Editorial Laranjeiras EDITORIAL LARANJEIRAS Vol. 1, No 5, Dezembro 2004 REVISTA DO INSTITUTO NACIONAL DE REVISTA DO INSTITUTO NACIONAL DE CARDIOLOGIA RIODE DE JANEIRO-RJ JANEIRO-RJ CARDIOLOGIALARANJEIRAS LARANJEIRAS-RIO EDITORES: Ademir Batista da Cunha Daniel Arkader Kopiler Luis Carlos Simões CONSELHO EDITORIAL Ademir Batista da Cunha 1,2, Antonio Carlos Campos de Carvalho 3, Daniel Arkader Kopiler 2, Regina Maria Xavier de Aquino 2, Augusto Bozza 2, Jose Geraldo Amino 2, Paulo Sérgio de Oliveira 2, Antônio Sérgio C. Rocha 2, Paulo Roberto Dutra 4, Luis Carlos Simões 2, Helena F. Martino 2, Clara Weksler 2, Marco Aurélio dos Santos 2, Renato Vieira Gomes 2, Marco Antônio Mattos 2, Luis Henrique Weitzel 2, Walmir Barzam 2, Berdj Meguerian 2, Luis Eduardo Tessarolo 2, Roberto Sá 2, Lílian Faertes Nascimento 2, Paulo Moura 2, Ivan Luiz Cordovil de Oliveira 2, Jose Barbosa Filho 5, Cynthia Karla Magalhães 2, Paulo José de Andrade 2, Ana Carolina Gurgel Câmara 2, Renato Dias Barreiro Filho 2, Paulo Roberto Benchimol Barbosa 6. Assessoria: Jefferson Fernandes Editoração em Inglês e revisão de português: Maria Alice Cabocchi Ribeiro 1- Professor Adjunto de Cardiologia da Universidade Federal Fluminense - RJ - Brasil. 2 - Médico do Instituto Nacional de Cardiologia Laranjeiras - RJ - Brasil. 3 - Professor Titular de Biofísica da Universidade Federal do Rio de Janeiro - RJ - Brasil. 4 - Médico do Hospital Pró Cardíaco - RJ - Brasil. 5 - Membro da Academia Nacional de Medicina - RJ - Brasil. 6 - Médico do Hospital Universitário Pedro Ernesto da Universidade do Estado do Rio de Janeiro - RJ - Brasil. A REVISTA EDITORIAL LARANJEIRAS é editada trimestralmente pelo Centro de Estudos do Instituto Nacional de Cardiologia Laranjeiras, Rua das Laranjeiras 374, 12o andar, CEP 22240002 – Rio de Janeiro, RJ. Telefax: (21) 2265-2594 E-mail: [email protected] Impressão: Gráfica e Editora La Salle Tiragem: 2.000 exemplares Distribuição Dirigida 1 ISSN 1806-1079 Editorial Laranjeiras 2 Editorial Editorial Laranjeiras Laranjeiras Vol. 1, No 5, Dezembro 2004 ISSN 1806-1079 S U M Á R I O Entrevista Artigos de Revisão 5 DOPING NO ESPORTE Eduardo H. De Rose Opinião TERAPIA CELULAR EM CARDIOLOGIA: UMA NOVA 6 ESPERANÇA Antonio C. Campos de Carvalho, Bernardo Rangel Tura PERSPECTIVAS SOBRE A QUALIDADE NA SAÚDE 9 Rio de Janeiro - RJ ESTUDO DA PERFUSÃO CEREBRAL (SPECT SINGLE PHOTON EMISSION COMPUTERIZED TOMOGRAPHY) NA DOENÇA DE ARTÉRIA CORONÁRIA Berdj A. Meguerian, Luís Henrique Weitzel 30 DEPRESSÃO: FATOR DE RISCO INDEPENDENTE NAS SÍNDROMES CORONARIAS AGUDAS? Mauricio Lougon 32 ELETROCARDIOGRAFIA DE ALTA RESOLUÇÃO: PERSPECTIVAS HISTÓRICAS. O MÉTODO AINDA TEM SEU ESPAÇO NA PRÁTICA CLÍNICA? Paulo Roberto Benchimol Barbosa, José Barbosa Filho, Ivan Cordovil, Marcos Oliveira de Sousa, Jurandir Nadal 34 Rogério Brant Martins Chaves Relato de Caso Artigos originais HIPERTENSÃO ARTERIAL PULMONAR EM PÓSOPERATÓRIO DE CIRURGIA DE FECHAMENTO DE COMUNICAÇÃO INTERVENTRICULAR. USO DO SILDENAFIL ORAL COMO UMA NOVA PERSPECTIVA DE TRATAMENTO Rio de Janeiro - RJ Maritza X. Anzanello, Lina A Miura, Adriana M. Innocenzi, Alessandra M. Amorim, Flávio R. Neves, Renata M. Silva, Viviane X. Soares e Luiz Carlos Simões INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO COM SUPRADESNÍVEL DO SEGMENTO 11 ST CORRELAÇÃO ELETROCARDIOGRÁFICA, ECOCARDIOGRÁFICA E ANGIOGRÁFICA Carlos Andrés Libreros Montoya, Ademir Batista da Cunha, Marco Antônio Mattos, Delma Maria Cunha, 51 19 NOVA PROPOSTA DE CLASSIFICAÇÃO (MOEDA) E DIAGNÓSTICO ATRAVÉS DA ECODOPPLERCARDIOGRAFIA EM RELATOS DE 8 CASOS DE MIXOMAS Cesar A S Nascimento, Antonio S. Rocha, Carlos S Magliano Mônica Nolasco, Rita Villela, Alessandro Garcia, Alan Pustilnic, Rosane Grandelli, Marcos Heber, Luiza Alves, Martha Turano e Luiz H Weitzel 57 26 TUNEL AORTA – VENTRÍCULO ESQUERDO COMO DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DE INSUFICIÊNCIA AÓRTICA, RELATO DE DOIS NOVOS CASOS Adriana M. Innocenzi, Lina Miura, Maritza Anzanello, Flavio R. Neves, Viviane Xavier, Paulo Renato Travancas, Ana Helena J L Dorigo, Fábio Bergman e Luiz Carlos Simões Luiz Henrique Weitzel, Daniel Arkader Kopiler OBSTRUÇÃO DA VIA DE SAÍDA DO VENTRÍCULO ESQUERDO NAS TRANSPOSIÇÕES DOS GRANDES VASOS Marco Aurélio Santos, Vitor Manuel Pereira Azevedo, Maria Ourinda Mesquita da Cunha UTILIZAÇÃO DO SOFA ESCORE NAAVALIAÇÃO DE 47 INCIDÊNCIA DE DISFUNÇÃO ORGÂNICA EM PACIENTES PORTADORES DE PATOLOGIA CARDIOVASCULAR Renovação Estrutural Fernanda Barbosa de Almeida Sampaio, Wagner PROGRAMA DE SAÚDE BUCAL DA DIVISÃO DE CARDIOPEDIATRIA DO INSTITUTO NACIONAL DE CARDIOLOGIA LARANJEIRAS Ana Claudia Coutinho, Bernardo Rangel Tura de Almeida Alves, Cynthia Karla Magalhães, Vanessa Nishiyamamoto de Oliveira, Lenice Pereira Santos 3 62 Editorial Laranjeiras REGRAS PARA PUBLICAÇÃO A Revista EDITORIAL LARANJEIRAS do Instituto Nacional de Cardiologia tem como objetivo divulgar o saber na área de Cardiologia baseandose na publicação de artigos originais,de revisão e atualização além de relatos de casos especiais e documentados. Os trabalhos para publicação deverão ser enviados ao Conselho editorial da revista para apreciação e julgamento, e só serão aceitos se forem inéditos, não sendo permitido sua publicação em quaisquer outras revistas. Os artigos poderão ser enviados em português, espanhol ou Ingles e terão como limite de extensão 20 páginas de texto para os artigos originais, de revisão e atualização (incluindo ilustrações, tabelas e anexos);para os casos clínicos o limite é de 2 páginas, incluindo ilustrações. Todos os tipos de trabalho deverão apresentar o resumo em Ingles. Os autores deverão enviar 2 cópias impressas em papel ofício, digitadas em espaço duplo, com margens de 2.5 cm e páginas numeradas, bem como um disquete na versão Word for Windows 6.0 A sequência dos artigos deverá ser a seguinte: a) título do trabalho em letra maiúscula b) nome completo dos autores, e no rodapé da primeira página sua formação profissional,títulos e serviços a que se vinculam, bem como o endereço para correspondência c) resumo de até 250 palavras, na língua original em que foi escrito o artigo e descritores ou ‘palavras-chave’ que identificam o conteúdo do trabalho, que devem estar contidos nos “Descritores em Ciências da Sáude (DeCS) publicada pela Bireme d) introdução constando o objetivo do trabalho e) Casuística e Métodos constando a análise estatística utilizada f) resultados g) Comentários ou Discussão h) Conclusões i) título, resumo e descritores em ingles (abstract e Key words) j) agradecimentos , se houver. k) referências bibliográficas e l) legenda e ilustrações. As ilustrações (quadros, tabelas, figuras, gráficos) deverão ser numeradas em algarismos arábicos, sendo as tabelas e quadros com os títulos na parte superior de cada coluna e as abreviaturas, se houver, no rodapé.Todas as ilustrações devem constar em folhas separadas , numeradas normalmente, seguindo as referências bibliográficas. As ilustraçoes podem utilizar cores. As regras para publicação na EDITORIAL LARANJEIRAS estão fundamentadas nas recomendações do International Committeé of Medical Journals Editors. Uniform requirements for manuscripts submited to biomedica journal. N Engl Med l991: 324:424-8, que recomendam observações como: Referências Bibliográficas: Somente os trabalhos consultados devem ser mencionados, e os autores deverão ser citados no texto. Informações ou referências a trabalhos não publicados deverão ser apresentadas em notas de rodapé , na mesma página em que forem citadas no texto, e identificadas por asteriscos. Referências Bibliográficas no texto: Deverão seguir a ordem de citação no texto e serem numeradas sequencialmente em algarismos arábicos. Os autores citados podem ser identificados apenas pelo número índice ou então pelo ultimo sobrenome,seguido do número indice. Ex. Cunha 1 relatou...Simões, Cunha 23 ou segundo varios autores 4,5,6 Lista de Referências Bibliográficas: Deverão ser apresentadas ao final do trabalho e respeitando a ordem de citação do autor no texto. Tratando-se de trabalhos de colaboração deverão ser citados até 6 autores, seguindo a expressão et al. Os títulos de periódicos deverão ser abreviados de acordo com a List of Journals Indexed in Index Medicus, publicada no fascículo de janeiro do Index Médico de 1997. Artigo de Periódico:Sobrenome e iniciais do prenome dos autores.Título do artigo. Título do periódico abreviado. Ano e mês abreviado: volume (n.º do fascículo): número das páginas inicial e final. Em publicações em que as páginas são continuadas a cada volume pode-se omitir o n.º do fascículo e o mês.Ex: Bigger JT, Fleiss JL , Steinmam RC, Rolnitzky LM , Kleiger RE & Rottman JN . Correlations among time and frequency domain measures of heart period variability two weeks after acute myocardial infarction. Am J Cardiol 1992 ; 69: 891-898. Volume com suplemento: Nesse caso após o n.º do volume acrescentar (Suppl I). Livro: Sobrenome e iniciais do prenome dos autores. Título do livro.N.º da edição. Local da publicação:Editora, ano. Capítulo de livro: Sobrenome e iniciais do prenome dos autores do capítulo. In: Sobrenome e iniciais do prenome dos autores do livro. Título do livro: Subtítulo. Local da publicação : Editora, ano : páginas específicas do capítulo. Tese ou dissertação: Sobrenome e iniciais do prenome do autor.Título (Grau acadêmico do trabalho).Local de publicação: Instituição onde foi defendida, ano. Ex: . Pedrosa,CR. Contribuição ao estudo da etiopatogenia do distúrbio de condução e da eletrogênese na cardiopatia chagásica crônica. Efeitos de anticorpos IgG de pacientes chagásicos crônicos na eletrogênese e no sistema de condução do coração isolado de mamíferos. Tese de Doutorado.Rio de Janeiro: Faculdade de Medicina. Universidade Federal do Rio de Janeiro,1998. Procedimentos para publicação: Enviar os trabalhos para o Centro de Estudo do Instituto Nacional de Cardiologia, à R. das Laranjeiras, 374-12º andar . Cep 22.240.002. Rio de Janeiro – RJ. Em caso de dúvidas entrar em contato com o Centro de Estudo pelo tel. (0XX-21)2557-0894. Conselho Editorial: O Conselho Editorial determinará se os trabalhos estão aptos à publicação e poderá sugerir ao autor a modificação do trabalho ou sua adequação às normas da EDITORIAL LARANJEIRAS. A responsabilidade pelas citações, afirmações, opiniões e conceitos veiculados através dos trabalhos será de inteira responsabilidade dos autores. Será permitida a reprodução em parte ou no todo , de artigos publicados em EDITORIAL LARANJEIRAS, porém com indicação da origem e nome dos autores, de acordo com a legislação sobre direitos autorais. 4 Entrevista Editorial Laranjeiras Sete questões para o especialista por Daniel A. Kopiler Prof. Dr. Eduardo H. De Rose Livre docente da Universidade Federal do Rio Grande do Sul DOPING NO ESPORTE 1. Qual a sua visão atual sobre o doping no esporte ? 5. Qual o papel da “terapia genética” nesse contexto? O doping sempre existiu no esporte e sempre existirá. Corresponde a um percentual de apenas 1% dos atletas que competem, de acordo com as estatísticas de casos positivos dos últimos 40 anos, feitas pelo COB (Confederação Olímpica Brasileira) e recentemente pela WADA (World Anti-Doping Agency). Entendo que a WADA possibilita uma chance maior de combate e de educação contra o doping, por reunir sob uma mesma ação Governos e Movimento Olímpico. A terapia genética, uma vez instituída, será sem dúvida uma forma de doping do futuro, e que encontrará a médio prazo a sua detecção. 6. Como prevenir a morte súbita no esporte: melhorar a avaliação pré-participação? treinamento adequado das equipes de suporte ? Maior responsabilidade dos médicos e dos dirigentes? 2. Essas substâncias utilizadas como doping, também são um problema nas atividades não competitivas (como freqüentadores de academias)? Dificilmente a morte súbita se relaciona com a dopagem, e por isso a sua solução será sempre uma prévia e completa investigação cardiovascular do atleta , considerando a sua idade e o nível de prestação esportiva. Isto, evidentemente, coloca uma responsabilidade maior nos dirigentes, que muitas vezes tratam de economizar diminuindo os controles médicos, e nos médicos, que não devem ser coniventes. Certamente, pois atleta não deixa de ser apenas uma ponta do iceberg controlado, enquanto estudos mostram que existe também um problema, e maior, no desporte recreacional e na atividade física. 3. Quais seriam as principais drogas que afetam o coração e seus principais efeitos nesse órgão? 7. Qual a sua opinião sobre a participação de indivíduos com doença coronária em esportes competitivos? Penso que não devem participar de esportes competitivos, embora observadas as restrições possam, e devam, realizar exercícios físicos e, eventualmente, esports recreativos. Em um primeiro tempo, são os estimulantes, que tendem a causar morte súbita em calor, e num segundo tempo os anabólicos esteróides, que aumentam o LDL (causados de patologias isquêmicas) e diminuem o HDL (protetor). 4. Quem está vencendo a guerra, as novas drogas utilizadas como doping ou a pesquisa para sua detecção? Entendo que em virtude da velocidade de detecção das novas tecnologias, o trabalho antidoping faz cada vez mais difícil aos atletas doparem-se, tanto em competição como fora dela. 5 Opinião Editorial Laranjeiras TERAPIA CELULAR EM CARDIOLOGIA: UMA NOVA ESPERANÇA Rio de Janeiro - RJ Antonio C. Campos de Carvalho * , Bernardo Rangel Tura ** Na área da cardiologia o Brasil tem desempenhado um papel de destaque no cenário internacional das terapias celulares. Em função disto, o Ministério da Saúde reuniu um painel de especialistas e decidiu implementar um programa de financiamento para estimular as pesquisas sobre o uso de células-tronco em cardiologia. Esse programa, denomindo Estudo Multicêntrico Randomizado de Terapia Celular em Cardiopatias (EMRTCC), deverá permitir ao Brasil assumir papel de liderança mundial na área das terapias celulares em cardiologia. O EMRTCC está estruturado da seguinte forma: Cardiopatia Isquêmica Crônica Os pacientes serão elegíveis se apresentarem todas as características abaixo: • Em acompanhamento ativo e regular em serviço de cardiologia com diagnóstico de doença arterial coronária aterosclerótica grave e difusa com indicação de cirurgia de revascularização miocárdica incompleta • Idade entre 30 e 75 anos. • Ecocardiograma mostrando fração de ejeção menor do que 40% pela regra de Simpson. 1.Centro Coordenador: localizado no Instituto Nacional de Cardiologia de Laranjeiras – INCL é responsável pela randomização, monitoramento, assessoria técnica, criação e manutenção da base de dados, além da seleção e acompanhamento do processo de avaliação dos desfechos. • Paciente sintomático classe 2 a 4 da CCS ou III e IV da NYHA (New York Heart Association) com tratamento medicamentoso adequado ao final do período de otimismo • Angina documentada por quadro clínico característico, estudo cineangiocoronariográfico e um dos seguintes exames complementares: 2.Comissão Coordenadora: responsável pela coordenação técnico-científica do EMRTCC; constituída por dois representantes do centro coordenador e um coordenador de cada um dos quatro centros-âncora. • Teste ergométrico • Ecocardiograma de estresse • Cintilografia de reperfusão 3.Centro Âncora: instituição com serviço de cardiologia instituído, com profissional(is) com histórico de liderança em pesquisa de célula-tronco, possuidor de infra-estrutura de pesquisa nesta área e capacitado a fornecê-la aos centros colaboradores. • Ressonância nuclear magnética • Impossibilidade de resolução de todas as lesões obstrutivas por angioplastia devido a qualquer um dos 3 fatores seguintes: 4.Centro Colaborador: hospital com serviço de cardiologia instituído, capaz de fornecer pacientes corretamente diagnosticados e garantir seu seguimento durante o estudo. • Tipo Anatômico • Extensão da Lesão • Comprometimento do leito distal O estudo será um ensaio clínico randomizado, que utilizará o modelo de estudo duplo cego, e que tem como objetivo avaliar a eficácia do implante de células tronco de medula óssea em 1200 pacientes brasileiros com doença arterial coronária grave e difusa sem possibilidade de revascularização miocárdica completa; com insuficiência cardíaca grau III ou IV da NYHA (New York Heart Association) causada por cardiopatia chagásica ou por cardiomiopatia dilatada, e com infarto agudo do miocárdio com supra-desnivelamento do segmento ST. • Impossibilidade de resolução de todas as lesões obstrutivas por abordagem cirúrgica devido a qualquer um dos 3 fatores seguintes: O objetivo primário do EMRTCC é avaliar o efeito do implante autólogo de células-tronco da medula óssea sobre o aumento absoluto da fração de ejeção do ventrículo esquerdo, em relação ao grupo controle de pacientes. Os objetivos secundários do estudo são: avaliar a alteração da classe funcional, da taxa de mortalidade, da capacidade física, da qualidade de vida, da congestão pulmonar, e no caso das cardiopatias isquêmicas, a redução da carga isquêmica. • Doenças valvares, exceto a insuficiência funcional mitral ou tricúspide. Os critérios de inclusão e exclusão para cada uma das cardiopatias estão listados abaixo: • Uso abusivo de álcool ou drogas ilícitas em curso (Baseado no DSM IV). • Tipo Anatômico • Extensão da Lesão • Comprometimento do leito distal Os pacientes serão inelegíveis se apresentarem qualquer uma das características abaixo: • Diagnóstico sorológico de doença de Chagas. • Presença de episódios de taquicardia ventricular sustentada. • História de síndrome coronariana aguda nos últimos 3 meses. • Presença de neoplasia. *Coordenador de Ensino e Pequisa do INCL **Chefe da Divisão de Bioinformática e Bioestatística do INCL 6 Editorial Laranjeiras • Qualquer co-morbidade com impacto na sobrevida em 2 anos. Opinião (Baseado no DSM IV). • Qualquer co-morbidade com impacto na sobrevida em 2 anos. Cardiopatia Chagásica Os pacientes serão elegíveis se apresentarem todas as características abaixo: Cardiopatia Isquêmica Aguda Os pacientes serão elegíveis se apresentarem todas as características abaixo: • Diagnóstico sindrômico de insuficiência cardíaca pelos critérios de Framingham. • Infarto agudo do miocárdio com supra do segmento ST conforme definição da OMS (Dois dos três seguintes): • Em acompanhamento ativo e regular em serviço de cardiologia com diagnóstico sorológico de doença de Chagas. • Presença de dor torácica. • Idade entre 30 e 75 anos. • Presença de supradesnível do segmento ST em duas ou mais derivações contíguas de uma parede. • Classe funcional III ou IV da NYHA. • Tratamento medicamentoso adequado ao final do período de otimização. • Presença de elevação dos marcadores de mionecrose. • Ecocardiograma mostrando fração de ejeção menor do que 40% pela regra de Simpson. • Idade entre 30 e 75 anos. • Presença de critérios de sucesso na terapia de reperfusão (trombólise e/ou angioplastia) em até 48 horas do início dos sintomas Os pacientes serão inelegíveis se apresentarem qualquer uma das características abaixo: • Doenças valvares, exceto a insuficiência funcional mitral ou tricúspide. • Ecocardiograma mostrando fração de ejeção menor do que 40% pela regra de Simpson medida entre o 3° e o 5° da internação. • Coronariografia mostrando lesão significativa (obstrução de pelo menos 50% da luz de uma ou mais coronárias). Os pacientes serão inelegíveis se apresentarem qualquer uma das características abaixo: • Presença de episódios de taquicardia ventricular sustentada. • Doenças valvares, exceto a insuficiência funcional mitral ou tricúspide. • Uso abusivo de álcool ou drogas ilícitas em curso (Baseado no DSM IV). • Diagnóstico sorológico de doença de Chagas. • Presença de episódios de taquicardia ventricular sustentada. • Qualquer co-morbidade com impacto na sobrevida em 2 anos. • Choque cardiogênico persistente ao terceiro dia de IAM (necessidade de suporte com balão intra-aórtico ou uso de aminas vasoativas). Cardiopatia Dilatada Os pacientes serão elegíveis se apresentarem todas as características abaixo: • Complicações mecânicas do IAM (ruptura miocárdica, do septo interventricular, da parede livre do VE ou ruptura do músculo papilar). • Diagnóstico sindrômico de insuficiência cardíaca pelos critérios de Framingham. • Presença de Neoplasia • Em acompanhamento ativo e regular em serviço de cardiologia com diagnóstico de cardiomiopatia dilatada (diâmetro ventricular esquerdo diastólico maior do que 58 mm). • Vaso relacionado ao IAM com fluxo TIMI = 2 no momento da injeção das células mononucleares de medula óssea (CMMO). • Idade entre 30 e 75 anos. • Uso abusivo de álcool ou drogas ilícitas em curso (Baseado no DSM IV). • Classe funcional III ou IV da NYHA. • Qualquer co-morbidade com impacto na sobrevida em 2 anos. • Tratamento medicamentoso adequado ao final do período de otimização. • Ecocardiograma mostrando fração de ejeção menor do que 40% pela regra de Simpson. Embora haja enorme esperança quanto ao uso de células-tronco adultas no tratamento das doenças degenerativas, há também, muitas incertezas sobre o potencial terapêutico dessas células. A partir de 1998, quando o primeiro trabalho científico demonstrou que células da medula óssea adulta eram capazes de regenerar músculo esquelético lesado por uma toxina, inúmeros trabalhos foram publicados propondo que as células-tronco adultas da medula óssea teriam a capacidade de se transformar em outros tipos celulares (transdiferenciação). Dessa maneira, as células-tronco teriam uma plasticidade semelhante à das células-tronco embrionárias. Infelizmente, esses resultados iniciais não puderam ser reproduzidos em experimentos recentes, nos quais foram toma- Os pacientes serão inelegíveis se apresentarem qualquer uma das características abaixo: Doenças valvares, exceto a insuficiência funcional mitral ou tricúspide. • Coronariografia mostrando lesão significativa (obstrução de pelo menos 50% da luz de uma ou mais coronárias). • Diagnóstico sorológico de doença de Chagas. • Presença de episódios de taquicardia ventricular sustentada. • Uso abusivo de álcool ou drogas ilícitas em curso 7 Opinião Editorial Laranjeiras dos cuidados especiais no exame da capacidade de transdiferenciação. A visão mais aceita atualmente é a de que apenas as células-tronco embrionárias têm a capacidade de se diferenciar em qualquer célula do nosso organismo, enquanto as células-tronco adultas tem capacidade de diferenciação bem mais restrita, em geral limitada aos tecidos onde são encontradas. Mas, se as células-tronco adultas não são capazes de se transformar nas células dos órgãos lesados onde são injetadas, como explicar o benefício associado às terapias celulares que observamos nos pacientes? Vários trabalhos têm sugerido que as células-tronco adultas são capazes de se fundir às células do órgão onde são injetadas, e a célula resultante dessa fusão adquire as características funcionais daquelas presentes no órgão. Seria possível que essa célula híbrida se dividisse, gerando duas células diferenciadas com as características daquele tecido específico. Teríamos assim um mecanismo de regeneração, ainda que não fosse pela transdiferenciação das células-tronco adultas. Certamente os pacientes que melhoram não se importam com o mecanismo exato pelo qual as células-tronco adultas agem, mas essa questão é fundamental para que possamos avançar na proposta de tratamentos mais eficazes, e a fusão não parece ser a resposta correta. É difícil imaginar que o mecanismo de fusão possa explicar os benefícios da injeção de células-tronco adultas em órgãos lesados, porque sua freqüência é extremamente baixa. Apenas uma em cada 100 mil células-tronco parece se fundir às células do órgão lesado. Qual seria então a explicação para o efeito dessas células? Supomos que as células-tronco sejam capazes de liberar fatores de estimulação ou crescimento no local onde são injetadas, e que esses fatores levem as células-tronco específicas daquele órgão (pois há células tronco no cérebro, no coração, no fígado) a se multiplicar, regenerando assim partes do órgão lesado. Esses fatores promoveriam também a formação de novos vasos sanguíneos (angiogênese), um mecanismo que sabemos ocorrer em muitos tumores para suprir a nova massa de células. No caso específico das terapias celulares em cardiologia, essa angiogênese poderia explicar muitos dos efeitos benéficos observados. Depois de examinar todos esses dados, vê-se que a incerteza ainda é muito grande e que só estimulando a pesquisa científica seremos capazes de entender e aprimorar os efeitos terapêuticos das células-tronco adultas. O Estudo Multicêntrico Randomizado de Terapia Celular em Cardiopatias, lançado em nosso Instituto pelo Ministro Humberto Costa no corrente mês, possibilitará um teste da eficácia das terapias celulares em cardiologia, com grande rigor metodológico. Um programa de pesquisa pré-clínica, a ser lançado pelo próprio Ministério da Saúde em abril de 2005, permitirá que continuemos a pesquisar os mecanismos básicos de ação das células tronco adultas em modelos animais. Esperamos que estas pesquisas nos forneçam os dados necessários para tornar as terapias celulares uma opção terapêutica válida para os pacientes cardiopatas. 8 Editorial Laranjeiras Opinião PERSPECTIVAS SOBRE A QUALIDADE NA SAÚDE Rio de Janeiro - RJ Rogério Brant Martins Chaves* Recentemente participei de uma reunião com profissionais de saúde na qual se debateu uma melhor qualidade dos cuidados prestados aos pacientes. Falou-se de melhorias na organização e gestão, em processos de Certificação e de Acreditação, na avaliação da estrutura, nos processos e resultados e ainda, nos problemas associados à mensuração da qualidade. Nesta reunião, claramente percebeu-se a diversidade de conceitos e de perspectivas sobre o que é qualidade em saúde e como estas diferentes perspectivas, por vezes, divergiam entre os participantes, tornando-se até mesmo antagônicas em alguns casos. Cada perspectiva originava-se de um determinado contexto e fornecia apenas a visão de um aspecto isolado e parcial da realidade. interações, e “melhores interações” em relações humanas significa “melhor cooperação”, “maior colaboração”. É a cooperação que viabiliza e potencializa o conhecimento profissional específico. De nada adianta, por exemplo, um profissional ter vasto conhecimento de medicina se ele não consegue ser um bom médico, isto é, se ele não consegue criar condições favoráveis ao exercício de sua profissão e, ainda, se todo o trabalho que envolveu o cuidado do paciente não é percebido como bom pelos pacientes e seus familiares. Todos temos oportunidade e a obrigação de diariamente colaborar com outros colegas, com diferentes profissionais, com pacientes e com familiares. Existem metodologias cientificamente validadas para melhorar o nível de cooperação, notadamente o desenvolvimento de objetivos partilhados, a criação de ambientes abertos onde reina um clima de confiança, onde são agrupados os que partilham de um objetivo comum e onde são encorajadas as manifestações de diferentes pontos de vista, a negociação de acordos, a utilização de eqüidade e justiça na aplicação das regras. Estes métodos podem aplicar-se não somente no nível organizacional, mas também no relacionamento individual com os outros. Para clarificar as posições é importante reconhecer algumas das características do conceito de qualidade em saúde: • A qualidade em saúde não é um valor absoluto. Pode ter significados diversos em diferentes situações. Não pode ser medida com uma escala quantitativa, como por exemplo, a temperatura ou a altura. • É multidimensional e para ela contribuem múltiplos fatores. Alguns aspectos podem ser objetivamente medidos, como o tempo de espera para ser consultado, enquanto que outros aspectos não, como por exemplo, a qualidade da relação estabelecida com o paciente. Infelizmente, nem sempre os critérios mais facilmente mensuráveis são os melhores ou os mais adequados. Os critérios de qualidade são interdependentes e interagem entre si, estando por vezes em conflito uns com os outros. Temos que perceber que fazemos parte de um todo mais vasto e que temos objetivos comuns a alcançar. É nossa convicção que a chave para o sucesso das unidades prestadoras de cuidados de saúde está na promoção de uma cultura de cooperação e de qualidade em todas as suas diferentes dimensões e atividades. Acreditamos que a prestação de cuidados de qualidade surge quando as equipes de profissionais de saúde estão confiantes, têm experiência, têm a formação necessária, são capazes de trabalhar efetivamente em conjunto, sabem para onde querem ir e estão seguras de que conseguem alcançar os seus objetivos. • Aquilo que consideramos aceitável como qualidade em saúde varia com o tempo. Os constantes progressos tecnológicos e organizacionais melhoram a capacidade e a qualidade do desempenho dos profissionais, mas também aumentam as expectativas dos pacientes e de seus familiares. Estes e outros aspectos da qualidade dos cuidados de saúde têm em comum um conceito multidimensional de qualidade, tornando inevitável a sua classificação conforme o número de perspectivas ou de ângulos de observação adotados. Nenhum componente isolado é suficientemente amplo para abranger todos os aspectos da qualidade. A excelência é mais facilmente alcançada prevenindo o aparecimento dos problemas do que criando mecanismos de identificação e correção após o seu aparecimento. Todo o trabalho efetuado pelos diferentes profissionais de saúde é sempre parte de um processo que vai criar um produto ou um serviço para o cidadão. Cada um de nós pode influenciar uma parte do processo e assim, contribuir para a qualidade do resultado final deste processo e para a satisfação do cidadão com esse serviço. A qualidade é mais facilmente reconhecida na sua ausência e muita das percepções dos cidadãos sobre os serviços de saúde resultam da medição da ausência de qualidade. As listas de espera são um bom exemplo de falta de qualidade. A qualidade é, sobretudo um imperativo de cidadania. A cooperação, ou seja, o trabalho em conjunto para obter um benefício mútuo ou alcançar um objetivo comum, é inseparável da busca pela melhoria na qualidade. Embora pensemos sempre na colaboração e na cooperação em termos éticos e altruístas, a cooperação pode constituir uma estratégia pragmática e inteligente para atingir determinados objetivos em sistemas fragmentados e interdependentes. Devemos ao cidadão serviços e cuidados de saúde de qualidade proporcional ao investimento para o qual toda a nação contribui. Não oferecer o melhor cuidado possível é um atentado à cidadania. Pelo contrário, procurar sempre ir além, responder melhor e melhorar o nosso desempenho não somente nos traz a satisfação pessoal pelo dever cumprido como cria novos patamares de exigência. Outros virão que mais exigirão. Dessa forma, o sistema progride. Para melhorar os sistemas temos que melhorar as *Coordenador de Planejamento do INCL * Especialista em Cardiologia pela PUCRJ, Especialista em Medicina Nuclear pela PUCRJ e possui MBA Executivo em Saúde pelo IBMEC. 9 Opinião Editorial Laranjeiras A garantia de qualidade sustentada requer melhoria contínua, ou seja, por melhor que o nosso atual desempenho possa ser, ele poderá e deverá sempre melhorar. No entanto, a introdução de qualquer melhoria só pode ser efetuada por pessoas, pois são estas que fornecem a inteligência e que geram as ações que são necessárias para realizar todas as melhorias. Procuramos manter uma atitude ética e melhorar constantemente o nosso desempenho, cumprindo nossa missão e perseguindo nossos objetivos estratégicos: “OFERECER PROCEDIMENTOS DE ALTA COMPLEXIDADE NA ÁREA DAS DOENÇAS CARDIOVASCULARES, COM EQUIDADE NO ACESSO, RESOLUTIVIDADE E COM GARANTIA DE QUALIDADE POR MEIO DE UMA PRÁTICA HUMANIZADA” “GERAR E DISSEMINAR CONHECIMENTO NA ÁREA DAS DOENÇAS CARDIOVASCULARES ATRAVÉS DE PESQUISAS, TREINAMENTO E FORMAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS PARA O SUS”. 10 Editorial Laranjeiras Artigos Originais INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO COM SUPRADESNÍVEL DO SEGMENTO ST CORRELAÇÃO ELETROCARDIOGRÁFICA, ECOCARDIOGRÁFICA E ANGIOGRÁFICA Rio de Janeiro - RJ Carlos Andrés Libreros Montoya*, Ademir Batista da Cunha**, Marco Antônio Mattos***, Delma Maria Cunha****, Luiz Henrique Weitze*****,Daniel Arkader Kopiler****** RESUMO ABSTRACT O Infarto Agudo do Miocárdio e as doenças cerebrovasculares são as principais causas de mortalidade no Brasil. Associado à história clínica e ao exame físico, o eletrocardiograma é a principal ferramenta de diagnóstico e avaliação prognóstica do paciente com dor torácica sugestiva de isquemia miocárdica. Atualmente se dá preferência à designação dos infartos, em IAM com supradesnível do segmento ST ou sem supradesnível de segmento ST, segundo a apresentação inicial ao ECG. Os pacientes com elevação do segmento ST são considerados de alto risco para óbito por arritmias cardíacas, insuficiência ventricular esquerda ou ruptura miocárdica, tendo, portanto indicação para tratamento trombolítico ou angioplastia primária, o que oferece importante mudança no prognóstico do paciente. The Acute Myocardial Infarction (AMI) and the cerebrovascular disorders are the major mortality causes in Brazil. Integrated to clinical history analysis and physical exam, the electrocardiogram (EKG) is the principal tool for diagnostic and prognostic evaluation of the patient who shows thoracic pain derived from myocardial ischemia. Currently, the identification of ST-Segment Elevation AMI or without ST elevation, as per initial presentation of EKG, is preferred. The patients with ST- elevation MI are considered with high death risk by arrhythmias, left ventricle failure or myocardial rupture. For such patients, thrombolitic treatment or primary percutaneous coronary surgery is recommended, as these can foster important positive changes in the patient prognostics. The objective of this study is to compare the walls that undergo ST- elevation at the initial EKG to the echocardiographic findings in the first 72 hours and the coronary angiographic findings, through a primary trial study of 50 patients at the Laranjeiras National Cardiology Institute (INCL). We have detected an important association between the EKG findings with ST- elevation of the anterior wall and the cross-sectional echocardiographic abnormalities of the anterior wall (p=0,002), the lateral wall (p=0,014) and the anterior septum (p<0,001). Likewise, there is a significant association between EKG alterations of the inferior and posterior walls to segment contraction abnormalities of the same walls as shows by the echocardiogram. Another important association has been identified between ST- elevation of the inferior and posterior walls and the coronary angiographic findings of major lesions in the right coronary artery. Conclusion: EKG can fast and accurately identify the wall that has undergone acute myocardial infarction, and in certain cases, it can also identify the artery to be held responsible for the acute ischemic syndrome. O objetivo deste trabalho foi comparar as paredes acometidas pelo supradesnível do segmento ST ao ECG da admissão aos achados ecocardiográficos dentro das primeiras 72 horas e aos achados cineangiocoronariográficos, através de um estudo retrospectivo de 50 pacientes admitidos no Instituto Nacional de Cardiologia. Observou-se que existe uma associação significativa entre os achados eletrocardiográficos de supradesnível do segmento ST da parede anterior às anormalidades da contração segmentar ao ecocardiograma da parede anterior (p=0,002), da parede lateral (p=0,014) e da região septal anterior (p<0,001). Da mesma forma, foi detectada uma associação significativa entre as alterações eletrocardiográficas das paredes inferior e posterior do ventrículo esquerdo às anormalidades da contração segmentar das mesmas paredes ao ecocardiograma (p=0,026). Evidenciou-se também uma correlação significativa entre a alteração eletrocardiográfica das paredes inferior e posterior e os achados na cineangiocoronariografia de lesões graves na artéria coronária direita. Conclusão: o ECG identifica de forma rápida e precisa as paredes acometidas pelo IAM, além de ter a capacidade de identificar, em determinadas situações, a artéria responsável pela síndrome isquêmica aguda. INTRODUÇÃO O Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) acomete cerca de 100.000 pessoas por ano causando 35.000 óbitos, o correspondente a um terço de todos os óbitos causados por doença cardiovascular no Brasil. A taxa de mortalidade * Pós-Graduando em Cardiologia do Instituto Nacional de Cardiologia Laranjeiras (INCL) ** Coordenador de Ensino do INCL *** Chefe da Unidade Coronária doINCL **** Mestre em Cardiologia /UFF *****Chefe do Depto. de Ecocardiografia do INCL ****** Coordenador da Residência Médica do INCL 11 Artigos Originais Editorial Laranjeiras Enquanto a elevação do segmento ST em paciente com dor torácica identifica habitualmente e com alta probabilidade um IAM (8, 9), o infradesnível do segmento ST sugere angina instável de alto risco ou infarto sem elevação do ST. Por outro lado, um traçado eletrocardiográfico normal, embora não suficiente para excluir o diagnóstico, relaciona-se freqüentemente a um prognóstico mais favorável (9, 10). Os pacientes com elevação do segmento ST são, de início, considerados de alto risco para óbito por arritmias malignas, insuficiência ventricular esquerda ou ruptura miocárdica, constituindo, portanto, uma indicação para tratamento trombolítico ou angioplastia primária, o que confere importante mudança no prognóstico dos pacientes (11, 12). Além de o eletrocardiograma convencional de 12 derivações identificar de rápida e precisamente a artéria relacionada ao infarto, ele oferece outras importantes informações tais como os sinais eletrocardiográficos de reperfusão miocárdica, os quais representam um importante marcador de fluxo sangüíneo microvascular e conseqüentemente de prognóstico. O ECG é também crucial na identificação de anormalidades da condução e arritmias que influenciam os resultados de morbimortalidade em curto e longo prazo (8). Dentro da avaliação não invasiva do paciente com dor torácica aguda apresenta-se também o ecocardiograma como um importante método complementar. Quando o ecocardiograma é realizado durante um episódio de dor precordial, a ausência de uma anormalidade de contração segmentar é uma evidência contrária à isquemia como causa do sintoma (14). Por outro lado, a presença de anormalidades de contração segmentar reforça a probabilidade de doença arterial coronariana, sendo indicativa de infarto, de isquemia ou de ambos, embora esta possa também ser evidenciada em casos de miocardite. Quando a história clínica e o ECG não são diagnósticos, a documentação de anormalidade segmentar de contração ao ecocardiograma, durante ou imediatamente apos um episódio doloroso, geralmente confirma o diagnóstico. O ecocardiograma avalia ainda a presença e a extensão de disfunção ventricular, de disfunção ou de ruptura valvar, de septo ou de parede ventricular. cumulativa por doença cardiovascular isquêmica para um homem brasileiro com menos de 65 anos é de 42%, enquanto que em países industrializados esta taxa é de 25 % (1). Segundo as estatísticas americanas, nos EUA, quase 1,5 milhões de pacientes são acometidos anualmente por um IAM, sendo mais de um milhão de pacientes admitidos nas unidades de cuidados coronarianos. O diagnóstico, no entanto, é confirmado em apenas 30 - 50 % dos casos. Embora o índice de letalidade por IAM tenha diminuído cerca de 30 % na ultima década, o IAM é ainda um evento fatal em aproximadamente 30 % dos pacientes. Cerca de 50 % dos óbitos associados ao IAM ocorrem na primeira hora após o evento e são atribuídos a arritmias, principalmente a fibrilação ventricular (2). Para os pacientes que sobrevivem ao IAM as conseqüências são profundamente negativas: incapacidade, perda de produtividade e reduzida qualidade de vida nos adultos, transformando-se em um marcante encargo econômico ao país. Estima-se, que nos EUA o encargo econômico anual por doença coronariana, em todas as suas categorias, excede os US$ 60 bilhões (1). Um declínio estável na taxa de mortalidade por IAM tem sido observado desde a década de 60 e isso parece ser causado por uma queda na incidência de IAM, substituída em parte por um acréscimo na taxa de angina instável e por uma queda na letalidade do caso, uma vez que o IAM tenha ocorrido (3, 4). Estudos randômicos (5, 6) demonstram que vários fatores têm contribuído para essa queda da letalidade, sendo eles o treinamento adequado dos médicos que atuam nos serviços de emergência, tanto pré-hospitalares quanto hospitalares, a criação das unidades de dor torácica e das unidades de cuidados coronarianos, o tratamento vigoroso das arritmias cardíacas, a introdução do cateter de artéria pulmonar desenvolvido por Swan e Ganz, o desenvolvimento da angioplastia coronariana, o avanço na terapia de reperfusão com trombolítico e o crescente uso da aspirina, betabloqueadores, nitratos, antitrombóticos, Inibidores da Enzima Conversora de Angiotensina (IECA), entre outros. Em todo este contexto, o Eletrocardiograma (ECG) aparece como a principal ferramenta, ao lado da história clínica e do exame físico, para o diagnóstico e a avaliação prognóstica do paciente com dor torácica sugestiva de isquemia miocárdica. Além de ser um recurso de rápida obtenção e de baixo custo, o substancial impacto clínico do ECG justifica sua realização neste cenário (7). Por último, dentro da avaliação do paciente com síndrome coronariana aguda, apresenta-se a técnica invasiva:arteriografia coronária, ou cineangiocoronariografia, como a técnica padrão “ouro” para definir a localização, extensão e severidade da doença arterosclerótica (15). Os grandes avanços nas últimas quatro décadas, no tocante a equipamentos e novas técnicas do cateterismo cardíaco, têm permitido um acelerado desenvolvimento da cardiologia intervencionista, e mais especificamente no que se refere ao IAM com supradesnível do segmento ST, ao desenvolvimento da angioplastia coronariana transluminal percutânea (ACTP) de urgência, seja ela primária, utilizada no lugar da terapêutica trombolítica quando possível, ou de resgate, quando a trombólise falha em reperfundir o vaso infartado (12, 16, 17). Enquanto o IAM era considerado transmural ou não transmural, definido pela presença ou não de ondas Q patológicas no eletrocardiograma, agora se reconhece que nem sempre existe uma correlação direta entre a severidade da oclusão, os achados iniciais do ECG, a extensão da necrose miocárdica e as alterações permanentes do ECG. Como nem todo paciente com elevação do segmento ST desenvolve onda Q, particularmente quando há bem sucedida intervenção precoce e também porque um infarto envolvendo toda espessura da parede miocárdica pode se desenvolver com uma variedade de apresentações, atualmente se dá preferência à designação dos infartos em IAM com supradesnível do segmento ST ou sem supradesnível do segmento ST, os quais são mais facilmente diferenciados na apresentação inicial. Essa nova classificação é mais útil para o recrutamento dos estudos, pois os critérios de inclusão correspondem aos achados na apresentação e não ao diagnóstico presumido na alta (13). Dessa forma nosso estudo definiu como objetivos principais: 1. Comparar as paredes acometidas pelo supradesnível do segmento ST no 1° ECG (admissão) aos achados de anormalidade da contração segmentar no ecocardiograma realizado à beira do leito nas primeiras 72 horas do evento isquêmico. 12 Editorial Laranjeiras Artigos Originais 2. Comparar as paredes acometidas pelo supradesnível do segmento ST no 1° ECG (admissão) aos achados angiográficos de lesões ateroscleróticas iguais ou superiores de 70% na anatomia coronariana, procurando identificar a artéria responsável pelo IAM através da alteração eletrocardiográfica. CASUISTICA E MÉTODOS Este estudo retrospectivo utilizou dados obtidos do prontuário de pacientes com diagnóstico de IAM. Foram selecionados 50 pacientes com supradesnível do segmento ST admitidos no setor de emergência do Instituto Nacional de Cardiologia no período de Janeiro de 2000 a Janeiro de 2004. Revisando criteriosamente os prontuários desse pacientes, foram recolhidos os dados demográficos, da história clinica, do exame físico, dos exames complementares tais como: três primeiros eletrocardiogramas, sendo o primeiro ECG aquele realizado quando da admissão, o segundo ECG aquele realizado entre 6 e 12 horas após a admissão e o terceiro ECG o realizado 24 horas após a internação do paciente; o ecocardiograma transtóracico durante a fase aguda do IAM (primeiros 5 dias) e o estudo angiográfico coronariano na mesma internação. Os pacientes foram selecionados segundo a nova definição de IAM proposta pela Sociedade Européia de Cardiologia e o Colégio Americano de Cardiologia (9), que se baseia nos seguintes critérios: aumento ou diminuição gradual de troponina ou aumento e diminuição mais rápidos para CK fração MB, com presença de sintomas isquêmicos, desenvolvimento de ondas Q patológicas no ECG, novo bloqueio do ramo esquerdo ou alterações eletrocardiográficas indicativas de isquemia (elevação ou depressão do segmento ST, anormalidades da onda T ). ANÁLISE ESTATISTICA A análise descritiva geral foi apresentada como média, com desvio padrão (DP), mediana, mínimo e máximo das variáveis numéricas para o total da amostra (n=50). Para a associação entre as paredes acometidas do eletrocardiograma com os achados ecocardiográficos e angiográficos foi aplicado o teste de Qui-quadrado (X²) ou o teste exato de Fisher. Foram aplicados testes não paramétricos, pois as variáveis não apresentaram distribuição normal (distribuição gaussiana) devido à dispersão dos dados e à falta de simetria da distribuição. O critério de determinação de significância adotado foi o nível de 5 % ou seja, quando o valor de “p” do teste estatístico for menor ou igual a 0,05, então existe significância estatística. A analise estatística foi processada pelo software estatístico SAS ® System. RESULTADOS Entre os 50 pacientes selecionados para o estudo, a idade média foi de 61 ± 10,87 anos; com predomínio do sexo masculino, 34 pacientes (68%); a média do tamanho do supradesnível do segmento ST foi de 3,46 ±1,91; o tempo de permanência na Unidade de Cuidados Coronarianos (UCO) foi de 5,02 ± 1,48 dias; a fração de ejeção ao ecocardiograma foi de 55,30 ± 11,60 %. (Tabela 1) Tabela 1. Análise descritiva geral 13 Artigos Originais Editorial Laranjeiras As principais paredes acometidas ao ECG da admissão foram: anterior em 50% e inferior em 28% dos pacientes.Quanto à presença de onda Q no ECG 24 horas após a admissão hospitalar, 88% dos pacientes evoluiu com onda Q de necrose na parede acometida pelo IAM. Dos 50 pacientes do estudo, 24 (48%) receberam tratamento trombolítico com estreptoquinase e 11 (22%) foram encaminhados para o laboratório de hemodinâmica para realização de angioplastia primária com um ÄT menor de 6 horas.. A apresentação clinica segundo Killip na admissão ou durante o período de permanência na UCO foi: 33 pacientes (66%) evoluíram com Killip I, e 17 (34%) deles apresentaram algum grau de disfunção ventricular esquerda ( Killip II-III-IV ). Foram a óbito três pacientes (6%). As paredes mais acometidas, documentado pela presença de hipocinesia, acinesia ou discinecia ao ecocardiograma realizado durante os primeiros 5 dias do evento coronário agudo foram: a parede anterior em 25 pacientes (50%) e 37 (74%) na parede inferior. Quanto aos achados angiográficos, as artérias mais acometidas, com lesões iguais ou superiores a 70%, foram a descendente anterior proximal (56%) e a coronária direita (52%). Três pacientes (6%) apresentaram lesão do tronco da coronária esquerda superior ou igual a 50%. Do grupo total de pacientes, 5 deles (10%) não apresentaram lesões iguais ou superiores a 70%, 13 (26%) apresentaram lesões uniarteriais, 13 (26%) lesões biarteriais e 19 (38%) lesões multiarteriais (3 ou mais artérias acometidas). A ventriculografia mostrou algum grau de disfunção sistólica do ventrículo esquerdo (leve, moderada ou severa) em 30 (60%) pacientes. Observou-se uma associação significativa entre a alteração eletrocardiográfica com supradesnível do segmento ST na parede anterior (V1 até V6) – vide Tabela 2 - e as anormalidades da contração segmentar, desde hipocinesia até discinecia da parede anterior ao ecocardiograma bidimensional, com uma sensibilidade de 80%, especificidade de 64%, valor preditivo positivo (VPP) de 68% e valor preditivo negativo (VPN) de 76%, com um valor de p=0,002 (Figura 1); da parede lateral com uma sensibilidade de 77%, especificidade de 57%, VPP de 58% e VPN de 76% com um valor de p=0,014 ( Figura 2); e da região septal anterior com uma sensibilidade de 81%, especificidade de 69%, VPP de 75% e VPN de 76% com valor de p< 0,001(Figura 3). Tabela 2. Correlação Eletrocardiográfica vs Ecocardiográfica Foi detectada também uma associação significativa entre a alteração eletrocardiográfica com supradesnível do segmento ST da parede inferior e posterior do ventrículo esquerdo (DII-DIII-AVf-V7-V8) e as anormalidades da contração segmentar, desde hipocinesia até discinecia, das paredes inferior e posterior do ventrículo esquerdo ao ecocardiograma bidimensional com uma sensibilidade de 62%, especificidade de 70%, VPP de 50% e VPN de 80% com um valor de p=0,026 (Figura 4). Foi evidenciada uma correlação significativa entre a alteração eletrocardiográfica com supradesnível do segmento ST na parede inferior (DII-DII-AVf) - vide Tabela 3 - e o achado de lesões ateroscleróticas iguais ou superiores a 70 % na artéria coronária direita, com uma sensibilidade de 61 %, especificidade de 83 %, VPP de 80 % e VPN de 66 % com um valor de p=0,001 ( Figura 5); e da parede posterior (V7-V8) no eletrocardiograma com o achado de lesões ateroscleróticas iguais ou superiores a 70% na coronária direita, com uma sensibilidade de 23%, especificidade de 100%, VPP de 100% e VPN de 54% com um valor de p =0,014 ( Figura 6). 14 Editorial Laranjeiras Artigos Originais Tabela 3. Correlação Eletrocardiográfica vs Angiográfica Ao se estabelecer uma correlação entre as alterações eletrocardiográficas e o supradesnível do segmento ST das outras paredes miocárdicas com os achados ecocardiográficos e com os achados angiográficos não foi observada uma associação significativa. Figura 1. Sensibilidade e Especificidade do ECO e ECG na parede anterior Figura 2. Sensibilidade e Especificidade do ECG ântero-lateral com o ECO parede lateral 15 Artigos Originais Editorial Laranjeiras Figura 3. Sensibilidade e Especificidade do ECG parede ântero-septal com o ECO da região septal anterior Figura 4. Sensibilidade e Especificidade do ECO e ECG na parede ínfero-posterior Figura 5. Sensibilidade e Especificidade do ECG parede inferior e o cateterismo com lesão da coronária direita 16 Artigos Originais Editorial Laranjeiras Figura 6. Sensibilidade e Especificidade do ECG parede posterior e o cateterismo com lesão da coronária direita DISCUSSÃO E CONCLUSÃO supradesnível do segmento ST ao eletrocardiograma das paredes inferior e posterior e o achado de lesão significativa (igual ou superior a 70%) da coronária direita, como demonstrado amplamente na literatura (20, 21) e mais recentemente pelo estudo de Zimetbaum et al (8), o qual demonstra a capacidade do eletrocardiograma com supradesnível do segmento ST da parede inferior de identificar lesão proximal da artéria coronária direita com uma sensibilidade de 90%, especificidade de 71%, VPP de 94% e VPN de 70%. Este estudo mostra os resultados de 50 pacientes admitidos no Instituto Nacional de Cardiologia das Laranjeiras, Rio de Janeiro, com quadro clínico de síndrome coronariana aguda, caracterizada por um IAM com supradesnível do segmento ST. Apesar de o Instituto ser um centro terciário de referência em Cardiologia no Município do Rio de Janeiro, evidenciou-se que somente 22% dos pacientes são encaminhados para angioplastia primária e menos da metade dos pacientes (48%) receberam tratamento trombolítico. Esses dados são compatíveis com a literatura mundial e nacional disponível e indicam índices baixos de possibilidades terapêuticas de 1ª escolha para este tipo de apresentação das síndromes coronarianas agudas, o qual melhoraria ostensivamente as taxas de morbimortalidade da doença, como demonstrado pela medicina baseada em evidências, através de amplos estudos randômicos (6, 11, 22). Infelizmente, não foi possível correlacionar em níveis de significância estatística os achados de outras paredes acometidas no eletrocardiograma às artérias responsáveis pelo IAM, devido a diversos fatores como número insuficiente de pacientes para este tipo de estudo com múltiplas variáveis (dado a ampla anatomia coronariana e a extensa rede de colaterais); a falta de um serviço de emergências no hospital, fato este que diminui o número de pacientes admitidos com quadro de IAM com supradesnível do segmento ST; e também o fato de que a grande maioria dos pacientes do estudo eram já sabidamente portadores de doença coronariana ao serem cadastrados no hospital, muitos deles com IAM prévios, já submetidos a algum tipo de revascularização miocárdica, o que limita a acurácia do eletrocardiograma no estudo em questão. Conseguiu-se demonstrar, com nível de significância estatística (p< 0,05) a correlação entre o supradesnível do segmento ST ao eletrocardiograma da parede anterior e as anormalidades da contração segmentar ao ecocardiograma das paredes anterior, lateral e septal anterior; e do supradesnível do segmento ST ao eletrocardiograma das paredes inferior e posterior com as anormalidades da contração segmentar ao ecocardiograma das mesmas. Isto confirma, primeiramente, a precisão e capacidade do eletrocardiograma de identificar a parede acometida pelo processo isquêmico e, em segundo lugar, a eficiência e utilidade do ecocardiograma como um método complementar para a avaliação da dor torácica na admissão hospitalar, alem de sua capacidade de afastar outras etiologias não menos importantes de dor torácica tais como dissecção aórtica, estenose aórtica, miocardiopatia hipertrófica e doença pericárdica (18, 19). Dessa forma, obtivemos as seguintes conclusões: 1. Existe associação significativa entre a localização das alterações eletrocardiográficas e as anormalidades de contração segmentar ao ecocardiograma na fase aguda do Infarto do Miocárdio. 2. As alterações eletrocardiográficas da parede inferior e posterior se correlacionam significativamente aos achados de lesões ateroscleróticas da artéria coronária direita à cineangiocoronariografia. Por outro lado, conseguiu-se demonstrar, com nível de significância estatística (p< 0,05) a correlação entre o 17 Artigos Originais Editorial Laranjeiras REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. DATASUS – http: www.datasus.gov.br/ departamento de informática do SUS Ministério da Saúde, Governo do Brasil. 2 - American Heart Association: Heart and Stroke Facts: 1996 Statistical Supplement. Dallas, American Heart Association. 1996: 1–23. 3. Naylor, C. D. & Chen, E. Population-Wide mortality trends among patients hospitalized for acute myocardial infarction : The Ontario Experience, 1981 to 1991. 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Methods – Two hundred and forty six patients with TGA were studied in three institutions in Rio de Janeiro. In all of them, the contrast medium injection was done in left ventricle (LV) in axial projection because subtle forms of LVOTO can be missed with conventional angiocardiographic views, since the anterior wall of the LV may obscure the LVOT. In addition, the type and size of ventricular septal defect (VSD), the size of pulmonary annulus in diastole and left ventricular-pulmonary artery gradient were analyzed. Resumo Objetivo – Determinar por meio do estudo hemodinâmico e angiocardiográfico os diversos tipos de obstrução da via de saída do ventrículo esquerdo (OSVE) na transposição dos grandes vasos (TGV). Métodos – Duzentos e quarenta e seis pacientes portadores de TGV foram estudados em três instituições do Rio de Janeiro. Em todos foram realizados estudo pressórico e cineangiocardiográfico com injeção de contraste no ventrículo esquerdo em oblíqua anterior esquerda alongada já que formas discretas de OSVE podem não ser identificada com projeções angiocardiográficas convencionais pela superposição da parede anterior do VE sobre a via de saída do VE. Além desse parâmetro procurou-se estabelecer o tipo e as dimensões da CIV, o diâmetro do anel valvular pulmonar em diástole e o gradiente pressórico entre o ventrículo esquerdo e a artéria pulmonar. Resultados – Em 27 dos 246 pacientes (11%) existia OSVE distribuído da seguinte maneira: G1 – túnel fibromuscular subpulmonar: 10 pacientes (37%); G2 – valvular pulmonar: 4 pacientes (14,8%); G3 – subpulmonar dinâmico: 5 pacientes (18,5%) e G4 – diafragma fibromuscular subpulmonar: 8 pacientes (29,7%). Todos os pacientes apresentavam ampla comunicação interventricular tipo mau alinhamento, exceto os do grupo 3 e um paciente do grupo 2. Níveis de pressão sistêmica no VE foram encontrados nos pacientes dos grupos G1, G2 e G4. Observou-se diferença significativa nos diâmetros do anel pulmonar dos pacientes dos grupos G1 e G4 em relação aos dos pacientes dos grupos G2 e G3 (p=0,0253). Conclusão – O reconhecimento precoce e correto dos diversos tipos de OSVE tem implicações clínico-cirúrgicas da maior importância já que a escolha do procedimento cirúrgico corretivo depende não só da gravidade do fenômeno obstrutivo como também do tipo de OSVE. Summary Objective – To determine through hemodynamic and angiocardiographic study the types of left ventricular outflow tract obstruction (LVOTO) in patients with transposition of great arteries (TGA). Results – In 27 out of 246 patients the LVOTO type was: G1: subpulmonar fibro muscular tunnel – 10 patients (37%); G2: pulmonary valvular stenosis – 4 patients (14.8%); G3: dynamic sub pulmonary stenosis – 5 patients (18.5%) and G4: sub pulmonary fibro muscular ring – 8 patients (29.7%). All patients out G3 and 1 group G2 had mal alignment VSD. LV systolic pressure was at systemic level in patients groups G1, G2 and G4. The pulmonary valvular annulus was expressively larger in groups G1 and G4 then in groups G2 and G3 (p=0.253). Conclusions – Precise angiocardiographic assessment of the LVOT in TGA is essential since the surgical technique depends on the type and severity of LVOTO. Introdução: A transposição dos grandes vasos (TGV) é uma malformação congênita letal e representa a causa mais freqüente de cianose no período neonatal. Sem tratamento mais de 90% dos pacientes vão ao óbito no primeiro ano de vida 1. O prognóstico desses pacientes tem melhorado notavelmente com a introdução de técnicas cirúrgicas paliativas e corretivas. A literatura tem confirmado que nenhuma mal formação cardíaca sofreu tão drásticas mudanças no manuseio clínico cirúrgico nestas últimas décadas como a TGV. A maior contribuição para a manutenção da vida desses neonatos se deu com a introdução da atrioseptostomia com balão proposta por Rashkind e Miller 2. A correção cirúrgica fisiológica a nível atrial permitindo o redirecionamento de sangue para os ventrículos foi o procedimento cirúrgico de maior sucesso nas décadas de 50 e 60 3, 4. Esta correção alcançou um extraordinário sucesso, principalmente no pós-operatório imediato e tardio, com cifras de 90% e 80% de sobrevida aos 10 e 20 anos respectivamente 5, 6. Entretanto o entusiasmo com esta abordagem sofreu um certo desapontamento por- * Médico do Instituto Nacional de Cardiologia Laranjeiras – Rio de Janeiro – Brasil. ** Médica do Instituto Nacional do Câncer – Rio de Janeiro – Brasil. 19 Artigos Originais Editorial Laranjeiras que o ventrículo direito era incapaz de preservar a sua função sistêmica por longos períodos de tempo 7, 8. las semilunares e que em corações normais encontra-se incorporada ao topo do septo ventricular. Em situações em que existe mal-orientação do septo infundibular criase uma comunicação interventricular do tipo mal-alinhamento; banda muscular anterolateral 23, 24 – estrutura que separa o folheto anterior da válvula mitral do bordo anterior do ventrículo esquerdo. Ela margeia a cúspide semilunar esquerda e se estende até a parede anterolateral do ventrículo esquerdo. Jatene et al 9 foram os primeiros a descrever com sucesso a correção anatômica na TGV em 1975. A limitação encontrada na abordagem cirúrgica da TGV pela técnica de Jatene foi a presença de obstrução da via de saída do ventrículo esquerdo (OSVE) como defeito associado. Ela ocorreu em 97 (0,67%) de 15.104 pacientes com cardiopatia congênita no material analisado por Keith et al 10 . Entretanto obstrução significativa foi observada em 28%a 31% de pacientes com TGV com comunicação interventricular (CIV) 1, 11. As tentativas iniciais de ressecar a obstrução da via de saída do ventrículo esquerdo em combinação com o procedimento de Mustard e fechamento da CIV usualmente não abolia a obstrução completamente 12-14. A análise estatística foi realizada pelo programa Epi Info 6.04 do CDC (Center for Disease Control). Os dados dicotômicos foram avaliados pelo qui quadrado e calculado o intervalo de confiança de 95% (IC95). Os dados descritivos foram expressos em média ± desvio padrão (DP), sendo analisados pelo teste t de Student. Após a primeira tentativa de uso clínico de um tubo de pericárdio não valvulado como um conduite extracardíaco 15, o trabalho experimental de Arai et al 16, e a primeira utilização clínica de um conduite homográfico aórtico 17, Rastelli 18 introduziu uma nova abordagem para o tratamento de pacientes portadores de TGV associado a CIV e OSVE. A técnica de Rastelli ganhou notoriedade passando os cirurgiões a adotá-la em situações em que existia a associação de CIV e OSVE. Sendo assim é importante que se identifique o tipo e a severidade de OSVE bem como a localização e as dimensões da CIV, numa tentativa de uma correta indicação cirúrgica para este ou outros procedimentos que recentemente vem sendo descritos. Resultados: Dos 246 pacientes portadores de TGV 134 (54,5% IC95% = 48,0% a 60,8%) apresentavam o septo interventricular intacto e em 106 (43,1% - IC95% = 36,8% a 49,5%) uma comunicação interventricular (p=0,088). Em 6 pacientes (2,4% - IC95% = 1,0% a 5,5%) observou-se miscelânea. Dos 134 pacientes com septo intacto 6 (4,5% - IC95% = 1,8% a 9,9%) apresentavam OSVE: em 5 a obstrução era dinâmica e em 1 fixa. Dos 106 pacientes com CIV 21 (19,8% - IC95% = 12,9% a 28,9%) apresentavam OSVE (p=0,0002). Em todos a obstrução era fixa (quadro I). Os tipos de OSVE encontrados nos 246 pacientes portadores de TGV foram classificados como fixo e dinâmico (tabela 1). Pacientes e Método: Obstrução fixa (G1) – Túnel fibromuscular subpulmonar composto de 10 pacientes (37%). A característica angiográfica deste tipo de obstrução é o alongamento acentuado, em forma de túnel, da via de saída do ventrículo esquerdo que se encontra estreitada e que durante o ciclo cardíaco não se visibiliza grandes modificações de seu diâmetro. Esta estrutura fibromuscular fixa cria uma descontinuidade entre a válvula mitral e a válvula pulmonar. Em todos os pacientes existia uma grande CIV por mal alinhamento do septo infundibular com o septo ventricular (figura 1). Neste grupo de pacientes o gradiente entre o ventrículo esquerdo e a artéria pulmonar foi de 77,8±20,7mmHg e o diâmetro do anel valvular pulmonar de 1,6±0,5cm (tabela2). Num período de 20 anos (1.980-2.000), em três instituições do Rio de Janeiro (Instituto Nacional de Cardiologia de Laranjeiras, 6ª Enfermaria da Santa Casa de Misericórdia e Hospital Adventista Silvestre) 246 pacientes portadores de TGV, com idade variando de 2 dias a 5 anos, foram submetidos a estudo hemodinâmico e angiocardiográfico. Dependendo da gravidade do fenômeno obstrutivo da via de saída do ventrículo esquerdo em muitos pacientes não foi possível alcançar a artéria pulmonar. Nestas situações optou-se pela pressão da veia pulmonar encunhada como pressão indireta da artéria pulmonar. O estudo angiográfico objetivou a análise da conexão ventrículo esquerdo/artéria pulmonar bem como os defeitos associados. Sendo assim, a ventriculografia esquerda era realizada utilizando-se posições axiais 19, 20, permitindo não só uma visualização mais detalhada da via de saída do ventrículo esquerdo, já que com esta projeção evitava-se a superposição da parede anterior do ventrículo esquerdo sobre a sua via de saída, como também o tipo anatômico e as dimensões da comunicação interventricular. Por fim efetuava-se a medida do diâmetro do anel valvular pulmonar que era aferido no ponto de fixação da válvula no anel, em diástole. G2 – valvular pulmonar, representada por 4 pacientes (14,8%). Neste grupo a obstrução encontrava-se na válvula pulmonar espessada e com limitação de sua abertura durante a sístole. Em 1 paciente, portador de dextrocardia com situs inversus, o septo ventricular encontrava-se intacto (figura 2A). Nos demais existia CIV associada do tipo mal alinhamento e de dimensões moderadas (figura 2B). O gradiente entre o VE e a artéria pulmonar foi de 76,9±31,4 mmHg e o diâmetro do anel valvular pulmonar de 1,98±0,4cm, significativamente maiores do que os do tipo túnel fibromuscular (tabela 2). No sentido de um melhor entendimento e das controvérsias que existem na terminologia de estruturas anatômicas que compõem a via de saída do ventrículo esquerdo nas transposições dos grandes vasos, associada ou não a uma comunicação interventricular, adotaremos neste estudo as seguintes definições: septo infundibular 21, 22 – estrutura interposta entre as duas válvu- G3 – subpulmonar dinâmico, composto por 5 pacientes (18,5%). Em nenhum dos pacientes existia CIV. A OSVE se dava pelo acentuado abaulamento do septo ventricular associado a uma aposição do folheto septal da válvula mitral levando a uma obliteração parcial do VE (figura 3). Neste grupo o gradiente de pressão entre o VE e a artéria pulmonar foi bem inferior aos demais (38,0±15,2 20 Editorial Laranjeiras mmHg) e o diâmetro do anel pulmonar foi normal para a idade e superfície corporal (2,1±0,3cm) (tabela 2). Artigos Originais TGV, a estenose dinâmica, isto é, o estreitamento sistólico da via de saída do ventrículo esquerdo, parece ser causado não só pelo acentuado abaulamento septal posterior, como também por uma movimentação sistólica anterior anormal da válvula mitral associada. O seu desenvolvimento é uma complicação potencial na TGV e septo interventricular intacto, 31-34 mesmo em pacientes com uma mistura intercirculatória inicial adequada – atrioseptostomia. Mesmo em formas discretas (pico de gradiente sistólico através da via de saída do ventrículo esquerdo de 20-30 mmHg) pode haver deterioração clínica e aumento da cianose, em função da diminuição do fluxo pulmonar efetivo. G4 – diafragma fibromuscular subpulmonar. Neste grupo de 8 pacientes (29,7%) a OSVE foi subpulmonar e em forma de anel ou diafragma. Estava associada também ao deslocamento posterior do septo infundibular o que permite o aparecimento de uma ampla CIV do tipo mal alinhamento (figura 4). O gradiente de pressão entre o ventrículo esquerdo e a artéria pulmonar foi de 78,9±25,3 mmHg. Existia redução importante das dimensões do anel valvular pulmonar que era de 1,15±0,7cm (tabela 2). Discussão: A etiologia exata do desenvolvimento dinâmico da OSVE é controversa. Quando os circuitos estão em paralelo, como na TGV, a pós-carga do ventrículo esquerdo é um importante parâmetro para a manutenção do volume sistólico. A pós-carga é o somatório da resistência das várias estruturas anatômicas que compõem a via de saída do ventrículo esquerdo e também do circuito no qual ele ejeta. Quando a pós-carga aumenta o volume sistólico diminui e conseqüentemente o fluxo pulmonar efetivo torna-se ineficaz. A via de saída do ventrículo esquerdo em pacientes com TGV com ou sem CIV pode apresentar obstruções anatômicas ou funcionais, tendo como resultado uma diferença de pressão sistólica entre o ventrículo esquerdo e a artéria pulmonar. Nas obstruções anatômicas diferentes tipos de estenose pulmonar podem ser encontrados ao nível valvular ou subvalvular. Na estenose pulmonar subvalvular estruturas musculares, anéis fibrosos, estruturas membranosas – tecidos valvulares redundantes – ligamentos anormais, todos podem ser responsáveis pela obstrução 25-29. Qualquer um dos diferentes tipos de estenose pulmonar poderá ou não coexistir com qualquer tipo de CIV associada a TGV. O mecanismo do deslocamento anterior sistólico da válvula mitral parece ser dependente de uma configuração anormal da geometria do ventrículo esquerdo associada a um distúrbio na dinâmica de fluidos. 1. Mal orientação do septo Infundibular: Desse modo se as dimensões da via de saída do ventrículo esquerdo estão significativamente reduzidas pelo abaulamento posterior do septo ventricular, uma velocidade de fluxo suficientemente aumentada pode dar origem a uma movimentação anterior sistólica anormal da válvula mitral, resultado da conversão de pressão em energia cinética (efeito Bernoulli). A mal orientação do septo infundibular proporciona o desenvolvimento de certas formas de estenose pulmonar valvar e subvalvular. Entretanto von Gils et al 30 chamam a atenção para o fato de que na estenose pulmonar por mal alinhamento do septo infundibular dois tipos anatômicos podem ser distinguidos: a) o desvio posterior acentuado do septo infundibular resultaria em uma estenose subpulmonar, produzida pelo próprio septo infundibular, em conjunto com a banda muscular anterolateral do ventrículo esquerdo mais proeminente. Estas duas estruturas se fundem na porção anterior do orifício pulmonar que se encontra deslocado posteriormente. Este distúrbio levaria a uma estenose subpulmonar grave, com as características angiográficas das por nós encontradas – anel ou diafragma fibromuscular subpulmonar (figura 4); b) quando o desvio do septo infundibular é menos acentuado e não ocorre a fusão com a banda muscular anterolateral, a estenose subvalvular é menos grave do que no grupo anterior. O aspecto angiográfico seria do tipo túnel fibromuscular (figura1). Sendo assim existiria um espectro de graus de gravidade de estenose subvalvular decorrente do maior ou menor grau de deslocamento do septo infundibular, com ou sem a incorporação da banda muscular anterolateral do ventrículo esquerdo (figura 2B). Em decorrência desse espectro de mal alinhamento do septo infundibular teremos maiores ou menores diâmetros do anel valvular pulmonar (tabela 2). Portanto o mal alinhamento do septo infundibular com o ventricular será sempre o responsável pelo aparecimento de uma CIV ampla e que mesmo em situações em que coexiste OSVE críticas a pressão desenvolvida no ventrículo esquerdo nunca terá níveis supra-sistêmicos. Paul e Wernovsky 35 tem especulado que alguns recém nascidos têm uma pós-carga do ventrículo esquerdo aumentada decorrente de: a) queda da resistência pulmonar inadequada ou retardada; b) alteração da complacência ventricular causando padrões de fluxo desfavorável na mistura intercirculatória. Alguns autores acreditam que o abaulamento posterior do septo ventricular e a aposição anormal do folheto anterior da válvula mitral, em algumas situações, possam ser causados por uma inserção anormal do folheto no músculo papilar 31, 35. A literatura também tem descrito que a distorção da válvula mitral e da via de saída do ventrículo esquerdo é conseqüência do achatamento do ventrículo esquerdo pelo desenvolvimento de uma pressão sistêmica no ventrículo direito produzindo uma obstrução dinâmica naquela cavidade 36-39. A conseqüência dessas disfunções é que o impacto do folheto anterior da válvula mitral contra o septo anormalmente abaulado pode produzir também uma obstrução subpulmonar pelo desenvolvimento de um tecido fibroso 31, 32, 35 . Portanto o diagnóstico definitivo e o grau de gravidade da OSVE em pacientes com TGV dependem ou do gradiente de pressão entre o ventrículo esquerdo e a artéria pulmonar a nível valvar ou subvalvular ou da demonstração angiográfica da sua via de saída. Essa demonstração deverá ser sempre em obliqua anterior esquerda alongada já que as projeções convencionais não permitem uma análise detalhada pela superposição da parede anterolateral. 2. Abaulamento excessivo do septo ventricular. Embora o abaulamento sistólico posterior do septo ventricular exista em graus variáveis, nos pacientes com 21 Artigos Originais Editorial Laranjeiras Implicações Cirúrgicas: Desde que Jatene e al 9 em 1975 introduziram a técnica, com sucesso, da correção anatômica das TGV, a literatura estava de acordo que uma contra-indicação formal para este procedimento seria em situações em que houvesse obstrução da via de saída do ventrículo esquerdo como uma malformação associada. Este posicionamento foi ratificado recentemente em uma publicação de Bonnet 40 do grupo do Hôpital Neker-Enfantes Malades, França, que num período de 10 anos realizaram a correção anatômica em 261 pacientes sendo considerada uma contra-indicação para a correção anatômica os pacientes com estenose subpulmonar. Entretanto, nesta última década alguns investigadores têm apresentado relatos de pequenas séries em que a correção anatômica foi realizada mesmo em situações em que existia obstrução da via de saída do ventrículo esquerdo 41-44 . Em um estudo multicêntrico (Pediatric Cardiac Care Consortium 1984-1995) envolvendo dezenas de instituições nos Estados Unidos Feinstein e Hougen 45 compilaram dados de 1542 pacientes com TGV que foram submetidos a 1875 procedimentos cirúrgicos. Desses, 141 lactentes apresentavam CIV associada a OSVE. Em 16 pacientes o procedimento cirúrgico realizado foi a correção anatômica com uma mortalidade de 50% dos casos. Em uma maior série envolvendo 1200 recém-nascidos e lactentes, num período de 1982 a 1999, Losay e al 46 , do Hôpital Marie- Lannelongue, França, realizaram em todos os pacientes correção anatômica, incluindo 79 com CIV e OSVE, com uma sobrevida de 84,8% em 30 dias. Em conclusão, no estudo hemodinâmico e angiocardiográfico da TGV é fundamental que se realize a ventriculografia esquerda em obliqua anterior esquerda alongada para uma melhor demonstração da sua via de saída no sentido de se identificar os diversos tipos e gravidade de obstrução. Como a escolha do procedimento cirúrgico vem sofrendo modificações radicais nestes últimos anos, é possível que a correção a nível atrial fique reservada para pacientes com anatomia coronária desfavorável. Em situações em que existe obstrução da via de saída do ventrículo esquerdo, o grau e tipo de gravidade orientará para a escolha do procedimento, obviamente cada caso devendo ser analisado individualmente, alem de ser levado em consideração a experiência da instituição, a proficiência do grupo cirúrgico e o suporte de enfermagem e cuidados intensivos. 22 Artigos Originais Editorial Laranjeiras Quadro I: Estudo cineangiográfico em 246 pacientes portadores de TGV. Tabela 1: Tipos de OSVE em 246 pacientes com TGV. 23 Artigos Originais Editorial Laranjeiras Tabela 2: Achados hemodinâmicos e angiocardiográficos em 27 pacientes com TGV e OSVE. G1 – Túnel fibromuscular subpulmonar; G2 – Válvula pulmonar; G3 – Subpulmonar dinâmica; G4 – Diafragma fibromuscular subpulmonar; GEAP – gradiente ventrículo esquerdo/artéria pulmonar; mmHg – milímetros de mercúrio; MA mal alinhamento; M – moderado; G – grave; AVP – anel valvular pulmonar; SI – septo intacto. Figura 2 – Ventriculografia esquerda em OAE alongada. A – Transposição dos Grandes Vasos em pacientes com dextrocardia e situs inversus. Observa-se espessamento e mal formação da válvula pulmonar (superposta pelo cateter – setas pretas) com importante estenose subvalvular delimitado por setas brancas. O anel pulmonar tem dimensões normais e o septo ventricular encontra-se intacto. B – Neste paciente a obstrução da via de saída do VE é também ao nível da válvula (setas pretas), porém associada à ampla CIV (flecha preta). O anel pulmonar tem dimensões pouco reduzidas com reação subvalvular presente (setas brancas). Existe discreto mal alinhamento entre o septo infundibular e o ventrículo. OAE – obliqua anterior esquerda; VE – ventrículo esquerdo; VD – ventrículo direito; CIV – comunicação interventricular; Ao – aorta; AP – artéria pulmonar; APE e APD – artérias pulmonares direita e esquerda; S – septo ventricular; VM – válvula mitral. Figura 1 – Ventriculografia esquerda em OAE alongada. A via de saída do VE encontra-se estreitada em forma de túnel (flechas brancas) pelo deslocamento posterior do septo infundibular (SI). Com isso existe falta de alinhamento entre o SI e o septo ventricular dando origem a uma ampla CIV. O anel valvular pulmonar tem dimensões inferiores ao anel aórtico. OAE – obliqua anterior esquerda; VE – ventrículo esquerdo; VD – ventrículo direito; CIV – comunicação interventricular; Ao – aorta; AP – artéria pulmonar; SI – septo infundibular; VM – válvula mitral. 24 Editorial Laranjeiras Artigos Originais Figura 3 – Ventriculografia esquerda em OAE alongada. Existe acentuado abaulamento do septo ventricular com importante aposição do folheto anterior da válvula mitral produzindo grave OSVE. Observa-se também falha de enchimento (área irregular radiotransparente) entre o septo interventricular e o folheto anterior da válvula mitral, sugerindo semi-obliteração da cavidade ventricular esquerda. AP – artéria pulmonar; VE – ventrículo esquerdo; OSVE – obstrução da via de saída do ventrículo esquerdo. Figura 4 – Ventriculografia esquerda em OAE alongada. A – Sístole: observa-se uma obstrução crítica tipo diafragma (flechas brancas) imediatamente abaixo do anel valvular pulmonar. Esta apresenta os folhetos espessados e tem anel com dimensões bastante reduzidas. Através de ampla CIV opacifica-se a via de saída do VD. B – Início da diástole: observa-se a grande desproporção entre as dimensões do anel aórtico e as dimensões do anel pulmonar produzida também pelo deslocamento posterior do septo infundibular (*). OAE – obliqua anterior esquerda; CIV – comunicação interventricular; VP – válvula pulmonar; VE – ventrículo esquerdo; Ao – aorta; AP – artéria pulmonar; * – septo infundibular. Referências Bibliográficas: 1. Liebman J, Cullum L, Belloc N. Natural history of transposition of the great arteries: anatomy and birth death characteristics. Circulation 1969; 40: 237-62. 2. Rashkind N, Miller W. Creation of an arterial septal defect without thoracotomy: a palliative approach to complete transposition of the great arteries. JAMA 1966; 196: 991-2. 3. Senning A. Surgical correction of transposition of the great vessels. Surgery 1959; 45: 966-80. 4. Mustard W. 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Para a avaliação da DO, foram considerados o Total Maximum SOFA (TMS – Soma dos piores valores dos 6 componentes do escore) durante a permanência na UCIC e o Maximum SOFA (max SOFA) para cada um dos órgãos envolvidos no escore. Resultados: 121 P (61,2%) do sexo masculino com idade média de 59,9 anos, tempo médio de permanência de 5,4 dias e taxa de mortalidade de 11,4 %. A DO múltipla, os altos valores no SOFA escore para cada órgão e o número de órgãos em falência (SOFA ³ 3) foram associados à maior mortalidade. A presença de infecção à admissão esteve associada a maiores escores de DO. O TMS foi significativamente mais alto entre os não sobreviventes; 10,6 ± 3,4 X 2,3 ± 3,9 (p<0.001) e o Max SOFA também se correlacionou com a evolução destes P, com taxas de mortalidade que variaram de 1,3% em P sem falência orgânica a 100% em P com falência de 4 ou mais órgãos (p<0.001). A disfunção respiratória teve a maior prevalência; no entanto, as disfunções neurológica e cardiovascular correlacionaram-se com as mais elevadas taxas de mortalidade. Conclusão: O SOFA Escore é um método simples e efetivo para avaliação do grau e progressão da DO em cardiopatas, auxiliando a identificação de grupos de maior risco e que merecerão maior monitoração. Palavras-chave: escore de disfunção orgânica, patologia cardiovascular, falência orgânica múltipla, morbidade. ABSTRACT Background: The SOFA score can be used to describe the course of organ dysfunction, thus helping to understand the physiopathology of relevant clinical situations. Objective: To evaluate the use of the SOFA (Sequential Organ Failure Assessment) score in assessing the incidence and severity of organ dysfunction (OD) in cardiovascular patients. Patients and Methods: A prospective observational cohort study involving 201 cardiovascular patients admitted to the Cardio-Intensive Unit (CIU) between July and December 2003. The Total Maximum SOFA (TMS – sum of the worst scores for each of the components) and Maximum SOFA (max SOFA - highest total score on a single day during the CIU stay) were considered in assessing OD. Results: 121 P (61.2%) were male, average age of 59.9 years, with an overall mortality rate of 11.4%. Multiple organ dysfunction, high SOFA scores for any individual organ and increasing number of organ failures (SOFA ³ 3) were associated with increased mortality. The presence of infection upon admission was associated with more severe degrees of organ dysfunction. TMS score was significantly higher in non-survivors (10.6 ± 3.4 X 2.3 ± 3.9) (p<0.001) and the max SOFA also showed a significant correlation with outcome, with mortality rates ranging from 1.3% in patients without any organ failure to 100% in patients with failure in ³ 4 organs (p<0.001). Respiratory dysfunction was more frequently observed; however, neurologic and cardiovascular dysfunctions were related to higher mortality rates. Conclusion: The SOFA score is a simple and effective method to assess the degree and progression of organ dysfunction in cardiovascular patients and in identifying groups at increased mortality risk, which shall deserve closer monitoring. Key words: organ dysfunction, organ failure, cardiovascular pathology, multiple organ failure, morbidity. * Rotinas da Unidade Cardio-Intensiva Clínica, INCL. ** Chefe da Unidade Cardio-Intensiva Clínica, INCL. *** Enfermeiras da Unidade Cardio-Intensiva Clínica, INCL. 26 Editorial Laranjeiras Artigos Originais INTRODUÇÃO A falência orgânica múltipla é a principal causa de morbidade e mortalidade em pacientes admitidos em unidade de terapia intensiva e pode ser caracterizada por diferentes graus e combinações de disfunção orgânica (1). Instrumentos para avaliar a severidade do comprometimento orgânico, tais como o APACHE II e III (Acute Phisiology And Chronic Health Evaluation - Fisiologia Aguda e Avaliação Clínica Crônica) (2, 3) e o SAPS (Simplified Acute Physiology Score Pontuação Simplificada de Fisiologia Aguda) (4) têm sido amplamente utilizados em pacientes nas unidades de Terapia Intensiva. Mais recentemente, o SOFA (Sequential Organ Failure Assessment - Avaliação de Falência Seqüencial de Órgãos) (5) escore foi desenvolvido para registrar as variações do processo de disfunção/falência orgânica ao longo do tempo e objetivamente quantificar o grau desta disfunção em cada um dos órgãos analisados, diariamente. Em 1994, o então denominado “Sepsis-Related Organ Failure Assessment” - SOFA escore foi desenvolvido pela Sociedade Européia de Terapia Intensiva como um método para descrever individualmente a disfunção/falência orgânica. Posteriormente, observou-se que este escore não era restrito aos pacientes sépticos e o método passou então a ser designado “Sequential Organ Failure Assesssment”. O SOFA escore analisa seis sistemas orgânicos graduandoos entre 0 e 4 pontos de acordo com o grau de disfunção orgânica/falência. Estudos retrospectivos (5) e prospectivos (6) mostraram que altos valores no SOFA escore foram associados a altas taxas de mortalidade em grupos diferentes de pacientes. Assim sendo, a proposta do nosso estudo foi avaliar o SOFA escore em cardiopatas em uma Unidade Cardio-Intensiva Clínica, particularmente analisando o padrão de disfunção orgânica nesta população específica. CASUÍSTICA E MÉTODOS Dos 201 pacientes analisados prospectivamente, todos portadores de patologia cardiovascular e admitidos na Unidade Cardio-Intensiva Clínica do Instituo Nacional de Cardiologia Laranjeiras entre julho e dezembro de 2003, foram excluídos os pacientes que permaneceram menos de 12 horas na referida. Os dados foram coletados na admissão e ao longo da permanência do paciente na terapia intensiva. Para a avaliação da disfunção orgânica, foi utilizado o Total Maximum SOFA (TMS – Soma dos piores valores para cada um dos seis componentes do escore) e o Maximum SOFA (Max SOFA – Maior valor do escore registrado em um dia para cada órgão envolvido). Foram utilizados o Teste do “qui” quadrado para análise das variáveis categóricas e o Teste de Mann-Whitney para avaliar as diferenças nos resultados do escore entre sobreviventes e não sobreviventes. O valor de p < 0,05 foi considerado estatisticamente significativo. RESULTADOS Dos 201 pacientes, 121 (61,2%) eram do sexo masculino, com idade média de 59,9 anos, e tempo médio de permanência na Unidade Cardio-Intensiva de 5,4 dias. A mortalidade global foi de 11,4%. O número médio de órgãos com disfunção foi 4,2 entre os não sobreviventes e 0,7 nos sobreviventes. Além da disfunção orgânica múltipla, os altos valores no SOFA escore para cada órgão e o número de órgãos em falência (SOFA ³ 3) associaram-se à maior mortalidade, com taxas de óbito que variaram entre 1,3% para os pacientes que não apresentavam nenhum órgão em falência e 100% para aqueles em que 4 ou mais órgãos apresentavam SOFA ³ 3. 27 Artigos Originais Editorial Laranjeiras O TMS foi significativamente mais alto entre os não sobreviventes (10,6 ± 3,4 X 2,3 ± 3,9) (p < 0,001). A presença de infecção à admissão (especialmente pulmonar) esteve relacionada a maiores escores de disfunção orgânica, pois em 38,2% dos pacientes de maior gravidade, um quadro infeccioso fez parte do diagnóstico de admissão, enquanto que nos pacientes de menor morbimortalidade, em apenas 15% havia o diagnóstico de infecção. A disfunção respiratória foi a mais freqüentemente encontrada (52,2%); no entanto, as disfunções neurológica e cardiovascular correlacionaram-se às maiores taxas de mortalidade (42% e 29%, respectivamente). 28 Editorial Laranjeiras Artigos Originais REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DISCUSSÃO O desenvolvimento de vários sistemas de escore tem fornecido ao enfermeiro intensivista a capacidade de acuradamente aferir a gravidade da disfunção orgânica. As principais diferenças entre o SOFA escore e outros escores desenvolvidos são a utilização de dados clínicos e laboratoriais de fácil aquisição e a definição mais objetiva da disfunção cardiovascular. Isto torna o SOFA escore atraente como sistema de análise de disfunção orgânica e aponta para a possibilidade de ser amplamente utilizado em grupos heterogêneos de pacientes (7). 1. Bota, D, P.; Melot, C.; Ferreira, F. L.; Ba, V. N.; Vincent, J. L.. The Multiple Organ Dysfunction Score (MODS) versus the Sequential Organ Failure Assessment (SOFA) score in outcome prediction. Intensive Care Med. 2002, 28: 1619-1624. 2. Knaus, W. A.; Draper, E. A.; Wagner, D. P.; Zimmerman, J. E. APACHE II: a severity of disease classification system. Crit Care Med. 1985, 13: 818-829. 3. Knaus, W. A.; Wagner, D.; Draper, E. A.; Zimmerman, J. E.; Bergner, M.; Bastos, P. G.; Sírio, C. A.; Murphy, D. J.; Lotring, T.; Damiano, A.; Harrell, F. E. The APACHE III prognostic system risk prediction of hospital mortality for critically ill hospitalized adults. Chest. 1991, 100: 16191636. 4. Le Gall, J. R.; Lemeshow, S.; Saulnier, F. A new simplified acute physiology score (SAPS II) based on a European / North American multicenter study. JAMA. 1993, 270: 2957-2963. 5. Vincent J. L.; Moreno, R.; Takala, J.; Willats, S.; De Mendonça, A.; Bruining, H.; Reinhart, C. K.; Suter, P. M.; Thijs, L. G. The SOFA (sepsis–related organ failure assessment) score to describe organ dysfunction/failure. On behalf of the Working Group on Sepsis–Related Problems of the European Society of Intensive Care Medicine. Intensive Care Med. 1996, 22: 707-710. 6. Vincent, J. L.; De Mendonça, A.; Contraine, F.; Moreno, R.; Takal, J.; Suter, P. M.; Sprung, C. L.; Colardyn, F.; Blecher, S. Use of the SOFA score to assess the incidence of organ dysfunction/ failure in intensive care units: results of a multicenter prospective study. Working group on “sepsis–related problems” of the European Society of Intensive Care Medicine. Intensive Care Med. 1998, 26: 1793-1800. 7. Jansens, U.; Graf, G.; Graf, J.; Radke, P. W.; Königs, B.; Koch, K. Ch.; Lepper, W.; Vom Dahl, J.; Honrath, P. Evaluation of the SOFA score: a single center experience of a medical intensive care unit in 303 consecutive patients with predominantly cardiovascular disorders. Intensive Care Med. 2000, 26: 1037-1045. 8. Moreno, R.; Vincent, J. L.; Matos, R.; Mendonça, A.; Contraine, F.; Thijs, L.; Takala, J.; Sprung, C.; Antonelli, M.; Bruining, H.; Willars, S. The use of maximum SOFA score to quantify organ dysfunction/failure in intensive care. Results of a prospective multicenter study. Intensive Care Med. 1999, 25: 686-696. 9. Le Gall, J. R.; Klar, J.; Lemeshow, S. The logistic organ dysfunction system. A new way to assess organ dysfunction in the intensive care unit. JAMA. 1996, 276: 802-810. 10. Jacobs, S.; Zuleika, M.; Mphansa, T. The multiple organ dysfunction score as a descriptor of patient outcome in septic shock compared with two other scoring systems. Crit Care Med. 1999, 27: 741-744. 11. Ceriani, R.; Mazzoni, M.; Bartone, F.; Gandini, S.; Solinas, C.; Susini, G.; Parodi. Application of the sequential organ failure assessment score to cardiac surgical patients. Chest. 2003, 123: 1229-1239. 12. Antonelli, M.; Moreno, R.; Vincent, J. L.; Sprung, C. L.; Mendonça, A.; Passariello, M.; Riccioni, L.; Osborn, J. Application of SOFA score to trauma patients. Sequential Organ failure assessment. Intensive Care Med. 1999, 25: 389-394. Os dados do nosso trabalho corroboram os de literatura médica que mostram uma relação significativa entre o número de órgãos em disfunção/falência e mortalidade (8). Da mesma forma, os resultados apontam que o TMS demonstrou uma boa correlação aos efeitos finais durante a permanência na Unidade Cardio-Intensiva. A avaliação do TMS foi a opção escolhida entre as variáveis do SOFA escore por nos parecer a mais fidedigna quanto aos dados sobre danos cumulativos aos órgãos envolvidos durante o período de internação, já que os sistemas orgânicos são afetados em momentos diferentes. A partir dos dados obtidos, observamos que a disfunção respiratória foi a mais comumente encontrada. No entanto, as disfunções neurológica e cardiovascular estiveram associadas tanto de forma isolada quanto conjuntamente a um maior risco de morte. Estes achados estão de acordo com aqueles registrados por Vincent e col. (6). Pacientes infectados mostraram um consistente aumento do grau de disfunção orgânica, o que confirma a ampla correlação entre sepse e falência orgânica múltipla. As limitações de nosso trabalho estão relacionadas ao perfil específico de nossos pacientes. Jansens e col. (7) sugerem que os níveis de bilirrubina possam não ser o indicador ideal de disfunção em pacientes com falência ventricular esquerda e direita graves em decorrência da congestão hepática. A utilização de anticoagulantes e antiagregantes plaquetários em grande número de nossos pacientes pode caracterizar o nível de plaquetas também como um dado não fidedigno da coagulação. Também deve ser considerada a dificuldade da avaliação neurológica em pacientes sedados, fato freqüente em unidades de terapia intensiva. CONCLUSÃO Os resultados de nosso estudo confirmam o SOFA escore como um ótimo sistema de avaliação da extensão da disfunção orgânica, não apenas em pacientes sépticos (9, 10), cirúrgicos (11) ou de trauma (12), mas também em portadores de patologia cardiovascular, constituindo assim um importante indicador prognóstico a ser utilizado para quantificar o impacto de intervenções terapêuticas sobre a morbidade, bem como para identificar grupos de maior risco e que merecerão maior monitorização. 29 Artigos de Revisão Editorial Laranjeiras ESTUDO DA PERFUSÃO CEREBRAL (SPECT - SINGLE PHOTON EMISSION COMPUTERIZED TOMOGRAPHY) NA DOENÇA DE ARTÉRIA CORONÁRIA Rio de Janeiro - RJ Dr. Berdj A. Meguerian *, Dr Luís Henrique Weitzel** RESUMO : A Cardiologia geralmente recorre ao emprego dos radionuclídeos para a investigação da perfusão miocárdica, mas as aplicações da Medicina Nuclear não se restringem apenas a esse exame. Esse texto discute a importância do SPECT cerebral nos candidatos a cirurgia de revascularização miocárdica, como depressão ou dependentes químicos. Destaca-se, ainda, o uso do método nuclear em portadores de estenose da carótida. ABSTRACT: Cardiology uses radionuclides mostly for myocardial perfusion scintigraphy. But nuclear procedures may be used also in other clinical indications, such as brain perfusion SPECT , before myocardial revascularization surgery, in depressed or addict patients. This article discusses specially the importance of brain SPECT in carotid stenosis . A Cardiologia geralmente recorre ao emprego dos radionuclídeos para a investigação da perfusão miocárdica e esporadicamente para a avaliação da função cardíaca através da ventriculografia radioisotópica. A contribuição da Medicina Nuclear à Cardiologia não se restringe apenas a esses dois exames, ela pode ser útil também com outros tipos de exames. como por exemplo a cintilografia : • pulmonar para o diagnóstico de embolia pulmonar • renal para a investigação de hipertensão renovascular • óssea para a investigação de osteomielite • de perfusão cerebral, para avaliar a repercussão de estenose de carótida • no estudo dos distúrbios de condução elétrica do coração (1) • com gálio-67 na investigação de miocardite em pacientes submetidos à revascularização miocárdica eleva-se de menos que 2% em pacientes assintomáticos para 6 a 16% nos sintomáticos, sobretudo quando existe área de hipoperfusão anterior à cirurgia (2,4) A Medicina Nuclear, através do estudo tomográfico (SPECT) de perfusão cerebral pode auxiliar o cardiologista e o cirurgião cardiovascular na investigação dos cardiopatas quanto ao estado perfusional do cérebro e desta forma ajudar na prevenção de eventos neuro-psíquicos (2,3,4,5) É importante salientar que, apesar da notável evolução das técnicas de diagnóstico por imagem, como a tomografia computadorizada e a ressonância magnética, os mesmos são métodos que analisam essencialmente a morfologia cerebral e não a função (6,7,8,9). É verdade, porém, que atualmente a ressonância magnética funcional vem sendo aplicado cada vez mais para analisar a perfusão e a difusão cerebral. As indicações clínicas do SPECT cerebral na cardiologia, à luz do mencionado acima são : • investigação da perfusão cerebral na presença de estenose de uma ou ambas as carótidas • avaliação da perfusão cerebral nos dependentes químicos • estudo da perfusão cerebral nas alterações de hu mor, notadamente na presença de depressão É preciso salientar que na isquemia aguda, enquanto não se instalam as modificações histológicas decorrenters da hipoperfusão, a sensibilidade da tomografia computadorizada (TC) é menor que a do SPECT cerebral, demorando as vezes até 72 horas para se evidenciar (10) Num encontro do Colégio Americano de Cardiologia, realizado em 1999, dois médicos : Dr Peter Block e Dr Richard C Pasternak (American College of Cardiology(5), discutiram a depressão como importante fator de risco de mortalidade após episódio de infarto agudo do miocárdio, mas que provavelmente esses pacientes apresentavam depressão em estado latente. A investigação de dependentes químicos pelo SPECT cerebral é uma técnica já incorporada aos métodos de diagnóstico por imagem, assim como sua aplicação em portadores de DAC. Nesta última categoria de pacientes, as dependências mais freqüentemente investigadas são o etilismo, o uso de cocaína e o tabagismo. Nesse texto abordam-se as indicações da Medicina Nuclear no estudo da perfusão cerebral. A literatura médica cada vez mais vem relatando casos de alterações neurológicas cognitivas ou de acidente vascular cerebral (isquêmico), sobretudo em pacients com doença da artéria coronariana (DAC) submetidos a cirurgia de revascularização e em portadores de estenose da artéria carótida interna (2,3,4,5). Existem relatos que quase um quarto dos pacientes submetidos à cirurgia de revascularização miocárdica podem apresentar alterações neurológicas e cognitivas(3). Sabe - se, ainda, que o risco de acidente vascular cerebral *Chefe do Serviço de Medicina Nuclear do Instituto Nacional de Cardiologia Laranjeiras/MS Médico do Serviço de Medicina Nuclear do Instituto Nacional do Câncer/MS Responsável do Curso de Pós Graduação em Medicina Nuclear da UNIRIO-FUNDACOR **Chefe do Setor de Ecocardiografia do Instituto Nacional de Cardiologia Laranjeiras/MS Ecocardiografista responsável pelas unidades de Botafogo e Copacabana do LABS(Rio de Janeiro-RJ) Professor – titular de Cardiologia da Faculdade de Medicina da Universidade Severino Sombra em Vassouras-RJ Professor-adjunto de Cardiologia da Faculdade de Medicina da Universidade Gama Filho, no Rio de Janeiro-RJ 30 Editorial Laranjeiras No alcoolismo observam-se geralmente áreas de hipoperfusão em lobo frontal, seguida do lobo temporal (11,12). Esses pacientes, na abstinência, podem voltar apresentar perfusão quase normal (11) Nos usuários de cocaína notam-se áreas difusas de hipoperfusão, afetando diferentes regiões, mais comumente os lobos frontais, parietais e temporais (13), decorrentes da isquemia devido à elevação das catecolaminas da região (14,15). A abstinência pode melhorar a irrigação das áreas afetadas em questão de semanas (14). Essas modificações de perfusão nem sempre são detectadas pelas técnicas anatômicas de neuroimagem (15) Os efeitos nocivos do tabagismo estão mais que evidentes. Um grupo de autores brasileiros do Rio Grande do Sul relata que 40% da população é tabagista. Eles recomendam inclusive maior aproximação com os estudantes de medicina, mostrando-lhes os efeitos negativos do cigarro, para que os mesmo possam futuramente influencias melhor seus pacientes nesse sentido (16). O fumo leva à instalação de pequenas áreas de isquemia e/ou infarto cerebral, observadas em autópsia de pacientes tabagistas, há mais de cem anos(17). O SPECT cerebral realizado na vigência do tabagismo e algum tempo depois, poderá mostrar melhora do padrão de perfusão cerebral e quiçá auxiliar o paciente a abandonar definitivamente o vício. É importante alertar também os fumantes quanto a inalação de elementos radioativos que acompanham o fumo do cigarro, tais como chumbo210, polônio-210 e bismuto-210.(18) Artigos de Revisão que isquêmico cerebral agudo, nem o dipiridamol nem a acetazolamida. Entende-se também, porque a indicação do teste de estresse farmacológico com dipiridamol em paciente que relata passado de AVC, deve ser analisado com muita cautela. O Instituto Nacional de Cardiologia Laranjeiras vem realizando cintilografia de perfusào ceebral em portadores de DAC. Os autores esperam que mediante essa apresentação consigam mostrar a importância de investigar a perfusão cerebral em certas situações de pacientes portadores de DAC. Na opinião deles, uma das principais indicações para o estudo de perfusão cerebral com o SPECT é em pacientes candidatos a revascularização miocárdica (RVM), relativamente assintomáticos, que ao se submeterem ao Eco Doppler da carótida revelem obstrução moderada ou grave. Esses pacientes realizariam o SPECT cerebral para estratificação de risco para acidente vascular , na fase pré-RVM. Já naqueles pacientes sintomáticos, decorrente de obstrução carotídea, onde a correção cirúrgica é mandatória, o SPECT pode definir a extensão do déficit de perfusão cerebral antes da cirurgia e avaliar as condições pós-correção, ainda na fase pré-RVM. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1.Meguerian BA Cintilografia de perfusão miocárdica na investigação de isquemia sem aplicação de estresse. Edit Laranj 2003;3: 60-61 2. 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Caballero FJL e Alcántara AMC Patologia por sustancias tóxicas(in) Carreras JL, Sopena R, Llamas JM e Caballero E (eds):Aplicaciones Clínicas de la SPECT Cerebral, edit. Masson SA,Barcelona, 1994,pp 115-121 13. Rose JS et al : Cerebral perfusion in early and late opiate withdrawal: a technetium-99mHMPAO SPECT Study. Psychiatry Res, 1996(1): 14. Miller BL; Mena I; Giombetti R; Villanueva-Meyer J; Djenderedjian AH : Neuropsychiatric effects of cocaine: SPECT measurements. Department of Neurology, Harbor-UCLA Medical Center, Torrance 90509. J Addict Dis,1992 11(4):47-58 15. Kosten TR et al. Regional cerebral blood flow during acute and chronic abstinence from combined cocaine-alcohol abuse. Drug Alcohol Depend, 1998; 50(3): 187-195 16. Daudt AW, Alberg AJ, Prola JC, Fialho L, Petracco A, Wilhelms A, Weiss A e Estery C. 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Existem dois tipos de testes: • teste funcional com acetazolamida (19) • teste funcional com dipiridamol (20,21) Realizam-se dois exames, um em condições basais e outro após a administração de uma das substâncias acima. Uma área hipoperfundida no exame basal quando mostra resposta positiva ao teste, aumento da irrigação, demonstra que existe reserva de perfusão cerebral. Por outro lado a resposta negativa deve servir de alerta para possível AVC isquêmico num momento de teste. Os mecanismos que testam as reservas de irrigação cerebral diferem entre as substâncias . ACETAZOLAMIDA A acetazolamida é um inibidor da anidrase carbônica diminuindo a remoção do CO2 pelas hemáceas, aumentando a concentração do mesmo no tecido cerebral e daí provoca-se vasodilatação. DIPIRIDAMOL O dipiridamol é uma adenosina que provoca vasodilatação potente, pelo mecanismo do “roubo”. Consideram-se contra indicações para aplicação do teste com dipiridamol a presença de angina instável, infarto agudo do miocárdio, hipotensão e asma brônquica, como também não deve ser aplicado na vigência de ata31 Artigos de Revisão Editorial Laranjeiras DEPRESSÃO: FATOR DE RISCO INDEPENDENTE NAS SÍNDROMES CORONARIAS AGUDAS? Rio de Janeiro - RJ Mauricio Lougon * RESUMO Recovery in Coronary Heart Disease), corrobora este achados (9). Estudos prognósticos apontam depressão associada a um aumento de duas ou três vezes do risco de mortalidade após um episodio de Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) (10, 11). Outros estudos de revisão sugeriram que a comorbidade entre coronariopatia e depressão grave aumenta o risco de mortalidade entre 1,5 e 4,5 vezes (12). O estudo de Kop sobre esta condição de comorbidade aponta um risco entre 2 e 7 vezes maior (13). O presente artigo faz uma revisão da literatura sobre a associação entre síndrome arterial coronariana isquêmica aguda e depressão, observando-se sua ocorrência freqüente entre tais coronariopatas. A depressão é considerada um fator de risco independente, o qual eleva as taxas de mortalidade entre estes pacientes. Palavras- Chave Depressão, doença arterial coronária, fatores de risco e isquemia. Uma investigação em população européia assinala que a depressão per se constitui um fator de risco independente para doença coronariana, tanto para pacientes sem diagnóstico prévio desta patologia quanto para coronariopatas, sobretudo após IAM (14). Um estudo de coorte prospectivo conduzido em Montreal, Canadá, avaliou, utilizando a escala de Beck, 218 pacientes durante um período de até 7 dias após sofrerem IAM. Os autores concluem que o escore para depressão obtido naquele período é um importante preditor de risco de mortalidade até 18 meses após o infarto (15). Outro estudo mais recente, de meta-análise, corrobora estes dados, acentuando que a depressão constitui um bom preditor do desenvolvimento de doença coronariana em pessoas anteriormente saudáveis (16). ABSTRACT This article aims to review the literature that discusses depression as a common finding among patients with acute coronary artery disease (CAD) syndrome, stressing the role played by depression in increasing mortality rates. In conclusion, depression is considered an independent risk factor for patients with CAD. Key Words Depression, coronary artery disease, risk factors and ischemia. Utilizando a escala de Beck para avaliar a prevalência de depressão em coronariopatas que sofreram IAM, Steeds, em uma pesquisa britânica, conclui que o risco de mortalidade é maior entre os pacientes deprimidos, e que os efeitos adversos da depressão independem da gravidade da coronariopatia (17). INTRODUÇÃO Este artigo constitui uma tentativa de enfatizar, através de revisão da literatura especializada, a relevância da depressão como fator de risco independente para morbimortalidade em coronariopatias. Constitui parte do referencial teórico, ou rationale, utilizado em uma pesquisa empírica em fase final de desenvolvimento no INCL1 sobre a prevalência de depressão em coronariopatias. Por outro lado, a depressão tem sido utilizada como preditor de risco de morbimortalidade para cirurgias em coronariopatias, sendo a recidiva de angina o evento mais freqüentemente associado à depressão (18, 19). Bokhari investigou a prevalência de depressão entre coronariopatas internados no Instituto Nacional de Doenças Cardiovasculares de Karachi, Paquistão. Em sua amostra de 154 pacientes, encontrou prevalência de depressão de 37% (20). A DEPRESSÃO EM CORONARIOPATIAS AGUDAS Existem evidências substanciais na literatura quanto ao aumento da morbidade e mortalidade em síndromes isquêmicas cardiovasculares quando transtornos depressivos a elas estão associados (1, 2, 3, 4, 5, 6). Estudos multicêntricos randomizados estabeleceram que a depressão é uma das principais causas para morbimortalidade em pacientes que sofreram episódios de IAM ou de AI (Angina Instável), e propuseram tratamento precoce com antidepressivos para os pacientes infartados e deprimidos, sugerindo que este tratamento melhora o prognóstico cardíaco destes pacientes (21, 22). Neste sentido, Arolt afirma que transtornos depressivos Transtornos depressivos estão presentes em percentuais que variam, em diferentes estudos, entre cerca de 30% a 50% dos pacientes que apresentam síndromes coronárias agudas, constituindo um fator de risco independente no aumento da morbimortalidade (3, 7, 8). Uma das investigações multicêntricas mais amplas sobre o tema, denominada ENRICHD (Enhancing * Médico pesquisador da Coordenação de Ensino e Pesquisa do INCL 32 Editorial Laranjeiras Artigos de Revisão REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS moderados ou severos constituem fator de risco independente para doença coronariana e devem ser tratados mesmo que sua influência nestas doenças ainda não tenha sido empiricamente demonstrada (23). Algumas hipóteses estudadas neste sentido empírico sugerem que pacientes deprimidos apresentam hipercortisolemia e mudanças nas plaquetas que favorecem um estado protrombótico (24). Outras pesquisas citam alterações no sistema nervoso autônomo, associação da depressão ao tabagismo, sedentarismo, capacidade funcional reduzida, processos inflamatórios e aumento da agregação plaquetária como mecanismos que podem intervir na mortalidade cardíaca aumentada na depressão (25). 1. Springer, F.; Fife, A.; Lawson, W.; Hull, J. C.; Jandorf, L.; Cohn, P. F.; Fricchione, G. 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Em um estudo de prevalência de depressão com 200 coronariopatas agudos, estes pacientes apresentaram escores de depressão muito superiores aos pacientes do grupo controle (27). Pesquisando o tratamento de depressão em coronariopatas, Laederach-Hofmann & Fisch comentam que embora há muito tempo já existam evidências de que estados depressivos sejam um importante fator de risco para coronariopatias, a literatura sobre este tema é muito reduzida (28). Neste sentido, estudando o efeito do antidepressivo sertralina no tratamento de coronariopatas deprimidos, Swenson afirma que transtornos depressivos graves estão presentes e complicam a recuperação de síndromes coronarianas agudas em cerca de 1 em cada 5 pacientes (29). Um estudo de metanálise conduzido na Universidade de Cincinnati concluiu que sintomas depressivos constituem um significativo fator de risco independente para o desencadeamento de coronariopatias (30). Finalmente, o estudo de Lett et al. conclui que existem evidências bastante substanciais quanto ao aumento de risco de morbimortalidade para coronariopatias quando a depressão psíquica encontra-se associada (31). Na linha de raciocínio seguida ao longo deste texto, a hipótese subjacente ao mesmo é de que assim como os efeitos do tabagismo, diabetes, hipercolesterolemia, hereditariedade e etilismo são investigados e tratados rotineiramente como tradicionais fatores de risco independentes, da mesma forma a depressão deve ser pesquisada e precocemente tratada em coronariopatas. Cabe comentar que embora trabalhos sobre depressão associada a coronariopatias estejam presentes na literatura brasileira (32, 33, 34), não encontramos em nossa revisão estudos originais visando determinar a taxa de prevalência ou a depressão como fator de risco independente em coronariopatias. Por esta razão, a bibliografia utilizada é, sobretudo, estrangeira. 1 " Depressão e síndromes coronarianas isquêmicas agudas”. INCL – Mauricio Lougon, Marco Antonio de Mattos e Bernardo Rangel Tura. 33 Editorial Laranjeiras Eletrocardiografia de Alta Resolução: Perspectivas Históricas. O método ainda tem seu espaço na prática clínica? Rio de Janeiro - RJ Paulo Roberto Benchimol Barbosa*, José Barbosa Filho**, Ivan Cordovil***, Marcos Oliveira de Sousa****, Jurandir Nadal***** quantification of those signals, giving rise to the so called high-resolution electrocardiography age. The present study conducted an historical revision of the pathway traveled by the science of electrocardiology that ultimately lead to the individualization of the high-frequency deflections observed inside and at the terminal portion of the QRS complex and their characterization as harbingers of life threatening ventricular arrhythmias. PALAVRAS CHAVES: Eletrocardiograma de Alta Resolução, Lesão Miocárdica, Arritmia Cardíaca KEY WORDS: Signal-Averaged Electrocardiogram, Myocardial Damage, Cardiac Arrhythmia Resumo Desde os primórdios da eletrocardiografia, deflexões de baixa amplitude e alta freqüência embebida nas formas de onda do ECG despertaram interesse de pesquisadores e cientistas. Considerada inicialmente curiosidade científica, estudos subseqüentes mostraram que tais deflexões apresentavam correlação significativa com a presença de cicatrizes fibrosas em indivíduos acometidos de infarto do miocárdio. O advento da era digital impulsionou o desenvolvimento da eletrocardiografia, com a aplicação de técnicas estatísticas sofisticadas, o que permitiu a quantificação daqueles sinais com elevada reprodutibilidade, dando início à era da eletrocardiografia de alta resolução. O presente estudo se propõem a uma revisão histórica dos caminhos percorridos pela eletrocardiologia na caracterização das deflexões de alta freqüência observadas no interior e na região terminal do complexo QRS, como sinais precursores de arritmias ventriculares potencialmente fatais. Introdução O estudo dos sinais elétricos de origem cardíaca captados na superfície corpórea – o eletrocardiograma de superfície (ECG) – tem por finalidade a identificação de marcadores não-invasivos da atividade elétrica miocárdica, seja para auxílio ao diagnóstico de alterações estruturais e funcionais deste órgão, seja para avaliação prognóstica dos riscos decorrentes da cardiopatia e associados à sobrevida. Esta meta tem sido o encalço seguido por cientistas e médicos desde os primórdios da eletrocardiografia, ciência que se baseia no registro do ECG para estudar as propriedades elétricas do coração. De maneira semelhante à microscopia óptica, que é capaz de identificar estruturas celulares importantes como núcleo, nucléolo e vacúolos citoplasmáticos -, mas que é limitada no que concerne à capacidade de reconhecer distâncias menores - como as estruturas intracelulares e da membrana celular - , a eletrocardiografia convencional é capaz de identificar os macro-fenômenos elétricos decorrentes da despolarização e da repolarização dos átrios e dos ventrículos, mas fornece informações limitadas no que concerne à atividade elétrica desencadeada ou conduzida por pequenos grupos de fibras miocárdicas. Abstract Since early ages of electrocardiography, low-amplitude high-frequency deflections embedded in the waveforms of the EKG called attention of researchers and scientists. Initially considered a scientific curiosity, following studies connected those to the presence of fibrous scars in subjects post-myocardial infarction. The emergence of the digital era further stimulated the development of sophisticated statistical techniques applied to the electrocardiography, and leading to a reproducible Com o desenvolvimento de técnicas que aumentam o poder de resolução dos meios convencionais de investigação foi possível se reconhecer a presença de micropotenciais, originados de grupos isolados de fibras miocárdicas, imersos nas ondas do ECG. *UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO, BRASIL **UNIVERSIDADE GAMA FILHO, RIO DE JANEIRO, BRASIL ***INSTITUTO NACIONAL DE CARDIOLOGIA LARANJEIRAS, RIO DE JANEIRO, BRASIL ****MEDICAL SCHOOL HANNOVER, DEPARTMENT OF CARDIOLOGY AND ANGIOLOGY – HANNOVER, GERMANY *****PROGRAMA DE ENGENHARIA BIOMÉDICA- INSTITUTO LUIZ ALBERTO COIMBRA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA - UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO, BRASIL ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA: Prof. Paulo Roberto Benchimol Barbosa Rua Pompeu Loureiro, 36/702 - Copacabana – Rio de Janeiro – RJ - Brasil - CEP.: 22061-000 - Email: [email protected] 34 Editorial Laranjeiras Denominam-se potenciais tardios da ativação ventricular (PTAV) aos sinais elétricos de baixa amplitude detectados na região terminal da ativação ventricular. Esses sinais, representam a despolarização das últimas regiões do miocárdio ventricular percorridas pelo estímulo elétrico, delimitando o complexo QRS do ECG. Em diversas enfermidades que acometem o músculo cardíaco, PTAVs apresentam baixa amplitude e elevado conteúdo de energia em altas freqüências, sendo nitidamente distintos dos padrões normais de condução elétrica, nas quais o conteúdo de energia é concentrado em baixas freqüências (1, 2, 3, 4). Originados em regiões estruturalmente lesadas do miocárdio, nas quais a condução do estímulo encontra-se fragmentada e retardada (5, 6, 7, 8), os PTAVs anormais são freqüentemente detectados dentro do segmento ST do ECG, devido ao prolongamento do tempo de ativação das regiões afetadas, retardando o fim da despolarização. onários, não-correlacionados entre si e ao longo do tempo e não-correlacionados com os sinais de ECG, definindo um padrão ergódico (44, 45). Baseados neste conceito, técnicas convencionais de promediação utilizam a média simples para reduzir a interferência de base e melhorar a SNR no sinal de ECG. Entretanto, trabalhos recentes sugerem que os ruídos que contaminam os sinais de ECG apresentam padrões não-estacionários (35) e que são originados da atividade muscular subjacente (35, 39). As técnicas que empregam a média coerente simples para filtragem desse tipo de sinal apresentam baixo desempenho devido à flutuação do ruído de base, prolongando o tempo necessário para se coletar um número adequado de eventos para redução do ruído a níveis satisfatórios para análise. Um exemplo deste fato foi descrito por Berbari e Lander (45). Algoritmos mais eficientes de redução do ruído que melhoram o desempenho do processo de média coerente, reduzindo o número de batimentos necessários para atingir um nível de ruído satisfatório para a análise, têm sido explorados para a identificação precisa dos PTAV, com sucesso (46). Os PTAVs têm sido utilizados na prática clínica como marcadores não-invasivos de lesões miocárdicas que promovem o fenômeno de reentrada, associando-se ao risco de desenvolvimento de arritmias ventriculares graves e morte súbita em indivíduos com alterações que comprometem diretamente o músculo cardíaco (7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18). (Figura 1) Denomina-se Eletrocardiograma de Alta Resolução (ECGAR) à técnica que associa a amplificação de sinais de ECG à média coerente de batimentos para a melhoria SNR e é empregada para detecção dos PTAV (47, 48, 45, 49, 50). No ECGAR, os sinais de batimentos normais consecutivos são sincronamente alinhados, promediados e analisados, utilizando a abordagem em dois domínios: a que analisa o sinal resultante no domínio do tempo e a que decompõe o sinal, integralmente ou em segmentos em séries de funções ortogonais periódicas elementares, efetuando o estudo no domínio da freqüência (Figura 2). Ambas as técnicas são descritas em detalhes na literatura (1, 2, 3, 12, 51). Técnicas alternativas empregando análise de fractais (52), redes neurais artificiais (53) modelos auto-regressivos aplicados ao domínio do tempo (54), filtragem tempo-freqüência ótima (55) têm sido apresentadas na literatura e constituem novos campos de estudo. Todas mostram melhoramentos, embora limitados, na identificação dos PTAV em relação às abordagens clássicas. Vários pesquisadores têm utilizado a análise dos PTAVs como ferramenta para estudar indivíduos acometidos de diversas enfermidades, não diretamente, mas potencialmente relacionadas com a presença de lesão miocárdica ou arritmias graves. Destacam-se estudos sobre acometimento miocárdico pelo vírus da imunodeficiência humana, em adultos e crianças (19, 20, 21, 22), pelo diabete melito (23), pela sarcoidose (24) e aqueles associados à obesidade (25) e ao envelhecimento (26). Entretanto, a lesão miocárdica associada a aterotrombose coronária, especificamente a que causa infarto agudo do miocárdio tem sido intensa e extensamente estudada quanto à presença de PTAV como marcador prognóstico de sobrevida, com significado clínico estabelecido (27). Devido à sua baixa amplitude (1 a 30 mV) e larga banda de freqüência (25-500 Hz), decorrente do trânsito irregular no miocárdio lesado (2, 6, 28), os PTAVs são freqüentemente confundidos com ruídos originados nos processos de aquisição e processamento dos sinais de ECG advindos de diversas fontes (29). Definidos de forma estrita como sinais indesejáveis que contaminam o ECG, a atividade muscular, o contato do eletrodo com a pele, as oscilações da rede elétrica, as interferências eletromagnéticas diversas e os próprios sistemas de instrumentação são importantes fontes de interferência com conteúdo de freqüência semelhante aos PTAV e com amplitudes elevadas. Ao longo do século XX, o conceito das deflexões de alta freqüência foi sendo desenvolvido, principalmente em decorrência do aprimoramento dos equipamentos de captação de sinais e das técnicas de processamentos. A avaliação na prática clínica, levou ao reconhecimento do valor diagnóstico e prognóstico destes sinais, o que será abordado a seguir. Eletrocardiografia de Alta Resolução: Perspectiva da História A captação e o registro das correntes de ação do coração – nome dado ao eletrocardiograma em dezembro de 1925, por ocasião do seminário do prêmio Nobel de medicina de 1924 – teve início no ano de 1903 com a introdução do galvanômetro de corda pelo médico holandês Willem Einthoven (56). O galvanômetro, instrumento capaz de medir correntes elétricas de baixa amplitude (da ordem de 10-11 A), era composto por um fio metálico condutor de diminuta espessura (na época, até 0,04 mm), o qual era esticado como uma corda por um campo elétrico. Ao passar uma corrente, o fio metálico se deslocava da posição de equilíbrio em uma direção a 90o das linhas de A identificação dos PTAV no ECG requer o emprego de técnicas de processamento de sinais avançadas, entre elas as que utilizam alinhamento e média coerente de batimentos (com o objetivo de aumentar a relação sinalruído - SNR), filtragem linear, análise espectral e mapeamento tempo-freqüência (3, 4, 8, 15, 17, 20, 30, 31, 32, 33, 34, 35, 36, 37, 38, 39, 40, 41). Uma condição indispensável para a detecção dos PTAV é a redução eficaz dos ruídos que contaminam os sinais de ECG (42, 43). Classicamente, os ruídos que contaminam o ECG são postulados como eventos estaci35 Editorial Laranjeiras força do campo magnético. A distância deslocada era proporcional ao valor da corrente que passava pelo fio metálico, permitindo sua medição precisa. Fixando-se uma resistência apropriada, em um circuito equivalente pela qual a corrente transitava, seria possível medir-se o potencial elétrico gerado pela sístole cardíaca, considerando-se o princípio básico da Lei de Ohm. Os primeiros registros de potenciais elétricos cardíacos com osciloscópio evidenciaram nitidamente a presença de deflexões rápidas dentro da onda P e no complexo QRS, impossíveis de serem avaliados com os galvanômetros nas condições da época. Foi então proposto que estes “detalhes” do ECG fossem avaliados em indivíduos com obstrução coronária, especulando-se potencial associação entre cardiopatia isquêmica e deflexões rápidas. O emprego do galvanômetro permitiu o registro das fases do ciclo cardíaco e sua correlação com os eventos elétricos do coração e foi rápida e extensamente difundido entre os quatro cantos do mundo, permitindo que, já na terceira década do século XX, diversos distúrbios de condução e anomalias elétricas do coração fossem detectadas. Tratava-se de um notável avanço na propedêutica médica (Figura 3). No início da década de 50, Paul H. Langner Jr. (42, 58), na época médico da companhia de seguros Mutual Life Insurance (Philadelphia, PA, EUA), descreveu a presença de “detalhes” no complexo QRS como entalhes (notches), empastamentos (slurs), enrugamentos (beadings) e alargamento do ápice da onda R ou do ponto mínimo das ondas Q ou S, utilizando osciloscópio de raios catódicos conectados a amplificador de sinais de ECG, em indivíduos sem história, sinais ou sintomas de doença cardíaca prévia (42). Os indivíduos eram mantidos relaxados e livres de tremores em uma sala eletrostaticamente isolada e aterrada. As derivações que menos apresentavam estes detalhes eram D1, aVR, V5 e V6, o que o fez acreditar que fatores relacionados ao ponto de captação pudessem modificar a forma de onda. Langner batizou este método de Eletrocardiografia de Alta Fidelidade (“High Fidelity Electrocardiography”, Langner, [42]). No início dos anos 30, entretanto, William Reid e Samuel Caldwell (57), respectivamente, do Hospital Memorial de Boston e do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, estudando a resposta em freqüência do galvanômetro argumentaram três grandes limitações em seu emprego. A primeira era que enquanto o galvanômetro respondia à corrente gerada pela diferença de potencial elétrico do coração, o potencial registrado, entretanto, apesar de correlacionado não seria necessariamente proporcional à mesma. Esta não-linearidade deveria ser considerada quando às resistências do circuito equivalente (corpo humano e contato do eletrodo) eram levadas em consideração para o cálculo da tensão elétrica gerada pelo coração. A segunda era decorrente da variação da resistência entre derivações em um mesmo indivíduo e de indivíduo para indivíduo. Tornava-se, assim, necessária a mudança da tensão sobre a corda do galvanômetro para se permitir uma calibração adequada, o que alterava a resposta em freqüência do equipamento. A terceira, e talvez a mais significativa, era a resposta em freqüência do galvanômetro, diretamente relacionada com a sensibilidade para detecção de variações rápidas de corrente (56). Um galvanômetro “padrão” apresentava uma resposta com amplitude linear até aproximadamente 20 Hz e freqüência de corte em -3 dB em torno de 60 Hz (Figura 4). Este efeito limitava o conteúdo em freqüência do sinal medido, impedindo assim a identificação de componentes de alta freqüência. Em 1953, Langner (58) comparou um grupo de 21 indivíduos pós-infarto do miocárdio (IAM) com outro de 60 indivíduos controle normais, utilizando a técnica de alta fidelidade previamente descrita, e identificou claramente a presença de deflexões de alta freqüência (DAF) dentro do complexo QRS em 14 dos 21 indivíduos (66,7%) pósIAM, enquanto nenhum dos indivíduos do grupo controle apresentava significativo aumento do número de entalhes durante a despolarização ventricular. Analisando detidamente as figuras apresentadas por Langner neste trabalho, pode-se notar que indivíduos pós-IAM de parede inferior apresentam DAF mais localizadas na região terminal do complexo QRS enquanto que aqueles declarados pósIAM de parede anterior apresentam as mesmas DAF concentradas à fase inicial da despolarização ventricular. Langner também reporta que não encontrou entalhes de alta freqüência dentro da onda T, especulando que o mecanismo de propagação da frente de onda de repolarização, diferente daquele durante a despolarização ventricular, é suave, inibindo aparecimentos destes detalhes. O autor, por outro lado, associa a aparecimento de entalhes de alta freqüência com a presença de regiões de fibrose miocárdica, e especula se seriam tanto marcadores de doença aterosclerótica coronária quanto indicadores de lesão miocárdica. Estes achados seriam mais tarde confirmados por Kulakowski et al. (59), Rosas et al. (60) e Barbosa et al. (18), utilizando técnicas de processamento digital. Cientes destas limitações, Reid e Caldwell desenvolveram um sistema de captação de sinais acoplado a um osciloscópio, equipamento utilizado para registro de potenciais de variação rápida em biologia. Embora a sensibilidade do galvanômetro para registro de correntes de baixa amplitude fosse significativamente maior do que a de um osciloscópio, a freqüência de corte passa-baixas deste último era significativamente mais alta, da ordem de 400 Hz a -3 dB. Não obstante, o osciloscópio media diretamente a diferença de potencial gerado pelo coração e não a corrente, mas era necessário uma pré-amplificação do sinal captado para que pudesse sensibilizar o registrador do osciloscópio. Os primeiros osciloscópios eram do tipo bifilamentar, utilizando uma agulha móvel feita de elemento ferro. Alguns destes equipamentos sofriam de histerese, isto é, para um mesmo valor de tensão, a amplitude de uma deflexão que represente aumento de tensão não é a mesma de outra que represente redução. O emprego de osciloscópio de raios catódicos, mais tarde, veio resolver alguns destes problemas potenciais. No início da década de 60, Langner e Geselowitz (61) estudaram o conteúdo de freqüência dos sinais de ECG de indivíduos normais e pós-IAM, utilizando filtros passa-altas e passa-baixas, e identificaram que os DAF anormais apresentavam conteúdo de freqüência acima de 250 Hz e foram quantificados dentro do segmento ST. Em 1962, os mesmo autores (62) demonstraram que os sinais de primeira derivada eram capazes de aumentar a capacidade de detecção das DAF. Por representar um efeito 36 Editorial Laranjeiras mais em repouso digitalizados a 40 kHz e, aplicando a média coerente de sinais para reduzir o efeito do ruído de base, verificaram o efeito da filtragem passa-baixas sobre a forma de onda das DAF. Verificaram que para a construção de um equipamento de monitorização, o limite de corte passa-baixas para identificação destes sinais deveria ser acima de 150 Hz e estabeleceram os limites de normalidade do espectro de amplitude de Fourier para freqüências entre zero e 10 kHz. passa-altas, a primeira derivada limita o conteúdo de baixa freqüência do sinal, e, portanto, a expressão de variações lentas, e amplifica o conteúdo de alta freqüência, ou seja, as variações rápidas. Em 1966, Langner e Lauer (63) utilizando o ECG de alta fidelidade compararam a prevalência à distribuição de componentes de baixa e alta freqüência em dois grupos de indivíduos, controles normais e pós-IAM, e demonstraram que enquanto a distribuição dos primeiros não diferia, a prevalência de DAF no segundo era maior do que no primeiro grupo, com odds ratios calculado de 133,0 (p<<0,0001). Verificaram, adicionalmente, que de 20 indivíduos pós-IAM com ECG convencional normal, 75% apresentavam DAF. Nesta época, os autores denominaram a técnica empregada de Eletrocardiografia de Alta Freqüência (“High Frequency Electrocardiography”, Langner e Lauer, [63]). A associação entre DAF e distúrbios da condução intraventricular decorrentes de lesão miocárdica e a estimativa das características espectrais destes sinais estavam aparentemente estabelecidas, mas o significado clínico prognóstico destes achados não havia sido, ainda, estabelecido. Em 1969, Han (op. cit. Scherlag e Lazzara [64]) registrou a presença de atividade elétrica anormal de alta freqüência, na região terminal e após o complexo QRS, na superfície epicárdica de cães. Os mesmos potenciais foram registrados por Durrer et al. em 1971 (64), Boineau e Cox (64) e Scherlag et al. (64) que encontraram estreita correlação entre estes potenciais e arritmias ventriculares. Waldo e Kaiser (9, 64, 69) registraram atividade elétrica contínua entre batimentos normais e ectópicos e entre batimentos ectópicos subseqüentes, demonstrado associação entre arritmias reentrantes e potenciais de alta freqüência observados durante o ritmo sinusal. Estas evidências levaram Berbari et al. (9) a pesquisar no ECG de superfície a presença de potenciais anormais na região terminal do complexo QRS. Induzindo IAM experimentais em cães, utilizando ligadura da artéria coronária descendente anterior, e por meio de técnicas de média coerente de sinais de ECG previamente desenvolvidas, estes autores observaram que a presença de potenciais anormais na região do segmento ST estava relacionada à indutibilidade de arritmias ventriculares e, temporalmente, à presença destes potenciais na superfície epicárdica. Devido à baixa amplitude, para identificação destes potenciais (denominados potenciais tardios), era necessária a aplicação de filtros passa-alta para eliminar as formas de onda básicas do ECG. Pode-se perceber nitidamente que esses potenciais anormais apresentavam características espectrais de alta freqüência, semelhantes as DAF descritas por Flowers et al. (6) e Langner e Lauer (63). Entretanto, esta associação não estava definitivamente confirmada. No mesmo ano, Langner et al. (5) induziram experimentalmente IAM em cães, injetando formalina no miocárdio ventricular, e correlacionaram as alterações anatômicas documentadas por necrópsia dos animais com o aparecimento de DAF no complexo QRS. Demonstraram, assim, que a necrose miocárdica correlaciona-se com o aparecimento de DAF no complexo QRS e concluíram que o aparecimento destas alterações decorre da fragmentação da frente de onda de despolarização. Flowers et al. (6) trabalhando no hospital dos Veteranos em Forrest Hills (Memphis, Tennessee, EUA) correlacionaram os resultados anatômicos obtidos por necrópsia com exames de ECG de alta fidelidade realizados em vida nos mesmos indivíduos e concluíram que a quantidade de DAF era direta e fortemente correlacionada ao peso do coração e à presença de necrose miocárdica, sugerindo que as propriedades anisotrópicas do miocárdio poderiam estar acentuadas e intensificadas por alterações estruturais e funcionais e que a detecção de DAF pode se tornar um método útil de avaliação de doença cardiovascular. Aparentemente estavam lançadas as bases experimentais e clínicas que associaram de maneira incontestável a presença das DAF com lesão estrutural miocárdica. Entretanto, da maneira como foi exposta, a associação DAF-lesão miocárdica não foi suficiente para motivar o surgimento de novas pesquisas na mesma linha e permaneceu em âmbito de pesquisa. Era necessário algo mais marcante: que definisse o real valor preditivo clínico daquelas alterações observadas no ECG. O desenvolvimento de teorias aplicadas ao processamento digital que enfocavam a melhor qualidade do sinal analisado por meio da média coerente, correlacionando alinhamento e interferências sobre o sinal, demonstravam não somente a difusão do interesse sobre o tema, mas deram novo impulso à sua aplicação na prática clínica. Uijen et al. (31) desenvolveram a teoria de detecção e alinhamento de sinais aplicados à identificação de componentes de alta freqüência no interior do complexo QRS. Ribeiro et al. (70) analisaram as propriedades estatísticas dos sinais de ECG e as conseqüências dos erros de alinhamento para detecção de potenciais do feixe de His. Diversas teses de mestrado foram desenvolvidas no Programa de Engenharia Biomédica da COPPE, desde 1975, com o objetivo não somente de analisar as propriedades estatísticas dos sinais de ECG mas, principalmente, desenvolver métodos e sistemas de processamento de sinais para identificação de potenciais de baixa amplitude e alta freqüência no segmento PR e na onda P (67, 68, 71, 72, 73, 74). Com o desenvolvimento e a difusão dos computadores entre os centros de pesquisa norte-americanos, métodos digitais de aquisição e processamento de sinais tornaram-se disponíveis ao final dos anos 60, o que estimularia instituições e pesquisadores a empregá-los em substituição aos métodos analógicos convencionais. Berbari (op. cit. Scherlag e Lazzara [64]) aluno de mestrado da Universidade de Miami registrou pela primeira vez o potencial de alta freqüência do feixe de His na superfície do organismo, no segmento PR do ECG de superfície, aplicando técnica de processamento digital associada à média coerente de sinais. Os potenciais de alta freqüência do feixe de His foram confirmados por Flowers et al. (65), Wiederhecker (66), Marini (67) e Werneck (68). Em 1974, Golden et al. (30) do projeto Skylab da agência espacial norte-americana (NASA), cientes da importância dos achados de Langner e Flowers nas duas décadas anteriores, analisaram o ECG de indivíduos nor37 Editorial Laranjeiras A avaliação quantitativa, entretanto, dos potenciais tardios somente foi possível no início dos anos 80, com a introdução da técnica de processamento de sinais descrita por Simson et al. (7). Simson entendeu que a aplicação do filtro Butterworth de forma causal gerava artefatos na região terminal do complexo QRS (ringing) que tornava impossível a identificação destes potenciais. Uma maneira inventiva utilizada pelo autor foi aplicar o filtro ao sinal digitalizado, devido em duas metades: na primeira metade, que vai do início do registro até a metade do complexo QRS, o filtro é aplicado de forma causal. Na segunda metade, o registro era invertido, fazendo com que o final do registro fosse transladado para o início, permitindo a aplicação do filtro de forma não causal ou retrógrada. Este processo permitiu que os artefatos que seriam gerados na região terminal do complexo QRS pela aplicação causal do filtro fossem deslocados para dentro do próprio complexo. Devido às características de fase do filtro Butterworth, sinais de alta freqüência sofriam pouco ou nenhum deslocamento, possibilitando sua identificação precisa com o emprego das três derivações XYZ ortogonais de Frank, classicamente relacionadas ao vetorcardiograma. Simson et al. (7) demonstraram a presença de potenciais tardios anormais na região do segmento ST, em cães submetidos a IAM experimental por embolização coronária, que se correlacionavam em duração e instante de tempo com os potenciais subepicárdicos registrados invasivamente. A técnica de Simson foi amplamente reconhecida, sendo considerada um marco fundamental na pesquisa. análise tempo-freqüência para identificação de potenciais tardios anormais, como crítica ao método empregado por Cain et al. (2), que apresentava baixa reprodutibilidade. Utilizando a análise espectral de janelas deslizantes sobre os complexos QRS, puderam estimar o conteúdo de freqüência ao longo do tempo e correlacioná-los com das DAF. Entretanto, foram Kellen et al. (3) os primeiros a empregar um método de mapeamento tempo-freqüência para analisar as DAF intra-QRS em indivíduos com arritmias ventriculares. O método proposto mostrou-se robusto e reprodutível e contribuiu para superar a limitação do método de Simson (8) na avaliação de potenciais tardios na presença de bloqueio completo de ramo. Malik et al. (4), Ginefra et al. (16) e Barbosa et al. (75) avaliaram criticamente o mapeamento tempo-freqüência e verificaram que apresentava vantagens principalmente do que se refere à avaliação prognóstica de morte cardíaca sobre o método de Simson. Desta forma, estava fechado o ciclo iniciado por Langner em 1952 na busca pelo significado clínico e, principalmente, pela caracterização eletrofisiológica das DAF no ECG de superfície. Não obstante, as pesquisas sobre o tema persistem até os dias atuais. Não somente as novas implementações no que se referem às tecnologias de processamento de sinais, mas também aos estudos sobre a aplicabilidade do ECGAR na pratica clínica têm demonstrado ser este um método bastante robusto no que tange às suas capacidades prognóstica e diagnóstico (18, 76, 77). Aparentemente, o termo Eletrocardiografia (ou eletrocardiograma) de Alta Resolução (“High Resolution Electrocardiography”) foi introduzido na literatura na segunda metade da década de 60. O termo foi empregado por Krohn e Caughey, em 1969 (78), no artigo em que foi documentada, possivelmente pela primeira vez, sua utilização na literatura indexada (ISI-Web of Science). O termo é utilizado até os dias atuais. Desde os primórdios, o ECGAR esteve condicionado ao emprego de técnicas digitais de processamento de sinais, o que significa que o reconhecimento da capacidade de melhorar a resolução de sinais, devido à contaminação por interferências, caminhou paralelamente ao desenvolvimento tecnológico. Em 1983, Simson et al. (28) propuseram a utilização de uma grandeza que denominaram de magnitude vetorial ou vetor magnitude, representada pela raiz quadrada da soma dos quadrados das três derivações filtradas. A justificativa para a aplicação deste processo era que se o sentido da frente de onda geradora de potenciais anormais fosse ortogonal a uma das derivações, a potência total do sinal seria conservada na soma de todas as derivações ortogonais, supostamente aumentando as chances de se identificar os potenciais tardios anormais. O emprego do método descrito em 1981, em indivíduos com taquicardia ventricular, apresentou fortes evidências de que os potenciais tardios anormais representavam no ECG de superfície a fragmentação da frente de onda de ativação ventricular, registrada invasivamente sobre a região epicárdica lesada. Era criada, assim, a Eletrocardiografia de Média Coerente de Sinais (“Signal Averaged Electrocardiography”, Simson et al. [8]). Nos primórdios da utilização de técnicas digitais para processamento de sinais de ECG, Hon e Lee (79) foram seguramente um dos precursores. Para análise do ECG fetal, captado tanto no couro cabeludo dos bebês durante o trabalho de parto quanto sobre o abdômen das progenitoras, os autores empregaram a média coerente sinais para anular a interferência dos complexos QRS maternos, com o objetivo de evidenciar os complexos QRS fetais. Utilizando não mais que 50 complexos QRS fetais, os autores conseguiram isolar a batimento fetal de forma significativamente clara. Na época, o surgimento dos chamados computadores CAT (“Computer Averaged Transients”) permitiu o desenvolvimento destas técnicas de processamento digital de sinais, ao mesmo tempo em que teorias relacionadas à melhoria da SNR em diversas situações podiam ser demonstradas na prática (79, 80). Desta forma, pode-se afirmar que desde o início da década de 60, o processo de média coerente de sinais já era conhecido, entretanto sua aplicação prática era pontual. Entretanto, o termo Eletrocardiografia de Média Coerente de Sinais (do inglês “Coherent Signal-Averaged Electrocardiography” ou simplesmente “Signal-Averaged Cain et al. (2) empregando análise espectral da região terminal do complexo QRS e início do segmento ST demonstraram que os potenciais tardios ventriculares anormais apresentavam elevado conteúdo de alta freqüência, permitindo evidenciar diferenças entre os registros do ECG de superfície de indivíduos normais e pós-IAM sem arritmias ventriculares repetitivas daqueles pós-IAM com arritmias ventriculares graves. Uma das limitações do emprego de análise de potenciais tardios ventriculares introduzida por Simson (8) era presença de distúrbio de condução intraventricular como bloqueios completos de ramo, mormente à direita, mascarando potenciais tardios anormais em condições nem sempre patológicos. A quantificação das DAF intra-QRS surgiria somente em 1990 e 1991, respectivamente, com os trabalhos de Lander et al. e Kellen et al. Lander et al. foram, portanto, os primeiros a descrever o emprego da assim chamada 38 Editorial Laranjeiras Electrocardiography”. O termo “Coherent Signal-Averaging Electrocardiography” também foi empregado com a mesma tradução) somente introduzido na literatura mais tarde, em 1983 com os trabalhos de Simson et al., não foi bem aceito na língua portuguesa, sendo freqüentemente empregado o termo Eletrocardiografia de Alta Resolução para se referir ao método. São encontradas, na literatura, outras referências ao método com as denominações de Eletrocardiografia de Alta Amplificação (“HighAmplification Electrocardiography”) e Eletrocardiografia de Baixo Ruído (“Low Noise Electrocardiography”). O termo Eletrocardiografia de Alta Amplificação foi utilizando pela primeira vez na cidade de Nice, na França, em 1980, por ocasião do “Primeiro Simpósio Internacional sobre Eletrocardiografia de Alta Amplificação”, e foi empregado até recentemente (81). O termo Eletrocardiografia de Baixo Ruído não teve muita aceitação, sendo empregado por El-Sherif et al. (43). Outros termos podem ter surgido ao longo destes 100 anos de história da eletrocardiografia, mas nenhum tem marcado tanto quanto a Eletrocardiografia de Alta Resolução, que permanece intocado desde 1978. Na figura 5 é apresentada uma síntese da evolução da nomenclatura relativa às deflexões de alta freqüência ao longo do último século. dos Medline (BioMedNet [82]) com as palavras chaves “High and Resolution and ECG”, “Signal and Averaged and ECG” e “Signal and Averaging and ECG” foram encontrados, entre 1966 e 2002, respectivamente, 290, 625 e 195 trabalhos publicados na literatura. A pesquisa ao ISI-Web of Science com as palavras chaves “High and Resolution and ECG” ou “Signal and Averaged and ECG” foram encontrados 864 trabalhos publicados na literatura indexada, no período. Em outra base de dados Medline (BIREME [83]), de 1966 a 2002, utilizando as palavras-chaves “Signal and Averaged and ECG” e “High and Resolution and ECG” foram encontrados, respectivamente, 1155 e 548 trabalhos publicados. Nota-se uma derivada positiva do número de publicações com os termos “Signal and Averaged and ECG”, até a primeira metade da década de 1990, cujo zênite ocorreu entre 1995 e 1996, e a partir da segunda metade da década de 90, a derivada se torna negativa. Acompanha-se, paradoxalmente, um crescimento constante do número de publicações com o índice “High and Resolution and ECG” (Figura 6). Um fato interessante a se destacar é que as primeiras publicações nas décadas de 70 e 80 foram dirigidas, preferencialmente, para termo “High Resolution” ECG enquanto o termo “Signal Averaged” ECG passou a ser empregado nas publicações nos anos subseqüentes, suscitando a inferência de que o enfoque sobre o tema apresentou uma mudança: O que estava sendo avaliado era a média de sinais e não necessariamente obtinha-se sucesso em aumentar a SNR. Didaticamente, é possível distinguir na história duas fases distintas do que hoje denominamos de eletrocardiografia de alta resolução: A fase Analógica, em que se utilizavam amplificadores de baixo ruído e locais especiais para aquisição e processamento dos sinais de ECG com o objetivo de evidenciar visualmente deflexões de alta freqüência, e a fase Digital, em que o emprego de computadores digitais com capacidade para processo de média coerente de sinais de ECG e armazenamento de informações permitiram identificar e quantificar as deflexões em termos de duração e amplitude e correlacioná-las de forma precisa e objetiva aos mecanismos de arritmia por reentrada. Para identificar o crescente interesse da comunidade científica na técnica de eletrocardiografia de alta resolução, analisaremos, a seguir, a produção científica registrada nos bancos de dados Medline. No período de derivada positiva (de 1983 a 1992), todos os artigos consultados ao Medline no período ressaltavam as qualidades e as vantagens do método, e buscavam novas aplicações para avaliação do status cardíaco em diversas afecções sistêmicas. O poder preditivo positivo do ECGAR (84, 76) para taquicardia ventricular ou morte súbita 12 meses após infarto agudo do miocárdio é estimado entre 2% e 40%, e a sensibilidade, de 60% a 100% em indivíduos com doença arterial coronariana e taquicardia ventricular sustentada com PTAV (85), poderiam ser considerados baixos para um método capaz de identificar o mecanismo eletrofisiológico da arritmia. Entretanto, a robustez do método está no fato de que indivíduos normais têm de 94% a 100% de chance de não ter PTAV (alta especificidade), enquanto a ausência de PTAV mantém chance de 1% a 5% (alto valor preditivo negativo), de eventos ao final deste período (12, 27). Eletrocardiografia de Alta Resolução: Produção Bibliográfica na fase Digital No ano de 2003 foi comemorado o centenário da invenção do galvanômetro de corda, que dava início à era da Eletrocardiologia. Nos 100 anos que se sucederam, diversas mudanças foram observadas tanto na concepção dos equipamentos quanto na sua forma de aplicação, proporcionando uma das maiores conquistas da medicina frente ao combate às mazelas cardiovasculares. Diversos autores demonstraram grande entusiasmo inicialmente, vislumbrando um método não-invasivo capaz de identificar o mecanismo de arritmia grave e de importância ímpar na clínica cardiológica. Assim, muitos protocolos de análise diferiam quanto ao método, tipo de filtro e valores de ruído residual ótimo para análise, gerando resultados muitas vezes de difícil comparação. Várias tentativas de uniformização foram feitas por meio de colegiados importantes (12, 27), o que influenciou positivamente no desenvolvimento de equipamentos e, conseqüentemente, de novos estudos sobre o assunto. No Brasil, o primeiro consenso para normatização dos equipamentos e técnicas para a realização de exames ECGAR foi publicado em 2003 por uma força tarefa especial da Sociedade Brasileira de Cardiologia, estabelecendo-se na era do desenvolvimento de tecnologias no estado–daarte (86). Os primeiros trabalhos em ECGAR, empregando a técnica de média coerente, datam, entretanto, do início da década de 1960, com o desenvolvimento dos primeiros computadores “CAT” (“Computer Averaged Transients”), ressaltando-se os trabalhos de Hon e Lee (79) e de Edward J. Berbari (64). Hon e Lee isolaram o batimento fetal enquanto Berbari, oito anos mais tarde, em sua tese de mestrado pela Universidade de Miami em 1973, identificou a presença de potenciais do feixe de His no segmento PR do ECG superfície. A partir desta data, o tema representou grande interesse nos meios de pesquisa, acompanhado de crescimento do número de trabalhos publicados na literatura. Em buscas organizadas a uma grande base de da39 Editorial Laranjeiras Eletrocardiografia de Alta Resolução: Impacto na Conclusão Estratificação de Risco de Arritmias Potencialmente Fa- O eletrocardiograma de alta resolução, método com- tais após Infarto do Miocárdio plementar não-invasivo empregado tanto na identificação O emprego de métodos não-invasivos para de focos arritmogênicos no coração quanto na estratificação de risco de arritmia ou morte súbita tem sido estratificação de risco de arritmias cardíacas, tem espaço um dos alvos da medicina contemporânea, objetivando significativo tanto na literatura quanto na prática clínica. aumentar a eficácia, reduzir os custos e promover o bem A história mostrou em suas entrelinhas e por cami- estar dos pacientes, na prática médica que emprega mé- nhos muitas vezes tortuosos que desde os primórdios da todos complementares de diagnóstico. Por outro lado, a eletrocardiografia pequenas deflexões observadas durante análise da capacidade diagnóstica e prognóstica de exa- a ativação ventricular são, em condições adequadas de mes não-invasivos é uma proposta que visa identificar captação e de processamento de sinais, conseqüência entre diferentes métodos complementares aqueles que elétrica de leões miocárdicas significavas, muitas vezes demonstram valor significativo e independente, em dife- sub-clínicas, e meritórias de acompanhamento médico. rentes ambientes clínicos e entre diferentes entidades O desenvolvimento e a implementação de técnicas nosológicas. Entre as condições clínicas mais estuda- que solidifiquem e incrementem a eletrocardiografia con- das destaca-se a avaliação prognóstica do infarto agudo vencional e, que no decorrer da história, possibilitaram do miocárdio em sua fase sub-aguda. quantificar adequadamente os potenciais ventriculares O eletrocardiograma de alta resolução demonstra arritmogênicos devem ser fortemente estimuladas, com ser um método eficaz na avaliação do risco de arritmias o objetivo de colaborar no diagnóstico, no tratamento e na potencialmente fatais. O exemplo marcante é a meta-aná- avaliação prognóstica de indivíduos com doença cardíaca lise conduzida pelas instituições The National Health estrutural sob risco de desenvolvimento de arritmias car- Institute, The National Heart, Lung and Blood Institute e os díacas potencialmente fatais. As linhas de pesquisas que Institutos do Coração de Maryland e Mineapolis87. Este integrem áreas conexas entre matemática médica, enge- estudo comparou os trabalhos publicados nos últimos 20 nharia biomédica e cardiologia clínica devem ser anos, que envolviam mais de 100 pacientes, apresenta- priorizadas, enfocando entre outros, a implementação de vam seguimento clínicos de até dois anos e que analisa- algoritmos otimizados para eliminação de interferências vam o valor prognósticos para eventos arrítmicos graves – que acelerem a convergência do ruído residual da média definidos como morte súbita, fibrilação ventricular e coerente, a pré-seleção de batimentos pelo histograma taquicardia ventricular sustentada – de diferentes de intervalos RR, técnicas de rede neural e análises não- marcadores invasivos e não-invasivos, entre eles a pre- lineares, a aplicação apropriada de filtros lineares e não- sença de arritmias graves e a variabilidade da freqüência lineares no domínio do tempo e, finalmente, mas não cardíaca ao eletrocardiograma ambulatorial (Holter), a menos importante, no domínio da freqüência, o emprego análise da fração de ejeção do ventrículo esquerdo, o de técnicas de mapeamento tempo-freqüência para iden- eletrocardiograma de alta resolução e a estimulação tificar potenciais elétricos cardíacos anormais durante as ventricular invasiva. fases iniciais da ativação ventricular, preditores de arritmias A síntese da meta-análise entre os diferentes méto- ventriculares potencialmente fatais. dos estão apresentados na Tabela I. No total, foram avali- Ao analisar esta revisão, o observador deve, neces- ados 25.543 indivíduos em 44 ensaios clínicos entre 1984 sariamente, considerar não somente o benefício obtido e 2000. A meta-análise assegurou que o risco anual de com o desenvolvimento da medicina curativa e preventiva, eventos pré-exame, bem como a influência de condutas mas também as possibilidade alcançadas com o desen- terapêuticas instituídas, como terapias de revascularização volvimento de novas modalidades terapêuticas que, do miocárdio, em todos os trabalhos analisados não eram alicerçadas em bases fisiopatológicas, comprovadas in estatisticamente significativas, com a finalidade de elimi- vivo por métodos não-invasivos mais complexos, permi- nar o viés que consiste na pré-seleção de indivíduos mais tem identificar e intervir sobre o perfil evolutivo intra- e ex- graves, elevando assim artificialmente a taxa de eventos tra-hospitalar das doenças cardiovasculares. entre os grupos analisados. O ECGAR se destaca como método não-invasivo com elevado valor prognóstico para eventos arrítmicos pós-infarto do miocárdio, entre os outro métodos. 40 Editorial Laranjeiras FIGURA 1 Representação do mecanismo de geração de potencial tardio da ativação ventricular (PTAV) em uma região de reentrada, localizada na periferia de uma cicatriz de infarto do miocárdio antigo. No painel (A) observa-se uma fotomicrografia da região de infarto, onde observam-se regiões de miocárdio normal interpostas por regiões de fibrose. A passagem do estímulo elétrico é suave (seta reta à esquerda) nas regiões normais e fragmentada na regiões com fibrose (setas curvas descontínuas á direita), prolongando o tempo de ativação. No painel (B), prolongamento da atividade elétrica captado no ECG de superfície, na forma de PTAV e, em (C), a arritmia ventricular repetitiva desencadeada quando a atividade prolongada encontra regiões de miocárdio adjacentes já despolarizadas (seta com asterisco), completando a reentrada. 41 Editorial Laranjeiras FIGURA 2 Fluxograma de aquisição e processamento no Domínio do Tempo (Figura 2a) e apresentação das variáveis do Vetor Magnitude e de suas representações em relação ao período da ativação ventricular (Figura 2b). Os valores das variáveis do vetor magnitude e do ruído residual são apresentados na caixa destacada da figura. 42 Editorial Laranjeiras FIGURA 3 Sinal eletrocardiográfico de alta resolução da derivação X de Frank (resolução A/D 14 bits, amostragem 10 kHz) após a media coerente (Banco de Dados HIV, Programa de Engenharia Biomédica, COPPE-UFRJ e Sexta Enfermaria de Clínica Médica, Hospital Universitário Gafreé e Guinle, UNIRIO). Deflexões de alta freqüência são encontradas na onda P (seta da esquerda) e no final do complexo QRS (dupla seta da direita), correspondendo à fragmentação na condução do estímulo elétrico. No quadro em destaque, a região do final do complexo QRS amplificada FIGURA 4 Curvas de resposta em freqüência (diagrama de Bode) de um galvanômetro de corda típico (curva A) e de um sistema de amplificador acoplado a um osciloscópio (curva B). Notar que devido à freqüência de corte passa-baixas do osciloscópio (400 Hz a -3 dB) ser mais alta do que a do galvanômetro (60 Hz a -3 dB), os componentes de alta freqüência do sinal eletrocardiográfico são mais bem reproduzidos. (Dados retirados de: Reid, WD; Caldwell, SH, 1933, “Research in Electrocardiography”, Annals of Internal Medicine, vol. 7, pp. 371, Figura 1) 43 Editorial Laranjeiras FIGURA 5 Uma breve história da eletrocardiografia de alta resolução, contada pela régua do tempo. Nos 100 anos de evolução da eletrocardiografia e de suas aplicações na medicina, o interesse nas deflexões de alta freqüência tanto durante a ativação ventricular quanto a ativação atrial estiveram presentes desde os primórdios dos registros eletrocardiográficos. O que nos espera no novo milênio? FIGURA 6 Série temporal do número de publicações por período. Notar o crescimento vertiginoso de publicações, com o ápice na metade dos anos 90, com a busca por “Signal and Averaged and ECG”. Nota-se, entretanto, que com a busca por “High and Resolution and ECG”, o número de publicações mantêm-se estável. 44 Editorial Laranjeiras Tabela I –Meta-análise envolvendo diferentes métodos diagnósticos para detecção de eventos arrítmicos graves em até 24 meses de seguimento * Eletrocardiograma de alta resolução ** Taquicardia ventricular sustentada ou fibrilação ventricular. *** Variabilidade da freqüência cardíaca **** Fração de ejeção do ventrículo esquerdo ***** Estimulação ventricular programada ****** “odds-ratio”, corrigido para incidência anual e normalizada (regra de três) para ECGAR. = Estimação Baseada na referência 87. == Analisados ao eletrocardiograma ambulatorial/Holter 24h REFERÊNCIAS 1) Denes P, Santarelli O, Hauser RG, Uretz EF. “Quantitative Analysis of the High-frequency Components of the Terminal Portion of the Body Surface QRS in Normal Subjects and in Patients with Ventricular Tachycardia”. 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RELATO DO CASO Com 1 ano e 1 mês de idade, a criança com o diagnóstico de Síndrome de Goldenhar associada a cardiopatia congênita acianótica com hiperfluxo pulmonar – comunicação interventricular (CIV) - compareceu ao ambulatório para avaliação e conduta. O paciente apresentava dificuldade de ganho ponderal e infecções de vias aéreas superiores de repetição. Fazia uso de furosemida e digoxina. Palavras-chave: hipertensão arterial pulmonar, sildenafil, cardiopatia congênita. ABSTRACT D.G.S., a two-year old boy, diagnosed with multiple VSDs (Ventricular Septal Defect), underwent ventriculoseptoplasty. He developed post-operatory pulmonary arterial hypertension, and treatment with oral sildenafil was started. The outpatient follow-up showed progressive decrease of the pulmonary arterial pressure. A Síndrome de Goldenhar, também conhecida como Displasia Oculoauriculovertebral (2), é um defeito congênito causado por herança multifatorial e que envolve estruturas originadas do 1º e 2º arcos vertebrais. Sua incidência é de aproximadamente 1:5.000 em 25.000 nascidos vivos, sendo mais comum no sexo masculino. Geralmente afeta um lado da face e suas características incluem a formação parcial ou a ausência da orelha; hipoplasia unilateral maxilar e malar, alterações oculares, alterações auditivas e fusão de ossos do pescoço. Descrições recentes associam malformações congênitas cardíacas, pulmonares e renais. Key-words: pulmonary arterial hypertension, sildenafil, congenital heart disease. INTRODUÇÃO O aumento da resistência vascular pulmonar em várias formas de hipertensão arterial pulmonar (HAP) está associado a disfunção endotelial, causando uma diminuição na produção de óxido nítrico pelo endotélio vascular pulmonar (1). Portadores de cardiopatias congênitas com hiperfluxo pulmonar podem desenvolver aumento progressivo da pressão arterial pulmonar. No pós-operatório, esta alteração pode ser potencializada pelo by-pass cardiopulmonar nas horas que seguem o ato cirúrgico. Dessa forma, drogas vasodilatadoras, como o óxido nítrico, têm sido utilizadas amplamente no pré e pós-operatório de pacientes com HAP e seus benefícios já foram bastante discutidos. O ecocardiograma Doppler de 18/12/2003 evidenciou CIV perimembranosa ampla, CIVs musculares em 1/ 3 médio e apical do septo interventricular, ausência de gradiente entre o ventrículo esquerdo (VE) e o ventrículo direito (VD) pela CIV, apontando pressões sistólicas em VD semelhantes ao VE, artéria pulmonar e aorta e importante dilatação de artérias pulmonares. A criança foi submetida a cateterismo cardíaco em 22/01/04 para avaliação de pressões e reatividade vascular pulmonar. O exame confirmou o diagnóstico de CIV perimembranosa ampla, pequena CIV muscular trabecular e HAP com importante resposta à administração de O2 e drogas. Novos estudos sobre drogas que, por diferentes reações químicas intracelulares geram vasodilatação pulmonar, têm sido realizados. Inibidores de fosfodiesterases, como o sildenafil, demonstraram ter a mesma eficácia como vasodilatadores pulmonares que o óxido nítrico. * Médico residente do Serviço de Cardiologia da Criança e do Adolescente do INCL. ** Médica do Serviço de Cardiologia da Criança e do Adolescente do INCLL. *** Chefe do Serviço de Cardiologia da Criança e do Adolescente do INCL. e-mail: [email protected] 47 Editorial Laranjeiras Relato de Caso Em 26/01/2004, pesando 6.700g, a criança foi submetida a cirurgia (fechamento da CIV perimembranosa) evoluindo com dissociação A-V na saída de CEC, sendo então instalado marca-passo externo provisório. O pós-operatório (P.O.) imediato decorreu sem outras intercorrências e sem alterações hemodinâmicas significativas. No 4º dia de P.O., o paciente evoluiu com bloqueio átrio-ventricular total (BAVT) e não responsivo à corticoterapia. No 14º dia de P.O., apresentou insuficiência cardíaca descompensada pelo BAVT, e 3 dias depois foi instalado marcapasso epicárdico definitivo, sem intercorrências. A evolução foi satisfatória, com estabilização hemodinâmica, e a criança recebeu alta hospitalar em 27/02/2004. Durante acompanhamento ambulatorial no pós-operatório, a criança apresentou congestão pulmonar evidenciada clinica e radiologicamente, necessitando de doses altas de diuréticos. Marca-passo normofuncionante. Foi realizado ecocardiograma pós-operatório em 15/06/2004, o qual demonstrou retalho que fecha a CIV fixo. A pressão sistólica calculada em VD pela regurgitação tricúspide foi de 80 mmHg. A criança apresentou aumento de átrio direito (AD) com desvio do septo para esquerda, dilatação de artéria pulmonar, com fluxo sugestivo de elevação da pressão pulmonar. A função de VE estava preservada. Apesar da medicação utilizada (furosemida e espironolactona), a criança manteve os sintomas, sendo então associado hidralazina ao tratamento. Apesar disso, a criança manteve infecções recorrentes de vias aéreas, não tolerando redução da medicação. Realizou-se novo ecocardiograma em 03/08/04 para avaliação da pressão pulmonar. O exame demonstrou ausência de shunt residual, presença de duas CIVs musculares trabeculares pequenas, restritivas, com shunt bidirecional, regurgitação tricúspide importante com pressão sistólica em VD estimada de 110 mmHg, importante dilatação de artérias pulmonares e veia cava inferior, e aumento de AD. Após avaliação ecocardiográfica, foi decido o início do tratamento com sildenafil em ambiente hospitalar. Em 04/08/2004 a criança foi internada e o tratamento com sildenafil oral (3) na dose de 0,4 mg/kg/dose de 8/8 h foi iniciado após consentimento dos responsáveis. Foram mantidas as outras medicações. O ecocardiograma de controle após o início do sildenafil, em 12/08/2004, demonstrou shunt bidirecional predominante da esquerda para a direita pelas CIVs musculares e pressão sistólica de VD estimada entre 90 – 100 mmHg. Em consultas ambulatoriais após início do sildenafil, a criança se apresentou assintomática, com bom ganho ponderal. O ecocardiograma foi repetido em 31/08/04, demonstrando gradiente do VE para o VD pelas CIVs musculares de 94 mmHg, aumento moderado de AD, aumento de VD e AP. A pressão sistólica em VD foi estimada em 64 mmHg. Em outubro de 2004, a hidralazina foi substituida por captopril após o início da resposta da pressão pulmonar ao sildenafil. O controle de índices hematimétricos e a contagem de plaquetas e tempo de sangramento foram iniciados. No último ecocardiograma, em 26/10/2004, a criança apresentou pressão sistólica em VD estimada de 35 mmHg, CIVs musculares restritivas e importante redução dos diâmetros do AD, VD e AP. 48 Relato de Caso Editorial Laranjeiras Gráfico 1 Evolução da pressão sistólica estimada em artéria pulmonar calculado pela regurgitação tricúspide com a técnica Doppler. DISCUSSÃO O óxido nítrico, produzido em células do corpo humano ou inalado e absorvido sistemicamente, é um potente vasodilatador. Sua ação ocorre pela ativação da enzima guanilatociclase, a qual aumenta os níveis intracelulares de guanosina monofosfato cíclico (GMPc) – mensageiro final de uma reação em cadeia que irá proporcionar a vasodilatação desejada. As fosfodiesterases metabolizam o GMPc sintetizado e a ação de seus inibidores vai perpetuar a vasodilatação(4, 5, 6). O sildenafil é um inibidor específico da fosfodiestarase tipo 5 que está presente principalmente em musculatura lisa de vasos arteriais pulmonares e nas plaquetas. Estas enzimas também atuam na musculatura lisa de vasos coronarianos, vasos venosos, musculatura esquelética, visceral, traqueobrônquica e em vasos arteriais do corpo cavernoso do pênis. Pesquisas recentes mostram a eficácia do sildenafil como um potente vasodilatador seletivo pulmonar e que pouco altera a pressão arterial sistêmica. Verificou-se também a ocorrência de um aumento significativo do débito cardíaco, não dependente de ativação simpática (não aumenta a freqüência cardíaca), mas sim decorrente da redução da pós-carga do ventrículo direito. Deve-se ter cautela com o uso do sildenafil em pacientes com altos níveis de GMPc circulantes (em uso de óxido nítrico e nitratos), já que pode ocorrer significativa queda da pressão arterial. Esta medicação é contra-indicada em cardiopatias com fluxo sistêmico ducto-dependente, já que com a queda da 49 Editorial Laranjeiras pressão arterial pulmonar a diminuição do fluxo pelo ducto pode acarretar seu fechamento. A administração do sildenafil pode ser feita por via oral ou venosa. A dose oral que vem sendo utilizada com sucesso em outros serviços e que foi adotada neste caso é de 0,3 a 0,4 mg/Kg/dose, com intervalo de 8 horas. Os principais efeitos colaterais do sildenafil relacionam-se à vasodilatação: rubor, congestão nasal, cefaléia, tontura e hipotensão, dispepsia e refluxo por relaxamento do esfíncter esofagiano inferior. Pela atuação sobre as fosfodiesterases tipo 3 e 5 das plaquetas, ocorre inibição da agregação plaquetária. Os efeitos no aumento do tempo de sangramento são mínimos, mas foi relatada sua ocorrência uma hora após a administração da droga. Como já existem casos descritos de hemorragia cerebral, gastrintestinal e nasal, os efeitos sobre as plaquetas não devem ser negligenciados. CONCLUSÕES No caso descrito, a criança fez uso regular do sildenafil oral ambulatorialmente. Foi observada, mediante ecocardiogramas seriados, a queda da sua pressão arterial pulmonar, o que se correlacionou à sua evolução clínica. O acompanhamento do tempo de sangramento e contagem plaquetária mediante exames laboratoriais seriados apresentou resultados dentro da normalidade. Não houve qualquer episódio de sangramento ou relato de outros efeitos adversos do uso continuado da droga, demonstrando que o sidenafil incorporara-se como droga importante ao tratamento dos pacientes com hipertensão arterial pulmonar. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Viaro, F.; Nobre, F.; Évora, P. R. B. Expressão das Óxido Nítrico Sintetases na Fisiopatologia das Doenças Cardiovasculares. Arq Bras Cardiol. 2000, (74) 4:365-379. 2. Berker, N.; Acaroglu, G.; Soykan, E. Goldenhar’s Syndrom (Oculo-Auriculo-Vertebral Dysplasia) With Congenital Facial Nerve Palsy. Yonsei Medical Journal. 2004 (45) 1:157-160. 3. Atz, A. M.,MD; Wessel, D. L., MD. Sildenafil Ameliorates Effects of Inhaled Nitric Oxide Withdrawal. Anesthesiology. 1999, (91) 1: 307-310. 4. Reffelmann, T., MD; Kloner, R. A., MD, PhD. Therapeutic Potential of Phosphodiesterase 5 Inhibition for Cardiovascular Disease. Circulation. 2003,108:239. 5. Atz, A. M.,MD; Lefler, A. K., PharmD, Fairbrother, D. L., MD; Uber, W. E., PharmD; & Bradley, S. M., MD, Charleston, SC. Sildenafil Augments the Effect of Inhaled Nitric Oxide for Postoperative Pulmonary Hypertensive Crises. The Journal of Thoracic and Cardiovascular Surgery. 2002, September; 628-629. 6. Michelaks, E., MD; Tymchak, W., MD; Lien, D., MD; Webster, L., RN; Hashimoto, K., BSc; Archer, S., MD. Oral Sildenafil Is an Effective and Specific Pulmonary Vasodilator in Patients With Pulmonary Arterial Hypertension. Comparison With Inhaled Nitric Oxide. Circulation. 2002, 105:2398-2403. 50 Relato de Caso Relato de Caso Editorial Laranjeiras NOVA PROPOSTA DE CLASSIFICAÇÃO (MOEDA) E DIAGNÓSTICO ATRAVÉS DA ECODOPPLERCARDIOGRAFIA EM RELATOS DE 8 CASOS DE MIXOMAS Rio de Janeiro - RJ Cesar A S Nascimento*, Antonio S. Rocha**, Carlos S Magliano*, Mônica Nolasco*, Rita Villela*, Alessandro Garcia*, Alan Pustilnic*, Rosane Grandelli***, Marcos Heber*, Luiza Alves*, Martha Turano* e Luiz H Weitzel****. RESUMO 1 - Mixoma Misto Observamos MIXOMAS Mistos, Obstrutivos, Emboligênicos, Destrutivos e Atípicos (MOEDA) e alguns desfechos clínicos correlacionando-os com o tipo ecocardiográfico do mixoma e ressaltamos as novas técnicas (Color Doppler, Harmônica, ETE, Doppler Tecidual, Perfusão por Microbolhas e Pixel com Distribuição Organizada) que podem ser utilizadas para o diagnóstico inicial. Este caso teve o diagnóstico ecocardiográfico bastante discutido, com opiniões diversas entre os componentes do grupo de ecocardiografistas. O paciente apresentava TIA (EMBOLIGÊNICO) e Dispnéia (OBSTRUÇÃO). A imagem é retratada abaixo (Fig.1). O cirurgião retirou a peça e emitiu a opinião de aspecto de trombo; entretanto, a patologia demonstrou que o núcleo do trombo era um grande mixoma. ABSTRACT We have observed several kinds of benign cardiac tumors called myxomas, which have been classified as Mixed, Obstructive, Embolic, Destructive and Atypical (MOEDA), and clinical follow-ups that correlate them with their echocardiographic myxomas counterparts. Recent techniques like Color Doppler, Harmonic Image, Transesophageal Echo, Doppler Tissue, Perfusion with Microbubbles and Pixel with Organized Distribution can be successfully used in initial diagnosis. CASO CLINICO 1 MÉTODOS Observamos diversas apresentações de mixomas, ressaltamos as técnicas utilizadas para o diagnóstico inicial e alguns desfechos clínicos, correlacionando-os com o tipo de mixoma. Levantamos o resultado cirúrgico e/ou anátomo-patológico e destacamos a possibilidade da utilização de novas técnicas no auxílio do diagnóstico diferencial inicial. Este é um trabalho observacional baseado na experiência e no grande número de casos de nosso serviço, apontando para o diagnóstico de um caso de mixoma a cada 3 meses, os quais apresentam constantemente massas (trombos, vegetações e outros tumores) que necessitam de um diagnóstico diferencial. Figura 1 2 – Mixoma Obstrutivo RESULTADOS Os fenômenos obstrutivos dependem do tamanho, mobilidade e localização do mixoma, funcionando como estenose valvar (tricúspide ou mitral) e levando a queixas de dispnéia, edema agudo de pulmão, síncope, sinais e sintomas de insuficiência ventricular direita. Ocorre uma obstrução dinâmica das válvulas cardíacas pela movimentação da massa através destas, o que pode variar de acordo com a posição. Os sintomas são variados e dependem da apresentação do mixoma; de seu tamanho, localização e mobilidade. Os pacientes podem apresentar um ou mais sinais da tríade obstrução (síncope e ICC), embolismo (TIA e AVC) e manifestações cardinais. A Classificação (MOEDA) proposta neste artigo é composta por Mixomas • Mistos • Obstrutivos • Emboligênicos • Destrutivos • Atípicos *Médico do setor de Ecocardiografia **Chefe do Departamento de Coronariopatias ***Chefe do Serviço de Patologia ****Chefe do Serviço de Ecocardiografia 51 do do do do INCL INCL INCL INCL Editorial Laranjeiras Gradiente AE – VE no pré-operatório e no pós-operatório, variou de 19 mmHg para 4 mmHg. Figura 2 e 3. Relato de Caso direito a 15 - 20% (1) e ventrículo direito a 3 – 4%, (2) a embolização para o pulmão ocasiona TEP e hipertensão pulmonar, podendo levar a óbito em caso de embolia maciça. AVE, IAM, TIA e embolia sistêmica podem ocorrer em mixomas à direita na presença de CIA. Figura 5. Figura 2 Figura 5 Caso Clínico 3: Paciente de 61 anos, mulher, branca. Teve como primeira manifestação um ataque isquêmico transitório (TIA). Realizado Ecocardiograma com aspecto de bandeira desfraldada (flag in the wind). Este artigo pretende correlacionar a coincidência deste aspecto com a manifestação cardioemboligênica (3), embora uma forma de textura mais consistente de tumor possa agregar trombos potencialmente emboligênicos em sua superfície. Figura 3 4- Mixoma Destrutivo Algumas vezes, a mobilidade do mixoma exerce o efeito de bola de demolição, causando destruição do tecido valvar (5). Figura 6 e 7. Caso Clinico 2: Paciente de 19 anos com dispnéia, Classe III (NYHA), em anasarca. Deu entrada no INCL pelo ambulatório de miocardiopatias. Figura 4 Figura 6 Figura 4 3 - Mixoma Emboligênico Fenômenos emboligênicos ocorrem em 30 – 40% dos pacientes com mixoma. O local de embolização está relacionado com a localização do mixoma, direito ou esquerdo. A embolização sistêmica é particularmente freqüente devido à localização dos mixomas ser em cerca de 80% dos casos em átrio esquerdo, ocorrendo principalmente para as artérias cerebrais. Também pode ocorrer embolização para as artérias coronárias, ocasionando IAM, artérias viscerais, artérias renais e artérias periféricas. No caso de mixomas localizados à direita, no átrio Figura 7 Caso Clinico 4: Paciente jovem, mulher de 16 anos, com história de episódio sincopal. Realizou ecocardiograma em nosso serviço, sendo posteriormente internada para investigação e cirurgia. 52 Relato de Caso Editorial Laranjeiras 5- Mixoma Atípico Nem sempre os mixomas possuem localização e características macroscópicas típicas, podendo ser localizados à direita, no átrio direito, ventrículo direito, ventrículo esquerdo e v. mitral, como no caso abaixo, simulando um fibroelastoma (6). Figura 8. Figura 8 Caso Clínico 5: Mulher, negra, de 49 anos e hipertensa, com queixas de palpitação e dispnéia aos esforços, hiperfonese de B1 e B2 e sopro protodiastólico (tumor plop). Este outro Relato de Caso em paciente de 43 anos com miocardiopatia isquêmica e seqüela de AVC também dividiu as opiniões da equipe de ecocardiografistas, principalmente no ETE, onde o pedículo não foi demonstrado e um resultado de RNM diagnosticou trombo envolto por uma membrana (fibrina?). A avaliação global (tipo, fixação, movimentação, etc.) pelo ETT demonstrou um aspecto clássico de mixoma, sendo confirmado pela cirurgia e anatomopatologia. Figura 9. Figura 9 DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Observamos com este caso que o diagnóstico de certeza nem sempre é tão simples quanto parece. Nosso grande desafio é sempre o trombo chamado pela equipe de “o grande imitador”, pelo fato deste evoluir de coágulo até trombo organizado, rígido, envelhecido, por vezes até calcificado. Sugerimos a utilização de alguns recursos que poderão auxiliar nos diagnósticos, ressaltando que algumas destas técnicas ainda estão em fase de observação em nosso laboratório e que nenhuma delas isoladamente substitui uma avaliação conjunta da massa intracardíaca descrita no que chamamos de “A Escada de Barbato” (7). Figura 10 Figura 10 53 Editorial Laranjeiras Microscópico x Macroscópico – Naturalmente, nenhuma das técnicas que serão citadas substituem a avaliação cirúrgica e a anátomo-patologica convencional. Sugerimos enfaticamente sua utilização por serem nãoinvasivas e constituírem uma opinião complementar em nosso serviço, sendo os diagnósticos de certeza (cirurgia e patologia) e as técnicas citadas não substitutivos de uma avaliação ecocardiográfica convencional ou transesofágica significativamente discutida e analisada. Figura 11 1 - Color Doppler, Harmônica e ETE – o mapeamento de fluxo em cores permite demonstrar a circulação sangüínea intra-cavitária definindo a anatomia e a inserção das estruturas. O uso combinado entre as harmônicas do ultra-som e a ETE nos aproxima da imagem, pois o AE está contíguo ao esôfago e transdutores de maior freqüência nos fornecem uma melhora na qualidade de imagem, permitindo, assim, uma melhor avaliação da textura e das diferenças de densidade tecidual (7, 8, 9 e 10). Figura 13 com e sem harmônica Figura 11 • Aspecto redondo. • Superfície lisa. • Medindo 2,5cm X 2,2cm • Mixoma estava ligado à face átria do folheto anterior da válvula mitral. Figura 12 Figura 13 2 - Doppler Tecidual do Mixoma – ainda em fase de teste, esta técnica baseia-se no princípio de que cada massa, de acordo com a sua dimensão, pedículo e mobilidade, deverá apresentar uma movimentação e velocidade própria, sendo então avaliada pelo método sugerido. Os mixomas ligados ao septo inter-atrial que mergulham no VE através da válvula mitral na diástole e retornam para o AE na sístole, têm apresentado um brilho intenso e alta velocidade proto e tele-diastólica em nossos testes iniciais (11). Figura 14 e Figura 15 Figura 12 Células alongadas ou fusiformes em forma de estrela no estroma mixomatoso. vascularizado. Dificuldade no Diagnóstico Inicial. Na maior parte dos casos isso não ocorre, porém, em caso de dúvida, podemos recorrer às novas técnicas. NOVAS TÉCNICAS DE AUXÍLIO NO DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL ENTRE MIXOMA E TROMBO · Color Doppler, Harmônica e ETE · Doppler Tecidual · Perfusão por Microbolhas Figura 14 · Pixel com Distribuição Organizada 54 Editorial Laranjeiras Figura 15 Figura 18 3 - Mixoma com Microbolhas – as microbolhas perfundem preferencialmente os tecidos vascularizados, embora poucas delas extravasem para o interstício. A camada de fibrina que normalmente envolve os trombos não permite a penetração de microbolhas em seu interior, exceto através de um processo mais lento de embebição. Em nossas observações, o processo de perfusão por microbolhas é mais intenso e mais rápido nos mixomas (12). 4 - Pixel com Distribuição Organizada - a imagem de qualquer massa ou tecido pode ser aumentada indefinidamente pelos programas de nossos computadores (paintbrush photoshop). Entretanto, à medida que aumentamos as imagens, observamos os pixels (quadradinhos) formadores da mesma. Como o trombo possui é formado por várias densidades que vão do coágulo ao trombo calcificado, e em sua histologia estrias de Zahn , os pixels do trombo são geralmente desorganizados (13), irregulares, diferentes dos pixels de um mixoma, os quais lembram uma maquete de um conjunto residencial ou dominós corretamente empilhados. Figura 16, Figura 17 e Figura 18 Figura 19, Figura 20, Figura 21 e Figura 22 Figura 19 Figura 16 Figura 20 Figura 21 Figura 17 Figura 22 55 Editorial Laranjeiras REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS COMENTÁRIOS E DISCUSSÃO O primeiro caso foi descrito em 1841 e a primeira cirurgia em 1954, por Clarence Crafoord. O tratamento é sempre cirúrgico, apresentando mortalidade <3%, sendo recidiva pouco freqüente (12 – 22%) nos casos familiares e entre 1 – 4,7% nos casos esporádicos (14). 1. Shadwan Alsafwah. MD , Zaki Lababidi, MD, FACC. Recurrent pulmonary embolism originating from right atrial myxoma. Journal of the American Society of Echocardiography. 2001, Apr; 14 (4). 2. Ioannis A.; Paraskevaidis, MD,a Konstantinos Triantafilou, MD; b Dimitrios Karatzas, MD, a & Dimitrios Th. Kremastinos, MD,a. Athens, Greece. Right ventricular multiple myxomas obstructing right ventricular outflow tract. The Journal of Thoracic and Cardiovascular Surgery, 126 (3): 913914. 3. Nascimento, C. A. S.; Rocha, A. S.; Grandelle, R. R. et al – Recent Advances in Echocardiogrphy - Internacional Conference - Pré-Congresso do Colégio Americano Cardiologia. Atlanta, EUA. 2002.(apud). 4. Assef, Belém, Castro-Lima et al – Atlas Texto de Ecocardiografia Transesofágica. Editora Revinter. 2000. 5. Robbins, Contran, Omar. Tratado de patologia estrutural e funcional. Sexta edição. 6. Ferreira, M.; Rocha, A. S.; Nascimento, C. A. S.; Grandelli, R.; et al. Implantação Incomum de Mixoma na Face Atrial do F. Anterior da V. Mitral Avaliado por E.T.E. Multiplano Pré, Per e PósOperatório. Arquivos Bras. de Cardiologia. 1999, 72 ( ) . 7. Oh, J. K.; Tajik, A. J.; Seward, J. B. The echo manual – from the Mayo Clinic. Second edition. Lippincott-Raven. 8. Feigenbaum, Havey. Echocardiography. Fifth edition. Lea & Febiger. (FALTAANO E LOCAL DE PUBLICAÇÃO) 9. Navin C. Nanda, Domanski M. J. Atlas of Transesophageal Echocardiography. Williams & Wilkins. 1998. (FALTA LOCAL DE PUBLICAÇÃO) 10. Otto, C. M. The practice of clinical echocardiography. W.B. Saunders Company, Philadephia, Pennsylvania, EUA. 1997. 11. Protocolo inicial no INCL Observação não validado, a ser discutido no CBECO2005.. (FALTA LOCAL) 12. Porter, T. R.; Cwajg, J. Myocardial Contrast Echocardiography. A new Gold Standart for Perfusion Imaging? J. Am. Soc. Echocardiogr..2001, Jan; 18-1: 29-30. 13. Oh, J. K.; Tajik, A. J.; Seward, J. B. Echocardiography. JCUS, 2001,4 May -18. 14. Hall, R, A. Cardiac neoplasms. NY McGraw-Hill. 1997:1345. 15. Klaus Reynen, M.D. Cardiac Myxomas. The New England Journal Of Medicine. 1995, 333 (24): 1610-1617. 16. Waldomiro Manfroni, Silvia Rivieira, Eduardo K. Saadi et al. Múltipla Recorrência de Mixomas Cardíacos Com Embolia Pulmonar Aguda. Arq Bras Cardiol. 2001, 77 (2): 161-163. 17. Elvira Acebo, MD; J. Fernando Val-Bernal, MD, PhD; J. Javier Gómez-Román, MD; J. Manuel Revuelta, MD. Clinicopathologic Study and DNA Analysis of 37 Cardiac Myxomas. Chest. 2003, May; 123 (5). (FALTA PÁGINAS) 18. Eduardo D. Gabea, Carlos Rodríguez Correaa, Carlos Viglianob, Julio San Martinob, Jorge N. Wisnerc, Pedro Gonzálezb, Roberto P. Boughena, Augusto Torinoa y Luis D. Suáreza. Mixomas cardíacos: correlación anatomoclínica. Rev Esp Cardiol. 2002, 55 (5): 505-513. Tumores primários do coração são raros, com uma incidência de 0,0017 a 0,19% nos registros de autopsias, sendo os benignos os mais freqüentemente encontrados. Até 1951, antes do desenvolvimento da ecocardiografia, o diagnóstico era muito difícil, devido à ausência de métodos que detectassem o tumor, sendo conduzido apenas em salas de autopsia. A incidência do mixoma na população é de 0,5 caso / 1.000.000 pessoas / ano e o diagnóstico é feito entre 30 – 60 anos. Os mixomas geralmente se originam na fossa oval e podem ser sésseis, pedunculados ou mesmo gelatinosos, variando seu tamanho de 1 a 10 cm ou mais. As formas pedunculadas podem deslocar-se para as válvulas AV durante a diástole, causando obstrução intermitente e dependente da posição. Algumas vezes esta mobilidade exerce o efeito de “bola de demolição”, causando destruição do tecido valvar. Histologicamente, os mixomas são compostos por células estreladas e globosas, células endoteliais, células musculares lisas, mergulhadas em uma substância fundamental de mucopolissacarídeo ácido, revestidas de endotélio na superfície, vasos mal formados e hemorragias. Isso nos leva ao questionamento de os mixomas cardíacos seriam harmatomas, havendo, todavia, a evidência de que constituam uma neoplasia benigna. Acredita-se todos os tipos de mixomas celulares originam-se de células mesenquimatosas multipotenciais primitivas (5 e 15). Na infância, os tumores mais freqüentes são os rabdomiomas; já na idade adulta, os mixomas são mais comuns, acometendo principalmente o sexo feminino. Ocorrem geralmente de forma esporádica, com histórico familiar em 10% dos casos. A forma familiar ocorre em indivíduos mais jovens na ocasião do diagnóstico, havendo maior chance de recorrência (16) e apresentando localizações atípicas mais freqüentes. Estão associados a tumores de testículo, fibroadenomas de pulmão e adenomas pituitários. (17) A localização mais comum é no átrio esquerdo (75 – 80%), sendo estes tumores freqüentemente originados do septo inter-atrial, da região da fossa ovalis (18), podendo também ser originados da parede posterior do átrio, parede anterior, e auriculeta esquerda. AGRADECIMENTOS Agradecemos a equipe cirúrgica do INCL: Dr.Oscar, Dr.Odilon, Dr.Carlos Arthur, Dr.Celso Garcia e Dra.Marialda Coimbra, que ofereceram o tratamento definitivo para estes pacientes. Nossos agradecimentos também a Mario Sergio, pela captura das figuras. 56 Editorial Laranjeiras Relato de Caso TUNEL AORTA – VENTRÍCULO ESQUERDO COMO DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DE INSUFICIÊNCIA AÓRTICA RELATO DE DOIS NOVOS CASOS Rio de Janeiro - RJ Adriana M. Innocenzi* , Lina Miura**, Maritza Anzanello** , Flavio R. Neves**, Viviane Xavier*, Paulo Renato Travancas*, Ana Helena J L Dorigo*, Fábio Bergman* e Luiz Carlos Simões***. RESUMO Caso 1 Este trabalho tem por objetivo discutir dois novos casos de túnel aorta-ventrículo esquerdo com quadro clínico de insuficiência cardíaca – insuficiência aórtica e demonstrar a importância do diagnóstico precoce além do impacto das imagens ao ecocardiograma com color Doppler para os tipos anatômicos desta rara doença. Y.G.P, 1 ano e 3 meses, sexo masculino, 11kg, admitido no INCL com quadro clínico de insuficiência cardíaca e derrame pericárdico. Ao exame físico apresentava-se hidratado, corado, acianótico, taquipnéico, afebril, pulsos periféricos amplos e simétricos. Precórdio dinâmico, RCR 3T, B3, BNF, sopro sistodiastólico (4+/6+) BEE. Ausculta pulmonar sem alterações. Abdome flácido, fígado palpável a 2,5 cm RCD, traube livre. Sem edemas. O ecocardiograma evidenciou aorta ascendente demonstrando pequena conexão tubular com via de saída do ventrículo esquerdo permitindo efeito fístula entre a aorta ascendente e o ventrículo esquerdo. Prolapso da cúspide coronariana esquerda com escape aórtico leve. Valva aórtica bicúspide. Sobrecarga volumétrica leve de átrio e ventrículo esquerdos. A criança foi submetida à angiografia, a qual confirmou a presença de túnel aorta-ventrículo esquerdo mostrando dilatação leve de aorta ascendente e aumento volumétrico de ventrículo esquerdo . No mês seguinte foi realizada a correção cirúrgica através de toracotomia mediana, aortotomia com incisão da aorta dilatada estendendo até a origem do TAVE. Fechamento interno e colocação de retalho de pericárdio bovino ocluindo o defeito. No pós-operatório não houve intercorrências e o paciente encontra-se hoje em acompanhamento ambulatorial assintomático com bom desenvolvimento ponderoestatural. Ecocardiograma de controle com diâmetros cavitários dentro dos limites da normalidade, sem insuficiência aórtica. Palavras-chave: túnel-aorta ventrículo esquerdo; cardiopatia congênita; insuficiência aórtica. ABSTRACT This study aims to discuss two new cases of aortic left ventricular tunnel with clinical symptoms of heart failure and to show the importance of differential and early diagnosis, besides the impact of echocardiographic Doppler images for the diagnosis of the anatomic types of this rare disease. Key words: Aortic left ventricular tunnel; congenital heart disease; aortic regurgitation INTRODUÇÃO O túnel aorta-ventrículo esquerdo (TAVE) é uma rara cardiopatia congênita. Consiste em uma comunicação paravalvar anormal entre a raiz da aorta e a cavidade ventricular esquerda, em que um circuito secundário ultrapassa a valva aórtica. Foi originalmente descrita por Levy et al. em 1963 (1) e desde sua descrição, pouco mais de 100 casos foram encontrados na literatura (2, 3). A comunicação aorto-ventricular manifesta-se com insuficiência cardíaca esquerda, mimetizando a insuficiência aórtica. A idade de apresentação e a gravidade dos sintomas dependerão do tamanho do TAVE (4, 5, 6). A manifestação no primeiro ano de vida reflete uma grande comunicação e importante sobrecarga volumétrica ventricular esquerda. O fechamento cirúrgico está indicado logo após o diagnóstico ter sido feito. Este estudo tem como objetivo mostrar dois novos casos de TAVE, revisando aspectos anatômicos e diagnósticos, que foram submetidos à correção cirúrgica com sucesso no INCL. Caso 2 G.B.A., 10 meses, sexo masculino, 7kg, encaminhado ao INCL com história de taquipnéia, desconforto respiratório, déficit ponderal leve, sopro e insuficiência cardíaca. Ao exame físico de internação encontrava-se em estado geral regular, corado, hidratado, acianótico, pulsos periféricos palpáveis de amplitude ampla. Precórdio dinâmico, sopro sistodiastólico 3+/6+ BEEA. Pulmões com roncos esparsos. Abdome flácido, fígado palpável a 2cm RCD. Sem edemas. Durante a internação foi feito o diagnóstico através do ecocardiograma de TAVE. Observou-se *Médicos do Serviço de Cardiologia da Criança e do Adolescente ** Médicos residentes do Serviço de Cardiologia da Criança e do Adolescente *** Chefe do Serviço de Cardiologia da Criança e do Adolescente 57 Relato de Caso Editorial Laranjeiras fluxo anormal em aorta abdominal com fuga telediastólica. Aorta ascendente moderadamente dilatada. Comunicação interatrial tipo ostium secundum moderada. Comunicação entre aorta e ventrículo esquerdo através de um túnel que se torna confluente à aorta acima do nível da coronária esquerda. Sobrecarga volumétrica moderada de ventrículo esquerdo. Função ventricular preservada. Durante a internação, o diagnóstico foi confirmado com cateterismo, o qual mostrou a presença de TAVE ligando a aorta ascendente acima da origem da artéria coronariana esquerda ao ventrículo esquerdo logo abaixo das cúspides aórticas. Permite refluxo livre aorta-ventrículo esquerdo. Sobrecarga volumétrica de ventrículo esquerdo. Na cirurgia o diagnóstico foi confirmado e o defeito corrigido através de fechamento interno do mesmo e colocação de retalho de pericárdio bovino. O pós-operatório transcorreu sem intercorrências, com alta hospitalar 4 dias depois. Em seguimento ambulatorial, a criança está assintomática. Ecocardiograma de controle com leve sobrecarga volumétrica de ventrículo esquerdo, sem regurgitação aórtica. destas teorias parece ser conclusiva. Ho SY et al. sugerem que o TAVE, estrutura extracardíaca, seja produzido por clivagem na parede do seio aórtico acometido por anomalias na parede da aorta anterior com o ventrículo esquerdo (8). Anatomia. Externamente, observamos um aumento na cavidade ventricular esquerda e a presença de uma protuberância na parede imediatamente por trás do tronco da artéria pulmonar, estendendo-se desde a área acima da porção do seio aórtico e passando para o plano tecidual entre aorta e tronco da artéria pulmonar (Figura 1). Esta protuberância é a porção aórtica do túnel. A entrada oval do túnel é situada na aorta ascendente acima da junção sinotubular. O orifício ventricular do túnel é mais triangular e estende-se desde a junção sinotubular até o nível da junção ventriculoarterial, estando localizado entre folhetos coronarianos direito e esquerdo. Ocorre prolapso do folheto da artéria coronária direita (Figura 2). DISCUSSÃO A origem ventricular do túnel é anterocefálica à área Etiologia. As bases etiológicas do TAVE ainda são desconhecidas. Muitos investigadores comentam a dificuldade de distinguir o TAVE da ruptura de aneurisma do seio de valsalva, especulando a origem da malformação como conseqüência da ruptura do aneurisma (1, 7). Outros estudos têm incluído artéria coronária anômala, possivelmente a conal, abrindo-se no ventrículo esquerdo, persistência de cristas embrionárias do 5° arco aórtico e incorporação defeituosa da porção distal do bulbo cordis do septo membranoso. A base do túnel é formada pela musculatura do ventrículo direito, constituindo a área entre o infundíbulo subpulmonar e prega ventrículoinfundibular, logo abaixo das cúspides aórticas direita e esquerda. Há uma depressão na musculatura ventricular (7). O segmento intracardíaco passa através do septo conal, conectando o lúmen aórtico ao ventrículo esquer- (2, 4, 9, 12) como causas desta malformação. Nenhuma do, ultrapassando a aorta normal (Figura 3). Figura 1 – corte histológico mostrando relações entre estruturas intracardíacas. Figura 2 – TAVE e o orifício aórtico e relações com coronárias direita e esquerda. A coronária direita prolapsa para dentro do orifício. 58 Editorial Laranjeiras Figura 3 –TAVE passando entre o plano tecidual fibroso entre a aorta e pulmonar. Relato de Caso Aspectos clínicos e diagnósticos. Muitos destes pacientes apresentam na infância um quadro clínico de insuficiência cardíaca congestiva, exame físico compatível com insuficiência aórtica, pressão arterial diastólica baixa, pulsos amplos, ventrículo esquerdo hiperativo, sopro sistodiastólico. Geralmente, as manifestações clínicas aparecem após o primeiro ano de vida e o curso natural da doença depende do grau de insuficiência aórtica (15). Isso é provavelmente devido ao fato de que as formas mais comuns do TAVE são pequenas comunicações sem anomalias valvares associadas. O diagnóstico intraútero reserva prognóstico ruim, já que a patologia é suspeitada devido à disfunção ventricular e à dilatação das cúspides aórticas (6). Casos de TAVE assintomáticos e submetidos à correção cirúrgica na adolescência também são descritos (5, 24). O diagnóstico pode ser feito através de ecocardiograma (10, 11, 13, 14), que mostra através do corte paraesternal e apical eixo longo e supra-esternal, a presença de dois caminhos para a passagem de sangue do ventrículo esquerdo para aorta. A passagem posterior é do ventrículo esquerdo através da valva aórtica posicionada para a aorta ascendente. A passagem anterior é através do septo ventricular e termina na aorta ascendente acima da artéria coronária direita. Geralmente, a aorta ascendente, acima da valva aórtica, e a porção extracardíaca do túnel, são aneurismáticas. No corte paraesternal eixo curto, no nível da valva aórtica, podemos observar uma secção anterior da aorta. Acima da artéria coronária direita, as duas passagens tornam-se confluentes. Nos cortes apical e subcostal 4 câmaras, o túnel é visto como uma protuberância anterior ao trato de saída do ventrículo direito. O Doppler colorido mostra evidências de insuficiência aórtica através do túnel para o ventrículo esquerdo. (Figuras 5, 6, 7, 8). A localização dos orifícios aórticos é de extrema importância para o ato cirúrgico. Também é importante determinar a proximidade do ostium da coronária direita e o final ventricular do túnel. A confirmação do diagnóstico através do cateterismo e ressonância nuclear magnética ajuda na exclusão de outras malformações (Figura 9). Em geral, a aorta ascendente é dilatada desde a raiz. O túnel passa através do septo conal, localizado atrás do infundíbulo do ventrículo direito, podendo levar a distorção do ventrículo direito e até obstrução da via de saída do ventrículo direito (11). Comumente, as relações da aorta, artéria pulmonar, infundíbulo subpulmonar estão conservadas na presença do túnel. Podemos encontrar 4 tipos de conexões (16) (Figura 4): a) Tipo I – sem distorção valvar b) Tipo II - grande aneurisma extracardíaco c) Tipo III – aneurisma intracardíaco na porção septal do túnel com ou sem obstrução na via de saída do ventrículo direito d) Tipo IV – combinação dos tipos II e III. Figura 4 – Tipo de conexões Figura 5 Corte paraesternal longitudinal do ventrículo esquerdo demostrando ao color Doppler shunt aorta-ventrículo esquerdo paravalvar. 59 Relato de Caso Editorial Laranjeiras Figura 6 Figura 8 - corte paraesternal eixo curto mostrando valva aórtica superior e a esquerda o túnel aorta-ventrículo esquerdo, a direita Corte subcostal mostrando fluxo ao color Doppler do túnel aorta ventrículo esquerdo. Figura 9 – Imagem angiográfica seletiva no túnel aorta-ventrículo esquerdo. Figura 7 Corte subcostal ao bidimensional mostrando aorta ascendente e a esquerda imagem do túnel aorta-ventrículo esquerdo. Tratamento. A correção cirúrgica é obrigatória a fim de reduzir a sobrecarga volumétrica do ventrículo esquerdo, progressiva dilatação anular e regurgitação aórtica. Nos casos assintomáticos, a correção cirúrgica também é indicada (2, 3, 17, 18) devido à impossibilidade de tratamento clínico. O fechamento do orifício ventricular com retalho de pericárdio, ao invés de sutura direta, tem sido recomendado (8, 17, 18, 19), já que a distorção da valva aórtica por tensão direta e a comunicação residual por deiscência de sutura são descritos (19, 23, 24). O fechamento percutâneo através de prótese de amplatzer também é descrito (20, 21), sugerindo uma alternativa para a correção do defeito. Os resultados têm sido favoráveis, mas ainda em um número restrito de casos . CONCLUSÃO O túnel aorta-ventrículo esquerdo é uma rara malformação cardíaca que tem bom prognóstico se diagnosticada e tratada precocemente. Os pacientes com quadro clínico de insuficiência aórtica e insuficiência cardíaca devem ser investigados para TAVE através de ecocardiograma e, em caso de dúvida diagnóstica, através do cateterismo ou ressonância nuclear magnética. A correção cirúrgica preferencialmente com inserção de retalho de pericárdio apresenta bons resultados. Os pacientes descritos anteriormente foram tratados cirurgicamente logo após o diagnóstico, com sucesso em ambos os casos. 60 Relato de Caso Editorial Laranjeiras REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Levy, M. J.; Lillihei, C. W.; Anderson. R. C.; Amplatz, K.; Edwards, J. E. Aortico left-ventricular tunnel . Circulation. 1963, (27):841-53. 2. Martins, J. D.; Sherwood, M. B. B. S.; Mayer, J. E.; Keane, J. F. Aortico left-ventricular tunnel: 35 Year Experience. JACC. 2004, 4 (2):446-50. 3. Horvarth, P,. Balaji, S.; Hucin, B.; de Leval, M. R.; Stark, J. Surgical treatment of aortico-left ventricular tunnel. Eur J Cardiothorac Surg. 1991, (5) :113-117. 4. 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Ann Thorac Surg 2000; vol 69:5164-69 17.Michelion, G.; Sobara, C.; Casarollo, D. C. Repair of aortico-left ventricular tunnel originating from left aortic sinus. Ann Thorac Surg. 1998, (65): 1780-83. 18. Chowdhury, U. K.; Kothari, S. S.; Airan, B. Successful two patch repair of the aortico-left ventricular tunnel. Heart, lung and circulation. 2000, (9): 32-35. 19. Caliani, J. A.; Gouvêa, F. R.; Simões, L. C.; Dorigo, A. H.; Porto, E. M.; Neves, F. R.; Barbosa, O. N. Tratamento cirúrgico do túnel ventrículo esquerdo aorta. Rev Bras Cir Cardiovas. 2004, (19) - 2:183-85. 20. Serino, W.; Andrade, J. L.; Ross, D.; de Leval, M.; Sommerville, J. Aorto-left ventricualr communication after closure. Late postoperative problems. Br Heart J. 1998, (49):501-506. 21. Vijayalakshmi, B.; Chitra, N.; Deva, A. N. P. Use of an amplatzer duct occluder for closing na aortico-left ventricular tunnel in a case of noncompaction of the left ventricle. Pediatric Cardiology. 2003, Nov: 22. 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O programa consiste em atendimento ambulatorial no consultório odontológico do INCL, atendimento em centro cirúrgico quando necessário e um programa de promoção de saúde bucal especialmente elaborado para cada grupo. A maioria dos pacientes pediátricos atendidos no INCL é de nível sócio-econômico baixo, carentes de orientações sobre saúde bucal e de cuidados odontológicos. Para estes pacientes, é fundamental um programa odontológico específico que seja capaz de restaurar e manter a saúde bucal, além de modificar hábitos, tanto nas crianças quanto em seus pais e responsáveis em relação aos cuidados de dieta e de higiene bucal. Palavras-chave: saúde bucal, bacteremia, endocardite infecciosa, prevenção A formação de hábitos e comportamentos é, geralmente, determinada por fatores sociais, culturais e políticos. Portanto, a importância da saúde bucal como um dos fatores relacionados a uma melhor qualidade de vida irá variar conforme as condições sócio-econômicas dos indivíduos. No caso específico de crianças com necessidades especiais, outros fatores interferem na saúde bucal: (i) a existência de uma enfermidade grave e debilitante; (ii) a necessidade freqüente de hospitalização; (iii) o baixo nível de conhecimento e motivação apresentados pelos responsáveis; (iv) as relações antagônicas como a superproteção ou o desprezo em relação à criança; (v) a ingestão freqüente e prolongada de medicamentos açucarados, sob forma de xaropes e soluções (3). Revisão de Literatura ABSTRACT The objective of this article is to introduce a preventivetherapeutic oral health program addressed to cardiopatic children and adolescents treated at the Cardiopediatric Division of the Instituto Nacional de Cardiologia – Laranjeiras. The program itself consists of clinical treatment at the dental office, surgical treatment at the surgical center whenever necessary and an oral health preventive program specially designed for each group. Key Words: oral health, bacteremia, infective endocarditis, prevention O conceito de promoção de saúde é definido como um “processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria de sua qualidade de vida e saúde, incluindo uma maior participação no controle desse processo” (4). Assim, o estabelecimento de novos hábitos de higiene bucal é fundamental para a saúde geral do indivíduo. Somente através da educação para a saúde é que o paciente criará motivação tornando-se bem informado e treinado para o autocuidado e para a saúde como um todo (5). INTRODUÇÃO O risco de desenvolvimento da endocardite infecciosa em pacientes portadores de cardiopatias e sua relação com os microorganismos orais é bastante conhecido. A higiene oral precária e as más condições bucais desses pacientes resultam em bacteremias freqüentes e os colocam em risco permanente de desenvolver uma endocardite. Uma das maiores concentrações de microorganismos do corpo humano é encontrada na placa dental bacteriana (6). Essa placa é considerada o principal agente etiológico para as duas mais importantes doenças que acometem a cavidade bucal: a cárie dental e a doença periodontal (7). Vários estudos demonstram associações entre doenças orais e doenças sistêmicas, assim como muitos fatores de risco são comuns à doença cardiovascular e à doença periodontal, entre eles o estresse, a ansiedade e comportamentos ligados à saúde, como a negligência no autocuidado e na dieta (1, 2) *Odontopediatra do Instituto Nacional de Cardiologia - Laranjeiras **Chefe da Divisão de Pesquisa do Instituto Nacional de Cardiologia - Laranjeiras 62 Editorial Laranjeiras Ponto de Vista 1.3. Tratamento em Centro Cirúrgico: No caso de pacientes que necessitam de algum tipo de sedação para realização de procedimentos odontológicos são necessários uma avaliação pré-operatória, equipamento adequado, seleção de agentes farmacológicos, monitoramento e documentação, pessoal treinado e apropriado para suporte, medicamentos de emergência, equipamentos e protocolo específico. O atendimento odontológico em centro cirúrgico sob anestesia geral é indicado para crianças com cardiopatias congênitas graves ou com necessidades neurológicas especiais. O centro cirúrgico dispõe de equipamento odontológico, o que possibilita a realização de obturações, raspagens sub e supragengivais e exodontias seletivas. A má higiene bucal causa acúmulo de placa bacteriana e pode dar origem a bacteremias freqüentes em condições fisiológicas normais, o que colocaria os pacientes cardiopatas em risco permanente de desenvolver uma endocardite infecciosa. Assim sendo, indivíduos de risco devem estabelecer e manter a saúde bucal a fim de reduzir as fontes potenciais de bacteremias (8). METOLOGIA O Programa de Saúde Bucal do INCL se divide em duas etapas distintas e complementares, a primeira delas voltada para a reabilitação das condições de saúde bucal do paciente candidato à cirurgia cardíaca, e a segunda direcionada à educação para saúde bucal, com o intuito de prevenir a endocardite infecciosa. 1.4. Critérios para Alta do Paciente Alta Provisória Os pacientes com alta provisória são aqueles que devem ser submetidos a um breve tratamento odontológico devido à urgência da cirurgia cardíaca. Nesses pacientes é realizada a adequação bucal com a técnica de TRA (tratamento restaurador atraumático), no qual as cavidades causadas pela cárie são parcial ou totalmente removidas e preenchidas com cimento de ionômero de vidro. Os elementos dentários cariados e já com envolvimento pulpar são extraídos. Após a cirurgia cardíaca esses pacientes retornam ao atendimento ambulatorial, para que recebam o tratamento odontológico definitivo, obtendo a alta controle. A intervenção odontológica se divide em três etapas que ocorrem após a reunião pré-operatória quinzenal, realizada entre a equipe multidisciplinar da Divisão de Cardiopediatria e os pais e/ou responsáveis das crianças que serão submetidas à cirurgia cardíaca. Nesta reunião, alguns esclarecimentos quanto à rotina do hospital e aos cuidados pré e pós-operatórios são fornecidos pela equipe. Após a reunião, todos os pacientes são encaminhados para uma consulta odontológica inicial e retornam segundo necessidades específicas. 1. Intervenção Odontológica 1.1. Primeira Consulta Alta Controle São realizados a anamnese, os exames de cabeça, pescoço e cavidade bucal, além de radiografias, instrução de higiene oral e dieta, escovação e fluoretação. Na orientação realizada diretamente com o paciente e seu responsável é utilizada a Experiência de Aprendizagem Mediada (9) como metodologia educacional para a introdução dos conceitos de placa bacteriana e formação de doenças bucais. Também é mediado o conhecimento relativo ao risco de endocardite infecciosa por germes orais, assim como a profilaxia antibiótica necessária, associada a alguns procedimentos odontológicos específicos. Conforme a condição bucal do paciente que será submetido à cirurgia cardíaca, novas consultas se fazem necessárias num breve intervalo de tempo. Os pacientes que não tem urgência para cirurgia cardíaca ou que já foram submetidos à cirurgia e assim retornam para o término do tratamento odontológico recebem alta controle. A alta controle pode variar entre 1 a 6 meses para retorno à consulta odontológica, conforme a capacidade que a criança e/ou seu responsável tenham em manter a higiene bucal em condições ótimas de cuidado. 2. Programa de Educação em Saúde Bucal da Cardiopediatria O Programa de Saúde Bucal da Cardiopediatria envolve todas as crianças e adolescentes internados na Cardiopediatria, como também seus pais e/ou responsáveis, médicos, enfermeiros e toda a equipe multidisciplinar. O conteúdo mínimo enfatizado é o conceito de placa bacteriana como agente etiológico de doenças bucais e a manutenção da saúde bucal (10, 11). O programa é específico para cada grupo descrito abaixo. A condição bucal do paciente é avaliada na primeira consulta, segundo o acúmulo de placa bacteriana e gengivite presente e a capacidade do paciente e/ou seu responsável de remover tais acúmulos de maneira rotineira. Também são considerados fatores como a experiência anterior de cárie, a atividade e a localização das cáries presentes na cavidade bucal do paciente, avaliadas de forma clínica e radiológica. 2.1. Crianças e adolescentes O objetivo é promover educação em saúde bucal de maneira lúdica, respeitando a faixa etária desses pacientes. O material utilizado compreende teatro de fantoches, livros infantis voltados para a higiene bucal, dieta adequada, músicas especialmente elaboradas pela equipe da Cardiopediatria para a manutenção da saúde bucal, manequim, escova e fio dental. Os pacientes são orientados para uma escovação adequada e utilização de fio dental. Os encontros com os pacientes são realizados uma vez por semana, com duração de 2 horas, na Brinquedoteca da Cardiopediatria. 1.2. Tratamento Odontológico Ambulatorial A cada nova consulta, a educação em saúde bucal é reforçada através da análise das condições de placa bacteriana observadas pelo próprio paciente e seu responsável, assim como a remoção desta pela escovação e utilização de fio dental. Os procedimentos realizados são: terapia com fluoreto; obturações com amálgama, resina fotopolimerizável e cimento de ionômero de vidro; tratamento endodôntico em pacientes com cardiopatias que sejam compatíveis com esse tipo de tratamento; raspagens sub e supragengivais; e exodontias. 63 Ponto de Vista Editorial Laranjeiras disease in adults. J. Clin. Periodontol. 1978, May: (5) – 2: 133-151. 8. Silva, D. Percepções Preventivas e Status de Saúde Bucal em Jovens com Risco para Endocardite Infecciosa. RJ. 1999:157. Dissertação (Mestrado) – FO/UFRJ. 9. Feuerstein, R. et al. Don’t accept as I am – Helping “retarded “ people to excel. Plenum Pub. New York. 1988:295. 10. Greene, J. & Vermillion, J. The oral hygiene index: a method for classifying oral hygiene status. JADA. 1960, Aug: (61) – 2:172-179. 11. Thylstryp, A.; Vinther, D.; Christansen, J. Promoting changes in clinical practice. Treatment time and outcome studies in a Danish public child dental health clinic. Community Dent Oral Epidemiol. 1997, (25):126-134. 12. Ferreira, R. Odontologia: Essencial para a Qualidade de Vida. Rev.APCD. 1997, (51) – 6: 514-521. 2.2. Pais e/ou responsáveis O objetivo é promover educação em saúde bucal através da utilização de uma metodologia específica para mudança de hábitos denominada Experiência de Aprendizagem Mediada (8). O material utilizado é um manequim, escova e fio dental para a instrução de uma higiene bucal correta. As reuniões com os pais das crianças internadas são realizadas semanalmente no auditório da Cardiopediatria, com duração de 1 hora. 2.3. Equipe multidisciplinar da Cardiopediatria A equipe é constituída por médicos, residentes, enfermeiros, psicóloga, assistente social, nutricionista, auxiliares de enfermagem e odontopediatra da Divisão de Cardiopediatria e Pós Operatório Infantil. No encontro com esses profissionais são discutidos conceitos de saúde, doenças bucais, suas causas e conseqüências, a placa bacteriana, higiene bucal e dieta, assim como o papel da família, do dentista, do médico, do enfermeiro, enfim, de toda a equipe na promoção de saúde. As reuniões são realizadas anualmente no Auditório da Cardiopediatria. O material utilizado para a reunião compreende manequim, escova, fio dental e cartazes explicativos. RESULTADOS O resultado imediato é a conscientização, por parte de todos os envolvidos na Divisão de Cardiopediatria, da importância da higiene na manutenção da saúde bucal e sistêmica. Além disso, desde janeiro de 2001, os pacientes submetidos à cirurgia cardíaca, salvo exceções emergenciais, encontram sua saúde bucal em boas condições, diminuindo assim o risco de contrair endocardite infecciosa por germes orais após a cirurgia. Os resultados obtidos são uma melhor conscientização por parte dos pacientes, seus responsáveis e de toda a equipe multidisciplinar da Cardiopediatria de que a melhora na qualidade da saúde bucal implica numa melhora na qualidade de vida (12). CONCLUSÃO É fundamental para os pacientes com problemas cardíacos e sua família, o conhecimento da importância da manutenção da higiene bucal em relação aos riscos de uma endocardite infecciosa. Um programa de promoção de saúde bucal específico para a criança cardiopata que envolva tanto as crianças atendidas pela Cardiopediatria, quanto os seus responsáveis e toda a equipe multiprofissional é prioritário no trabalho de Odontopediatria, pois proporciona a todos os pacientes a oportunidade de melhorar seus hábitos de higiene bucal e dieta e, assim, ter condições de manter níveis baixos de bacteremia, além de uma melhor qualidade de vida. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Slavkin, H. Does the mouth put the heart at risk? 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