XV ENCONTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS DO NORTE E NORDESTE e PRÉ-ALAS
BRASIL
04 a 07 de setembro de 2012, UFPI, Teresina-PI
Grupo de Trabalho 04: Educação, Cultura e Sociedade
SOCIOLOGIAS DA EDUCAÇÃO NO BRASIL: O GT-14 da ANPEd e a
configuração sócio-espacial de sua produção
Camila Ferreira da Silva
Programa de Pós-Graduação em Educação Brasileira (PPGE) /UFAL
[email protected]
SOCIOLOGIAS DA EDUCAÇÃO NO BRASIL: O GT-14 da ANPEd e a
configuração sócio-espacial de sua produção1
Camila Ferreira da Silva2
Resumo
Discute-se, neste trabalho, a questão do desenvolvimento da Sociologia da
Educação (SE) no Brasil, tendo em vista uma de suas características em específico:
a distribuição sócio-espacial da produção acadêmica no país. Para tanto, parte-se
de um estudo realizado com base nos 146 trabalhos apresentados no Grupo de
Trabalho Sociologia da Educação (GT-14) da ANPEd no período compreendido
entre 2001 e 2010. Observar, pois, a geografia da produção deste GT é um exercício
que nos possibilita trazer à tona elementos importantes no processo de reflexão
acerca dos lócus que vêm se formando no país quando tratamos da SE nos últimos
dez anos – e, nesse contexto, problematizar os porquês de construção e
consolidação de tais lócus. Amparado, portanto, em uma abordagem quantiqualitativa, o estado da arte foi a estratégia capaz de atender aos objetivos do
estudo em questão.
Palavras-chave: Sociologia da Educação; Distribuição sócio-espacial; Produção
acadêmica; GT-14 da ANPEd.
Introdução
O acelerado desenvolvimento da pesquisa universitária no Brasil – atestado
por Cunha (1992a) – acarreta um enorme volume de produções acadêmicas de
naturezas diversas (teses, dissertações, trabalhos de conclusão de curso, artigos,
etc.). Logo, torna-se latente a necessidade de uma reflexão sobre este material, o
que desemboca numa busca por compreensão dos mais variados rumos que a
pesquisa vem tomando neste país. Esta busca de cunho compreensivo acaba por
revelar não somente as agendas das diferentes áreas do saber, mas também – e,
sobretudo – questões mais profundas que vão além das aparências imediatistas e
denotam, dessa forma, o que chamo de verdadeiros panoramas de épocas.
1
Esta comunicação é fruto do Trabalho de Conclusão de Curso intitulado Mosaicos das Sociologias
da Educação no Brasil: Mapeamento da produção do GT-14 da ANPEd na primeira década do século
XXI. Orientado pela Prof. Dra. Georgia Sobreira dos Santos Cêa, este trabalho foi defendido em
março de 2012 para a obtenção do grau de licenciatura em Pedagogia da Universidade Federal de
Alagoas.
2
Bolsista CAPES no Mestrado em Educação Brasileira da Universidade Federal de Alagoas;
Licenciada em História pela Universidade Norte do Paraná e em Pedagogia pela Universidade
Federal de Alagoas; Aluna-visitante em Ciências da Educação na Universidade de Lisboa.
A produção dos conhecimentos está associada, em grande medida, a fatores
contextuais determinantes (LALLEMENT, 2003)3 e, frente a este pressuposto,
Foucault (2008) ratifica a importância do exercício de compreender o saber a partir
de uma época. Na fuga, então, da simplificação, um tanto caricatural, do
desenvolvimento linear e cumulativo das ciências, a própria visão abstrata de
“abiogênese” do saber é refutada, possibilitando concepções mais conjunturais
acerca das condições sob as quais se produz conhecimentos4. Os contextos social,
cultural, econômico, político e institucional ganham imensa relevância nesta
discussão por apresentarem-se como eixos norteadores de tais condições. Ou seja,
eles são capazes de fornecer “pistas” para a compreensão conjuntural da qual
estamos tratando, dilatando as vicissitudes de análises.
É, pois, com base nesta discussão que o presente artigo se debruça sobre a
Sociologia da Educação (SE) no Brasil na primeira década do século XXI. Para
tanto, foi tomada como estratégia de pesquisa o Estado da Arte da produção do
Grupo de Trabalho Sociologia da Educação (GT-14) da Associação Nacional de
Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd) na década primeira década do
século XXI (2001 a 2010). 146 trabalhos (entre Trabalhos, Pôsteres e Trabalhos
Encomendados) foram analisados e, com base neste exercício, a distribuição sócioespacial da produção em questão ganha destaque neste artigo.
Assim como Frigotto (2011, p. 237), “[...] entendo que a década de 2001 a
2010 não se interpreta nela mesma e, tampouco, pelo que nela se fez, mas pela
natureza desse fazer e das forças sociais que o materializam para além das
intenções e do discurso”. Tampouco, a SE no Brasil se limita ao GT selecionado
para esta investigação e, por este motivo, o diálogo permanente entre a parte e o
todo é um elemento fundamental para as correlações que podem ser estabelecidas,
ora no que tange à periodização, ora no que concerne à relação GT-14 e SE no
Brasil.
Uma breve apresentação histórica da ANPEd e do GT investigado; uma
discussão acerca dos dados gerais do mapeamento realizado na produção deste
3
Para Michel Lallement (2003, p. 10) estes fatores contextuais determinantes estão ligados aos movimentos da
história e da sociedade, uma vez que tais movimentos são responsáveis por “[...] criar continuamente novos
problemas, para invalidar certos esquemas antigos e estimular novas análises”.
4
Muitos já se preocuparam com o âmbito da teorização sobre as formas de olhar para a ciência, dentre eles o
presente trabalho se vale, em especial, dos seguintes nomes: Foucault (2008; 1998) e seu método, a arqueologia
do saber; Bourdieu (2008) e o campo científico; Santos (2007) com sua análise histórica das ciências; Kuhn
(1962 apud BOURDIEU, 2008) buscando compreender a estrutura das revoluções científicas; Alexander (1987)
e a discussão do caráter multiparadigmático das ciências sociais.
GT; e, por fim, a discussão das questões sócio-espaciais que marcam esta produção
são os elementos estruturais deste texto.
A ANPED e seu GT-14: breve epítome histórico
A história nacional é marcada por eventos singulares na década de 1970, isso
porque o Brasil enfrentava sua ditadura militar – que havia sido instaurada em 1964
e só viria a terminar em 1985 – e, as contradições acentuaram-se demasiadamente
a partir da década em questão. Na primeira metade da década temos: de um lado a
população enfrentando um aumento da concentração de renda e da pobreza e, por
outro, um pensamento ufanista, ligado à ideia de uma nação-potência, ganhando
força diante da conquista da copa do mundo de futebol5. Este paradoxo é ratificado
ainda pela propaganda ditatorial que exaltava a “ordem” e o “progresso” brasileiros.
Em se tratando da segunda metade da década – e é exatamente neste
espaço temporal que a ANPEd nasce e é institucionalizada – o país observa a
derrocada do milagre econômico e a dificuldade de manutenção político-econômica
do regime militar brasileiro. Para Celso Furtado (1982, p. 3) “[...] talvez esse tenha
sido o ‘verdadeiro milagre’: os militares, ‘dispondo de poderes quase sem limites’, ao
assumirem a responsabilidade ‘por essa política’ econômica, conduziram o país à
presente situação de insegurança e desamparo”.
O esgotamento do “milagre econômico” acabou por contribuir com a abertura
do regime ditatorial – que se iniciara com a substituição de Médici por Ernesto
Geisel. As lutas que a população travou contra a ditadura – por meio de protestos,
confrontos físicos, atuação do movimento estudantil e de outras forças políticas da
época – ganharam força à medida que este regime começou a declinar. A abertura
política ocorre por meio de um processo lento e gradual, que vai desde 1974, com
as promessas de Geisel, até o movimento de Diretas Já, em 1984, e a promulgação
da Constituição de 1988. Se o ponto de partida para a análise dos movimentos
acadêmicos no Brasil forem as condições políticas, é possível analisar de forma
relacional o momento de enfraquecimento do regime militar e a organização das
instituições ligadas à pós-graduação.
5
Para aprofundar esta discussão sobre este paradoxo, Elio Gaspari (2002) discute a coexistência dos
anos de chumbo e do milagre econômico no seu livro A Ditadura Escancarada.
Em 1975 os coordenadores de cursos de pós-graduação em Educação, em
conjunto com a CAPES, começaram a estabelecer diálogos em reuniões que
visavam à organização de uma associação nacional (PUCCI, 2006). Se nos
reportarmos ao Plano Nacional de Pós-Graduação de 1975/76 (PNPG), veremos as
bases para o surgimento das associações científicas nesta época, e a CAPES, ainda
em 1975, quando elaborava o Programa de pós-graduação em educação: linhas
operacionais, já demonstrava a intencionalidade de criar uma associação de pósgraduação em educação (PUCCI, 2007).
“Na grande área de Humanas, a primeira associação desse tipo foi a ANPEC,
da Economia, em 1973. Em 1977, veio a ANPOCS, das Ciências Sociais. Logo
depois dela, no mesmo ano, foi a vez da ANPEd” (CUNHA, 2007). De 1975 a 1978 é
possível observar as questões ligadas à institucionalização da ANPEd. Isso porque o
diálogo que começou a se dar desde 1975 começou a se efetivar por meio de: sua
constituição jurídica em 1977 (Idem, Ibidem); eleição de sua primeira diretoria em
1978 (PUCCI, 2006); elaboração da versão preliminar de seu estatuto em janeiro do
mesmo ano (CALAZANS, 1995); um encontro de seus sócios fundadores no
Seminário sobre a produção científica nos programas de pós-graduação em
educação em maio de 1978 – nesta reunião chegou-se à versão final do estatuto
(PUCCI, 2006); realização da 1ª Reunião Anual da ANPEd em agosto de 1978 em
Fortaleza/CE (Idem, Ibidem).
A estreita ligação entre a história da ANPEd e a história do próprio país – em
meio à atuação política da primeira – pode ser vislumbrada a partir das palavras de
Carlos Roberto Jamil Cury, alguém que faz parte desta instituição e que atravessou
muitos momentos importantes:
Para além de uma atuação intra-universitária, fomos protagonistas em
memoráveis Conferências Brasileiras de Educação (CBEs), em lídimas lutas
em prol da Educação Pública Gratuita, Leiga e de qualidade, especialmente
em vista da Constituição da República (1988) e seu antológico capítulo
referente à Educação. Nela, junto com outros parceiros coletivos e
individuais, solidarizamo-nos na desconstrução da ditadura e na tarefa de
construção da democracia. Na luta por uma relação virtuosa entre educação
e cidadania, fomos parceiros na inscrição da educação como direito civil,
como direito público subjetivo, como direito político e como o primeiro dos
direitos sociais (CURY, 2008, p. 162).
Ele ainda complementa:
Batemo-nos por um financiamento crescente e vinculado a percentuais de
impostos, pela efetivação de um plano nacional de educação e pela
titularidade do Estado como certificador de diplomas. Esses e outros
documentos públicos da educação teriam o condão de expressar o dever de
Estado sendo que, mais tarde, eles haveriam de ser os amortecedores de
impactos maiores quando meio mundo passou a postular a saída do Estado
da salvaguarda de direitos juridicamente protegidos. Pugnamos pela
explicitação máxima desses direitos e deveres em uma Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional em meados dos anos 90 inclusive com a
defesa da formação sólida de profissionais da educação para toda a
educação básica em nível superior. E, ao fim desses anos, por um Plano
Nacional de Educação que fosse um plano real: com diagnóstico, objetivos,
metas, meios e recursos (Idem, Ibidem, p. 163).
As especificidades da ANPEd ficam evidentes quando olhamos para sua
história e para o modo como esta instituição vem atuando. No campo mais estreito,
ligado à pesquisa em educação, qual é, então, o papel de tal associação?
Gaudêncio Frigotto (2011), ao definir a natureza da ANPEd, acaba auxiliando-nos a
responder esta questão, pois, segundo ele, ao passo que esta entidade busca a
cientificidade do saber, busca também o sentido histórico, social, cultural e éticopolítico de sua produção. Partindo, então, deste pressuposto de aliança entre
produção/socialização do saber e seus sentidos mais amplos é possível inferir que,
com base na análise seja da produção, da história ou ainda dos sujeitos que a
compõem, é possível observar aspectos que vão além da instituição, que
desembocam nos contextos mais amplos da vida social.
A ANPEd é, então, uma força institucional e científica que permite o avanço, a
valorização da especificidade e a originalidade da pesquisa em educação
(CHARLOT, 2010), e é ainda uma esfera social capaz de revelar as diversas
maneiras como têm sido pensadas, tratadas, pesquisadas e analisadas as questões
educacionais no Brasil.
As especificidades dos GTs – dentro da organização interna da ANPEd –
constituem o interesse para a presente discussão, pois, com base nelas é possível
conceber o papel do GT-14 em suas relações com os demais Grupos de trabalho
que compõem a ANPEd. Analisando este universo de forma estrutural, é possível
compreender que os GTs acabam transformando-se em fenômenos diacrônicos no
interior da ANPEd, pois eles possuem suas próprias histórias, sua evolução temporal
específica, seus entraves e agendas (HENRIQUES, 1998). A simultaneidade entre o
desenvolvimento das Reuniões Anuais da ANPEd e o desenvolvimento de seus
próprios GTs é um fenômeno que explicita o grau de relativa autonomia destes
grupos de trabalho e, além disso, acaba por revelar os múltiplos processos que
envolvem estas reuniões.
Para tratar da história da Associação foi preciso ir à década de 1970 para
compreender os contextos plurais que contribuíram para a efetiva organização dos
interessados na criação de uma associação de pós-graduação e pesquisa em
educação. Imbuída, então, do aparato histórico da própria ANPEd, é preciso agora
me reportar à década de 1990 a fim de vislumbrar os alicerces da criação do GT
Sociologia da Educação.
Para cumprir este exercício será preciso trazer à tona uma narrativa
específica sobre o grupo: a memória do próprio GT-14. No site da ANPEd há um
espaço para apresentação dos GTs onde estes podem divulgar, então: seu histórico;
sua lista de participantes; os grupos de pesquisa que efetivamente estão envolvidos
com o GT; seus relatórios; documentos; e ainda notícias sobre o grupo de trabalho.
O histórico que o GT-14 apresenta é de cunho bastante pessoal, sendo composto
por um e-mail da própria Maria Alice Nogueira à Maria da Graça Jacintho Setton6e
por um breve texto explicativo7. A história deste grupo de trabalho será, portanto,
contada aqui com base nestes escritos.
Este GT tem sua origem em uma conversa informal entre Maria Alice
Nogueira (UFMG) e Tomaz Tadeu da Silva (UFRGS), na qual ambos lamentavam a
falta de espaço dentro da ANPEd onde pudessem apresentar seus trabalhos. Eles
acabavam de regressar de seus doutorados – Silva nos EUA e Nogueira na França
– e se identificavam com a Sociologia da Educação. A partir desta conversa, os dois
coordenaram o Grupo de Estudos (GE) Sociologia da Educação nas Reuniões
Anuais da ANPEd em 1989 e 1990, em caráter experimental. Ainda em 1990
acabaram por oficializar o grupo enquanto GT.
No seu histórico, o grupo fala sobre o fato de que desde 1990, nas reuniões
anuais da ANPEd, o referente GT tem priorizado as discussões que envolvem a
instituição escolar e suas relações na complexa teia social que se encontra no caso
brasileiro. Ainda neste histórico há a indicação da tentativa de aliança entre micro e
6
Maria Alice Nogueira foi uma das fundadoras do GT-14 da ANPEd, juntamente com Tomaz Tadeu da Silva e
Maria Graça JACINTO Setton, por sua vez, é atual coordenadora do grupo de trabalho em questão.
7
Segue o endereço para consultar este e os demais históricos dos GTs da ANPEd:
http://www.anped.org.br/internas/ver/gts. Contudo, até janeiro de 2012 se encontravam publicados apenas os
históricos dos GTs 5, 11, 14 e 18.
macroteorização e da consolidação do grupo como um fórum acadêmico e um
espaço de intercâmbio entre pesquisadores nacionais e internacionais.
Neste sentido, o que fica evidente é a relação das discussões que vêm sendo
travadas no seio deste GT com o espaço mais global das discussões da Sociologia
da Educação. E é neste sentido que este grupo de trabalho pode ser entendido
como objeto de investigação, pois o mesmo acaba revelando parte significativa de
um todo.
Alguns questionamentos emergem frente à gênese deste GT na ANPEd, não
com a pretensão de obter resposta imediata, mas sim com o intuito de interrogar as
condições sobre as quais este GT nasceu e vem se desenvolvendo. Seria tardio o
surgimento de um grupo de trabalho sobre Sociologia da Educação na associação
em questão? Por que apenas na década de 1990? Isto teria relação com a “disputa”
entre pedagogos e licenciados em geral e sociólogos pela educação enquanto
objeto de pesquisa?
Longe de responder a tais questionamentos, os dados que discutiremos a
seguir nos mostram a configuração que a produção do GT-14 veio assumindo entre
2001 e 2010 e, dessa forma, estes dados constituem-se elementos importantes para
um exercício anacrônico de remonte histórico que permite compreender a complexa
teia de arrolamentos que marca este grupo de trabalho – entendido numa
perspectiva relacional com esferas mais amplas da SE no Brasil e no mundo.
Mapeamento geral da produção do GT-14 da ANPED na primeira década do
século XXI
146 textos são responsáveis por expressar o universo das produções do GT14 no período de 2001 a 2010. Dentre este volume de textos temos: 128 Trabalhos;
11 Pôsteres; 7 Trabalhos Encomendados. Vejamos, então, por meio da Tabela, a
distribuição destes números ao longo da década em questão:
Tabela I – Número de produções/Tipos de trabalhos em distribuição anual
8
ANO
TRABALHOS
PÔSTERES
TRABALHOS
ENCOMENDADOS
TOTAL
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
TOTAL
11
9
10
9
11
19
11
16
15
17
128
88%
1
1
0
4
0
2
0
1
1
1
11
7%
1
1
1
0
2
0
1
0
0
1
7
5%
13
11
11
13
13
21
12
17
16
19
146
100%
Fonte: A autora, 2012.
O GT-14 apresenta, nesta década, uma forte predominância de Trabalhos
apresentados oralmente, com 88% da produção, em detrimento dos Pôsteres, estes
com 7%, e dos Trabalhos Encomendados, os quais representam apenas 5% – esta
já era uma tendência apontada por Costa e Silva (2003) nos oito anos analisados
por eles (1994-2001) e que acaba por se confirmar dez anos mais tarde. No caso
dos trabalhos encomendados fica fácil entender que os seus números não poderiam
ser exorbitantes, uma vez que eles concentram temáticas específicas e prioritárias
para o GT a cada ano; assim, de uma forma geral, os GTs não encomendam
diversos trabalhos em um mesmo ano.
No que se refere ao modo de autoria, estes trabalhos apresentam o seguinte
índice: a autoria individual está presente em 75% (110 trabalhos) do total de
trabalhos, a produção coletiva ocupa somente 25% deste total (o que equivale a 36
trabalhos). Os dez pesquisadores que mais apresentaram trabalhos na década
analisada foram, respectivamente: Gilson Pereira; Dília Maria Andrade Glória; Maria
da Conceição Lima de Andrade; Maria Alice Nogueira; Diana Mandelert; Tânia de
Freitas Resende; Wânia Regina Coutinho Gonzalez; Marcio da Costa; Rita Amélia
Teixeira Vilela; Rosimeire Reis Silva. Foram contabilizados 139 autores diferentes
nos trabalhos analisados, dado que revela um aspecto interessante para pensarmos
o desenvolvimento deste GT, bem como da Sociologia da Educação no país. A
rotatividade de autores indica o quanto este grupo de trabalho recebe novas
8
Todas as ilustrações (gráficos, imagens, quadros e tabelas) foram elaboradas com base nos dados disponíveis
no site da ANPEd. Seguimos, então, para a apresentação destas a recomendação da Associação Brasileira de
Normas e Técnicas (2011).
pesquisas a cada ano e isto acaba por demonstrar o quão complexa é a tentativa de
apreender a natureza deste GT.
As fontes de financiamento dos trabalhos analisados apresentam-se da
seguinte maneira distribuídas:
Tabela II – Fontes de Financiamento dos trabalhos: Descrição Numérica
Descrição
numérica
TOTAL %
Não
informa
Não contou com
financiamento
CNPq
FAP’s
CAPES
Outras
TOTAL
46
30
28
18
16
10
148
30
20%
28
19%
18
12%
16
11%
10
7%
148
100%
46
31%
Fonte: A autora, 2012.
Nestes dados não são contemplados os trabalhos encomendados – mais uma
vez pelas suas especificidades – e é necessário esclarecer que alguns dos trabalhos
indicavam mais de uma instituição de fomento, fato que explica os números da
tabela.
Tomando como referência o número de trabalhos que não informam se há
alguma fonte de financiamento, para uma análise inicial, é possível perceber que
eles representam praticamente 1/3 (um terço) do universo de 146 trabalhos
apresentados no GT-14 na década analisada. Com 31% estes trabalhos encabeçam
a tabela relativa às fontes de financiamento dos trabalhos e este percentual indica
um índice preocupante e que deve, então, alertar os autores que enviam suas
propostas para as reuniões anuais da ANPEd quanto ao preenchimento de seus
dados na ficha de cadastro relativa à submissão dos trabalhos.
30 trabalhos indicaram que não contaram com financiamento para o
desenvolvimento de suas pesquisas, o que equivale a 20% do total dos números
ligados ao fomento dos trabalhos. Enquanto 19% receberam financiamento do
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), ou seja, 28
trabalhos, 12% dos trabalhos foram financiados pelas Fundações de Amparo à
Pesquisa (FAP’s); 11%, ou 16 trabalhos, foram financiados pela Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES); e ainda 7% foram
financiadas por outros órgãos diversos, o que equivale a 10 trabalhos.
A diversidade de agências de financiamento, presente no quadro acima,
demonstra certo alargamento da incumbência de fomento de pesquisas – fato que
não é endêmico à Sociologia da Educação, nem tampouco à Educação enquanto
áreas de investigação. A consolidação da pós-graduação no Brasil – processo que
tem sua gênese ainda na década de 1930 (SANTOS, 2003) – é um processo que
engendra outros tantos processos concomitantes e necessários. A questão do
financiamento é um exemplo de tais processos, e seu desenrolar incide exatamente
sobre a dilatação do número de instituições responsáveis por dispor verbas
necessárias à realização das pesquisas.
A priori, esta constatação do grande número de instituições financiadoras
parece indicar que a pós-graduação no Brasil vive um bom momento no quesito
ligado aos fomentos às pesquisas. Porém, observando dialeticamente este dado, é
possível relativizar esta situação e, dessa forma, perceber que o alto número de
instituições pode representar, justamente, o contrário – a necessidade de instituições
que anteriormente não se ocupavam do financiamento das pesquisas entrarem em
cena; o possível encolhimento das ações das agências federais; etc.
Distribuição sócio-espacial da produção do GT-14 da ANPEd (2001/2010)
Iniciemos este mapeamento sócio-espacial pela apresentação das instituições
dos autores dos trabalhos analisados. Vale ressaltar – antes de explorar os dados
da tabela III – que, em muitos casos, autores eram identificados, em seus
respectivos trabalhos, como partícipes de mais de uma instituição, o que explica, de
antemão, o alto número de instituições que se fizeram presentes nesta análise. Além
disso, é preciso ainda ressalvar que: a) não se incluem nestes números os
Trabalhos Encomendados, b) alguns autores não indicavam, em seus trabalhos,
qual sua (s) instituição (ões) e, nestes casos, foram realizadas buscas na Plataforma
Lattes9 a fim de sanar estas dúvidas.
9
http://lattes.cnpq.br/
Tabela III – Frequência das Instituições
INSTITUIÇÃO
USP
PUC-RJ
UFMG
PUC-MG
UFRJ
UFSC
FURB
UNESP
UFF
UFPB
UFPE
PUC-SP
Outras
Fonte: A autora, 2012.
FREQUÊNCIA
ABSOLUTA
FREQUÊNCIA %
22
13
13
10
9
5
5
4
4
3
3
3
48
15%
9%
9%
7%
6%
4%
4%
3%
3%
2%
2%
2%
34%
Estes dados dizem respeito a um total de 50 instituições, as quais estão
expressas na Tabela III levando em consideração a sua frequência absoluta – ou
seja, quantas vezes elas apareceram identificadas como instituições com as quais
os autores possuem ligação – e esta frequência transformada em números
percentuais10.
Desse modo, em “outras” deve-se ler todas as instituições que tiveram entre 1
e 2 de frequência absoluta, ou seja, que sozinhas representariam um percentual
entre 0,7 e 1,4%. Nesta nomenclatura estão englobadas, contudo, 38 instituições 11
que acumulam juntas 48 “aparições” de frequência absoluta – o que equivale a 34%
de frequência percentual.
Diante, então, das 12 instituições que possuem frequência percentual entre
2% e 15% fica evidente a predominância de instituições situadas no Sudeste e Sul
do país, em detrimento das demais regiões brasileiras. As nove primeiras (USP,
PUC-RJ, UFMG, PUC-MG, UFRJ, UFSC, FRUB, UNESP e UFF) são universidades
situadas, justamente, nestas regiões – sendo sete da região Sudeste e duas do Sul.
Em sequência, temos apenas duas instituições do Nordeste (UFPB e UFPE) – cada
uma com 2% de frequência percentual – e ainda a PUC-SP (com o mesmo
percentual das instituições nordestinas). Este fato exige, portanto, um olhar
10
Em busca de uma melhor apresentação textual, decidi não colocar aqui os nomes das instituições por extenso.
São elas: UFS; UFRGS; CUML; UNESA; UNISUL; FLACSO/ARGENTINA; UERJ; UFV; UFSCar;
UNIVALE; UFES; UERN; UI/MG; SENAC/RJ; AEUDF; UEPG; UNICAMP; UFJF; UFPI; UFCG; UPF;
MAST/MCT; ULBRA; EUCE; MSU; UNERJ; UNIRIO; UNITAU; PUC-PR; UNIGRANRIO; Escola Estadual
Reny de Souza Lima; Fundação Clemente Mariani; UNB; UNIFESP; UNISINOS; FUNDAJ; UCP; UFMS.
11
interrogativo para o universo do qual estamos aqui tratando, a fim de observar como
se dá a distribuição geográfica destas 50 instituições.
É sabido que o levantamento de Costa e Silva (2003) já apontava que a
produção do GT-14, entre 1994 e 2001, já demonstrava uma forte cisão de cunho
geográfico entre as regiões brasileiras. Os autores chegaram a afirmar na época que
“[...] o GT-14 é quase exclusivamente palco de apresentações produzidas no Sul e
Sudeste do Brasil” (COSTA; SILVA, Ibidem, p. 108). Tal afirmação não se deu
gratuitamente, pois os dados produzidos por eles demonstraram a seguinte
distribuição dos trabalhos: 61,8% eram produzidos no Sudeste do país; enquanto
15,7% advinham do Sul; 10,1% correspondiam a trabalhos produzidos em outros
países; 6,7% era o percentual do Nordeste; 4,5% do Centro-Oeste; e 1,1% do Norte
do Brasil (Idem, Ibidem).
Partindo, então, deste panorama, acompanhemos agora, na Tabela IV, as
possíveis mudanças de cenário ocorridas na primeira década do século XXI:
Tabela IV – Instituições em regiões
REGIÃO
Sudeste
Sul
Nordeste
Centro-Oeste
Internacional
Norte
Fonte: A autora, 2012.
NÚMERO DE
INSTITUIÇÕES
%
26
10
9
3
2
0
52%
20%
18%
6%
4%
0%
As duas regiões que ocupam o topo da tabela continuam a ser o Sudeste e o
Sul brasileiros, mas é possível observar algumas alterações significativas quando
comparamos os resultados: a) mesmo o Sudeste ocupando o primeiro lugar, seu
percentual passou de 61,8% (1994/2001) para 52% (2001/2010); b) a região Sul
também continuou ocupando sua antiga posição, mas seu percentual subiu de
15,7% para 20%; c) o Nordeste também apresentou crescimento no percentual,
praticamente triplicando seu número que era de 6,7% para 18%; d) o Centro-Oeste
passou de 4,5% para 6%; e) os trabalhos produzidos em outros países
apresentaram vertiginosa queda, passando de 10,1% para 4%; f) por fim, a região
Norte do país, que apresentava 1,1% (devido à presença de uma instituição
presente no ano de 1999), não aparece em nenhuma das instituições indicadas
pelos autores dos trabalhos do GT-14 na década 2001/2010, ficando assim com
representação de 0% nesta década.
Ainda sobre os dados, há, pois, uma evolução que chama atenção: a
ascendência do Nordeste como espaço de produção de trabalhos no âmbito da
Sociologia da Educação. O crescimento do percentual de trabalhos oriundos de
instituições nordestinas revela uma das modificações mais importantes neste
cenário, pois pode demonstrar uma elevação não apenas de percentual, mas,
sobretudo, de força institucional no interior do GT-14.
Este panorama geográfico da produção do grupo de trabalho em questão é
responsável por promover reflexões ligadas à produção de trabalhos em Sociologia
da Educação no Brasil. De maneira geral, foi possível observar como os dados
denotam a força da região Sudeste no interior do GT-14, contudo, caberiam, então,
as seguintes indagações: a qualidade dos trabalhos desenvolvidos nesta região é
superior às demais? O quantitativo de trabalhos submetidos ao GT possui, em
alguma medida, proporção regional? Essa força se confirma nos demais espaços de
produção e socialização de conhecimentos em SE no Brasil?
Para responder às duas primeiras questões seria preciso ter acesso – como
no caso da busca por explicações para o aumento de trabalhos nesta década – a
todos os trabalhos que foram submetidos ao GT-14 no período de 2001 a 2010. E,
ainda assim, a categoria “qualidade” desembocaria numa complexidade analítica
tamanha, afinal, aferir maior ou menor qualidade aos trabalhos é uma tarefa
bastante difícil. Já no caso da terceira indagação, investigações de maiores
amplitudes, envolvendo múltiplos espaços brasileiros onde são produzidas e
socializadas as pesquisas em Sociologia da Educação poderiam respondê-la a
contento.
Cabe-nos, portanto, por meio dos dados apresentados, observar as
diferenças numéricas entre regiões que marcam a produção do GT-14 da ANPEd na
década analisada, problematizando-as. E, neste sentido, é possível visualizar a
produção deste GT sobre o território brasileiro por meio da Figura I:
Figura I – Mapa das produções do GT-14 da ANPEd na primeira década do século XXI
Fonte: A autora, 2012.
Desse
modo,
julgo
que
a
comparação
entre estes percentuais é
suficientemente elucidativa para ratificar as diferenças gritantes que estamos
discutindo. Relacionando os dados desta década com a história da própria
Sociologia da Educação no Brasil, fica mais clara a influência das condições de
desenvolvimento deste campo científico no país sobre a perpetuação do eixo
Sudeste-Sul como lócus privilegiado da produção de pesquisas em SE.
No que tange à pesquisa educacional em geral, Maria Malta Campos e Osmar
Fávero (1994) denunciavam, já na década de 1990, uma forte característica da
produção brasileira: a distribuição desigual no seu território, a qual era
acompanhada pela “[...] desigualdade do desenvolvimento econômico. Assim, a
investigação educacional de maior qualidade e impacto acaba sendo produzida
principalmente em programas situados em estados do Sudeste e Sul” (CAMPOS;
FÁVERO, 1994, p. 6).
Percebe-se, então, uma estreita relação entre a produção acadêmica – seja
em SE ou mesmo em educação de uma maneira geral – e o desenvolvimento
econômico das regiões brasileiras. Este fato acaba por fazer emergir uma discussão
acerca da correlação entre os dados do GT-14 e a situação econômica das regiões
brasileiras.
Levando em consideração, então, o Produto Interno Bruto (PIB) das
regiões e dos estados brasileiros, é possível ratificar a relação diretamente
proporcional entre a hierarquia regional da produção do GT-14 na década 2001/2010
e a riqueza econômica do país. Com base nos números revelados no PIB 2008, é
possível verificar que
[...] 6 (seis) estados brasileiros concentram 70,3% do PIB nacional, a saber:
o Estado de São Paulo concentra 33,1% da economia nacional, seguido
pelo Rio de Janeiro com 11,3%, Minas Gerais com 9,3%, Rio Grande do Sul
com 6,6%, Paraná com 5,9% e Santa Catarina com 4,1%, enquanto que, no
outro extremo, estão os estados que tem menor participação: Roraima
(0,16%), Acre (0,22%), Amapá (0,22%), Tocantins (0,43%), Piauí (0,56%) e
Rondônia (0,59%), os quais juntos representam 2,18% do PIB brasileiro
(SECRETARIA
DE
ESTADO
DO
PLANEJAMENTO
E
DESENVOLVIMENTO DE RORAIMA, 2011, p. 9).
Os seis estados que são responsáveis por mais de 70% do PIB nacional são,
exatamente, das regiões Sudeste e Sul do Brasil; enquanto os que apresentam os
piores indicadores são, respectivamente das regiões Norte e Nordeste. Vamos mais
a fundo ainda e vejamos, então, os dados relativos às cinco regiões do país:
[...] a região Sudeste é a que mais contribuiu (56,0%) com o PIB do país,
com destaque para São Paulo (59,0%); vindo a seguir, a região Sul (16,6%)
tendo como maior estado o Rio Grande do Sul (39,7%); no Nordeste
(13,1%) onde o maior estado é a Bahia (30,6%); no Centro-Oeste (9,2%)
destaca – se o Distrito Federal (42,1%) e na região Norte (5,1%), com dois
estados que representam quase toda a região: Pará (37,8%) (Idem, Ibidem,
p. 9).
Hierarquicamente tratando, em ambos os casos – tanto com base nos dados
do PIB de 2008, quanto da produção do GT-14 da ANPEd entre 2001 e 2010 – as
regiões brasileiras assumem as mesmas colocações, a saber: 1) Sudeste; 2) Sul; 3)
Nordeste; 4) Centro-Oeste; 5) Norte. Este é um fato não apenas interessante, mas
também capaz de ilustrar, na prática, a ligação entre a pesquisa em Sociologia da
Educação que vem sendo apresentada na ANPEd e a situação econômica do Brasil.
Este cenário nos proporciona reflexões múltiplas, de cunhos social,
econômico, político, geográfico, cultural e científico. E nestas reflexões podemos
perceber a força da categoria geográfica Território no seio da produção acadêmica
em Sociologia da Educação no Brasil. As disputas pelo poder expresso pelos
percentuais de apresentações de trabalhos no GT-14 são expressões de outras
disputas por poderes diversos – inclusive por atividades econômicas, como no caso
do PIB.
Em se tratando destes conflitos, o conceito de campo científico de Pierre
Bourdieu nos auxilia a compreendê-los. Já no Capítulo II apontei a importância de se
tomar a Sociologia da Educação no Brasil como um campo científico, a fim superar a
ideia romântica do mundo científico enquanto “[...] um mundo de trocas generosas
em que todos os investigadores colaboram para um mesmo fim” (BOURDIEU, 2008,
p. 68).
Esta visão idealista que descreve a prática como produto da submissão
voluntária a uma norma ideal é contradita pelos factos: o que se observa
são conflitos, por vezes ferozes, e competições no interior de estruturas de
domínio. A visão <<comunitarista>> esquece-se do próprio funcionamento
do mundo científico como universo de disputas pelo <<monopólio da
manipulação legítima>> dos bens científicos, ou seja, mais exactamente, do
bom método, bons resultados, boa definição dos fins, objectos e métodos
da ciência (Idem, Ibidem, p. 68, grifos do autor).
Se conseguirmos analisar, sem correr o risco de colocar em xeque a atividade
de avaliação dos trabalhos, podemos perceber a submissão de um trabalho – por
exemplo, ao GT-14 da ANPEd – como uma tentativa de legitimação de determinada
pesquisa em detrimento de outras. Ou ainda, a legitimação de alguns discursos, de
determinados métodos, conceitos e objetos em detrimento de outros (em “outros” lêse: os trabalhos não aprovados).
Uma possível Síntese conclusiva
Cabe ressaltar aqui a importância de interrogar qualquer campo científico, a
fim de compreendê-lo, em suas especificidades e correlações. O presente trabalho
insere-se, então, nesta lógica da concretização de um exercício de interrogação
frente à Sociologia da Educação.
A compreensão da heterogeneidade deste universo como um fator decisivo
para o amadurecimento da própria Sociologia da Educação requer uma reflexão
desta como campo científico. Todas as disputas que ocorrem em seu seio não
significam enfraquecimento, tampouco incoerência – lembremos que um campo não
precisa, necessariamente, ser coerente, afinal, como definir coerência em se
tratando da complexa teia de relações que forma determinado campo científico?
O mundo social, lugar complexo e “incoerente”, influencia diretamente o
campo científico enquanto é influenciado por ele. As explicações, portanto, das
metamorfoses
sofridas
pela
Sociologia
da
Educação
ao
longo
de
seu
desenvolvimento encontram-se, necessariamente, na sociedade e em todas as
contradições que a compõem. Dessa forma, as continuidades e descontinuidades
que os dados nos revelaram não podem ser entendidas como um fenômeno avulso,
desligado de sua materialidade.
As questões referentes à distribuição sócio-espacial da produção analisada
nos colocam frente a estas discussões sobre o campo científico e suas
características. A proximidade entre o campo social das regiões brasileiras e esta
distribuição dos trabalhos no território nacional é uma pista que se faz necessária
quando o assunto é compreender qualquer área do conhecimento inserida em um
país tão repleto de conflitos e contradições de ordens diversas – inclusive de ordem
científica.
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Trabalho - Síntese Eventos