O “Programa Um Computador Por Aluno”: análise de documentos
do governo federal e de dissertações disponibilizadas no Domínio
Público
Adda Daniela Lima Figueiredo1; Joana Peixoto2
1
2
Docente – Mestre - Universidade Estadual de Goiás, UnUCET e UnUCSEH.
Docente – Doutora – Pontifícia Universidade Católica de Goiás, PUC-GO
([email protected])
Resumo
O mundo contemporâneo encontra-se envolto por Tecnologias da Informação e
Comunicação (TICs), inclusive no meio educacional. O programa do governo federal
“Um Computador por Aluno”, ou PROUCA, vem sendo implantando em nosso país
com a ideologia de otimizar o processo de ensino aprendizagem. Neste artigo,
analisaremos documentos do governo federal e os trabalhos de pesquisa científica
realizado em programas de pós-graduação em “Educação” do Brasil, cuja produção
está disponível no site do “Domínio Público ou “Banco de Teses da Capes”. O
PROUCA foi implantado em cinco escolas-modelo nas cidades de Piraí, São Paulo,
Palmas, Brasília e Porto Alegre no ano de 2007, tendo até o mês de Agosto/2011
sete dissertações disponibilizadas. Seus estudos estão voltados para a análise e
percepção do trabalho pedagógico e da escolha e compra dos laptops. O programa
apresenta descontinuidade em sua implantação por falta de assistência técnica aos
laptops; formação docente insuficiente; pesquisas e dados apresentados de forma
heterogênea. A escola Dom Alano Du Noday concentrou quatro pesquisas de
mestrado, com acompanhamento do NTE local e da secretaria de educação do
Estado do Tocantins. A escola Luciana de Abreu obteve acompanhamento do LECUFRGS possuindo um relato bem detalhado das etapas e dos envolvidos no
processo, assim como produção científica diversificada. A Esc. Ernane S. Bruno
possui uma única pesquisa de mestrado e acessória do LSI-PUCSP, enquanto as
escolas Rosa Guedes e Vila Planalto não contaram com acompanhamento de
instituições de ensino superior e não possuem dados disponibilizados por meio de
trabalhos acadêmicos. Verifica-se que pouco ainda se sabe ainda sobre a eficácia
do PROUCA em nossas escolas, todavia os problemas para continuidade do
programa são bem recorrentes.
Palavras-chave: OLPC; laptop educacional; PROUCA
Abstract
The contemporary world is surrounded by the Information and Communication
Technologies (ICTs), including in the educational environment. The federal program
"One Laptop per Student," or PROUCA, has been implanted in our country with the
ideology of optimizing the process of teaching and learning. In this article, we
document the federal government and scientific research work done in graduate
programs in "Education" in Brazil, where production is available on the "Public
Domain or the "Bank of Capes Thesis”. The PROUCA was implemented in five
model schools in the cities of Piraí, São Paulo, Palmas, Brasília and Porto Alegre in
2007, and until the month of Agosto/2011 seven dissertations available. His studies
are focused on the analysis and perception of the educational work and the selection
and purchase of laptops. The program introduces discontinuity in its implementation
due to lack of technical assistance to laptops, inadequate teacher training, research
and data presented in a heterogeneous way. The school Dom Alano Du Noday
focused researches of four, with monitoring of local and NTE Department of
Education of the State of Tocantins. The school Luciana de Abreu won the LECUFRGS up having a very detailed account of steps and involved in the process, as
well as scientific diverse. The Esc. Ernane S. Bruno has a single master's research
and LSI-PUCSP accessory, while schools Rosa Guedes and Vila Planalto have not
had follow-up of institutions of higher education and do not have data available
through academic work. It appears that little is yet known about the effectiveness of
PROUCA in our schools, yet the problems continue and the program are recurring.
Word-key: OLPC; laptop educational; PROUCA
INTRODUÇÃO
A nossa sociedade encontra-se sob a influência da tecnologia em
praticamente todos os campos, com mediadores informáticos ou telemáticos, devido
à necessidade do mundo capitalista em maior velocidade, produtividade e
comunicação instantânea. Desta forma, o desenvolvimento tecnológico garante os
interesses do mundo capitalista proporcionando a ascensão dos industriais, grandes
investidores da época (MACEDO e FOLTRAN, 2007).
No início do século XXI, com a evolução das tecnologias, o conhecimento
tornou-se força-motriz da sociedade. O ingresso da humanidade na chamada “Era
da Informação”, “Sociedade da Informação” ou ainda, “Sociedade do Conhecimento”
é um fato, pelo menos para parte da população mundial. Envolve todas as esferas
de nossas sociedades, refletindo inclusive numa reestruturação do processo
produtivo, a partir da permanência na capacidade de aprendizagem, do trabalho em
equipe e do domínio da linguagem das máquinas, principalmente o computador. E
deste quadro engloba, também, os trabalhadores da educação (BAGGIO, 2000).
O projeto One Laptop per Children (OLPC) foi apresentado ao governo
brasileiro, em janeiro de 2005, no Fórum Econômico Mundial em Davos - Suíça.
Ainda no mesmo ano, Nicholas Negroponte, Seymour Papert e Mary Lou Jepsen
vieram ao Brasil especialmente para conversar com o presidente e detalhar a
proposta de implantação do programa.
Mediante essa proposta da OLPC, o então Presidente da República
Federativa do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, no ano de 2005 cria um grupo de
trabalho para avaliar a proposta do ponto de vista técnico e pedagógico. Durante um
ano este grupo se reúne e considera necessário fazer experimentos em escolas e,
em fevereiro de 2007, é formalizado e apresentado o projeto base do “Programa Um
Computador por Aluno” - PROUCA.
No ano de 2008, após reuniões e formalização de um Projeto Base do
PROUCA em cinco escolas nas cidades de São Paulo, Porto Alegre, Palmas, Piraí e
Brasília, o grupo de trabalho (GTUCA) se reúne, mensalmente, para avaliar os
experimentos, consolidando os planos de formação, avaliação e monitoramento.
As escolas-modelo do programa foram: Colégio Estadual Dom Alano Marie
Du Noday (Palmas - TO); Escola Municipal Ernane Silva Bruno (São Paulo - SP);
Ciep Rosa Guedes (Rio de Janeiro - RJ); Escola Estadual de Ensino Fundamental
Luciana de Abreu (Porto Alegre - RS) e Centro de Ensino Fundamental Escola Vila
Planalto (Brasília-DF).
De acordo com Marinho (2009) apud Santos (2009, p. 40):
As escolas serem escolhidas para participarem dos pré-pilotos foram
seguidos alguns critérios. De acordo com Simão Marinho32, a escola de
Palmas e a de Piraí foram escolhidas por conta das experiências que
começavam a acontecer por iniciativa própria do município ou do estado; a
de Porto Alegre e São Paulo por conta dos projetos que estariam sob a
responsabilidade direta do pessoal do GT, e a de Brasília por estar mais
próxima de um olhar atento do Ministério da Educação e da Secretaria de
Educação à Distância (SEED).
Instituído no ano de 2010, pela Lei nº 12.249, de 14 de junho de 2010, o
Programa Um Computador por Aluno (PROUCA) é uma iniciativa da Presidência da
República, em conjunto com o MEC, visando a “aquisição de computadores portáteis
novos, com conteúdos pedagógicos, no âmbito das redes públicas da educação
básica” (BRASIL, 20101). Este programa integra planos, programas e projetos
educacionais, de tecnologia educacional e inclusão digital, vinculando-se às ações
do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) e do Programa Nacional de
Tecnologia Educacional (ProInfo) (BRASIL, 2007).
Algumas
instituições
receberam
a
responsabilidade
pelo
aspecto
pedagógico, como Laboratório de Sistemas Integráveis – USP (LSI), o Laboratório
de Estudos Cognitivos – UFRGS (LEC) e o Laboratório de Interação Avançada –
UFSCar (LIA), propondo atividades, desenvolvendo softwares educativos e
avaliando a adaptação das crianças aos laptops e preparando. Já o Centro de
Referência em Tecnologias Inovadoras (CERTI), Centro de Pesquisa Renato Archer
(CenPRA) e o Serviço Federal de Processamento de Dados (SERPRO) focaram as
questões técnicas, como a elaboração de softwares de gerenciamento, realização
de testes de hardware e software.
A pesquisa pautou-se em conhecer as produções acadêmicas sobre
PROUCA com objetivo de entender como os agentes educacionais (professores e
gestores) se comportam nesta nova perspectiva educacional. Assim o recorte inicial
da pesquisa ficou delimitado em saber: quais as pesquisas científicas já produzidas,
através de centros de pesquisa ligados a Programas de Mestrado e Doutorado de
instituições de ensino superior (IES) brasileiras, nas cinco escolas escolhidas para o
projeto base do PROUCA? O que foi pesquisado nas cinco escolas-modelo do
PROUCA?
METODOLOGIA
O desenvolvimento da pesquisa deu-se a partir de uma revisão de literatura
e análise documental. Segundo Noronha e Ferreira (2000, p. 191):
com estudos que analisam a produção bibliográfica em determinada área
temática, dentro de um recorte de tempo, fornecendo uma visão geral ou
um relatório do estado-da-arte sobre um tópico específico, evidenciando
novas idéias, métodos, subtemas que têm recebido maior ou menor ênfase
na literatura selecionada.
Considero, assim, que agrupar os dados de cinco anos de pesquisa em um
artigo é importante uma vez que os dados encontram-se dispersos em plataformas
digitais do governo federal, sem que haja a noção de sua amplitude.
A pesquisa foi realizada no site do “Domínio Público” e “Banco de Teses da
Capes” a partir das seguintes palavras-chaves: OLPC; UCA; um computador por
aluno e laptop.
RESULTADOS
Verificou-se que existem disponibilizados no “Domínio Público” e/ou “Banco
de Teses da Capes” oito (8) dissertações publicadas para a área de “Educação”,
distribuídas entre IES do Paraná (UFPR), Rio Grande do Sul (UFRGS), São Paulo
(PUC-SP), Santa Catarina (UDESC) e Brasília (UNB) entre os anos de 2008 a 2010.
Do total de dissertações analisadas a pesquisa qualitativa foi a base de
todos os trabalhos, prevalecendo o estudo de caso. Os procedimentos mais
utilizados são a entrevista semi-estruturada com alunos, professores e gestores;
análise documental; pesquisa em vídeos do “YouTube”.
Uma das dissertações teve como foco analisar documentos que identificam
as relações de poder na adesão ao PROUCA, em especial da influência do poder na
compra dos laptops no governo Lula da Silva. Caboim (2008) relata haver fortes
indícios de homogeneidade na escolha dos laptops educacionais oferecidos ao
governo brasileiro. A autora salienta ainda que os temas de infra-estrutura e
formação de professores são de pouca frequência apresentados em sua base de
pesquisa.
A Escola Municipal Ernane Silva Bruno (SP) já possuía um laboratório de
informativa educativa com professor orientador, frequentado semanalmente por cada
turma. Uma única dissertação foi desenvolvida por Silva (2009)2 durante a
implantação do PROUCA nesta escola. Seu objetivo foi compreender as primeiras
impressões que os professores tiveram ao lidar com o laptop do PROUCA. Esse
estudo foi realizado a partir de oficinas com profissionais da rede pública de São
Paulo, especialmente vinculados a escola em questão. A autora alega que os
professores demonstram boa aceitação do dispositivo móvel, dizendo favorecer a
relação deles com os alunos e destes com seus colegas. Além disso, em seu estudo
a
autora
alega
que
os
professores
salientam
o
respeito,
colaboração,
comprometimento das crianças e reforço dos conteúdos.
Além dessa pesquisa, Lopes (2010) salienta que o projeto desenvolvido na
escola supracitada foi tema de artigos em conferências, simpósios e seminários:
Simpósio Brasileiro de Informática na Educação em 2008 e 2009, Encontro na FGV
do RJ, Encontro das escolas Pilotos do UCA em São Paulo. Além da participação
dos alunos e professores em eventos como o “Bloco a Bloco: o Brasil que
queremos”, webCurriculo na PUC São Paulo, Febrace na Escola Politécnica USP.
Sendo um desafio para a continuidade do programa, entre outras coisas, o problema
com a internet e o compartilhamento dos laptops com outras crianças já que “o aluno
quer o dele, já colocou o nome, não aceita outro” (LOPES, 2010, p.25).
A Escola Estadual de Ensino Fundamental Luciana de Abreu (RS) não
possuía laboratórios de informática até a chegada do PROUCA. A pesquisa
realizada nesta escola na área de “Educação” foram dos pesquisadores Kist (2008)
e Marques (2009). A primeira dissertação teve como foco o estudo do letramento
digital, com crianças de seis anos. O estudo de Marques (2009) se pautou em
compreender qual é a proposta de formação dos professores do UCA, como ela se
articula com a proposta mais ampla da educação para o século XXI, o que pensam
e como foi a formação dos professores para o PROUCA.
Kist (2008) destaca que o laptop em rede possibilitará a criança construir seu
ambiente simbólico de compreensão e de sentido da língua, possibilitando a
compreensão da função e do sentido da língua escrita (letramento) e, criando a
necessidade de compreensão da sua estrutura (alfabetização). Todavia,
o laptop na modalidade 1:1 é indispensável para que certas práticas
aconteçam, sobretudo no que se refere a práticas espontâneas. No entanto,
é importante dimensionar esses outros elementos que constituem as
mudanças nas práticas. Entre eles, destacam-se a proposta pedagógica
diferenciada, no caso, o trabalho por Projetos, bem como o uso de um
ambiente virtual. Sem tais condições, o laptop dificilmente agregaria todo o
potencial oferecido (KIST, 2008, p. 230).
As atividades pedagógicas da escola supracitada foram acompanhadas pelo
LEC – UFRGS ao longo de todo o processo de implantação e possibilitou a
formação docente em diversas formas, como: capacitações coletivas e individuais,
presenciais e virtuais, bem como por intermédio de uma capacitação em serviço. De
acordo com o seu site, o LEC – UFRGS afirma que tem disponibilizado
pesquisadores em tempo integral à disposição dos docentes da escola Luciana de
Abreu (SANTOS, 2010).
De acordo com o site do LEC – UFRGS eles possuem relatos de práticas
para agência de notícias, alfabetização, Amadis (ambiente virtual de aprendizagem),
criação de regras e mudanças no ambiente da sala, envolvimento das famílias na
escola, formação de monitores, formação de professores, livro da 4ª série, projeto de
aprendizagem e programação em Squeak Etoys1. Dados da pesquisa realizada na
Escola Luciana de Abreu estão disponíveis em seu site, bem como seu relatório
salienta que os professores foram os que mais utilizaram o laptop durante o período
escolar para planejamento de suas aulas, consulta e avaliação das produções dos
alunos. Não tendo estimulado a comunicação com os pais e responsáveis pelas
crianças, nem o seu uso em casa (FAGUNDES, 2010).
Ainda de acordo com o relatório coordenado pela mesma autora, entre os
anos de 2007 a 2009, verificou-se mudança na estrutura de horários da escola, para
aulas mais longas, todavia com os inúmeros problemas com a manutenção dos
laptops e chegada de professores ainda não formados para o trabalho com o
dispositivo, os agentes escolares optaram pelo retorno da aula para 50 minutos,
possuindo horários para trabalho interdisciplinar.
Marques (2009) ao estudar sobre a formação dos professores para o
desenvolvimento do PROUCA verificou que a escola brasileira ainda não conta com
um projeto educacional que responda às necessidades formativas dos alunos para
esse início do século XII, visto que afirmam que a formação dos professores no
Brasil é deficiente, já que seu papel e sua qualificação estão longe de atender às
demandas atuais.
Das
pesquisas realizadas nas escolas-modelo,
quatro
dissertações
acompanharam as atividades pedagógicas e de gestão do Colégio Estadual Dom
Alano Marie Du Noday, como salienta Santos (2010), por ser uma escola cuja
equipe responsável mostrou-se solícita à realização de estudos. Além disso, os
pesquisadores verificaram que é uma das unidades que mais possui laptops
educacionais disponíveis aos discentes, embora não possam levá-los para casa. Foi
uma das primeiras escolas que iniciou o processo de implantação dos laptops
educacionais, possuindo indicadores de maior consistência para as pesquisas.
A escola Dom Alano possui o diferencial, frente as demais escolas da fase
pré-piloto do Projeto UCA, pelo engajamento do NTE local e do governo estado do
Tocantins, especialmente da Secretaria de Educação. O projeto UCA é um dos
1
O Squeak Etoys ou ambiente Etoys, traduzindo, brinquedo eletrônico, “foi criado por um grupo de educadores
interessados em desenvolver novos ambientes computacionais para melhorar a aprendizagem. Esse grupo de
pessoas, acompanhando as idéias de Seymour Papert, concorda em testar as afirmações da Epistemologia
Genética, sobretudo a de que aprender é “aprender fazendo”, pois a aprendizagem se dá através de constante
experimentação”. Eles acreditam que o ambiente é um apoio à experimentação – no computador - de idéias que
o usuário tem sobre o mundo. Disponível em: <http://www6.ufrgs.br/psicologia/lec/bid-uca/10/1_2.html>
projetos previstos no PPP da escola e tem como função geral promover a melhoria
na qualidade de ensino e a inclusão digital.
Os temas pesquisados nesta escola foram: a permanência ou manutenção
do currículo com a introdução dos laptops; a repercussão do projeto no trabalho
pedagógico; as reações nas escolas, alunos, professores e institucional e as
possíveis mudanças ocorridas na organização e gestão da aula.
Ao ler as dissertações verifica-se um engajamento do grupo escolar em
usufruir dos laptops como ferramenta pedagógica. Neste sentido, ocorreu no ano
letivo de 2008 uma reestruturação da carga horária das disciplinas ao longo do ano,
oriunda de uma constatação inicial da comunidade escolar de que a estrutura anual
das disciplinas seria a mais adequada. Essa alteração ocorreu com a. Todavia, em
2009, as alterações foram revertidas, pois houveram reclamações por parte dos pais
e professores que ficaram receosos quanto à continuidade dos estudos de alunos
que viessem a ser transferidos de outras escolas ou que fossem transferidos para
outras unidades de ensino do país.
Mendes (2008) e Silva (2009) 1 verificaram a mudança na dinâmica das
aulas, além da necessidade de novas práticas pedagógicas e de planejamento, por
parte dos professores, para que possam conseguir gerir suas aulas. De acordo com
a dissertação de Mendes (2008), é notável o bom envolvimento dos agentes
escolares desta escola. No entanto, no processo de mudança da gestão escolar, o
segmento do pesquisador, professor e alunos não se envolve, o que com certeza
acarretará situações inusitadas na gestão dos projetos existentes, inclusive o
PROUCA.
Silva (2009)2 alerta para a necessidade de se discutir o processo avaliativo,
contribuindo para a interpretação correta por parte dos professores e dos alunos.
Além de, oferecer recursos para que os professores continuem estudando, sendo
assessorados pelo NTE local e pelos gestores da escola, que podem contribuir mais
com a organização do trabalho pedagógico.
Santos (2010) em sua dissertação, remetendo-se a mudança de carga
horária supracitada, reforça que não houve mudança no currículo, visto que a grade
de conteúdos da disciplina prescrita pelo sistema escolar não foi alterada, nem
mesmo em sua ordem de conteúdos. No entanto, houve mudanças na distribuição
das disciplinas e suas cargas horárias ao longo do ano letivo, podendo se tornar
disciplinas semestrais. Todavia, a autora afirma que foram identificadas mudanças
no currículo em ação, com a inserção de novas propostas de encaminhamento
pedagógicas e a incorporação de informações relativas ao uso dos laptops no
cotidiano escolar, o que repercutiu em novas práticas curriculares em sala de aula.
De acordo com Moreira (2010, p.96), os professores têm dificuldades de
integrar as TIC às suas práticas pedagógicas pelos seguintes fatores:
- às condições de uso dos laptops (Classmate PC) no que se refere à
quantidade: – devido aos problemas de manutenção houve uma redução do
número de máquinas, não sendo possível a correlação de um para um.
Como consequência o mesmo laptop passou a ser compartilhado por mais
de um aluno estando na mesma sala de aula;
- quanto à funcionalidade dos equipamentos – identificamos a falta de
suporte técnico como apoio ao trabalho do professor, como também
problemas relacionados à forma de armazenamento e recarga das baterias,
pelo fato de os equipamentos ficarem dentro de um armário em cada sala
de aula e, a falta do manuseio correta implicava no não carregamento das
baterias.
- quanto ao acesso às ferramentas e conectividade a rede de Internet –
foram apontados problemas na conexão e velocidade.
A mesma autora salienta que os mesmos professores apontam como
facilidade que o computador traz em sala de aula a distribuição do laptop para cada
aluno e do notebook para cada professor; o acesso à rede de Internet e às
ferramentas de informação e comunicação; a oportunidade de acesso ao
computador e uso das ferramentas junto aos alunos na sala de aula; as parcerias
como sustentação ao projeto; a disponibilização de recursos humanos para suporte
técnico e pedagógico; as iniciativas de capacitação dos professores e alunos
monitores para uso dos equipamentos e suas ferramentas e a integração entre os
sujeitos envolvidos no Projeto.
A Escola Professora Rosa da Conceição Guedes, também denominada CIEP
Rosa Guedes, dentre as cinco escolas-modelo, é a mais conhecida, visto que foi a
primeiro a oportunizar um laptop para cada aluno realmente, tendo em vista que a
escola atende há cerca de 400 alunos e recebeu a mesma quantidade de laptops.
Nesta pesquisa não foi identificada nenhuma dissertação produzida a partir
de estudos com o PROUCA para a escola supracitada. Sabe-se, ainda, que uma
iniciativa municipal da cidade de Piraí - RJ, cidade da escola, será a primeira cidade
do mundo a disponibilizar laptops educacionais para todos os alunos da sua rede de
ensino (SANTOS, 2010). Os dados do PROUCA, até julho de 2010, além do
relatório da Câmara dos Deputados, encontram-se de forma bem resumida no
relatório de Coelho e Jardim (2010), em que salientam a inserção do programa no
Projeto Político Pedagógico (PPP) da escola e motivação de todo os agentes
educacionais.
O Centro de Ensino Fundamental Escola Vila Planalto também não
apresenta dados publicados como dissertações, sendo registrados em sua maioria
em um blog produzido por uma das multiplicadoras do NTE local o qual acompanhou
o experimento (MOURA, 2007). A empresa Encore foi quem doou os equipamentos
a fundação Certi prestou apoio técnico e pedagógico à escola (MOURA, 2007;
CAMBOIM, 2008).
De uma forma geral, todas as dissertações apresentaram os mesmos
problemas: avarias nas máquinas; trabalho descontinuado, já que a escola recebe
novos professores com certa frequência; falta ou pouca de assistência técnica;
tempo para os planejamentos individuais e em grupo, bem como para a formação
docente.
Dentre as avarias, o descarregamento das baterias foi o fator mais
mencionado, o que gera diminuição do número de máquinas disponíveis em sala de
aula ou o trabalho em dupla. O relatório da Câmara dos Deputados (2008, p. 104)
explica que “segundo os gestores dos programas, os equipamentos raramente
tinham baterias com a duração máxima especificada pelos fabricantes e, além disso,
a duração da carga vem decrescendo com a utilização [...]”. Destaca-se que nos
documentos analisados das escolas estudadas não foi verificado adequações da
rede elétrica de forma satisfatória.
Gomes (2010), em sua dissertação, ressalta que o projeto demanda maior
atenção, e que a situação precária da rede elétrica da maioria das escolas, tornando
arriscada a colocação de equipamentos eletrônicos sensíveis como APs, switches e
controladores de rede sem fio nestes ambientes. Ele ainda afirma que a
conectividade é um ponto crucial no projeto UCA, pois ela aumentaria a interação
entre alunos e professores, e possibilitaria o acesso à Internet e à sua enorme gama
de informações. Ainda de acordo com o mesmo autor, sem um planejamento pósinstalação, a manutenção e gerenciamento do sistema se tornam mais difíceis e a
disponibilidade dos serviços pode ser seriamente comprometida. Não só o
monitoramento, mas também o gerenciamento centralizados e integrados são vitais
para o sucesso de um projeto de instalação de infraestrutura de TIC desta escala, e
também do UCA.
Salienta-se que a cultura do “Um Computador por Aluno” ocasiona nos
alunos alteração dos padrões de comportamento e valores, já eles querem suas
máquinas individuais, com seus arquivos, login, senha já inseridos. Esse problema
gerou desmotivação nos alunos podendo culminar na não realização das atividades
propostas, sendo a tela muito pequena para o trabalho em dupla.
Os docentes que trabalham com o “Portal do Aprende Brasil” apontaram que
a não continuidade de cadastramento de usuários e senhas para os alunos, o que
dificulta ou impossibilita as atividades em sala de aula, pois um número cada vez
menor de alunos tem acesso, por esquecerem seus dados cadastrais ou porque são
alunos novos.
Santos (2010) ressalta que os docentes afirmam ser importante o
conhecimento técnico no início das atividades, no entanto, a formação pedagógica
ainda é a mais necessária, e que o tempo de duração dos cursos é insuficiente e
que as atividades de acompanhamento do GTUCA tendem a diminuir de frequência.
Verifica-se que muito estudo ainda precisa ser realizado para se entender
todas as nuances da implantação do PROUCA em nossas escolas. É necessário
conhecer melhor todo o processo ao longo dos anos nas cinco escolas que iniciaram
o programa, ampliando a pesquisa para as que já se encontram com o laptop a
disposição para uso.
O governo já se encontra no terceiro lote de entrega de
laptops e, ainda temos escolas-modelo quase sem estudos, logo publicações
científicas.
Saliento, com esse artigo, a necessidade imediata dos pesquisadores
buscarem conhecer, acompanharem e pesquisar o PROUCA para que não
tenhamos um programa do governo com resultados elucidados apenas pela ótica
dos envolvidos em sua gestão.
CONCLUSÕES
O presente artigo objetivou analisar as produções científicas existentes com
a implantação do PROUCA em cinco escolas-modelo distribuídas pelo país,
apresentando-se como uma humilde análise de sete dissertações em “Educação”.
Após as leituras, vejo o PROUCA ainda como um programa com muitas
possibilidades, poucos resultados e muitos problemas. O pouco tempo do projeto
aliado ao material produzido nos mostram visões fragmentadas das realidades
enfrentadas pelas escolas-modelo, que se empenham em fazer o programa
emplacar.
Sabemos que a mudança no trabalho pedagógico demanda tempo, no
entanto, os estudos deixam claro que a necessidade de formação pedagógica,
assessoria e acompanhamento técnico são emergenciais neste programa. Assim,
acredito que este artigo deva ser considerado um espaço de reflexão para as futuras
análises, mais aprofundadas, articuladas e consistentes a respeito do PROUCA em
nosso país.
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2
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Disponível
em:
http://www.olpc.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=56&Itemid=4
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O “Programa Um Computador Por Aluno”: análise