O “Programa Um Computador Por Aluno”: análise de documentos do governo federal e de dissertações disponibilizadas no Domínio Público Adda Daniela Lima Figueiredo1; Joana Peixoto2 1 2 Docente – Mestre - Universidade Estadual de Goiás, UnUCET e UnUCSEH. Docente – Doutora – Pontifícia Universidade Católica de Goiás, PUC-GO ([email protected]) Resumo O mundo contemporâneo encontra-se envolto por Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs), inclusive no meio educacional. O programa do governo federal “Um Computador por Aluno”, ou PROUCA, vem sendo implantando em nosso país com a ideologia de otimizar o processo de ensino aprendizagem. Neste artigo, analisaremos documentos do governo federal e os trabalhos de pesquisa científica realizado em programas de pós-graduação em “Educação” do Brasil, cuja produção está disponível no site do “Domínio Público ou “Banco de Teses da Capes”. O PROUCA foi implantado em cinco escolas-modelo nas cidades de Piraí, São Paulo, Palmas, Brasília e Porto Alegre no ano de 2007, tendo até o mês de Agosto/2011 sete dissertações disponibilizadas. Seus estudos estão voltados para a análise e percepção do trabalho pedagógico e da escolha e compra dos laptops. O programa apresenta descontinuidade em sua implantação por falta de assistência técnica aos laptops; formação docente insuficiente; pesquisas e dados apresentados de forma heterogênea. A escola Dom Alano Du Noday concentrou quatro pesquisas de mestrado, com acompanhamento do NTE local e da secretaria de educação do Estado do Tocantins. A escola Luciana de Abreu obteve acompanhamento do LECUFRGS possuindo um relato bem detalhado das etapas e dos envolvidos no processo, assim como produção científica diversificada. A Esc. Ernane S. Bruno possui uma única pesquisa de mestrado e acessória do LSI-PUCSP, enquanto as escolas Rosa Guedes e Vila Planalto não contaram com acompanhamento de instituições de ensino superior e não possuem dados disponibilizados por meio de trabalhos acadêmicos. Verifica-se que pouco ainda se sabe ainda sobre a eficácia do PROUCA em nossas escolas, todavia os problemas para continuidade do programa são bem recorrentes. Palavras-chave: OLPC; laptop educacional; PROUCA Abstract The contemporary world is surrounded by the Information and Communication Technologies (ICTs), including in the educational environment. The federal program "One Laptop per Student," or PROUCA, has been implanted in our country with the ideology of optimizing the process of teaching and learning. In this article, we document the federal government and scientific research work done in graduate programs in "Education" in Brazil, where production is available on the "Public Domain or the "Bank of Capes Thesis”. The PROUCA was implemented in five model schools in the cities of Piraí, São Paulo, Palmas, Brasília and Porto Alegre in 2007, and until the month of Agosto/2011 seven dissertations available. His studies are focused on the analysis and perception of the educational work and the selection and purchase of laptops. The program introduces discontinuity in its implementation due to lack of technical assistance to laptops, inadequate teacher training, research and data presented in a heterogeneous way. The school Dom Alano Du Noday focused researches of four, with monitoring of local and NTE Department of Education of the State of Tocantins. The school Luciana de Abreu won the LECUFRGS up having a very detailed account of steps and involved in the process, as well as scientific diverse. The Esc. Ernane S. Bruno has a single master's research and LSI-PUCSP accessory, while schools Rosa Guedes and Vila Planalto have not had follow-up of institutions of higher education and do not have data available through academic work. It appears that little is yet known about the effectiveness of PROUCA in our schools, yet the problems continue and the program are recurring. Word-key: OLPC; laptop educational; PROUCA INTRODUÇÃO A nossa sociedade encontra-se sob a influência da tecnologia em praticamente todos os campos, com mediadores informáticos ou telemáticos, devido à necessidade do mundo capitalista em maior velocidade, produtividade e comunicação instantânea. Desta forma, o desenvolvimento tecnológico garante os interesses do mundo capitalista proporcionando a ascensão dos industriais, grandes investidores da época (MACEDO e FOLTRAN, 2007). No início do século XXI, com a evolução das tecnologias, o conhecimento tornou-se força-motriz da sociedade. O ingresso da humanidade na chamada “Era da Informação”, “Sociedade da Informação” ou ainda, “Sociedade do Conhecimento” é um fato, pelo menos para parte da população mundial. Envolve todas as esferas de nossas sociedades, refletindo inclusive numa reestruturação do processo produtivo, a partir da permanência na capacidade de aprendizagem, do trabalho em equipe e do domínio da linguagem das máquinas, principalmente o computador. E deste quadro engloba, também, os trabalhadores da educação (BAGGIO, 2000). O projeto One Laptop per Children (OLPC) foi apresentado ao governo brasileiro, em janeiro de 2005, no Fórum Econômico Mundial em Davos - Suíça. Ainda no mesmo ano, Nicholas Negroponte, Seymour Papert e Mary Lou Jepsen vieram ao Brasil especialmente para conversar com o presidente e detalhar a proposta de implantação do programa. Mediante essa proposta da OLPC, o então Presidente da República Federativa do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, no ano de 2005 cria um grupo de trabalho para avaliar a proposta do ponto de vista técnico e pedagógico. Durante um ano este grupo se reúne e considera necessário fazer experimentos em escolas e, em fevereiro de 2007, é formalizado e apresentado o projeto base do “Programa Um Computador por Aluno” - PROUCA. No ano de 2008, após reuniões e formalização de um Projeto Base do PROUCA em cinco escolas nas cidades de São Paulo, Porto Alegre, Palmas, Piraí e Brasília, o grupo de trabalho (GTUCA) se reúne, mensalmente, para avaliar os experimentos, consolidando os planos de formação, avaliação e monitoramento. As escolas-modelo do programa foram: Colégio Estadual Dom Alano Marie Du Noday (Palmas - TO); Escola Municipal Ernane Silva Bruno (São Paulo - SP); Ciep Rosa Guedes (Rio de Janeiro - RJ); Escola Estadual de Ensino Fundamental Luciana de Abreu (Porto Alegre - RS) e Centro de Ensino Fundamental Escola Vila Planalto (Brasília-DF). De acordo com Marinho (2009) apud Santos (2009, p. 40): As escolas serem escolhidas para participarem dos pré-pilotos foram seguidos alguns critérios. De acordo com Simão Marinho32, a escola de Palmas e a de Piraí foram escolhidas por conta das experiências que começavam a acontecer por iniciativa própria do município ou do estado; a de Porto Alegre e São Paulo por conta dos projetos que estariam sob a responsabilidade direta do pessoal do GT, e a de Brasília por estar mais próxima de um olhar atento do Ministério da Educação e da Secretaria de Educação à Distância (SEED). Instituído no ano de 2010, pela Lei nº 12.249, de 14 de junho de 2010, o Programa Um Computador por Aluno (PROUCA) é uma iniciativa da Presidência da República, em conjunto com o MEC, visando a “aquisição de computadores portáteis novos, com conteúdos pedagógicos, no âmbito das redes públicas da educação básica” (BRASIL, 20101). Este programa integra planos, programas e projetos educacionais, de tecnologia educacional e inclusão digital, vinculando-se às ações do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) e do Programa Nacional de Tecnologia Educacional (ProInfo) (BRASIL, 2007). Algumas instituições receberam a responsabilidade pelo aspecto pedagógico, como Laboratório de Sistemas Integráveis – USP (LSI), o Laboratório de Estudos Cognitivos – UFRGS (LEC) e o Laboratório de Interação Avançada – UFSCar (LIA), propondo atividades, desenvolvendo softwares educativos e avaliando a adaptação das crianças aos laptops e preparando. Já o Centro de Referência em Tecnologias Inovadoras (CERTI), Centro de Pesquisa Renato Archer (CenPRA) e o Serviço Federal de Processamento de Dados (SERPRO) focaram as questões técnicas, como a elaboração de softwares de gerenciamento, realização de testes de hardware e software. A pesquisa pautou-se em conhecer as produções acadêmicas sobre PROUCA com objetivo de entender como os agentes educacionais (professores e gestores) se comportam nesta nova perspectiva educacional. Assim o recorte inicial da pesquisa ficou delimitado em saber: quais as pesquisas científicas já produzidas, através de centros de pesquisa ligados a Programas de Mestrado e Doutorado de instituições de ensino superior (IES) brasileiras, nas cinco escolas escolhidas para o projeto base do PROUCA? O que foi pesquisado nas cinco escolas-modelo do PROUCA? METODOLOGIA O desenvolvimento da pesquisa deu-se a partir de uma revisão de literatura e análise documental. Segundo Noronha e Ferreira (2000, p. 191): com estudos que analisam a produção bibliográfica em determinada área temática, dentro de um recorte de tempo, fornecendo uma visão geral ou um relatório do estado-da-arte sobre um tópico específico, evidenciando novas idéias, métodos, subtemas que têm recebido maior ou menor ênfase na literatura selecionada. Considero, assim, que agrupar os dados de cinco anos de pesquisa em um artigo é importante uma vez que os dados encontram-se dispersos em plataformas digitais do governo federal, sem que haja a noção de sua amplitude. A pesquisa foi realizada no site do “Domínio Público” e “Banco de Teses da Capes” a partir das seguintes palavras-chaves: OLPC; UCA; um computador por aluno e laptop. RESULTADOS Verificou-se que existem disponibilizados no “Domínio Público” e/ou “Banco de Teses da Capes” oito (8) dissertações publicadas para a área de “Educação”, distribuídas entre IES do Paraná (UFPR), Rio Grande do Sul (UFRGS), São Paulo (PUC-SP), Santa Catarina (UDESC) e Brasília (UNB) entre os anos de 2008 a 2010. Do total de dissertações analisadas a pesquisa qualitativa foi a base de todos os trabalhos, prevalecendo o estudo de caso. Os procedimentos mais utilizados são a entrevista semi-estruturada com alunos, professores e gestores; análise documental; pesquisa em vídeos do “YouTube”. Uma das dissertações teve como foco analisar documentos que identificam as relações de poder na adesão ao PROUCA, em especial da influência do poder na compra dos laptops no governo Lula da Silva. Caboim (2008) relata haver fortes indícios de homogeneidade na escolha dos laptops educacionais oferecidos ao governo brasileiro. A autora salienta ainda que os temas de infra-estrutura e formação de professores são de pouca frequência apresentados em sua base de pesquisa. A Escola Municipal Ernane Silva Bruno (SP) já possuía um laboratório de informativa educativa com professor orientador, frequentado semanalmente por cada turma. Uma única dissertação foi desenvolvida por Silva (2009)2 durante a implantação do PROUCA nesta escola. Seu objetivo foi compreender as primeiras impressões que os professores tiveram ao lidar com o laptop do PROUCA. Esse estudo foi realizado a partir de oficinas com profissionais da rede pública de São Paulo, especialmente vinculados a escola em questão. A autora alega que os professores demonstram boa aceitação do dispositivo móvel, dizendo favorecer a relação deles com os alunos e destes com seus colegas. Além disso, em seu estudo a autora alega que os professores salientam o respeito, colaboração, comprometimento das crianças e reforço dos conteúdos. Além dessa pesquisa, Lopes (2010) salienta que o projeto desenvolvido na escola supracitada foi tema de artigos em conferências, simpósios e seminários: Simpósio Brasileiro de Informática na Educação em 2008 e 2009, Encontro na FGV do RJ, Encontro das escolas Pilotos do UCA em São Paulo. Além da participação dos alunos e professores em eventos como o “Bloco a Bloco: o Brasil que queremos”, webCurriculo na PUC São Paulo, Febrace na Escola Politécnica USP. Sendo um desafio para a continuidade do programa, entre outras coisas, o problema com a internet e o compartilhamento dos laptops com outras crianças já que “o aluno quer o dele, já colocou o nome, não aceita outro” (LOPES, 2010, p.25). A Escola Estadual de Ensino Fundamental Luciana de Abreu (RS) não possuía laboratórios de informática até a chegada do PROUCA. A pesquisa realizada nesta escola na área de “Educação” foram dos pesquisadores Kist (2008) e Marques (2009). A primeira dissertação teve como foco o estudo do letramento digital, com crianças de seis anos. O estudo de Marques (2009) se pautou em compreender qual é a proposta de formação dos professores do UCA, como ela se articula com a proposta mais ampla da educação para o século XXI, o que pensam e como foi a formação dos professores para o PROUCA. Kist (2008) destaca que o laptop em rede possibilitará a criança construir seu ambiente simbólico de compreensão e de sentido da língua, possibilitando a compreensão da função e do sentido da língua escrita (letramento) e, criando a necessidade de compreensão da sua estrutura (alfabetização). Todavia, o laptop na modalidade 1:1 é indispensável para que certas práticas aconteçam, sobretudo no que se refere a práticas espontâneas. No entanto, é importante dimensionar esses outros elementos que constituem as mudanças nas práticas. Entre eles, destacam-se a proposta pedagógica diferenciada, no caso, o trabalho por Projetos, bem como o uso de um ambiente virtual. Sem tais condições, o laptop dificilmente agregaria todo o potencial oferecido (KIST, 2008, p. 230). As atividades pedagógicas da escola supracitada foram acompanhadas pelo LEC – UFRGS ao longo de todo o processo de implantação e possibilitou a formação docente em diversas formas, como: capacitações coletivas e individuais, presenciais e virtuais, bem como por intermédio de uma capacitação em serviço. De acordo com o seu site, o LEC – UFRGS afirma que tem disponibilizado pesquisadores em tempo integral à disposição dos docentes da escola Luciana de Abreu (SANTOS, 2010). De acordo com o site do LEC – UFRGS eles possuem relatos de práticas para agência de notícias, alfabetização, Amadis (ambiente virtual de aprendizagem), criação de regras e mudanças no ambiente da sala, envolvimento das famílias na escola, formação de monitores, formação de professores, livro da 4ª série, projeto de aprendizagem e programação em Squeak Etoys1. Dados da pesquisa realizada na Escola Luciana de Abreu estão disponíveis em seu site, bem como seu relatório salienta que os professores foram os que mais utilizaram o laptop durante o período escolar para planejamento de suas aulas, consulta e avaliação das produções dos alunos. Não tendo estimulado a comunicação com os pais e responsáveis pelas crianças, nem o seu uso em casa (FAGUNDES, 2010). Ainda de acordo com o relatório coordenado pela mesma autora, entre os anos de 2007 a 2009, verificou-se mudança na estrutura de horários da escola, para aulas mais longas, todavia com os inúmeros problemas com a manutenção dos laptops e chegada de professores ainda não formados para o trabalho com o dispositivo, os agentes escolares optaram pelo retorno da aula para 50 minutos, possuindo horários para trabalho interdisciplinar. Marques (2009) ao estudar sobre a formação dos professores para o desenvolvimento do PROUCA verificou que a escola brasileira ainda não conta com um projeto educacional que responda às necessidades formativas dos alunos para esse início do século XII, visto que afirmam que a formação dos professores no Brasil é deficiente, já que seu papel e sua qualificação estão longe de atender às demandas atuais. Das pesquisas realizadas nas escolas-modelo, quatro dissertações acompanharam as atividades pedagógicas e de gestão do Colégio Estadual Dom Alano Marie Du Noday, como salienta Santos (2010), por ser uma escola cuja equipe responsável mostrou-se solícita à realização de estudos. Além disso, os pesquisadores verificaram que é uma das unidades que mais possui laptops educacionais disponíveis aos discentes, embora não possam levá-los para casa. Foi uma das primeiras escolas que iniciou o processo de implantação dos laptops educacionais, possuindo indicadores de maior consistência para as pesquisas. A escola Dom Alano possui o diferencial, frente as demais escolas da fase pré-piloto do Projeto UCA, pelo engajamento do NTE local e do governo estado do Tocantins, especialmente da Secretaria de Educação. O projeto UCA é um dos 1 O Squeak Etoys ou ambiente Etoys, traduzindo, brinquedo eletrônico, “foi criado por um grupo de educadores interessados em desenvolver novos ambientes computacionais para melhorar a aprendizagem. Esse grupo de pessoas, acompanhando as idéias de Seymour Papert, concorda em testar as afirmações da Epistemologia Genética, sobretudo a de que aprender é “aprender fazendo”, pois a aprendizagem se dá através de constante experimentação”. Eles acreditam que o ambiente é um apoio à experimentação – no computador - de idéias que o usuário tem sobre o mundo. Disponível em: <http://www6.ufrgs.br/psicologia/lec/bid-uca/10/1_2.html> projetos previstos no PPP da escola e tem como função geral promover a melhoria na qualidade de ensino e a inclusão digital. Os temas pesquisados nesta escola foram: a permanência ou manutenção do currículo com a introdução dos laptops; a repercussão do projeto no trabalho pedagógico; as reações nas escolas, alunos, professores e institucional e as possíveis mudanças ocorridas na organização e gestão da aula. Ao ler as dissertações verifica-se um engajamento do grupo escolar em usufruir dos laptops como ferramenta pedagógica. Neste sentido, ocorreu no ano letivo de 2008 uma reestruturação da carga horária das disciplinas ao longo do ano, oriunda de uma constatação inicial da comunidade escolar de que a estrutura anual das disciplinas seria a mais adequada. Essa alteração ocorreu com a. Todavia, em 2009, as alterações foram revertidas, pois houveram reclamações por parte dos pais e professores que ficaram receosos quanto à continuidade dos estudos de alunos que viessem a ser transferidos de outras escolas ou que fossem transferidos para outras unidades de ensino do país. Mendes (2008) e Silva (2009) 1 verificaram a mudança na dinâmica das aulas, além da necessidade de novas práticas pedagógicas e de planejamento, por parte dos professores, para que possam conseguir gerir suas aulas. De acordo com a dissertação de Mendes (2008), é notável o bom envolvimento dos agentes escolares desta escola. No entanto, no processo de mudança da gestão escolar, o segmento do pesquisador, professor e alunos não se envolve, o que com certeza acarretará situações inusitadas na gestão dos projetos existentes, inclusive o PROUCA. Silva (2009)2 alerta para a necessidade de se discutir o processo avaliativo, contribuindo para a interpretação correta por parte dos professores e dos alunos. Além de, oferecer recursos para que os professores continuem estudando, sendo assessorados pelo NTE local e pelos gestores da escola, que podem contribuir mais com a organização do trabalho pedagógico. Santos (2010) em sua dissertação, remetendo-se a mudança de carga horária supracitada, reforça que não houve mudança no currículo, visto que a grade de conteúdos da disciplina prescrita pelo sistema escolar não foi alterada, nem mesmo em sua ordem de conteúdos. No entanto, houve mudanças na distribuição das disciplinas e suas cargas horárias ao longo do ano letivo, podendo se tornar disciplinas semestrais. Todavia, a autora afirma que foram identificadas mudanças no currículo em ação, com a inserção de novas propostas de encaminhamento pedagógicas e a incorporação de informações relativas ao uso dos laptops no cotidiano escolar, o que repercutiu em novas práticas curriculares em sala de aula. De acordo com Moreira (2010, p.96), os professores têm dificuldades de integrar as TIC às suas práticas pedagógicas pelos seguintes fatores: - às condições de uso dos laptops (Classmate PC) no que se refere à quantidade: – devido aos problemas de manutenção houve uma redução do número de máquinas, não sendo possível a correlação de um para um. Como consequência o mesmo laptop passou a ser compartilhado por mais de um aluno estando na mesma sala de aula; - quanto à funcionalidade dos equipamentos – identificamos a falta de suporte técnico como apoio ao trabalho do professor, como também problemas relacionados à forma de armazenamento e recarga das baterias, pelo fato de os equipamentos ficarem dentro de um armário em cada sala de aula e, a falta do manuseio correta implicava no não carregamento das baterias. - quanto ao acesso às ferramentas e conectividade a rede de Internet – foram apontados problemas na conexão e velocidade. A mesma autora salienta que os mesmos professores apontam como facilidade que o computador traz em sala de aula a distribuição do laptop para cada aluno e do notebook para cada professor; o acesso à rede de Internet e às ferramentas de informação e comunicação; a oportunidade de acesso ao computador e uso das ferramentas junto aos alunos na sala de aula; as parcerias como sustentação ao projeto; a disponibilização de recursos humanos para suporte técnico e pedagógico; as iniciativas de capacitação dos professores e alunos monitores para uso dos equipamentos e suas ferramentas e a integração entre os sujeitos envolvidos no Projeto. A Escola Professora Rosa da Conceição Guedes, também denominada CIEP Rosa Guedes, dentre as cinco escolas-modelo, é a mais conhecida, visto que foi a primeiro a oportunizar um laptop para cada aluno realmente, tendo em vista que a escola atende há cerca de 400 alunos e recebeu a mesma quantidade de laptops. Nesta pesquisa não foi identificada nenhuma dissertação produzida a partir de estudos com o PROUCA para a escola supracitada. Sabe-se, ainda, que uma iniciativa municipal da cidade de Piraí - RJ, cidade da escola, será a primeira cidade do mundo a disponibilizar laptops educacionais para todos os alunos da sua rede de ensino (SANTOS, 2010). Os dados do PROUCA, até julho de 2010, além do relatório da Câmara dos Deputados, encontram-se de forma bem resumida no relatório de Coelho e Jardim (2010), em que salientam a inserção do programa no Projeto Político Pedagógico (PPP) da escola e motivação de todo os agentes educacionais. O Centro de Ensino Fundamental Escola Vila Planalto também não apresenta dados publicados como dissertações, sendo registrados em sua maioria em um blog produzido por uma das multiplicadoras do NTE local o qual acompanhou o experimento (MOURA, 2007). A empresa Encore foi quem doou os equipamentos a fundação Certi prestou apoio técnico e pedagógico à escola (MOURA, 2007; CAMBOIM, 2008). De uma forma geral, todas as dissertações apresentaram os mesmos problemas: avarias nas máquinas; trabalho descontinuado, já que a escola recebe novos professores com certa frequência; falta ou pouca de assistência técnica; tempo para os planejamentos individuais e em grupo, bem como para a formação docente. Dentre as avarias, o descarregamento das baterias foi o fator mais mencionado, o que gera diminuição do número de máquinas disponíveis em sala de aula ou o trabalho em dupla. O relatório da Câmara dos Deputados (2008, p. 104) explica que “segundo os gestores dos programas, os equipamentos raramente tinham baterias com a duração máxima especificada pelos fabricantes e, além disso, a duração da carga vem decrescendo com a utilização [...]”. Destaca-se que nos documentos analisados das escolas estudadas não foi verificado adequações da rede elétrica de forma satisfatória. Gomes (2010), em sua dissertação, ressalta que o projeto demanda maior atenção, e que a situação precária da rede elétrica da maioria das escolas, tornando arriscada a colocação de equipamentos eletrônicos sensíveis como APs, switches e controladores de rede sem fio nestes ambientes. Ele ainda afirma que a conectividade é um ponto crucial no projeto UCA, pois ela aumentaria a interação entre alunos e professores, e possibilitaria o acesso à Internet e à sua enorme gama de informações. Ainda de acordo com o mesmo autor, sem um planejamento pósinstalação, a manutenção e gerenciamento do sistema se tornam mais difíceis e a disponibilidade dos serviços pode ser seriamente comprometida. Não só o monitoramento, mas também o gerenciamento centralizados e integrados são vitais para o sucesso de um projeto de instalação de infraestrutura de TIC desta escala, e também do UCA. Salienta-se que a cultura do “Um Computador por Aluno” ocasiona nos alunos alteração dos padrões de comportamento e valores, já eles querem suas máquinas individuais, com seus arquivos, login, senha já inseridos. Esse problema gerou desmotivação nos alunos podendo culminar na não realização das atividades propostas, sendo a tela muito pequena para o trabalho em dupla. Os docentes que trabalham com o “Portal do Aprende Brasil” apontaram que a não continuidade de cadastramento de usuários e senhas para os alunos, o que dificulta ou impossibilita as atividades em sala de aula, pois um número cada vez menor de alunos tem acesso, por esquecerem seus dados cadastrais ou porque são alunos novos. Santos (2010) ressalta que os docentes afirmam ser importante o conhecimento técnico no início das atividades, no entanto, a formação pedagógica ainda é a mais necessária, e que o tempo de duração dos cursos é insuficiente e que as atividades de acompanhamento do GTUCA tendem a diminuir de frequência. Verifica-se que muito estudo ainda precisa ser realizado para se entender todas as nuances da implantação do PROUCA em nossas escolas. É necessário conhecer melhor todo o processo ao longo dos anos nas cinco escolas que iniciaram o programa, ampliando a pesquisa para as que já se encontram com o laptop a disposição para uso. O governo já se encontra no terceiro lote de entrega de laptops e, ainda temos escolas-modelo quase sem estudos, logo publicações científicas. Saliento, com esse artigo, a necessidade imediata dos pesquisadores buscarem conhecer, acompanharem e pesquisar o PROUCA para que não tenhamos um programa do governo com resultados elucidados apenas pela ótica dos envolvidos em sua gestão. CONCLUSÕES O presente artigo objetivou analisar as produções científicas existentes com a implantação do PROUCA em cinco escolas-modelo distribuídas pelo país, apresentando-se como uma humilde análise de sete dissertações em “Educação”. Após as leituras, vejo o PROUCA ainda como um programa com muitas possibilidades, poucos resultados e muitos problemas. O pouco tempo do projeto aliado ao material produzido nos mostram visões fragmentadas das realidades enfrentadas pelas escolas-modelo, que se empenham em fazer o programa emplacar. Sabemos que a mudança no trabalho pedagógico demanda tempo, no entanto, os estudos deixam claro que a necessidade de formação pedagógica, assessoria e acompanhamento técnico são emergenciais neste programa. Assim, acredito que este artigo deva ser considerado um espaço de reflexão para as futuras análises, mais aprofundadas, articuladas e consistentes a respeito do PROUCA em nosso país. REFERÊNCIAS BAGGIO, R. A sociedade da informação e a infoexclusão. Revista Ciência da Informação, Brasília, v. 29, n. 2, ago., 2000. 1 BRASIL. PROUCA: manual de adesão. 2010. Disponível http://www.uca.gov.br/institucional/, Acessado em junho de 2011. em: 2 _______. Resolução/FNDE/CD/Nº 17 DE 10 DE JUNHO DE 2010. Disponível em: < http://www.uca.gov.br/institucional/downloads/res017_10062010.pdf> Acessado em maio de 2011. _______. Decreto nº 6.300, de 12/12/2007. Dispõe sobre o Programa Nacional de Tecnologia Educacional – ProInfo. Dosponível em : <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2007/Decreto/D6300.htm> Acessado em junho de 2011. CÂMARA DOS DEPUTADOS. Um Computador por Aluno: a experiência brasileira. Brasília: Câmara dos Deputados, Coordenação de Publicações, 2008. CAMBOIM, C. E. 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