WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR » Cacildo Baptista Palhares Júnior Advogado em Araçatuba (SP) Questões comentadas de Direito Constitucional da prova objetiva do concurso de 2010 para Defensor da Bahia No que se refere à hermenêutica e interpretação constitucional, julgue os itens subsequentes. 1. De acordo com o denominado princípio do efeito integrador, deve-se dar primazia, na resolução dos problemas jurídico-constitucionais, aos critérios que favoreçam a integração política e social e o reforço da unidade política. Resolução: Segundo Camila Andrade, o princípio do efeito integrador é originário do princípio da unidade da Constituição. Diz ele que, como a Constituição Federal é o principal elemento de integração comunitária, a sua interpretação deve ter como escopo a unidade política. Com isso, nas resoluções de problemas jurídicos constitucionais deve ser concebida primazia à interpretação que favoreça a integração política e social, criando um efeito conservador desta unidade. Correta. 2. De acordo com o método tópico-problemático, a análise da norma constitucional não deve estar embasada na literalidade da norma, mas na realidade social e nos valores subjacentes do texto constitucional, razão pela qual a Constituição deve ser interpretada, por esse método, como algo em constante renovação, em compasso com as modificações da vida em sociedade. Resolução: WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR Henrique Lima define o método tópico-problemático. Partindo do reconhecimento do caráter de multiplicidade axiológica que reveste as normas constitucionais, a melhor interpretação das Cartas Constitucionais seria a que se faz quando se procura soluções para casos tópicos, partindo do problema para encontrar o significado da norma, conferindo à interpretação uma conotação eminentemente prática. Errada. Julgue os itens que se seguem, relativos ao poder constituinte. 3. O denominado poder constituinte supranacional tem capacidade para submeter as diversas constituições nacionais ao seu poder supremo, distinguindo-se do ordenamento jurídico positivo interno assim como do direito internacional. Resolução: De acordo com Maurício Andreiuolo Rodrigues, citado por André Prado Marques Dos Reis, o poder constituinte supranacional busca estabelecer uma Constituição supranacional legítima: “faz as vezes do poder constituinte porque cria uma ordem jurídica de cunho constitucional, na medida em que reorganiza a estrutura de cada um dos Estados ou adere ao direito comunitário de víeis supranacional por excelência, com capacidade, inclusive, para submeter as diversas constituições nacionais ao seu poder supremo. Da mesma forma, e em segundo lugar, é supranacional, porque se distingue do ordenamento positivo interno assim como do direito internacional”. Correta. 4. O Brasil adotou a teoria segundo a qual o poder constituinte originário não é totalmente ilimitado, devendo ser respeitadas as normas de direito natural. Resolução: WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR Segundo Gabriela Gomes Coelho Ferreira, no Brasil o poder constituinte originário é ilimitado juridicamente. Não respeita os limites postos pelo direito antecessor. Para a doutrina jusnaturalista há limitações impostas pelo direito natural a esse poder originário. Mas, como o Brasil adotou a corrente positivista, diz-se que é esse poder é ilimitado, apresentando uma natureza pré-jurídica, tendo em vista que a ordem jurídica não se inicia antes dele. Errada. No que se refere ao controle de constitucionalidade no ordenamento jurídico pátrio, julgue os itens a seguir. 5. O denominado fenômeno da recepção material de normas constitucionais somente é admitido mediante expressa previsão na nova Constituição. Resolução: Segundo André Reis, diz o Professor Jorge Miranda: “ ‘a par das normas que são direta expressão da nova idéia de Direito e que ficam sendo o núcleo da Constituição formal, perduram, então, por referência a elas, outras normas constitucionais’ (cf. Manual de Direito Constitucional, Coimbra, Coimbra Ed., 1988, t. II, p. 240)”. Pela própria natureza do Poder Constituinte Originário, que é a de criar um novo Estado, isto é, romper de vez com o antigo ordenamento jurídico, a recepção material só será admitida se assim determinar, expressamente, a nova Constituição; caso contrário, as normas anteriores serão revogadas. Como exemplo, tem-se o disposto no artigo 34, caput e § 1º, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição Federal de 1988, que determinou a continuidade de vigência de normas da Constituição Federal anterior: WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR “Art. 34. O sistema tributário nacional entrará em vigor a partir do primeiro dia do quinto mês seguinte ao da promulgação da Constituição, mantido, até então, o da Constituição de 1967, com a Nova redação dada pela Emenda nº 1, de 1969, e pelas posteriores. § 1º - Entrarão em vigor com a promulgação da Constituição os arts. 148, 149, 150, 154, I, 156, III, e 159, I, ‘c’, revogadas as disposições em contrário da Constituição de 1967 e das Emendas que a modificaram, especialmente de seu art. 25, III.” Correta. 6. Os efeitos gerais da declaração de inconstitucionalidade, no âmbito da ação direta de inconstitucionalidade, pelo STF são vinculantes em relação aos órgãos do Poder Judiciário e da administração pública federal, estadual, municipal e distrital. Resolução: Diz o artigo 102, § 2º, da Constituição Federal: § 2º As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal Federal, nas ações diretas de inconstitucionalidade e nas ações declaratórias de constitucionalidade produzirão eficácia contra todos e efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal. (Nova redação dada pela EC nº 45, de 2004)” Correta. 7. De acordo com a CF, o controle abstrato de constitucionalidade realizado no âmbito do tribunal de justiça do estado, por intermédio de ação direta de WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR inconstitucionalidade, somente pode ter por objeto leis ou atos normativos estaduais ou municipais confrontados perante a Constituição estadual. Resolução: Dispõe o artigo 125, § 2º, da Constituição Federal: “§ 2º - Cabe aos Estados a instituição de representação de inconstitucionalidade de leis ou atos normativos estaduais ou municipais em face da Constituição Estadual, vedada a atribuição da legitimação para agir a um único órgão.” Correta. 8. O STF admite, com fundamento no princípio da contemporaneidade, a aplicação da denominada teoria da inconstitucionalidade superveniente. Resolução: Segundo o Supremo Tribunal Federal, não há inconstitucionalidade superveniente: “CONSTITUIÇÃO - LEI ANTERIOR QUE A CONTRARIE REVOGAÇÃO INCONSTITUCIONALIDADE SUPERVENIENTE - IMPOSSIBILIDADE - 1. A lei ou é constitucional ou não é lei. Lei inconstitucional é uma contradição em si. A lei é constitucional quando fiel à Constituição; inconstitucional na medida em que a desrespeita, dispondo sobre o que lhe era vedado. O vício da inconstitucionalidade é congênito à lei e há de ser apurado em face da Constituição vigente ao tempo de sua elaboração. Lei anterior não pode ser inconstitucional em relação à Constituição superveniente; nem o legislador poderia infringir Constituição futura. A Constituição sobrevinda não torna inconstitucionais leis anteriores com ela conflitantes: revogaas. Pelo fato de ser superior, a Constituição não deixa de produzir efeitos revogatórios. Seria ilógico que a lei fundamental, por ser WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR suprema, não revogasse, ao ser promulgada, leis ordinárias. A lei maior valeria menos que a lei ordinária. 2. Reafirmação da antiga jurisprudência do STF, mais que cinqüentenária. 3. Ação direta de que se não conhece por impossibilidade jurídica do pedido. (STF ADI 2 - DF - T.P. - Rel. Min. Paulo Brossard - DJU 21.11.1997).” Errada. Julgue os itens seguintes, no que se refere à organização e aos poderes do Estado no ordenamento jurídico nacional. 9. No que diz respeito ao Poder Judiciário, a CF atribui à justiça militar, no âmbito da União, dos estados e do Distrito Federal e territórios, competência exclusivamente penal, restrita aos crimes militares definidos em lei. Resolução: Dispõe o artigo 124 da Constituição Federal: “Art. 124. à Justiça Militar compete processar e julgar os crimes militares definidos em lei. Parágrafo único. A lei disporá sobre a organização, o funcionamento e a competência da Justiça Militar. Art. 125. Os Estados organizarão sua Justiça, observados os princípios estabelecidos nesta Constituição. (...) § 4º Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados, nos crimes militares definidos em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a competência do júri quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR e da graduação das praças. (Nova redação dada pela EC nº 45, de 2004) § 5º Compete aos juízes de direito do juízo militar processar e julgar, singularmente, os crimes militares cometidos contra civis e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, cabendo ao Conselho de Justiça, sob a presidência de juiz de direito, processar e julgar os demais crimes militares. (Incluído pela EC nº 45, de 2004) (...)” Errada. 10. No que se refere à criação de municípios, o plebiscito constitui condição de procedibilidade para o processo legislativo da lei estadual. Consequentemente, se as populações dos municípios envolvidos se manifestarem favoravelmente à criação do novo município e o legislador estadual aprovar a correspondente lei, o governador não poderá vetá-la. Resolução: Consta do artigo 18, § 4º, da Constituição Federal: “§ 4º A criação, a incorporação, a fusão e o desmembramento de Municípios, far-se-ão por lei estadual, dentro do período determinado por Lei Complementar Federal, e dependerão de consulta prévia, mediante plebiscito, às populações dos Municípios envolvidos, após divulgação dos Estudos de Viabilidade Municipal, apresentados e publicados na forma da lei. (Nova redação dada pela EC nº 15, de 1996)” A Lei Complementar 1, de 9 de novembro de 1967, que estabelece os requisitos mínimos de população e renda pública e a forma de consulta prévia às populações locais para a criação de novos municípios, e dá outras WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR providências, alterada pela Lei Complementar 46/84, não prevê o veto do governador à lei. Correta. Com relação à DP, julgue o item subsecutivo. 11. De acordo com a CF, são de iniciativa exclusiva do presidente da República as leis que disponham sobre a organização da Defensoria Pública da União bem como as normas gerais para a organização da DP dos estados, do Distrito Federal, dos territórios e dos municípios. Resolução: Diz o artigo 61, § 1º, II, “d”, da Constituição Federal: “§ 1º - São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que: (...) II - disponham sobre: (...) d) organização do Ministério Público e da Defensoria Pública da União, bem como normas gerais para a organização do Ministério Público e da Defensoria Pública dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios;” Esse dispositivo não faz referência a Defensoria Pública de Municípios. Errada. WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR No que diz respeito aos direitos sociais e fundamentais e às funções essenciais da justiça, julgue o item abaixo. 12. Considere que o MP tenha ajuizado ação em face de determinado ente da Federação, visando obter provimento jurisdicional que assegurasse o fornecimento de medicamentos a pessoa considerada hipossuficiente. Nessa situação, apesar de o MP ter agido em defesa de interesses sociais e individuais indisponíveis, resta configurada, segundo entendimento do STF, a usurpação de competência da DP, visto que se busca assegurar o direito à saúde de pessoa hipossuficiente. Resolução: Disse o Supremo Tribunal Federal: “AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. FORNECIMENTO DE MEDICAMENTOS. MINISTÉRIO PÚBLICO. LEGITIMIDADE ATIVA. DEFESA DE DIREITOS SOCIAIS E INDIVIDUAIS INDISPONÍVEIS. PRECEDENTES. 1. A Constituição do Brasil, em seu artigo 127, confere expressamente ao Ministério Público poderes para agir em defesa de interesses sociais e individuais indisponíveis, como no caso de garantir o fornecimento de medicamentos a hipossuficiente. 2. Não há que se falar em usurpação de competência da defensoria pública ou da advocacia privada. Agravo regimental a que se nega provimento. (STF; RE-AgR 554.088-0; SC; Segunda Turma; Rel. Min. Eros Grau; Julg. 03/06/2008; DJE 20/06/2008; Pág. 129)” Errada.