RIO DE JANEIRO SEGUNDA-FEIRA 13 DE MARÇO DE 2006 FAPERJ 25 ANOS 3 Comunidade científica prestigia Fundação Pesquisadores reconhecem o trabalho da fundação para o desenvolvimento do estado VINÍCIUS ZEPPEDA das a termo ao longo de 2005 estão a consolidação do trabalho realizado pelos sete Institutos Virtuais; a celebração de convênios diversos com instituições como a Embrapa, Capes e a Fundação Casa de Rui Barbosa; a melhoria da infra-estrutura técnico-científica dos cursos de pós-graduação da Uerj e Uenf através do Programa de Apoio às Entidades Estaduais de Ciência e Tecnologia (Paep) e o lançamento do programa Rio Inovação II. O aumento da velocidade de transmissão da RedeRio/Faperj também foi destaque em 2005 porque representou um significativo avanço na tecnologia de transmissão de dados via internet no Brasil. O lançamento da RedeGiga, possibilitou que a Rede Rio passasse a operar à velocidade de 1 Gigabit (1 bilhão de bits por segundo), o que corresponde a um aumento de mais de 7 vezes em relação à velocidade máxima anterior de 155 Mbit/s. A Rede-Giga abre assim, um grande potencial para o desenvolvimento de aplicações e serviços a grande velocidade, via Internet. Com isso, a comunidade científico-tecnólogica do Estado do Rio de Janeiro foi beneficiada com um salto de qualidade nos padrões de atendimento da Rede Rio/Faperj. ano de 2005 foi especial para a Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj). Sobretudo, porque nele foram comemorados seus 25 anos. Grandes nomes da ciência fluminense prestigiaram a comemoração no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, na manhã de 14 de dezembro. Aberto em grande estilo pela Orquestra Sinfônica do Teatro Municipal, regida pelo maestro Silvio Barbato, que executou o Hino Nacional, a 7ª Sinfonia de Beethoven e O Guarani, de Villa Lobos – tema da tese de doutorado do maestro, apoiada pela Faperj –, o evento foi motivo para que a comunidade científica fizesse um grande balanço sobre o impacto da Faperj no desenvolvimento científico e tecnológico do estado. Não por acaso, hoje o Rio de Janeiro está na vanguarda das pesquisas brasileiras nas áreas de nanotecnologia, terapia celular, genômica e proteômica, entre outras. Em 2005, os investimentos da fundação chegaram a mais de R$131 milhões. Esta soma inclui investimentos estaduais da ordem de R$ 113 milhões e a captação recursos federais superiores a R$17 milhões. Entre as principais iniciativas leva- O PONTO ALTO DA FESTA: Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal, regida pelo maestro Silvio Barbato, executa O Guarani, de Villa Lobos. A FUNDAÇÃO EM 2006 As parcerias com o governo federal devem ganhar em 2006 uma renovada atenção. De acordo com o diretor-presidente da Faperj, Pedricto Rocha Filho, a fundação continuará buscando parcerias com o governo federal, nos moldes dos programas Pesquisa para o SUS e Rio Inovação. “O desempenho positivo do fomento do Estado do Rio de Janeiro à ciência, tecnologia e inovação nos últimos anos nos credencia para buscar investimentos junto ao governo federal”, afirmou. A exemplo do Primeiro Evento de Avaliação do Programa Pesquisa para o SUS, realizado no ano passado, a Faperj promoverá este ano eventos similares para avaliar os demais programas financiados pela fundação, como Pronex e Rio Inovação. O objetivo é avaliar o andamento dos projetos e seu aproveitamento para o estado e os municípios. As avaliações periódicas dos programas e seus projetos favorecem a integração dos pesquisadores, viabilizando a otimização de recursos humanos e de infra-estrutura e pode levar a uma melhor orientação dos rumos das pesqui- sas. A decisão faz parte da política de promover uma melhor utilização da ciência de alto nível produzida no Estado do Rio de Janeiro. O ano de 2006 marca também o início da implantação do processo de informatização da Faperj. Lançado dia 13 de fevereiro, o novo sistema, recebeu o nome de InFaperj. A iniciativa facilita a vida dos pesquisadores e agiliza o trabalho administrativo. Na primeira versão, o sistema permite que os cadastros sejam feitos através da internet, ao invés de entregues em papel e redigita- dos internamente. Antes, a cada novo pedido de bolsa ou auxílio, o pesquisador precisava preencher um novo formulário de cadastro. Além do preenchimento único, o InFaperj permitirá que, no futuro, o pesquisador acompanhe o status de cada processo, no escopo dos editais. A última etapa será a informatização dos pedidos do programa básico de fomento (bolsas e auxílios). Rocha Filho lembra que os projetos da Faperj levam em consideração o capital cultural e intelectual do Estado do Rio de Janeiro e sua representativida- de nas áreas de cultura, ciência e tecnologia: “Sediamos instituições como o Arquivo e a Biblioteca Nacional, as Academias Brasileiras de Ciências e de Letras, a Fundação Oswaldo Cruz, o Observatório Nacional e o Laboratório Nacional de Computação Científica, entre tantas outras. Ressalta-se também a notoriedade acadêmica de programas de pós-graduação e de pesquisa de universidades sediadas no estado. Tal realidade constitui-se um grande estímulo, mas, sobretudo um grande desafio”, concluiu o presidente. DIVULGAÇÃO Tecnologia auxilia alfabetização de crianças surdas O fascínio exercido em crianças e adolescentes pelo RPG (Role Playing Game) – jogo geralmente baseado em histórias de fantasia em que o leitor, de acordo com decisões que toma a partir de várias opções, chega a um final diferente – tem chamado a atenção de profissionais de educação no Brasil. O assunto levou uma equipe de pesquisadores do Departamento de Artes e Design da PUC-Rio a estabelecer em 2003 uma parceria com o Instituto Nacional de Educação de Surdos para estudar o uso do RPG na educação de surdos. Um dos resultados desse convênio é a pesquisa Do concreto ao virtual: interação e interatividade no letramento de indivíduos surdos, coordenada por Rita Maria Souza Couto, contemplada com uma bolsa Cientista do Nosso Estado, da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa (Faperj). O objetivo da pesquisa é auxiliar a alfabetização bilíngüe de surdos-mudos - em Libras (Linguagem Brasileira de Sinais) e português escrito através da criação de dois tipos de materiais: um objeto virtual e outro concreto. O cenário virtual é um mapa parcial e navegável da cidade do Rio de Janeiro com quatro opções: Quartel Central do Corpo de Bombeiros, Jardim Zoológico, Maracanã e Pão de Açúcar. Cada personagem pode realizar algumas tarefas, de acordo com a escolha do jogador. “Os atores do jogo também se relacionam entre si e, a cada novo elemento do jogo ou à escolha do jogador, seu nome em Libras e português escrito surge na tela, para ilustrar as duas formas de linguagem”, explica Rita Couto. Para cada cenário e conjunto de peças do jogo de computador há uma correspondência na versão real; um jogo de trilha para piso formado por peças de borracha com um centímetro de espessura, em diversas cores e em várias formas geométricas que pág-03 v1 se encaixam, permitindo diferentes direções de caminho. “No jogo real as frases em português escrito e em Libras são projetadas em cartas. Se na versão virtual houver uma área sensível sobre o chapéu do bombeiro, na real haverá um chapéu de bombeiro” explica a pesquisadora. Rita Couto lembra que ambos os objetos de sua pesquisa tem um ponto de partida em aberto e não têm um final definido, que podem ser bem variáveis, seguindo os princípios do RPG. Para a pesquisadora esse tipo de jogo é extremamente útil na educação de crianças surdas por suas características de socialização, narrativa, interatividade, interdisciplinaridade e cooperação. “A partir de 1999, começaram a ser editados materiais com fins paradidáticos que vêm sendo adotados em escolas, principalmente nas de ensino fundamental”, conta. A professora espera que sua pesquisa contribua para diminuir a discriminação. “Durante muito tempo se negou que o surdo fosse portador de características culturais próprias, como se isso fosse excluí-lo. Nossa intenção é que o surdo não se sinta deficiente, e sim diferente, com suas características culturais próprias, mas como parte da sociedade”, explica. Para Rita Couto, o desafio que sua pesquisa coloca é que o campo do Design possa descobrir no processo de ensino e aprendizagem, possibilidades de interação e interatividade entre professores, alunos ouvintes e não-ouvintes, informações e métodos educacionais. “Esses objetos podem ser testados tanto por crianças surdas como ouvintes. Planejamos experimentar os dois jogos não apenas no Instituto Nacional de Educação de Surdos, mas também em escolas que tenham grupos de alunos ouvintes e não ouvintes”, conclui. CMYK CYAN MAGENTA AMARELO PRETO D E S E N V O L V I D O pelo IMPA e pela UFRJ, o Visorama utiliza tecnologia avançada e possibilita imersão em imagem panorâmica Viagem virtual ao passado Marina Ramalho Imagine-se no Pão de Açúcar, rodeado pelas belezas naturais do Rio de Janeiro. À sua frente, uma espécie de binóculo está direcionada para a paisagem da capital carioca. Ao observar pelo aparato, porém, uma surpresa: a imagem visualizada não é a da cidade contemporânea, mas cenas de um Rio de Janeiro do início do século XX. Mais do que meramente contemplar a paisagem, o observador também pode interagir com ela, girando o binóculo para ver outros pontos da cidade e se aproximando de detalhes da vista, por meio de uma ferramenta de zoom. Essa mistura de realidade virtual e turismo histórico é apenas uma das aplicações que o projeto Visorama – do Laboratório Visgraf, do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), em conjunto com o Núcleo de Imagem (N-Imagem) da Escola de Comunicação da UFRJ – pode desenvolver. A fase atual da pesquisa foi contemplada pelo edital Rio Inovação II da Faperj. O Visorama é um sistema de realida- de virtual, baseado em panoramas, que inclui hardware e software. O conceito de panorama é antigo – trata-se de uma espécie de mural, montado em uma superfície circular em torno de uma plataforma central, de onde é possível observar a figura em todas as direções, como se o observador estivesse no centro da cena. A novidade são os panoramas virtuais, em que se busca a mesma experiência dos panoramas originais. - A idéia do projeto é simples, mas envolveu muita pesquisa pura e aplicada numa área nova, que agrega síntese, análise e processamento de imagem, além de modelagem geométrica, conceitos do chamado Image-Based Rendering. Tivemos que vencer dois obstáculos: sincronizar os movimentos do binóculo com a visualização da imagem em tempo real e alcançar um alto nível de detalhamento da cena”, explica o pesquisador do Impa Luiz Velho, que lidera o projeto junto com André Parente, professor da Escola de Comunicação da UFRJ. O resultado, até o momento, foi um protótipo, cuja tecnologia de panorama virtual de multiresolução é a mais avançada do mundo, desbancando gigantes da tecnologia como a empresa americana Apple. - Pela ferramenta da Apple, por exemplo, o internauta navega por um panorama virtual utilizando o mouse e a tela do computador. Já no Visorama, criamos uma interface – o binóculo – que é mais natural para o homem manipular e que permite ao observador ficar totalmente imerso naquele ambiente virtual”, diz Velho, acrescentando que a resolução da imagem no Visorama tem qualidade bastante superior. O protótipo já foi exibido em mostras nacionais e internacionais. A última foi no Museu Europeu de Fotografia, durante as comemorações do Ano do Brasil na França. Isso motivou a etapa atual do projeto que consiste em atualizar tecnologicamente o hardware e o software e adaptá-los para sua inserção no mercado. “Queremos transferir o Visorama do nosso ambiente de pesquisa para a sociedade, para que o produto seja utilizado em diversos contextos”, explica Velho, que assegura que, em um ano, o equipamento já estará pronto para comercialização.