MEDIOCRIDADE: a morte da criatividade
“A mediocridade não tem lugar na cosmovisão de Inácio” (P. Kolvenbach)
Normalmente entendemos por “medíocre” a pessoa que não se destaca. Mas existem pessoas simples
com uma grande qualidade de vida; não fazem nada de extraordinário, mas quando as conhecemos de
perto, chama-nos a atenção a densidade de sua existência.
Entendemos, portanto, por medíocre aquele que renunciou viver em profundidade.
É a pessoa que “funciona” bem, que é correta, responsável e fiel ao dever. Mas perdeu o elán vital e por
isso a capacidade de entusiasmar-se pela vida. Como burocrata, é perfeito cumpridor da lei e da ordem,
mas sem iniciativa e garra; cumpre, mas se reserva; tem medo de lançar-se, de expandir-se.
Realiza suas atividades instintivamente, como uma atitude de vida fechada e sem criatividade.
Nunca se põe a descoberto, dá a sensação de ser impermeável.
Tem medo de arriscar e de errar, subordinando sentimentos e pessoas às determinações objetivas da lei.
Todos sabemos que a falta de claridade e sentido da vida leva à estagnação. Os que dela padecem se
desviam para a mediocridade, à morte da criatividade e à obscuridade do coração.
Essa enfermidade da alma envenena o ambiente, cansa o espírito, faz baixar o nível do humor e corrói a
força do amor. Ela faz compactuar com uma vida cômoda e vazia.
O medíocre é aquele que renunciou à tensão do “mais”. Foi sempre “prudente”, não comete excessos.
A norma de sua vida é constituída pelo princípio de evitar os extremos, sobretudo nos momentos de
realizar mudanças ou de assumir riscos comprometidos.
Sua máxima é: “em time que está ganhando não se mexe”.
É sua “sabedoria” situar-se no ponto em que o esforço possa ser medido e controlado; nada além
daquilo que está no contrato ou daquilo que prescreve a lei.
“Ser como os outros” é sua bandeira. Para quê estabelecer metas elevadas quando todos os dias
constatamos como os ídolos caem do seu pedestal? Mais vale proteger-se do perigo da queda.
Serve-se do anonimato da massa para proteger-se da angústia de ser livre.
O medíocre representa o sistema; ele sabe sustentar-se na onda do momento. Tal como o camaleão,
aprendeu a adaptar-se e a tirar partido da situação. Aceita a realidade resignadamente. Equilíbrio, diplomacia, meio-termo... No entanto, se o olhamos em profundidade, por debaixo das aparências, só vaidade,
exuberância de palavras, ausência de sonhos, frieza nas relações, legalista no trabalho... enfim, sem vida.
Quando não se vive em profundidade só resta a rotina, o tarefismo sem sentido, o desânimo, o “vazio
vital”; incapacidade de tomar a vida nas próprias mãos e dar-lhe uma direção mais ousada.
O realista medíocre fica satisfeito com sua vida, mas “cheira a morte”.
Nos Exercícios Espirituais há uma forma de mediocridade, conhecida por “tibieza”, que se consolida
através de um processo de esfriamento do espírito, criando uma capa de insensibilidade na relação com
Deus (EE. 317). O medo e a falta de confiança em Deus produzem o fechamento do espírito.
A partir disso, uma resistência surda às “vozes e sinais” de Deus vai modelando um coração duro.
Tibieza, portanto, é a mentira existencial com que o espírito humano se retira para sua fortaleza inatacável
A causa de nossa mediocridade, em grande parte, está em nós mesmos. O ser humano tem medo de seu
ser pessoal, de ser ele mesmo até o final. Prefere refugiar-se no “status”, responder às demandas alheias,
escapar dos conflitos...; no fundo, ele resiste a ser livre a partir do risco da própria consciência.
Textos bíblicos: Mt. 5,13-16 Apoc. 3,14-22
Na oração: O Evangelho é perigoso: desperta o desejo do ser humano e o lança ao espaço do Reino.
Jesus convoca pessoas que tem espírito de audácia, de energia, de criatividade, de luta, de participação...
Porque Deus não nos deu espírito de timidez, de covardia, de mediocridade, de segundos planos...
Vemos, com frequência, muitas pessoas dotadas de grandes capacidades, mas por medo, insegurança, dúvidas...
renunciam multiplicar e desenvolver suas qualidades e embarcam na realização de “projetos minúsculos”.
São chamadas para “coisas maiores” e, no entanto, limitam-se a realizar o menor; são impulsionadas para o
“mais” e contentam-se com o “menos”. Enterram suas aspirações mais profundas, seus sonhos mais nobres;
diante do convite para um novo passo, voltam para trás, falta-lhes uma injeção de idealismo e de sonhos, de generosidade e serviço. Frustram o sonho de Deus e frustram-se a si mesmas.
FONTE: CEI-JESUÍTAS - Centro de Espiritualidade Inaciana
Rua Bambina, 115 - Botafogo – RJ – 22251-050
[email protected] / www.ceijesuitas.org.br
Download

MEDIOCRIDADE: a morte da criatividade