1 CLEMENTE, Durval dos Santos. Dicionário esperto – Antologia de definições saborosas. São Paulo: edição do autor, 2003. Em forma de disco, o Sr. Clemente preparou (por sua conta) uma curiosa coletânea de “definições” – muito ao sabor das que Ambrose Beirce costumava escrever e divulgar, nos jornais ingleses, entre 1872 e 1875, e que deram origem ao muito comentado The devil’s dictionary (Wordsworth Editions, 1996). [Lembremos, entre parênteses, que a estória de Beirce e de sua obra pode ser encontrada em Livros, sempre (antologia organizada pela profa. Mariluze Ferreira de Andrade e Silva, distribuída pela UFRJ, Universidade Federal de São João del-Rei)]. *** Explorando obras de figuras internacionalmente conhecidas -- Pitigrilli, Pirandello, George Sand, Shakespeare, Mme. De Stael, Oscar Wilde, e assim por diante -- obras de nossos autores e humoristas mais afamados – Bilac, Clarice Lispector, Millor Fernandes (citado 243 vezes), Ziraldo -- e obras de alguns escritores que eu, pelo menos, desconhecia -- Ramon Gomes de la Sena (citado 92 vezes), Gran Dauli e Jardiel Poncelli – Durval dos Santos Clemente recolheu mais de três mil frases que o encantaram, organizando sua antologia de “definições saborosas”. A coletânea, esclarece o autor, nasceu de leitura dos livros de Pitigrilli – cujas frases deliberou guardar, para tê-las à mão, sempre que desejável. A idéia de partilhar os ditos pitigrilianos com os amigos deu origem, enfim, ao disco elaborado no fim de 2003, com mais de três mil ditos de vários autores. O disco tem, naturalmente, um valor especial para o autor, fixando momentos de prazer que sentiu, ao longo dos anos, e que agora poderá recordar Resenhas -- Laboratório de Lógica e Epistemologia Print by UFSJ HEGENBERG, Leonidas: Resenhas quando quiser, na solidão de seu gabinete ou na companhia de conhecidos. *** As frases “saborosas”, numeradas, podem ser localizadas por duas vias – “verbetes” e “autores”. Os verbetes acham-se em ordem alfabética, de “A” (tenda de campanha do alfabeto, segundo Ramon de la Sena), “abdicação”, etc., até “zebra“ (cavalo branco que se sentou em banco recém-pintado, no dizer de Lina Furlan) e “zefir” (vento que sopra sobre pessoas muito frescas). Ao lado de cada qual dos verbetes aparecem, em sucessão, as frases selecionadas por Clemente. Cada frase se encerra com o nome de seu autor. Escolhendo um autor, da lista que começa com Abade Galiano e Abel Bonnard e termina com Zoroatro e Zózimo, abre-se a lista de números de suas frases aqui reunidas. (Os números, como de esperar, estão em ordem crescente, correspondendo às letras relativas ao tema abordado.) *** Para dar mais clara idéia do que Clemente apreciou fixar em seu disquete, notem-se, como exemplos, (Adjetivo) Recurso de escritores e oradores sem idéias (Pitigrilli). (Dinheiro) Existe tanta coisa mais importante que o dinheiro. Mas custam tão caro (Grouxo Marx). (O) O ‘O’ como número não tem valor; como desenho é a perfeição. Eis a superioridade do desenho sobre o número (Gran Dauli). *** Resenhas -- Laboratório de Lógica e Epistemologia Print by UFSJ HEGENBERG, Leonidas: Resenhas Como antologia de ditos, frases, definições, paráfrases, etc., o disco de Clemente poderia ser comparado, digamos, ao Penguin dictionary of proverbs (London: Penguin, 1983) ou ao Penguin dictionary of quotations (London: Penguin, 1960). Para atingir, entretanto, o nível dessas obras inglesas, Clemente deve procurar auxílio de um bom bibliotecário de referência. Será orientado no sentido de uniformizar a alusão aos autores, evitando, por exemplo, que (1) Lawrence Olivier apareça na letra “S” (como Sir Lawrence Olivier); (2) Bertrand Russell venha na letra “B” (para uma frase relativa a patriotismo) e na letra “L” (como Lord Russell, para alusão a pecador). Evitará, ainda, que prevaleça (3) ora o primeiro nome, “Oscar Wilde”, (4) ora o sobrenome, Maupassant (sem o prenome “Guy”). Evitará, além disso, que (5) certos nomes (p. ex., “Mura”) fiquem sem mais clara indicação. Evitará, enfim (6), que certas frases sejam citadas não pelo autor, mas pelos órgãos que as divulgaram – “Plain Dealer”, “Observer” (na verdade, “The Observer”), “Punch” ou “Your life”. *** Claro está que qualquer dos conhecidos de Clemente que haja recebido cópia de seu trabalho poderá alegrar-se com o autor, refazendo, com ele, os caminhos que enfeitaram seus dias. Res. Abril 2004 Leonidas Hegenberg Resenhas -- Laboratório de Lógica e Epistemologia Print by UFSJ