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GRAÇA, Adriana Silva (org.). Linguagem, Mente e
Ação. (Actas do Seminário de Filosofia Analítica
2002-2003). Lisboa: Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa. 2003, 197 páginas.
I
Preliminarmente, registro alguns informes que
figuram nas capas, na “orelha” e no prefácio do livro.
Desde Outubro de 2002, o Centro de Filosofia (CL) da
Universidade de Lisboa (UL) realiza, mensalmente,
seus Seminários de Filosofia. Entre eles, o Seminário
de Filosofia Analítica, organizado nos moldes do similar que teve lugar em Lund (Junho de 2002) e ao qual
compareceram vários estudiosos portugueses. As comunicações apresentadas nos seminários têm duração (“típica”) de 50-60 minutos. Após uma exposição,
há período (limite de 50 minutos) para debater o tema
tratado..
Nas “Atas” aqui focalizadas, estão contribuições que professores portugueses apresentaram em
Lund (2002), dois artigos de Michael Devitt (New York)
e um artigo assinado por L. Bovens (Colorado) e W.
Rabinowicz (Lund). Graça preparou as Atas em Novembro de 2003. Parece que vieram a público no fim
desse ano.
II
Em seguida, aqui ficam certas reflexões que
as Actas provocaram.
Antes da metade do século XX, era comum,
nas universidades dos EUA, o “comando pop”, isto é,
publish or perish. Continuidade na vida acadêmica
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exigia a publicação de livros e a constante presença
nas revistas especializadas. No final daquele século, a
“doença” contaminou boa porção das universidades
brasileiras, principalmente as oficiais. Também aqui o
progresso na carreira passou a depender, em boa medida, de obras publicadas.
Alguns profissionais podem exibir competência
mediante projetos, construções, patentes, inventos e
coisas do gênero. Os filósofos, porém, só dispõem, em
geral, dos escritos (artigos, livros, comunicações para
congressos,...) a fim de revelar, de modo concreto, o
aperfeiçoamento de suas qualificações. Para eles, o
“comando pop” começou a tornar-se aflitivo, particularmente desde a entrada do novo século. A luta por
um espaço nos periódicos, nas editoras, nas reuniões
acadêmicas, exige, nos dias de hoje, crescente preparo e grande disposição – “antenas ligadas” para aproveitamento de todas as oportunidades. Em verdade, é
cada dia mais difícil publicar e o perigo de morrer
(academicamente) ronda incessantemente os mestres
universitários.
Muitos periódicos evitam novos colaboradores, temendo caírem vítimas novas do famoso “episódio Sokal”.
Acolhem articulistas “da família”, conhecidos e renomados.
Levam um tempo enorme para apreciar artigos
de.estudiosos menos conhecidos, mesmo quando recomendados pelos “familiares”. Chega a ser irritante a demora
das análises de pareceristas -- causa de muito desânimo
entre jovens ambiciosos.
Como as editoras comerciais vivem de livros e
revistas de grande vendagem, é natural que assuntos
acadêmicos (principalmente filosóficos) raro cheguem
a interessá-las. É verdade que, ao lado das muitas
revistas de boa aceitação popular (assuntos esotériResenhas -- Laboratório de Lógica e Epistemologia
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cos, cinema, televisão, auto-ajuda, educação, etc.),
também apareceram, no Brasil, em anos recentes,
periódicos mensais de história e de divulgação científica. Embora haja bons articulistas nesses periódicos,
não parece que os filósofos se sintam estimulados a
produzir revistas semelhantes. Duvidam – quero crer -que os temas filosóficos (tratados em níveis “corretos”)
possam merecer a atenção que história e ciência recebem do grande público. .
Para enfrentar suas dificuldades “pop”, os filósofos têm-se empenhado, há tempos, no Brasil, em
divulgar seus escritos por uma de três vias principais:
(1) usando ou inaugurando editoras universitárias ou
mesmo departamentais; (2) criando, com recursos
próprios, pequenas editoras não-comerciais; (3) organizando congressos, simpósios, seminários, mesas
redondas, etc., com a esperança de que (algumas)
entidades patrocinadoras publiquem os respectivos
Anais.
(1) Lembrando a dificuldade em que se esbarra
ao tentar difundir escritos acadêmicos via editoras comerciais, inúmeros institutos e departamentos de filosofia criaram suas próprias editoras, com a função
precípua de divulgar a produção de seus docentes,
sem a preocupação do lucro. Ao lado de algumas antigas revistas distribuídas por faculdades de renome,
com periodicidade assegurada, muitas outras revistas
universitárias nasceram e continuam nascendo. Apenas a título de exemplo, ai está Poiesis (Dep. de Filosofia da Unimonte, Minas Gerais, lançada em 2001).
Importa frisar, porém, que as verbas dessas entidades
nem sempre são suficientemente fartas para atender a
todas as demandas, de modo que os filósofos, uma
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vez mais, sofrem a “pressão pop”, com reduzida expectativa de evitá-la. (2) Paralelamente, grupos de
estudiosos têm organizado publicações (presumível,
mas problematicamente periódicas) que possibilitem a
difusão de seus escritos. Exemplificando, aí temos
Philósophos, em seu oitavo número, gerada por editora organizada por estudiosos de Goiânia, Goiás (primeiro número distribuído em 1996). (3) Quanto aos
conclaves, é sorte encontrar quem publique atas e
anais, contornando, em parte, os obstáculos que os
filósofos continuam enfrentando. Felizmente, no Brasil
há organizações, aqui e ali, em condições de financiar
publicações especializadas.
III
Tudo isso me ocorreu ao examinar e cogitar de
escrever resenha das “Actas” organizadas pela professora Adriana Silva Graça. A pergunta surgiu, inevitável: “Será que em Portugal, para divulgar resultados
de seus estudos, os jovens enfrentam obstáculos
“eqüipolentes” aos do Brasil?” Optei pela negativa.
Corrijam-me os colegas, se estiver enganado. Minha
opção se explica.
Tendo em mãos estes Anais; considerando a
quantidade de livros (de filosofia) publicados em Portugal, nestes últimos três ou quatro anos; comparando
a quantidade de professores universitários de cá e lá;
sabendo que muitos desses professores estiveram em
Lund e outros tantos se aperfeiçoam em vários países
europeus -- cabe conjecturar que a situação lusitana é
bem menos aflitiva do que a brasileira. [Registre-se,
porém, que as editoras portuguesas são tão pouco
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simpáticas quanto as do Brasil. Experiência pessoal
permite dizer que nem sequer se dignam a acusar
recebimento de originais...]
Deixando as conjecturas, fato é que na terra de
Camões o “drama pop” encontrou uma “saída” pela via
dos seminários, com Atas publicadas.
Das anotações iniciais deste comentário deflui
que o Seminário aqui focalizado teve lugar em Outubro
de 2002 e que Adriana Graça passou um ano organizando as Actas – que foram para a gráfica em Novembro ou Dezembro de 2003. Registrando que as
recebi em Março de 2004, cabe concluir (talvez com
pequeno erro) que o volume exigiu um ano (2003) de
editoração e mais alguns meses de preparação gráfica. Conquanto haja, no Brasil, um ou outro conclave
que publique Anais em prazos curtos, a média é a
mesma ou maior – um ano, às vezes; 18 meses, em
geral.
Deixemos, porém, estes já demasiado longos
prolegômenos e passemos ao que importa.
IV
As “Actas” principiam com artigo de João Branquinho (UL), intitulado “Contra o materialismo”. O Autor descreve, de modo mais ou menos minucioso, os
argumentos de Saul Kripke contra o materialismo especimen-especimen. Comenta, de modo crítico, algumas objeções levantadas em desfavor de Kripke. E
termina examinando conseqüências advindas de supor
distintos os particulares físicos e mentais. Seu enfoque
toma como fulcro estados e eventos tipicamente re-
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presentados pelas dores que afetam os seres humanos.
***
Michael Devitt (New York) assina duas contribuições, “The case for referential descriptions” (31
páginas) e “A shocking Idea about meaning”.(20 páginas). No primeiro artigo, o Autor fala das descrições
definidas, do tipo “o F”, e das indefinidas, do tipo “um
F”..Segundo lembra, tais descrições admitem dois empregos (atributivo e referencial). No entanto, nem todos acreditam que as descrições possam ter dois significados.. A tese defendida é a de que existem descrições referenciais (não apenas usos referenciais das
descrições).
No segundo artigo, Devitt nota que a mais popular teoria da referência é a teoria da descrição. Essa
teoria explica propriedades referenciais de um vocábulo por meio de suas associações a outros vocábulos. (P. ex., ‘solteiro’ se explana em função de ‘adulto’,
‘sexo masculino’, ‘não-casado’.) Não se trata de explicação completa, porque tais associações estão “na
cabeça” do locutor. Cabe, pois, acompanhar Putnam,
para quem a explanação cabal (com vínculos externos, “fora da cabeça do locutor”) depende de alguma
relação causal entre locutor e mundo exterior. Tendo
em conta mais duas teorias externalistas (a dos indicadores e a teleológica), Devitt conclui que uma combinação das três teorias pode oferecer solução correta.
Honestamente, creio difícil acompanhar, com
proveito, num seminário, aquilo que Devitt registrou na
primeira contribuição. Entre outras coisas, ele espera
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que os ouvintes “estejam familiarizados com a literatura” (p. 32) e coloca, na bibliografia (p. 61-62), nada
menos que 62 itens – 46 artigos e 16 livros (um dos
quais seria impossível conhecer, pois ainda não havia
sido publicado).
***
Em quarto lugar, temos “Verdadeiro, falso ou
nenhum dos dois...”, de Teresa Marques (UL). A Autora lembra a tese de Williamson: admitir “contraexemplos ao princípio de bivalência gera contradições”. Registra, em seguida, a posição de Travis, assentada em (i) o significado de uma frase determina
suas condições-verdade; (ii) é necessário postular (a
existência de) proposições. O propósito da Autora é
mostrar que Travis não contesta a tese de Williamson.
[Na bibliografia, a Autora deixou de colocar as iniciais
dos primeiros nomes dos autores citados. Aqui, isso
não trouxe dúvidas, mas é procedimento a evitar.]
***
Desidério Murcho (UL) apresenta, a seguir,
“Possibilidade relativa: três concepções”. Em apresentação que eu diria compatível com exposição proveitosa – num prazo de 50 minutos – o Autor fala da
necessidade e da possibilidade (absolutas e relativas)
em “níveis” metafísico, físico e lógico. Nota que é útil
comparar as noções para bem compreender a natureza da modalidade.
***
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Luc Bowen (Colorado) e Wlodeck Rabinowicz
(Lund) escrevem o sexto artigo, “Democracy and argument; treacking truth in complex social decisions”. O
trabalho gira em torno de procedimentos adotados em
votações, seja (1) recolhendo votos de cada subcomissão, a seguir considerados para o voto final da
comissão, seja (2) votando diretamente na proposta
(“final”) formulada pela comissão. Ressaltam os autores que o procedimento (1) é melhor, se o desejo é
“reach truth for the right reason”, sem cometer enganos no caminho; ao passo que o procedimento (2)
pode ser preferido, em certos casos, se o desejo é
alcançar a verdade “for whatever reasons, right or
wrong”.
***
Temos, em continuação, o comentário de Pedro Santos (UL), “Three bad arguments for the apartheid view on conditionals”.
Segundo a “apartheid view”, condicionais contrafactuais e não-contrafactuais têm diferentes condições-verdade. O Autor, examinando condicionais que
têm sido objeto de atenção há décadas, nota que para
alguns estudiosos, os dois condicionais “Se A, então
B” e “Se A, então não-B” são mutuamente consistentes – contrariamente ao que sustentam defensores de
CNC, ou seja, a tese do “Conditional nonContradiction”, inaplicável a não-contrafactuais. Em
suma, o artigo se destina a mostrar que CNC não dá
apoio à tese do apartheid e, ao contrário, fornece motivos para imagina-la falsa.
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[O Autor adotou o mau hábito dos filósofos anglofônicos -- substituir ‘he’ por ‘she’, em deferência ao
“sexo fraco” (p. 128), como se, agora, apenas as senhoras e senhoritas cuidassem da filosofia...]
***
O oitavo ensaio das Actas é “O problema do significado na teoria da verdade de Tarski”, de Ricardo
Santos (Universidade Nova de Lisboa). O ensaio começa notando ter D. Davidson reconhecido que a definição de Tarski não pode, simultaneamente, responder
a pergunta “Que é verdade?” e servir de teoria semântica em condições de fixar, em dada linguagem, o que
significam suas frases. Adiante, sublinha que os filósofos identificaram três aspectos da teoria de Tarski,
cada qual deles gerador de um tipo de falha na teoria.
Os aspectos seriam (1) caráter enumerativo da definição; (2) sua relativização a uma particular linguagem;
e (3) o caráter “tautológico” das frases-V que dela se
derivam. [Na p.144, fala-se de uma “convenção V”; na
p. 150, surgem as “frases-V”. Conviria esclarecer?] O
Autor passa em revista os três aspectos. Tarski, naturalmente, sabia que uma dada frase pode ter vários
significados, na dependência da linguagem usada, de
quem a enuncia, do momento de enunciação, etc.
Afastou as dificuldades restringindo-se a uma linguagem em que o sentido de cada frase é fixado de maneira unívoca pela forma (da frase). Ainda assim, salienta o Autor, a definição de ‘verdade’ não foi adequadamente apresentada; para ele, vale a opinião de Davidson, ou seja, não há como definir ‘verdade’ em termos de algo “mais fundamental” – ‘verdade’ seria um
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termo primitivo. [Na p. 159, um (aparentemente, o único) erro tipográfico: ‘lama’, em vez de ‘alma’...]
***
Em penúltimo lugar, temos, da própria organizadora das Actas, o artigo “Critérios de identificação
do conteúdo”. Destina-se a isolar conteúdo daquilo
que é dito em usos de frases, para distingui-lo do objeto de que se fala e da informação veiculada.
A Autora lembra que Frege e Russell tinham
solução unificada para os três aspectos. Em seguida,
gravita em torno de um muito comentado argumento
de duas premissas -- (1) Hesperus é Phosphorus; (2)
O antigo astrônomo acredita(va) que Hesperus é Hesperus – e conclusão (3) O antigo astrônomo acredita(va) que Hesperus é Phosphorus. [O uso de ‘acreditava’ no lugar de ‘acredita’ corre por minha conta.]
Esse argumento está cheio de itens controvertidos. Para começar, creio que hoje (quase) todos
aceitam (1); o “antigo” astrônomo não aceitava (1). Por
isso, acho difícil supor que o “antigo” astrônomo
aceitasse (3). A par disso, Vilém Flusser (comentando
o que se passava em certas ilhas da Nova Zelândia)
me ensinou que (certas) pessoas podem acreditar que
a mulher é mulher e, além disso, acreditar que a mulher é batata – o que levava essas pessoas a vigiar
plantações de batatas a fim de impedir que as mulheres mantivessem encontros amorosos com homens
das vilas vizinhas. A estória contada por Flusser, indicaria que (2) não é “indisputável” (como a Autora admite, p. 165).
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Entretanto, examinando frases como “Fernando
Pessoa = Ricardo Reis” (meu exemplo difere do apresentado no artigo, pois é conhecido da maioria dos
leitores brasileiros e portugueses), a Autora ressalta,
apropriadamente, que a informação veiculada depende crucialmente dos contextos em que as frases compareçam. Semanticamente, apenas se expressa uma
verdade lógica, “FP é FP”; todavia, o comunicado é
muito mais do que o semanticamente expresso.
[Nas referências, Graça menciona o artigo de
Devitt, encontrado nas próprias Actas, indicando-o
como artigo a sair.]
***
A longa jornada pelas Actas se encerra com
um ensaio de Célia Teixeira (no King’s College), “O
projeto empirista e o conhecimento da lógica”.
Segundo a Autora, a “teoria da definição implícita” seria revitalização do projeto empirista de explicar
o conhecimento a priori (da lógica, em especial) em
termos de conhecimento lingüístico. Reduzir conhecimento da lógica ao conhecimento lingüístico, sustenta
ela, exige apelo a convenções – explícitas ou não.
Redução a convenções explícitas se tornou inviável,
depois das críticas de Quine. Seu propósito é mostrar
que o apelo a convenções implícitas (vila definição
implícita) é igualmente inócuo.
Três objeções são formuladas contra a teoria
da definição implícita. A Autora mostra que o conhecimento não se explica por meio de estipulações bem
sucedidas porque estas dependem de prévia (independente) razão para crer no êxito de tais estipulaResenhas -- Laboratório de Lógica e Epistemologia
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ções. Em seguida, a Autora se vale de dois argumentos de W. Quine – da vacuidade e das justificações
circulares – para, depois de devidamente adaptados,
aplica-los ao problema focalizado, De novo, as falhas
da teoria da definição implícita se põem claras.
A conclusão é de que as teorias empiristas
acabam por se valer de justificação racionalista para
caracterizar o conhecimento da lógica.
V
Este longo comentário admite dois finais. Um
deles, com adequado “happy end”; outro, com não tão
“happy end”... Vamos a eles.
Há cinqüenta anos, o professor Arp Procópio
de Carvalho, consultor jurídico do Centro Técnico Aeroespacial (São José dos Campos, Brasil), espantado
com a quantidade de papel que recebia em seu gabinete – em geral, segundo ele, com montes de considerações supérfluas -- afirmava, convicto, “Breve, chegará o tempo em que as pessoas pagarão – e caro –
para publicar o que escrevem”. Lembro-me bem que,
naqueles tempos, o Nuovo Cimento (importante revista
de física editada na Itália) já cobrava, e bem caro, para
publicar artigos dos pesquisadores interessados em
divulgar suas idéias. (Note-se que as entidades a que
se filiassem os pesquisadores pagavam as contas,
caso a divulgação do artigo fosse considerada relevante.]
As Actas aqui examinadas se enquadram nas
considerações do professor Arp. O livro contém dez
trabalhos que gravitam em torno de “nugas de nugas”,
isto é, em torno de minúcias que o “povo acadêmico” é
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obrigado a estudar a fim de se colocar “em dia” com os
temas postos no palco das salas de aula das universidades. Os professores não podem deixar de povoar as
salas de aula com idéias dos “grandes vultos” da filosofia contemporânea. Aqui, giramos em torno de Frege, Grice, Kripke, Putnam, Quine, Russell, Tarski, Wittgenstein. Ali, ouviríamos discursos a respeito de Althusser, Bachelard, Derrida, Descartes, Lacheleier,
Marcuse, Sartre. Acolá, giraríamos em torno de
Brentano, Hegel, Heidegger, Husserl, Kant, etc., etc.
Em qualquer caso, frenética busca de frases ou afirmações passíveis de críticas, mesmo que inócuas,
para gerar um artigo, uma comunicação, uma nota –
capaz de assegurar a permanência na vida universitária.
Aqui no Brasil, artigos, comunicações, notas,
etc., estão atingindo o ponto previsto pelo professor
Arp – é preciso pagar (criando editoras e revistas) para
publicá-los..
***
Pensando em termos menos pessimistas, cabe
dizer que os moços estão muito ativos nas universidades de todo mundo, em especial, nas portuguesas. Há
uma grande efervescência de idéias, amplamente discutidas e analisadas. O fruto desses debates pode
(talvez deva) vir à luz, para benefício de estudiosos de
outros cantos do mundo. Afinal, Goethe pedia, “Licht,
mehr licht” e a luz jorra quando idéias afloram. Sejam
bem-vindas as Actas.
Res. Maio 04.
Leonidas Hegenberg
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