UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO CENTRO BIOMÉDICO FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS RESISTÊNCIA À LEPTINA E EXPRESSÃO DO SEU RECEPTOR EM HIPÓFISE DE RATOS ADULTOS CUJAS MÃES FORAM DESNUTRIDAS DURANTE A LACTAÇÃO. LUCIANA LEÃO VICENTE Dissertação apresentada à Faculdade de Ciências Médicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro para obtenção do grau de Mestre em Fisiopatologia Clínica e Experimental RIO DE JANEIRO 2003 UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO CENTRO BIOMÉDICO FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS RESISTÊNCIA À LEPTINA E EXPRESSÃO DO SEU RECEPTOR EM HIPÓFISE DE RATOS ADULTOS CUJAS MÃES FORAM DESNUTRIDAS DURANTE A LACTAÇÃO. LUCIANA LEÃO VICENTE Rio de Janeiro 2003 FICHA CATALOGRÁFICA Vicente, Luciana Leão Resistência à leptina e expressão do seu receptor em hipófise de ratos adultos cujas mães foram desnutridas durante a lactação. / Luciana Leão Vicente.– 2003. xvii, 82 p. Orientador: Magna Cottini Fonseca Passos. Dissertação (Mestrado) – Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Faculdade de Ciências Médicas. 1. Desnutrição. 2. Leptina. 3. Hipófise. 4. Teses. I. Passos, Magna Cottini Fonseca. II. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Faculdade de Ciências Médicas. III. Título. UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO CENTRO BIOMÉDICO FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS RESISTÊNCIA À LEPTINA E EXPRESSÃO DO SEU RECEPTOR EM HIPÓFISE DE RATOS ADULTOS CUJAS MÃES FORAM DESNUTRIDAS DURANTE A LACTAÇÃO. Luciana Leão Vicente Orientador: Profª. Drª. Magna Cottini da Fonseca Passos Co-Orientador: Prof. Dr. Egberto Gaspar de Moura Aprovada em 28 de março de 2003, pela banca examinadora: Profª. Drª. Carmem Pazos-Moura ___________________________ Profa. Dra. Cecília Miranda de Carvalho ______________________ Profº. Drº. Jorge José de Carvalho ___________________________ RIO DE JANEIRO 2003 Este trabalho foi realizado no Laboratório de Fisiologia Endócrina do Instituto de Biologia Roberto Alcântara Gomes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, sob orientação do profª. Magna Cottini Fonseca Passos e sob co-orientação do prof. Egberto G. de Moura, com apoio financeiro concedido pela CAPES, CNPq e FAPERJ. O maior dos troféus é sempre aquele correspondente à vitória sobre as nossas próprias paixões. (Lope de Vega) À minha Avó pelo amor, carinho, paciência e por tudo que sou, e Aos meus Tios (Jane e João Paulo) por terem me ajudado a realizar um sonho, me ensinando sempre a lutar pelos meus ideais, espero ser sempre motivo de orgulho para eles . AGRADECIMENTOS À Professora Magna Cottini da Fonseca Passos pela orientação, dedicação e pelas críticas, que me fizeram amadurecer e aprender muito ao longo desses dois anos, e me estimularam a buscar o saber mais e mais... Muito obrigada. Ao Professor Egberto Gaspar de Moura pela orientação, estímulo e dedicação constantes Uma excelente referência como chefe, professor e pesquisador. À professora Andrea Monte Alto Costa e à mestranda Thaís Amadeu do Departamento de Histologia da UERJ, pela grande ajuda com a padronização da técnica de imuno-histoquímica, pelos incansáveis testes e discussões e principalmente pela amizade que ficou deste trabalho. Ao professor Carlos Alberto Mandarim de Lacerda, do laboratório de Anatomia da UERJ, pela grandiosa ajuda com a análise estereológica , críticas e opiniões deste trabalho. Muito mais que um orientador e mestre, uma pessoa admirável. Ao professor Valdemar da Costa, da Unidade de Pesquisa Urogenital, que me ajudou na padronização da técnica de imuno-histoquímica e disponibilizou o seu laboratório sempre que necessário. As técnicas Ana Maria e Silvana do laboratório de pesquisa Urogenital que me ajudaram a processar o material para imunohistoquímica. À Professora Patrícia Lisbôa pela ajuda em etapas deste trabalho, pelo estímulo, críticas e opiniões . À Coordenação de Pós-Graduação em Fisopatologia Clínica e Experimental pelo auxílio financeiro através da compra de material necessário para realização deste trabalho. À Professora Celly Cristina A. Nascimento Saba pela manutenção da infraestrutura do Departamento, permitindo a execução de nossos trabalhos. À doutoranda Sheila Cristina Potente Dutra pela amizade, companheirismo, e por ter me ajudado a tornar um sonho em realidade. Uma grande amiga. Às mestrandas Fabiane Pereira Toste e Isabela Bonomo pelo carinho e por partilharem comigo as dúvidas e angústias e, principalmente pelas palavras amigas e de estímulo quando algo errado ocorria. Às mestrandas do laboratório, Márcia Lins Clements, Cristiane Almeida e Gustavo pela amizade e ajuda nos momentos difíceis. Às alunas de iniciação científica Paula Galardo, Paula Sette, Gisele, Elaine, Luciane, Vanessa e Rafaela que sem as quais, parte deste trabalho não teria sido realizado. Às doutorandas, Regina Santos, Patrícia Dias de Brito e Cristiane de Oliveira Cravo e Simone pela convivência agradável, ajuda e palavras de estímulo. Aos funcionários da Pós-Graduação em Biologia: Adriano, Fabio, Marcos, e Mônica, pela convivência agradável e ajuda sempre que solicitados. Aos funcionários e técnicos do laboratório de Fisiologia Endócrina, Henrique, Lauciene e Andréa pela sua sempre pronta colaboração. Ao Nelcir Rodrigues pela grande ajuda no cuidado com os animais. À amiga Mariana Figueiredo Guimarães por tudo e por compartilhar da felicidade de realização deste sonho. Mais que amiga, uma irmã. À minha irmã Rose e minha prima Danielly por todo carinho. Muito Obrigado! ÍNDICE Página Lista de tabelas Lista de gráficos Lista de abreviaturas Resumo Abstract Introdução 1- Leptina 7 1.1- Sinalização da leptina 9 1.2-Fatores reguladores da síntese e secreção de leptina 12 1.3-Receptores de leptina 15 1.4- Leptina e Eixo hipotálamo- hipófise – tireóide 18 2- Resistência à leptina 20 3- Desnutrição na lactação e alterações endócrino-metabólicas na idade 22 adulta Objetivos 25 Materiais e Métodos Modelo experimental 26 Avaliação do Estado Nutricional 29 Teste de Resistência à Leptina 29 Determinação das Concentrações Séricas Hormonais 30 Imunohistoquímica dos Receptores de Leptina na Hipófise 31 Análise Estereológica 33 Análise Estatística 34 Resultados Evolução do peso corporal e consumo de ração dos animais cujas mães 35 foram desnutridas durante a lactação. Teste de resistência a leptina nos animais com 150 dias de idade cujas mães foram submetidas à desnutrição durante o período de lactação. 37 Concentrações séricas de leptina dos animais aos 150 dias de idade, 24h 40 após injeção de leptina Concentrações séricas de T3 e T4 dos animais, em jejum de 24h, aos 150 41 dias de idade, duas e 24h após injeção de leptina Concentrações séricas de T3, T4 e TSH de ratos com 180 dias cujas mães 45 foram submetidas a desnutrição durante a lactação Marcação imunohistoquimica do receptor de leptina (Ob-Rb) em hipófise de 47 ratos com 150 dias de idade cujas mães foram desnutridas durante a lactação Discussão 51 Conclusões 65 Perspectivas 66 Referências 67 LISTA DE TABELAS Página TABELA 1 Composição da dietas normo e hipoprotéica 27 LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 Evolução do peso corporal e consumo de ração dos 36 animais cujas mães foram desnutridas durante a lactação FIGURA 2 Ingestão de ração dos animais que receberam injeção 38 de leptina aos 150 dias de idade FIGURA 3 Ingestão de ração/100g de peso corporal dos animais 39 que receberam injeção de leptina aos 150 dias de idade FIGURA 4 Concentrações séricas de leptina nos animais aos 150 40 dias de idade, 24h após injeção de leptina FIGURA 5 Concentração sérica de T3 e T4 dos animais, em jejum 42 de 24h, aos 150 dias de idade, 2 horas após injeção de leptina FIGURA 6 Concentração sérica de T3 dos animais, em jejum de 43 24h, aos 150 dias de idade, 24 horas após injeção de leptina FIGURA 7 Concentração sérica de T4 dos animais, em jejum de 44 24h, aos 150 dias de idade, 24 horas após injeção de leptina FIGURA 8 Concentração sérica de T3, T4 e TSH dos animais com 46 180 dias FIGURA 9 Expressão do receptor de leptina na hipófise de ratos 48 aos 150 dias de idade FIGURA 10 Expressão do receptor de leptina na hipófise de ratos 49 aos 150 dias de idade cujas mães foram submetidas a desnutrição durante a lactação FIGURA 11 Quantificação do receptor de leptina na hipófise de ratos adultos cujas mães desnutrição durante a lactação foram submetidas a 50 LISTA DE ABREVIATURAS AgRP proteína agouti AYa gene agouti do camundongo obeso amarelo BSA albumina bovina sérica C controle cAMP adenosina monofosfato cíclico CART fator de transcrição celular regulado pela cocaína e anfetamina CSal controle salina CLep controle leptina CRH hormônio liberador de corticotropina rpm rotação por minuto D1 iodotironina desiodase tipo 1 db/db ratos transgênicos com mutação no receptor Ob-Rb DNA ácido desoxirribonucléico epm erro padrão da média GH hormônio do crescimento i.c.v intracerebroventricular IMC índice de massa corporal i.p intraperitoneal 125 radioisótopo de iodo IL-6 interleucina-6 JAK tirosina kinase janus kinase STAT proteína de sinal de transdução e transcrição ativada pelo receptor I de leptina LSAB marcador streptoavidina biotina LH hormônio luteinizante MCH hormônio concentrador de melanina MSH-α hormônio α-melanócito estimulante NPY neuropeptídeo Y Ob gene da obesidade ob/ob ratos transgênicos com mutação no gene que codifica a leptina OB-R receptor de leptina ObRb receptor de forma longa para leptina PBS tampão fosfato salina POMC proopiomelanocortinas P.C peso corporal QA/mm² número de perfis por área-teste RNAm ácido ribonucléico mensageiro RC restrição calórica RCSal restrição calórica salina RCLep restrição calórica Leptina RP restrição protéica RPSal restrição protéica salina RPLep restrição protéca leptina SEM desvio padrão da média s.c subcultânea SNC sistema nervoso central SOCS supressores de sinalização de citocinas STAT proteína de sinal de transdução e transcrição T3 3,5,3’- triiodotironina T4 3,5,3’,5’- tetraiodotironina (tiroxina) TNF-α fator de necrose tumoral α TRH hormônio liberador de tireotrofina TSH tireotrofina UCP proteína desacopladora RESUMO O objetivo deste estudo foi avaliar a resistência ao efeito anorético da leptina e a expressão dos receptores de leptina na hipófise de animais adultos cujas mães foram submetidas à desnutrição protéica ou calórica durante a lactação. Ratas Wistar (3 meses) foram divididas em 3 grupos no dia do nascimento da ninhada: controle (C)- ração com 23% de proteína; restrição protéica (RP)- ração com 8% de proteína; restrição calórica (RC)- ração com 23% de proteína, restrita à quantidade ingerida pelo grupo RP. Após o desmame todos os grupos tiveram livre acesso à ração normal. Foram realizadas 3 experiências com animais dos 3 grupos experimentais. A primeira, aos 150 dias de idade, onde foi realizado o teste de resistência a leptina. Estes animais foram subdivididos em 2 grupos: Leptina (CLep, RPLep e RCLep) que receberam injeção i.p. de leptina recombinante (0,5 mg/Kg/p.c.) e Salina (CSal, RPSal, RCSal) que receberam injeção do diluente nas mesmas condições. Numa outra experiência o peso corporal e ingestão alimentar foram avaliados do desmame aos 180 dias de idade. Numa terceira experiência, os animais, aos 150 dias de idade, foram sacrificados para obtenção da hipófise para análise imunohistoquímica do receptor de leptina. As proles de mães RP apresentaram baixo peso até os 6 meses de idade, enquanto as proles de mães RC ultrapassaram o peso dos animais controles aos 140 dias de idade. A ingestão alimentar não apresentou diferença significativa entre os grupos. O tratamento com leptina reduziu a ingestão alimentar no grupo controle. Ao contrário, os grupos RPLep e RCLep não responderam a injeção de leptina, demonstrando resistência ao efeito anorético deste hormônio. O grupo CLep apresentou aumento de T3 sérico e diminuição do T4 (p<0,05) 2 horas após a injeção de leptina. As proles de mães RP e RC apresentaram aos 180 dias de idade, maiores concentrações séricas de T3 e menores de TSH (p<0,01) enquanto o T4 foi maior apenas no grupo RP (P<0,05). As proles de mães RP e RC, com 150 dias de idade apresentaram maior expressão do receptor de leptina na hipófise. Estes resultados sugerem que a desnutrição materna durante a lactação altera a expressão do receptor de leptina na hipófise e programa a resistência à ação anorética da leptina das proles na idade adulta, representando um período suscetível à programação da ação da leptina. ABSTRACT The aim of this study was evaluate the resistance to the anorectic effects of leptin in animals whose mothers received protein or energy restricted-diet during lactation. Three months old female Wistar rats were randomly assigned to one of the following groups, on the day the offspring were born: C- control diet with 23% protein; PR- protein restricted diet with 8% protein; ER- energy-restricted, receiving the control diet in restricted quantities, which were calculated according to the mean ingestion of the PR group. After weaning all pups had free access to the control diet. Three experiences were realized in this study. In the first experience, at 150 days of age, animals were tested for its response to either leptin (CLep, PRLep and ERLep) or saline vehicle (CSal, PRSal, ERSal) on food intake. The animals received a single injection of leptin at a dose of 0,5 mg/kg/ body wt. On a second experience body weight and food intake was evaluate from birth through 6 months of age. On the third experience, pituitaries were dissected and used for immunohistochemistry analysis. Body weight of pups from PR mothers were always lower than those from controls (p<0.05), while body weight of pups from ER mothers surpassed that of the C group significantly at 140 days of age. There was no differences on food intake among the groups. Leptin treatment reduced food intake in the contros groups. In contrast, no response was observed to leptin in the PRLep and ERLep groups, suggesting leptin resistance. Two hours after leptin injection the CLep group had significantly higher T3 and lower T4 serum concentrations (p<0,05). The animals from PR and ER mothers had, at 180 days of age, higher T3 serum and lower TSH (p<0,01), while the T4 was higher only in the PR group (P<0,05). Analysis of immunostaining showed that animals from PR and ER mothers had, at 150 days of age, a higher expression of leptin receptor in pituitary tissue. These data suggest that maternal malnutrition during lactation changes the expression of pituitary leptin receptor and programming the resistance to the anorectic effects of leptin in adult life, representing a sensitive period for programming the action of leptin. INTRODUÇÃO Introdução Mais de um terço das crianças do mundo são afetadas pela desnutrição protéico-calórica. Para todos os indicadores (comprometimento extremo do crescimento, comprometimento severo do crescimento e baixo peso) a situação mais favorável, prevalência baixa ou moderada, ocorre na América Latina; a maioria dos países da Ásia apresenta alta ou muito alta prevalência; e, na África encontra-se uma combinação de ambas as circunstâncias. Um total de 80% das crianças afetadas vive na Ásia, 15% na África e 5% na América Latina (De Onis e cols, 1993). No Brasil, o último inquérito nacional realizado pela Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição (PNSN, 1990), constatou a existência de cinco milhões de crianças, menores de cinco anos, com algum grau de desnutrição. Em relação às diferentes regiões do país, observou-se que no Norte e no Nordeste, a desnutrição é pelo menos duas vezes maior do que na região Centro-Oeste e quatro vezes maior que na região Sul/Sudeste (Batista Filho, 1994). A prevalência de desnutrição tem diminuído nos países em desenvolvimento, de 47% em 1980 para 33% em 2000, entretanto o progresso tem sido desigual de acordo com as regiões. A desnutrição tem aumentado no Leste da África, mas diminuído na Ásia e na América do Sul. O Norte da África e o Caribe tem mostrado modesta melhora, e o Oeste da África e América Central apresentam bem pouco progresso (De Onis e cols, 2000). Wang e cols (2002), utilizando dados das décadas de 70 e 90, analisaram a prevalência de desnutrição e sobrepeso em crianças e adolescentes (6 a 18 anos) em quatro países, Brasil, China, Estados Unidos e Rússia. Neste estudo foi constatado que a prevalência de sobrepeso aumentou no Brasil (0,5%), China (0,1%) e Estados Unidos (0,6%), enquanto a desnutrição diminuiu no Brasil e na China. Na Rússia, ao contrário, o sobrepeso diminuiu (0,1%) e a desnutrição aumentou. Apesar da diminuição global da desnutrição nos países em desenvolvimento, a desnutrição infantil continua sendo o maior problema de saúde pública nestes países (De Onis e cols, 2000). Entretanto, contrário a uma condição que prevaleceu até recentemente, o sobrepeso é atualmente a desordem de maior prevalência em adultos nestes países, e as razões para esta transição não são ainda bem compreendidas. No Brasil a prevalência de sobrepeso em adultos é maior nas regiões mais ricas e decresce nas regiões mais pobres. No Nordeste, curiosamente, estes dois problemas aparecem com a mesma prevalência (Sawaya e cols,1997). Dados de três inquéritos realizados na cidade de São Paulo, a partir de meados dos anos 80 a meados dos anos 90, mostraram declínio da desnutrição durante este período em função de mudanças positivas em determinantes distais (renda familiar e escolaridade materna) e intermediários (saneamento do meio, acesso a serviços de saúde e antecedentes reprodutivos) do estado nutricional (Monteiro & Conde, 2000). As hipóteses em estudo para esta transição desnutrição-obesidade, seriam, a existência de um “genótipo econômico”, ou seja, uma adaptação para sobrevivência em condições de escassez alimentar, que se tornaria inconveniente quando houvesse um aumento do aporte alimentar (Neel, 1962; Wendorf, 1989) e uma segunda hipótese seria o consumo de excesso de energia e redução da atividade física (Popkin & Bisgrove,1988; Sichieri e cols, 1994; Wang e cols, 2002). Estudos epidemiológicos (Ravelli e cols, 1976; Barker e cols, 1995) e experimentais (Anguita e cols, 1993; Jones e cols, 1984; Passos e cols, 2000) associam a obesidade na idade adulta com a desnutrição nos primeiros dias de vida, uma relação que tem sido denominada programação (Lucas, 1994) ou impressão metabólica (Waterland & Garza, 1999). Fatores ambientais, tal como a desnutrição, que afeta o desenvolvimento do feto, altera permanentemente sua morfologia e fisiologia, e predispõem à Síndrome Metabólica (obesidade, diabetes, dislipidemias e hipertensão) e Doenças Cardiovasculares na idade adulta (Lucas, 1991; Barker, 1994; Barker, 1995; Martin e cols, 1998; Barker, 1998; Godofrey & Barker, 2000; Levin, 2000; Harding , 2001; Passos e cols, 2002; Ozanne & Hales, 2002). Lucas (1991; 1994), utilizou o termo programação para definir esses eventos ocorridos na vida precoce, que exercem efeitos em longo prazo. Outros estudos reforçam esse conceito, denominando-o de impressão metabólica, que se traduziria por uma modificação permanente de uma determinada função, conseqüente a uma alteração nutricional ocorrida em um período crítico nos primeiros dias de vida (Barker, 1995; Lucas, 1999; Waterland & Garza, 1999; Levin, 2000; Passos e cols, 2000). Demonstramos recentemente que a desnutrição protéica e calórica durante a lactação causam alterações na função tireóidea e no peso corporal da prole na idade adulta. Observamos que a prole cujas mães foram submetidas à restrição protéica durante a lactação, apresentaram menor peso corporal, elevada captação de iodo pela tireóide e alta concentração sérica de T3 aos 6 meses de idade, enquanto a prole cujas mães foram submetidas à restrição calórica apresentam maior peso corporal e aumento apenas de T3 sérico (Passos e cols, 2000; Passos e cols, 2002). Ambas as proles não apresentaram alteração do consumo alimentar do desmame aos 180 dias de idade (Teixeira e cols, 2002). Logo, outro fator, que não a ingestão alimentar, estaria levando a um ganho de peso mais acelerado da prole de mães submetidas à restrição calórica durante a lactação, e a um ganho de peso mais lento dos animais cujas mães foram submetidas à restrição protéica. Os principais reguladores do peso corporal são a leptina e os hormônios que são modulados por ela atuando, tanto na ingestão quanto no metabolismo; o sistema simpático controlando a produção de calor , principalmente através das UCPs (Bouillaud, 1999), e os hormônios tireóideos, que também, no rato aumentam a síntese de UCP e ativam o metabolismo em geral. Demonstramos recentemente que a parte inicial da lactação está associada a menores valores de leptina sérica ocorrendo um aumento significativo ao desmame em animais cujas mães foram submetidas à desnutrição protéica ou calórica na lactação. No entanto, aos 30, 60, 120 e 180 dias não houve diferença entre os grupos, ou seja, principalmente na prole de mães submetidas à restrição calórica não encontramos uma alteração de leptina sérica que explicasse o ganho de peso na idade adulta (Teixeira e cols, 2002). Assim, a principal hipótese para a explicação desses resultados, e que deu origem ao presente trabalho, é que esses animais apresentam uma resistência à ação da leptina na idade adulta. Estudos recentes têm demonstrado que o adipócito não é a única célula capaz de sintetizar a leptina, sendo detectada a expressão deste hormônio também na placenta (Senaris e cols, 1997), no estômago (Bado e cols, 1998), no músculo esquelético (Wang e cols , 1998), no epitélio mamário (Smith- Kirwin e cols, 1998) e na hipófise (Morash e cols, 1999; Jin e cols, 2000) de ratos normais. A identificação do gene ob em celulas adeno-hipofisárias humanas, de ratos e camundongos demonstra a ação neuroendócrina da leptina. Existem diferenças espécies-específicas, tanto quantitativas quanto na distribuição, pelos tipos celulares adeno-hipofisários. Em seres humanos os adrenocorticotrofos e gonadotrofos são as células que mais expressam leptina, enquanto em ratos e camundongos, os tireotrofos são as que apresentam maior expressão (Jin e cols, 2000). A detecção do receptor de leptina na hipófise de seres humanos (Jin e cols, 1999; Knerr e cols, 2001; Korbonits e cols , 2001) e de murinos (Jin e cols, 2000; Sone e cols, 2001) levantou a possibilidade de uma ação direta da leptina na liberação de TSH , o que foi comprovado experimentalmente (Ortiga-Carvalho e cols, 2002). Baseado nestes dados e nas diversas alterações da função tireóidea encontradas em nossos estudos (Passos e cols, 2002), interessou-nos avaliar os receptores de leptina na hipófise dos animais cujas mães foram submetidas à desnutrição durante a lactação. O papel dos receptores de leptina extra-hipotalâmicos é ainda desconhecido, mas poderá fornecer interessantes descobertas sobre o papel da leptina na homeostase energética. 1-Leptina A leptina (do grego leptos, que significa magro) é uma proteína produzida pelo gene ob, clonado em meados de 1990 (Zhang e cols, 1994; Tartaglia e cols, 1995; Lee e cols, 1996), secretada principalmente pelo adipócito e regula a ingestão alimentar e o balanço energético corporal (Zhang e cols, 1994; Maffei e cols, 1995; Schwartz e cols, 1996a; Friedman & Halaas, 1998). É um polipeptídio de 16 KDa e 167 aminoácidos, que parece ser um sinal aferente, atuando num mecanismo de retro-alimentação (feedback) negativo, em núcleos hipotalâmicos, regulando o tamanho do tecido adiposo (Friedman & Halaas, 1998), e conseqüentemente a homeostase do peso corporal (Morash e cols, 1999). Este efeito parece depender da inibição da produção hipotalâmica do neuropeptídeo Y (NPY) no núcleo arqueado, o qual estimula a ingestão alimentar, e aumenta a atividade simpática. Outros efeitos da leptina estão relacionados ao estímulo da síntese de hormônio liberador de corticotropina (CRH), que inibe a ingestão alimentar e aumenta o gasto energético; aumento da expressão e liberação de hormônio melanócito estimulante (α-MSH), por ativação de moléculas precursoras denominadas de pro-opiomelanocortinas (POMC) que exercem seu efeito a partir da ligação com membros da família de receptores de melanocortina, promovendo também inibição da ingestão alimentar (Schwartz e cols, 2000). A leptina parece variar apreciavelmente durante o período de lactação, tanto na mãe quanto no recém-nato (Mantzoros e cols, 1997a). Ela pode ser um importante agente regulador metabólico na prole, sinalizando para estes organismos as condições de aporte energético a que estão submetidos seus progenitores. Em um ambiente desprovido de nutrientes, a diminuição na capacidade reprodutiva e no crescimento dos indivíduos é de fundamental importância na manutenção do equilíbrio ecológico, podendo a diminuição da leptina, contribuir como mediador químico destas alterações. Hall (1975), propõe que condições que elevem a concentração de gordura no leite poderiam também estar associadas ao aumento nas concentrações de leptina sérica nos filhotes. Sabe-se que o aumento da atividade do NPY promove um efeito inibitório no eixo gonadotrófico e representa um mecanismo direto de inibição da maturação sexual e função reprodutora em condições de restrição alimentar e/ou gasto energético. Assim, por modulação direta e indireta do eixo hipotálamo-hipófise-gonadal, a leptina deve funcionar como um sinal indicando a adequação dos estoques de gordura corporal para o desenvolvimento da puberdade e reprodução. Secreção normal de leptina é necessária para a função reprodutiva normal, e estudos revelam que o tratamento com leptina em ratos ob/ob (que apresentam deficiência de leptina por mutação no gene ob ) restaura a puberdade e fertilidade (Ahima e cols, 1997; Kiess e cols, 2000). Existe uma correlação positiva entre as concentrações de leptina e a idade gestacional fetal, o que é consistente, tendo em vista o desenvolvimento do tecido adiposo e subseqüente acúmulo de massa adiposa (Ogueh e cols, 2000). Em adultos as concentrações séricas deste hormônio, declinam com a idade, principalmente em mulheres. Entretanto, esta mudança parece ser independente do IMC e de outras alterações endócrinas relacionadas com a idade (Isidori e cols, 2000). 1.1- Sinalização da leptina: Os neuropeptídeos hipotalâmicos envolvidos na ação da leptina podem ser classificados em 2 grandes grupos: peptídeos orexigênicos que são inibidos pela leptina e tem aumento do mRNA em resposta à deficiência deste hormônio e os peptídeos anorexigênicos que são estimulados pela leptina e podem diminuir em resposta a deficiência de leptina. Os peptídeos orexigênicos incluem NPY, AgRP, MCH, e orexina, enquanto o α-MSH, CART e o CRH são mediadores da ação anorexigênica da leptina (Elmquist, 1999; Flier, 1998a). A leptina tem efeitos inibitórios sobre a expressão gênica e secreção do NPY (Stephens e cols, 1995). Receptores de leptina estariam localizados em neurônios secretores de NPY, e a ativação desses receptores inibiria a transcrição, tradução ou secreção do peptídeo, inibindo o apetite. Sendo verdadeira esta hipótese, na ausência de NPY, a sinalização de leptina não seria evidente. Contudo, camundongos transgênicos deficientes em NPY e leptina apresentam resposta aumentada a leptina exógena (Erickson e cols, 1996, Palmiter e cols, 1998). Baseado nessas evidências foi proposto que o NPY não seria o único mediador da leptina na regulação do consumo alimentar ou da resposta aguda do jejum. O NPY estaria envolvido no controle do apetite apenas quando seus níveis estivessem muito elevados, como ocorre na deficiência total de leptina. Tal possibilidade foi reforçada pela observação de que camundongos de peso normal, deficientes em NPY, responderam à administração de leptina (Erickson e cols, 1996). A leptina estimula a expressão e liberação do hormônio α-MSH, que é produto do processamento das POMC, cuja expressão gênica é limitada quase que exclusivamente ao hipotálamo (Gee e cols, 1983). O α-MSH aumenta a síntese de cAMP de células que contém receptores de melanocortinas 4 (MC4R). Postula-se que os neurônios que contém MC4R inibem neurônios do hipotálamo lateral, que normalmente estimulam o apetite. O α-MSH é regulado pela ingestão alimentar (Brady e cols, 1990), em parte pela ativação dos neurônios que expressam o mRNA de POMC, mediada pela leptina (Mobbs & Mizuno, 2000). Havendo depósito de gordura abundante , os níveis circulantes de leptina estão aumentados e ativam a forma longa dos seus receptores residentes na região arqueada do hipotálamo, que possuem neurônios produtores de POMC (Cone, 1999). Aproximadamente há cem anos, um alelo pouco comum do locus agouti, cujo nome foi dado devido a características fenotípicas do agouti (do guarani acuti, cutia de coloração amarela), foi descrito em ratos de pelugem amarela e com obesidade severa (Cuénot, 1905). Décadas mais tarde, a atenção foi voltada para os efeitos que a mutação exercia sobre o peso corporal (Castle, 1941). A origem da mutação não era conhecida, mas a aparência única e rara desses animais permitiu a sua preservação ao longo dos anos (Barsh, 1996). O gene agouti do camundongo obeso amarelo (AYa) foi o primeiro gene associado à obesidade a ser identificado em roedores (Bray & York, 1979). A obesidade desses animais é menos pronunciada do que em camundongos ob/ob ou db/db, e tem início mais tardio (8 a 12 semanas de idade). É herdada como uma característica dominante, e resulta da mutação no gene agouti codificado no cromossomo 2. O gene agouti codifica uma proteína com 121 aminoácidos, normalmente expressa nos folículos capilares, que inibe a síntese de eumelalina em resposta às α- melanocortinas. O resultado da mutação é a expressão do gene AY em outros tecidos, entre eles o tecido adiposo e o cérebro (Bultman e cols, 1992). A AgRP causa hiperfagia quando administrada i.c.v, sendo considerada como uma molécula potencialmente orexigênica. A AgRP inibe a ação do α-MSH nos receptores de melanocortinas 4, evitando a diminuição da ingestão alimentar (Schwartz e cols, 2000). Como este receptor é expresso no hipotálamo e em outras regiões que regulam funções neuroendócrinas, é provável que os efeitos do gene Ay sobre os receptores MC4R tenham papel importante no desenvolvimento da obesidade. A ação da leptina também se faz através de fatores de transcrição celular regulados pela anfetamina e cocaína (CART), que promovem a saciedade (Schwatz e cols, 2000). Similar ao POMC, o mRNA do CART está reduzido no núcleo arqueado na deficiência de leptina de camundongos ob/ob e ratos em jejum. A administração de leptina eleva o nível de mRNA do CART, sugerindo que o sistema CART possua uma função central na regulação da ingestão e do peso corporal (Kristensen e cols, 1998). 1.2-Fatores reguladores da síntese e secreção de leptina: A síntese de leptina é influenciada pela quantidade de energia estocada no tecido adiposo. Assim, o mRNA para o gene ob e a leptina circulante são maiores em indivíduos obesos do que em indivíduos magros, e existe uma correlação positiva entre a expressão do mRNA da leptina e concentração plasmática de leptina e a gordura corporal total (Considine e cols, 1996; Frederich e cols, 1995; Maffei e cols, 1995). Em roedores os níveis de leptina aumentam dentro de poucas horas após a ingestão alimentar (Harris e cols, 1996) e em humanos as concentrrações deste hormônio aumentam vários dias após alimentação (Kolaczynski e cols, 1996). Ao contrário, o jejum causa uma diminuição dos níveis de leptina dentro de poucas horas, tanto em roedores como em humanos (Boden e cols, 1996; Frederich e cols, 1995; Kolaczynski e cols, 1996). Considerando a magnitude da alteração de leptina em resposta à ingestão alimentar sugere-se que a leptina funcione como um sinal para informar ao cérebro sobre o estado do balanço energético (Ahima e cols, 1996; Flier, 1998b). A insulina parece mediar, pelo menos em parte, os efeitos da nutrição sobre a regulação da síntese de leptina. A expressão da leptina aumenta após o pico de secreção insulina durante o ciclo alimentar (Boden e cols, 1996; Kolaczynski e cols, 1996; Saladin, 1995; Segal, 1996). Além disso, em cultura de adipócito a insulina estimulou a expressão da leptina (MacDougald e cols, 1995; Rentsh & Chiest, 1996). A leptina parece estar diminuída em resposta a deficiência de insulina e aumentada em resposta ao tratamento com a mesma (MacDougald e cols, 1995). Tratamento com glicocorticóides (em doses farmacológicas) estimula a síntese de leptina em cultura de adipócito e também quando administrada em roedores e humanos (Dagogo e cols, 1997; De Vos e cols, 1995; Larsson & Ahren, 1996; Murakamt e cols, 1995; Slleker e cols, 1996). A elevação crônica do cortisol tem sido associada com o aumento da expressão de leptina em humanos (Cizza e cols, 1997; Masuzaki e cols, 1997). Por outro lado, Torpy e cols (1998) demonstraram que o tratamento com CRH não afetou a concentração de leptina. A leptina é regulada por outros hormônios, bem como por citocinas proinflamatórias. A concentração de leptina é maior em fêmeas do que em machos da mesma idade, peso e quantidade de gordura corporal (Castracane e cols, 1998; Rosenhaum e cols, 1996; Saad e cols, 1997). O dimorfismo sexual da leptina pode ser devido, em parte, pela alta expressão de leptina no tecido adiposo subcutâneo nas fêmeas (Blum, 1997; Roemmich e cols, 1998; Rosenhaum e cols, 1996), e pela regulação da leptina pelos esteróides sexuais. A expressão da leptina é inibida pela testosterona (Blum, 1997; Elbers e cols, 1997; Jockenhovel e cols, 1997). Por outro lado, o estrogênio tem sido referido como um fator que aumenta ou que não apresenta nenhum efeito sobre os níveis de leptina (Casabiell e cols, 1998; Castracane e cols, 1998). A restrição calórica provoca redução na concentração sérica de leptina tanto em roedores (Ahima e cols, 1996) quanto em seres humanos (Kolaczynski e cols, 1996; Ostlund e cols, 1996). Ahima e cols (1996) demonstraram que as alterações no ciclo sexual de camundongos provocadas pela desnutrição foram normalizadas pelo tratamento com leptina, assim como, a secreção de LH, abolida durante o jejum, também foi restaurada pelo tratamento com leptina. Os estudos sobre regulação da leptina pelos hormônios tireóideos têm sido conflitantes. Enquanto alguns estudos têm descrito uma elevação da leptina em resposta à deficiência ou excesso de hormônios tireóideos, outros relatam não haver nenhum efeito significativo (Diekman e cols, 1998; Escobar-Morreale e cols, 1997; Mantzoros e cols, 1997b; Ozata e cols, 1998; Pinkney e cols, 1998). A deficiência do hormônio do crescimento (GH) está associada com o aumento dos níveis de leptina (Fisker e cols, 1997). Embora o tratamento com GH esteja associado com diminuição das concentrações séricas de leptina (Gill e cols,1999; Kristrom e cols, 1998), foi recentemente demonstrado que o GH estimula a liberação de leptina em cultura de adipócito de ratos e camundongos, independente de sua ação lipolítica (Fain & Bahouth, 2000). A infecção aguda, as endotoxinas e citocinas proinflamatórias, tais como, TNF-α e IL-6, estimulam a síntese de leptina (Bornstein e cols, 1998; Finck & Johnson, 2000; Finck e cols, 1998; Grunfeld e cols, 1996; Janik e cols, 1997; Sarraf e cols, 1997). Ao contrário, a exposição ao frio e as catecolaminas diminuem as concentrações séricas de leptina, provavelmente via ativação de receptores β-adrenérgicos (Donahoo e cols, 1997; Li e cols, 1997; Mantzoros e cols, 1996; Trayhurn e cols, 1996). 1.3-Receptores de leptina O receptor de leptina (OB-R) é um membro da família da classe 1 dos receptores de citocinas (Tartaglia, 1997) e foi primeiramente isolado por clonagem, no plexo coróide de camundongos (Tartaglia e cols, 1995). Subseqüentemente, foram identificadas 6 isoformas desse receptor para leptina (Ob-Ra; Ob-Rb; Ob- Rc; Ob-Rd; Ob-Re; Ob-Rf) (Chua e cols,1996; Lee e cols, 1996; Wang e cols, 1998), e 5 dessas isoformas (Ob-Ra; Ob-Rb; Ob-Rc; Ob-Rd; Ob-Rf) têm domínios transmembranas, entretanto, apenas a isoforma longa (Ob-Rb) contêm todos os sítios intracelulares necessários para a ativação da via de transdução sinalizada por JAK-STAT (Vaisse e cols, 1996; Ghilardi e cols, 1996; Bjorbaek e cols, 1997). Esta isoforma longa é altamente expressa em regiões hipotalâmicas envolvidas com o balanço energético e função neuroendócrina e tem sido colocalizada onde são expressos um ou mais neuropeptídeos mediadores da ação da leptina, tais como, NPY e POMC, que regulam a ingestão alimentar e/ou peso corporal, balanço energético e função neuroendócrina (Baskin e cols, 1999; Elmquist e cols, 1997; Hakansson e cols, 1996; Hakansson & Meister, 1998; Mercer e cols, 1996a; Mercer e cols, 1996b; Schwartz e cols, 1996a). A leptina se liga ao seu receptor que então, se associa à tirosina Kinase Janus Kinase (JAK). Esse acoplamento ativa a JAK que fosforila o seu próprio receptor bem como proteínas de sinal de transdução e transcrição (STAT), que se translocam para o núcleo para iniciar a transcrição de genes alvo que medeiam alguns dos efeitos da leptina (Schwartz e cols, 2000). A STAT-3 parece ser a principal proteína ativada pelo receptor de leptina. A ligação da leptina resulta em agregação de dois ou mais dos seus receptores para ativação da cascata de sinalização JAK/STAT (White e cols, 1997; Devos e cols, 1997). Devido ao domínio citoplasmático reduzido, a forma curta do receptor de leptina parece não ativar as proteínas STAT (Considini & Caro, 1997). Recentemente foi descrito um inibidor da sinalização de leptina induzido pela própria leptina (Bjorbaek e cols, 1998). Este inibidor é membro da família de supressores da sinalização de citocinas (SOCS), nomeado SOCS-3 (Endo e cols, 1997; Starr e cols, 1997), e cuja principal função é bloquear a ativação de proteínas STAT in vitro. Além disso, a administração de leptina induz a um rápido aumento do mRNA para SOCS -3 no hipotálamo (Bjorbaek e cols, 1998), apontando a relevância desta molécula como marcador de ação da leptina ao nível cerebral. Ratos transgênicos com mutação no receptor Ob-Rb, são totalmente insensíveis a leptina, sugerindo que este receptor seja essencial para a sinalização da leptina (Chen e cols, 1996; Chua e cols, 1996). Caro e cols (1996), testaram a hipótese de que na obesidade humana poderia existir um defeito no transporte de leptina no fluido cerebroespinhal, produzido no plexo coróide, já que na maioria dos casos de obesidade mórbida ocorre hiperleptinemia. Neste estudo ficou evidenciado que há um processo de saturação de receptores em indivíduos obesos, ao contrário do que ocorre em camundongos db/db, nos quais a hiperleptinemia subsensibiliza seus receptores. A forma curta do receptor de leptina é expressa no rim, glândula adrenal e plexo coróide, enquanto a forma longa do receptor de leptina é altamente expressa no hipotálamo. De acordo com estudos de hibridização, in situ, em ratos e camundongos, a expressão do gene para receptor de leptina está presente no núcleo arqueado, ventromedial, paraventricular e núcleo ventral premamilar, bem como no plexo coróide e leptomeninges (Mercer e cols,1996b). Receptores de leptina têm sido detectados em diversos tecidos, contudo, a regulação do apetite, o gasto energético e as funções neuroendócrinas são provavelmente mediadas por fatores neuronais no hipotálamo e outras regiões do cérebro (Campfield e cols, 1995; Friedman & Halaas, 1998; Woods e cols, 1998). Estudos recentes têm demonstrado a expressão do receptor de leptina (OB-Rb) em diversos tecidos extra-hipotalâmicos em roedores, incluindo hipófise (Sone e cols, 2001; Jin e cols, 2000), órgãos reprodutivos (Zamorano e cols, 1997) e tireóide (Nowak e cols, 2002). Na hipófise de ratos normais foi encontrada maior expressão do receptor de leptina em células secretoras de GH (Sone e cols, 2001). Além disso, na hipófise de ratos e camundongos as células secretoras de TSH (tireotrofina) e outras células expressam também a leptina (Morash e cols, 1999; Jin e cols, 2000) . Isto sugere que o papel da leptina na hipófise possa incluir uma regulação autócrina e parácrina para a secreção dos hormônios hipofisários. Os estudos recentes que demonstraram a expressão dos receptores de leptina nos diversos tecidos foram realizados com ratos normais. Nenhum estudo demonstrou, até o momento, a expressão dos receptores de leptina em animais desnutridos. 1.4- Leptina e Eixo hipotálamo- hipófise– tireóide A regulação da função tireóidea normal envolve a síntese e secreção de TRH (hormônio liberador de tireotrofina) e TSH por um mecanismo de retroalimentação (feedback) negativa realizada pelos hormônios tireóideos (Lechan & Kakucska, 1992). A queda do T4 sérico, como no hipotireoidismo primário, resulta num aumento na síntese/secreção de TRH e TSH. Ao contrário, o aumento dos níveis de T4 levam a supressão da síntese/secreção de TRH e TSH. Durante o jejum , entretanto, esse mecanismo de regulação está alterado, de tal forma que os baixos níveis de T3 e T4 estão associados com uma resposta sub-normal na síntese do TRH e secreção do TSH (Campbell e cols, 1977; Harris e cols, 1978; Hermus e cols, 1992; Sims & Horton, 1968). A diminuição da concentração sérica de leptina é um mediador dessa adaptação do eixo hipotálamo-hipófise-tireóide durante o jejum, contribuindo para uma menor expressão do mRNA do pro-TRH no núcleo paraventricular do hipotálamo. Corroborando esta hipótese, o tratamento com leptina reduziu a diminuição na concentração sérica de tiroxina observada durante o jejum (Nillni e cols, 2000). Legradi (1997), demonstrou posteriormente, que o mRNA para o proTRH, que diminui durante o jejum, volta ao normal com a administração de leptina. Recentemente, foram encontrados receptores para TSH em adipócitos. Em um estudo de adipócitos epididimais de ratos, o TSH estimulou a lipólise e reduziu a expressão do RNAm do gene ob, aproximadamente em 55%. A relevância destes mecanismos exercidos pelo TSH nos adipócitos parece estar relacionada à regulação do apetite e gasto de energia em estados fisiopatológicos (Shintani e cols, 1999). Em obesos, as concentrações séricas de TSH estão relacionadas ao percentual de gordura corporal e a leptina plasmática (Pinkney e cols, 1998). Ortiga-Carvalho e cols (2002), em estudos in vitro, demonstraram haver uma regulação direta da leptina inibindo a secreção de TSH, em hipófises de ratos . Por outro lado, Seoane e cols (2000), demonstraram haver um estímulo da leptina na restauração da secreção de TSH, in vivo , inibida pelo jejum, quando esta é administrada via i.c.v. Segundo o autor, o efeito estimulador da leptina na secreção espontânea de TSH em ratos eutireóideos, poderia explicar a reversão na queda dos hormônios tireóideos em ratos em jejum (Ahima, 1996; Orban e cols, 1998). Esse efeito estimulador da leptina parece ser exercido sobre o hipotálamo, porém, o mesmo não foi observado com tanta magnitude quando a administração de leptina ocorre em animais hipotireóideos, indicando que esse efeito é dependente da função tireóidea (Seoane e cols, 2000). A análise de todos esses dados sugere que a redução da leptina sérica induzida pelo jejum leva à diminuição da produção hipotalâmica de TRH que conseqüentemente induz à redução na secreção espontânea de TSH e concentração de hormônios tireóideos, mas o mecanismo pelo qual isso ocorre ainda não está totalmente esclarecido. Estudo recente (Nowak e cols, 2002) revelou a expressão de receptor de forma longa para leptina (Ob-Rb) na glândula tireóide de ratos normais. Após administração de leptina, via s.c., esse mesmo grupo observou redução da concentração plasmática de TSH, enquanto os hormônios tireóideos aumentaram significativamente. Além disso, através de análise morfométrica, foi observado aumento do peso da glândula tireóide e do volume do epitélio folicular, sem alteração do colóide. A partir desses dados, esses autores sugeriram que a administração crônica de leptina estimula o crescimento e secreção da tireóide, em ratos, através de um efeito direto envolvendo o receptor Ob-Rb. Baseado nestes dados e nas diversas alterações da função tireóidea encontradas em nossos estudos (Passos e cols , 2002), interessou-nos avaliar os receptores de leptina na hipófise dos animais cujas mães foram submetidas à desnutrição durante a lactação. 2- Resistência a leptina A deficiência de leptina é um evento raro na obesidade humana. Muitos indivíduos obesos apresentam altas concentrações de leptina circulante (Zhang e cols, 1994; Maffei e cols, 1995) que pode ser resultado de uma deficiência do hipotálamo em detectá-la. A hiperleptinemia indica resistência a leptina e posteriormente deve ter papel na patogênese da obesidade (Maffei e cols, 1995; Considine e cols, 1996). Os prováveis mecanismos que causam resistência a leptina seriam: prejuízo no transporte de leptina pela barreira hemato-encefálica e anormalidades de receptores de leptina e/ ou sinalização pósreceptor. A relação entre a leptina do fluido cérebro espinhal e a leptina sérica está diminuída em ratos obesos e pode ser indicativo de transporte prejudicado no cérebro (Caro e cols, 1996; Schwartz e cols, 1996b). Halaas e cols (1997) demonstraram que camundongos obesos são resistentes à administração periférica de leptina, mas respondem à injeção de leptina via i.c.v. Estes achados sugerem que a resistência a leptina pode ser mediada pelo transporte prejudicado de leptina na barreira hemato-encefálica. Dietas com alto teor de lipídeos podem desenvolver a resistência a leptina através de vários mecanismos, dentre eles a presença de um antagonista circulante ou uma proteína acoplada, aumento no clearence de leptina, alteração no transporte no cérebro, baixa regulação do receptor de leptina, inibição da via JAK-STAT, ou ativação do SOCS3 ou outras citocinas inibitórias (Friedman & Halaas, 1998). Ratos alimentados com dieta com alta concentração de lipídeos apresentaram um menor incremento nas concentrações séricas de leptina circulante após injeção intraperitoneal de leptina, quando comparados com aqueles que receberam dieta com baixo teor de lipídeos, sugerindo um aumento do clearence da leptina (Lin e cols, 2001). Outros tipos de resistência a leptina ocorrem como resultado da mutação do receptor de leptina. Existem vários tipos de receptores de leptina mutados que podem resultar em obesidade nos ratos (Flier & Elmquist, 1997) e em humanos (Clement e cols, 1998). O transporte de leptina através da barreira hemato-encefálica é unidirecional do sangue para o cérebro e pode ocorrer por um processo de saturação (Caro e cols, 1996; Banks e cols, 1996) via receptores de leptina de forma curta. Talvez em resposta ao desenvolvimento da hiperleptinemia, o aumento do peso corporal pode ser explicado por uma baixa expressão desses receptores de leptina (Caro e cols, 1996). Outras formas de resistência a leptina pode ocorrer de uma maneira farmacocinética, por exemplo, como um problema na distribuição, liberação, no metabolismo e/ou eliminação. Esses são múltiplos mecanismos que podem desenvolver a resistência a leptina e tem sido demonstrado que existem vários estágios de resistência a leptina em diferentes grupos de ratos obesos (Halaas e cols, 1997). Provavelmente essas variações de resistência a leptina podem ocorrer em seres humanos obesos também. 3- Desnutrição Na Lactação e Alterações Endócrino-Metabólicas na Idade Adulta Diversos estudos têm mostrado que a gestação e/ou a lactação podem ser períodos críticos para o futuro desenvolvimento nutricional (Jones e cols, 1984; Anguita e cols, 1993) e hormonal (Coleoni e cols, 1983; Moura e cols, 1997; Ramos e cols, 2000) da prole, uma relação que tem sido denominada programação (Lucas, 1994) ou impressão metabólica (Waterland & Garza, 1999). Esta seria uma modificação permanente de uma determinada função, conseqüente a uma alteração nutricional ou hormonal ocorrida em um período crítico nos primeiros dias de vida. Disfunções endócrinas e metabólicas, tais como alterações no desenvolvimento neural (Rocha-de-Melo & Guedes, 1997), na secreção e tolerância à glicose (Moura e cols, 1997; Bertin e cols, 1999, Ozanne & Hales, 2002), no peso corporal (Anguita e cols, 1993; Passos e cols, 2000) e no metabolismo desiodativo dos hormônios tireóideos, tem sido demonstradas em animais adultos cujas mães foram submetidas à desnutrição protéica durante a lactação e/ou gestação (Dutra e cols, 2003) Recentemente demonstramos (Passos e cols, 2000), em ratos, que o estado nutricional materno durante a lactação pode determinar o peso corporal da prole na idade adulta. Observamos que a prole das ratas submetidas à desnutrição protéica possui um ganho de peso sempre inferior ao grupo controle, mesmo após a normalização da dieta. Enquanto que na prole das mães submetidas à desnutrição calórica, ocorre um aumento de cerca de 10% no peso corporal aos 180 dias de idade. Foi demonstrado previamente (Ramos e cols, 1997), em animais de 60 dias de idade cujas mães foram submetidas à desnutrição protéica durante a lactação, um aumento na captação tireóidea de 131 I, com concentrações séricas de T3 e T4 normais. Mais recentemente, Passos e cols (2002) demonstraram que nos animais com 180 dias de idade cujas mães foram submetidas à desnutrição protéica na lactação, também apresentam aumento na captação tireóidea de iodeto, com concentrações séricas T3 e T4 elevadas e aumento da atividade da desiodase tipo 1 hepática (Dutra e cols, 2003). Estes dados sugerem que modificações na função tireóidea materna, durante o período lactacional, alteram permanentemente a função tireóidea e o metabolismo desiodativo dos hormônios tireóideos na prole adulta, caracterizando uma programação ou impressão metabólica. Resultados similares foram relatados por Coleoni e cols (1983), que mostraram em ratos adultos, cujas mães foram submetidas à restrição protéica (8%) a partir do 14º dia da gestação até o desmame e nestes até 50 dias de idade, uma alta concentração de T3 sérico no 3º e 15º dia após a introdução de dieta normoprotéica. Ao contrário deste estudo, em que os animais continuam em dieta hipoprotéica até próximo da puberdade, o estudo de Passos e cols (2002) mostra que a fase crítica para a programação é muito mais curta, coincidindo com o período de lactação. Postulamos que na desnutrição durante a lactação as alterações no peso corporal e na função tireóidea na idade adulta foram determinadas na fase inicial da lactação e sejam devidas à resistência ao efeitos da leptina. Para confirmarmos esta hipótese tornou-se necessário testar a resistência ao efeito da anorético da leptina e avaliar a expressão dos receptores de leptina na hipófise destes animais. Assim, neste estudo pretendemos elucidar alguns dos mecanismos básicos das alterações observadas em nossos estudos anteriores. OBJETIVOS Geral Estudar a resistência ao efeito anorético da leptina e a expressão dos receptores de leptina na hipófise de animais adultos cujas mães foram submetidas à desnutrição protéica ou calórica durante a lactação. Específicos Avaliar a ingestão alimentar, peso corporal e concentrações séricas de leptina após administração de dose aguda de leptina em animais com 150 dias de idade cujas mães foram desnutridas durante a lactação. Determinar as concentrações séricas de TSH e dos hormônios tireóideos de ratos adultos cujas mães foram desnutridas durante a lactação. Quantificar, através do estudo imunohistoquímico, a expressão dos receptores de leptina na hipófise de ratos adultos cujas mães foram desnutridas durante a lactação. MATERIAIS E MÉTODOS 1-ANIMAIS Ratas Wistar, nulíparas, de três meses de idade foram acasaladas na proporção de duas fêmeas para um macho. Mantidas sob temperatura (25 ± 1°) e ciclo claro escuro (7:00-19:00) controlados, recebendo ração comercial(23% de proteína) e água ad libitum, até o nascimento dos filhotes, quando foram divididas em 3 grupos: Controle (C): com livre acesso à água e dieta normal (ração comercial com 23% de proteína) Restrição protéica (RP): com livre acesso à água e dieta hipoprotéica (ração com 8% de proteína) Restrição calórica (RC): com livre acesso à água e dieta normal (ração comercial com 23% de proteína), porém restrita às mesmas quantidades ingeridas no dia anterior pelo grupo RP. O grupo RC foi estudado para diferenciar os efeitos causados pela carência exclusiva de proteína, daqueles causados pela restrição calórica, uma vez que já foi demonstrado que ratas submetidas à restrição protéica ingerem menor quantidade de ração em relação às ratas controle (Rostom e cols, 1989; Pine e cols,1994; Passos e cols, 2000). A ração hipoprotéica foi preparada manualmente em nosso laboratório (Laboratório de Fisiologia Endócrina do Instituto de Biologia) e a sua composição mostrada na tabela 1. A fonte protéica dessa dieta foi a ração comercial macerada (NuvilabNUVITAL Nutrientes LTDA), e as calorias foram compensadas pela adição de amido de milho para se obter uma dieta hipoprotéica e isocalórica. As misturas de sais e vitaminas foram formuladas de acordo com as recomendações do American Institute of Nutrition Rodents Diets, AIN-93 G (1993), nas mesmas quantidades da dieta controle. Tabela 1- Composição das dietas normo e hipoprotéica. Controle Hipoprotéica Ingredientes - g Proteína 230.0 80.0 Amido de milho 676.0 826.0 Óleo de soja 50.0 50.0 Mistura de vitaminas * 4.0 4.0 Mistura de minerais * 40.0 40.0 Analise: Energia Total - kcal 4070.4 4070.4 Proteina % 23.0 8.0 Carboidrato % 66.0 81.0 Lipídios % 11.0 11.0 *De acordo com as recomendações do American Institute of Nutrition Rodents Diets, AIN-93G (1993) As dietas foram administradas no dia do nascimento dos filhotes (dia zero), quando então, a ninhada foi ajustada em 6 filhotes machos, pois este parece ser o número que confere maior potencial lactotrófico às ratas (Fishbeck & Rasmussen, 1987). Todos os filhotes foram desmamados aos 21 dias de idade (final da lactação) e mantidos com livre acesso à dieta normal (ração comercial – 23 % de proteína) até 150 ou 180 dias de idade, quando então foram sacrificados para obtenção das amostras de soro e tecidos. Foram realizadas três experiências: 1- A primeira com 24 animais, dos três grupos experimentais, com 150 dias de idade, onde foi realizado o teste de resistência à leptina e os animais foram sacrificados 24h após, para obtenção de sangue para dosagem sérica de leptina e dos hormônios tireóideos. 2- Numa outra experiência, 15 animais, dos três grupos desnutridos, com 150 dias de idade, foram sacrificados para obtenção da hipófise para análise imunohistoquímica. 3- Uma terceira experiência foi realizada com 15 animais, dos três grupos experimentais, aos 180 dias de idade para obtenção de sangue para dosagem sérica dos hormônios tireóideos e TSH. O peso corporal e o consumo alimentar foram controlados neste grupo de animais. 2- AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL 2.1 Peso corporal: após o desmame o peso corporal da prole foi monitorado de quatro em 4 dias até 180 dias de idade, obedecendo sempre o mesmo horário de pesagem para todos os dias analisados. 2.2 Consumo de ração: após o desmame a ingestão da prole foi acompanhada de quatro em 4 dias até 180 dias de idade. A quantidade de ração ingerida consistia na diferença entre o peso da ração que restou na gaiola (Rf) e a quantidade total colocada quatro dias antes (Ri). Esses dados foram então usados para calcular a ingestão diária de ração, de acordo com a fórmula: Ingestão de ração (g) = Ri – Rf / 4, n onde, n corresponde ao número de animais em cada gaiola, e 4 é o número de dias. 3-TESTE DE RESISTÊNCIA À LEPTINA Os animais aos 150 dias de idade ficaram em jejum 24h antes do teste com livre acesso à água. Cada grupo experimental (C, RP e RC) foi subdividido em 02 grupos: Leptina (CLep, RPLep e RCLep): tratados com injeção i.p de leptina recombinante (0,5 mg/kg/p.c, PeproTech, EUA); Salina (CSal, RPSal e RCSal): injetados com diluente nas mesmas condições. Todos os animais retornaram às gaiolas com ração previamente pesada. O efeito anorético da leptina foi estabelecido pela diferença do consumo de ração entre o grupo injetado com leptina e o grupo que recebeu o diluente, em 2, 4, 6 e 24h (Martin e cols, 2000). Após 24h da administração de leptina os animais foram anestesiados com pentobarbital (0,15 ml/ 100g de peso corporal, i.p.) e sacrificados. O sangue foi retirado, por punção cardíaca, centrifugado a 3000 rpm, a 4ºC por 15 minutos e o soro foi armazenado a -20ºC para posterior análise das concentrações séricas de leptina, e dos hormônios tireoideanos T3 e T4. 4- DETERMINAÇÃO DAS CONCENTRAÇÕES SÉRICAS HORMONAIS As concentrações séricas de TSH foram determinadas por radioimunoensaio de duplo anticorpo, utilizando kit específico para ratos, gentilmente fornecidos pelo National Institute of Diabetes and Digestive and Kidney Diseases (NIDDK-Bethesda, USA, rp-3), conforme descrito anteriormente ( Moura e cols, 2001). As concentrações séricas de T3 e T4 totais, foram determinadas por radioimunoensaio comercial (ICN Pharmaceulticals Inc., NY, EUA), adaptado para determinação de hormônios tireóideos em ratos. As concentrações séricas de leptina foram avaliadas pelo método ELISA, utilizando o kit comercial da Diagnostic Systems Laboratories, Inc. (Active TM Murine Leptin Elisa). A sensibilidade do kit é de 0,5 ng/ml. O coeficiente de variação intra e inter ensaio foi de 6,9% e 7,3%, respectivamente. 5- IMUNOHISTOQUÍMICA DOS RECEPTORES DE LEPTINA NA HIPÓFISE 5.1- Obtenção das amostras Aos 150 dias de idade os animais foram sacrificados após anestesia com pentobarbital (0,15 ml/ 100g de peso corporal, i.p.). O sangue foi retirado, por punção cardíaca, centrifugado a 3000 rpm, a 4ºC por 15 minutos e o soro foi armazenado a -20ºC. As hipófises foram cuidadosamente excisadas e imediatamente colocadas em solução de formalina tamponada a 4% por 12 horas à 4º C. 5.2- Fixação e processamento dos tecidos: Para análise imunohistoquímica do receptor de leptina na hipófise da prole dos grupos experimentais, C, RP e RC, a técnica foi padronizada em nosso laboratório de acordo com estudos anteriores (Jin e cols, 2000; Sone e cols, 2001, Nowak e cols, 2002 e Shioda e cols, 1998). As hipófises, mantidas em solução de formalina tamponada por 12 horas à 4ºC, foram processadas através de sucessivos banhos de álcool, xilol e parafina nos seguintes tempos: • Desidratação - banhos de álcool 70%, 80%, 90%, 95% de 30 minutos cada e 2 banhos de álcool a 100% de 45 e 60 minutos, sucessivamente. • Diafininização - 2 banhos de xilol, de 45 e 60 minutos. • Impregnação - 2 banhos de parafina de 45 e 60 minutos e inclusão dos tecidos em parafina. Os cortes foram de 5 µm de espessura em lâminas previamente silanizadas. 5.3- Imunomarcação: As lâminas ficaram “overnight” em estufa para iniciar a desparafinização do corte e após realizou-se 3 banhos de xilol de 5 minutos cada. Em seguida foi feita a reidratação do tecido com banhos de 5 minutos de álcool a 100%, 90% e 70%, seguido de um banho em água destilada. Para recuperação do sítio antigênico os tecidos foram colocados em tampão citrato pH 6,0, no banho maria por 30 minutos a 90ºC. As lâminas foram lavadas em tampão PBS e colocadas em imersão com peróxido de hidrogênio (3%) em metanol por 20 minutos para inibição da peroxidase endógena. Após três banhos em PBS de 5 minutos cada o tecido foi incubado com anticorpo primário (1:100) para o receptor de leptina (Anti Human Leptin Receptor – Long Form, LINCO RESEARCH, INC, St. Charles, MO), diluído em PBS/BSA 1% em câmara úmida. O anticorpo secundário e o complexo Streptavidina peroxidase utilizados foram do Kit DAKO LSAB (K0690) e os tempos de incubação em câmara úmida foram de 40 minutos e 1 hora sucessivamente. A imunomarcação foi visualizada usando o método complexo avidina biotina peroxidase. Após a aplicação do cromógeno as lâminas foram lavadas em água corrente, e foi realizada coloração de fundo com hematoxilina, em seguida as lâmninas foram desidratadas com álcool, submetidas a 3 banhos de xilol de 5 minutos cada e montadas em Entelan. 6- ANÁLISE ESTEREOLÓGICA O objetivo da estereologia é determinar parâmetros quantitativos tridimensionais de estruturas anatômicas a partir de cortes bidimensionais, baseando-se na geometria e estatística (Mandarim-de-Lacerda, 1995). A quantificação de células imunomarcadas para o receptor da leptina na hipófise esta baseada na determinação do número de perfis por área-teste (QA/mm²). O estudo foi realizado usando vídeo-microscopia (microscópio Leica DMRBE, câmara de vídeo Sony, monitor Sony triniton). Foram contadas as células imunomarcadas numa área-teste de 6400µm², com aumento de 20 vezes. De cada corte foram analisados 10 campos aleatórios por animal e, cinco animais por grupo. 7-ANÁLISE ESTATÍSTICA: Os dados são expressos como média ± SEM. No estudo da resistência a leptina, para a análise das diferenças entre os grupos, utilizamos o teste t de Student. Para a análise do estado nutricional, as diferenças entre os grupos foram determinadas através de análise de variância univariada associada à teste de comparação múltipla entre as médias, teste de Newman-Keuls. Para análise do TSH sérico, utilizamos o teste não paramétrico de Kruskall-Wallis. As diferenças do QA/mm² entre os grupos foram testadas com o teste não paramétrico de Mann-Whitney. O nível de significância de p<0,05 foi aceito como estatisticamente significativo. RESULTADOS Estado Nutricional dos animais cujas mães foram desnutridas durante a lactação. A evolução do peso corporal e consumo alimentar dos animais cujas mães foram desnutridas durante a lactação é mostrada na figura 1, onde as avaliações foram iniciadas no dia do desmame (21 dias) e finalizada aos 180 dias de idade. Os animais cujas mães receberam dieta hipoprotéica durante a lactação apresentam peso corporal menor (p<0,05) que o controle desde o desmame até os 6 meses de idade. Do desmame até 40 dias de idade, tanto os filhotes de ratas submetidas à restrição protéica durante a lactação quanto de ratas submetidas à restrição calórica, apresentam peso corporal menor (p<0,001) que o controle. Aos 60 dias observa-se uma recuperação do peso corporal da prole de ratas RC, enquanto as proles do grupo RP continuam significativamente (p<0,01) abaixo do peso até os 6 meses de idade (aproximadamente 10%). O peso corporal da prole de ratas RC ultrapassa em 10% (p<0,01) o peso corporal dos animais controles aos 3 meses de idade, permanecendo acima do peso do grupo controle até os seis meses de idade (fig.1A). Os animais cujas mães receberam dieta hipoprotéica durante a lactação apresentaram menor ingestão de ração (p<0.001) do desmame ao 53º dia de idade, normalizando-se até a idade adulta em comparação ao grupo controle. Já os animais cujas mães receberam dieta hipocalórica durante a lactação apresentaram menor ingestão de ração (p<0.001) do desmame ao 33º dia de idade, também se normalizando até a idade adulta em comparação ao grupo controle (fig.1B). Evolução do peso corporal e consumo de ração dos animais cujas mães foram desnutridas durante a lactação A 400 RC vs C, p<0,05 Peso corporal (g) 300 200 RP vs RC, p<0,05 100 C RP RC RP vs C, p<0,05 0 0 25 50 75 100 125 150 175 200 Idade (dias) Ingestão de ração g/dia 175 B 150 125 C vs RC p < 0,001 100 75 C 50 RP 25 0 RC C vs RP p<0,001 0 25 50 75 100 125 150 175 Idade (dias) Figura 1: Evolução do ganho de peso corporal (A) e consumo de ração (B) da prole de ratas dos grupos controle (C), restrição protéica (RP) e restrição calórica (RC), do desmame aos 180 dias de idade. Grupo C - livre acesso à água e ração com 23% de proteína; Grupo RP - livre acesso à água e ração com 8% de proteína; Grupo RC - livre acesso à água e acesso limitado à quantidade de ração ingerida pelo grupo RP, porém com 23% de proteína. Os dados estão expressos como média ± erro padrão de 15 animais. Teste de resistência a leptina nos animais com 150 dias de idade cujas mães foram submetidas à desnutrição durante o período de lactação. A figura 2 mostra o teste de resistência à leptina nos grupos C (2A), RP (2B) e RC (2C). A efetividade do teste está demonstrada pelos resultados do grupo controle onde o consumo alimentar foi significativamente menor às 2h (p<0,05; 36%), 4h (p<0,02; 41%) e 6h (p< 0,05; 25%) após a injeção de leptina comparada com o grupo C que recebeu salina (fig. 2A). Os grupos RPLep e RCLep não responderam à injeção de leptina, sem redução da ingestão alimentar, em todos os períodos estudados, demonstrando uma resistência à ação da leptina (figs. 2B e 2C). Quando ajustamos a ingestão de ração desses animais por 100g de peso corporal observamos que grupo RPLep continua não apresentando diferença significativa em comparação ao RPSal em nenhum dos períodos analisados, no entanto o grupo RCLep, paradoxalmente, apresentou maior consumo de ração (45%, p<0,05) em comparação ao RCSal 2h após a injeção de leptina (fig. 3C). Ingestão de ração dos animais que receberam injeção de leptina aos 150 dias de idade A (4) (4) 20 15 10 * (4) * (4) 5 * (4) (4) (4) (4) CSal CLep 0 2 4 6 B 30 Consumo ração(g) 25 25 (4) (4) 20 15 10 5 (4) (4) (4) (4) (4) (4) 0 2 24 4 6 24 Tempo (horas) Tempo (horas) C 30 Consumo ração(g) Consumo ração(g) 30 25 (4) (4) 20 15 10 5 (4) (4) (4) (4) (4) (4) RCSal RCLep 0 2 4 6 24 Tempo (horas) Figura 2- Efeito da administração de leptina sobre o consumo alimentar de ratos adultos cujas mães receberam dieta controle (C - 2A), restrita em proteína (RP - 2B) e restrita em calorias (RC - 2C) durante a lactação. Os grupos CLep, RPLep e RClep – receberam injeção i.p de leptina recombinante (0,5 mg/kg/p.c.). Os Grupos CSal, RPSal e RCSal: receberam injeção do diluente da leptina, que foi salina. Os valores são mostrados como média ± SEM. O número de animais estudados estão entre parênteses. * p<0,05. RPSal RPLep Ingestão de ração/100g de peso corporal dos animais que (4) Consumo de ração/ 100g de peso corporal 7.5 (4) 5.0 2.5 * (4) (4) * (4) * (4) (4) (4) 0.0 2 4 6 7.5 (4) (4) 5.0 2.5 (4) (4) (4) (4) (4) (4) RPSal 0.0 CSal CLep RPLep 2 24 4 6 24 Tempo (horas) Tempo (horas) Consumo de ração/ 100g de peso corporal Consumo de ração/ 100g de peso corporal receberam injeção de leptina aos 150 dias de idade 7.5 (4) (4) 5.0 * 2.5 (4) (4) (4) (4) (4) (4) RCSal RCLep 0.0 2 4 6 24 Tempo (horas) Figura 3- Efeito da administração de leptina sobre o consumo alimentar/100 g de peso corporal de ratos adultos cujas mães receberam dieta controle (C - 2A), restrita em proteína (RP - 2B) e restrita em calorias (RC - 2C) durante a lactação. Os grupos CLep, RPLep e RClep – receberam injeção i.p de leptina recombinante (0,5 mg/kg/p.c.). Os Grupos CSal, RPSal e RCSal: receberam injeção do diluente da leptina, que foi salina. Os valores são mostrados como média ± SEM. O número de animais estudados estão entre parênteses. * p<0,05. Concentrações séricas de leptina dos animais aos 150 dias de idade, 24h após injeção de leptina As concentrações séricas de leptina dos animais aos 150 dias de idade cujas mães foram desnutridas durante a lactação, 24h após injeção de leptina ou diluente, estão demonstradas na figura 4. Não foi encontrada diferença leptina sérica (ng/ml) significativa entre os grupos. 7.5 5.0 2.5 0.0 CSal CLep RPSal RPLep RCSal RCLep Figura 4: Concentração sérica de leptina de ratos adultos cujas mães foram C , RP e RC durante a lactação. Os grupos CLep, RPLep e RClep – receberam injeção i.p de leptina recombinante (0,5 mg/kg/p.c.). Os Grupos CSal, RPSal e RCSal: receberam injeção do diluente da leptina, que foi salina. Os animais foram sacrificados 24 horas após o tratamento. Dados expressos como média ± SEM. Os dados experimentais foram obtidos utilizando-se 4 animais em cada grupo. Concentrações sérica de T3 e T4 dos animais, em jejum de 24h, aos 150 dias de idade, 2 e 24h após injeção de leptina A figura 5 mostra as concentrações séricas de T3 (A) e T4 (B) da prole com 150 dias, 2h após a injeção de leptina. O grupo CLep apresentou menores concentrações de T4 sérico (52%, p<0,05) e maiores concentrações de T3 sérico (28%, p<0,02) em comparação ao grupo CSal. As concentrações séricas de T3 e T4 da prole com 150 dias, 24h após a injeção de leptina para avaliação da resistência a leptina estão demonstradas nas figuras 6 e 7. Não houve diferença significativa entre os grupos. Concentrações séricas de T3 e T4 dos animais, em jejum de 24h, aos 150 dias de idade, 2 h após injeção de leptina * T3 total (ng/dl) 1.0 A 0.5 0.0 Csal Clep µ g/dl) T4 total (µ 0.3 B 0.2 * 0.1 0.0 Csal Clep Figura 5: Concentrações séricas de T3 (A) e T4 (B) totais dos animais dos grupos Controle aos 150 dias de idade 2 horas após o tratamento. O grupo CLep recebeu injeção i.p de leptina recombinante (0,5 mg/kg/p.c.). O Grupo CSal recebeu injeção do diluente da leptina, que foi salina. Dados expressos como média ± SEM. Os dados experimentais foram obtidos utilizando-se 4 animais em cada grupo. * p<0,05 vs C. Concentração sérica de T3 dos animais, em jejum de 24h, aos 150 dias de idade, 24 h após injeção de leptina T3 total (ng/dl) 2.5 2.0 1.5 1.0 0.5 0.0 CSal CLep RPSal RP Lep RCSal RCLep Figura 6 : Concentração sérica de T3 total de ratos adultos cujas mães foram C , RP e RC durante a lactação. Os grupos CLep, RPLep e RClep – receberam injeção i.p de leptina recombinante (0,5 mg/kg/p.c.). Os Grupos CSal, RPSal e RCSal: receberam injeção do diluente da leptina, que foi salina. Os animais foram sacrificados 24 horas após o tratamento. Dados expressos como média ± SEM. Os dados experimentais foram obtidos utilizando-se 4 animais em cada grupo. Concentração sérica de T4 dos animais, em jejum de 24h, T4 total (µ g/dl) aos 150 dias de idade, 24 h após injeção de leptina 0.4 0.3 0.2 0.1 0.0 CSal CLep RPSal RPLep RCSal RCLep Figura 7 : Concentração sérica de T4 total de ratos adultos cujas mães foram C , RP e RC durante a lactação. Os grupos CLep, RPLep e RClep – receberam injeção i.p de leptina recombinante (0,5 mg/kg/p.c.). Os Grupos CSal, RPSal e RCSal: receberam injeção do diluente da leptina, que foi salina. Os animais foram sacrificados 24 horas após o tratamento. Dados expressos como média ± SEM. Os dados experimentais foram obtidos utilizando-se 4 animais em cada grupo. Concentrações séricas de T3, T4 e TSH de ratos com 180 dias cujas mães foram submetidas à desnutrição durante a lactação A figura 8 mostra as concentrações séricas de T3 (A) e T4 (B) da prole aos 180 dias de idade cujas mães foram submetidas à desnutrição durante o período de lactação. A concentração sérica de T3 total foi maior (150%, p<0,001) nos animais cujas mães foram submetidas à restrição protéica ou calórica durante a lactação quando comparados ao controle (figura 8A). A restrição protéica durante a lactação está associada com maior concentração sérica de T4 total nos animais aos 6 meses de idade. Estes animais apresentaram aumento significativo (12%, p<0.05) de T4 sérico em comparação ao grupo C e ao grupo RC (figura 8B). As concentrações séricas de TSH em animais com 180 dias de idade, cujas mães foram desnutridas na lactação é mostrada na figura 8C. Ambos os grupos, apresentaram menores concentrações (27% e 32%, respectivamente, p<0,05) do TSH sérico quando comparados com o grupo controle. Concentrações séricas de T3, T4 e TSH dos animais com 180 dias de idade (A) * * 15 T4 total (µ µ g/dl) T3 total (ng/dl) 75 50 25 0 (B) *# 10 5 0 C RP RC C TSH sérico (ng/ml) 4 RP RC [C] 3 * * 2 1 0 C RP RC Figura 8: Concentrações séricas de T3 (A), T4 (B) e TSH (C) em animais adultos, cujas mães foram submetidas a dieta normal (C), restrição protéica (RP) ou restrição calórica (RC) durante a lactação. Grupo C-livre acesso à água e ração com 23% de proteína; Grupo RP-livre acesso à água e ração com 8% de proteína; Grupo RC-livre acesso à água e acesso limitado à quantidade de ração ingerida pelo grupo RP, porém com 23% de proteína. Dados expressos como média ± SEM. Os dados experimentais foram obtidos utilizando-se 6 animais em cada grupo. * p<0,05 vs C; # p<0,05 vs RC. Marcação imunohistoquímica do receptor de leptina (Ob-Rb) em hipófise de ratos com 150 dias de idade cujas mães foram desnutridas durante a lactação A figura 9 mostra a imunoreatividade do receptor de leptina na hipófise de ratos adultos que foi evidenciado pela comparação do tecido que teve o anticorpo primário omitido. Ambos os grupos de aminais adultos cujas mães foram desnutridas no período de lactação apresentaram maior expressão do receptor de leptina na hipófise (figura 10). A figura 11 mostra a quantificação do receptor de leptina na hipófise de ratos adultos, através da análise estereológica, confirmando maior expressão do receptor de leptina na hipófise dos animais de mães RP e RC (p<0,05, 22% e 24%, respectivamente) quando comparados ao grupo controle. Expressão do receptor de leptina na hipófise de ratos aos 150 dias de idade A B Controle positivo Controle Negativo Figura 9: Demonstração imunohistoquímica do receptor de leptina na hipófise de ratos aos 150 dias de idade. A imunoreatividade foi observada em toda extensão da hipófise (A). Nenhuma reação pôde ser observada quando o anticorpo primário foi omitido (B). Expressão do receptor de leptina na hipófise de ratos aos 150 dias de idade cujas mães foram submetidas à desnutrição durante a lactação C RP RC Figura 10: Imunoreatividade do receptor de leptina na hipófise de ratos adultos, cujas mães foram submetidas à dieta normal (C), restrição protéica (RP) ou restrição calórica (RC) durante a lactação. Grupo C-livre acesso à água e ração com 23% de proteína; Grupo RP-livre acesso à água e ração com 8% de proteína; Grupo RC-livre acesso à água e acesso limitado à quantidade de ração ingerida pelo grupo RP, porém com 23% de proteína. Dados expressos como média ± SEM. Os dados experimentais foram obtidos utilizando-se 5 animais em cada grupo. Quantificação do receptor de leptina na hipófise de ratos adultos cujas mães foram submetidas à desnutrição A (célula com receptor de leptina) 1/mm² durante a lactação Q 15 0 p<0 , 5 0 (c é u l a l co m re c e pt o r dee l p tn i a ) 1 /mm² 12 5 10 5 7 0 5 Co n tr o e l Co n tr o e l RP RP RC RC Figura 11- Quantificação do receptor de leptina na hipófise de ratos adultos cujas mães foram submetidas à dieta normal (C), restrição protéica (RP) ou restrição calórica (RC) durante a lactação. Grupo C-livre acesso à água e ração com 23% de proteína; Grupo RP-livre acesso à água e ração com 8% de proteína; Grupo RC-livre acesso à água e acesso limitado à quantidade de ração ingerida pelo grupo RP, porém com 23% de proteína. Dados expressos como média ± SEM. Os dados experimentais foram obtidos utilizando-se 5 animais em cada grupo. DISCUSSÃO Estado Nutricional dos animais cujas mães foram desnutridas durante a lactação Neste estudo ficam confirmados dados previamente encontrados em nosso laboratório (Passos e cols, 2000; Teixeira e cols, 2002) onde, os animais cujas mães sofreram desnutrição protéica apresentam menor peso corporal durante a lactação, e que não é revertida com alimentação normal após o desmame até os 180 dias de idade. Estes dados confirmam uma alteração permanente do estado nutricional nestes animais demonstrada também em outros estudos (Coleoni e cols,1983; Moura e cols, 1996; Moura e cols,1997). A restrição calórica materna também causou diminuição no ganho de peso corporal da prole durante a lactação, porém menos acentuada que no grupo em restrição protéica. Após o desmame e a realimentação observamos que a prole destes animais recuperaram o peso corporal aos 60 dias de idade e, diferentemente do grupo RP, os animais do grupo RC, aos 3 meses de idade, ultrapassaram o peso corporal dos animais controles permanecendo acima do peso até os 6 meses de idade. Estes dados de restrição calórica também confirmam os estudos anteriores do nosso laboratório (Passos e cols, 2000, Teixeira e cols 2002) e reforçam o conceito de programação metabólica (Lucas, 1994). Estes resultados sugerem que o estado nutricional materno durante a lactação pode influenciar no estabelecimento do peso corporal da prole na idade adulta, e isto pode estar associado, principalmente, com a concentração de proteínas e lipídeos no leite (Passos e cols, 2000). Com relação ao consumo alimentar destes animais, não observamos aumento do consumo após o desmame que justificasse o ganho de peso, principalmente na prole de mães RC. Logo, outro fator, que não a ingestão alimentar somente, seria responsável por este maior ganho de peso da prole de mães submetidas à restrição calórica, e ao menor ganho de peso da prole cujas mães foram submetidas à restrição protéica durante a lactação. Demonstramos recentemente (Teixeira e cols, 2002) uma nítida oscilação das concentrações circulantes de leptina nas proles de mães submetidas à restrição protéica ou calórica na lactação. Nos dois grupos desnutridos, a parte inicial da lactação está associada à menores concentrações de leptina sérica ocorrendo aumento significativo ao desmame. No entanto, aos 30, 60, 120 e 180 dias não houve diferença entre os grupos. A desnutrição em animais adultos está associada à diminuição da leptina sérica, devido, principalmente a menor massa de tecido adiposo (Ahima e cols, 1996). Assim, as principais hipóteses para explicarmos o aumento da leptina sérica ao desmame seria a maior secreção de leptina pelo leite e/ou o aumento da produção de leptina por outros tecidos que não o tecido adiposo, tais como estômago (Bado e cols, 1998), músculo esquelético (Wang e cols, 1998) ou hipófise (Morash e cols, 1999; Jin e cols, 2000). Dietas com alta concentração de lipídeos aumentam a concentração de leptina sérica (Devaskar e cols, 1997; Ahren e cols, 1997). Demonstramos anteriormente (Passos e cols, 2000), que o leite de ratas submetidas à restrição calórica apresentou alta concentração de lipídeos, o que poderia explicar, pelo menos para a prole de mães RC, a alta concentração de leptina sérica ao desmame. Diante destas alterações no peso corporal a longo prazo e das concentrações de leptina sérica ao desmame e na idade adulta surgiu então a hipótese de que a sensibilidade a leptina seja perdida nos animais em tratamento, talvez pela hiperleptinemia ocorrida ao final da lactação, pois, principalmente na prole de mães submetidas à restrição calórica o ganho de peso na idade adulta não está associado a baixas concentrações de leptina, sugerindo uma resistência à ação da leptina, que foi então analisada no presente estudo. Teste de resistência a leptina nos animais com 150 dias de idade cujas mães foram submetidas à desnutrição durante o período de lactação Os animais cujas mães foram submetidas à restrição protéica ou calórica durante a lactação não diminuíram o consumo alimentar em resposta a dose aguda de leptina em nenhum dos períodos estudados, indicando que eles se tornam, em longo prazo, resistentes ao efeito anorético da leptina. Geralmente o consumo alimentar é inibido no tratamento com leptina. Isto foi observado apenas no grupo controle onde o consumo alimentar foi significativamente inibido demonstrando a efetividade do teste. Esta perda do efeito anorético do tratamento com leptina foi demonstrada por outros autores, em ratos submetidos a prévio tratamento crônico com leptina em doses distintas (Martin e cols, 2000), em resposta à dieta hiperlipídica (Lin e cols, 2001) e em camundongos ob/ob (Pelleymonter e cols, 1995). Nestes estudos foram utilizados modelos de indução de obesidade em ratos e camundongos e estes animais apresentaram altas concentrações de leptina sérica. Todavia, não existe na literatura nenhum estudo relacionando esta resistência ao efeito anorético da leptina em animais adultos com o estado nutricional materno durante a lactação. As concentrações séricas de leptina dos animais com 150 dias de idade cujas mães foram desnutridas durante a lactação, 24h após injeção de leptina não se alteraram. No entanto, Martin e cols (2000), usando a mesma dose de leptina e jejum de 24h mostraram aumento na leptina sérica 2h após a administração da dose aguda de leptina. Uma possível explicação para estes nossos resultados seria o fato da leptina possuir meia vida mais curta que 24h (Vila e cols, 1998). Vários mecanismos podem levar a resistência a leptina, incluindo a alteração da expressão do gene OB-Rb, defeito na ligação ou sinalização do receptor ou alguma interferência na sua via de sinalização. Além dos defeitos no receptor de leptina, existem outras causas para a resistência, tal como, redução do transporte através da barreira hemato-encefálica (Heshka, 2001). Segundo Martin e cols (2000), o mecanismo pelo qual o efeito anorético da leptina se perde, pode ser uma subsensibilização do receptor de leptina hipotalâmico e da expressão protéica que ocorre como resposta aos elevados níveis de leptina circulante. Estes autores demonstraram que o tratamento contínuo com leptina exógena, durante 2 ou 3 semanas, resulta no desenvolvimento da resistência para os efeitos reguladores do apetite da leptina. No presente estudo, o mecanismo pelo qual o efeito anorético da leptina foi perdido pode ter sido, provavelmente devido a redução da resposta dos receptores de leptina no hipotálamo e /ou hipófise, que pode ter ocorrido em função dos altos níveis de leptina observados ao desmame nestes animais. Este aumento da leptina sérica ao desmame foi demonstrado em estudo anterior utilizando o mesmo modelo experimental (Teixeira e cols, 2002). Ë provável que esta hiperleptinemia ao desmame tenha programado uma subsensibilização do receptor de leptina hipotalâmico, pois, ao contrário dos estudos que demonstraram resistência a leptina (Martin e cols, 2000; Lin e cols, 2001), os nossos animais apresentaram na idade adulta concentrações normais de leptina sérica (Teixeira e cols, 2002). Assim, a hipótese de uma programação hormonal é a mais provável. O período perinatal é crítico para a programação hormonal em mamíferos (Csaba, 1994; Csaba, 2000). Os receptores hormonais alcançam seu amadurecimento e sua capacidade de ligação máxima na idade adulta (Blazquez e cols, 1987). Csaba e Nagy (1985) sugerem que o desenvolvimento do receptor requer a presença do hormônio para a programação, no entanto, o período crítico ocorre em um tempo limitado. Após este período não existe a possibilidade de programação. Quando este período crítico, para a programação fisiológica, é aberto, existe a possibilidade de ocorrer uma falsa programação por moléculas similares ao hormônio (membros da mesma família, hormônios análogos e poluentes ambientais) resultando numa capacidade de ligação alterada, morfologia anormal e resposta alterada, causando uma deterioração da capacidade de ligação do receptor ao longo da vida (Csaba, 1991; Csaba, 1994). Uma outra possível explicação para o desenvolvimento da resistência ao efeito anorético da leptina nos animais adultos cujas mães foram desnutridas durante a lactação, poderia ser a influência da concentração de lipídeos no leite materno sobre os receptores de leptina. Demonstramos em estudo anterior (Passos e cols, 2000), que o leite de ratas submetidas à restrição calórica durante a lactação apresenta maiores concentrações de lipídeos em comparação ao controle. É provável que este leite com alto teor de lipídeos tenha programado o receptor de leptina, levando a resistência a leptina na idade adulta. Os mecanismos pelos quais a dieta rica em lipídeos pode afetar a função do receptor no hipotálamo incluem, aumento ou diminuição da expressão do gene OB-Rb (Boado e cols, 1998; Chang e cols, 1999; Lin e cols, 2000), alterações morfológicas ou alguma interferência na via de sinalização do receptor (Heshka, 2001). Os estudos em animais experimentais demonstram que a dieta rica em lipídeos durante um curto período de tempo (oito semanas) aumenta a expressão do receptor OB-Rb. Entretanto, a dieta rica em lipídeos durante um período mais longo (19 semanas) diminui a expressão deste receptor, podendo contribuir para o aumento da resistência a leptina (Chang e cols, 1999; Lin e cols, 2000). Além disso, as dietas hiperlipídicas podem também alterar a expressão dos neuropeptídeos regulados pela leptina, tais como NPY e POMC. Lin e cols (2000) demonstraram que, tanto a ingestão aguda (8 semanas) quanto crônica (19 semanas), de dieta rica em lipídeos diminuem a expressão do mRNA do NPY. Entretanto, a expressão do mRNA para o POMC está diminuída somente após 19 semanas de dieta. Além disso, a ingestão crônica de dieta rica em lipídeos tem sido associada com a diminuição da sensibilidade do sistema nervoso simpático. Assim, estes autores especulam que a ingestão crônica de dieta rica em lipídeos leva ao desenvolvimento de uma resistência a leptina, inicialmente periférica e depois central, acompanhada de hiperfagia, diminuição do gasto energético e obesidade. As dietas ricas em lipídeos podem, ainda, induzir alterações no conteúdo de ácidos graxos das membranas de fosfolipídeos do cérebro, afetando a fluidez da membrana e conseqüentemente a ação do complexo membranareceptor. Entretanto, existe ainda a possibilidade de que o mecanismo pelo qual as dietas ricas em lipídeos influenciam a ação da leptina seja indireto, ou seja, atuando na expressão ou ação de outros fatores críticos para o funcionamento do receptor OB-Rb, tais como AMPc, MAPK, c-fos ou STAT3 (Cha e cols, 1998; Tappia e cols, 1997). Apesar dos animais, do presente estudo, na idade adulta consumirem dietas normolipídicas, a quantidade de lipídeos do leite materno das mães submetidas à restrição calórica na lactação pode ter programado para alteração na expressão dos receptores de leptina no hipotálamo e/ ou na expressão dos neuropeptídeos regulados pela leptina e/ ou ainda nos fatores envolvidos na sinalização dos receptores de leptina da prole. Ambos os grupos de animais, cujas mães foram submetidas à restrição protéica ou calórica durante a lactação apresentaram resistência a leptina na idade adulta acompanhada de ausência de hiperfagia, porém o grupo cujas mães sofreram restrição protéica apresentaram ganho de peso inferior ao controle, enquanto os animais cujas mães sofreram restrição calórica apresentaram ganho de peso superior ao controle. Nos animais cujas mães sofreram restrição protéica durante a lactação é possível que a resistência a leptina tenha sido programada pela hiperleptinemia ao desmame. Além disso, a resistência a leptina acompanhada de diminuição de peso e ausência de hiperfagia, sugere que estes animais desenvolvam uma resistência central e não periférica, pois eles parecem apresentar um estímulo do sistema nervoso simpático e conseqüentemente maior gasto energético. O aumento do metabolismo nestes animais também poderia se dever a outros fatores, tais como hormônios tireóideos, que também têm efeito estimulador sobre o metabolismo. Encontramos, de fato, aumento de hormônios tireóideos neste período, entretanto não analisamos ainda a funcionalidade deste aumento nas concentrações séricas dos hormônios tireóideos. Nos animais cujas mães sofreram restrição calórica durante a lactação é possível que a resistência a leptina tenha sido programada tanto pela hiperleptinemia ao desmame quanto pela ingestão de leite rico em lipídeos. Estes animais apresentaram uma resistência a leptina acompanhada de aumento de peso corporal, porém ausência de hiperfagia. Isto sugere que estes animais desenvolvam resistência à ação da leptina também sobre o seu efeito estímulatório da taxa metabólica. Assim, estes animais possivelmente apresentam, também, uma resistência periférica, além da resistência central, comprovada neste nosso estudo. Como então explicar um aumento da resistência à ação anorética da leptina, em animais que não desenvolvem hiperfagia? Sugerimos que estes animais, apesar da resistência a leptina, possam apresentar alterações compensatórias da expressão dos neuropeptídeos orexígenos (NPY, AGRP) ou anorexígenos (POMC) regulados pela leptina, como demonstrado por Lin e cols (2000). Como estes peptídeos podem ser modulados por outros fatores nutricionais ou hormonais, esta compensação seria, pelo menos teoricamente, possível. Uma outra explicação possível é que estes animais tenham uma resposta inadequada à secreção de leptina pelo tecido adiposo, visto que na idade adulta não há diferença na concentração sérica de leptina entre os grupos , apesar dos pesos corporais serem significativamente diferentes (Teixeira e cols, 2002). Assim, no grupo RC que apresenta peso corporal mais elevado, deveríamos esperar que com a ingestão alimentar, mais leptina fosse secretada produzindo hipofagia. Contudo, parece que estes animais não secretam constantemente mais leptina e esta tem uma ação diminuída nos centros reguladores da fome. O oposto parece ocorrer com o grupo RP, que deveria apresentar menores concentrações de leptina e conseqüentemente hiperfagia. Entretanto, este grupo parece também apresentar uma resposta inadequada na secreção de leptina pelo tecido adiposo e, além disso, uma resistência à ação da leptina que pode ser total, tanto para concentrações elevadas, confirmada em nosso estudo, quanto, possivelmente, para a deficiência de leptina. Podemos ainda especular que nestes animais a hiperleptinemia ao desmame possa ter programado tanto uma resistência a leptina no hipotálamo quanto nas células pancreáticas, o que resultaria em hiperinsulinismo e conseqüente ganho de peso. A insulina é adipogênica e a leptina inibe sua produção nas células pancreáticas (Kieffer e Habener, 2000). Seufert e cols (1999), demonstraram que em condições de elevada leptina plasmática o receptor de leptina (OB-Rb) nas células pancreáticas se desensibilizam. Esta desensibilização do receptor parece ser mediada por um defeito na sinalização induzida pela supressão do SOCS-3 (Ahima e Flier, 2000; Seufert e cols 2000). Não sabemos se estes nossos animais apresentam hiperinsulinismo e também nenhum estudo correlacionou a restrição calórica durante a lactação com a presença de hiperinsulinismo na idade adulta. No presente estudo não foi analisada a expressão do receptor de leptina no hipotálamo, somente na hipófise. Dosagens de insulina sérica também não foram realizadas, mas serão imprescindíveis para elucidar os mecanismos pelos quais a resistência a leptina leva a diferentes alterações dependendo do tipo de restrição à que a prole foi submetida na lactação. A técnica de imunohistoquimica já está padronizada, e assim daremos continuidade, em futuro próximo, a este estudo analisando estes receptores. Qian e cols (1998) demonstraram que ratos idosos (8 meses) são menos sensíveis a leptina que os animais jovens (3 meses). O mecanismo pelo qual ratos normais se tornam resistentes a leptina com a idade pode ser devido à diminuição da sensibilidade das vias neurais ativadas pela leptina ou uma redução da função dos receptores de leptina no cérebro associadas com a idade. No nosso estudo, no entanto a resistência a leptina demonstrada não parece estar associada ao envelhecimento, pois além dos animais serem mais jovens (5 meses de idade), foram sempre pareados por idade com o grupo controle. Finalmente, não podemos descartar a hipótese de que a resistência a leptina observada em proles adultas cujas mães foram submetidas à restrição protéica ou calórica durante a lactação possa ser um mecanismo adaptativo da privação de energia ou proteína para estocar grande quantidade de energia quando os nutrientes estejam disponíveis, ou seja, pode ser um dos mecanismos do fenótipo da poupança proposto por Hales e Baker (1992). O mérito de nosso estudo é demonstrar que pode existir uma resistência à ação da leptina que é programada em período crítico da vida de um animal e que depende de fatores nutricionais. Entretanto, muitas das especulações aqui levantadas em relação à resistência periférica e ao mecanismo de ação, pelo qual, as resistências central ou periférica são estabelecidas, merecem estudos mais aprofundados, tais como a avaliação dos neuropeptídeos regulados pela leptina, as vias de sinalização da leptina e testes de resistência periférica, avaliando o efeito da leptina sobre o sistema nervoso autônomo. Concentrações séricas de T3, T4, TSH e expressão do receptor de leptina na hipófise de ratos adultos cujas mães foram submetidas à desnutrição durante a lactação As concentrações séricas de T3 e T4 total estão significativamente aumentadas aos 6 meses de idade nos animais cujas mães foram submetidas à restrição protéica durante a lactação, confirmando nosso estudo anterior (Passos e cols, 2002). Em associação às alterações nas concentrações séricas dos hormônios tireóideos encontramos, no presente estudo, uma diminuição nas concentrações séricas de TSH em ambos os grupos desnutridos. Este achado indica que o mecanismo de feedback negativo dos hormônios tireóideos sobre o eixo hipotálamo-hipófise parece estar preservado nestes animais, apesar de que em situações fisiológicas normais, o TSH sérico se correlaciona melhor com o T4 sérico (Thorner e cols, 1998). Os resultados do estudo imunohistoquímico do presente trabalho revelam também uma maior expressão dos receptores de leptina na hipófise de ambos os grupos de animais de mães desnutridas durante a lactação em comparação aos animais controles. Estudos recentes têm demonstrado a expressão do receptor de leptina (OB-Rb) na hipófise de ratos normais (Sone e cols, 2001; Jin e cols, 2000), porém a expressão destes receptores na hipófise de ratos cujas mães sofreram restrição protéica ou calórica durante a lactação está sendo analisada pela primeira vez, neste nosso trabalho. Ortiga-Carvalho e cols (2002) demonstraram em estudo, in vivo, com ratos alimentados normalmente, que a leptina tem efeito estimulatório na liberação de TSH. Os nossos dados sugerem então que os animais cujas mães sofreram restrição protéica ou calórica durante a lactação apresentam uma resistência a leptina, também, na regulação do eixo hipotalamo-hipófise-tireóide, pois as concentrações séricas de TSH em ambos os grupos desnutridos estão diminuídas. É provável que a hiperleptinemia ocorrida ao desmame nestes animais tenha programado o receptor de leptina para uma menor sensibilidade a leptina na hipófise na idade adulta, apesar do aumento da expressão dos receptores. O mecanismo para esta menor sensibilidade pode ser devido a um defeito na ligação ou sinalização do receptor ou alguma interferência na sua via de sinalização. Estes mecanismos podem ser análogos àqueles observados em estudos, nos quais os receptores hipotalâmicos são super expressos quando há uma falha no funcionamento da leptina (Huang e cols, 1997). Novamente não podemos descartar a hipótese de que a resistência a leptina na hipófise em proles cujas mães foram submetidas à restrição protéica ou calórica possa ser um mecanismo adaptativo da privação de energia ou proteína para redução na secreção espontânea de TSH e concentração de hormônios tireóideos, o que garantiria um menor gasto energético em condições de escassez alimentar, mas que seria inconveniente em condições de aporte alimentar normal ou elevado. Na verdade este mecanismo adaptativo pode estar alterado por outros fatores, também de adaptação da função tireóidea na tentativa de prevenir o hipotireoidismo central, tal como aumento da desiodação hipofisária o que faz com que estes animais apresentem altas concentrações de T3 e TSH baixo. A expressão de receptor de leptina (Ob-Rb) na glândula tireóide de ratos normais foi recentemente detectada (Nowak e cols, 2002). Após administração de leptina, via s.c., esse mesmo grupo observou redução da concentração plasmática de TSH, enquanto os hormônios tireóideos aumentaram significativamente. Nossos resultados corroboram parcialmente estes achados, pois 2h após a injeção de leptina observamos maiores concentrações de T3 sérico e menores concentrações de T4 em comparação ao grupo que recebeu salina. O TSH sérico não foi analisado neste grupo que recebeu leptina e também o T3 e T4 não foram analisados nas proles de mães RP e RC. Podemos, sugerir que, pelo menos em animais controles, o efeito desiodativo seja tão importante a ponto de diminuir as concentrações séricas de T4. Foi evidenciado que a leptina estimula a D1 hepática, reduzida durante o jejum (Cusin e cols, 2000). Além disso, Lisbôa e cols (2002), demonstraram que em ratos eutireóideos, a administração de leptina promoveu um aumento de 40% na atividade da D1 tireóidea, independente do TSH, que se elevou mais tardiamente. Torna-se necessário analisarmos a expressão do receptor de leptina na tireóide, pois o grupo de Nowak (2002) foi o único que detectou este receptor até o momento e nenhum estudo analisou este receptor em animais cujas mães foram desnutridas durante a lactação. Já iniciamos este estudo do receptor de leptina e os resultados preliminares, de dois animais controles, mostram que realmente o receptor de leptina está presente na tireóide. CONCLUSÕES 1. Os animais cujas mães foram submetidas à restrição protéica ou calórica durante a lactação se tornam, a longo prazo, resistentes ao efeito anorético da leptina. 2. Nos animais cujas mães sofreram restrição protéica durante a lactação é possível que a resistência a leptina tenha sido programada pela hiperleptinemia ao desmame e que estes animais desenvolvam uma resistência central e não periférica à ação da leptina. 3. Na prole de mães submetidas à restrição calórica durante a lactação é possível que a resistência a leptina tenha sido programada, tanto pela hiperleptinemia ao desmame, quanto pela ingestão de leite rico em lipídeos, e que esta resistência tenha origem tanto periférica quanto central. 4. A maior expressão do receptor de leptina na hipófise de animais de mães desnutridas pode ser devido a menor sensibilidade da leptina na idade adulta e esta, por sua vez, pode ter sido programada pela hiperleptinemia ocorrida ao desmame nestes animais. 5- Sugerimos que, pelo menos em animais controles, a leptina possa estimular diretamente o processo desiodativo na tireóide, pois 2h após a injeção de leptina observamos maiores concentrações de T3 sérico e menores concentrações de T4 em comparação ao grupo que recebeu salina. PERSPECTIVAS A fim de dar continuidade a este estudo, pretendemos estudar a expressão dos receptores de leptina no hipotálamo, a expressão dos neuropeptídeos regulados pela leptina (NPY e POMC), os fatores envolvidos na sinalização dos receptores de leptina da prole e testar a resistência periférica, avaliando o efeito da leptina sobre o sistema nervoso autônomo. REFERÊNCIAS Ahima RS, Flier JS. Leptin Annu Rev. Physiol. 413-437, 2000. Ahima RS, Dushay J, Flier SN, Prabakaran D, Flier JS. Leptin accelerates the onset of puberty in normal female mice. J. Clin. Invest., v.99, p.391-395, 1997. Ahima RS, Prabakaran D, Mantzoros C, QU D, Lowell B, Maratos-Flier E, Flier JS. Role of leptin in the neuroendocrine response to fasting. Nature, v.382, p.250-252, 1996. Ahren B Mansson S, Gingerich RL, Havel PJ. Regulation of plasma leptin in mice: influence of age, high-fat diet, and fasting. Am. J. Physiol. 273,113-120, 1997. Anguita RM, Sigulem DM, Sawaya AL. 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