ID: 61331113 09-10-2015 Tiragem: 33895 Pág: 13 País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 21,28 x 13,81 cm² Âmbito: Informação Geral Corte: 1 de 1 Ministro tinha 60 dias para decidir futuro de presidente do INEM Emergência médica Alexandra Campos Paulo Macedo diz que “este Governo tomará uma decisão este mês” sobre o processo disciplinar e uma eventual demissão O ministro da Saúde, Paulo Macedo, está a deixar esgotar o prazo previsto na lei para decidir o futuro do presidente do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), depois de a Inspecção-Geral das Actividades em Saúde (IGAS) ter recomendado há mais de dois meses que o médico e major Paulo Campos fosse alvo de um processo disciplinar por ter usado indevidamente um helicóptero para transferir uma doente do hospital de Cascais para o de Abrantes. Paulo Macedo recebeu o relatório com as conclusões da IGAS “no dia 21 de Julho e tem 60 dias úteis para tomar uma posição”, especificou o seu gabinete, depois de o PÚBLICO questionar se este prazo já teria expirado. Quando recebeu o relatório, o governante pediu mais informação ao hospital de Abrantes, a qual apenas só chegou “em finais de Setembro”, mas esta diligência suplementar não interrompeu o prazo para se pronunciar. O “período para reflexão” não se esgotou ainda, e Paulo Macedo “vai decidir no prazo estipulado”, garante o seu gabinete. Além da responsabilidade disciplinar e financeira, há que apurar se haverá responsabilidade criminal e as conclusões da IGAS foram já enviadas para o Ministério Publico, atesta o gabinete de Paulo Macedo. Em causa está o transporte, de helicóptero, de uma doente com um cancro de pulmão em estádio avançado e que foi transferida, em 25 de Janei- ro, do hospital de Cascais para o de Abrantes, onde acabaria por morrer dias depois. Segundo o relatório da IGAS, na nota de transferência consta o nome de Paulo Campos como “pessoa de contacto por se ter apresentado como médico assistente/amigo da família”. A inspecção considera que a conduta do presidente, neste caso, foi “contrária aos princípios gerais da ética e da boa gestão”. “Em função de um apelo particular, foi privilegiada uma doente sem que tal excepção fosse devidamente fundamentada e autorizada”, enfatiza, recomendando a instauração de procedimento disciplinar. Questionado pelos jornalistas, o ministro da Saúde escusou-se a adiantar detalhes. “A pergunta é no sentido de eu violar a lei, não é? Qualquer dos intervenientes está expressamente vedado de se pronunciar sobre o processo. O processo foi desenvolvido, foram pedidas diligências adicio- nais, foram feitas e está para decisão e este Governo tomará uma decisão este mês sobre isso”, respondeu. Já Paulo Campos continua em silêncio. Não atende os telemóveis e a sua assessora no INEM repete que ele está nos Açores e não vai falar enquanto não for “oficialmente informado” do relatório. Para o presidente do Sindicato dos Técnicos de Ambulância de Emergência, Ricardo Rocha, não há dúvidas. “Ele não tem condições para permanecer no cargo”, diz, reclamando a sua demissão, como já tinha feito antes. “Isto só não terá consequências se o ministro não tiver coragem política. É uma questão legal, mas também política”, acentua. “Bastava que a doente tivesse sido transportada de ambulância, como foi sugerido”, acrescenta o dirigente sindical, alegando que o INEM vive num ambiente de “ditadura militar”. com Romana Borja Santos