapefruit) digoxina, cimetidina (doses superiores a 800 mg/dia), inibidores e indutores de CYP3A4 (cetoconazol, itraconazol, eritromicina, troleandomicina, anticonvulsivantes), outros substratos de CYP3A4 (terfenadina, astemizol, amiodarona e quinidina), álcool. Reações adversas: rubor, edema periférico, taquicardia, cefaleia, tontura e astenia. Em menor frequência, fadiga, náuseas, vômitos, diarreia, erupções cutâneas, sonolência e mialgia. Posologia: 10 mg por via oral, uma vez ao dia, pelo menos 15 minutos antes das refeições, podendo ser aumentada para 20 mg, dependendo da resposta individual do paciente. Não há necessidade de ajuste de doses em idosos e não se recomenda a administração em pacientes menores de 18 anos. USO ADULTO. Registro no MS: 1.0181.0454. Zanidip® é licenciado pela Recordati Indústria Chimica e Farmacêutica S.p.A. VENDA SOB PRESCRIÇÃO MÉDICA. SE PERSISTIREM OS SINTOMAS, O MÉDICO DEVERÁ SER CONSULTADO. Material destinado aos profissionais de saúde habilitados a prescrever ou dispensar medicamentos. Referências bibliográficas: 1. Messerli FH. Calcium antagonist in hypertension: from hemodynamics to outcomes. Am J Hypertens. 2002;15 (7 pt 2): 94S-97S. / 2. Bang LM, et al. Lercanidipine. A review of its efficacy in the management of hypertension. Drugs, 2003; 63:2449-2472. / 3. Makarounas-Kirchmann K, et al. Results of a meta-analysis comparing the tolerability of lercanidipine and other dihydropyridine calcium channel blockers. Clin. Ther.; 2009;31(8):1652-63. / 4. Veronesi M, et al. A prospective evaluation of persistence on antihypertensive treatment with different antihypertensive drugs in clinical practice. Vascular Health and Risk Management. 2007;3(6) 999-1005. / 5. Bula do Produto. Zanidip® é um medicamento. Durante seu uso, não dirija veículos ou opere máquinas, pois sua agilidade e atenção podem estar prejudicadas. Serviço de Informações Medley 0800 7298000 www.medley.com.br SMA_213_13_AN MEDLEY Zanidip 210x280mm.indd 1 Sem título-1 1 11/29/13 2:48 PM 5/12/2013 14:10:17 Insuficiência adrenal aguda Yolanda Schrank Especialista em Endocrinologia e Metabologia pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM). Mestre em Endocrinologia e Metabologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ). Professora associada do Curso de Especialização em Endocrinologia e Metabologia da PUC/IEDE-RJ. Médica Endocrinologista do Hospital Federal de Bonsucesso e do Laboratório Diagnósticos da América SA (DASA). Resumo Summary A insuficiência adrenal (IA) consiste em síndrome clínica rara, decorrente da deficiência de glicocorticoides e/ou mineralocorticoides, podendo ser primária. A insuficiência adrenal aguda consiste em emergência endócrina rara, resultante da diminuição súbita do cortisol circulante, ou de aumento significativo da demanda por esse hormônio em pacientes com algum grau de disfunção adrenal, ocorrendo mais frequentemente no contexto da IA primária. O prognóstico da doença depende do reconhecimento e intervenção terapêutica precoces. Adrenal insufficiency (AI) consists of a rare clinical syndrome resulting from glucocorticoids and/or mineralocorticoids deficiency. Adrenal insufficiency may be primary. The acute AI is a rare endocrine emergency resulting from sudden decrease of circulating cortisol or, elevated demand for this hormone in patients with some degree of adrenal disfunction, occurring more frequently in primary AI. The prognosis depends on early recognition and precocious therapeutic intervention. Introdução principal causa (6). Já a adrenalite autoimune responde por 80% dos casos de IA primária, podendo ocorrer como entidade isolada (40%) ou associada a outros distúrbios autoimunes (60%), caracterizando a síndrome poliglan dular autoimune (SPA) tipo I e tipo II (7, 8). Anticorpos que reagem com várias enzimas esteroidogênicas (mais frequentemente com a 21-hidroxilase) estão presentes em até 86% dos pacientes com IA primária de etiologia autoimune (9). Na Tabela 1 encontram-se listadas as principais causas de IA primária e secundária (1, 3). A destruição gradual da glândula resulta em IA crônica. Já a IA aguda pode resultar da destruição rápida da glândula, insulto hipofi sário súbito ou pode, ainda, ser precipitada por situações de estresse (cirurgias, traumas, infecções, etc.) em pacientes com insuficiência adrenal crônica (11). Na destruição gradual da glândula ocorre inicialmente diminuição da reserva adre nal, ou seja, os níveis de cortisol basais se encontram normais, porém com resposta A insuficiência adrenal (IA) consiste em síndrome clínica rara, decorrente da deficiên cia de glicocorticoides e/ou mineralocorti coides. A IA pode ser primária (doença de Addison), quando há destruição/disfunção do córtex adrenal, ou secundária, causada por doenças que comprometem o eixo hipotálamo-hipofisário. A IA primária é ca racterizada por baixa produção de cortisol e altas concentrações de ACTH (secundárias a um efeito de retroalimentação negativo do cortisol sobre o eixo hipotálamo-hipo fisário), enquanto a IA secundária é carac terizada por baixa produção de cortisol e ACTH (1, 2, 3). A IA primária apresenta prevalência de 93-140 casos por milhão de habitantes, é mais comum em mulheres e geralmente diagnosti cada entre a terceira e a quinta década da vida (3, 4, 6). A IA secundária tem prevalência de 125-280 por milhão de habitantes; portanto, é mais frequente que a IA primária, sendo o tratamento crônico com glicocorticoides a JBM SETEMBRO/OUTUBRO Insuficiência Adrenal Aguda.indd 43 VOL. 101 No 5 II Simpósio JBM de Atualização Insuficiência adrenal aguda Unitermos: Insuficiência adrenal aguda; emergência endócrina; glicocorticoides; teste de estímulo com ACTH. Keywords: Acute adrenal insufficiency; endocrine emergency; glucocorticoids; ACTH stimulation test. 43 5/12/2013 13:34:23 Insuficiência adrenal aguda TABELA 1 Insuficiência adrenal primária Adrenalite autoimune (isolada ou no contexto da SPA) Doença granulomatosa (tuberculose, sarcoidose, hanseníase) Infecção fúngica (histoplasmose, paracoccidioidomicose) ou viral (HIV, citomegalovírus) Hemorragia ou necrose adrenal causada por sepse (meningocócica ou pneumocócica), traumas, cirurgia, distúrbios da coagulação, síndrome antifosfolipídio primária, uso de heparina* Doenças infiltrativo-neoplásicas (metástases, linfomas) Doenças infiltrativo-metabólicas (amiloidose, hemocromatose) Adrenalectomia bilateral* Hiperplasia adrenal congênita Adrenoleucodistrofia (pacientes do sexo masculino) Drogas (cetoconazol, aminoglutetimida, mitotano, etomidato, rifampicina, fenitoína, fenobarbital) Insuficiência adrenal secundária Suspensão abrupta do uso de glicocorticoides exógenos* Traumatismo craniano* Vascular/isquêmica (síndrome de Sheehan, apoplexia hipofisária)* Neoplasias (adenomas hipofisários, metástases, craniofaringioma) Hipofisite linfocitária Doenças infiltrativas (sarcoidose, hemocromatose, histiocitose X) Irradiação pituitária Cirurgia hipofisária* * Causas de IA com risco aumentado de apresentação como crise addisoniana. Adaptado de Bouillon (10). diminuída ao estresse. À medida que ocorre a progressão da destruição do córtex adrenal, até mesmo a secreção basal do cortisol e dos mineralocorticoides se torna deficien te, levando às manifestações clínicas da IA crônica (6, 7). Quadro clínico Pontos-chave: > IA primária resulta no acometimento de 90% ou mais do córtex suprarrenal; > O quadro clínico vai variar de acordo com a etiologia da IA;; > Na IA primária observamos sinais e sintomas decorrentes da insuficiência de todo o córtex adrenal. 44 Insuficiência Adrenal Aguda.indd 44 O acometimento de 90% ou mais do córtex suprarrenal bilateralmente resulta nas manifes tações clínicas da IA primária. O quadro clínico vai variar de acordo com a etiologia da IA. Na IA primária observamos sinais e sintomas decorrentes da insuficiência de todo o córtex adrenal, enquanto na IA se cundária não observamos sinais e sintomas de correntes da falência de mineralocorticoides, já que o sistema renina-angiotensina está intacto, mas pode haver hiponatremia por redução do clearance de água livre, pelo aumento da va sopressina (decorrente da falta de inibição pelo cortisol). Ressaltamos ainda que os pacientes com IA secundária apresentam habitualmente sinais e sintomas decorrentes da deficiência de outros hormônios hipofisários (1, 3): — Sinais e sintomas decorrentes da deficiên cia de glicocorticoides: fraqueza, fadiga, anorexia, emagrecimento, náusea, vômi tos, hipotensão, hiponatremia e hipogli cemia. — Sinais e sintomas decorrentes da defi ciência de mineralocorticoides: hipo tensão postural, síncope, desidratação, hiponatremia, hipercalemia e acidose metabólica. — Sinais e sintomas decorrentes da deficiên cia de androgênios: diminuição da libido e diminuição da pilificação axilar e pubiana em mulheres. A hiperpigmentação generalizada — mais facilmente percebida em áreas expostas ao sol (face, pescoço e dorso das mãos), assim JBM SETEMBRO/OUTUBRO VOL. 101 No 5 5/12/2013 13:34:24 Insuficiência adrenal aguda como em áreas de pressão (dedos dos pés, cotovelos, joelhos, ombros), linhas ou dobras da palma da mão, mamilos, axila, cicatrizes e mucosas perianal, perivaginal e oral (ao longo da linha de oclusão dentária) — é um achado característico da IA primária. Está presente em mais de 90% dos pacientes. A hiperpig mentação decorre do excesso de ACTH, betalipotrofina e, possivelmente, beta-MSH, todos componentes da macromolécula pró -opiomelanocortina (POMC) (6). Insuficiência adrenal aguda (crise addisoniana) A IA aguda representa situação de alto risco, resultante da diminuição súbita do cor tisol ou do aumento significativo da demanda por esse hormônio em pacientes com algum grau de disfunção adrenal. Consiste em pato logia rara, com incidência de cerca de quatro pacientes em 100 mil habitantes, sendo mais frequente em portadores de IA primária. Os pacientes com IA secundária são mais rara mente afetados, já que apresentam a função mineralocorticoide preservada. Nesta situação ocorre, sobretudo, em casos de perda súbita da função hipofisária, como acontece, por exemplo, na apoplexia hipofisária (3). Algumas situações clínicas implicam em risco potencial de IA aguda, dentre as quais destacamos (3): • Portadores de IA crônica expostos ao estresse de infecções, cirurgias ou desidra tação, seja por falta do diagnóstico prévio da doença ou porque não houve ajuste adequado da dose de glicocorticoides para essas situações. • Suspensão dos glicocorticoides em pacien tes que fazem uso crônico da medicação. • Uso de inibidores da esteroidogênese adrenal, quando em doses elevadas ou administrados a pacientes com capacidade funcional reduzida. • Doença tromboembólica em anticoagula ção, síndrome antifosfolipídio. • Pós-operatório com coagulopatia espon tânea ou iatrogênica. • Grandes queimados. • Infecções graves. A hemorragia adrenal aguda é uma das causas mais dramáticas de IA aguda. Esta pode resultar de meningococcemia (síndro JBM SETEMBRO/OUTUBRO Insuficiência Adrenal Aguda.indd 45 VOL. 101 No 5 me de Waterhouse-Friderichsen), septicemia por outras bactérias, uso de anticoagulantes, trauma, cirurgia abdominal, complicação de coagulopatia, síndrome antifosfolipídio primá ria, etc. Dor abdominal, choque, queda súbita do hematócrito, hipercalemia e hiponatremia sugerem o diagnóstico (12). Ressaltamos que o quadro clínico da IA é inespecífico, o que contribui para o atraso no diagnóstico e o agravamento do prognóstico (1). Na Tabela 2 listamos, em ordem decres cente de frequência, as manifestações clínicas associadas à IA aguda, com destaque para o choque, principal manifestação da doença. TABELA 2: Manifestações mais frequentes da IA aguda − − − − − Hipotensão e choque Dor abdominal Febre inexplicável Náusea, vômitos, anorexia Fraqueza, apatia, confusão mental A hemorragia adrenal aguda é uma das causas mais dramáticas de IA aguda. Esta pode resultar de meningococcemia (síndrome de WaterhouseFriderichsen), septicemia por outras bactérias, uso de anticoagulantes, trauma, cirurgia abdominal, complicação de coagulopatia, síndrome antifosfolipídio primária, etc. Dor abdominal, choque, queda súbita do hematócrito, hipercalemia e hiponatremia sugerem o diagnóstico. A apresentação clínica da IA aguda resulta principalmente do déficit mineralocorticoide, sendo dominada pela hipotensão e choque. O choque resulta da depleção de sódio e de volume plasmático, mas o excesso de prostaglandinas e a diminuição da resposta à norepinefrina e angiotensina II podem agravar o colapso circulatório (1, 3, 10). Hiperpigmentação está usualmente pre sente, e deve sugerir o diagnóstico. Pode, entretanto, estar ausente no caso de instalação muito rápida da IA primária ou na presença de IA secundária. Dentre os achados laboratoriais que su gerem IA aguda destacamos hiponatremia, hipercalemia, linfocitose, eosinofilia e hipo glicemia. Deve-se suspeitar de IA aguda em qualquer paciente em uso de glicocorticoides ou que tenha alguma doença sistêmica com risco maior de insuficiência adrenal (câncer metastático, tuberculose, coagulopatia, etc.), com inexplicável dor abdominal (podendo mimetizar abdome agudo), choque hipovolêmico, hiperpirexia, vômitos, hipoglicemia e coma (2, 13). O diagnóstico e o tratamento precoces são de funda mental importância para a melhora do prog nóstico. Na suspeita de IA aguda deve ser 45 5/12/2013 13:34:24 Insuficiência adrenal aguda coletada imediatamente amostra de sangue, para a determinação de eletrólitos, glicose, hemograma, cortisol e, se possível, ACTH. O tratamento específico deve ser instituído imediatamente, enquanto se aguarda a confir mação laboratorial do diagnóstico. Diagnóstico laboratorial O diagnóstico da IA depende da compro vação da produção insuficiente de cortisol. Seguem critérios recomendados para o es tabelecimento da IA, baseados na dosagem do cortisol: Pontos-chave: > O diagnóstico e o tratamento precoces são de fundamental importância para a melhora do prognóstico; > Na suspeita de IA aguda deve ser coletada imediatamente amostra de sangue;; > O tratamento específico deve ser instituído imediatamente, enquanto se aguarda a confirmação laboratorial do diagnóstico. 46 Insuficiência Adrenal Aguda.indd 46 — Cortisol sérico maior que 18mg/dl em pa ciente ambulatorial, ou maior que 25mg/dl (14) em paciente crítico afasta o diagnóstico de IA, enquanto cortisol sérico menor que 5mg/dl em paciente ambulatorial sugere IA (15, 16, 17). — Cortisol sérico entre 5 e 18mg/dl em pa ciente ambulatorial indica a necessidade de testes de estímulo do cortisol, dentre os quais destacamos os seguintes: • Teste de estímulo com insulina: consiste em potente estímulo para liberação de cortisol; entretanto, é contraindicado em pacientes com história de crise convulsiva, coronariopatia, acidente vascular cerebral e em idosos. Tem a vantagem de permitir a avaliação da integridade de todo o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, assim como permitir a avaliação concomitante da defi ciência do hormônio do crescimento (GH). Diante, entretanto, do risco potencial rela cionado ao teste, ele deve ser reservado, preferencialmente, para pacientes com IA secundária de início recente. • Teste de estímulo com ACTH 250mcg: con siste em estímulo simples e seguro, sendo o principal teste utilizado na investigação da IA (18, 19). Apresenta a desvantagem de não testar o eixo hipotálamo-hipófise -adrenal como um todo, e de consistir em estímulo suprafisiológico das adrenais. Sendo assim, os pacientes com IA parcial (como observado em usuários crônicos de glicocorticoides) ou com IA secundária de início recente podem responder ao teste. Nestas situações, o teste de estímulo com ACTH 1mcg parece ser preferível (20, 21). • Teste de estímulo com ACTH 1mcg: o teste de estímulo com baixa dose de ACTH tem a vantagem sobre o teste de estímulo com a dose padrão (250mcg) em situações especiais, tais como na IA secundária de início recente (2-3 semanas), situação na qual as glândulas adrenais ainda não se tornaram atróficas e mantêm a capacidade de responder ao estímulo com 250mcg de ACTH, mas frequentemente não respondem com 1mcg (22, 23, 24, 25, 26, 27). Apesar do teste de estímulo com ACTH 250mcg apresentar limitações no diag nóstico da IA secundária, não está claro se o teste de estímulo com 1mcg é de fato superior (28, 29, 30). Em estudo com 26 pacientes, 23 mostravam resposta normal ao teste com 250mcg de ACTH e resposta subnormal ao teste com 1mcg. Nenhum destes pacientes foi tratado com glico corticoides e nenhum deles desenvolveu sintomas clínicos de IA num período de 24 meses de acompanhamento (28). Na prática, temos reservado o teste de estímulo com 1mcg de ACTH para pa cientes com suspeita de IA secundária de início recente. Para os demais casos, o teste recomendado é o com 250mcg. Resposta do cortisol acima de 18mg/dl em qualquer um dos testes indica re serva adrenal preservada (20); entre tanto, em pacientes críticos considera-se normal um incremento do cortisol maior ou igual a 9mg/dl (1, 14, 31). • Teste de estímulo com glucagon: assim como o teste de estímulo com insulina, permite a investigação de todo o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal e a avaliação concomitante do cortisol e GH, com o di ferencial de ser um teste simples e segu ro. A literatura atual, entretanto, mostra limitadas sensibilidade e especificidade deste teste na avaliação da IA (32). Uma vez confirmada a IA, a determinação do ACTH ajuda na diferenciação entre IA primária e secundária. Níveis elevados de ACTH (> 100pg/ml) confirmam IA primária, enquanto níveis de ACTH normais ou baixos (usualmente entre 20-52pg/ml) sugerem IA secundária. Níveis plasmáticos de aldosterona e atividade de renina plasmática (ARP) estão com frequências normais na IA secundária, en quanto na IA primária podemos ter diminuição da aldosterona e aumento da ARP. JBM SETEMBRO/OUTUBRO VOL. 101 No 5 5/12/2013 13:34:24 Insuficiência adrenal aguda Os níveis de cortisol devem ser interpretados com cuidado em pacientes com anormalidades da globulina ligadora de cortisol (CBG) e da albumina, como observado em portadores de cirrose ou síndrome nefrótica ou em pacientes em uso de estrógenos. O cortisol salivar tem sido proposto como alternativa nestas situa ções; entretanto, sua dosagem ainda não está amplamente disponível e critérios de resposta ainda não estão estabelecidos (33, 34). Níveis acima de 5,8ng/ml parecem excluir IA, enquanto valores abaixo de 1,8ng/dl sugerem a doença. Determinando a etiologia da IA IA primária — Em caso de suspeita de IA pri mária, a idade do paciente, o sexo, o contexto clínico (uso de anticoagulantes, síndrome anti fosfolipídio, possibilidade de tuberculose) e a presença de desordens endócrinas de etiologia autoimune são muito importantes no nortea mento diagnóstico. Deve ser realizada TC de abdome, uma vez que pode detectar adrenais aumentadas ou calcificações, sugerindo doença infecciosa, hemorrágica ou metástase (35-39). IA secundária — Ressonância magnética nu clear (RMN) de sela deve ser solicitada, para excluir a presença de tumor ou lesão da região hipotálamo-pituitária. Tratamento IA crônica O tratamento da IA crônica primária consis te na reposição de glico e mineralocorticoides, enquanto na IA secundária a reposição é feita com glicocorticoides associados à reposição de outros hormônios hipofisários porventura deficientes. Cabe ressaltar que os glicocorti coides devem ser repostos antes do início da reposição de levotiroxina e/ou hormônio do crescimento (GH), já que do contrário há risco de precipitação de IA aguda. A reposição de glicocorticoides deve ser feita preferencialmente, quando disponível, através da administração de hidrocortisona oral, dividida em 2-3 doses diárias (total de 15-25mg/dia). No Brasil, onde esta medicação não está amplamente disponível, utilizamos prednisona (2,5-7,5mg/dia) ou dexametasona (0,25-0,75mg/dia), em uma a duas tomadas diárias. É recomendado que se utilize a menor dose possível capaz de aliviar os sintomas da IA. Como a prednisona e a dexametasona não JBM SETEMBRO/OUTUBRO Insuficiência Adrenal Aguda.indd 47 VOL. 101 No 5 apresentam efeito mineralocorticoide, se faz necessário a associação de preparações com este efeito em pacientes com IA primária. A única preparação mineralocorticoide disponível é a 9-alfa-fluoridrocortisona, que geralmente é usada na dose de 0,05-0,1mg/dia (1, 40, 41, 42). Apesar de ainda não haver consenso na literatura, vários estudos têm sugerido efeitos benéficos da reposição de DHEA (25-50mg/ dia) no humor e no bem-estar geral em mu lheres com IA primária (43, 44, 45, 46, 47). IA aguda O tratamento consiste de reposição gene rosa de volume e glicocorticoides. A reposi ção de mineralocorticoides não é necessária na crise adrenal, uma vez que o efeito retentor de sódio demora alguns dias para ocorrer e a reposição de sódio costuma ser alcançada com a reposição de solução salina. Além disso, enquanto a dose de hidrocortisona em uso estiver em níveis iguais ou superiores a 50mg/24h, esta medicação garante ativação satisfatória do receptor mineralocorticoide (7). A infusão de salina deve ser reposta, tão rápido quanto o estado cardiovascular per mitir. Geralmente, inicia-se com a infusão de soro fisiológico 0,9% 1-2l/hora, nas primeiras horas do tratamento, sob monitoramento da função cardíaca. Após a melhora da hipo tensão, manter uma taxa de infusão de 3 a 4 litros de salina isotônica por dia. O uso de soro glicofisiológico pode ser útil, pois tais pacientes, geralmente, vêm de períodos lon gos de anorexia e, também, para diminuir o risco de hipoglicemia associada à deficiência de glicocorticoides (1, 7). Os glicocorticoides devem ser adminis trados imediatamente via endovenosa, numa dose de ataque equivalente a 100mg de hidrocortisona, seguidos da administração de 50mg de 6/6 ou 100mg de 8/8 horas, ou ainda, preferencialmente, em infusão contínua ao longo de 24 horas. Se o diagnóstico de insuficiência adrenal for confirmado, haverá dramática melhora 12 horas após o início do tratamento, e a hidrocortisona poderá ser reduzida progressivamente, retornando à dose de manutenção em dois a três dias. Caso o diagnóstico não se confirme, o regime terapêutico deve ser descontinuado (42, 48). A adequação do tratamento mineralocor ticoide pode ser avaliada pela monitorização O tratamento da IA crônica primária consiste na reposição de glico e mineralocorticoides, enquanto na IA secundária a reposição é feita com glicocorticoides associados à reposição de outros hormônios hipofisários porventura deficientes. Cabe ressaltar que os glicocorticoides devem ser repostos antes do início da reposição de levotiroxina e/ou hormônio do crescimento (GH), já que do contrário há risco de precipitação de IA aguda. 47 5/12/2013 13:34:25 Insuficiência adrenal aguda da pressão arterial, concentrações séricas de sódio e potássio e pela atividade de renina plasmática. Como não existe marcador bio químico confiável para a avaliação da atividade glicocorticoide, a reposição é baseada essen cialmente em parâmetros clínicos, sendo que hipertensão, edema e hipocalemia são sinais de excessiva reposição de glicocorticoides (41, 42, 49, 50). Todo paciente com IA deve possuir iden tificação de portador de IA, com orientações sobre as medidas necessárias em situações de risco. Adicionalmente, em vigência de infecções, sem repercussões sistêmicas sig nificativas, o paciente deve ser orientado a aumentar a dose habitual do glicocorticoide em duas ou três vezes, enquanto persistir o quadro de infecção. Em casos de cirurgias eletivas, recomendase a utilização de hidro cortisona endovenosa, na dose de 100mg na indução anestésica, seguida de 50 a 100mg de Referências Endereço para correspondência: Yolanda Schrank Av. Niemeyer, 777/605 — São Conrado 22450221 Rio de JaneiroRJ 48 Insuficiência Adrenal Aguda.indd 48 11. ALVES, M.; SOUTO, S.B. et al. — Protocolo de diagnóstico e tratamento da insuficiência suprarrenal aguda. Rev. Port. Endocr., Diab. e Metab., 1: 2329, 2008. 12. CASTRO, M. & ELIAS, L.L.K. — Insuficiência adrenal crônica e aguda. Medicina, Ribeirão Preto, 36: 3759, 2003. 13. DE HERDER, W.W. & VAN DER LELY, A.J. — Addisonian crisis and relative adrenal failure. Rev. Endocr. Metab. Disord., 4(2): 1437, 2003. 14. WILLIS, A.C. & VINCE, F.P. — The prevalence of Addison’s disease in Coventry, UK. Postgrad. Med. J., 73: 286, 1997. 15. LAURETI, S.; VECCHI, L. et al. — Is the prevalence of Addison’s disease underestimated? J. Clin. Endocrinol. Metab., 84: 1762, 1999. 16. ARLT, W. & ALLOLIO, B. — Adrenal insufficiency. Lancet, 361(9372): 188193, 2003. 6/6 horas, com redução progressiva a partir do segundo dia, de acordo com a recuperação do paciente (42). Conclusão A IA aguda ou crise addisoniana con siste em emergência endócrina rara, cujo prognóstico depende do reconhecimento e intervenção terapêutica precoces. O tratamento deve ser iniciado assim que o diagnóstico for suspeitado, mesmo antes da confirmação bioquímica do hipocorti solismo. A reposição de glicocorticoides e mineralocorticoides, quando indicada, deve ter como objetivo níveis equivalentes aos de um indivíduo saudável em similar circunstância. Além da reposição de glico corticoides, o tratamento consiste na cor reção da desidratação, em medidas gerais de suporte e identificação e tratamento das causas precipitantes. 17. ARLT, W. — The approach to the adult with newly diagnosed adrenal insufficiency. J. Clin. Endocrinol. Metab., 94: 1059, 2009. 18. BETTERLE, C.; DAL PRA, C. et al. — Autoimmune adrenal insufficiency and autoimmune polyendocrine syndromes: Au toantibodies, autoantigens, and their applicability in diagnosis and disease prediction. Endocr. Rev., 23: 32764, 2002. 19. ERICHSEN, M.M.; LØVÅS, K. et al. — Clinical, immunolo gical, and genetic features of autoimmune primary adrenal insufficiency: Observations from a Norwegian registry. J. Clin. Endocrinol. Metab., 94: 4882, 2009. 10. BOUILLON, R. — Acute adrenal insufficiency. Endocrinol. Metab. Clin. N. Am., 35: 76775, 2006. Obs.: As 40 referências restantes que compõem este artigo se encontram na Redação à disposição dos interessados. JBM SETEMBRO/OUTUBRO VOL. 101 No 5 5/12/2013 13:34:33 ©Medley 2013. ®Marca Registrada. AIXA ANÚNCIO MÉDICO – 50518509 - Dezembro/2013. Excelente eficácia contraceptiva 1 Tolerabilidade classificada como muito boa ou boa 2 Não interfere na libido 1 Normaliza as condições de oleosidade da pele e dos cabelos 1 3 Referências: 1. Wender MCO, Albernaz MA, Vilarinho A. Clormadinona/etinilestradiol: equilibrando contracepção segura e cosmética. Rev Bras Med. 2006;(63)11:583-90. 2. Schramm G, Steffens D. A 12-month evaluation of the CMA-containing oral contraceptive Belara®: efficacy, tolerability and anti-androgenic properties. Contraception. 2003;67(4):305-12. 3. Dados IMS Health – Julho/2013. processos trombóticos/tromboembólicos arteriais ou venosos, tumores hepáticos, Aixa® - acetato de clormadinona + etinilestradiol. Indicação: contraceptivo oral. Contraindicações: presença ou história de: período de imobilização, diabetes mellitus com alterações vasculares, hipertensão não-controlada, distúrbios de coagulação, hepatite, icterícia, distúrbios da função hepática, prurido generalizado, síndrome de Dubin-Johnson ou de Rotor, distúrbios do fluxo biliar, dor epigástrica intensa, aumento do fígado ou sintomas de hemorragia intra-abdominal, porfiria, tumores malignos sensíveis a hormônio, distúrbios graves do metabolismo lipídico, pancreatite associada à hipertrigliceridemia grave, enxaqueca com sintomas neurológicos focais, distúrbios sensoriais agudos, transtornos motores, aumento das convulsões epilépticas, depressão grave, otosclerose, sangramento vaginal ou amenorreia não diagnosticado, hiperplasia endometrial, hipersensibilidade às substâncias ativas ou a qualquer um dos componentes do produto. Precauções e Advertências: O uso do COC está associado ao risco aumentado de doenças cardiovasculares principalmente em fumantes e acima de 35 anos, onde se recomenda outro método contraceptivo. O uso de COC está associado a risco aumentado de tromboembolismo, AVC, câncer hepático. O risco de tromboembolismo venoso/arterial aumenta com os seguintes fatores: idade, história familiar positiva, imobilização prolongada, obesidade, tabagismo, dislipoproteinemia, hipertensão arterial, doença de válvula cardíaca, fibrilação atrial. Se houver aumento significativo da pressão arterial o uso deve ser descontinuado. Em casos de história de herpes gestacional, pode haver recorrência. Em mulheres com história de hipertrigliceridemia o risco de pancreatite é maior. Pacientes diabéticas devem ser monitoradas. As mulheres com tendência a desenvolver cloasma devem evitar a exposição ao sol e à radiação ultravioleta. Durante os primeiros meses de uso pode ocorrer “spotting” ou ausência da menstruação. Não deve ser utilizado durante a gravidez e a amamentação e em casos de intolerância à galactose. Interações Medicamentosas: carbamazepina, fenitoína, topiramato, griseofulvina, barbexaclona, primidona, modafinil, ritonavir, erva de São João, ampicilina, tetraciclina, ácido ascórbico, paracetamol, atorvastatina, fluconazol, indinavir, metoclopramida, carvão ativado, rifampicina, rifabutina, troleandomicina, diazepam, lorazepam, ciclosporina, teofilina, prednisolona, clofibrato, morfina. Reações adversas: “spotting”, cefaleia, desconforto das mamas, náusea, corrimento vaginal, dismenorreia, amenorreia, humor deprimido, nervosismo, irritabilidade, tontura, enxaqueca (e/ ou piora dela), distúrbios visuais, vômitos, acne, sensação de peso nas pernas, dor abdominal, aumento da pressão arterial, fadiga, edema, aumento de peso. Piora da doença de Crohn e colite ulcerativa. Posologia: o comprimido deve ser tomado diariamente no mesmo horário por 21 dias consecutivos, seguidos de uma pausa de sete dias. Após o intervalo de sete dias inicia-se a próxima cartela. USO ADULTO. Registro MS: 1.0181.0639. VENDA SOB PRESCRIÇÃO MÉDICA. SE PERSISTIREM OS SINTOMAS, O MÉDICO DEVERÁ SER CONSULTADO. Material destinado aos profissionais de saúde habilitados a prescrever ou dispensar medicamentos. Serviço de Informações Medley 0800 7298000 www.medley.com.br aixa.indd 1 9/12/2013 10:18:27 noticiário seases (AASLD), principal congresso sobre Hepatites, em Washington. No congresso foram apresentados, pela primeira vez, os resultados de um estudo fase III de uma combinação oral de daclatasvir (DCV) e asunaprevir (ASV) em pacientes japoneses com hepatite C, que não são elegíveis ou são intolerantes às terapias baseadas em interferon ou que não responderam aos tratamentos com interferon e ribavirina. A Bristol-Myers Squibb apresentou 16 resumos (abstracts) no AASLD, reforçando o compromisso da empresa na busca pelo tratamento das hepatites, com um portfólio focado nas necessidades do paciente. Sleisenger & Fordtran — tratado gastrointestinal e doenças do fígado Com chancela da Federação Brasileira de Gastroenterologia, a editora Elsevier lança a edição brasileira de Tratado gastrointestinal e doenças do fígado (volume 1). A obra, acrescida de um volume de perguntas e respostas (com exercícios e questões de provas), orienta sobre os avanços mais recentes em Gastroenterologia e Hepatologia e auxilia nas decisões clínicas e cirúrgicas de gastroenterologistas, especialistas em Medicina Interna, cirurgiões, patologistas e residentes. Mark Feldman, Lawrence S. Friedman e Lawrence J. Brandt, editores do livro e renomados doutores e educadores em Gastroenterologia e Hepatologia, ressaltam que o objetivo do trabalho é, principalmente, fornecer uma plataforma vigorosa, capaz de ajudar no presente e orientar para o futuro. Com um conteúdo prático, atualizado, ricamente ilustrado e trazendo informações consistentes, a nova edição reúne autores de pelo menos 12 países e apresenta mais três capítulos: Cirurgia bariátrica, Esôfago de Barrett e Tratamento endoscópico das doenças pancreáticas. Inclui também as inovações técnicas ocorridas nas últimas quatro décadas, como a emergência adicional da endoscopia diagnóstica e terapêutica avançada; a introdução dos transplantes de fígado e de intestino; o desenvolvimento de testes genéticos e sorológicos; e diagnósticos mais precisos e resultados mais eficientes obtidos com o advento da cirurgia minimamente invasiva. Traz, ainda, o que há de mais recente sobre cirurgia bariátrica, ultrassonografia endoscópica, endossonografia e tratamento de doenças hepáticas. Com a regência, parceria e coordenação da Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG), tendo à frente da coordenação da tradução o Dr. José Galvão-Alves, presidente da FBG, os melhores especialistas da área se dedicaram, por mais de um ano, à tradução de cerca de 2.500 páginas. “Conquista imensurável da Gastroenterologia nacional, esta obra clássica, agora em português, permite aos mestres e estudiosos a consulta, pesquisa e referência ao principal livro de nossa especialidade”, escreve o Dr. José Galvão no prefácio da edição brasileira do Tratado. Aché lança DoseD O laboratório Aché acaba de lançar o suplemento alimentar DoseD, auxiliar na ingestão diária necessária de vitamina D. O produto é apresentado em gotas, de 10ml e 20ml, com o sabor maçã-verde. A vitamina D é necessária ao corpo humano e possui papel fundamental na formação e manutenção dos ossos e dentes, já que favorece a absorção intestinal do cálcio presente na dieta. “Como o Brasil é um país ensolarado, acreditava-se que a deficiência de vitamina D aqui fosse pouco comum, mas essa não é a realidade. Médicos e consumi50 Noticiario-2.indd 50 Novo contraceptivo da Medley com aplicativo para smartphones Cerca de 90% das mulheres deixam de tomar a pílula na hora e dia adequados, segundo o estudo International Family Planning Perspectives. Para auxiliar o público feminino nesta tarefa, o novo contraceptivo Aixa (acetato de clormadinona 2mg + etinilestradiol 0,03mg), lançado pela Medley, chega ao mercado juntamente com um aplicativo para smartphones com os sistemas operacionais Android ou iOS. Batizado de “Meu Ciclo”, o serviço, que é totalmente personalizado, tem como objetivo auxiliar a mulher em um fator decisivo para a eficácia da pílula: lembrar-se de tomar o comprimido diariamente, na hora certa, além de calcular corretamente o período de pausa entre as cartelas do contraceptivo. “Este aplicativo é um diferencial no mercado nacional, porque, além de informar a necessidade do uso correto do medicamento, também traz informações técnicas importantes para garantir a eficácia e segurança do contraceptivo”, constata o ginecologista Odair Albano. Para baixar o aplicativo, basta acessar o endereço www.eumaisfeminina. com.br. dores precisam de novas soluções para suplementar a vitamina”, disse Fabiana Silva, Gerente de Produtos do Aché. “A suplementação com DoseD possibilita que os médicos tratem com eficácia uma deficiência ou que os consumidores complementem a sua dose de sol diária com apenas uma gota”, completou Fabiana. Novos dados sobre o daclatasvir A Bristol-Myers Squibb apresentou novos dados do estudo com a molécula daclatasvir, na 64.ª reunião anual da American Association for the Study of Liver DiJBM SETEMBRO/OUTUBRO, 2013 VOL. 101 No 5 5/12/2013 13:38:52 ©Medley 2012. ®Marca Registrada. GNRC ANÛNCIO – 50803866 – 14/08/2012. Com o aplicativo leitor QR Code do seu smartphone, aproxime a câmera do símbolo ao lado e confira o que a Medley criou especialmente para você que é médico. Indicação Apresentações Tratamento de refluxo gastroesofágico, azia, úlceras e dor de estômago4. 20 mg c/ 14 ou 28 comp de lib retardada 40 mg c/ 14 ou 28 comp de lib retardada 1. Primeiro genérico a ser comercializado (IMS Health/PMB, jul./2012). 2. Lista de Medicamentos Genéricos, http://www.anvisa.gov.br, acesso em 01/06/12. 3. Resolução CMED nº 2, de 5 de março de 2004. 4. Bula do medicamento. esomeprazol magnésico tri-hidratado Medley. Indicações: doença do refluxo gastroesofágico (DRGE), terapia contínua com anti-inflamatórios não hormonais (AINH), úlcera duodenal associada ao Helicobacter pylori, erradicação de H. pylori em associação com antibacterianos, condições patológicas hipersecretoras, manutenção da hemostasia e prevenção de ressangramento de úlceras gástrica e duodenal. Contraindicações: Serviço de Informações Medley 0800 7298000 www.medley.com.br hipersensibilidade conhecida ao esomeprazol, benzoimidazóis substituídos ou a qualquer outro componente da formulação. Precauções e Advertências: na presença de qualquer sintoma de alarme e quando há suspeita ou presença de úlcera gástrica, a malignidade deve ser excluída. Intolerância à frutose, má absorção de glicose-galactose ou insuficiência de sacarase-isomaltase não receber este medicamento. Cautela em casos de insuficiência hepática e renal graves e na gestação. Não utilizar durante a amamentação. cetoconazol , diazepam, fenitoína, varfarina, cisaprida, atazanavir, nelfinavir, saquinavir, claritomicina, voriconazol. Reações Adversas: cefaleia, Interações medicamentosas: itraconazol, dor abdominal, diarreia, flatulência, náuseas/vômitos, constipação. Posologia: esofagite de refluxo erosiva: 40 mg 1x/dia por 4 semanas. Prevenção a recidiva de esofagite e cicatrização de úlceras gástricas e duodenais associados à terapia com AINH:/ Sintomas da DRGE e/ gastrointestinais altos: 20 mg 1x/dia. Úlcera duodenal associada ao H. pylori erradicação do H. pylori: 20 mg, com 1 g de amoxicilina e 500 mg de claritromicina, todos 2x/dia, por 7 dias. Condições patológicas hipersecretoras: 40 mg 2x/dia. Dose máxima: 120 mg 2x/dia. Hemostasia e prevenção de ressangramento de úlceras gástricas e duodenais: 40 mg 1x/dia por 4 semanas. Insuficiência hepática grave: dose máxima diária de 20 mg. USO ADULTO E PEDIÁTRICO (A PARTIR DE 12 ANOS). Registro no MS: 1.1618.0245. VENDA SOB PRESCRIÇÃO MÉDICA. Medicamento Genérico – Lei 9.787/99. Material destinado aos profissionais de saúde habilitados a prescrever ou dispensar medicamentos. MT_0268_12A.indd 1 SE PERSISTIREM OS SINTOMAS, O MÉDICO DEVERÁ SER CONSULTADO. 8/14/12 5:23 PM