AUTOMOTIVE
Mudança de
rumos
Charles Krieck,
sócio-líder
da KPMG no
Brasil na área
de Industrial
Markets
Pressões dos consumidores por praticidade e
economia, somadas à necessidade de adaptação dos
veículos ao planejamento urbano, criam um cenário
desafiador para a indústria automobilística
Uma significativa mudança de rumos,
que começou a se desenhar após
a crise econômica de 2008, ganha
contornos mais definidos no mercado
automotivo global. A pressão por
veículos econômicos, com motores
mais eficientes abastecidos por fontes
alternativas de energia se intensifica,
acrescida da necessidade de carros
adaptados ao melhor planejamento
urbano e aos desejos do cliente.
Assim, o futuro aponta para profundas
mudanças nos modelos de negócios
do setor automobilístico, impulsionadas
pelas pesquisas de novas tecnologias
energéticas e de segurança.
“O carro sempre influenciou o design
das cidades. Agora, a situação se
inverte. Os congestionamentos, a
redução das áreas de estacionamento
e o crescimento das zonas de baixa
emissão, com cobrança de pedágio
e taxas de circulação, exigem uma
Importância da definição dos veículos conforme
seus propósitos
nova concepção para os automóveis”,
analisa Charles Krieck, sócio-líder da
KPMG no Brasil na área de Industrial
Markets, comentando os resultados do
estudo KPMG’s Global Auto Executive
Survey 2011. A pesquisa é realizada
anualmente pela KPMG International,
com 200 executivos de companhias das
Américas, Ásia/Pacífico, Europa, África e
Oriente Médio, em toda a cadeia de valor
automobilística, incluindo fabricantes,
fornecedores e distribuidores.
O design do veículo é
definido pelo planejamento
urbano?
1%
3%
21%
7%
19%
44%
29%
76%
Sem importância
4
3
2
Fonte: KPMG’s 2011 Global Auto Executive Survey
12 Automotive
Extremamente importante
Sim Não Não sabe
Fonte: KPMG’s 2011 Global Auto Executive Survey
A maioria dos executivos consultados
(76%) acredita que a concepção
dos carros será determinada pelo
planejamento urbano. E quase três
quartos deles (73%) apostam que o
design e a engenharia automotivos serão
cada vez mais definidos de acordo com
os propósitos dos clientes. Não é prático
ter um carro para cada situação. O
consumidor prefere optar por um modelo
que atenda à sua principal necessidade,
seja ela viagem, lazer ou trabalho.
“A tendência é contrária aos veículos
multiuso. Os carros pequenos, de baixa
emissão e mais ágeis, não são sempre
adequados para atividades de lazer em
família. E os grandes, como as SUVs,
enfrentarão cada vez mais obstáculos
para circular nas cidades”, afirma Krieck.
Neste contexto, a eficiência de
combustível continua sendo o principal
fator da decisão de compra, na avaliação
de 91% dos entrevistados. E a maior
motivação do comprador, agora, é com
a economia de custos. “A preferência
por veículos mais eficientes, de menor
consumo, que já era forte na Europa,
começa a ganhar força nos Estados
Unidos. Acostumado a carros grandes,
caminhonetes e SUVs, o norteamericano está mais preocupado com
o meio ambiente e com o orçamento”,
acrescenta Krieck.
Características importantes para o consumidor
91%
94% 96%
2011
82%
71%
75%
2010
2009
x Sem dados em 2010 x Sem dados em 2009
81%
76%
69%
74%
72%
70%
61%
70%
57%
56%
56%
55%
43%
x
Eficiência de
combustível
Inovações em
segurança
Estilo do
veículo
Proteção
ambiental
Ergonomia e
conforto
Nota: Porcentagem de companhias que classificam os temas como importantes
x
x
Ter tecnologias
de navegação,
reconhecimento
de voz, etc
40%
x
Telemática/
serviço de
assistência
pessoal
43%
x
Uso de
tecnologias
alternativas de
combustível
x
Vida útil
reforçada
Fonte: KPMG’s 2011 Global Auto Executive Survey
Automotive 13
AUTOMOTIVE
Sempre presente na agenda da
indústria automobilística, a segurança
ganha, no entanto, novos contornos. O
desenvolvimento de carros elétricos, que
utilizam baterias, traz à tona a questão
da estabilidade da fonte e os riscos de
combustão, embora o tema seja mais
premente nos mercados maduros.
Nos países emergentes, a busca por
diferenciais de competitividade no
segmento econômico obriga a indústria
a adaptar as tecnologias de segurança
já utilizadas nos veículos de maior porte,
como freios ABS e airbags.
Investimentos da indústria nos próximos cinco anos em
tecnologias alternativas de combustível
1%
4%
4%
Sistemas híbridos
Energia elétrica a bateria
Energia elétrica de célula
combustível (hidrogênio)
37%
21%
Biodiesel
Energia solar
Etanol
Gás (GLN / GLP)
Carro elétrico
O estudo da KPMG International indica
que as maiores expectativas em termos
de market share se concentram nos
veículos híbridos (84%) e elétricos (77%),
apesar de os executivos consultados
reconhecerem que os preços desses
produtos só começarão a se tornar
acessíveis em cinco anos. “Esses
números, assim como a expectativa
de investimentos nestas categorias de
veículos, refletem o grau de maturidade
que as tecnologias já atingiram”, analisa
Krieck. A pesquisa mostra a maior
preferência dos executivos da indústria
Outros
31%
Nota: Considerados apenas maiores investimentos
Fonte: KPMG’s 2011 Global Auto Executive Survey
e SUVs, apesar de a maior ênfase nestas
regiões estar mesmo na comercialização
de carros pequenos e baratos. “Na região
da Ásia e do Pacífico, em particular na
China e na Índia, os carros grandes e
mais luxuosos refletem as aspirações
de status da classe média emergente”,
interpreta Krieck.
automobilística por investimentos em
carros híbridos (37%) e elétricos (31%).
Na contramão do que ocorre nos países
maduros, o grande crescimento do
mercado de consumo em algumas
economias emergentes também deverá
alavancar as vendas de modelos de luxo
Expectativa dos respondentes quanto ao aumento de vendas por categoria
93%
84%
88%
88%
83%
77%
69%
66%
57%
82%
63%
60%
56%
46% 44%
51%
46%
32%
45% 45% 44%
41%
33% 32%
27% 29%
20%
x
Veículos
híbridos
Veículos
elétricos
x
15% 13%
x
Automóveis
Veículos
com outros
combustíveis
alternativos
Nota: Consideradas apenas elevações de vendas
Fonte: KPMG’s 2011 Global Auto Executive Survey
14 Automotive
27%
Veículos
básicos ou de
introdução à
marca
2011
Cross-overs
2010
SUVs
2009
Veículos de
luxo
Pequenas pickup trucks
Minivans
Grandes pickup trucks
x Sem dados em 2010 x Sem dados em 2009
É neste cenário desafiador que
os executivos acreditam que o
investimento em inovação tecnológica
deverá abrir oportunidades para um
reposicionamento dos players da
indústria automotiva. Na percepção
de 49% dos consultados, o panorama
global prenuncia mudanças nos
modelos de negócios, com a ascensão
dos fornecedores na cadeia de valor
automobilística. Como os mercados de
capitais ainda estão se recuperando,
as montadoras buscam parceiros
estratégicos para ajudar a financiar suas
inovações tecnológicas. “A prioridade
da indústria é investir em uma nova
plataforma de TI para suportar a
transição e ganhar eficiência”, avalia
Charles Krieck.
Investir em novas plantas não está nos
planos das companhias. Mesmo porque
o excesso de capacidade instalada
continua sendo um grande problema
nos mercados maduros. Na avaliação
dos executivos da indústria automotiva,
os países com maior overcapacity
são os Estados Unidos (para 64%
dos respondentes), Japão (24%) e
Alemanha (22%).
Mercados maduros com maior excesso de capacidade instalada
27%
28%
18%
13%
9%
5%
1- 10%
11-20%
21-30%
31-40%
Mais de 40%
64% dos respondentes
indicaram que os Estados Unidos
têm hoje maior overcapacity
Mas quanta?
Não sabe
n = 128
42%
21%
19%
14%
4%
1- 10%
11-20%
21-30%
31-40%
0%
Mais de 40%
24% dos respondentes
indicam que o Japão tem maior
overcapacity hoje
Mas quanta?
Não sabe
n = 48
38%
29%
15%
13%
5%
1- 10%
11-20%
21-30%
31-40%
0%
Mais de 40%
22% dos respondentes indicam
que a Alemanha tem maior
overcapacity hoje
Mas quanta?
Não sabe
n = 39
Nota: Dados de 2011 mostram apenas overcapacity dos três maiores mercados
Fonte: KPMG’s 2011 Global Auto Executive Survey
Automotive 15
AUTOMOTIVE
As expectativas de investimentos
também são otimistas: 58% dos
executivos acreditam em um
crescimento de investimentos na
China e 49%, no Brasil. Para Charles
Krieck, o Brasil precisa investir em
novas tecnologias energéticas. “Nossos
combustíveis são de matriz extrativista:
gasolina, álcool e gás. Não estamos
desenvolvendo tecnologia nova”. Mesmo
assim, ele avalia que o etanol pode ser
viável para o conjunto da América Latina.
O sócio da KPMG também chama
atenção para a lucratividade da
indústria automotiva, que está
bastante pressionada globalmente. As
companhias precisam racionalizar suas
operações, ter plantas menores e mais
eficientes, e fazer alianças estratégicas
para o desenvolvimento de tecnologia e
de produtos inovadores.
Em alta
Os países emergentes surgem na
pesquisa de forma claramente positiva:
42% dos executivos acreditam que as
vendas na China vão ultrapassar os 18
milhões de unidades em 2015 e 56%
avaliam que o Brasil vai superar a marca
de quatro milhões de unidades/ano
vendidas, em um prazo de cinco anos.
42%
Em sua estimativa, qual será o volume anual de unidades
vendidas no Brasil em 2015?
60%
52%
Na avaliação de Charles Krieck, a
alternativa para o Brasil seria criar
condições de estimular a exportação
aos vizinhos da América Latina. A
Argentina, por exemplo, tem uma
indústria automotiva reduzida.
“Nossos problemas estão no câmbio e
na alta carga tributária, que encarecem
os produtos brasileiros para
compradores de outros países”, analisa
o sócio da KPMG.
Ao contrário do panorama nos mercados
maduros, a capacidade instalada não
preocupa os emergentes. Países como
o Brasil, Índia e China estão em uso
total de seu parque produtivo. No
entanto, na avaliação dos executivos
Expectativa de
investimentos nos
mercados emergentes
29%
ouvidos pela KPMG International,
esses mercados começarão a enfrentar
problemas em cinco anos. Mesmo
assim, muitas empresas continuam
investindo em fábricas na China e na
Índia, para não perder espaço para os
concorrentes na briga por market share.
11%
2%
3% 6%
Menos de 3 milhões
3 a 4 milhões
58%
3%
49%
1%
4 a 5 milhões
41%
1%
32%
42%
1%
36%
5 a 6 milhões
Mais de 6 milhões
10%
8%
China
Índia
Início
Diminuição
6%
7%
Brasil
Rússia
Aumento
Sem planos
Fonte: KPMG’s 2011 Global Auto Executive Survey
16 Automotive
Não sabe
Fonte: KPMG’s 2011 Global Auto Executive Survey
Rotas do futuro
O estudo KPMG’s Global Auto
Executive Survey 2011 aponta
desafios importantes para a indústria
automotiva, que determinarão sua
forma futura. O sucesso da transição
vai depender de como cada player
atuar nesta fase de mudanças. Veja
abaixo uma síntese dos resultados da
pesquisa.
Mercados emergentes
continuam acelerados
China claramente domina, mas a Índia
ganha terreno
Brasil e Rússia se recuperam, mas a um
ritmo muito mais lento
42% dos respondentes avaliam que
as vendas na China vão exceder os 18
milhões de unidades em 2015
Design se adapta ao meio
ambiente
Planejamento urbano vai influenciar o
futuro da mobilidade
As necessidades dos clientes vão além
de uma única plataforma de locomoção;
elementos de valor agregado ganham
maior importância
76% dos respondentes acreditam
que a concepção dos veículos será
determinada pelo planejamento
urbano
Excesso de capacidade
instalada é um problema
global
Tríade: apesar da reestruturação, o
excesso de capacidade instalada
continua sendo um problema
Mercados emergentes caminham para o
excesso de capacidade instalada
Uma estratégia bem sucedida para
gerenciar a sobrecapacidade ainda não
foi encontrada
Respondentes acreditam que China,
Índia e Brasil sentirão o excesso de
capacidade instalada em cinco anos
Mapa tecnológico
Liderança em powertrain: fabricantes de
autopeças originais continuam liderando
a corrida por competências essenciais
Cooperação e alianças: a estratégia
preferida para financiar atividades de
pesquisa e desenvolvimento
71% dos executivos da indústria
automobilística acreditam que os
fabricantes de autopeças dominarão
a tecnologia de motorização e
transmissão (powertrain) até 2020
Mudando modelos de
negócios
Mudança de responsabilidades:
fornecedores sobem na cadeia de valor
Soluções de mobilidade: fabricantes de
autopeças originais devem considerar
modelos de negócios alternativos
Players de nichos podem virar a
estrutura industrial de cabeça para baixo
49% acreditam em uma mudança
radical na cadeia de valor da indústria
automotiva
Consumidor quer segurança e eficiência
em combustível
Segurança: novas tecnologias vêm com
os novos riscos
Eficiência combustível: movidos pela
conta bancária, não pela consciência
ambiental
Carros híbridos e elétricos continuam
em ascensão, mas os motores de
combustão interna ainda dominam até
2020
Eficiência do combustível (91%) e
segurança (82%) são as razões de
maior peso na decisão de compra
A íntegra do estudo encontra-se disponível em http://www.kpmg.com.br
Automotive 17
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