ISSN 0034-7280 Versão impressa Publicação bimestral Vol. 74 - nº 6 - Novembro/Dezembro 2015 REVISTA BRASILEIRA DE OFTALMOLOGIA Publicação oficial da Sociedade Brasileira de Oftalmologia, Associação Brasileira de Catarata e Cirurgia Refrativa NOV-DEZ 2015 VOLUME 74 NÚMERO 6 P. 333- w Retinal nerve fiber layer and choroidal thickness in cirrhosis patients w Teller Test with functional vision evaluation in children with low vision w Repeated tectonic penetrating corneal transplantation w Interrelationships in daily life of visual impaired individuals Scielo, Scopus e Lilacs capa-nov-dez segunda-feira, 28 de setembro de 2015 13:29:34 333 Revista Brasileira de ISSN 0034-7280 (Versão impressa) ISSN 1982-8551 (Versão eletrônica) Oftalmologia PUBLICAÇÃO OFICIAL: SOCIEDADE BRASILEIRA DE OFTALMOLOGIA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CATARATA E CIRURGIA REFRATIVA Sociedade Brasileira de Oftalmologia Indexada nas bases de dados: LILACS Literatura Latinoamericana em Ciências da Saúde SciELO Scientific Electronic Library OnLine www.freemedicaljournals.com Disponível eletronicamente: www.sboportal.org.br Publicação bimestral Editor Chefe André Luis Freire Portes (RJ) Editor Executivo Arlindo José Freire Portes (RJ) Co-editores André Luiz Land Curi (RJ) Bruno Machado Fontes (RJ) Carlos Eduardo Leite Arieta (SP) Hamilton Moreira (PR) Liana Maria Vieira de Oliveira Ventura (PE) Marcony R. Santhiago (RJ) Mario Martins dos Santos Motta (RJ) Maurício Maia (SP) Newton Kara-Junior (SP) Niro Kasahara (SP) Renato Ambrósio Jr. (RJ) Ricardo Augusto Paletta Guedes (MG) Rodrigo Pessoa Cavalcanti Lira (PE) Silvana Artioli Schellini (SP) Walton Nosé (SP) Corpo Editorial Internacional Baruch D. Kuppermann - Califórnia - EUA Christopher Rapuano - Phyladelphia - EUA Curt Hartleben Martkin - Colina Roma - México Daniel Grigera - Olivos - Argentina Deepinder Kauer Dhaliwal - Pittsburg - EUA Felipe A. A. Medeiros - Califórnia - EUA Felix Gil Carrasco - México – México Fernando Arevalo - Riyadh - Arábia Saudita Florent Aptel - Grenoble - França Francisco Rodríguez Alvira – Bogotá - Colombia Howard Fine - Eugene - EUA Jean Jacques De Laey - Ghent - Bélgica Jean-Philippe Nordmann - Paris - França Kevin M. Miller - Califórnia - EUA Kaweh Mansouri - Paris - França Lawrence P. 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Principe de Oliveira – Salvador – BA Alexandre Seminoti Marcon – Porto Alegre - RS Ana Carolina Cabreira Vieira – Rio de Janeiro – RJ Ana Luisa Hofling de Lima - São Paulo - SP André Correa de Oliveira Romano – Americana - SP André Curi - Rio de Janeiro - RJ André Luis Freire Portes - Rio de Janeiro - RJ André Marcio Vieira Messias – Ribeirão Preto – SP Andrea Kara José Senra - São Paulo – SP Antonio Marcelo Barbante Casella - Londrina - PR Armando Stefano Crema- Rio de Janeiro- RJ Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior http://www.capes.gov.br Rev Bras Oftalmol, v. 74, n. 6, p. 333-410, Nov./Dez. 2015 Beatriz de Abreu Fiuza Gomes – Rio de Janeiro - RJ Bruna Vieira Ventura - Recife - PE Bruno Diniz – Goiânia - GO Carlos Augusto Moreira Jr.- Curitiba- PR Carlos Gabriel Figueiredo - São José do Rio Preto - SP Carlos Ramos de Souza Dias- São Paulo- SP Claudio do Carmo Chaves - Manaus - AM Cristiano Caixeta Umbelino - São Paulo - SP Daniel Lavinsky – Porto Alegre - RS David Leonardo Cruvinel Isaac – Goiania - GO Diego Tebaldi Q. Barbosa - São Paulo - SP Edmundo Frota De Almeida Sobrinho- Belém- PA Eduardo Buchele Rodrigues – Florianópolis - SC Eduardo Cunha de Souza – São Paulo - SP Eduardo Damasceno - Rio de Janeiro - RJ Eduardo Dib – Rio de Janeiro - RJ Eduardo Ferrari Marback- Salvador- BA Eliezer Benchimol - Rio de Janeiro - RJ Enzo Augusto Medeiros Fulco – Jundiaí - SP Eugenio Santana de Figueiredo – Juazeiro do Norte - CE Fábio Marquez Vaz – Ondina – BA Felipe Almeida - Ribeirão Preto - SP Fernando Cançado Trindade - Belo Horizonte- MG Fernando Marcondes Penha - Florianópolis - SC Fernando Oréfice- Belo Horizonte- MG Fernando Roberte Zanetti – Vitória - ES Flavio Rezende- Rio de Janeiro- RJ Francisco de Assis Cordeiro Barbosa - Recife - PE Frederico Valadares de Souza Pena – Rio de Janeiro - RJ Frederico Guerra - Niterói - RJ Giovanni N.U.I.Colombini- Rio de Janeiro- RJ Guilherme Herzog Neto- Rio de Janeiro- RJ Harley Biccas - Ribeirão Preto - SP Haroldo Vieira de Moraes Jr.- Rio de Janeiro- RJ Hélcio Bessa - Rio de Janeiro - RJ Helena Parente Solari - Niterói - RJ Heloisa Helena Abil Russ – Curitiba – PR Henderson Celestino de Almeida- Belo Horizonte- MG Hilton Arcoverde G. de Medeiros- Brasilia- DF Homero Gusmao de Almeida- Belo Horizonte- MG Italo Mundialino Marcon- Porto Alegre- RS Iuuki Takasaka – Santa Isabel - SP Ivan Maynart Tavares - São Paulo - SP Jaco Lavinsky - Porto Alegre - RS Jair Giampani Junior – Cuiabá - MT Jeffersons Augusto Santana Ribeiro - Ribeirão Preto - SP João Borges Fortes Filho- Porto Alegre- RS João Luiz Lobo Ferreira – Florianópolis – SC João Marcelo de Almeida G. Lyra - Maceió - AL João Orlando Ribeiro Goncalves- Teresina- PI Jorge Carlos Pessoa Rocha – Salvador – BA JorgeAlberto de Oliveira - Rio de Janeiro - RJ José Augusto Cardillo – Araraquara – SP José Beniz Neto - Goiania - GO José Ricardo Carvalho L. Rehder- São Paulo- SP Laurentino Biccas Neto- Vitória- ES Leonardo Akaishi - Brasília - DF Leonardo Provetti Cunha - SP Leticia Paccola - Ribeirão Preto - SP Liana Maria V. de O. Ventura- Recife- PE Luiz Alberto Molina - Rio de Janeiro - RJ Manuel Augusto Pereira Vilela- Porto Alegre- RS Marcelo Hatanaka – São Paulo – SP Marcelo Netto - São Paulo - SP Marcelo Palis Ventura- Niterói- RJ Marcio Bittar Nehemy - Belo Horizonte - MG Marco Antonio Bonini Filho - Campo Grande - MS Marco Antonio Guarino Tanure - Belo Horizonte - MG Marco Antonio Rey de Faria- Natal- RN Marcos Pereira de Ávila - Goiania - GO Maria de Lourdes Veronese Rodrigues- Ribeirão Preto- SP Maria Rosa Bet de Moraes Silva- Botucatu- SP Maria Vitória Moura Brasil - Rio de Janeiro - RJ Mário Genilhu Bomfim Pereira - Rio de Janeiro - RJ Mario Luiz Ribeiro Monteiro - São Paulo- SP Mário Martins dos Santos Motta- Rio de Janeiro- RJ Marlon Moraes Ibrahim – Franca - SP Mauricio Abujamra Nascimento – Campinas - SP Maurício Bastos Pereira - Rio de Janeiro - RJ Maurício Dela Paolera - São Paulo - SP Miguel Ângelo Padilha Velasco- Rio de Janeiro- RJ Miguel Hage Amaro - Belém - PA Milton Ruiz Alves- São Paulo- SP Moyses Eduardo Zadjdenweber - Rio de Janeiro - RJ Nassim da Silveira Calixto- Belo Horizonte- MG Nelson Alexandre Sabrosa - Rio de Janeiro – RJ Newton Kara-José - São Paulo - SP Newton Leitão de Andrade – Fortaleza – CE Núbia Vanessa dos Anjos Lima Henrique de Faria - Brasília-DF Octaviano Magalhães Júnior - Atibaia - SP Oswaldo Moura Brasil- Rio de Janeiro- RJ Otacílio de Oliveira Maia Júnior – Salvador - BA Patrick Frensel de Moraes Tzelikis – Brasília – DF Paulo Augusto de Arruda Mello Filho – São Paulo – SP Paulo Augusto de Arruda Mello- São Paulo- SP Paulo Schor - São Paulo - SP Pedro Carlos Carricondo – São Paulo – SP Pedro Duraes Serracarbassa – São Paulo – SP Priscilla de Almeida Jorge – Recife – PE Rafael Ernane Almeida Andrade - Itabuna – BA Raul N. 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Meirelles- Rio de Janeiro- RJ Sérgio Kwitko - Porto Alegre - RS Sérgio Luis Gianotti Pimentel – São Paulo – SP Silvana Artioli Schellini - Botucatu- SP Suel Abujamra- São Paulo - SP Suzana Matayoshi - São Paulo - SP Tânia Mara Cunha Schaefer – Curitiba – PR Vitor Cerqueira - Rio de Janeiro - RJ Walter Yukihiko Takahashi – São Paulo – SP Walton Nose- São Paulo- SP Wener Passarinho Cella - Plano Piloto - DF Wesley Ribeiro Campos- Passos- MG Yoshifumi Yamane- Rio de Janeiro- RJ Redação: Rua São Salvador, 107 Laranjeiras - CEP 22231-170 Rio de Janeiro - RJ Tel: (0xx21) 3235-9220 Fax: (0xx21) 2205-2240 Tiragem: 5.000 exemplares Edição:Bimestral Secretaria: Marcelo Diniz Editoração Eletrônica: Sociedade Brasileira de Oftalmologia Responsável: Marco Antonio Pinto DG 25341RJ Publicidade: Sociedade Brasileira de Oftalmologia Responsável: João Diniz [email protected] Revisão: Eliana de Souza FENAJ-RP 15638/71/05 Normalização: Edna Terezinha Rother Assinatura Anual: R$420,00 ou US$280,00 Impressão: Gráfica Stamppa Associada a ABEC - Associação Brasileira de Editores Científicos 334 Revista Brasileira de Oftalmologia Rua São Salvador, 107 - Laranjeiras - CEP 22231-170 - Rio de Janeiro - RJ Tels: (0xx21) 3235-9220 - Fax: (0xx21) 2205-2240 - e-mail: [email protected] - www.sboportal.org.br Revista Brasileira de Oftalmologia, ISSN 0034-7280, é uma publicação bimestral da Sociedade Brasileira de Oftalmologia Diretoria da SBO 2015-2016 Presidente: João Alberto Holanda de Freitas (SP) Vice-presidentes: Armando Stefano Crema (RJ) Durval Moraes de Carvalho Jr. (SP) Francisco de Assis Cordeiro Barbosa (PE) Miguel Hage Amaro (PA) Sérgio Kwitko (RS) Secretário Geral: Arlindo José Freire Portes (RJ) 1º Secretário: Oswaldo Ferreira Moura Brasil (RJ) 2º Secretário: Jorge Carlos Pessoa Rocha (BA) Tesoureiro: Mário Martins dos Santos Motta (RJ) Diretor de Cursos: Gustavo Amorim Novais (RJ) Diretor de Publicações: André Luis Freire Portes (RJ) Diretor de Biblioteca: Evandro Gonçalves de Lucena Jr (RJ) Conselho Consultivo: Carlos Alexandre de Amorim Garcia (RN) Eduardo Henrique Morizot Leite (RJ) Marco Antonio Rey de Faria (RN) Conselho Fiscal Efetivos: Jacqueline Coblentz (RJ) Marcelo Lima de Arruda (RJ) Ricardo Lima de Almeida Neves (RJ) Suplentes: Arnaldo Pacheco Cialdini (GO) Helcio José Fortuna Bessa (RJ) Silvana Maria Pereira Vianello (MG) Diretoria da ABCCR/BRASCRS 2014-2016 Presidente: Carlos Gabriel de Figueiredo Vice-Presidente: Pedro Paulo Fabri Secretário Geral: Newton Andrade 1º Secretário: Vagner Loduca Tesoureiro Geral: Carlos Heler Ribeiro Diniz 1º Tesoureiro: Leonardo Pereira Diretor de Cursos: Amaryllis Avakian Diretor de Cursos: Gustavo Victor Diretor de Publicações: Marcelo Vieira Netto Diretor de Publicações: Newton Kara José Junior Diretor de Vídeo: Ivan Urbano Diretor de vídeo: Marcony Santhiago Diretor de Comunicação: Durval Moraes de Carvalho Junior Diretor de Comunicação: Daniel Alves Montenegro SOCIEDADES FILIADAS À SOCIEDADE BRASILEIRA DE OFTALMOLOGIA Associação Brasileira de Banco de Olhos e Transplante de Córnea Presidente: Ari de Souza Pena Associação Brasileira de Catarata e Cirurgia Refrativa Presidente: Carlos Gabriel de Figueiredo Associação Maranhense de Oftalmologia Presidente: Romero Henrique Carvalho Bertand Associação Matogrossense de Oftalmologia Presidente: Jair Giampani Junior Associação Pan-Americana de Banco de Olhos Presidente: Alvio Isao Shiguematsu Associação Paranaense de Oftalmologia Presidente: Otavio Siqueira Bisneto Associação Rondoniense de Oftalmologia Presidente: Renata Campos Sales Associação Sul Matogrossense de Oftalmologia Presidente: Elson Yamasato Associação Sul-Mineira de Oftalmologia Presidente: Mansur Elias Ticly Junior Sociedade Alagoana de Oftalmologia Presidente: Mário Jorge Santos Sociedade Brasileira de Administração em Oftalmologia Presidente: Ronald Fonseca Cavalcanti Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica Ocular Presidente: Guilherme Herzog Neto Sociedade Brasileira de Ecografia em Oftalmologia Presidente: Leila Sueli Gouveia José Sociedade Brasileira de Glaucoma Presidente: Francisco Eduardo Lopes Lima Sociedade Capixaba de Oftalmologia Presidente: Adriana Vieira Cardozo Sociedade Catarinense de Oftalmologia Presidente: Ayrton Roberto Bravo Ramos Sociedade Cearense de Oftalmologia Presidente: Newton Andrade Júnior Sociedade Goiana de Oftalmologia Presidente: José Eduardo Simarro Rios Sociedade Norte-Nordeste de Oftalmologia Presidente: Carlos Alexandre de Amorim Garcia Sociedade de Oftalmologia do Amazonas Presidente: Leonardo Bivar Sociedade de Oftalmologia da Bahia Presidente: André Hasler Príncipe de Oliveira Sociedade de Oftalmologia do Nordeste Mineiro Presidente: Mauro César Gobira Guimarães Sociedade de Oftalmologia de Pernambuco Presidente: Alexandre Augusto Cabral de Mello Ventura Sociedade de Oftalmologia do Rio Grande do Norte Presidente: Nelson Roberto Salustino Galvão Sociedade de Oftalmologia do Rio Grande do Sul Presidente: Afonso Reichel Pereira Sociedade de Oftalmologia do Sul de Minas Presidente: Mansur Elias Ticly Junior Sociedade Paraense de Oftalmologia Presidente: Frederico José Correia Lobato Sociedade Paraibana de Oftalmologia Presidente: Saulo Zanony Lemos Neiva Sociedade Piauiense de Oftalmologia Maria de Lourdes Cristina Alcântara Paz Carvalho do Nascimento Sociedade Sergipana de Oftalmologia Presidente: Carlos Barreto Barbosa Jr. 335 Revista Brasileira de ISSN 0034-7280 (Versão impressa) ISSN 1982-8551 (Versão eletrônica) Oftalmologia Fundada em 01 de junho de 1942 CODEN: RBOFA9 PUBLICAÇÃO OFICIAL: SOCIEDADE BRASILEIRA DE OFTALMOLOGIA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CATARATA E CIRURGIA REFRATIVA Indexada nas bases de dados: LILACS Literatura Latinoamericana em Ciências da Saúde SciELO Scientific Electronic Library OnLine www.freemedicaljournals.com Disponível eletronicamente: www.sboportal.org.br http://www.capes.gov.br Publicação bimestral Rev Bras Oftalmol, v. 74, n. 6, p. 333-410, Nov./Dez. 2015 Sumário - Contents Editorial 337 Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior Imediatismo Digital Digital Immediacy Prof. Dr. Alexandre Rosa Artigos originais 339 Volume da gota dos colírios lubrificantes: estudo farmacoeconômico Drop volume of artificial tear solutions: pharmacoeconomic study Alexandre Xavier da Costa , Robson Miranda da Gama, Silvia Prado Smit Kitadai, Eric Pinheiro de Andrade, Gabriela Boia Rocha Ferro, José Álvaro Pereira Gomes 345 Peripapillary retinal nerve fiber layer and choroidal thickness in cirrhosis patients Espessura da camada de fibras nervosas peripapilares da retina e coroide em pacientes com cirrose M.Orcun Akdemir, Orhan Ayar, Serpil Yazgan, Sevil Uygun Ilikhan, Erkan Celik, Suat H.Ugurbas, Yucel Ustundag 350 Biometria ocular, estimativa matemática e variação esférica pós facectomia Ocular biometry, mathematical estimation and spherical variation after facectomy Francisco Wellington Rodrigues, Lucas Lauar Cortizo Vidal, Ana Luiza Rassi de Mendonça, Rodrigo Egidio da Silva 355 Repeated penetrating corneal transplantation in patients with a previous tectonic transplant Retransplante penetrante de córnea em pacientes submetidos à transplante tectônico prévio Paulo Rodolfo Tagliari Barbisan, Rosane Silvestre de Castro 358 Perfil epidemiológico dos pacientes atendidos com queixa de olho vermelho na Fundação Hilton Rocha (MG), Brasil Epidemiological profile of patients with red eye complain treated at Fundação Hilton Rocha (MG), Brazil Camila Amaral Carvalho Cunha, Érica de Abreu Borges, Hévila Rolim 336 362 Teller test with functional vision evaluation in children with low vision Teste com Cartões de Teller e avaliação da visão funcional em crianças com baixa visão Anita Zimmermann, Sarah Vieira da Silva, Sara Martins Vieira Zimmermann, Rodrigo Pessoa Cavalcanti Lira , Keila Miriam Monteiro de Carvalho 366 A linfangiogênese em enxertos corneanos humanos que evoluem para retransplante Lymphangiogenesis in human corneal grafts that has evolved to re-transplantation Karine Feitosa Ximenes, Karla Feitosa Ximenes Vasconcelos, Fernando Queiroz Monte 372 Desempenho ocupacional e qualidade de vida: inter-relações no cotidiano de pessoas com deficiência visual Occupational performance and quality of life: interrelationships in daily life of visual impaired individuals Paula Becker, Rita de CássiaIetto Montilha 378 Padronização do critério de exclusão para o vírus HTLV I e II nos bancos de olhos do Brasil Standardization of the exclusion criteria for the HTLV virus I e II in brazilian eye banks Gyanna Lys de Melo Moreira Montenegro, Daniel Alves Montenegro, Antônio Moreira Montenegro, Jamili Anbar Torquato 382 Perfil paquimétrico horizontal para a detecção do ceratocone Horizontal pachymetric profile for the detection of keratoconus Bernardo Teixeira Lopes, Isaac de Carvalho Ramos, Marcella Quaresma Salomão, Ana Laura Caiado Canedo, Renato Ambrósio Jr Relato de Casos 386 Oclusão da artéria central da retina em paciente com poliangeíte microscópica Central retinal artery occlusion in patient with microscopic polyangiitis Cláudia Gallicchio Domingues, Chrissiê Fianco Capitanio, Luciana Boff de Abreu, Marcus Vinícius Mattana 390 Síndrome de Rothmund Rothmund syndrome Thiago Gonçalves dos Santos Martins, Ana Luiza Fontes de Azevedo Costa, Thomaz Gonçalves dos Santos Martins 393 Intraretinal hemorrhage associated with visceral leishmaniasis Hemorragia intrarretiniana associada à leishmaniose visceral Ricardo Evangelista Marrocos de Aragão, Ieda Maria Alexandre Barreira, Leidiane Alexandre Pereira, Barbara Lorena Alves Arrais, Francisco Holanda Oliveira Neto, Everton Fernandes Vieira de Almeida 396 Anoftalmia clínica associada a coloboma e malformações sistêmicas: etiologia e relação oftalmologista-paciente Clinical anophthalmia and coloboma associated with systemic malformations: etiology and ophthalmologist-patient relationship Pedro Ventura, Rafael Bortoli Debarba, Bruna Zago, Diego Davi Corso, Elcio Luiz Bonamigo 400 Diagnóstico e conduta em melanocitoma do disco óptico Diagnosis and management of optic disc melanocytoma Marisa Novaes Falleiro Chaves de Figueiredo, Márcia Leite Machado, Fernanda Guedes Oliveira, Diogo Mafia Vieira, João Jorge Nassaralla Junior Artigo de Revisão 404 Aplicação da mitomicina C na cirurgia refrativa Mitomycin C application in refractive surgery Caroline Piva, Marcony R. Santhiago Instruções aos autores 408 Normas para publicação de artigos na RBO EDITORIAL 337 Imediatismo Digital Digital Immediacy O lhe ao seu redor....Por mais que você não goste (ou admita) tudo ao seu redor (e a seu alcance) foi extremamente mudado pela tecnologia. Desde o surgimento do computador pessoal (na década de 80), sua popularização (na década seguinte), a chegada da internet (na segunda metade da década de 90) e, sobretudo, a revolução causada pela invenção do 1º iPhone (2007) e a consequente posterior popularização do mercado de dispositivos móveis, conhecidos como smartphones, nossa vida sofreu uma reviravolta e nos tornamos completamente dependentes, e algumas vezes viciados, em tecnologia. Faça um pequeno teste, caminhe por alguns minutos na rua e perceba a quantidade de pessoas que acessam, ou que estão conectadas ao smartphone. Aposto que mais de 70% dos indivíduos estarão nessa situação. Vivemos numa era onde há necessidade de informações cada vez mais rápidas e urgentes, nossos smartphones tornaram-se extensão do trabalho. Hoje cada vez mais a informação está ao nosso alcance, ou melhor dentro do nosso bolso. Entretanto, como tudo na vida humana, coexistem 2 faces de uma mesma moeda, uma vantagem e uma desvantagem, um lado bom e um lado ruim, basta você escolher qual deles lhe atenderá. No passado, marcávamos um encontro pelo telefone fixo, combinávamos hora e local, e esperávamos pacientemente pela chegada da outra pessoa. Hoje, combinamos no trajeto, e usamos mensagens instantâneas e, algumas vezes aplicativos de geolocalização para saber se a pessoa já está a caminho ou próximo de chegar. Pacientes, colegas, alunos, todos querem/desejam informações/respostas cada vez mais rápidas. São mensagens e emails para responder que vão lhe soterrando e acumulando uma carga cada vez maior de trabalho. Vivemos a era do “imediatismo digital”, onde um minuto é uma eternidade, onde precisamos disputar a atenção do interlocutor com o sistema de mensagens instantâneas. Aprendemos a tornarmo-nos seres humanos multitarefas, precisamos resolver várias coisas ao mesmo tempo. Por outro lado, o imediatismo também proporcionou uma rapidez na divulgação e no acesso à informação. Lembro da dificuldade em conseguirmos artigos científicos antes da era da internet, precisávamos procurar dentre as referências bibliográficas os artigos que nos interessavam, e procurá-los um a um nas revistas impressas que se encontravam disponíveis em grandes bibliotecas nas universidades, pedir permissão ao bibliotecário e tirar uma fotocópia. Aqueles exemplares que não existiam fisicamente na universidade, fazíamos uma solicitação para bibliotecas conveniadas que possuíam o exemplar impresso e solicitávamos o envio de uma fotocópia. Em último caso, quando não se encontrava o referido volume em nenhuma das bibliotecas conveniadas, escrevíamos uma carta diretamente ao autor para solicitar uma cópia do artigo original. Uma simples pesquisa bibliográfica durava meses, ás vezes anos. Fora o acúmulo de pastas e pastas com artigos científicos fotocopiados que se amontoavam, e depois precisavam ser catalogados de alguma forma para que os outros membros da pesquisa pudessem usar ou, pelo menos, achar aquela informação. Hoje conseguimos fazer uma revisão bibliográfica e conseguir os artigos necessários para elaborar um artigo científico, sentados na comodidade de nossa casa/consultório. Esse imediatismo digital também transformou nossa relação com os pacientes. Gostemos ou não, eles têm como nos alcançar mais rapidamente, seja procurando na internet seu e-mail ou mesmo seu telefone celular. Seus exames são gerados em computadores poderosos, seu prontuário é eletrônico assim como seu agendamento. Sem falar do acesso à informação sobre prevenção, diagnóstico e tratamento de patologias. O “doutor Google” passou a ser um “concorrente” à obtenção de informações sobre doenças, papel antes reservado apenas aos profissionais da área médica. Hoje o médico deve estar preparado para a sabatina imposta pelo paciente e pela sua ansiedade por respostas rápidas assim que adentra o consultório. Como consequência, as frases que mais escutamos hoje em dia são: “Estou ocupado!”, “Não tenho tempo para isso!” ou “Hoje não posso, vamos deixar para depois!”. Precisamos saber lidar com essa enorme quantidade de informação/ tarefas do dia a dia. Pensando nisso, vários métodos foram criados para gerenciar melhor seu tempo e essa avalanche de coisas a serem resolvidas. Vale a pena destacar o método conhecido como GTD (“Getting things done” de David Allen: Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (5): 337-8 338 Rosa A http://gettingthingsdone.com/). Com a chegada dos aplicativos para smartphones, essa metodologia pode ser utilizada de maneira mais eficiente, e integrar realmente o nosso cotidiano. Existem 2 aplicativos muito interessantes para essa finalidade, um deles é um poderoso organizador de notas (evernote: www.evernote.com) e outro um gerenciador de tarefas (wunderlist: www.wunderlist.com) . Contudo, não é apenas instalá-los no seu dispositivo, você deve realmente integrá-los na sua rotina. “A vida é aquilo que lhe acontece enquanto você está ocupado fazendo outros planos” (John Lennon, 1940-1980), portanto, faça as escolhas certas, gerencie melhor seu tempo, e o economize para gastar com aqueles que o amam. Prof. Dr Alexandre Rosa Médico especialista em Doenças da Retina e Vítreo Doutor em Oftalmologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo Professor adjunto de Oftalmologia da Universidade Federal do Pará www.alexandrerosa.com www.retinapro.com Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (6): 337-8 ARTIGO ORIGINAL 339 Volume da gota dos colírios lubrificantes: estudo farmacoeconômico Drop volume of artificial tear solutions: pharmacoeconomic study Alexandre Xavier da Costa1 , Robson Miranda da Gama2, Silvia Prado Smit Kitadai3, Eric Pinheiro de Andrade3, Gabriela Boia Rocha Ferro4, José Álvaro Pereira Gomes5 RESUMO Objetivo: Determinar o volume médio das gotas produzidas pelos colírios lubrificantes em diferentes ângulos de inclinação e determinar o custo médio do tratamento. Métodos: Determinação do volume da gota de 3 frascos originais dos colírios lubrificantes Artelac®, Hylo Comod®, Lacrima® Plus, Systane® UL, Lacrifilm®, Hyabak®, Lacribell®, Ecofilm®, Mirugell®, Plenigell®, Fresh Tears®, Optive® e Endura® à inclinação de 90o e 45o. Determinou-se o número médio de gotas em cada frasco e foi feita avaliação farmacoeconômica dos colírios. Resultados: O volume das gotas variou de 32,2 a 64,0 µL a 45o e de 29,1 a 65,1 µL a 90o. A diferença entre as gotas em cada inclinação foi de 2 a 24% e o custo anual dos colírios de acordo com a inclinação variou de R$2,73 a R$130,73. A Duração Máxima de Tratamento (DMT) foi de 29,3 a 51,4 dias na inclinação de 45o, e de 28,8 a 48,4 dias a 90 o, sendo que a diferença na DMT foi de 0,5 até 8 dias a mais ou a menos, de acordo com a marca. Conclusão: Nenhum dos colírios estudados apresentou gotas ideais para o olho humano, levando a um desperdício do produto e maior custo para o fabricante e para o consumidor. Percebemos que existe uma variação significativa no volume da gota de acordo com a inclinação do frasco, e que uma variação maior do que 10% traria impactos financeiros para o paciente. Descritores: Soluções oftálmicas/administração & dosagem; Soluções oftálmicas/economia; Instilação de medicamentos; Lubrificantes oftálmicos; Farmacoeconomia ABSTRACT Objective: To determine the mean drop volume produced by artificial tear solutions in different inclination angles and to determine the mean cost of the treatment. Methods: The drop volume of 3 original bottles of the artificial tear solutions Artelac®, Hylo Comod®, Lacrima® Plus, Systane® UL, Lacrifilm®, Hyabak®, Lacribell®, Ecofilm®, Mirugell®, Plenigell®, Fresh Tears®, Optive® and Endura® were determined at the inclination of 90o and 45o. The mean number of drops in each bottle was determined and a pharmacoeconomic evaluation of the drops was made. Results: The drop volume ranged from 32.2 to 64.0 µL at 45o and from 29.1 to 65.1 µL at 90o. The difference between drops in each inclination varied from 2 to 24%. The annual cost was from R$2,73 to R$130,73 according to the inclination of the bottle. The Maximum Duration of Treatment (MDT) was from 29.3 to 51.4 days at 45o and from 28.8 to 48.4 days at 90o, being the difference in MDT from 0.5 to 8 more or less days depending on each brand. Conclusion: None of the collyria studied presented ideal drops for human eyes, leading to a waste of the product and higher cost for the manufacturer and the consumer. We noted that there is a significant variation in the drop volume according to the inclination of the bottle, and that a variation of over 10% would bring financial impact for the patient. Keywords: Ophthalmic solutions/administration & dosage; Ophthalmic solutions/economic; Medications instillation; Lubricant eyedrops; Pharmacoeconomics 1,4,5 2,3 Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (SP), Brasil; Universidade de Santo Amaro – São Paulo (SP), Brasil. Trabalho realizado no Laboratório Escola Semi-Industrial de Farmácia da Universidade de Santo Amaro (UNISA) – (SP), Brasil. Os autores declaram não haver conflitos de interesse. Recebido para publicação em 31/05/2015 - Aceito para publicação em 09/08/2015 Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (6): 339-44 340 Costa AX , Gama RM, Kitadai SPS, Andrade EP, Ferro GBR, Gomes JAP Tabela 1 INTRODUÇÃO Compostos ativos de cada colírio N a prática oftalmológica, a principal via de administração de medicamentos é feita através de colírios. O contagotas medicinal oficial, segundo a Farmacopeia Americana, apresenta o diâmetro externo de 3 mm e dispensa 20 gotas de água destilada por mL em uma temperatura de 25 oC, posicionando o conta-gotas perpendicular ao recipiente que receberá a gota(1). A capacidade máxima do fundo de saco conjuntival em humanos é de aproximadamente 30 µL. Sendo assim, uma gota de maior volume aplicada em um olho humano terá seu excesso extravasado pela face e drenado pelas vias lacrimais(2). Considerando que a secreção lacrimal basal é de aproximadamente 7 µL, foi determinado que a concentração ótima de uma droga no filme lacrimal é obtida com um volume de gota em torno de 20 µL, já que volumes menores poderiam requerer aumentos na concentração do fármaco para garantir a mesma eficácia. O volume ideal de uma gota para a utilização em forma de colírio seria de 20 a 23 µL para atingir um aproveitamento máximo da droga, com um mínimo desperdício possível(2). Outro fator que influencia o volume da gota é a inclinação do frasco gotejador. De acordo com o formato do bico do batoque e com a tensão superficial do líquido, há uma tendência de cada frasco produzir uma gota maior ou menor quando inclinado, do que quando está invertido a 90o. O presente trabalho traz como objetivo determinar o volume médio das gotas produzidas pelos frascos de colírios lubrificantes disponíveis no mercado brasileiro quando invertidos a 90o e inclinados a 45o, e determinar o custo médio do tratamento. MÉTODOS A pesquisa consiste em um estudo de experimentação laboratorial, realizado no LESIFAR - Laboratório Escola Semi-Industrial de Farmácia do Curso de Farmácia da Universidade de Santo Amaro (UNISA), em São Paulo - SP. Foram testados 3 frascos originais de 13 marcas de colírios lubrificantes: Artelac ® (Bausch & Lomb ®); Hylo Comod ® (Pfizer®); Lacrima® Plus e Systane® UL (Alcon®); Lacrifilm® e Hyabak® (Genom®); Lacribell®, Ecofilm®, Mirugell® e Plenigell® (Latinofarma®); Fresh Tears®, Optive® e Endura® (Allergan®). Foi utilizada a apresentação de maior volume disponível das marcas estudadas: frascos de 15 mL das marcas Lacrima® Plus, Systane ® UL, Lacrifilm ®, Lacribell ®, Ecofilm ®, Mirugell ®, Plenigell®, Fresh Tears®, Optive® e Endura®; e frascos de 10 mL das marcas Artelac®, Hylo Comod® e Hyabak®. Apresentação dos compostos ativos de cada colírio analisado na tabela 1. O método de densitometria para determinação do volume foi utilizado para determinar o volume da gota(3-6). Foram utilizados balança analítica Ohaus ® Adventurer Pro AV264P (precisão de 0,0001g e capacidade de 240g) com certificado de calibração, Pipeta volumétrica de 1,0mL Laborglas ® e vidro de relógio Laborglas® para determinar a massa dos líquidos. Os colírios foram abertos no momento do teste e a pesagem das gotas foi realizada pelo mesmo investigador, sendo arquivado o lote de cada frasco. Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (6): 339-44 Produto Artelac® Hylo Comod® Lacrima® Plus Systane® UL Lacrifilm® Hyabak® Lacribell® Ecofilm® Plenigell® Mirugell® Fresh Tears® Optive® Endura ® Composto ativo Hipromelose 3,2 mg/mL Hialuronato de Sódio 1 mg/mL Dextrana 1 mg/mL, Hipromelose 3 mg/mL Hydroxipropil guar 8A, Polietilenoglicol 400 Carboximetilcelulose Sódica 5 mg/mL Hialuronato de Sódio 1,5 mg/mL Dextrano 70 1 mg/mL, Hipromelose 3 mg/mL Carboximetilcelulose Sódica 5 mg/mL Carboximetilcelulose Sódica, Glicerol Polietilenoglicol 400, Propilenoglicol Carboximetilcelulose Sódica 5 mg/mL Carboximetilcelulose Sódica 5mg/mL, Glicerina 9 mg/mL Glicerina, Polissorbato 80, Óleo de rícino A massa de 10 gotas de cada frasco das amostras analisadas foi determinada, em temperatura ambiente (20 ± 2 o C), primeiramente com o frasco a 90° e depois a uma inclinação de 45°. Cada frasco de colírio foi levemente pressionado até que se desprendesse uma gota, a uma altura de 5,0 cm do vidro de relógio utilizado sobre a balança, e o processo foi repetido até atingir-se o total cumulativo das 10 gotas estudadas. Para a inclinação correta, foi usado um transferidor como guia em um plano de referência e sua relação com a base do frasco(3,6). Posteriormente foi aferida com pipeta volumétrica a medida da massa de 1,0mL de cada colírio. Desta forma, o volume médio de cada gota foi determinado pela proporção entre a massa de 1,0mL e o peso de 10 gotas de cada colírio (relação volume-peso) (3,6). Determinou-se também o número médio de gotas contidas em cada frasco, levando-se em consideração o volume médio de cada gota e o volume total do frasco como anunciado pelo fabricante no rótulo do produto (3-6). Considerando-se a posologia de uma gota aplicada em cada olho quatro vezes ao dia, no total de 8 gotas por dia, calculou-se o custo médio da gota, o custo mensal e anual do tratamento de acordo com os valores de preço fábrica (PF), que consiste no teto de preço pelo qual um laboratório ou distribuidor de medicamentos pode comercializar seu produto no mercado brasileiro. Desta maneira, PF vem a ser o preço máximo permitido para vendas de medicamentos destinados a farmácias, drogarias e a entes da Administração Pública. Os valores dos medicamentos analisados está em reais, com ICMS de 18% (valor referente ao estado de São Paulo) e foram obtidos na Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED) da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) com atualização de 19 de julho de 2013(7). Optou-se por não utilizar o PMC (Preço Máximo ao Consumidor)(7), uma vez que alguns dos colírios possuem o status de produto liberado. De acordo com o número médio de gotas contidas em cada frasco e com a posologia definida, determinou-se também a duração máxima de tratamento para cada colírio, assim como o número de frascos consumidos por ano. Volume da gota dos colírios lubrificantes: estudo farmacoeconômico RESULTADOS Para análise dos resultados, os produtos foram selecionados e numerados aleatoriamente para a definição da sequência de coleta de dados. Os resultados da massa de 10 gotas e de 1 mililitro, o volume da gota formada, o volume da maior apresentação encontrada no mercado de cada marca, e o preço fábrica dos colírios analisados sob diferentes ângulos de inclinação do frasco na aplicação (tabela 2). Apresentamos a diferença de volume entre a aplicação do colírio a 90 graus e a 45 graus determinou-se o número médio de gotas por frasco, dividindo o volume anunciado pelo fabricante (em sua apresentação de maior conteúdo) pelo volume médio de cada gota, obtendo também a diferença da quantidade de gotas formadas por cada frasco, de acordo com a inclinação (tabela 3). Os resultados demonstram que não há um padrão de gotejamento entre os diferentes frascos estudados, uma vez que o volume das gotas variou de 32,2 a 64,0 µL a 45o e de 29,1 a 65,1 µL a 90o. A diferença entre as gotas em cada inclinação variou entre 2 e 24%. 341 As marcas 1, 2 e 9 apresentaram a gota formada a 45o maior do que a gota formada com o frasco invertido a 90o. Nas outras marcas a gota formada a 90o foi maior (gráfico 1). Nota-se que a porcentagem da diferença no volume da gota é aproximadamente a mesma da diferença do número de gotas, no entanto com o sinal invertido, já que quanto maior a gota, menor vai ser número de gotas contidas nos frascos, aumentando o custo final do consumidor. O custo médio por gota de cada colírio e a diferença do seu preço entre as duas diferentes inclinações, assim como o custo médio mensal e anual para um tratamento definido como 1 gota em cada olho quatro vezes ao dia, com um total de 8 gotas por dia (tabela 4). A duração máxima de tratamento (DMT) variou de 29,3 a 51,4 dias na inclinação de 45o, e de 28,8 a 48,4 dias a 90 o, sendo que a diferença na DMT foi de 0,5 dias até 8 dias a mais ou a menos de acordo com cada marca (tabela 5). Calculamos também o número médio de frascos consumidos por ano se forem aplicadas as gotas a 45o ou a 90o e a diferença no número de frascos que deverá ser adquirido pelo paciente anualmente (tabela 6). Tabela 2 Resultados da média e desvio padrão da massa de 10 gotas, de 1 mililitro e do volume da gota, volume da apresentação e preço fábrica dos colírios Massa 10 gotas (g) Produto 45° 90° Massa de 1mL (g) 45° Volume de 1 gota (mL) Apresentação (mL) Preço (R$) 90° 1 0,3201± 0,0065 0,2641± 0,0114 0,9100 ± 0,0415 0,0353 ± 0,0018 0,0291 ± 0,0025 10 10,78 2 0,3147± 0,0346 0,2992± 0,0079 0,9772 ± 0,0140 0,0322 ± 0,0034 0,0306 ± 0,0011 10 não disponível 3 0,6124± 0,0259 0,6234± 0,0742 0,9565 ± 0,0075 0,0640 ± 0,0023 0,0651 ± 0,0075 15 12,42 4 0,3723± 0,0139 0,4300± 0,0130 0,9706 ± 0,0071 0,0384 ± 0,0017 0,0443 ± 0,0015 15 32,65 5 0,3588± 0,0060 0,3811± 0,0154 0,9839 ± 0,0173 0,0365 ± 0,0012 0,0387 ± 0,0014 15 15,92 6 0,4143± 0,0493 0,4688± 0,0834 0,9386 ± 0,0240 0,0441 ± 0,0051 0,0500 ± 0,0090 15 10,47 7 0,4101± 0,0189 0,4390± 0,0187 0,9628 ± 0,0065 0,0426 ± 0,0017 0,0456 ± 0,0022 15 29,21 8 0,3561± 0,0078 0,3782± 0,0092 0,9648 ± 0,0121 0,0369 ± 0,0012 0,0392 ± 0,0011 15 39,17 9 0,3844± 0,0105 0,3226± 0,0155 0,9610 ± 0,0027 0,0400 ± 0,0010 0,0336 ± 0,0016 10 38,82 10 0,3537± 0,0056 0,3863± 0,0092 0,9660 ± 0,0034 0,0366 ± 0,0006 0,0400 ± 0,0011 15 30,92 11 0,4782± 0,0049 0,5895± 0,0039 0,9865 ± 0,0067 0,0485 ± 0,0002 0,0598 ± 0,0002 15 35,22 12 0,4649± 0,0099 0,6079± 0,0044 0,9424 ± 0,0116 0,0493 ± 0,0016 0,0645 ± 0,0006 15 44,29 13 0,3879± 0,0081 0,4484± 0,0113 0,9423 ± 0,0041 0,0412 ± 0,0009 0,0476 ± 0,0011 15 40,5 Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (6): 339-44 342 Costa AX , Gama RM, Kitadai SPS, Andrade EP, Ferro GBR, Gomes JAP Tabela 3 Volume médio de cada gota em microlitros e diferença volumétrica entre cada inclinação, número médio de gotas contido em cada frasco e diferença do número de gotas formadas em cada inclinação durante aplicação Produto 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 Volume de 1 gota (µL) 45° 90° 35,3 32,2 64,0 38,4 36,5 44,1 42,6 36,9 40,0 36,6 48,5 49,3 41,2 29,1 30,6 65,1 44,3 38,7 50,0 45,6 39,2 33,6 40,0 59,8 64,5 47,6 Diferença do volume da gota entre 90° e 45° 6,12 1,56 1,13 5,94 2,24 5,85 3,03 2,29 6,43 3,38 11,28 15,16 6,42 Número de gotas por frasco (21%) (5%) (2%) (13%) (6%) (12%) (7%) (6%) (19%) (8%) (19%) (24%) (13%) 45° 90° 283,66 310,64 234,34 390,96 411,07 339,93 352,27 406,29 249,99 409,65 309,44 303,97 364,35 343,28 326,50 230,28 338,57 387,26 300,16 328,84 382,55 297,84 375,06 251,02 232,53 315,23 Diferença do número de gotas por frasco entre 90° e 45° 59,63 15,87 4,07 52,40 23,81 39,77 23,42 23,74 47,85 34,59 58,42 71,45 49,13 (17%) (5%) (2%) (15%) (6%) (13%) (7%) (6%) (16%) (9%) (23%) (31%) (16%) Gráfico 1 Tabela 4 Diferença no volume da gota de cada colírio (µL) de acordo com sua inclinação Custo por gota e sua diferença a 90° e a 45°, e custo para tratamento mensal e anual Custo da gota (R$) Produto 45° 1 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 Produto 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 0,038 0,053 0,084 0,039 0,031 0,083 0,096 0,155 0,075 0,114 0,146 0,111 Custo mensal (R$)* Custo anual (R$)* 90° 45° 90° 45° 90° 0,031 0,054 0,096 0,041 0,035 0,089 0,102 0,130 0,082 0,140 0,190 0,128 9,12 12,72 20,04 9,29 7,39 19,90 23,14 37,27 18,11 27,32 34,97 26,68 7,54 12,94 23,14 9,87 8,37 21,32 24,57 31,28 19,79 33,67 45,71 30,84 110,97 154,76 243,85 113,09 89,94 242,13 281,51 453,44 220,40 332,35 425,45 324,58 91,70 157,49 281,59 120,04 101,85 259,37 298,98 380,59 240,73 409,70 556,18 375,16 Tabela 5 Tabela 6 Duração máxima de tratamento Número de frascos por ano Duração máxima de tratamento*(dias) 45° 90° 35,5 42,9 38,8 40,8 29,3 28,8 48,9 42,3 51,4 48,4 42,5 37,5 44,0 41,1 50,8 47,8 31,2 37,2 51,2 46,9 38,7 31,4 38,0 29,1 45,5 39,4 Diferença (*) Para a posologia de 1 gota em cada olho 4 vezes ao dia Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (6): 339-44 7,5 2,0 0,5 6,5 3,0 5,0 2,9 3,0 6,0 4,3 7,3 8,9 6,1 Produto 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 Número de frascos* 45° 90° 11 9 10 9 13 13 8 9 8 8 9 10 9 9 8 8 12 10 8 8 10 12 10 13 8 10 Diferença 2 1 0 1 0 1 0 0 2 0 2 3 2 (*) Para a posologia de 1 gota em cada olho 4 vezes ao dia Volume da gota dos colírios lubrificantes: estudo farmacoeconômico 343 Foi observado que uma variação maior do que 10% no número de gotas em um frasco, de acordo com a inclinação de aplicação, indica um aumento no número de frascos consumidos em um ano, já que, para os colírios 3, 5, 7, 8 e 10 (os quais possuem uma variação do número de gotas menor do que 10%), não houve aumento no número de frascos utilizados no período de 1 ano. ses colírios em nosso serviço, considerando também o fato de que colírios com conservantes não devem ser usados com uma frequência maior do que 4 vezes ao dia para que não haja danos à superfície ocular. No entanto, é valido considerar que cada produto possui sua particularidade e características individuais que podem levar a uma necessidade de maior ou menor frequência de aplicação. Notamos com preocupação que nem a Farmacopeia Brasileira nem a Americana consideram o limite do continente ocular para a fabricação dos colírios, e vemos que maior atenção deve ser dada para produzir gotas de menor volume, para que não haja desperdício ou risco de maior absorção sistêmica de alguma droga. O conceito de farmacoeconomia vem crescendo hoje em dia e diz respeito à aplicação dos princípios da economia ao estudo dos medicamentos e às práticas de saúde, preconizando a otimização na utilização de recursos financeiros sem prejuízo à qualidade e aos desfechos de tratamento(11). Considerando-se a equivalência terapêutica dos colírios lubrificantes, a análise de minimização de custo é uma forma simples de avaliação econômica em que somente os custos são submetidos às comparações, pois as eficácias ou as efetividades das alternativas comparáveis são iguais(11,12). Percebemos, portanto, que o volume da gota dos colírios ainda encontra-se consideravelmente alto, e que isso leva a um desperdício do produto e maior custo para o fabricante e para o consumidor. Uma vez que o ajuste do batoque para calibrar gotas menores é um processo oneroso, uma medida imediata para minimizar o custo seria orientar corretamente os consumidores de forma descritiva e ilustrativa na bula qual seria a melhor forma de aplicação de cada colírio. DISCUSSÃO A 5a edição da Farmacopeia Brasileira publicada em 2010 é o Código Oficial Farmacêutico seguido no Brasil que define as normas e especificações dos insumos farmacêuticos, medicamentos e outros produtos sujeitos à vigilância sanitária. Em edição anterior, a Farmacopeia Brasileira definia que qualquer utensílio de medida para administração de medicamentos líquidos deve atender a padrões volumétricos específicos: as gotas devem ser contadas em um conta-gotas normal, que deve apresentar um tubo de escoamento com 3 mm de diâmetro externo e 0,6 mm de diâmetro interno, terminando em secção tubular. Vinte gotas de água destilada, contadas no conta-gotas normal à temperatura de 15 oC, devem pesar 1g (8) . Como 1g de água destilada corresponde a 1 mL, temos que o volume de cada gota teria o volume de 50 microlitros, medida esta que foi citada por alguns autores como valor máximo permitido pelo Ministério da Saúde para o volume das gotas dos colírios(3,9), sendo “colírio” definido como a preparação farmacêutica líquida destinada à aplicação sobre a mucosa ocular(10). Uma vez que o colírio é instilado sob a forma de gotas, deve seguir as especificações definidas pela Anvisa para administração de medicamentos líquidos. No entanto, nota-se que a legislação vigente não traz mais a definição da determinação do volume das gotas, e tampouco define regulamentações para o volume das gotas dos colírios, especificamente. Os colírios são uma classe de medicamentos que merece atenção especial, já que existe um limite máximo de volume comportado pelo olho de aproximadamente 30µL (2). Além disso, em relação à inclinação do frasco, percebemos que existe uma variação significativa no volume da gota, e não há uma preocupação por parte dos fabricantes quanto a este fato, uma vez que a bula de 12 das 13 marcas testadas não informa ao consumidor a forma correta de aplicação do colírio. A Farmacopeia Americana (usada como a principal referência para a legislação brasileira) afirma que devemos levar em consideração que cada substância possui características diferentes, portanto o tamanho da gota de cada preparação irá variar e que, quando a acurácia de cada gota for importante (como no caso dos colírios), o dosador deverá ser calibrado especificamente para cada preparação, admitindo-se uma variação de até 15% no volume da gota para cada solução(1). No entanto, nossa análise sugere que uma variação acima de 10% no volume da gota já traria impactos financeiros ao consumidor, uma vez que apenas para os colírios 3, 5, 7, 8 e 10 (os quais possuem uma variação do número de gotas menor do que 10%), não houve aumento no número de frascos utilizados no período de 1 ano. A posologia adotada neste estudo para os colírios lubrificantes baseou-se na forma como prescrevemos usualmente es- CONCLUSÃO Nenhum dos frascos de colírios estudados apresentou gotas ideais para o olho humano, levando a um desperdício do produto e maior custo para o fabricante e para o consumidor. Percebemos que existe uma variação significativa no volume da gota de acordo com a inclinação do frasco, e que uma variação maior do que 10% traria impactos financeiros para o paciente. Novos estudos devem ser realizados com outras classes de colírios e devemos cada vez mais nos preocupar com o volume da gota dos colírios, de forma que o ideal seja atingido. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. United States Pharmacopeia 30, National Formulary 25 (USP30 NF 25). Pharmaceutical Dosage Forms. USA: The United States Pharmacopeial Convention; 2007. p. 584. Galvão-Neto P, Rocha Júnior FS, Ribeiro BB, Silva FA, Figueiredo CR, Batista WD. Volume da gota dos análogos das prostaglandinas. Rev Bras Oftalmol. 2004; 63(9-10):457-62. Estacia P, Tognon T. Considerações sobre o ângulo de administração de colírios antiglaucomatosos análogos das prostaglandinas. Arq Bras Oftalmol. 2008;71(5):684-8. Gaynes BI, Singa RM, Cao Y. Dosage variability of topical ocular hypotensive products: a densitometric assessment. J Glaucoma. 2009;18(2):149-52. Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (6): 339-44 344 Costa AX , Gama RM, Kitadai SPS, Andrade EP, Ferro GBR, Gomes JAP 5. Gaynes BI, Singa RM, Schaab G, Sorokin Y. Impact of administration angle on the cost of artificial tear solutions: does bottle positioning minimize wastage? J Ocul Pharmacol Ther. 2007;23(2):196-201. 6. Prata-Jr JA, Prata JA. Comparação do volume da gota e custo do tratamento dos genéricos de maleato de timolol 0,5%. Arq Bras Oftalmol. 2004;67(3):419-22. 7. BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos. [citado 2013 Out 23]. Disponível em: http://portal.anvisa.gov.br 8. Farmacopeia Brasileira. 3a ed. Brasília (DF): ANVISA; 1977. 9. Roizenblatt R, Freitas D, Belfort Jr R, Hofling-Lima AL, Prata Jr JA. Impacto econômico no tratamento do glaucoma: volume de gotas de colírios antiglaucomatosos brasileiros e norteamericanos. Arq Bras Oftalmol. 2001; 64(2):143-6. 10. Farmacopeia Brasileira. 5a ed. Brasília (DF): Anvisa, 2010; vol.2, p.546. Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (6): 339-44 11. Guimarães HP, Barbosa LM, Laranjeira LN, Avezum A. Estudos de farmacoeconomia e análises econômicas: conceitos básicos. Rev Bras Hipertens. 2007;14(4): 265-8. 12. Tonon LM, Tomo TT, Secoli SR. Farmacoeconomia: análise de uma perspectiva inovadora na prática clínica da enfermeira. Texto Contexto Enferm. 2008;17(1):177-82. Autor correspondente Alexandre Xavier da Costa Rua Botucatu, nº 821 – São Paulo (SP), Brasil Telephone: 55 (11) 98205-5520 E-mail: [email protected] ARTIGO ORIGINAL 345 Peripapillary retinal nerve fiber layer and choroidal thickness in cirrhosis patients Espessura da camada de fibras nervosas peripapilares da retina e coroide em pacientes com cirrose M.Orcun Akdemir1, Orhan Ayar1, Serpil Yazgan1, Sevil Uygun Ilikhan2, Erkan Celik1, Suat H.Ugurbas1, Yucel Ustundag3 ABSTRACT Purpose: To evaluate the effect of cirrhosis on peripapillary retinal nerve fiber layer and choroidal thickness with enhanced depth imaging optical coherence tomography. Methods: This cross sectional, single center study was undertaken at Bulent Ecevit University Ophthalmology department with the participation of internal medicine, Gastroenterology department. Patients who were treated with the diagnosis of cirrhosis (n=75) were examined in the ophthalmology clinic. Age and sex matched patients (n=50) who were healthy and met the inclusion, exclusion criteria were included in the study. Complete ophthalmological examination included visual acuity with Snellen chart, intraocular pressure measurement with applanation tonometry, biomicroscopy of anterior and posterior segments, gonioscopy, axial length measurement, visual field examination, peripapillary retinal nerve fiber layer, central macular and subfoveal choroidal thickness measurements. Results: The difference between intraocular pressure values was not statistically significant between cirrhosis and control group (p=0.843). However, mean peripapillary retinal nerve fiber layer thickness was significantly thinner in cirrhosis group in all regions (p<0.001) and subfoveal choroidal thickness was significantly thinner in cirrhosis group also (p<0.001). Moreover, central macular thickness of cirrhosis group was significantly thicker than the control group (p=0.001). Conclusion: Peripapillary retinal nerve fiber layer and subfoveal choroidal thickness was significantly thinner in cirrhosis patients. Keywords: Cirrhosis; Peripapillary retinal nerve fiber layer; OCT; Subfoveal choroidal thickness RESUMO Objetivo: Avaliar o efeito da cirrose na camada de fibras nervosas da retina e na espessura da coroide através da tomografia de coerência óptica com imagem de profundidade aprimorada. Métodos: Este estudo transversal, de único centro, foi realizado no departamento de Oftalmologia da Universidade Bulent Ecevit com a participação do departamento de medicina interna em gtastroenterologia. Os pacientes que foram tratados com o diagnóstico de cirrose (n = 75) foram examinados na clínica da oftalmologia. Foram incluídos pacientes correspondentes em idade e sexo (n = 50) que fossem saudáveis e possuíssem o critério de inclusão exigido pelo estudo. Realização de exame oftalmológico completo: acuidade visual com tabela de Snellen, a medida da pressão intraocular com tonometria de aplanação, biomicroscopia do segmento anterior e posterior, gonioscopia, medida do comprimento axial, exame de campo visual, camada de fibras nervosas da retina, macular central e medidas de espessura de coroide. Resultados: A diferença entre os valores de pressão intraocular não foram estatisticamente significativos entre os grupos cirrótico e controle (p=0,843). Entretanto, a espessura da camada de fibras nervosas da retina foi significativamente mais fina no grupo cirrótico em todas as regiões (p=0,001) e a espessura subfoveal da coroide também foi significativamente mais fina no grupo cirrótico (p=0,001). Além disso, a espessura macular central do grupo cirrótico foi significativamente mais grossa do que no grupo de controle (p=0,001). Conclusão: Por fim, as espessuras das camadas de fibras nervosas da retina e subfoveal da coroide foram significativamente mais finas nos pacientes com cirrose. Descritores: Cirrose; Camada de fibras nervosas da retina; OCT; Espessura de coroide 1,2,3 School of Medicine, Bulent Ecevit University – Zonguldak, Turkey. There was no public or private financial support. Os autores declaram não haver conflitos de interesse. Recebido para publicação em 22/05/2015 - Aceito para publicação em 05/07/2015 Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (6): 345-9 346 Akdemir M.O, Ayar O, Yazgan S, Ilikhan SU, Celik E, Ugurbas SH, Ustundag Y INTRODUCTION C irrhosis is a chronic liver disease that impairs the function of the liver by causing fibrosis of the tissue. Cirrhosis mainly occurs in patients with chronic liver diseases such as Hepatitis B-virus (HBV), Hepatitis C-virus (HCV) infection, alcoholic liver disease, non- alcoholic fatty liver disease, biliary diseases and autoimmune hepatitis. In addition, anything that damages the liver can cause cirrhosis. Model for End-Stage Liver Disease (MELD) and child classification are most commonly used scales to classify the cirrhosis patients(1-3). Cirrhosis can be diagnosed by either histological evaluation of the liver biopsy samples and/or by using physical examination, blood tests and radiological findings. However, there is no cure for cirrhosis of the liver. The treatments are based on slowing down liver damage and reducing complications. The treatment options mainly vary with the stage of the illness and in part, depends on the cause of cirrhosis of the liver(4). Currently, the antiviral medications approved by the U.S. Food and Drug Administration (FDA) including interferon alpha, pegylated interferon, lamivudine, adefovir, entecavir, telbivudine, tenofovir, ribavirin, boceprevir, telaprevir, simeprevir, sofosbuvir are used for treatment of HBV and HCV infections(5,6). Furthermore, lifestyle modification, metformin, pioglitazone, ursodeoxycholic acid, statins and prebiotics are the therapeutic options in patients with non-alcoholic steatohepatitis (NASH) and cryptogenic hepatitis(7). Although cirrhosis is the primary disease of liver, the systemic disorders due to cirrhosis such as hepatic encephalopathy, renal failure, immune suppression, coagulation disorders occur during disease progression and these systemic disorders may eventually lead to death. Eye is the one of the organs that may be affected by the disease. However, effects of cirrhosis on eye have not been evaluated sufficiently(8). Ocular manifestations of HCV and HBV infections are dry eye, Mooren ulcer and retinopathy. In a recent study it was found that chronic HCV infection causes increased flare in anterior chamber and increased choroidal thickness(8,9). Choroid is vitally important for the function of the retina. In the past, imaging techniques such as indocyanine green angiography, ultrasonography were used and gave limited information about the choroid. However, with the advancement of the spectral domain optical coherence tomography (OCT) and enhanced depth imaging (EDI) which was first described by Spaide, in vitro visualization of choroid resulted in understanding pathologic processes. OCT uses interferometry and low coherence light for high resolution cross section of the posterior segment tissues and it has the advantage of absolute measurement of nerve fiber layer thickness(10). Aim of the present study is to evaluate the peripapillary retinal nerve fiber layer (RNFL) and choroid findings of cirrhosis patients with EDI-OCT. METHODS A cross sectional study was undertaken at Bulent Ecevit University Ophthalmology department with the participation of internal medicine, Gastroenterology department. Patients who were treated with the diagnosis of cirrhosis associated with HCV, HBV infection, non- alcoholic steatohepatitis (NASH) and also cryptogenic cirrhosis (n=75) were examined in the Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (6): 345-9 ophthalmology clinic. Age and sex matched patients (n=50) who were healthy and met the inclusion, exclusion criteria were included in the study. Informed consent was obtained from each participant and the study was conducted with the Declaration of Helsinki. The study was approved by Clinical Research Ethics Committee of the Bulent Ecevit University. A detailed medical history was recorded and complete ophthalmological examinations including visual acuity with Snellen chart, intraocular pressure (IOP) measurement with applanation tonometry, biomicroscopy of anterior and posterior segments, gonioscopy, axial length measurement, visual field examination and peripapillary retinal nerve fiber analysis, central macular thickness and choroidal thickness measurements were done. Retinal analysis by EDI-OCT (Heidelberg Engineering, Heidelberg, Germany) were done after 30-40 minutes pupillary dilation by tropicamide 1%. All patients were evaluated at the same time period to eliminate the effects of diurnal variations of IOP and choroidal thickness. Visual acuity results were transformed to logMAR for statistical analysis. Patients who had previous ophthalmic surgery, any ophthalmic disease preventing the view of the anterior chamber, posterior segment detail and retina analysis, glaucoma, pseudoexfoliation, senile macular degeneration, history of central serous chorioretinopathy, uveitis, axial length shorter than 22mm and longer than 24mm, systemic disease other than cirrhosis, auto immune hepatitis, Wilson’s disease and alcoholic hepatitis were not included in the study. Retinal nerve fiber analyze was done automatically in glaucoma mode of the EDI-OCT. A scan circle with a diameter of 3.45 mm was positioned manually at the center of the optic disc. The mean of hundred images was automatically analyzed by the OCT and measurements used for analysis included global as well as 6 regional subfields (nasal, nasoinferior, nasosuperior, temporal, temporoinferior and temporosuperior). Macular thickness measurement was done automatically in retina mode, with horizontal scanning of 30x15 degree field. All scans were done in G-Dens mode which includes 37 B-scan images and with eye tracking mode on. Subfoveal choroidal thickness was measured manually. Images were taken in EDI mode, eye tracking on, which scans 30 degrees field and take 100 images. The best image was prepared by the EDI-OCT automatically. Subfoveal choroidal thickness was measured vertically from the outer border of the retinal pigment epithelium (RPE) to the choroidal-scleral interface after the image diameter was increased by 400%. All patients’ choroidal thickness measurements were done by 2 experienced ophthalmologist. If any disparity between the measurements occurs, mean of the 2 measurements was included in the statistical analysis (figure 1). Cirrhosis was diagnosed either by histological evaluation of the liver biopsy samples and/or by using physical examination, blood tests and radiological findings. Besides, the cirrhosis patients were taking the available treatment in accordance with the occurrence of decompensation, characterized by ascites, spontaneous bacterial peritonitis, hepatic encephalo-pathy, or variceal bleeding from portal hypertension. The patients with cirrhosis caused by HBV, HCV and NASH were using some of the drugs including pegylated interferon, lamivudine, entecavir, tenofovir, ribavirin, boceprevir, telaprevir and ursodeoxycholic acid. SPSS 19.0 used for statistical analysis. Continuous variables are given with mean, standard deviation; qualitative variables Peripapillary retinal nerve fiber layer and choroidal thickness in cirrhosis patients are given with frequency and percent. Shapiro Wilk test set for test of normality. Kruskal Wallis test for 3+ group comparisons and Mann Whitney U test and Bonferonni corrected Mann Whitney U tests used for 2 group comparisons for non-normal data. Pearson chi-square test used for crosstab comparisons. Spearman correlation analysis used to compare continuous variables. For all statistical comparisons with p value below 0.05 assumed as there is a statistically significant difference. 347 RESULTS There is no statistically significant difference between the ages and genders of cirrhosis and control groups (p=0.753, p=0.470) (table 1). Table 1 Patient characteristics Cirrhosis n=75 Age, Mean±SE Control n=50 58.2 ± 11.0 59.3 ± 10.9 Female 38 (49.3) 23 (46) Male 37 (50.7) 27 (54) Gender (n%) Figure 1: A) Enhanced depth imaging optical coherence tomography of a patient with cirrhosis; B) Enhanced depth imaging optical coherence tomography of a control subject p-value 0.753 0.470 In the cirrhosis group 150 eyes and in the control group 100 eyes were included in the statistical analysis. In cirrhosis group 37 patients were diagnosed as HBV, 18 patients were diagnosed as HCV, 10 patients were diagnosed as non-alcoholic steatohepatitis (NASH), 10 patients were diagnosed as cryptogenic cirrhosis. The patients diagnosed as other than HBV and HCV were regrouped as non-infectious cirrhosis (NIC). Thus, cirrhosis group was sub-grouped as HBV, HCV and NIC. Mean IOP was 13.9 ± 3.0 mmHg in cirrhosis group and 14.1 ± 2.7mmHg in control group. The difference between IOP was not statistically significant between cirrhosis and control group (p=0.843). However, mean peripapillary RNFL thickness was significantly thinner in cirrhosis group in all sectors and subfoveal choroidal thickness was significantly thinner in cirrhosis group also. Moreover, central macular thickness of cirrhosis group was significantly thicker than the control group (table 2). Table 2 Intraocular pressure and retina nerve fiber layer thickness values of groups IOP RNFL-G (mmHg) (µm) Control Group 14.1±2.7 (n=100) Cirrhosis 13.9±3.0 (n=150) p-value 0.843 102.9± 8.8 93.3±13.3 <0.001 RNFL-N RNFL-NI RNFL-NS RNFL-T RNFL-TI RNFL-TS (µm) (µm) (µm) (µm) (µm) (µm) 79.3±11.1 118.0±19.3 111.1±18.3 69.9±9.0 154.1±20.2 SFCT (µm) CMT (µm) 140.0±18.1 313.3±57.1 222.0±19.4 71.6±15.8 112.8±27.3 100.4±22.9 66.2±13.3 132.2±26.1 123.6±24.4 256.6±53.7 270.4±24.8 <0.001 <0.001 <0.001 <0.001 <0.001 <0.001 <0.001 <0.001 IOP - Intraocular pressure; RNFL - Retina nerve fiber layer thickness; G - Global; N- Nasal; NI - Nasoinferior; NS - Nasosuperior; T- Temporal; TI - Temporoinferior; TS - Temporosuperior; S Subfoveal choroidal thickness There was a statistically significant IOP difference in HBV, HCV and NIC groups (14.8 mmHg, 13.3 mmHg and 14.9 mmHg respectively, p=0.01). In HBV group IOP was higher than the other groups. There was no statistically significant difference between HCV and NIC groups. In spite of the difference between IOP values between groups, there was no statistically significant difference in peripapillary RNFL values between subgroups of cirrhosis patients (table 3). Moreover, subfoveal macular thickness was significantly thinner in HBV and HCV groups than NIC group (251.3 ± 50.8µm, 246.9 ± 56.1µm, 275 ± 53.4µm respectively, p=0.043).There was no correlation between peripapillary RNFL, subfoveal choroidal thickness, central macular thickness and Child, MILD scorings of cirrhosis patients. DISCUSSION This is the first study that reports the effects of cirrhosis on peripapillary RNFL and subfoveal choroid thickness as far as we know. Cirrhosis patients had significantly thin RNFL in all segments of the optic nerve and subfoveal choroidal thickness (p<0.001). Moreover the mean difference between IOP values in both groups was not statistically significant (p=0.843). As a result, we could not explain the changes in the optic nerve RNFL with IOP. The RNFL changes may be result of vascular effects of the cirrhosis. There was no correlation between MELD and Child score with the IOP, RNFL or choroidal thickness (p=0.848, p=0.870 (RNFL- G), p=0.574). Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (6): 345-9 348 Akdemir M.O, Ayar O, Yazgan S, Ilikhan SU, Celik E, Ugurbas SH, Ustundag Y Table 3 Intraocular pressure and retina nerve fiber layer thickness values in the subgroups of cirrhosis patients IOP (mmHg) RNFL-G (µm) RNFL-N (µm) RNFL-NI (µm) RNFL-NS (µm) RNFL-T (µm) RNFL-TI (µm) RNFL-TS (µm) HBV 14.8±2.6 93.8±12.7 72.1±15.5 113.9±29.0 100.7±24.9 67.9±12.7 131.0±25.0 123.5±24.2 SFCT (µm) 251.3±50.8 HCV 13.3±3.5 93.5±12.3 70.3±15.1 111.7±25.1 101.3±20.1 65.8±12.4 133.9±25.3 126.8±27.2 246.9±56.1 NIC 92.1±15.3 71.9±17.3 111.9±26.7 99.0±22,0 63.6±14.9 132.8±29.1 121.0±22.2 275.1±53.4 0.957 0.269 0.746 0.955 0.401 0.643 0.414 0.043 12.8±2.6 p-value 0.001 IOP -Intraocular pressure; RNFL- Retina nerve fiber layer thickness; G - Global; N - Nasal; NI - Nasoinferior; NS - Nasosuperior; T - Temporal; TI - Temporoinferior; TS - Temporosuperior; SFCT - Subfoveal choroidal thickness Cirrhosis is a very important disease in the developing world. The response of the cells in liver to necrosis is collapse of hepatic lobules, formation of diffuse fibrous septa and nodular regrowth of liver cells. Histologic pattern of cirrhosis is nearly same in all diseases. There are many etiological factors causing cirrhosis. HBV, HCV and alcoholic cirrhosis are main causes of cirrhosis in developed world, HBV and HCV are main causes of cirrhosis in developing countries(11). Cirrhosis can affect extra hepatic systems such as small vessels, kidneys, skin and eyes(12). There are several reports that support the relationship between dry eye and HCV-HBV infection(13,14). Moreover Mooren’s ulcer, small vessel vasculitis causing necrotizing scleritis and peripheral keratopathy were reported with HCV infection(15). HCV also causes retinopathy characterized by posterior pole retinal hemorrhages, followed by cotton wool spots and peripheral retinal hemorrhages. Retinopathy of HCV is caused by complement mediated immune complexes resulting in vasoocclusion. HBV infection was found to be a risk factor of age related maculopathy(16). Roh et al. found the association between HBV infection and age related maculopathy after adjusting the multivariate analysis for socioeconomic factors(17). There are some case reports that show the association between liver diseases and eye, such as choroidal and optic nerve infarction, anterior ischemic optic neuropathy, spontaneous expulsive suprachoroidal hemorrhage, and bilateral multifocal central serous retinopathy(18-20). In a pilot study Strobbe et al. investigated the subfoveal choroidal thickness and aqueous flare in patients with asymptomatic untreated chronic HCV infection. They found that asymptomatic HCV patients had thickened choroids and increased aqueous flare. Mean aqueous flare was significantly higher in HCV patients (8.37 ± 2.25pc/ms vs 4.56 ± 1.45pc/ms). Moreover, they stated that aqueous flare and choroidal thickness increase significantly with liver fibrosis(9). Results of the present study were not consistent with the study done by Strobbe et al. In the present study patients with cirrhosis had thinner choroidal thickness values than control subjects. This difference between the studies was probably because of the stages of the diseases. Our study group includes the cirrhotic patients with HBV, HCV and NIC. There was no correlation between CHILD score, MELD score, choroidal thickness and peripapillary RNFL. This makes us think that the metabolic changes in cirrhosis did not affect the RNFL and choroid changes. In the present study the cirrhosis patients were using different kind of drugs for their treatment but ophthalmic adverse effect like thinning in peripapillary RNFL was not Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (6): 345-9 reported in either of the drugs except interferon. There are many studies that report interferon as a cause of retinopathy called interferon associated retinopathy(21). However, only 6 patients of HCV group was using interferon in the study and there was no interferon associated retinopathy in the study group. All groups were using different kind of drugs but there was no statistically significant difference between the groups in the mean of RNFL thickness. Thus, changes in the peripapillary RNFL and subfoveal choroidal thickness could not be because of the drugs. There are some various reports investigating the choroidal thickness and glaucoma. Study done by Hirooka et al. found that choroidal thickness in nasal foveal region was thinner in normotension glaucoma. However, they found no difference between choroidal thicknesses in subfoveal and temporal regions (22) . These results were not confirmed with other studies(23,24). We cannot conclude that peripapillary RNFL thickness was associated with choroidal thickness. Moreover, because of the decrease in albumin values in cirrhotic patients, it is expected that reduced oncotic pressure in the vessels causes fluid influx to the vessels, and increase the choroidal thickness. We cannot explain the choroidal thickness values with metabolic results of cirrhosis also. As a result, thin RNFL seen in cirrhosis patients is probably because of the vascular effects of cirrhosis. In addition, Manjunath V. et al. reported that there was a weak correlation between central macular thickness and subfoveal choroidal thickness (r= -0.23, p=0.18)(25). Our results were consistent with the study. Direct relationship between retinal thickness and choroidal thickness cannot be resulted with these studies. CONCLUSION In conclusion, peripapillary retina nerve fiber layer thickness thinning may be associated with the microvascular effects of cirrhosis in the absence of increased intraocular pressure. These cirrhotic patients are in active social life. They must be examined routinely to exclude retina nerve fiber layer thickness changes. Because of the systemic nature of the disease, other organs such as eye can be involved and easily overlooked. As far as we know present study is the first study that reports the retina nerve fiber layer thickness and choroid analysis in cirrhosis patients. There is no untreated patient group in the present study and the drugs could not be evaluated separately because of ethical reasons. These seem to be the limitation of the study. Future studies including larger populations are needed to understand the exact mechanism of optic neuropathy and decreased choroidal thickness. Peripapillary retinal nerve fiber layer and choroidal thickness in cirrhosis patients ACKNOWLEDGEMENTS We want to thank Mustafa Cagatay Buyukuysal (department of Biostatistics, School of Medicine, Bulent Ecevit University, Zonguldak, Turkey) for his excellent contribution to the statistical analysis of the study. REFERENCES 1. 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Corresponding author Mehmet Orcun Akdemir, M.D. Department of Ophthalmology, School of Medicine Bulent Ecevit University, Kozlu – Zonguldak, Turkey Tel: 0090 505 397 46 92 - Fax: 0090 372 261 20 01 E-mail: [email protected] Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (6): 345-9 A 350 RTIGO ORIGINAL Biometria ocular, estimativa matemática e variação esférica pós-facectomia Ocular biometry, mathematical estimation and spherical variation after facectomy Francisco Wellington Rodrigues1, Lucas Lauar Cortizo Vidal2, Ana Luiza Rassi de Mendonça2, Rodrigo Egidio da Silva1 RESUMO Objetivo: Avaliar os parâmetros biométricos oculares por meio da biometria óptica e observar uma possível diferença refratométrica esférica, assim como sua variação, baseada no cálculo pré-cirúrgico estimado e na refração esférica pós-cirurgia de catarata pela facoemulsificação com implante de lente intraocular (LIO). Métodos: Foram revisados 252 prontuários eletrônicos entre 2013 e 2014 dos quais foram selecionados 117 pacientes adultos (189 olhos) submetidos à facoemulsificação com implante de LIO dobrável pelo mesmo cirurgião e examinados através do IOLMaster® 500. O poder dióptrico da LIO foi calculado pela fórmula de Haigis. O teste de Wilcoxon foi empregado para testar a existência de diferença significativa (p<0,05) entre o grau esférico esperado (GEE) e o grau esférico final (GEF). Resultados: Foram operados 98 olhos direitos (OD) e 91 esquerdos (OE). Após calculada a variação entre o GEE e o GEF observou-se que 55% dos OD alcançaram resultados dentro de ± 0,5 dioptrias (D) e 89% resultados dentro de ± 1D. Quanto ao OE, 46% alcançaram resultados dentro de ± 0,5D e 78% dentro de ± 1D. Conclusão: A biometria óptica pode ser utilizada como um método confiável, previsível e reprodutível para que seja estimado o GEF de ambos olhos. Descritores: Facoemulsificação; Exérese de catarata; Biometria ABSTRACT Objective: To assess ocular biometric parameters by optical biometry and to observe a possible spherical refractive difference, as well as its variation based on estimated preoperative calculation and the spherical refraction post cataract surgery by phacoemulsification with intraocular lens implant (IOL). Methods: After reviewing 252 electronic medical records between 2013 and 2014, 117 adult patients (189 eyes) were selected. The patients underwent phacoemulsification with foldable IOL implantation by the same surgeon and were examined by IOLMaster® 500. The IOL power was calculated using the Haigis formula. The Wilcoxon test was applied to identify the existence of significant differences (p<0.05) between the spherical expected refraction (SER) and the final spherical refraction (FSR) of the eyes. Results: There were operated 98 right eyes (OD) and 91 left (OS). A calculation of the variation between FSR and SER indicated that 55% of the OD reached results within ± 0.5 diopters (D) and 89% within ± 1D. With respect to OS, 46% achieved results within ± 0.5D and 78% within ± 1D. Conclusion: Optical biometry is a reliable, predictable and reproducible method to estimate the FSR of both eyes. Keywords: Phacoemulsification; Cataract resection; Biometry 1,2 Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO) – Goiânia (GO), Brasil. Pesquisa desenvolvida na Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO) – Goiânia (GO), Brasil. Os autores declaram não haver conflitos de interesse. Recebido para publicação em 20/05/2015 - Aceito para publicação em 04/08/2015 Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (6): 350-4 Biometria ocular, estimativa matemática e variação esférica pós facectomia INTRODUÇÃO C atarata é a denominação dada a qualquer opacidade do cristalino(1) que, apesar de ser causa importante de cegueira e deficiência visual, não necessariamente afeta a visão comprometendo as atividades laborais(1,2). É a maior causa de cegueira reversível na América Latina(3,4) e no mundo (50%)(3,6), sendo que dos 45 milhões de cegos existentes, 40% são devido à catarata(7). De acordo com a OMS, a incidência anual da doença é estimada em 0,3%(8), o que representaria, no Brasil, cerca de 550.000 novos casos de catarata por ano(8), caracterizando-se como um problema de saúde pública(2,9). A catarata é uma doença curável, restaura-se a visão do indivíduo operado por meio de um procedimento cirúrgico, que requer intervenção única e que não depende de aderência ao uso da medicação por parte do paciente, denominado facectomia(1,2). Essa cirurgia de reposição do cristalino opaco por uma prótese denominada de lente intraocular (LIO) pode ser realizada por diversas técnicas, sendo a facoemulsificação a mais utilizada atualmente por ser a mais segura e proporcionar uma rápida recuperação pós-operatória(10,14). Com a precisão e previsibilidade dessa técnica, a indicação cirúrgica se tornou mais precoce, restando como fator problemático apenas o cálculo da LIO, o que justifica a grande importância da biometria ocular(15). A biometria ocular é o exame capaz de medir o comprimento axial do globo ocular e de suas estruturas, essencial para a definição da origem da ametropia e compõe uma das bases para o cálculos das lentes intraoculares (LIOs)(1,16,17). A precisão biométrica, associada à técnica cirúrgica aprimorada e à evolução das LIOs, é o que aproxima a cirurgia de catarata do procedimento refrativo da atualidade, uma vez que além da curar pode também corrigir ametropias pré-existentes(11,13). Diante do exposto, temos como objetivo avaliar os parâmetros biométricos oculares através da biometria óptica. Observar uma possível diferença refratométrica esférica, assim como sua variação, baseada no cálculo pré-cirúrgico estimado e na refração esférica pós-cirurgia de facectomia pela técnica de facoemulsificação com implante de lente intraocular dobrável. MÉTODOS Este é um estudo observacional transversal aprovado pela comissão de ética e pesquisa (CEP) da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO). A revisão abrangeu 252 prontuários eletrônicos no Hospital Ver da cidade de Goiânia nos anos de 2013 e 2014 dos quais foram selecionados 117 pacientes adultos (total de 189 olhos) operados de catarata. A amostra foi randomizada do volume total dos pacientes submetidos à facectomia com implante de LIO pelo mesmo cirurgião. Os critérios de inclusão foram: pacientes operados no Hospital Ver acima de 18 anos de idade, submetidos à facoemulsificação com implante de LIO dobrável (marca B-Lens Hanita) pelo mesmo cirurgião nos anos de 2013 e 2014, examinados através da biometria óptica (IOLMaster® 500, Zeiss System) pelo mesmo oftalmologista e sem intercorrências no ato cirúrgico. Não participaram deste estudo pacientes com idade menor de 18 anos, usuários de lente de contato, pacientes com doenças oculares e/ou sistêmicas prévias, e/ou olhos já submetidos a cirurgias oftalmológicas anteriormente. 351 Antes de iniciar o exame de biometria óptica com o IOLMaster® 500 foi administrada 1 gota de solução oftálmica anestésica (Cloridrato de Proximetacaína 5mg/mL) em cada olho do paciente e em seguida 1 gota de lubrificante ocular (Carmelose Sódica 5mg/mL) para regularizar o filme lacrimal. A fórmula biométrica utilizada para o cálculo da lente intraocular de toda a amostra desta pesquisa foi a de Haigis (4a geração). Avaliação pós-cirúrgica realizada após 30 dias da cirurgia de catarata, quando todos os sujeitos de pesquisa tiveram o grau de refração esférico medidos pelo mesmo médico oftalmologista. Os dados dos prontuários coletados foram digitados em software Microsoft Excel® e analisados utilizando-se o pacote de software SPSS 21.0 (Statistical Package for Social Science Inc., Chicago, Illinois, USA) para Windows®. O teste de normalidade Kolmogorov Smirnov foi utilizado para avaliar se as variáveis contínuas (número da lente, grau esférico esperado, grau esférico final e diferença entre os graus esféricos esperado e final) apresentavam distribuição normal. Essas variáveis foram apresentadas como média, desvio padrão, mediana e intervalo de confiança de 95%. O teste de Wilcoxon foi utilizado para testar a existência de diferença significativa entre o grau esférico esperado (estimado pela biometria óptica com o IOLMaster® 500) e o grau esférico final em cada olho, após a cirurgia. Para todos os testes foi considerado nível de 95% de confiança, portanto significativo p < 0,05. RESULTADOS A amostra foi composta por um total de 117 pacientes, com média de idade de 68,02 anos (DP±10,53), sendo que 69 (59%) eram do sexo feminino e 48 (41%) do sexo masculino. Dos 189 olhos da amostra foram operados 98 (52%) em OD e 91 OE (48%). De todas as variáveis contínuas estudadas para ambos os olhos, apenas as do grau esférico final do olho esquerdo e da diferença entre os graus esféricos esperado e final do olho esquerdo apresentaram distribuição normal. As demais variáveis não apresentaram distribuição normal, uma vez que todas tiveram p<0,05 (tabela 1). Houve diferença estatisticamente significativa apenas entre a comparação do grau esférico esperado e do grau esférico final do olho direito (p=0,012) e não do olho esquerdo (p=0,259) (tabela 2). Após calculada a variação entre o grau esférico esperado e o grau esférico final dos 189 olhos operados observou-se que 55% de OD (50 olhos) obtiveram resultados entre ± 0,5D; 89% (81 olhos) entre ± 1D e 97% (88 olhos) entre ± 2D. Quanto ao OE, 46% (45 olhos) entre ± 0,5D; 78% (76 olhos) entre ± 1D e 96% (94 olhos) entre ± 2D (figura 1). DISCUSSÃO A catarata senil tem maior incidência na população acima de 50 anos(18), é ainda o tipo mais comum de catarata, além de ser uma das principais causas de procura dos pacientes ao oftalmologista para ter sua visão e qualidade de vida restauradas. Neste Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (6): 350-4 352 Rodrigues FW, Vidal LLC, Mendonça ALR, Silva RE Tabela 1 Distribuição das variáveis: número da lente, grau esférico esperado, grau final esperado e diferença entre os graus esféricos esperado e final em ambos olhos Variáveis n S.I N. lente OD 98 19 N. lente OE 91 26 Média ± DP Mediana (IC 95%) Valor p 20,4±4,1 21,0 (19,6-21,2) < 0,001 20,1±3,6 20,5 (19,4-20,9) < 0,001 Grau esf. esp. OD 98 19 0,09±0,22 0,12 (0,05-0,14) < 0,001 Grau esf. esp. OE 91 26 0,12±0,23 0,14 (0,08-0,17) < 0,001 Grau esf. final OD 98 19 0,31±0,75 0,25 (0,16-0,46) < 0,001 Grau esf. final OE 91 26 0,25±0,86 0,25 (0,07-0,43) 0,050 Dif. grau esf. final e esp. OD 98 19 0,55±0,51 0,46 (0,45-0,65) < 0,001 Dif. grau esf. final e esp. OE 91 26 -0,12±0,87 -0,16 (-0,30-0,87) 0,200 Teste Kolmogorov Smirnov; Dif - diferença; Esf - esférico; Esp - esperado; N - número da lente; OD - olho direito; OE - olho esquerdo; S.I - sem informação Tabela 2 Comparação entre os resultados do grau esférico esperado e do grau esférico final em ambos os olhos Variáveis Média±DP Mediana (IC 95%) Valor p Grau esf. esp. OD 0,09 ± 0,22 0,12 (0,05-0,14) 0,012(*) Grau esf. final OD 0,31 ± 0,75 0,25 (0,16-0,46) Grau esf. esp. OE 0,12 ± 0,23 0,14 (0,08-0,17) Grau esf. final OE 0,25 ± 0,86 0,25 (0,07-0,43) 0,139 Teste Wilcoxon; (*) significativo; Esf - esférico; Esp - esperado; OD - olho direito; OE - olho esquerdo Figura 1: Distribuição dos olhos quanto ao percentual que tiveram variação entre o grau esférico esperado e o grau esférico final dentro de ± 0,5 dioptrias (D); ± 1D e ± 2 presente estudo, a média da idade dos pacientes operados foi de 68,02 anos de vida (DP±10,53), o que está de acordo com a literatura que descreve um prevalência estimada em 2,5% entre 40 e 49 anos, 6,8% entre 50 e 59 anos, 20% entre 60 e 69 anos, 42,8% entre 70 e 79 anos e 68,3% em maiores de 80 anos(18). Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (6): 350-4 Durante a realização desta pesquisa as recomendações para bons resultados em cirurgia de catarata descritos pela literatura foram seguidos(19): padronização do equipamento de biometria utilizado para medida do comprimento axial e ceratometria, utilização de biometria óptica (IOLMaster® 500), facectomia sem sutura e com o implante da lente intraocular dobrável no saco capsular (in the bag), uso apropriado da fórmula de 4a geração de cálculo da LIO e otimização das suas constantes (19). Após calculada a variação entre o grau esférico esperado e o grau esférico final da amostra observou-se que 55% do OD alcançaram resultados dentro de ± 0,5 D; 89% entre 0 e ± 1D e 97% entre 0 e ± 2D. Quanto ao OE, 46% alcançaram resultados dentro ± 0,5D; 78% entre 0 e ± 1D e 96% entre 0 e ± 2D do grau esférico esperado calculado (figura 1). Esses dados demonstram uma boa reprodutibilidade e um índice de confiabilidade aceitável para a cirurgia de catarata realizada e para o método de biometria utilizado. As diretrizes do Royal College of Ophtalmologists Cataract Surgery afirmam que o mais importante na biometria é alcançar excelentes resultados(20). Esses devem ser calculados através do erro de previsão da biometria, ou seja, pela diferença entre o grau equivalente esférico final e o equivalente esférico calculado esperado (refração alvo), que podem ser representados em termos de porcentagem por olhos com 0,5 a 1,0D da refração alvo(20). Estudos recentes sugerem que a refração alvo é facilmente alcançável com advento da biometria óptica mo- Biometria ocular, estimativa matemática e variação esférica pós facectomia derna, escolha correta da fórmula da LIO e otimização de sua constante, sendo possível resultados com mais de 90% com ± 1 D e 60% com ± 0,5 D(21,25). No entanto, no presente estudo, observou-se uma variabilidade aceitável referente ao grau esférico, demonstrando uma boa segurança e previsibilidade pós-facectomia. Recomenda-se mais estudos randomizados em centros multicêntricos e abordando outras variáveis, tais como equivalente esférico e cilíndrico para observar esta mesma correlação. DISCUSSÃO A catarata senil tem maior incidência na população acima de 50 anos(18), é o tipo mais comum de catarata e uma das principais causas de procura dos pacientes ao oftalmologista para terem sua visão e qualidade de vida restauradas. Neste presente estudo, a média da idade dos pacientes operados foi de 68,02 anos de vida (DP±10,53), o que está de acordo com a literatura, que descreve um prevalência estimada em 2,5% entre 40 e 49 anos, 6,8% entre 50 e 59 anos, 20% entre 60 e 69 anos, 42,8% entre 70 e 79 anos e 68,3% em maiores de 80 anos(18). Durante a realização desta pesquisa as recomendações para bons resultados em cirurgia de catarata descritos pela literatura foram seguidos(19): padronização do equipamento de biometria utilizado para medida do comprimento axial e ceratometria, utilização de biometria óptica (IOLMaster® 500), facectomia sem sutura e com o implante da lente intraocular dobrável no saco capsular (in the bag), uso apropriado da fórmula de 4a geração de cálculo da LIO e otimização das suas constantes(19). Após calculada a variação entre o grau esférico esperado e o grau esférico final da amostra observou-se que 55% de OD alcançaram resultados dentro de ± 0,5 D; 89% entre 0 e ± 1D e 97% entre 0 e ± 2D. Quanto ao OE, 46% alcançaram resultados dentro de ± 0,5D; 78% entre 0 e ± 1D e 96% entre 0 e ± 2D do grau esférico esperado calculado (figura 1). Esses dados demonstram uma boa reprodutibilidade e um índice de confiabilidade aceitável para a cirurgia de catarata realizada e para o método de biometria utilizado. As diretrizes do Royal College of Ophtalmologists Cataract Surgery afirmam que o mais importante na biometria é alcançar excelentes resultados(20). Esses devem ser calculados através do erro de previsão da biometria, ou seja, pela diferença entre o grau equivalente esférico final e o equivalente esférico calculado esperado (refração alvo), que podem ser representados em termos de porcentagem por olhos com 0,5 a 1,0D da refração alvo(20). Estudos recentes sugerem que a refração alvo é facilmente alcançável com advento da biometria óptica moderna, escolha correta da fórmula da LIO e otimização de sua constante, sendo possível resultados com mais de 90% com ± 1 D e 60% com ± 0,5 D(21,25). No entanto, no presente estudo, observou-se uma variabilidade aceitável referente ao grau esférico, demonstrando uma boa segurança e previsibilidade pós-facectomia. Recomenda-se mais estudos randomizados em centros multicêntricos e abordando outras variáveis, tais como: equivalente esférico e cilíndrico para observar esta mesma correlação. CONCLUSÃO A biometria óptica pode ser utilizada como um método confiável, previsível e reprodutível para que seja estimado o grau esférico final do paciente. Necessitamos de mais estudos 353 epidemiológicos de alto impacto que corroborem os resultados aqui encontrados. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. Centurion V, Figueiredo CG, Carvalho D, Trindade F, Rezende F, Almeida HG, et al. Catarata: Diagnóstico e tratamento. Projeto Diretrizes, 2003. Conselho Brasileiro de Oftalmologia. 2012; p.1627. [Internet]. [citado 2015 Fev 8]. Disponível em: http://www. cbo.com.br/novo/medico/pdf/Diretrizes_CBO_ AMB_ CFM.pdf. 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Americano do Brasil, n° 260 CEP 74180-110 – Goiânia (GO), Brasil E-mail: [email protected] ARTIGO ORIGINAL 355 Repeated penetrating corneal transplantation in patients with a previous tectonic transplant Retransplante penetrante de córnea em pacientes submetidos à transplante tectônico prévio Paulo Rodolfo Tagliari Barbisan1, Rosane Silvestre de Castro2 RESUMO Objetivo: Analisar, em um hospital universitário de referência, a taxa de novo transplante penetrante de córnea em pacientes que já haviam realizado um transplante de córnea tectônica e analisar os resultados após um ano de cirurgia. Métodos: Análise retrospectiva dos prontuários de pacientes submetidos a transplante de córnea penetrante, a partir de novembro de 2010 a novembro de 2014. A análise comparativa da melhor acuidade visual corrigida, pressão intraocular e de transparência da córnea antes da cirurgia e após um ano, no grupo de pacientes em que foi realizado um retransplante após um transplante tectônico falho. Resultados: Foram avaliados 318 pacientes submetidos à ceratoplastia penetrante no período estudado. Dos 199 pacientes que realizaram transplante tectônico, 36 foram submetidos a re-enxerto e re-enxertos foram realizados mais de uma vez em 2 olhos, com total de 38 transplantes (19,09%). A análise dos resultados mostrou melhora da melhor acuidade visual corrigida em 20 (52,63%), piora em 8 (21,05%) e inalterado em 10 (26,31%); melhora da pressão intraocular em 3 (7,89%), piora em 3 (7,89%) e inalterado em 32 (84,21%); melhora da transparência corneana em 25 (65,78%), piora em 4 (10,52%) e inalterado em 9 (23,68%) pacientes. Conclusão: O estudo demonstrou um número considerável de retransplante penetrante de córnea em pacientes com história de transplante de córnea tectônico falho. Apesar do mau prognóstico nos casos com história de um transplante tectônico falho, houve melhora da transparência da córnea e da acuidade visual mesmo após um ano da cirurgia. Descritores: Transplante de córnea; Ceratoplastia penetrante ABSTRACT Objective: To analyze, in a university hospital of reference, the rate of a new penetrating corneal transplantation in patients that had previously undergone a tectonic keratoplasty and analyze the results after one year of surgery. Methods: Retrospective review of patients undergoing penetrating corneal transplantation, from november of 2010 to november of 2014. Comparative analysis of best corrected visual acuity (BCVA), intraocular pressure and corneal transparency before surgery and after one year, in the group of patients in which it was performed a re-graft after a failed tectonic transplantation. Results: A total of 318 patients underwent penetrating corneal transplantation during the study period. Of the 199 patients who underwent tectonic transplantation, 36 were subjected to re-graft and re-grafts were performed more than once in 2 eyes, with total of 38 transplants (19,09%). The results showed improvement of BCVA in 20 (52.63%), worsening in 8 (21.05%) and unchanged in 10 (26.31%); improvement of intraocular pressure in 3 (7.89%), deterioration in 3 (7.89%) and unchanged in 32 (84.21%); improvement of corneal transparency 25 (65.78%), worsening 4 (10.52%) and 9 unchanged (23.68%) patients. Conclusion: This study demonstrated a considerable number of repeated penetrating keratoplasty in patients with a history of failed tectonic corneal transplantation. In spite of bad prognosis in cases where there is high-risk corneal recipients and history of a failed tectonic transplant, there was improvement of the corneal transparency and best corrected visual acuity even after a year of surgery. Keywords: Corneal transplantation; Penetrating keratoplasty 1 2 Universidade Estadual de Campinas (SP), Brasil; Hospital de Clínicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) (SP), Brasil. Trabalho realizado no Hospital de Clínicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Os autores declaram não haver conflitos de interesse. Recebido para publicação em 08/04/2015 - Aceito para publicação em 06/07/2015 Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (6): 355-7 356 Barbisan PRT, Castro RS INTRODUCTION T he success and excellent outcome of corneal transplantation is well known, especially when performed only once(1-6). Corneal transplantation has a survival rate of 90% when performed in low-risk recipients(1). Its high success rate can be attributed to the immune privilege of the cornea, including the absence of blood and lymphatic vessels in the cornea, the low expression of major histocompatibility (MHC) class I and II antigens on corneal cells, and anterior chamber-associated immune deviation (2). However, the survival of transplants depends upon the condition of the recipient corneal bed(3). In high-risk corneal recipients, such as those with severe infection or drilling eminence, inflamed or vascularized recipient beds and large-diameter or eccentric transplants, the tectonic corneal transplantation is a useful strategy for improving the condition of the recipient corneal beds, preserve the eyeball and to prolong the survival of future optical transplantations(4,5). There is no specific data about repeated penetrating corneal transplantation after a previous failed tectonic transplantation and its outcomes. This study analyzes the rate of a new penetrating transplantation in patients, which had previously undergone a tectonic keratoplasty in a university hospital of reference and provide data of the results after one year of surgery. conduct a re-graft in this group, were (table 2) rejection [24 patients (63.16%)], primary graft failure [8 patients (21.05%)] and recurrence of infection [6 patients (15.79%)]. Analysis of the re-graft showed (table 3) BCVA improvement in 20 (52.63%), worsening in 8 (21.05%) and unchanged in 10 (26.32%); intraocular pressure improvement in 3 (7.89%), worsening in 3 (7.89%) and unchanged in 32 (84.22%); corneal transparency improvement in 25 (65.79%), worsening in 4 (10.53%) and unchanged in 9 (23.68%) patients. Table 1 Causes of primary corneal transplantation Causes Number of corneal transplantation Total% Tectonic transplantation Keratoconus Corneal dystrophies Bullous keratopathy Opacities / Scars 199 65 23 17 14 62.58 20.44 7.23 5.35 4.40 Total 318 100.00 Table 2 Causes to conduct a re-graft after a failed tectonic transplantation METHODS Retrospective review of medical records from patients who undergone penetrating corneal transplantation, from november of 2010 to november of 2014 at the Clinical Hospital of the state University of Campinas (Unicamp-Brazil), a university hospital of reference, and analysis of the clinical examination, evolution and outcomes of patients who underwent tectonic transplantation. Comparative analysis of best corrected visual acuity (BCVA), intraocular pressure and corneal transparency before surgery and after one year, in the group of patients in which it was performed a re-graft after a failed tectonic transplantation. Best corrected visual acuity (BCVA) improvement was established as gain of at least one line in the Snellen’s visual acuity chart and worsening as loss of at least one line. Intraocular pressure improvement was determinate as decrease below of 21 mmHg (in Goldmann’s Tonometer) and worsening as increase above 21 mmHg. Corneal transparency improvement was established as reduction in corneal edema (in previously swollen corneas) and worsening as increase in corneal edema, formation of scars, stromal-deformities, folds and opacity. Causes Number of re-grafts Total% Rejection Primary graft failure Recurrence of infection 24 8 6 63.16 21.05 15.79 Total 38 100.00 Table 3 Outcomes of corneal re-grafts Outcomes Improvement N(%) Worsening N(%) Unchanged N(%) Visual acuity 20 (52.63) 8 (21.05) 10 (26.32) Intraocular pressure 3 (7.89) 3 (7.89) 32 (84.22) 25 (65.79) 4 (10.53) 9 (23.68) Corneal transparency RESULTS DISCUSSION Three hundred and eighteen patients who underwent penetrating corneal transplantation at the Clinical Hospital of the State University of Campinas (Unicamp-Brazil) in the period from november of 2010 to november of 2014 were evaluated. Among the 318 transplants, the primary causes for the indication were (table 1): 199 (62.58%) tectonic transplantation, 65 (20.44%) keratoconus, 23 (7.23%) corneal dystrophies, 17 (5.35%) bullous keratopathy and 14 (4.40%) opacities/scars. Of the 199 patients who underwent tectonic transplantation, 36 were subjected to re-graft and re-grafts were performed more than once in 2 eyes, with total of 38 transplants (19,09%). The primary reasons to In a university hospital of reference, there are high rates of tectonic transplants, since many patients are victims of trauma, corneal infection and corneal perforation. The primary objective of this study was to analyze the rate of a new penetrating corneal transplantation in patients that had previously undergone a tectonic keratoplasty. Our study demonstrated that the first keratoplasty is not always effective in maintaining the eye in good condition, controlling cases of infection or improve the optical bed for a future optical transplantation, showing a 19.09% rate of new penetrating transplantation. Among the main causes that led these transplants to a new surgery, the rejection of the first Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (6): 355-7 Repeated penetrating corneal transplantation in patients with a previous tectonic transplant transplant was the most common cause and this may be explained because in high-risk corneal recipients, such as those with inflamed or vascularized recipient beds, the immune privileges of the corneas are broken, so the survival rates of transplants fall to below 50%, even with immune-suppression therapy(7-8), being more susceptible to re-graft (9). Due to the urgency in which transplants are performed, there is also a high rate of primary failure, because the eye bank’s corneas used to perform the transplant, often are not optical corneas and are of a poorer quality. The success rate of tectonic keratoplasty for infectious keratitis is influenced by many factors, including microbial organism virulence, predisposing factors, extensiveness of pre-existing keratitis, associated ocular surface inflammation, initial medical treatment, and surgical techniques (5). (5) . One of the serious problems in tectonic keratoplasty for infectious ulcer is postoperative recurrence of the infection and although penetrating keratoplasty is an effective approach to remove organisms for medically uncontrolled infectious ulcers, persistent and aggressive inflammation of previous transplants may not control the infection(11) as we noted in 6 patients (15.79%) that had to perform a new tectonic penetrating corneal transplantation due to recurrence of the previous infection. As in previous studies(12,14), second and subsequent grafts in general fared poorly, but if they survived the first 3 postoperative years, then the failure rate decreased somewhat. Despite the basic analysis of clinical data after a year of surgery, 52.63 % of the patients gain at least one line of BCVA in the Snellen’s visual acuity chart and 65.79% showed corneal transparency improvement, despite having undergone a transplant aimed at preservation of the eyeball. Therefore, these results show that most patients have benefited from a repeated penetrating corneal transplantation, since there was improvement of the BCVA and transparency of the cornea. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 357 Williams KA, Lowe M, Bartlett C, Kelly TL, Coster DJ. Risk factors for human corneal graft failure within the Australian corneal graft registry. Transplantation. 2008;86(12):1720–4. Bachmann B, Taylor RS, Cursiefen C. Corneal neovascularization as a risk factor for graft failure and rejection after keratoplasty: an evidence-based meta-analysis. Ophthalmology. 2010;117(7):13005.e7. Ti SE, Scott JA, Janardhanan P, Tan DT. Therapeutic keratoplasty for advanced suppurative keratitis. 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Autor correspondente: Rosane Silvestre de Castro Rua Visconde do Rio Branco, nº 630 – Centro CEP 13480-100 – Limeira (SP), Brazil Tel: +55 (19) 34423475 E-mail: [email protected] CONCLUSION Our study demonstrated a considerable number of repeated penetrating keratoplasty in patients with a history of failed tectonic corneal transplantation. In spite of bad prognosis in cases where there is high-risk corneal recipients and history of a failed tectonic transplant, there was improvement of the corneal transparency and best corrected visual acuity even after a year of surgery. REFERENCES 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. Williams KA, Coster DJ. The immunobiology of corneal transplantation. Transplantation. 2007;84(7):806–13. Huang T, Planck SR, Rosenbaum JT, Lee EJ. Feasibility study of lamellar keratoplasty in a murine model. Ocul Immunol Inflamm. 2009;17(4):257–64. Ehlers N, Hjortdal J, Nielsen K. Corneal grafting and banking. Dev Ophthalmol. 2009;43(1):1–14. Terry MA, Mark A. 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Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (6): 355-7 A 358 RTIGO ORIGINAL Perfil epidemiológico dos pacientes atendidos com queixa de olho vermelho na Fundação Hilton Rocha (MG), Brazil Epidemiological profile of patients with red eye complain treated at Fundação Hilton Rocha (MG), Brazil Camila Amaral Carvalho Cunha1, Érica de Abreu Borges1, Hévila Rolim2 RESUMO Objetivo: Determinar os fatores epidemiológicos e analisar as principais causas etiológicas dos pacientes atendidos com queixa de olho vermelho no setor de urgência e emergência de um hospital oftalmológico de ensino do estado de Minas Gerais. Métodos: Foi realizado um estudo de prevalência observacional, analítico com amostra não probabilística formado pelos pacientes que compareceram no setor de urgência da Fundação Hilton Rocha nos meses de janeiro a abril de 2014 (n=1140). Foram analisadas as seguintes variáveis: gênero, idade, raça, profissão, escolaridade, renda, meio de transporte, tempo decorrido entre o sintoma inicial e o primeiro atendimento, dia da semana, presença de baixa da acuidade visual e diagnóstico. Resultados: A amostra apresentou 390 pacientes com queixa de olho vermelho, 57,4% (n=224) eram do sexo feminino, a idade variou entre 3 e 97 anos, sendo a média de 43,7 anos. A maioria dos pacientes (87,6%, n=341) procurou o serviço em até 14 dias do início dos sintomas e apenas 75 indivíduos (19,4%) apresentavam baixa acuidade visual. As classes econômicas inferiores (classes D e E) são predominantes entre os atendidos. A principal causa da queixa de olho vermelho foi conjuntivite e blefaroconjuntivite infecciosas (32,6%, n=127). Conclusão: A conjuntivite infecciosa foi a morbidade de maior incidência. A Fundação Hilton Rocha desempenha um papel importante no atendimento à urgência oftalmológica da rede pública de Minas Gerais, sendo importante identificar as principais causas de atendimento e ampliar os estudos epidemiológicos e sociais, a fim de melhorar o acesso da população às urgências oftalmológicas e nos dar subsídios para campanhas de orientação, voltadas principalmente para as classes sociais menos favorecidas. Descritores: Conjuntivite/diagnóstico; Conjuntivite/epidemiologia; Conjuntivite/etiologia; Oftalmopatias/epidemiologia; Serviço hospitalar de emergência ABSTRACT Objective: Determining the epidemiological factors and analyzing the main etiological causes of the patients treated with red-eye complaint at the urgency and emergency sector of the ophthalmological hospital in the state of Minas Gerais. Methods: A prevalence observational analytical study was performed with a non-probabilistic sample formed by patients who visited the emergency room of the Fundação Hilton Rocha Hospital from january to april 2014 (n=1140). The following variables investigated were: gender, age, race, profession, education, income, means of transportation, time elapsed between the first symptom and the first visit, day of the week, low visual acuity symptom, diagnosis and treatment. Results: Out of the sample of 390 patients with red eye complaint, 57.4 % (n= 224) were female and the age ranged from 3 to 97, with an average of 43.7 years of age. The majority of patients, 87.6% (n= 341) sought the service up to 14 days after the onset of symptoms, only 75 individuals (19.4 %) had low visual acuity. The lower economic classes (classes D and E) are prevalent among patients. The main cause of red eye complain was conjunctivitis and infectious blepharoconjunctivitis 32.6% (n= 127). Conclusion: Infectious conjunctivitis was the morbidity with the highest incidence. The Fundação Hilton Rocha plays an important role in providing urgent ophthalmological care in the public health network in Minas Gerais. It is important to identify the most frequent causes of medical service for ocular diseases and expand the epidemiological and social studies in order to improve people’s access to ophthalmic emergencies and give us subsidies for guidance campaigns, focused mainly on the lower social classes. Keywords: Conjunctivitis/diagnosis; Conjunctivitis/epidemiology; Conjunctivitis/etiology; Eye diseases/epidemiology; Emergency service, hospital 1 2 Fundação Hilton Rocha, Associação Educativa do Brasil - Soebras/FUNORTE – Belo Horizonte (MG), Brasil; Universidade Federal de Rondônia – Porto Velho (RO), Brasil. Trabalho realizado na Fundação Hilton Rocha, Associação Educativa do Brasil - Soebras/Funorte - Belo Horizonte (MG), Brasil. Os autores declaram não haver conflitos de interesse. Received for publication 14/04/2015 - Accepted for publication 26/07/2015 Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (6): 358-61 Perfil epidemiológico dos pacientes atendidos com queixa de olho vermelho na Fundação Hilton Rocha, MG, Brasil INTRODUÇÃO O lho vermelho é uma queixa comumente presente num serviço de urgência oftalmológica(1,2) sendo responsável por cerca de 15% das consultas oftalmológicas e 6% das consultas com médicos generalistas(1). Sinais e sintomas de olhos vermelhos incluem hiperemia, dor, fotofobia, prurido e mudanças na acuidade visual. A aparência de olho vermelho, a hiperemia conjuntival, é causada pela vasodilatação dos vasos sanguíneos da conjuntiva e/ou episclera e esclera. O aumento da hiperemia conjuntival é um sinal clínico de diversas doenças da superfície ocular (3). Essa manifestação abrange um amplo grupo de enfermidades, sendo seu diagnóstico diferencial essencial. As conjuntivites são a causa mais comum de olho vermelho(4-7). A população economicamente ativa é a mais presente em atendimentos de urgências oculares demonstrando o impacto das doenças oftalmológicas no setor socioeconômico (4). Existem certos tipos de profissões que expõe o indivíduo a riscos oculares, como trauma e corpo estranho. No Brasil, 10% dos acidentes ocupacionais são oculares. Caracterizamos como profissões de risco os trabalhadores da área de construção civil e motociclistas. Dentre os traumas oculares por acidentes de trabalho, o achado mais frequente (48,7%) é o de corpo estranho superficial(8). Ainda que a maioria das causas de olho vermelho seja uma condição benigna e auto-limitada, a identificação e o tratamento adequado de doenças graves evitam consequências graves, como a cegueira(9,10). A Fundação Hilton Rocha é uma entidade filantrópica federal, atende uma população diversificada, representativa do estado de Minas Gerais. No setor de urgência, foram atendidos 4330 pacientes em 2012 e 3160 pacientes em 2013. Este estudo tem como objetivo determinar os fatores epidemiológicos e analisar as principais causas etiológicas dos pacientes atendidos com queixa de olho vermelho no setor de urgência e emergência de um hospital oftalmológico visando aperfeiçoar o atendimento de urgência e planejar estratégias preventivas. MÉTODOS Foi realizado um estudo analítico, observacional de prevalência de queixa de olho vermelho como amostra não probabilística formado pelos pacientes que compareceram no setor de urgência da Fundação Hilton Rocha nos meses de janeiro a abril de 2014 (n=1140). Os pacientes com queixa de olho vermelho (n=390) formaram a população alvo do estudo. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Soebras de acordo com o parecer CAAE 035.0.203.000-11. Os participantes ou seus responsáveis legais foram informados verbalmente e por escrito sobre a natureza e a finalidade do estudo. Os indivíduos que compareceram ao setor de urgência para consulta de retorno não foram incluídos no estudo. Dados demográficos e clínicos (gênero, idade, raça, profissão, escolaridade, renda, meio de transporte, tempo decorrido entre o sintoma inicial e o primeiro atendimento, dia da semana da consulta, presença de baixa da acuidade visual e diagnóstico) foram coletados através de questionário padrão aplicado por um dos pesquisadores e por revisão do prontuário. O olho vermelho foi classificado quanto ao grau da hiperemia em um sistema de cruzes, conforme Murphy et al.(3), sendo + hiperemia míni- 359 ma; ++ leve; +++ moderada e ++++ grave. A etnia foi determinada por autoclassificação segundo os critérios do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)(11). As classes sociais foram determinadas segundo o Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas que divide em: classe A (mais que 18 salários mínimos), classe B (de 14 a 18 salários mínimos), classe C (de 03 a 14 salários mínimos), classe D (de 01 a 03 salários mínimos) e classe E (de 0 a 01 salário mínimo)(12). Para traçar o perfil da amostra, foram construídas tabelas de frequência com o número de ocorrências e suas respectivas porcentagens para as variáveis categóricas e calculadas as medidas de tendência central (média e mediana) e de dispersão (desvio padrão) para as variáveis quantitativas. O programa utilizado foi o SPSS versão 20.0. Valores de p menores que 0,05 foram considerados estatisticamente significativos. RESULTADOS De um total de 1140 pacientes, 390 pacientes apresentaram queixa de olho vermelho, sendo 224 (57,4%) do gênero feminino e 166 (42,6%) do gênero masculino. A média de idade foi 43,7 anos (desvio padrão: 20,7 anos) e variou de 3 a 97 anos. Quanto à etnia, 144 (36,9%) dos pacientes eram brancos, 84 (21,5%) negros, 160 (40,8%) pardos e apenas um caso (0,8%) era da raça amarela. Em relação à escolaridade, observou-se que 143 (36,7%) indivíduos não possuíam instrução ou tinham o 1º ciclo fundamental incompleto, 134 (34,4%) o 1º ciclo fundamental completo ou 2º ciclo fundamental incompleto e 113 (28,9%) com o 2º ciclo fundamental completo ou mais. Um percentual de 13,4% (n=52) da população do estudo se declarou sem renda. Quanto à classe social, a maioria dessa população pertencia à classe E (n=145; 37,1%) e a classe D (n=145; 37,1%), sendo que os pacientes restantes (n=48; 12,3%) pertenciam às classes C e D e nenhum se enquadrou na classe A. O grupo economicamente ativo (autônomos, empregados, empregadores e desempregados) era formado por 266 (68,2%) pessoas e 124 (31,8%) indivíduos estavam no grupo não economicamente ativo (estudantes, aposentados e inválidos). Em apenas 48 casos (12,4%), os pacientes exerciam uma função de risco para hiperemia ocular. O ônibus foi o meio de transporte mais utilizado para acesso ao hospital (n=242; 62%). O diagnóstico mais frequente foi conjuntivite e blefaroconjuntivite infecciosas (n=127; 32,6%), seguido de complicações pós-operatórias (n=58; 14,7%). Dentre as complicações pós-operatórias, as causas mais frequentes de queixa de olho vermelho foram desmame incorreto da corticoterapia tópica (n=21; 36,2%), ceratites (n=19; 32,8%), suturas frouxas ou rotas corneanas e conjuntivais decorrentes de transplante de córnea e exérese de pterígio (n=13; 22,4%) e aumento da pressão intraocular (n=5; 8,6%). O trauma ocular teve pouca expressividade (n=12; 3,1%), conforme apresentado na tabela 1. A caracterização dos pacientes em relação aos dados clínicos da queixa de olho vermelho está presente na tabela 2. A maioria dos pacientes (n=344;87,6%) procurou atendimento hospitalar em até 14 dias do início dos sintomas. A baixa acuidade visual foi encontrada em uma minoria dos casos (n=75;19,4%) (tabela 2). Notou-se um maior número de casos com hiperemia mínima (1+) à medida que se aumentou o tempo entre o surgimento do olho vermelho e a procura pelo pronto atendimento (p=0,0072) (figura 1). Não se constatou uma associação significativa entre a baixa acuidade visual e o grau de hiperemia (p = 0,124). Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (6): 358-61 Camila Amaral Carvalho Cunha1, Érica de Abreu Borges1, Hévila Rolim2 360 Tabela 1 DISCUSSÃO Diagnóstico de olho vermelho Diagnóstico N (%)* Conjuntivite e blefaroconjuntivite infecciosas Complicações pós-operatórias Corpo estranho Doença da superfície ocular (olho seco e ceratite) Degenerações da conjuntiva Alergia ocular Úlcera de córnea Glaucoma agudo Hemorragia subconjuntival Trauma Esclerites e episclerites Endoftalmite 127(32,6) 58(14,7) 49(12,4) 36(9,3) 33(8,5) 24(6,2) 15(3,9) 15(3,9) 12(3,1) 12(3,1) 6(1,5) 3(0,8) (*)N = total de pacientes com queixa de olho vermelho Tabela 2 Caracterização clínica dos pacientes com queixa de olho vermelho Variáveis N(%) Tempo entre o sintoma e a procura pela emergência Agudo (até 14 dias) Subagudo (de 15 dias a 3 meses) Crônico (acima de 3 meses) Total 344 (87,6) 23 (6,2) 23 (6,2) 390 (100) Baixa acuidade visual Não Sim Total 315 (80,6) 75 (19,4) 390 (100) Grau da hiperemia + ++ +++ ++++ 182 (46,5) 151 (38,8) 42 (10,8) 15 (3,9) Total 390 (100) (*)N=total de pacientes com queixa de olho vermelho Neste estudo, houve predominância do gênero feminino, divergindo do resultado de outros estudos epidemiológicos que apresentaram o gênero masculino como predominante: 72% por Araujo et al.(4), 64,84% por Rocha et al.(5), 66% por Kara-Junior et al.(6), 54,2% por Pereira et al.(7), 89% por Cecchetti et al.(13). A razão para essa discrepância não foi esclarecida. A faixa etária mais prevalente foi entre 19 a 60 anos (63,6%) e enquadra-se em idade economicamente ativa, o que se assemelha aos resultados encontrados na literatura(5,7,13). Esses achados corroboram o fato da população economicamente ativa ser a mais vulnerável a patologias oculares no atendimento de urgência. As características socioeconômicas predominantes desses indivíduos foram pertencem à classe social menos favorecida, D e E, onde o nível de escolaridade mais frequente é baixo e onde o transporte público (ônibus) é o meio de locomoção mais utilizado. Esse achado pode ter sido faccioso devido ao atendimento de pacientes no serviço de urgência e emergência da Fundação Hilton Rocha ser do Sistema Único de Saúde. Quanto às causas diagnósticas, a principal foi de conjuntivites e blefaroconjuntivites infecciosas em concordância com a literatura(4-7). Kara-Junior et al.(6) apresentaram as doenças infecciosas como as principais causas de atendimento (34%) seguidas por traumas (20%) e tumores (11%). A maior parte dos indivíduos (87,6%) atendidos na Fundação Hilton Rocha apresentavam uma profissão que não oferecia risco aumentado para queixa de olho vermelho, reforçando o fato de que as conjuntivites infecciosas foram a principal causa de olho vermelho, acometendo profissionais de todas as áreas. As complicações pós-operatórias foram a segunda principal causa de olho vermelho, provavelmente porque a Fundação Hilton Rocha é um hospital de ensino com alto fluxo de procedimentos cirúrgicos, em média 165 cirurgias mensais. Os pacientes recebem assistência pós-operatória em consultas pré-agendadas e são orientados a procurar a urgência do hospital em caso de intercorrências neste período de recuperação. Não houve correspondência desse dado com os estudos citados, pois esses autores não isolaram complicações pós-operatórias como causa de queixa de olho vermelho, provavelmente tendo sido inseridas dentre os demais diagnósticos. Neste estudo, o corpo estranho foi identificado como terceira principal causa de olho vermelho, e o trauma fez-se presente em apenas 3,1% dos casos. Esses achados estão em concordância com o trabalho de Pereira et al.(7), que identificaram como principais causas de olho vermelho as conjuntivites (27,91%) e o corpo estranho (12,86%), com o trauma ocular apresentando pouca expressividade (2,23%). Possivelmente, o baixo percentual de trauma como causa de olho vermelho se deve à existência de hospitais de referência de traumas e politraumatizados na cidade de Belo Horizonte e pelo difícil acesso à Fundação Hilton Rocha através do transporte público. CONCLUSÃO Figura 1: Caracterização em porcentagem dos pacientes em relação ao grau da hiperemia considerando-se o tempo de sintomas do paciente Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (6): 358-61 A queixa de olho vermelho é prevalente no serviço de urgência oftalmológica, sendo a conjuntivite infecciosa a morbidade de maior incidência neste estudo. Faz-se necessário a elaboração de estratégias visando à conscientização e prevenção de novos casos e surtos infecciosos da doença. A procura por atendimento é maior na classe economicamente ativa. Medidas Perfil epidemiológico dos pacientes atendidos com queixa de olho vermelho na Fundação Hilton Rocha, MG, Brasil educativas e de fiscalização poderiam ajudar a reduzir o impacto no rendimento de empresas devido à diminuição de trabalhadores afastados. A Fundação Hilton Rocha desempenha um papel relevante no atendimento à urgência oftalmológica da rede pública de Minas Gerais. É importante identificar as principais causas de atendimento e ampliar os estudos epidemiológicos e sociais para melhorar o acesso da população às urgências oftalmológicas. Estes estudos também podem fornecer subsídios para campanhas de orientação, voltadas principalmente para as classes sociais menos favorecidas e para a população economicamente ativa. 10. 11. REFERÊNCIAS 12. 1. 2. 3. 4. 5. 6. Seth D, Khan FI. Causes and management of red eye in pediatric ophthalmology. Curr Allergy Asthma Rep. 2011;11(3):212-9. Review. Cronau H, Kankanala RR, Mauger T. Diagnosis and management of red eye in primary care. Am Fam Physician. 2010 Jan 15;81(2):137-44. Review. Murphy PJ, Lau JS, Sim MM, Woods RL. How red is a white eye? Clinical grading of normal conjunctival hyperaemia. Eye (Lond). 2007;21(5):633-8. Araujo AA, Almeida DV, Araujo VM, Goes MR. Urgência oftalmológica: corpo estranho ocular ainda como principal causa. Arq Bras Oftalmol. 2002;65(2):223-7. 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Autora correspondente: Camila Amaral Carvalho Cunha Av José do Patrocínio Pontes, nº 1355 – Mangabeiras CEP 30210-090 – Belo Horizonte (MG), Brasil, Tel: (31) 91585502 E-mail: [email protected] Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (6): 358-61 A 362 RTIGO ORIGINAL Teller test with functional vision evaluation in children with low vision Teste com Cartões de Teller e avaliação da visão funcional em crianças com baixa visão Anita Zimmermann1, Sarah Vieira da Silva2 , Sara Martins Vieira Zimmermann1, Rodrigo Pessoa Cavalcanti Lira1, Keila Miriam Monteiro de Carvalho1 ABSTRACT Objective: To know the effectiveness of Teller card test along with the functional vision evaluation in low vision preschool children presenting normal or delayed development. Methods: Transversal study comprising patients from the children visual stimulation Ambulatory Service of the Faculty of Medical Sciences, University of Campinas Teaching Hospital, Campinas (SP)(FCM/HC/ Unicamp). The best corrected visual acuity was obtained using Teller cards and functional vision evaluation, independent from the child development. Results: From a total of 143 evaluated children, 65% did not respond to the Teller card test, only to, the functional vision evaluation. Among 143 children, 99 (70%) presented development delay and 44 (30%), normal development. Conclusion: The Teller card test was not enough to evaluate the children visual acuity with development delays, since more than half of them were not responsive to it, making it necessary that they were submitted to a complementary functional visual evaluation. Keywords: Visual acuity; Low vision; Vision; Child development; Vision disorders RESUMO Objetivo: Conhecer a eficácia do teste com Cartões de Teller em complemento a avaliação da visão funcional em crianças préescolares com baixa visão e desenvolvimento normal ou atrasado. Métodos: Estudo transversal em pacientes do ambulatório de estimulação visual infantil do Hospital de Clínicas da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (HC/ FCM/Unicamp). A acuidade visual com a melhor correção óptica foi medida com Cartões de Teller e avaliação da visão funcional, independente do desenvolvimento da criança. Resultados: De um total de 143 crianças avaliadas 65% não responderam ao teste de Teller, porém, em complemento à avaliação da visão funcional pôde ser conhecida a acuidade visual das mesmas. Dentre as 143 crianças, 99 (70%) apresentaram atraso no desenvolvimento e 44 (30%) desenvolvimento normal. Conclusão: O Teste com Cartões de Teller para se conhecer a acuidade visual de crianças com atraso em seu desenvolvimento não se apresentou suficiente, pois mais da metade das crianças avaliadas não foi responsiva ao mesmo, necessitando de complementação de avaliação da visão funcional para a medida da acuidade visual. Descritores: Acuidade visual; Baixa visão; Visão; Desenvolvimento infantil; Transtornos da visão 1 2 Universidade Estadual de Campinas (SP), Brazil; Ophthalmological Doctor – Cascais, Portugal. Os autores declaram não haver conflitos de interesse. Recebido para publicação em 08/04/2015 - Aceito para publicação em 11/07/2015 Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (6): 362-5 Teller test with functional vision evaluation in children with low vision INTRODUCTION T 363 This study aimed to evaluate the effectiveness of the visual acuity measurement, using the Teller card test along with the functional vision evaluation in children with low vision, with a committed development or not. eller card test – visual acuity test – is being applied in preschool children presenting committed development or not, for measuring their angular visual acuity (1). METHODS Patterned for the evaluation of visual acuity in babies, starting from approximately 1 month old, it can be used until the age This is a transversal study developed during the period needed for children with development delays, with or without from december 2010 to june 2012, at the Children Visual (1,2) associated comorbidities or deficiencies . Stimulation Ambulatory Service of the Unicamp Teaching HosChildren with development delays can present neuropital, approved by the Research Ethics Committee under perceptive and cognitive difficulties to respond to ophthalmological number 1025/2010. tests; therefore, psicophysical tests should be provided to them, The total sample comprised 143 children with low vision, with the children cooperation and colaboration for the of which 78 (55%) were male. There was an age variation establishment of assertive diagnoses and conducts. The best functional vision is one of the main objectives of between zero months old and 5 years and 11 months old, the ophthalmological service. This represents a big challenge in according to their scheduling in the ambulatory service, with the ophthalmological area(3), once the comprehension of the vino sampling or random selection of cases, having as inclusion sual infant behavior is necessary. criteria the age group mentioned above and the consent term Functional vision is a relatively new concept(4), meaning signed by the responsible for the child. The exclusion criterion visual capacity on its potentialities. Once vision is a learned was total blindness. function, with its possible qualities to be developed, mainly during The visual acuity was measured using the best optical the first months of life, when the plasticity of the nervous system correction, in a photopic environment, with natural light, is maximum(5), it is interesting for children to be offered situations separated eyes, by a pedagogue professional, specialized in visuwith visual stimulation, so they can have the opportunity to al disability and infant visual stimulation, using Teller cards with develop themselves(6-8). 38 centimeters of distance. In some cases, it was necessary for the The functional vision evaluation, as a psychophysical test, is cards to be nearer, according to what is established in the test based on the observation of the child spontaneous behavior in manual. In the case of unsatisfactory responses, the test was ambulatory environments, where the observer presents and suggests repeated in another occasion. evaluative activities. The observer/evaluator, with the knowledge of In complementation to the Teller card test, the functional the infant visual development, interprets their visual behavior(9-12). vision evaluation (table 1) was applied. The information about Regarding vision evaluative conditions, the child cognitive the children development was obtained from their hospital capabilities should be considered, so specific incentives can be documentation. Patients with committed development were interpreted(13). Children with development delay may take longer to answer or make it difficult for the evaluator to observe their followed by the neurological pediatric team of the same hospital. visual responses. Table 1 Data Gathering for the Children Functional Vision Evaluation Age ( ) 0 – 5 months old ( ) 6 months – 11 months old ( ) 1 year – 1 year 11 months old ( ) 2 years – 3 years 11 months old ( ) 4 years – 5 years 11 months old Development ( ) Normal development ( ) Development delay (1) Light Perception (PL): _________m (2.0) 0-50cm = 0.0/ 50cm-1m = 0.5/1m-2m = 1.0/2m-3m = 2.0 ( ) With tracking (2.0) ( ) Without tracking (0.0) ( ) Environment with artificial light (1.0) ( ) Environment with low light (0.0) ( ) Does not present (0.0) (2) People Perception: _________m (2.0) 0-50cm = 0.0/ 50cm-1m = 0.5/1m-2m = 1.0/2m-3m = 2.0 ( ) With tracking (2.0) ( ) Without tracking (0.0) ( ) Does not present (0.0) Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (5): 298-303 (3) Visual Fixation ( ) Central (4.0) ( ) Temporal (1.0) ( ) Does not present (0.0) (4) Nystagmus ( ) Moderated (1.0) ( ) Intense (0.0) ( ) Does not present (4.0) (5) Object perception: _________ m (1.0) 0-50cm = 0.0/50cm-1m = 0.5/1m-2m = 0.5/2m-3m = 1.0 ( ) Does not present (0.0) ( ) Only backlighted objects: _________ m (0.5) 0-50cm = 0.0/ 50cm-1m = 0.5/1m-2m= 0.5 ( ) With tracking (0.5) ( ) Without tracking (0.0) ( ) With a 5-cm diameter (1.0) ( ) With a 10-cm diameter (0,5) ( ) Visual motor coordination (1.0) ( ) Tridimentional visual response (0.5) (6) Color Perception ( ) Recognizes colors (5.0) ( ) Does not recognize colors (0,0) Teller cards: _________cm (5.0) Right eye: _________ Left eye: _________ ( ) NR – Nonresponsives (0.0) Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (6): xxx-xxx 364 Zimmermann A, Silva SV, Zimmermann SMV, Lira RPC, Carvalho KMM RESULTS From the total 143 studied children, 92 (65%) were not responsive to the Teller card test. Regarding their development, 44 (30%) presented normal development, and 99 (70%), development delays. The responsiveness to the Teller card test ranged according to the child development, described in table 2. Table 2 Responsiveness to the Teller card test x Development Responsiveness Normal neurological Neurodevelopment Total to the test development delay Teller cards 44 (30%) 99 (70%) Responsive 31 (70%) 20 (20%) 51 (36%) Non-responsive 13 (30%) 79 (80%) 92 (65%) Total 44 99 143(100%) From the 44 children with normal development, 31 (70.4%) responded to the Teller card test. From the 99 with development delay, only 20 (20.2%) were responsive to the Teller card test. The visual functional evaluation was held as a complement to the Teller card test, creating a special score, in a graduation of score 0 to 5.0 for each topic from the vision functional evaluation. It was considered score above or equal 18, high intensity punctuation, and the visual stimulation was not considered necessary. Score below 18, with low intensity, the visual stimulation was indicated, oriented and followed by an able pedagogue professional (table 3). DISCUSSION In this population, there was a significant prevalence of development delay cases, with comorbidities, cerebral damage sequels, with or without other associated deficiencies, low responsiveness to the Teller card test, with little collaborative behaviors, making it necessary the use of the complementary functional vision evaluation, as presented in other studies (14,15). After being submitted to the Teller card test and functional vision evaluation, 105 children, representing 74% from the total, have received indication for visual stimulation. Considering these data, it was observed that the functional vision evaluation, as a complement of the Teller card test, can orientate visual therapeutic conducts, being understood that the earlier the visual stimulation intervention is, the better the possibilities of visual development are going to be for each age group researched in this study. The cognitive, neurological and motor compromise, as well as the difficulty in comprehending the child visual behavior by the evaluator, restraining the communication and interpretation of visual responses, were also observed by other researchers(6,16) in their studies with children in the same age group received in similar environments. Visual responses are individual processes and the visual improvement depends on the vision integrity(17). During the child development, vision promotes their social and environmental integration; while vision decrease or its non-existence reduces the child capacities to develop themselves in other sensorial aspects, which may affect their psychological, physical, emotional and social behavior(16,18-22). Some authors present the Teller card test as a good option to evaluate the visual acuity of children with development delay (1,6,23-26). However, it was observed in this study that using such a test alone was not enough, since more than half of the children were not responsive to it, making it necessary that they were submitted to a complementary psychophysical test. According to other studies(6,16), there is a wide difficulty in defining the visual compromise or incapacity of these children for their cognitive, neurological or motor limitations, as well as for the difficulty they have in communicating their visual responses, making it difficult the understanding by the involved ophthalmologists and therapeutic professionals. Table 3 Result from the vision functional evaluation from the studied group (n = 143) Score Intensity 0 months 5 months 2 children Higher or Equal to 18 High Score Below 18 Visual Stimulation Suggestion Low 6 months 11 months 7 children 1 year - 1 year 2 years -3 years 4 years -5 years Normal and 11 months and 11 months and 11 months Development 32 children 51 children 51 children 1 Normal 1 Normal 7 Normal 6 Normal development development development development 1 Development 5 Development 3 Development 14 Development delay delay delay delay 1 Normal 1 Normal 6 Normal 12 Normal development development development development 1 Development 4 Development 20 Development 29 Development delay delay delay delay 2 5 26 41 9 Normal development 22 Development delay 15 29 23 76 31 Total with suggestion for visual stimulation Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (6): 362-5 Development Delay 105 Teller test with functional vision evaluation in children with low vision Sometimes, for a better diagnostic acumen, the follow-up of electrophysiological evaluation in children becomes necessary(27) Furthermore, considering the aspects of the infant development as a way of knowing the expected behaviors for each age group, ophthalmological services are suggested to infants, aiming to broaden the comprehension of the expressions in the evaluated child and their responses to psychophysical tests. Another interesting aspect to be observed is that, when it comes to children, the ludic must be explored, so the child feels comfortable and collaborative during tests and evaluations, as well as in visual stimulation follow-ups. AUTHOR CONTRIBUTIONS Zimmermann, A; Silva SV; Zimmermann, S; Lira PCR and Carvalho MM designed the work, interpreted the data, drafted the manuscript, provided final approval of the version to be published and agreed to be accountable for all aspects of the work. ACKNOWLEDGEMENTS To ophthalmologists: Augusto Duarte, John Paul Fernandes Felix and Rafael Marcicano Cezar Vieira for valuable contributions during this study. REFERENCES 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. Teller DY, Dobson V, Mayer DL, Candy TR. Teller Acuity Cards II –handbook. Rev Ed. Chicago: Stereo Optical Company; 2009. Mateos JG, Jimenez RM, Luengo IC. El Vap-Cap: una herramienta útil para la valoración del funcionamiento visual en bebés y niños com polidiscapacidad. 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Esc Anna Nery Rev Enferm. 2010;14(2):318-23. Corresponding author: Anita Zimmermann Universidade Estadual de Campinas Street Antônio Luis Carbone, 78 Zip code: 13.083-050 - Campinas (SP), Brazil Phone: 55-19-997416468 E-mail: [email protected] Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (6): 362-5 A 366 RTIGO ORIGINAL A linfangiogênese em enxertos corneanos humanos que evoluem para retransplante Lymphangiogenesis in human corneal grafts that has evolved to re-transplantation Karine Feitosa Ximenes1, Karla Feitosa Ximenes Vasconcelos2, Fernando Queiroz Monte1 RESUMO Objetivo: Estudar botões corneanos humanos com linfangiogênese através do exame histopatológico, juntamente com os enxertos de seus transplantes anteriores e posteriores, avaliando os intervalos de tempo para sucessivas cirurgias. Métodos: Estudo descritivo, observacional, longitudinal de botões corneanos humanos com linfangiogênese, juntamente com seus transplantes anteriores e posteriores. Os tecidos foram provenientes de ceratoplastia penetrante no período compreendido entre os anos 2006 e 2013. Após revisão de prontuários em que foram obtidas principalmente as datas das cirurgias, construímos uma tábua de sobrevivência a partir da qual os intervalos de tempo para retransplante foram calculados. Resultados: Entre 89 casos de linfangiogênese corneana, foram incluídos apenas aqueles 22 que possuíam registros no prontuário de transplantes anteriores ou posteriores. Nos casos que apresentavam como provável etiologia do retransplante a linfangiogênese, isolada ou associada à hemangiogênese (grupos pré-linfangiogênese/linfangiogênese e interlinfangiogênese), foram encontrados intervalos de tempo para retransplante menores (7 e 3 meses, respectivamente) que aquele encontrado no grupo linfangiogênese/pós-linfangiogênese que apresentava outras etiologias prováveis para os retransplantes (11,31 meses). Casos que apresentavam como etiologia provável do retransplante a linfangiogênese isolada apresentaram um intervalo para retransplante (3 meses) ainda menor que aquele encontrado nos casos em que a etiologia provável era a linfangiogênese associada à hemangiogênese (7,80 meses). Conclusão: Linfangiogênese, isolada ou associada à hemangiogênese, foi encontrada nos enxertos corneanos humanos estudados que evoluíram para retransplante em pequenos intervalos de tempo. Esse achado nos leva a sugerir um possível papel para os vasos linfáticos na redução do tempo de sobrevida dos enxertos corneanos humanos. Descritores: Linfangiogênese; Angiogênese; Transplante de córnea; Ceratoplastia; Reoperação ABSTRACT Objective: To study human corneal buttons with lymphangiogenesis through histopathological examination, together with the grafts of their preceding and subsequent transplantations, evaluating the time intervals for successive surgeries.Methods: A descriptive, observational and longitudinal study of human corneal buttons that have lymphatic vessels, together with its preceding and subsequent transplants. Tissues were obtained from penetrating keratoplasty in the period between the years 2006 and 2013. After a medical records review in which information on the dates of the surgeries were mainly obtained, we built a survival table from which the time intervals for retransplantation were calculated. Results: Among 89 cases of corneal lymphangiogenesis, we included only those 22, which had previous or subsequent transplantations records in medical records. In cases where the probable regrafting etiology were lymphangiogenesis, alone or combined with hemangiogenesis (pre-lymphangiogenesis/lymphangiogenesis and interlymphangiogenesis groups), time intervals for retransplantation were found to be minor (7 and 3 months, respectively) than that found in lymphangiogenesis/post-lymphangiogenesis group that had other probable etiologies for retransplantations (11.31 months). Cases that had isolated lymphangiogenesis as probable etiology of retransplantation showed an interval time for retransplantation (3 months) lower than that found in cases in which the probable etiology was lymphangiogenesis associated with hemangiogenesis (7.80 months). Conclusion: Lymphangiogenesis, alone or combined with hemangiogenesis, was found in human corneal grafts studied that have evolved to regraft in small time intervals. This finding leads us to suggest a possible role for the lymphatic vessels in reducing the human corneal grafts survival time. Keywords: Lymphangiogenesis; Angiogenesis; Corneal transplantation; Keratoplasty; Reoperation 1,2 Hospital Geral de Fortaleza – Fortaleza (CE), Brasil. Trabalho realizado no Banco de Olhos do Hospital Geral de Fortaleza (CE), Brasil Os autores declaram não haver conflitos de interesse Recebido para publicação em 08/04/2015 - Aceito para publicação em 11/07/2015 Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (6): 366-71 A linfangiogênese em enxertos corneanos humanos que evoluem para re-transplante INTRODUÇÃO A transparência da córnea é essencial para uma boa visão. Reações inflamatórias dentro deste tecido podem, no entanto, causar destruição e cicatrizes, interferindo com a sua transparência e causando cegueira corneana(1). Os transplantes de córnea podem devolver a visão, mas eles frequentemente falham quando ocorre neovascularização fazendo com que sucumbam rapidamente à rejeição imunológica(2). Rejeições de enxerto imunomediadas permanecem sendo a causa mais comum de falência do enxerto pós-transplante de órgãos e tecidos(3). Os três componentes estruturais do sistema imune que permite respostas contra tecidos estranhos após transplante são os vasos linfáticos aferentes, os nódulos linfáticos regionais e os vasos sanguíneos eferentes(4). Enquanto os vasos sanguíneos fornecem uma rota de entrada para células imunes efetoras (linfócitos T alorreativos CD4+, linfócitos T de memória), a linfangiogênese corneana permite a saída de material antigênico e células apresentadoras de antígeno a partir do enxerto para nódulos linfáticos regionais. Isso pode induzir aloimunização e subsequente rejeição do enxerto(5). A córnea normal é desprovida de vasos sanguíneos e linfáticos(6,7), o que permite seu status privilegiado único(7). Reações inflamatórias, injúrias ou infecções podem, no entanto, causar o crescimento de novos vasos sanguíneos (angiogênese) e linfáticos (linfangiogênese) na córnea(1,2); o que é intimamente relacionado com a revogação desse status privilegiado imune(7,8). A importância relativa dos vasos linfáticos versus vasos sanguíneos para reações imunes após transplantes não é clara. Sabe-se, porém, que todo transplante de órgão sólido ou vascularizado é acompanhado de hemangiogênese e linfangiogênese através das bordas da ferida(8). Nesse contexto, a córnea tem servido como um excelente modelo in vivo para o estudo do papel da vasculatura linfática e sanguínea na mediação das respostas imunes alogênicas após transplante(9). A maioria dos estudos que fala sobre a importância da linfangiogênese na rejeição ou sobrevivência de enxertos corneanos, no entanto, vem sendo realizada em modelos murinos(8-14). Diante do exposto, temos como objetivo estudar, através do exame histopatológico, botões corneanos humanos que possuem vasos linfáticos juntamente com os enxertos de seus transplantes anteriores e posteriores, avaliando os intervalos de tempo necessários para sucessivas cirurgias. Reconhecer se os vasos linfáticos corneanos estão presentes em enxertos que evoluem para retransplante em pequenos intervalos de tempo, poderá auxiliar na identificação de um possível papel da linfangiogênese na sobrevida de enxertos corneanos e de casos que poderiam beneficiar-se de novas estratégias para sobrevivência dos enxertos como os antilinfangiogênicos. MÉTODOS Com aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa do Hospital Geral de Fortaleza, examinamos botões corneanos, provenientes de ceratoplastia penetrante no período compreendido entre os anos de 2006 e 2013, enviados para exame histopatológico ao Banco de Olhos do Hospital Geral de Fortaleza. Os tecidos foram primeiramente enviados para o setor de anatomia patológica, onde eram fixados em formol neutro a 10% e recortados. A inclusão foi feita em parafina, com cortes subsequentes de 2 a 5µm, e a coloração foi realizada com 367 Hematoxilina-eosina. Após o preparo, os tecidos foram examinados com microscópio óptico pelos autores. Inicialmente, detectamos os casos que possuíam vasos linfáticos. Como não dispúnhamos de meios especiais de detecção desses vasos e utilizamos coloração de rotina; selecionamos apenas os casos em que pudemos identificar com certeza como vaso linfático, ou seja, aqueles em que foi possível a identificação evidente das células endoteliais, não sendo também visualizados leucócitos ou eritrócitos no seu interior. Devido à maior dificuldade de identificação do endotélio nos capilares, esses não foram incluídos. Aqueles vasos linfáticos que, por algum motivo, se apresentaram na lâmina com extremidades mais pontiagudas também não fizeram parte do estudo, devido à possibilidade de confusão com os espaços vazios encontrados entre os ceratócitos e fibras colágenas estromais em casos de edema corneano. O estudo foi descritivo, observacional e longitudinal de botões corneanos humanos com linfangiogênese, juntamente com seus transplantes anteriores e posteriores. Uma vez que o estudo foi descritivo, verificamos somente a proporção de aparecimento de diferentes intervalos de tempo para retransplante de acordo com os grupos considerados. Outro fator que justificou utilizarmos esse tipo de estatística foi o rigor na seleção e inclusão de casos, uma vez que a coloração utilizada não era um método específico de detecção de vasos linfáticos, levando-nos a acreditar na existência de uma possível subnotificação. Em estudos posteriores, que venham a utilizar meios específicos de detecção de linfáticos, poderão ser realizadas estatísticas de probabilidade. Após selecionados os casos que possuíam linfangiogênese corneana, realizamos revisão de prontuários em busca de informações sobre idade, sexo, transplantes anteriores e posteriores e etiologia dessas cirurgias. Consideramos, então, neste estudo apenas os casos que possuíam registros de ceratoplastias anteriores ou posteriores ao aparecimento de vasos linfáticos. Através da construção de tábua de sobrevivência, calculamos em meses os intervalos de tempo para retransplante de determinados grupos e suas médias. Ao realizarmos esses cálculos, adotamos duas abordagens. Na primeira delas, calculamos os intervalos para retransplante de três grupos e consideramos a linfangiogênese sem especificar se estava associada à presença de vasos sanguíneos. O primeiro grupo (pré-linfangiogênese/ linfangiogênese) foi constituído de intervalos de transplantes cujos enxertos da primeira cirurgia não possuíam vasos linfáticos; mas que no enxerto da segunda ceratoplastia, haviam apresentado linfangiogênese. No segundo grupo (interlinfangiogênese), tínhamos intervalos de transplantes cujos enxertos apresentaram linfangiogênese em ambas as cirurgias. Por fim, no terceiro e último grupo (linfangiogênese/pós-linfangiogênese) estavam aqueles intervalos de transplantes cujos enxertos da primeira cirurgia apresentavam linfangiogênese, mas que a presença dos vasos linfáticos não se repetia no enxerto da segunda ceratoplastia. Assim, observamos que no primeiro e segundo grupos estão aqueles intervalos em que a linfangiogênese podia ser considerada como etiologia do retransplante, uma vez que neles estão transplantes que possuíam vasos linfáticos no enxerto da segunda cirurgia, não havendo também outras causas para essa segunda ceratoplastia. Não consideramos, por isso, no cálculo desses intervalos de tempo para retransplante (grupos pré-linfangiogênese/ linfangiogênese e interlinfangiogênese) aqueles casos que apresentavam causas secundárias (infecção ou perfuração) diferentes da presença de linfangiogênese corneana como etiologias possíveis do retransplante. Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (6): 366-71 368 Ximenes KF, Vasconcelos KFX, Monte FQ Na segunda abordagem, especificamos entre os intervalos em que os retransplantes poderiam ter como etiologia provável a linfangiogênese (grupos pré-linfangiogênese/linfangiogênese e interlinfangiogênese), aqueles em que os vasos linfáticos eram encontrados isolados ou associados à hemangiogênese, obtendo assim mais três grupos de intervalos para retransplante (prélinfangiogênese/linfangiogênese com linfangiogênese associada à hemangiogênese, pré-linfangiogênese/linfangiogênese com linfangiogênese isolada e interlinfangiogênese com linfangiogênese isolada no retransplante). RESULTADOS Foram inicialmente detectados 89 tecidos com linfangiogênese corneana. Após a revisão dos prontuários, no entanto, incluímos apenas os 22 casos que apresentaram registros de transplantes anteriores ou posteriores, sendo 10 de pacientes do sexo feminino e 12 do sexo masculino. A média das idades foi 44,36 ± 25,75 (média ± DP). Na tábua de sobrevivência (encontramos os transplantes realizados em todos os casos estudados. Observamos aqui que temos 16 casos com dois transplantes, 4 casos com três transplantes e 1 caso com seis transplantes. Exemplificando mais detalhadamente, vemos que um caso como o 7 apresentou um transplante com linfangiogênese, um onde houve a recorrência dos vasos linfáticos com intervalo de três meses para o primeiro e outro póslinfangiogênese com intervalo de um mês para segundo, totalizando três transplantes. Já um caso como o 10 apresentou um transplante pré-linfangiogênese e outro com linfangiogênese que foi realizado dezessete meses após o primeiro, totalizando dois transplantes. Ressaltamos que o número de casos na tábua de sobrevivência (21 casos) é inferior ao da amostra (22 casos), pois o caso 7 apresentou linfangiogênese no retransplante. interlinfangiogênese (3,00 meses). Obervamos que os intervalos dos grupos pré-linfangiogênese/linfangiogênese e interlinfangiogênese, onde a presença de vasos linfáticos pode ser considerada a etiologia do retransplante, foram inclusive menores que o encontrado no total da amostra considerada nesta abordagem de cálculo (20 intervalos de tempo para retransplante com uma média de intervalos de 9,60 meses). Lembramos que não consideramos nos cálculos dos intervalos para retransplante do grupo pré-linfangiogênese/linfangiogênese os casos 11, 15, 18 e 21, pois os mesmos apresentavam como etiologia do transplante causas secundárias (ceratite infecciosa ou perfuração) diferentes da presença de linfangiogênese, conforme demonstra a legenda da tábua de sobrevivência. Tabela 1 Intervalos para re-transplante pré-linfangiogênese/ linfangiogênese, interlinfangiogênese e linfangiogênese/ pós-linfangiogênese Grupos Número de casos Intervalos (meses) Pré-linfangiogênese/ linfangiogênese 6 7,00 Interfangiogênese 1 3,00 Linfangiogênese/ pós-linfangiogênese 13 11,31 Total 20 9,60 O número de casos é inferior ao da amostra, pois aqui o número de casos refer-se ao número de intervalos de tempo para re-transplante calculados em cada grupo. Oss intervalos (meses) referem-se à média de intervalos de cada grupo. Na tabela 2, consideramos apenas os casos que poderiam ter a linfangiogênese como provável etiologia do retransplante, fazendo uma separação entre aqueles que apresentavam hemangiogênese associada à linfangiogênese ou linfangiogênese isolada. Aqui, observamos que os menores intervalos para retransplante Tabela 2 Intervalos para re-transplante que podem ter como etiologia linfangiogênese + hemangiogênese ou linfangiogênese isolada Grupos Tábua de sobrevivência 1o transplante pré-linfangiogênese 2o transplante pré-linfangiogênese 1o transplante com linfangiogênese Transplante interlinfangiogênese 1o transplante pós-linfangiogênese 2o transplante pós-linfangiogênese 3o transplante pós-linfangiogênese Intervalo de 1 mês Casos 11, 18, 21: Transplante com linfangiogênese que tem como etiologia ceratite infecciosa; Caso 15: Transplante com linfangiogênese que tem como etiologia perfuração. Os intervalos para retransplante dos grupos prélinfangiogênese/linfangiogênese, interlinfangiogênese e linfangiogênese/pós-linfangiogênese podem ser vistas na tabela 1. O maior desses intervalos foi o encontrado no grupo linfangiogênese/pós-linfangiogênese (11,31 meses), seguido pelos grupos pré-linfangiogênese/linfangiogênese (7,00 meses) e Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (6): 366-71 Número de casos Intervalos (meses) Pré-linfangiogênese/ linfangiogênese (linfangiogênese + hemangiogênese) 5 7,80 1 3,00 Interlinfangiogênese (linfangiogênese isolada no retransplante) 1 3,00 Total 7 6,43 Pré-linfangiogênese/ linfangiogênese (linfangiogênese isolada) O número de casos aqui refere-se ao número de intervalos de tempo para retransplante calculados em cada grupo. Os intervalos (meses) referem-se à média de intervalos de cada grupo A linfangiogênese em enxertos corneanos humanos que evoluem para re-transplante são aqueles encontrados nos casos que apresentaram linfangiogênese isolada (3 meses), seja em casos do grupo prélinfangiogênese/ linfangiogênese ou do grupo interlinfangiogênese. Os retransplantes do grupo pré-linfangiogênese/ linfangiogênese que possuíam vasos linfáticos associados a vasos sanguíneos, por sua vez, ocorreram com uma média de intervalo superior tanto em relação aqueles que possuíam linfangiogênese isolada (3 meses) como em relação ao total da amostra considerada nesta abordagem de cálculo (7 intervalos para retransplante com uma média de intervalos de 6,43 meses). DISCUSSÃO Realizamos estudo histopatológico de enxertos corneanos humanos com a presença de vasos linfáticos, considerando neste estudo apenas os casos que possuíam registros de transplantes anteriores e/ou posteriores. Encontramos entre 89 botões corneanos com linfangiogênese, 22 casos que apresentaram registros dessas cirurgias no prontuário do Banco de Olhos, o que correspondeu a 24,72% da amostra inicial, demonstrando a importância da presença de vasos linfáticos nos enxertos corneanos que evoluem para retransplante. Ressaltamos que o tamanho da amostra estudada (n= 22 casos), correspondendo a cerca de um quarto da amostra inicial (n=89 casos), é considerável; poderia, porém, ser maior se pensarmos que consideramos apenas os registros de tecidos enviados para exame histopatológico ao Banco de Olhos do Hospital Geral de Fortaleza, o que é realizado de rotina apenas em casos de urgência. Os pacientes poderiam ainda ter realizado transplantes eletivos e/ou em outros Estados, o que não foi contabilizado no estudo, hipoestimando um número de casos que nós já consideramos bastante elevado. Na primeira abordagem que utilizamos para calcular os intervalos de tempo para retransplante, encontramos os menores intervalos nos 7 casos em que a linfangiogênese podia ser considerada como a etiologia do retransplante (grupos prélinfangiogênese/linfangiogênese e interlinfangiogênese), sendo eles 7 e 3 meses, respectivamente. Aqui, como consideramos a linfangiogênese sem especificar se associada ou não a hemangiogênese, poderíamos sugerir o papel dos vasos linfáticos isolados ou associados à presença de vasos sanguíneos no tempo de sobrevida dos enxertos corneanos. Ao observarmos a tabela 2, no entanto, vemos que entre esses 7 casos, 5 apresentavam linfangiogênese associada a hemangiogênese, demonstrando que nesse momento sugerimos principalmente o papel da presença dos vasos linfáticos associados aos vasos sanguíneos na sobrevivência dos enxertos corneanos. Conforme citado anteriormente, a maioria dos estudos que fala sobre a importância da linfangiogênese na rejeição ou sobrevivência de enxertos corneanos vem sendo realizada em modelos murinos(8-14). De acordo com nossos achados estão alguns destes estudos em murinos que mostram o papel da hemangiogênese e da linfangiogênese na rejeição ou sobrevida dos enxertos corneanos (10,11) . Cursiefen et al. evidenciaram que, após ceratoplastia com leito receptor avascular (também chamada ceratoplastia de risco normal), há concorrente hemangiogênese e linfangiogênese dependentes de fator de crescimento endotelial vascular A (VEGF-A) dentro do leitor receptor; e que a inibição desses braços aferentes e eferentes da resposta imune após esse tipo de transplante promove a sobrevivência do enxerto a longo prazo(10). Hos et al. demonstraram que os inibidores tirosina quinase bloqueando os receptores dos fatores de crescimento 369 endotelial vascular (VEGF) são potentes inibidores não apenas da hemangiogênese inflamatória, mas também da linfangiogênese in vivo; e que esses inibidores parecem ter a habilidade de reter a formação dos braços aferentes e eferentes do arco reflexo imune, sendo, portanto, capazes de promover a sobrevivência dos enxertos após transplante de córnea(11). Ressaltamos, porém, que nosso estudo foi realizado em córneas humanas e são poucos os estudos que como o nosso e o de Zheng et al. demonstram que o tempo de sobrevivência dos enxertos corneanos humanos pode estar relacionado à ambos, linfangiogênese e hemangiogênese(15). Na segunda abordagem que utilizamos para calcular os intervalos de tempo para retransplante, encontramos os menores intervalos nos casos em que a linfangiogênese isolada podia ser considerada como a etiologia do retransplante (grupos prélinfangiogênese/linfangiogênese com linfangiogênese isolada e interlinfangiogênese com linfangiogênese isolada no retransplante), sendo eles igual a 3 meses em ambos os grupos. Neste momento, consideramos apenas os sete casos que poderiam ter como etiologia provável do retransplante a linfangiogênese, mas agora especificamos os casos em que os vasos linfáticos eram encontrados isolados ou associados à hemangiogênese, o que nos leva a sugerir o papel da presença de vasos linfáticos isolados na sobrevivência dos enxertos corneanos. Aqui, observamos que transplantes com linfangiogênese isolada apresentaram um tempo de sobrevida menor (3 meses) que aqueles que apresentaram linfangiogênese associada à hemangiogênese (7,8 meses). Comparando os resultados da tabela 1 com aqueles da tabela 2, observamos que o único transplante interlinfangiogênese da tabela 1 é o mesmo que se apresentou como interlinfangiogênese com linfangiogênese isolada no retransplante na tabela 2, apresentando um intervalo de retransplante igual a 3 meses que foi o menor intervalo encontrado nas duas abordagens realizadas de cálculo. Para tentar explicar este intervalo pequeno encontrado nas duas abordagens de cálculo sugerimos duas explicações. A primeira delas seria a possibilidade da linfangiogênese, ao se repetir no retransplante, vir a ser um fator de risco a mais para falência do enxerto quando comparada ao seu aparecimento pela primeira vez. A segunda delas seria a possibilidade de a linfangiogênese isolada estar associada a um tempo de sobrevida do enxerto menor que a linfangiogênese associada à hemangiogênese. Qual das hipóteses teria mais força, não podemos afirmar com certeza. O fato do outro caso de linfangiogênese isolada (pré-linfangiogênese/linfangiogênese com linfangiogênese isolada) ter um intervalo para retransplante (3 meses) semelhante ao do caso citado acima (interlinfangiogênese com linfangiogênese isolada no retransplante) reforça a segunda hipótese. Já o estudo de Zheng et al., ao encontrar um tempo de sobrevida menor nos casos de retransplantes em que a linfangiogênese associada à hemangiogênese se repetia, reforça a primeira hipótese (15). Consideramos ainda que o maior intervalo de tempo para retransplante encontrado nos casos que apresentavam hemangiogênese associada à linfangiogênese em relação aqueles que apresentavam linfangiogênese isolada merece um estudo maior para avaliar se essa é uma ocorrência biológica devido a prováveis quadros menos severos de edema. No contexto do papel isolado dos vasos linfáticos na sobrevivência ou rejeição de enxertos corneanos, não encontramos estudos que, como o nosso, demonstrassem a presença de casos de linfangiogênese independentes da hemangiogênese possivelmente associados com a diminuição da sobrevida dos Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (6): 366-71 370 Ximenes KF, Vasconcelos KFX, Monte FQ transplantes. Uma possível explicação para não termos encontrado esse tipo de estudo seria o fato de a maioria dos trabalhos citarem uma estreita relação entre os processos hemangiogênese e linfangiogênese(5,10,16,17), sendo poucos aqueles que como Nakao et al. e Chang et al. citam a possibilidade da ocorrência de vasos linfáticos sem a presença de vasos sanguíneos(18,19). A nossa interpretação, no entanto, Dietrich et al. parecem ter ressaltado o papel isolado da linfangiogênese ao estudarem a importância relativa dos vasos linfáticos em relação aos vasos sanguíneos em mediar respostas imunológicas após transplantes, tendo para isso utilizado a inibição pré-operatória seletiva e específica da linfangiogênese(8). Zheng et al. também parecem de certa forma ter conseguido separar os papéis de linfangiogênese, hemangiogênese e da associação hemangiogênese + linfangiogênese no tempo de sobrevida dos enxertos através de análise estatística(15). Muitos estudos têm ainda citado que estratégias antilinfangiogênicas podem melhorar a sobrevida dos transplantes de órgãos sólidos (8,9) ou de córnea (6,8,9,11,14,20,21). Foi demonstrado que a inibição combinada da hemangiogênese e da linfangiogênese pelo ligante molecular do fator de crescimento endotelial vascular (VEGF TrapR1R2)(10), inibidores tirosina quinase bloqueando os fatores de crescimento endoteliais vasculares(11), bevacizumab(14) e sunitinib(21) podem aumentar a sobrevivência de enxertos corneanos. Novas abordagens, como a inibição da sinalização do receptor 3 do VEGF (VEGFR-3)(22) ou a utilização de moléculas contra a integrina α5β1 do endotélio linfático (23) , também foram descritas para inibir seletivamente a linfangiogênese durante a neovascularização inflamatória corneana em modelo murino. Assim, reconhecendo a necessidade de estratégias que promovam a sobrevivência dos enxertos sem comprometer a saúde do receptor(3) e o possível potencial terapêutico futuro da linfangiogênese corneana, ressaltamos a importância cada vez maior de estudos que demonstrem seu papel, seja isolado ou associado à hemangiogênese, no tempo de sobrevida dos transplantes de córnea. Por fim, ressaltamos que os fatos os quais não tínhamos possibilidade de apresentar conclusões seguras foram problematizados, para que sejam centrados nas pesquisas futuras nesses pontos. A maioria dos casos estudados correspondia a ceratoplastias de urgência, e sabemos que nessas situações existem diversos fatores diferentes da presença de linfangiogênese que podem influenciar na sobrevida do enxerto. Possíveis causas secundárias, no entanto, foram excluídas dentro da metodologia utilizada. Em alguns grupos, encontramos ainda um pequeno número de casos após a subclassificação do grupo inicial. Essas subdivisões eram, no entanto, necessárias para que pudéssemos demonstrar o papel da linfangiogênese separadamente da angiogênese. O único transplante interlinfangiogênese também necessitava ser registrado, como fato teoricamente possível e constatação da realidade. Diante de assunto pouco estudado dentro e fora do Brasil como a “linfangiogênese corneana em humanos”, consideramos que mesmo um suposto “reduzido” número de casos em alguns grupos têm grande relevância. Nosso objetivo também não era tentar demonstrar uma correlação entre a presença de vasos linfáticos e o reduzido tempo de sobrevida dos enxertos corneanos humanos, mas sim apenas demonstrar a presença de vasos linfáticos em enxertos corneanos humanos que evoluem para retransplante em um curto intervalo de tempo. Uma vez que realizamos estudo descritivo, testes de correlação ultrapassariam nossos limites. Esperamos, então, que nossos achados sirvam Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (6): 366-71 de estímulo para estudos posteriores com metodologias diferentes e um maior número de casos que venham a confirmar um possível papel da linfangiogênese na sobrevida de enxertos corneanos humanos. CONCLUSÃO Demonstramos através de achados de exame histopatológico que a linfangiogênese, isolada ou associada à hemangiogênese, foi encontrada nos enxertos corneanos humanos estudados que evoluíram para retransplante em um pequeno intervalo de tempo. Esse achado nos levou a sugerir um possível papel para os vasos linfáticos na redução tempo de sobrevida dos enxertos corneanos humanos, confirmando os achados experimentais em animais (murinos). Reconhecer que a presença de vasos linfáticos nos enxertos corneanos humanos, sejam isolados ou associados aos vasos sanguíneos, poderá ter um possível papel no risco de falência dos mesmos e deve auxiliar na identificação de casos que poderiam ser beneficiados com a utilização de novas estratégias para melhorar a sobrevivência dos transplantes de córnea como os antilinfangiogênicos. REFERÊNCIAS 1. Cursiefen C. Immune privilege and angiogenic privilege of the cornea. Chem Immunol Allergy. 2007;92:50-7. 2. Skobe M, Dana R. Blocking the path of lymphatics vessels. Nat Med. 2009;15(9): 993-4. 3. Lechler RI, Sykes M, Thomson AW, Turka LA. Organ transplantation—how much of the promise has been realized? Nat Med. 2005;11(6):605–13. 4. Kaplan HJ, Streilein JW, Stevens TR. Transplantation immunology of the anterior chamber of the eye. II. Immune response to allogeneic cells. J Immunol. 1975;115(3):805-10. 5. Ling SQ, Liu C, Li WH, Xu JG, Kuang WH. 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Autor correspondente: Karine Feitosa Ximenes Rua Andrade Furtado, nº 150 – apto 1501 – Cocó CEP 60192-070 – Fortaleza (CE), Brasil Tel: (85) 3262-6781 Cel: (85) 9673-3132 E-mail: [email protected] Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (6): 366-71 372 ARTIGO ORIGINAL Ocupational performance and quality of life: interrelationships in daily life of visual impaired individuals Desempenho ocupacional e qualidade de vida: inter-relações no cotidiano de pessoas com deficiência visual Paula Becker1 , Rita de CássiaIetto Montilha2 ABSTRACT Objective: Identify levels of self-perception of occupational performance and quality of life of individuals with visual impairment and subsequent analysis of the interrelationship between the indices found. Methods: Descriptive cross-sectional survey with people with visual disabilities enrolled in visual rehabilitation program. COPM was applied to measure the self-perception of occupational performance, the SF-36 for quality of life measurement and a socio-demographic questionnaire to describe personal characteristics. Results. Twentythree subjects were included in the sample: 74% with low vision, 52.2% were female and mean age of 46.7 years. The self-perception of performance and emotional aspects domains of participants with low vision were better than those with blindness. The greater the time of visual impairment, worse was the self-perception of pain. The vitality domain showed statistical significant relationship with the domains general health, performance and satisfaction as well as the mental health domain were related to general health, pain, performance and vitality. Conclusion: The best were the mental health index, the better were the evaluations of physical, functional and social areas, a fact that indicates the importance of considering mental health in visual rehabilitation programs. The COPM and the SF-36 address the issue of functionality in different ways and their results are not compatible. Keywords: Visually impaired persons; Task performance and analysis, Occupational therapy; Quality of life RESUMO Objetivo: Identificar níveis de autopercepção de desempenho ocupacional e qualidade de vida de indivíduos com deficiência visual e posterior análise de inter-relação entre os índices encontrados. Métodos: Estudo descritivo de corte transversal junto a pessoas com deficiência visual inscritas em programa de reabilitação visual. Foram utilizados os questionários COPM para mensuração da autopercepção de desempenho ocupacional, SF-36 para mensuração de níveis de qualidade de vida e questionário de investigação sociodemográfico e perfil dos sujeitos. Resultados: Vinte três sujeitos compuseram a amostra, sendo 74% com baixa visão, 52,2% do gênero feminino e média de idade de 46,7 anos. A autopercepção de desempenho e aspectos emocionais dos participantes com baixa visão foram melhores do que os com cegueira. Quanto maior era o tempo de deficiência visual, pior era a avaliação da dor. O domínio vitalidade apresentou relação estatisticamente significativa com os domínios estado geral de saúde, desempenho e satisfação, assim como o domínio saúde mental apresentou relação com estado geral de saúde, dor, desempenho e vitalidade. Conclusão: Quanto melhores foram os índices de saúde mental, melhores foram as avaliações dos domínios físicos, funcionais e sociais, fato que indica a importância de considerar a saúde mental em programas de reabilitação. A COPM e a SF-36 abordam a questão da funcionalidade de maneiras distintas e seus resultados não são compatíveis. Descritores: Pessoas com deficiência visual; Análise e desempenho de tarefas; Terapia ocupacional; Qualidade de vida 1 2 Department of Health, Interdisciplinary and Rehabilitation, Universidade Estadual de Campinas (SP), Brazil; Postgraduate Program; Faculdade de Cências Médicas, Universidade Estadual de Campinas (SP), Brazil. Department of Health, Interdisciplinary and Rehabilitation da Universidade Estadual de Campinas (SP), Brazil. The authors declare no conflict of interest. Received for publication 25/03/2015 - Accepted for publication 01/06/2015 Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (6): 372-7 Desempenho ocupacional e qualidade de vida: inter-relações no cotidiano de pessoas com deficiência visual INTRODUCTION U nderstand the daily life of visual impaired individuals, who are characterized by a singularity that often implies in differences in early and late human development, considering the psychomotor and socio-cultural spheres in comparison to those who are not(1), optimizes the quality of therapeutic projects and public health actions. This paper is about adults with visual impairment who attend a university visual rehabilitation center in Campinas-Brazil, all diagnosed with low vision or blindness and their perceptions on their occupational performance and quality of life. The World Health Organization (WHO)(2) estimates that there are 285 million visual impaired individuals in the world and, out of them, 39 million are blind and 246 million have low vision. Also according to WHO(3), the main causes of visual impairment in the world are catarata (47.9%), glaucoma (12.3%), age-related macular degeneration (8.7%), corneal opacity (5.1%), diabetic retinopathy (4.8%), childhood blindness (3.9%), trachoma (3.6%), and onchocerciasis (0.8%). Therefore, considering such alarming data, the study of visual disabilities and their socio-historical context contribute to the development of knowledge on skills, different forms of social interactions and ways to intervene with these individuals, their families and communities(3). Like Winnicott(4) says, our equipment for life is a body and a personality full of singularities that gives us essential differences. The advantageous or disadvantageous character about these differences is determined according to the way it interacts with the environment. If a particular feature helps individuals to efficiently cope with the demands of their environment, it is advantageous. However, if it weakens them before any demand, it becomes disadvantageous. In addition, in several of the individuals’ relationship to their environment, some of their qualities are not advantageous or disadvantageous. The meaning attributed to a feature will depend on three factors: the individual or actor, the audience or the judge and the circumstances under which the trial takes place(4). Must be considered that each person is, before any reduction to a stigmatizing feature, someone with a life story full of meaning, experiences and wisdom and this should be considered in any intervention context as in most daily life situations. The visual impaired individuals daily activities study could be developed with the support of the Canadian Model of Occupational Performance, that is characterized by client-centered practice and understands the individual as being composed of physical, affective and cognitive components all interconnected with the essence of “being”, which is the spiritual element, besides considering that the environment consists of physical, social, cultural and institutional elements. This model classifies human occupation in three categories of activities, each containing some subcategories, as follows: self-care (personal care, functional mobility and functioning in the community), productivity (handling household chores and playing/school) and leisure (calm recreation and active recreation)(5). The aims of a visual rehabilitation work could be to understand and deal with fears and anxieties, orientation and mobility, time and space orientation techniques, teaching new skills and stimulating existing skills, practical and daily life activities, social interaction and adaptation to the environment, thus working with all aspects that will help these individuals feel confident and able to return to an active life in society(5,6). 373 Previously knowing the difficulties in performing daily activities that compromise the functionality of individuals with visual impairment who seek a visual rehabilitation service, optimizes treatment time and motivates the individuals and their families(7). With impaired eyesight, individuals are faced with problems such as social interaction, finding job and performing daily activities with independence and autonomy, resulting in a process of possible loss of self-esteem and self-worth(8). In addition to the possibility of drop in the level of performance and emotional fragility, these individuals have their occupational performance compromised, consequently decreasing their quality of life. The study of quality of life is an attempt to understand the human subjectivity that permeates the physical, mental and social well-being. However, to evaluate and measure quality of life requires a holistic understanding of the human being and society and is a quite complex action. The World Health Organization (WHO(9)defines quality of life as “individuals’ perception of their position in life in the context of the culture and value systems in which they live and in relation to their goals, expectations, standards and concerns” and its multidimensionality justifies the various ways it impacts life in society(10). This research is intended to provide data that characterizes the daily routine of this population using internationally validated instruments, contributing to the knowledge development about self-perception visually impairment individuals about their own limitations and on environmental constraints that impact their autonomy and functionality in society. The main purpose of this study is to identify levels of self-perception of occupational performance and quality of life of individuals with visual impairment and identify the relationship among the rates found for each investigated aspect. METHODS This is a descriptive and cross-sectional survey, in which the self-perception of occupational performance was measured through the application of the Canadian Occupational Performance Measure (COPM) and the self-perception of quality of life through the application of SF-36 with visual impaired individuals enrolled in a visual rehabilitation program of the Center for Studies and Research in Rehabilitation”Prof. Dr. Gabriel Porto”- CEPRE, Faculty of Medical Sciences (FCM)University of Campinas/Unicamp. Participants The research sample consists of 23 subjects who have been diagnosed with visual impairment (low vision or blindness) for over a year, aged 18 and older, ever participated in a visual rehabilitation program before data collection, who was accessing for the first time the visual rehabilitation program at Center for Studies and Research in Rehabilitation “Prof. Dr. Gabriel Porto”- CEPRE. Instruments Three instruments were used: a questionnaire to investigate the socio-demographic profile of the participants, developed by the researchers; The Canadian Occupational Performance Measure – COPM; and the Medical Outcomes Study 36 - Item Short Form Health Survey - SF-36. The first publication of the COPM took place in 1990 and since that it has been improved and translated into several languages, being used in over 35 countries. In Brazil, the COPM was translated in 2009 by Magalhães L C, Maga- Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (6): 372-7 374 Becker P , Montilha RCI lhães L V and Cardoso A A, all linked to the Federal University of Minas Gerais(11). This scale is a semi-structured questionnaire that measures the self-perception of clients in relation to their occupational performance and is grounded in Canadian Model of Occupational Performance concepts. This model suggests that occupational performance is a result of the relationships between the person, environment and occupation. The occupation can be classified into three categories - self-care, productivity and leisure - and other three sub-categories for each category: in the Self-care category, the subcategories are Personal Care, Functional Mobility, and Functioning in the Community; in the Productivity category, the subcategories are paid work or not, management of house keeping and school and play; and in the leisure category,the subcategories are calm recreation, active recreation and socialization(11). The SF-36 questionnaire is a general and multidimensional instrument of quality of life and its concepts are not specific to an age range, disease or treatment group. It consists of thirty-five questions covering eight domains: functioning capacity, physical aspects, pain, general health, vitality, social aspects, emotional aspects and mental health – in addition to a question that compares the self- perceived health of today and a year ago(12). Data collection The data collection interviews were integrated into the evaluation process of new users at CEPRE/Unicamp and this was the first contact with the service. Initially, anamnesis was carried out for socio-demographic profile collect data, then COPM was applied and, finally, the SF-36 questionnaire, in the period from august 2011 to march 2012. Data analysis The data were first analyzed as to their normality and homogeneity by the Shapiro-Wilk and Levene tests. To verify if the gender or professional practice would influence the dependent variables with normal distribution (functional capacity scores, mental health, vitality, social functioning, general health, physical, performance and satisfaction) was applied t Student Test and to verify if the gender and professional practice influence the other variables (pain, social and physical aspects) the MannWhitney test was conducted. To verify if the educational level and age (independent variables) influenced all dependent variables (functional capacity scores, mental health, vitality, social functioning, general health, physical, performance, satisfaction, and pain) were applied ANOVA one-way and, if necessary, posthoc Tukey. To evaluate the influence of categorical variables on each other (if the visually impaired and the education levels influence the professional practice and if visual impairment impacts is related to education levels) Q-square tests were applied. Finally, to assess whether there is a correlation between all variables, Pearson’s correlation and Spearman tests were applied depending on the variable normality- in which the higher the value of the correlation coefficient ( ) of both positive (> 0) and negative (< 0) was, the stronger was the association between the variables. All tests were conducted in Statistica 7.0 software and the variables were considered statistically significant when p <0.05. RESULTS The socio-demographic characteristics of the nonprobabilistic sample was: average age of 46.7 years, out of which 52.2% were females, most with low vision (74.0%) and with acquired visual impairment (73.8%). The age of onset of visual impairment was between 31 and 51 years of age (the average age Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (6): 372-7 was 36.5 years). The main causes of visual impairment among respondents were macular chorioretinitis due to toxoplasmosis (17.4%), followed by cataract (13.0%), diabetic retinopathy (13.0%) and Stargardt Disease (8.7%). Most respondents completed high school (52.2%) and only 13.0% of the sample was involved in professional activity, all of them with low vision. The activities that were most frequently mentioned by participants as difficult to perform, in accordance with the Canadian Model of occupational performance, a report of the self care category, in functioning in community subcategory (table 1). Table 1 Activities mentioned by the survey participants as difficult to perform and classified under the self-care category and its subcategories in accordance to COPM n = 23* Self-care activities ƒ % Personal Care Choosing clothes Putting toothpaste on the toothbrush Applying adhesive cream to the denture Being organized with the medication Taking showers Putting water in the glass 6 2 1 1 1 1 7.7 2.5 1.3 1.3 1.3 1.3 1 1 1.3 1.3 12 8 2 1 1 1 1 1 15.3 10.2 2.5 1.3 1.3 1.3 1.3 1.3 Functional Mobility Finding objects Going down steps Functioning in Community Taking the bus Walking alone on the street Going across the street Analysing merchandise prices in stores Reading signs on the street Using an analog and digital watch Using landline and cell phone Using the bank (*) Multiple responses Afterwards, in second place, was the productivity category, in the management of housekeeping subcategory (table 2). Table 2 Activities mentioned by the survey participants as difficult to perform and classified under the productivity category and its subcategories in accordance to COPM n = 23* Productivity ƒ % Handling household chores Cooking Sweeping the house Washing and ironing clothes Doing the dishes Serving yourself Performing minor repairs at home Making your bed 8 6 4 2 2 1 1 10.2 7.7 5.1 2.5 2.5 1.3 1.3 Playing/ School Following the teacher’s talk 1 1.3 (*) Multiple responses Desempenho ocupacional e qualidade de vida: inter-relações no cotidiano de pessoas com deficiência visual Overall, 28 activities considered difficult to perform were cited by the participants, totalling 76 multiple responses. Out of these responses, 57.10% fell within the self-care category (table 1), 28.60% into the productivity category (table 2) and 14.30% in the Leisure category (table 3). Table 3 Activities mentioned by the survey participants as difficult to perform and classified under the leisure category and its subcategories in accordance to COPM n = 23* Leisure ƒ % Calm recreation Reading Writing Watching TV 7 3 1 9 3.8 1.3 Active recreation Fishing 1 1.3 375 Regarding the levels of occupational performance, in the 1 to 10 scale proposed by Law et al.(11), a final average of 3.9 was found for performance and 3.8 for satisfaction. The results of the SF-36 questionnaire application, on a scale of 0 to 100, showed that the participants had a good assessment of their functional capacity, obtaining a final average of 75.8, and considered physical aspects their worst quality of life feature, with the low final average of 23.9. Some domains that make up the quality of life presented rates higher than 60 and therefore these are the domains in which respondents rated their best quality of life, as follows: vitality (69.1), mental health (64.8), general health (63.5) and social aspects (60.8), in addition to functional capacity (75.8) which was rated as their best feature. From this on, it was possible to verify the level of association between the domains that compose the COPM and SF-36 (table 4) scales, making it possible to obtain very interesting results. (*) Multiple responses Table 4 Values of correlation coefficients (r) relating to the crossings of the results found with the application of COPM and SF-36 Domains MEH VIT GEH PYA SCA EMA PAI FUC PER SAT MEH VIT GEH PYA SCA EMA PAI FUC PER SAT 1,000 0,784 1,000 0,514 0,471 1,000 NS NS 0,445 1,000 NS NS NS NS 1,000 NS NS NS 0,640 NS 1,000 0,484 NS NS NS NS NS 1,000 NS NS NS NS NS NS NS 1,000 0,429 0,557 NS NS NS 0,454 NS NS 1,000 NS 0,503 NS NS 0,450 NS NS NS 0,487 1,000 NS = not significant n = 23 The mental health (MEH) domain of the SF-36 scale stood out for having the largest number of statistically significant associations with other domains: general health (GEH), performance (PER), pain (PAI) and vitality (VIT). Another domain that was highlighted due to association with others was vitality. It was statistically associated with performance, satisfaction (SAT) and general health. The emotional aspects domain showed statistically significant associations with the physical aspects (PYA) domain of the SF-36 questionnaire and the performance (PER) domain of COPM. Another case of a statistically significant association between domains was between the social aspects (SOA) of SF-36 and satisfaction assessed by COPM. DISCUSSION Regarding the socio demographic data found in the research, similar results were found in another study conducted in 2011(13), also at CEPRE- FCM-UNICAMP. For example, the average age of this sample was 46.7 years old, while in this another study was 41 years, showing that maybe this is the approximated majority age that people with visual impairment search for an visual rehabilitation program. Another finding with similar values between the two studies is related to the frequency in the type of visual impairment. In this study, blindness represents 26% of the interviewed cases and low vision the remaining 74%, while in the study carried out in 2011, 34.8% of cases represented blindness and 65.2% represented low vision, corroborating with other studies datas that indicate that low vision is more prevalent in the general populationthanblindness(9,14). According to diagnosis found as cause of visual impairment, toxoplasmosis chorioretinitis (17.4%) and diabetic retinopathy (4.3%) were highlighted as the most incidents preventable diseases. Unfortunately, it worth pointing out that the toxoplasmosis infection is still common in the Brazilian population. The significant incidence of toxoplasmosis is a result of low socio-economic conditions still found in several regions in Brazil and it is even more impressive when it has congenital character an disassociated Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (6): 372-7 376 Becker P , Montilha RCI with intellectual disability. Congenital toxoplasmosis and its consequences can be prevented through primary prevention, providing the necessary information to susceptible pregnant women, mainly information on the sources of infection and prevention(15). Diabetic retinopathy is considered a preventable disease by WHO and in 2002 represented 4,8% (or 5 million people) of blindness cases in the world(16-18). As the incidence of diabetes increases gradually over the years, there is a possibility that more people will suffer from eye complications and, if not properly controlled, it can result in permanent visual damage. Health promotion actions that address topics such as healthy eating can be effective in controlling the disease progression17. Regarding the results from the application of the COPM, some of the activities cited by respondents as difficult to achieve required levels of certain skills such as discrimination of colors, textures and shapes, spatial orientation and body schema. ‘Taking urban buses’ was the most frequently mentioned activity (twelve times), followed by ‘walking alone on the street’ (eight times). This shows that to the visually impaired individuals interviewed, it was very difficult to use public transport and that they felt unsafe to walk independently on the city’s streets. A significant percentage of people with visual impairments tend to fall while walking at least once a month, requiring medical care, and the frequency of this event interferes in walking routine, reducing the confidence to walk unaccompanied (19) . The adjustment lack with the environment, tools and public transport hamper the independent performance of several activities mentioned by the participants. Nowadays, studies has already described features or instruments that has potential to facilitate the mobility of these individuals, such as sound traffic lights, tactile floors, elimination of barriers on sidewalks, such as signposts, public telephones, trees, gardens and poorly positioned trash cans, in addition to communication media adapted to the use of Braille and audio devices, but all of these tools are not commonly used in Brazil.The environment in which individuals live has a significant impact on the experience and the extent of their disabilities. Inaccessible environments generate disabilities by creating barriers to participation and inclusion(20). The difficulties in occupational performance mentioned by the respondents show that they could benefit from a visual rehabilitation program as most include activities that can be supported by suitable low-tech tools and skills development techniques that are present in a program of this type, tools used primarily by occupational therapy professionals as habilitation strategies or visual rehabilitation. Visual rehabilitation aims to maximize the use of the residual vision of individuals, optimizing their autonomy and independence in the habilitation or rehabilitation in basic activities of daily life, in productive activities and also in leisure, providing security and confidence in the integrated use of their remaining senses (6,10,21) . Regarding rates of occupational performance, the low selfevaluation found for satisfaction in regard to performance can make these individuals lose their motivation to maintain an active attitude about their own lives or about the lives of people with whom they relate. In addition to impaired performance, another factor that may have contributed to the low rates of satisfaction is the process of stigma internalization, in other words, individuals recognize themselves as stigmatized, which reduces their self- Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (6): 372-7 esteem and self-efficacy, perception of disrepute, limited prospects for recovery and restriction of social networks(22). Regarding the quality of life self-evaluation, the results stand in opposition to those found with the application of COPM regarding functionality/performance. This is because the results of COPM showed low levels of performance in daily life activities of the sample, while the highest final average found for the domains of quality of life assessed is relative to functional capacity. Note that the concepts underlying each of the questionnaires differ. COPM considers and evaluates the functionality of respondents in activities that are culturally and contextually relevant to them. Moreover, in COPM it is suggested to respondents that they provide scores to the activities that they are struggling to accomplish at the moment, so the results found are not obtained by measuring data from the assessment of activities that are not a problem for them or that do not have meaning in their daily lives. SF-36,on the other hand, is a closed questionnaire that assesses pre-determined activities such as running, lifting heavy objects, playing ball, sweeping the house, climbing several flights of stairs, kneeling, bathing, dressing, walking several blocks, among others,in other words, activities that are not found to be relevant by this sample, thus making the results unreliable when considering the reality of these individuals. Considering the most significant interrelations found between the assessed domains, we highlight the mental health of SF-36, as it presented the highest number of statistically significant relations with other domains: general health, pain, vitality and COPM’s performance. These findings are consistent with another research (23) which concludes that visual ability is a multidimensional construct determined by visual acuity, physical ability cognition and mental states, like depression, explaining more than one-third of the variance in visual ability. The Physical Aspects domain obtained the lowest average - 23.9 – among the respondents, a fact that is consistent with the type of disability experienced bythese individuals. The physical conditions self-evaluation of this sample was the factor that most contributed to the low final level of quality of life. Another study(24) that used the SF-36 scale to investigate the quality of life of elderly people with visual impairment, athletes and nonathletes, also found low rates for physical aspects - 51.6 - from sedentary people, however, high rates were obtained by respondents who used to practice sports - 93.1 - causing the authors to conclude that practicing sports optimizes thelevels of quality of life in these individuals. About the application of COPM, it has shown to be an important strategy for professionals who want to get closer to the everyday reality of their clients. Through its application, it is possible to understand the daily life of individuals affected by visual impairment, enabling the analysis of the demands of each task that is important to the occupational performance of respondents. CONCLUSION The frequency of low vision and blindness found in this study corroborates with the prevalence of these disease in another important studies in the same area, which punctuate the existence of more individuals affected by low vision than blindness in the world. The main causes of visual impairment among the respondents are also consistent with the WHO data, especially with the alarming incidence of preventable cases of Desempenho ocupacional e qualidade de vida: inter-relações no cotidiano de pessoas com deficiência visual diabetic retinopathy and chorioretinit is due to toxoplasmosis in the Brazilian territory. The self-perception in regard to occupational performance was low for individuals with visual impairment, but individuals affected by low vision assessed their performance better than individuals affected by blindness. The quality of life domain that was best rated was functional capacity and physical aspects was the worst. Only emotional aspects and physical aspects domains were rated below average. When analyzing the association of the results from SF-36 with the results from COPM, we conclude that although most of the independent findings of both scales are reliable in regard to reality of the sample, the analysis of the data association related to the Functional Capacity domain of SF-36 and the Performance domain of COPM suggest essential differences in theoretical basis for the two scales regarding the respondents’ functionality approach. Therefore, the combined use of these two scales is not suitable for analyzing the functionality of visually impaired individuals. Regarding mental health levels and their interrelations with other assessed domains, it is possible to affirm that this aspect is associated with respondents emotional and functional issues, with the self-perception of General Health and also in how they perceived their occupational performance in carrying out activities they consider important in their lives. This study reiterates the benefits that individuals affected by visual impairment may achieve from participating in rehabilitation programs that count on interdisciplinary teams with the aim of providing the highest possible level of autonomy and independence in their daily activities. REFERENCES 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. Lancman S, Grirardi MI. Pensando novas práticas em Terapia Ocupacional, saúde e trabalho. Rev Terap Ocupac. 2002; 13(2):44-50. World Health Organization (WHO). Health topics: blindness. Visual impairmentand. blindness. Geneve: WHO; 2002 [cited 2015 Mar 4]. 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Autor correspondente: Paula Becker Rua Tessália Vieira Camargo, nº 126 Cidade Universitária Campinas (SP), Brazil Zip code: 13083-887 Phone: (19) 3521-8814 / (19) 3521-8801 E-mail: [email protected] Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (6): 372-7 378 ARTIGO ORIGINAL Padronização do critério de exclusão para o vírus HTLV I e II nos bancos de olhos do Brasil Standardization of the exclusion criteria for the HTLV I and II in brazilian eye banks Gyanna Lys de Melo Moreira Montenegro1, Daniel Alves Montenegro2, Antônio Moreira Montenegro3, Jamili Anbar Torquato4 RESUMO Objetivo: Investigar em quais Bancos de olhos do Brasil o HTLV I e II é utilizado como critério de exclusão para córnea. Atualmente a legislação brasileira pela Lei nº 9.434/97 e Portaria 2600/09 determina que a cada doação devem ser realizados, obrigatoriamente, testes laboratoriais de triagem de alta sensibilidade, para detecção de marcadores para doenças infecciosas transmissíveis pelo sangue: Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), Vírus da Hepatite B (HbsAg), Anticorpo do Vírus da Hepatite B (AntiHBs), Anticorpo do Vírus da Hepetite B total (Anti-HBc total) e Vírus da Hepatite C (Anti-HCV), no entanto, o Capítulo VI, art. 47, alínea a exclui o Vírus Linfotrópico das Células T-Humanas (HTLV) como critério de exclusão para doadores de córnea. Métodos: Para a realização da pesquisa, foram analisadas as informações de 35 Bancos de Olhos pela base de dados da Central de Transplante da Paraíba, avaliados através do Teste de Homogeneidade do Qui-Quadrado. Resultados: Constatou-se que a sorologia positiva para HTLV I e II foi considerada critério de exclusão em 18 dos 35 Bancos de Olhos analisados. Quanto à análise geográfica dos Bancos de Olhos do Brasil, os da região Nordeste e Sul foram os que mais consideraram o HTLV como critério de exclusão. Conclusão: Os Bancos de Olhos analisados não apresentaram diferença ou associação significativa entre os que consideram e os que não consideram este critério, mostrando, desta forma, não haver uma padronização entre os Bancos de Olhos do Brasil. Descritores: Doadores de tecidos; Córnea; Bancos de olhos/normas; Vírus 1 linfotrópico T humano ABSTRACT Objective: Investigate in which eye banks in Brazil the HTLV I and II is used as exclusion criteria for cornea. Nowadays Brazilian Legislation, through Law nº 9.434/97 and Ordinance 2600/09 determines that for each donation, laboratory screening tests of high sensibility must be done mandatorily for detection of markers of infectious diseases transmissible by blood: Human Immunodeficiency Virus (HIV), Hepatitis B Virus (HbsAg), Antibody of the Hepatitis B Virus (AntiHBs), Antibody of total Hepatitis B Virus (total AntiHBc) and Hepatitis C Virus (Anti-HCV), however, paragraph a of Chapter VI, Art. 47 excludes the HTLV as exclusion criteria for cornea donors. Methods: For the realization of this research, information from 35 eye banks was analyzed, through the database of the Transplant Central of Paraiba, evaluated through the Chi-Square Homogeneity Test. Results: It was observed that the positive serology for HTLV I and II was considered exclusion criteria in 18 of the 35 eye banks analyzed. In relation to the geographic analysis of the Eye Banks in Brazil, the ones in the Northeastern and Southern regions were the ones that most considered the HTLV as exclusion criteria. Conclusion: The analyzed Eye Banks did not present difference or significant association between the ones that consider and the ones that do not consider this criterion, showing, this way, that there is not a standardization among the Eye Banks in Brazil. Keywords: Tissue donors; Cornea; Eye banks/standards; Human T-lymphotropic virus 1 1 Ambulatório de Nefrologia do Hospital Universitário Lauro Wanderley, Universidade Federal da Paraíba; Central de Transplantes da Paraíba (CNCDO/PB) – João Pessoa (PB), Brasil; 2 Centro de Tratamento da Visão João Pessoa (PB), Brasil; 3 Programa de Residência em Oftalmologia do, Hospital das Clínicas, Universidade Federal de Pernambuco, Recife (PE), Brasil. 4 Universidade Cruzeiro do Sul – São Paulo (SP), Brasil. Trabalho realizado na Central de Transplante da Paraíba - CNCDO/PB – João Pessoa, PB, Brasil. Os autores declaram não haver conflitos de interesse. Recebido para publicação em 24/11/2014 - Aceito para publicação em 2/8/2015 Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (6): 378-81 Padronização do critério de exclusão para o vírus HTLV I E II nos bancos de olhos do Brasil 379 INTRODUÇÃO MÉTODOS Trata-se de uma análise dos 48 (quarenta e oito) Bancos de Olhos cadastrados no Sistema Nacional de Transplante (SNT), tomando por base sua distribuição geográfica e seu posicionamento quanto à utilização do HTLV como critério de exclusão para transplante de córnea. As informações de 35 (trinta e cinco) bancos distribuídos nas cinco regiões do país foram extraídas da base de dados da Central de Transplante da Paraíba, após aprovação pelo Comitê de Ética do Hospital Universitário Lauro Wanderley/UFPB: CAAE: 34859214.7.0000.5183. Foi utilizado o Teste de Homogeneidade Qui-Quadrado, equivalente ao teste de comparação de duas proporções, por se tratar de uma amostra com variável categórica dicotômica (Sim/ Não), com nível de significância de 5% (0,05). Figura 1: Vírus HTLV Fonte: Sciepro/Science Photo Library/Corbis(1) A s doenças da córnea são a segunda causa de cegueira reversível no mundo(2) representando importante cau sa de perda da capacidade visual, podendo levar a consequências psicológicas e econômicas para o indivíduo e sociedade(3). Tais doenças atingem uma população jovem e ativa, chegando a levar a uma importante perda econômica e social(2,3). A falta de tecidos doados e de Bancos de olhos capacitados para fornecer córneas em número e qualidade adequada para transplantes é uma realidade, apesar dos esforços realizados(2). É preciso ressaltar que o avanço das técnicas cirúrgicas e a melhora nos resultados obtidos pela cirurgia do transplante de córnea nos últimos anos, propiciaram maiores expectativas de reabilitação visual às pessoas que não dispunham de outra opção de recuperação(2). Necessário se faz pontuar, entretanto, que em alguns países em desenvolvimento, ocorre dificuldade de acesso à assistência oftalmológica, decorrente tanto de fatores socioeconômicos, culturais, bem como de obstáculos impostos pelo sistema de saúde insuficiente(2). Existem ainda outros fatores que influenciam no processo de transplante, os testes sorológicos e os critérios de exclusão utilizados pelos Bancos de Olhos do Brasil. Observou-se que ocorre uma divergência na Portaria 2600/2009 no que diz respeito ao Vírus Linfotrópico T-Humano (HTLV), que para órgãos e outros tecidos é considerado critério de exclusão, mas para córnea esse critério não é utilizado. Diante deste quadro, o objetivo do estudo foi investigar em quais Bancos de Olhos do Brasil o HTLV I e II é utilizado como critério de exclusão para córnea, por meio da análise de informações da Central de Transplante da Paraíba. A Infecção pelo Vírus HTLV é uma doença que infecta as células de defesa do organismo, os linfócitos T. Sua transmissão ocorre da mesma forma que a do HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana)(4). O HTLV induz eventos de polarização das células, o que propicia a junção de células infectadas com não infectadas, facilitando a passagem do vírus. Esse processo é denominado de “sinapse viral induzida”(5). O presente artigo propõe que o Vírus Linfotrópico das Células - T Humano (HTLV I e II) seja adotado como critério de exclusão em doações de córnea, padronizando o procedimento na Portaria 2600/09, no seu Capítulo VI, art. 47, inciso II, alínea a. RESULTADOS O presente estudo constatou que a comparação dos percentuais de bancos de olhos que excluem o vírus HTLV na doação de córneas e os que não excluem o HTLV, ou seja, 18 bancos de olhos (51%) x 17 bancos de olhos (49%) por meio do teste de homogeneidade de Qui-Quadrado, não apresentou diferença significativa entre as proporções de respostas “Sim x Não”, conforme demonstrado na figura 2. Figura 2: Exclusão do HTLV nas doações de córneas Por meio das informações da Central de Transplante da Paraíba, concluiu-se que em 35 Bancos de Olhos distribuídos nas cinco regiões do Brasil, o critério de exclusão do vírus HTLV para córnea se apresenta conforme os dados demonstrados na tabela 1. Tabela 1 Critérios de exclusão do HTLV segundo as cinco regiões do Brasil Critério de exclusão (HTLV) Regiões do país Total n Sim Não % n % n % 11,1 22,2 5,6 22,2 38,9 2 3 1 7 4 11,8 17,6 5,9 41,2 23,5 100 17 100 - Norte - Nordeste - Centro-Oeste - Sudeste - Sul 4 7 2 11 11 11,4 20,0 5,7 31,4 31,4 2 4 1 4 7 Total 35 100 18 Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (6): 378-81 380 Montenegro GLMM, Montenegro DA, Montenegro AM, Torquato JA A figura 2 apresenta a distribuição conjunta dos critérios de exclusão do vírus HTLV para doações de córnea nas cinco regiões do Brasil, assim distribuídos nas regiões Norte (4; 11,4%), Nordeste (7; 20,0%), Centro-Oeste (2; 5,7%), Sudeste (11; 31,4%) e Sul (11; 31,4%). Dentre o total de n = 35 (100%), 18 bancos de olhos (51,0%) responderam sim a este critério de exclusão, enquanto 17 bancos de olhos (49,0%) responderam não. Figura 2: Banco de olhos nas regiões do Brasil e a exclusão do HTLV DISCUSSÃO De acordo com a Lei n 9.434, de 4 de fevereiro de 1997, que dispõe sobre a remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante, “a realização de transplantes ou enxertos de tecidos, órgãos e partes do corpo humano só poderá ser autorizada após a realização, no doador, de todos os testes de triagem para diagnóstico de infecção (...)”(6). Criados pela Portaria no 902/GM de 16/08/2000(7), no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), os Bancos de Olhos têm como uma de suas competências a realização de exames laboratoriais necessários à identificação de possíveis contraindicações para a utilização das córneas doadas, garantindo a qualidade dos tecidos oculares distribuídos. Nestes testes, a realização de triagem do HTLV I e II é excluída quando se trata do tecido corneano, possibilitando divergência de condutas entre os bancos de olhos(8). Paira uma discussão acerca do risco de transmissão do HTLV associado ao transplante de córnea(9). A respeito deste risco, Salahuddin et. al.(10) relataram o isolamento de células T humanas no epitélio da córnea de um potencial doador. No referido relatório, os cientistas baseiam-se na demonstração de que o vírus está presente em lágrimas e epitélio conjuntival em pacientes com AIDS e consideraram que se trata de uma prova da distribuição generalizada do vírus. É desconhecido ainda se estruturas oculares mais profundas podem albergar o vírus. Nesta pesquisa, os autores não detectaram vírus no estroma da córnea, nos queratinócitos, ou no endotélio, mas reconheceram que é prudente considerar esses tecidos como possíveis locais para infecção até que estudos mais definitivos sejam realizados. Já o estudo do European Centre for Disease Prevention and Control (ECDC)(11) levanta a questão sobre o procedimento no qual o tecido do doador é lavado exaustivamente e mantido em cultura de tecidos por um período prolongado antes da utilização, reduzindo a adesão de linfócitos e o risco de ocorrer a transmissão do HTLV via transplante de córnea, levando a considerar o risco como extremamente remoto. Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (6): 378-81 O’Day(12) relata que a quantidade de vírus presente no tecido constitui um inóculo infectante, mas desconhece quantos doadores de córnea são portadores deste vírus, bem como se a infecção é possível por meio do transplante. Embora não haja um caso comprovado de infecção após a ceratoplastia, seria prematuro descartar o risco ou considerá-lo mínimo ou inexistente. Quanto sua distribuição geográfica o vírus HTLV, segundo a pesquisa de Portela(13), tem maior prevalência na África Central, em diferentes áreas da Europa, sul da América do Norte, América do Sul, incluindo o Brasil. Dentre os Estados brasileiros, na Bahia, o HTLV tem se manifestado com maior incidência, além do Rio de Janeiro, Pará e Rio Grande do Sul. Como sugestão Thomas et. al.(14), em um estudo realizado no Reino Unido, propõem que enquanto não seja possível a realização de testes confiáveis para detecção do HTLV, seja implantada uma política na qual os pacientes possam ser informados sobre a natureza e manifestações da doença, sua possibilidade de transmissão através do transplante de córnea, e assim possam decidir se aceitam córneas que não passem pela seleção para o HTLV. Esta seria uma alternativa até que o problema seja resolvido. A APABO(15), integrante-fundadora da Global Alliance of Eye Bank Associations (GAEBA) juntamente com as seis associações internacionais de Bancos de Olhos estão trabalhando na unificação das normas. Logo serão oficializadas as “Normas Médicas Internacionais para os Bancos de Olhos”, com o respaldo da World Health Organization (WHO). Atualmente de acordo com as Normas Médicas da APABO para disponibilização dos tecidos oculares é obrigatória a apresentação dos resultados finais não reagentes nos testes de detecção para Hepatite B, Hepatite C e HIV-1 e HIV-2(16). Em breve, tais normas incluirão a realização dos exames laboratoriais para HTLV I-II como critério obrigatório na triagem do doador. Tanto que, com a publicação da nova RDC para Bancos de Tecidos, os testes passarão a ser exigidos para os tecidos oculares(16). A classificação internacional de um sistema de identificação único para os doadores será cada vez mais importante para a vigilância e rastreabilidade na exportação transnacional de células humanas e tecidos(17). Sempre existe a oportunidade para melhoria da qualidade com a manutenção de uma vigilância constante(17). É preciso lembrar que a epidemia da Aids já apresentou muitos desafios para a medicina, portanto, não podemos ignorar os riscos do vírus HTLV. Tal questionamento nos leva a olhar com cuidado para a segurança de nossos pacientes, enquanto nos esforçamos para eliminar qualquer possibilidade de risco. CONCLUSÃO Os resultados da análise apontam para a inexistência de uma normatização nos Bancos de Olhos do Brasil, no que se refere considerar ou não o HTLV I e II como critério de exclusão para doação de córnea. Faz-se necessário a inclusão dos mesmos critérios utilizados para os outros tecidos, o que garantirá a qualidade das córneas e seu uso de forma universal. Conclui-se, portanto, que não há predomínio, dentre os 35 bancos de olhos analisados, em considerar ou não o HTLV como critério de exclusão nas doações de córnea. Ressaltando-se que os bancos de olhos do Nordeste são os que mais utilizam o HTLV como critério de exclusão, ao passo que os bancos de olhos do Sudeste são os que menos consideram este critério. Padronização do critério de exclusão para o vírus HTLV I E II nos bancos de olhos do Brasil AGRADECIMENTOS Ao José Josinaldo Félix Vieira Júnior e a Manuela Mariz Nóbrega, da Central de Transplantes da Paraíba. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. Brasil. Ministério da Saúde. Blog da Saúde. HTLV, o parente desconhecido do HIV. [citado 2015 Ago 29]. Disponível em w w w. b l o g . s a u d e . g o v. b r / i m a g e s / s a u d e e m d i a / VirusSciepro_SciencePhotoLibrary_Corbis.jpg. Almeida HG, Souza AC. Perfil epidemiológico de pacientes na fila de transplante de córnea no estado de Pernambuco - Brasil. 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Dubord PJ, Evans GD, Macsai MS, Mannis MJ, Glasser DB, Strong DM, Noël L, Fehily D. Eye banking and corneal transplantation communicable adverse incidents: current status and project NOTIFY. Cornea. 2013;32(8):1155-66. Autor correspondente Gyanna Lys de Melo Moreira Montenegro Central de Transplante da Paraíba Ambulatório Benedita Targino Maranhão Av. Rio Grandedo Sul, s/nº – Bairro dos Estados CEP 58030-020 – João Pessoa (PB), Brasil Tel: (83) 3244-6192 / 8845-3516 E-mail: [email protected] Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (6): 378-81 ARTIGO ORIGINAL 382 Perfil paquimétrico horizontal para a detecção do ceratocone Horizontal pachymetric profile for the detection of keratoconus Bernardo Teixeira Lopes Renato Ambrósio Jr.1,2,3 1,2,3 , Isaac de Carvalho Ramos 1, Marcella Quaresma Salomão, Ana Laura Caiado Canedo1 , RESUMO Objetivo: Avaliar a capacidade de dados de perfil paquimétrico horizontal, a fim de distinguir o ceratocone de córneas normais, e comparar a precisão de índices com outros tomográficos mais complexos. Métodos: Em um estudo retrospectivo, um olho selecionado aleatoriamente de 225 pacientes com ceratocone bilateral e de 335 pacientes com córneas normais foram incluídos. Todos os pacientes foram examinados por um especialista em córnea e foram submetidos ao exame de tomografia de córnea, Pentacam HR (Oculus, Wetzlar, Alemanha). Os dados de perfil paquimétrico horizontal em 6 milímetros passando pelo ápice foi avaliado. Com esses dados, a espessura no ápice corneano (P.ápice), a espessura no ponto mais fino do perfil horizontal (P.min.H), a progressão paquimétrica do ponto mais fino para o mais espesso (PPmin-máx), a progressão paquimétrica média no meridiano temos como referencial a média normal (PPméd) e a adequação a uma linha de tendência polinomial do segundo grau (R2). Um modelo de inteligência artificial foi construído para combinar esses dados. O desempenho para distinguir ceratocone do normal foi avaliada por curvas ROC. Resultados: Todos os índices avaliados foram estatisticamente diferentes entre os dois grupos (p <0,001). A área sob a curva ROC (AUC) de paquimetria no ápice e no TP foram de 0,904 e 0,938, respectivamente. O índice tomográfico com maior AUC foi o BAD-D (0,997). Em relação ao perfil horizontal, a AUC do P.min.H e PPmin-max foram 0,915 e 0,927, respectivamente. A adequação à linha de tendência para o gráfico de espessura no ápice apresentou AUC 0,896. O melhor desempenho foi obtido com o PPméd (AUC 0,932 Sensibilidade = 84,4% e especificidade de 92,5%). O modelo de inteligência artificial combinando todos os itens derivados do perfil horizontal melhorou o desempenho (AUC 0,991 Sens. = 96% e espec. = 98%). Conclusão: O perfil de espessura horizontal permite detectar o ceratocone, com capacidade comparável aos índices mais complexos. Esse tipo de análise pode fornecer o básico para novas abordagens, que utilizem dados presentes em aparelhos mais simples que o tomógrafo, reduzindo o custo para os pacientes. Descritores: Ceratocone/diagnóstico; Doenças da córnea; Córnea/anatomia & histologia; Tomografia/normas ABSTRACT Purpose: To evaluate the ability of horizontal thickness profile to distinguish keratoconus from normal corneas, and compare the accuracy of these indices with more complex tomographic indices. Methods: In a retrospective study, one eye randomly selected from 225 patients with bilateral keratoconus and 335 patients with normal corneas were included. All patients were examined by a corneal specialist and underwent the examination of corneal tomography, Pentacam HR (Oculus, Wetzlar, Germany). Data of horizontal pachymetric profile passing through the apex of 6 mm was evaluated. With these data, the thickness at the corneal apex (P.ápice), the thickness of the thinnest point of the horizontal profile (P.min.H), the pachymetric progression from the thinnest point to the thickest (PPmin-max), the average pachymetric progression in the meridian as reference the average from the normal population (PPméd) and the fitness with a second degree polynomial trendline (R2). An artificial intelligence model was built to combine this data. The performance for distinguishing normal keratoconus was evaluated by ROC curves. Results: All of these indices were statistically different between the two groups (p <0.001). The area under the ROC curve (AUC) thickness at the apex and TP were 0.904 and 0.938, respectively. The tomographic index with higher AUC was BAD-D (0.997). Regarding the horizontal profile, the AUC of PP.min.H and PPmin-max were 0.915 and 0.927, respectively. The fitness to the trendline to the horizontal thickness graph AUC was 0.896. The best performance was obtained with the PPméd (AUC 0.932 sensitivity = 84.4% and specificity of 92.5%). The artificial intelligence model combining all items derived from horizontal profile improved performance (AUC 0.991 Sensitivity = 96% and specificity of 98%). Conclusion: The horizontal thickness profile can detect keratoconus, with a capacity comparable to more complex indices. This type of analysis can provide the basics for new approaches, using data present in simpler devices than the tomographer reducing the cost for the patients. Keywords: Keratoconus/diagnosis; Coneal diseases; Córnea/anatomy & histology; Tomography/standards 1 Rio de Janeiro Corneal Tomography and Biomechanical Study Group – Rio de Janeiro (RJ), Brasil; Universidade Federal de São Paulo – São Paulo (SP), Brasil; 3 Instituto de Olhos Renato Ambrósio – Rio de Janeiro (RJ), Brasil. 2 Os autores declaram não haver conflitos de interesse. Recebido para publicação em 1/8/2015 - Aceito para publicação em 25/8/2015 Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (6): 382-5 Perfil paquimétrico horizontal para a detecção do ceratocone INTRODUÇÃO O ceratocone, a ectasia corneana mais frequente, teve seu diagnóstico impulsionado nas últimas décadas pela introdução de novas tecnologias à prática oftalmológica(1, 2). Desde a introdução da análise computadorizada das imagens de Placido, em 1959, por Reynolds e Kratt(3) e pela sua evolução concluída por Klyce nos anos 80(4), com a introdução de mapas coloridos da superfície corneana anterior, o uso de novas ferramentas diagnósticas cresceram em ritmo intenso. Atualmente dispomos de imagens seccionais da córnea capazes de fornecer imagens das superfícies corneanas anterior e posterior, assim como um mapa paquimétrico completo com medidas de espessura em mais de 10.000 pontos (os tomógrafos corneanos)(5-7). Entretanto, junto com esse arsenal propedêutico há um custo associado, que limita seu uso disseminado por toda a população. Ainda mais em país com sérios problemas no sistema de saúde como o nosso. Tendo isso em mente, há um esforço crescente para tentar extrair o máximo de poder diagnóstico com o mínimo de informações da córnea. Com auxílio das ferramentas de aprendizado de máquina e inteligência artificial, descrevemos uma nova abordagem para o diagnóstico do ceratocone, que utiliza apenas os dados de espessura em 6mm de extensão no meridiano horizontal da córnea tendo como centro o seu ápice. 383 apenas imagens com boa qualidade fossem incluídas no estudo. Esse tipo de captura automática permite uma maior confiabilidade para identificação do ápice corneano e reprodutibilidade dos resultados do tomógrafo. Os dados de espessura do meridiano horizontal passando pelo ápice com 6mm de extensão (intervalos de 0,2mm) e centro no ápice corneano foram avaliados. As principais variáveis incluídas na análise foram: a espessura corneana no ápice (P.ápice), o ponto de menor espessura nesse meridiano (P.min.H), a progressão paquimétrica do ponto mais fino para o ponto mais espesso (PPmin-max), a progressão paquimétrica média no meridiano tendo como referencial a média normal (PPméd) e a adequação a uma linha de tendência polinomial do segundo grau (R2), uma vez que o gráfico de paquimetria horizontal nos casos normais forma uma parábola, enquanto nos casos de ceratocone essa forma não é vista na maioria dos casos (figura 1). Os casos de ceratocone foram estadiados em 4 grupos de acordo com o sistema topográfico de classificação presente no pentacam (TKC). MÉTODOS Seleção de pacientes O presente estudo seguiu as recomendações da resolução do CNS 466/12 e obteve aprovação em comitê de ética da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Em um modelo retrospectivo, os prontuários de pacientes com diagnóstico clínico de ceratocone e pacientes com córneas normais foram revisados. Um olho randomicamente selecionado de cada paciente foi incluído no estudo. Todos os pacientes foram examinados por um mesmo especialista em córnea (RA Jr). Pacientes com diagnóstico neste estudo foram definidos pelos sinais a seguir: achados típicos na topografia de Placido como assimetria ínferosuperior para-central e/ou padrão em gravata de borboleta assimétrica, com ou sem eixos enviesados e ao menos um sinal clínico incluindo: afinamento estromal, protrusão cônica da córnea, anel de Fleischer, estrias de Vogt, aumento dos nervos corneanos, aumento da intensidade do reflexo do endotélio corneano, linhas fibrilares subepiteliais e sinais de Munson e Rizutti. O uso das lentes de contato foi descontinuado por pelo menos três semanas para as rígidas e uma semana para as gelatinosas antes das medidas. Pacientes com história prévia de cirurgia ocular, cicatriz corneana extensa, doença do tecido conjuntivo ou gestação nos últimos 12 meses foram excluídos. Exame de tomografia Todos os pacientes foram submetidos ao exame de tomografia de córnea por método rotacional de Scheimpflug (Pentacam HR, Oculus Gmbh, Wetzlar, Alemanha). Um examinador experiente adquiriu as imagens de maneira automática após alinhamento correto utilizando o joystick. Foram utilizadas 25 imagens simples de Scheimpflug capturadas em 2 segundos para cada olho. A qualidade das imagens foi conferida para que Figura 1: Perfil paquimétrico horizontal de paciente com córnea normal (azul) e com ceratocone (vermelho) e sua adequação ao gráfico polinomial do segundo grau (parábola) Análise estatística A normalidade da distribuição das amostras foi inferida através de teste de adesão à normalidade de KolmogorovSmirnov. Os grupos foram então comparados pelo método nãoparamétrico de Mann-Whitney. Foram construídas curvas ROC para as variáveis com diferença estatisticamente significante e a acurácia foi medida através da área sob a curva ROC. Os dados foram analisados utilizando o programa SPSS 20.0 (IBM SPSS statistics, Armonk, Nova Iorque, EUA). Máquina de vetores de suporte Em nosso estudo empregamos um método de classificação automatizado utilizando dados de espessura central para discriminar entre olhos normais e com ceratocone de uma maneira objetiva e quantitativa. A máquina de vetores de suporte (do inglês, SVM) foi gerada por algoritmo de inteligência artificial pelo software kernlab (R packages, versão 0.9.19). Esse tipo de abordagem é particularmente útil quando o conjunto de dados não é linearmente separável. Nesse caso os dados são mapeados em um espaço dimensional mais avançado onde uma superfície de separação pode ser encontrada (hiperplano). A figura 2 exemplifica o hiperplano. Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (6): 382-5 384 Lopes BT, Ramos IC, Salomão MQ, Canedo AC , Ambrósio Jr R Figura 2: Exemplo do hiperplano otimizado para separar dados não linearmente separáveis Para avaliar a capacidade de generalização do nosso modelo, utilizamos dentro do algoritmo uma técnica de validação cruzada em dez partições (10-fold cross validation). Com isso estimamos o quão acurado é o modelo na prática, ou seja, o seu desempenho para um novo conjunto de dados. Esse método é empregado dividindo aleatoriamente a amostra em 10 subamostras de tamanho aproximadamente igual. Utiliza-se, então, os dados de 9 dessas subamostras para construir o modelo, a amostra omitida é utilizada para avaliar a taxa de erro do modelo. Repete-se o processo 10 vezes e o modelo com a menor estimativa de erro na validação cruzada é o utilizado. Figura 3: Distribuição dos pacientes com ceratocone nos seus quatro grupos de estadiamento em relação aos normais para a P.min RESULTADOS Foram incluídos 335 olhos de 335 pacientes com córneas normais e 225 olhos de 225 pacientes com ceratocone. A idade média no grupo normal foi de 35 ± 3.2 anos e 33 ± 5.1 anos. Todos os índices avaliados apresentaram diferença estatisticamente significante entre os grupos (p<0,001). A área sob a curva ROC (AUC) foi de 0,904 (sensibilidade 81%, especificidade 86%) para a espessura corneana no ápice (P.ápice) e de 0,938 (sensibilidade 85%, especificidade 90%) para espessura corneana no ponto mais fino (P.min). Em relação aos índices derivados da espessura no ápice corneano. A espessura no ponto mais fino do perfil horizontal (P.min.H) teve AUC de 0,915 (sensibilidade 80,1%, especificidade 88,3%) e a progressão paquimétrica do ponto mais fino para o mais espesso (PPmin-max), AUC 0,927 (sensibilidade 85,8%, especificidade 90,7%). A adequação a linha de tendência (R2) teve AUC de 0,896 (sensibilidade 75%, especificidade 95%). A melhor performance foi observada na progressão paquimétrica média em relação aos normais (PPméd), AUC 0,932 (sensibilidade 85%, especificidade 92,5%). O modelo gerado com a máquina de vetores de suporte (SVM) teve AUC de 0,991 (sensibilidade 96%, especificidade 98%). As figuras 3 e 4 mostram a distribuição dos pacientes com ceratocone nos seus quatro grupos de estadiamento em comparação ao normal para os índices P.min e SVM. É possível observar que para o SVM, mesmo nos grupos mais leves da doença (I e II) há uma sobreposição pequena entre os portadores de ceratocone e os normais, enquanto que para o P.min essa sobreposição ocorre mesmo nos grupos mais avançados da doença. Os melhores índices tomográficos considerando toda a área corneana foram a elevação posterior no ponto mais fino (EPPMF) AUC 0,988 (sensibilidade 95,7%, especificidade 97,3%) e o desvio total no display de Belin e Ambrósio (D-total) AUC 0,997 (sensibilidade 98%, especificidade 99%), entretanto não houve diferença estatisticamente significante entre o desempenho desses índices e o desempenho da SVM. A tabela 1 resume os dados de acurácia. Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (6): 382-5 Figura 4: Distribuição dos pacientes com ceratocone nos seus quatro grupos de estadiamento em relação aos normais para o SVM Tabela 1 Acurácia dos índices derivados do perfil paquimétrico horizontal e de índices de tomografia corneana Pápice P. min. P. min. H P. min-max R2 SVM EPPMF D-total AUC Sensibilidade % 0,904 0.938 0,915 0,927 0,896 0,991 0,988 0,997 81 85 80,1 85,8 85 96 95,7 98 Especificidade % 86 90 88,3 90,7 95 98 97,3 99 DISCUSSÃO O diagnóstico do ceratocone ainda se apresenta como um desafio para a prática oftalmológica diária, principalmente em suas formas mais leves. Um arsenal de aparelhos cada vez mais rebuscados se apresenta para tentar solucionar esse problema. Perfil paquimétrico horizontal para a detecção do ceratocone Procuramos com este trabalho avaliar a capacidade diagnóstica de uma abordagem mais simples. Em 1969, Mandell e Pouse adaptaram um paquímetro óptico com registros eletrônicos para mapear a espessura corneana pelo meridiano horizontal e acharam que a diferença do centro para a periferia era maior nos pacientes com ceratocones(8). Com análises mais complexas dos mesmos dados de espessura horizontal procuramos evoluir esse conceito, a fim de que pudesse servir para separar mesmo os casos mais leves da doença. O método de inteligência artificial, máquina de vetores de suporte (SVM), é um método amplamente utilizado no reconhecimento de padrões, como reconhecimento facial(9,10) e reconhecimento de caracteres escritos à mão(11). Na área médica já foi aplicado em diversas ocasiões como na detecção do câncer de pulmão(12) e mesmo na oftalmologia para prever a qualidade de vida relacionada à visão a partir de dados de acuidade e campo visual em pacientes com glaucoma(13). Esse tipo de abordagem também já foi utilizado para o diagnóstico de ceratocone. Arbelaez e cols. utilizaram dados de tomografia corneana para construir um modelo de SVM e obtiveram sensibilidade de 95% para detecção de ceratocone e especificidade de 97,2%(14). Utilizando a abordagem do aprendizado de máquina, pudemos combinar os dados obtidos apenas a partir do perfil de espessura horizontal. A acurácia dessa análise foi superior aos dados de espessura em pontos únicos, como a paquimetria no ápice e no ponto mais fino. A performance obtida em nosso estudo foi também semelhante à obtida utilizando dados de espessura, curvatura e elevação de toda a córnea por Arbelaez e cols. Assim como foi semelhante aos dados tomográficos em relação à superfície posterior (EPPMF) e à análise de regressão dos dados de espessura, curvatura e elevação (D-total) da nossa amostra. Esses dados sugerem que uma análise complexa de dados mais simples pode ser igualmente eficaz às análises de dados complexos, mesmo para identificar casos leves da doença (grupos I e II). A vantagem do primeiro método é que ele potencialmente requer menos investimento e pode ser mais amplamente difundido para o população em geral. Não apenas o Pentacam e outros aparelhos baseados no princípio de Scheimpflug se beneficiarão dessa análise, mas virtualmente, qualquer aparelho que forneça um corte transversal da córnea serão contemplados por essa metodologia, como o OCT, UBM, alguns biomêtros e mesmo equipamentos mais simples como alguns autorrefratores que fornecem este tipo de análise. O emprego da validação cruzada nos permitiu inferir a validade externa do modelo, entretanto, estudos prospectivos que confirmem esse resultado são importantes. 385 REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 9. 10. 11. 12. 13. 14. Rabinowitz YS. Keratoconus. Surv Ophthalmol. 1998;42(4):297-319. Krachmer JH, Feder RS, Belin MW. Keratoconus and related noninflammatory corneal thinning disorders. Surv Ophtalmol. 1984;28(4):293-322. Reynolds A, Kratt H. The photo-electronic keratoscope. Contacto. 1959;3(3):53-9. Klyce SD. Computer-assisted corneal topography. High-resolution graphic presentation and analysis of keratoscopy. 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Corresponding Author: Bernardo Teixeira Lopes Rua Conde de Bonfim, 211/712 -Tijuca CEP 20520-050 – Rio de Janeiro (RJ), Brasil E-mail: [email protected] Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (6): 382-5 RELATO 386 DE CASO Oclusão da artéria central da retina em paciente com poliangeíte microscópica Central retinal artery occlusion in patient with microscopic polyangiitis Cláudia Gallicchio Domingues¹, Chrissiê Fianco Capitanio2, Luciana Boff de Abreu3, Marcus Vinícius Mattana4 RESUMO A poliangeíte microscópica é uma vasculite necrotizante sistêmica que acomete arteríolas, capilares e vênulas, mas também pode atingir pequenas e médias artérias. É considerada uma doença rara, idiopática e autoimune. Diversas anormalidades oculares e sistêmicas estão associadas às oclusões arteriais retinianas. Dentre as doenças vasculares do colágeno, a literatura cita como possíveis causas de obstrução das artérias retinianas o lúpus eritematoso sistêmico, a poliarterite nodosa, a arterite de células gigantes, a granulomatose de Wegener e a granulomatose linfóide de Liebow. Até o presente momento, não se encontrou na literatura relatos da associação de casos de oclusão arterial retinana associados à PAM. Os autores relatam o caso de um paciente com poliangeíte microscópica que apresentou comprometimento renal importante e oclusão da artéria central da retina unilateral. Atenta-se para a inclusão de pesquisa da PAM, através do p-ANCA, na avaliação de possível origem sistêmica em pacientes acometidos por oclusão arterial retiniana. Descritores: Retina/patologia; Vasculite retiniana/diagnóstico; Vasculite associada a anticorpo anticitoplasma de neutrófilos/ complicações; Oclusão de artéria central da retina/etiologia; Emergência oftalmológica/terapia; Relatos de casos ABSTRACT The microscopic polyangiitis is a systemic necrotizing vasculitis that affects arterioles, capillaries and venules, but can also reach small and medium-sized arteries. It is considered a rare disease, idiopathic in nature but clearly autoimmune. Several ocular and systemic abnormalities are associated with retinal arterial occlusions. Among the collagen vascular diseases, the literature cited as possible causes of retinal artery obstruction lupus erythematosus, polyarteritis nodosa, giant cell arteritis, Wegener’s granulomatosis and lymphoid Liebow. Until now, there were no reports in the literature of the association of cases of arterial occlusion retinana associated with PAM. The authors report a case of a 53 years old patient diagnosed with microscopic polyangiitis who presented with important renal artery occlusion and associated unilateral central retinal artery occlusion. An extended systemic evaluation of patients presenting with central retinal artery occlusion should include research of PAM through analysis op p-ANCA. Keywords: Retina/pathology; Retinal vasculitis/diagnosis; Anti-neutrophil cytoplasmic antibody-associated vasculitis/complications; Central retinal artery occlusion/etiology; Ophthalmologic emergency/therapy; Case reports ¹,²Hospital Geral de Caxias do Sul, Universidade de Caxias do Sul – Caxias do Sul (RS), Brasil. ² Clínica Médica da Associação Farroupilhense Pró-Saúde – Farroupilha, (RS), Brasil; ³ Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – Porto Alegre (RS), Brasil; Trabalho realizado no Hospital Geral da Universidade de Caxias do Sul (RS), Brasil. Os autores declaram não haver conflitos de interesse. Recebido para publicação em 27/03/2013 - Aceito para publicação em 03/02/2014 Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (6): 386-9 Oclusão da artéria central da retina em paciente com poliangeíte microscópica INTRODUÇÃO A poliangeíte microscópica (PAM) é uma vasculite necrotizante sistêmica, rara, idiopática, porém de natureza claramente autoimune, com incidência de aproximadamente 1:100.000 pessoas(1-3). Os sintomas geralmente iniciamse em torno dos 50 a 60 anos, embora indivíduos de qualquer idade possam ser acometidos. A PAM geralmente manifesta-se com sintomas constitucionais, tais como perda ponderal, febre, mialgia e poliartralgia, púrpura palpável (vasculite cutânea) e síndrome renopulmonar(4-6). A PAM associa-se ao anticorpo anticitoplasma de neutrófilos (ANCA), onde há o predomínio do padrão p-ANCA, ainda que e o c-ANCA também possa ser encontrado(1). A oclusão da artéria central da retina (OACR) é uma emergência oftalmológica caracterizada, em geral, pela presença de perda aguda, devastadora e irrecuperável da visão. Estudos experimentais em macacos Rhesus têm demonstrado que após 240 minutos de isquemia, o tecido retiniano normalmente apresenta um dano maciço e irreversível(7). Os tratamentos baseiamse na tentativa de restabelecer rapidamente o fluxo arterial retiniano. Na prática oftalmológica, usualmente, os pacientes apresentam-se para a consulta após esse período. Na maioria dos casos, portanto, a cegueira instala-se em razão da ausência de tratamento em tempo hábil para a recuperação da visão. Em outros casos, há perda visual permanente porque não se obtém o restabelecimento do fluxo retiniano com quaisquer dos tratamentos disponíveis (descompressão súbita do globo ocular, fibrinolíticos, etc.). Considerando que a maioria dos casos de OACR ocasiona perda visual severa e irreversível, faz-se imprescindível a determinação da etiologia da doença, buscando-se a prevenção do acometimento do olho contralateral(7-10). Diversas anormalidades oculares e sistêmicas estão associadas às oclusões arteriais retinianas. Dentre as doenças vasculares do colágeno, a literatura cita como possíveis causas de obstrução das artérias retinianas o lúpus eritematoso sistêmico, a poliarterite nodosa, a arterite de células gigantes, a granulomatose de Wegener e a granulomatose linfóide de Liebow(8,10). Até o presente momento, não se encontrou na literatura relatos da associação da PAM com casos de oclusão arterial retinana. Os autores relatam o caso de um paciente de 53 anos com poliangeíte microscópica que apresentou comprometimento renal importante e oclusão de artéria central da retina unilateral. RELATO DE CASO D.F.S, 53 anos, sexo masculino, negro, pedreiro, natural de Vacaria e procedente de Caxias do Sul, procurou atendimento médico com história de baixa acuidade visual súbita em olho direito acompanhada de cefaleia, paresia, parestesia e edema em membros superiores e inferiores há 20 dias. Nos últimos 3 meses havia apresentado tosse não produtiva, dispneia, emagrecimento de aproximadamente 18 kg, episódios de febre de 38°C, mialgia e poliartralgia. No perfil psicossocial, o paciente relatava ser extabagista pesado e ex-etilista há cerca de 1 ano. Havia história médica pregressa de hipertensão arterial sistêmica tratada com hidroclorotiazida e enalapril. Na internação os exames complementares revelaram hematócrito igual a 26,9%, hemoglobina igual a 8,8g/dL, creatinina igual a 5,5mg/dL, ureia igual a 152mg/dL, proteinúria de 24 horas igual a 233,4mg, VHS igual a 157mm/h e proteína C reativa igual a 48g/mL. A eletroforese de proteínas revelou aumento policlonal 387 na região das gamaglobulinas. O exame do líquor obtido através de punção lombar não apresentou alterações. O fator reumatoide (FR), fator antinuclear (FAN), VDRL e anticorpo anticardiolipina foram negativos. A pesquisa de ANCA foi positiva e revelou padrão perinuclear (p-ANCA) por meio da imunofluorescência indireta. A ultrassonografia renal não demonstrou alterações. A tomografia computadorizada (TC) de tórax demonstrou infiltração difusa com componentes intersticiais e acinares, com distribuição ao longo dos feixes broncovasculares bilateralmente com predomínio em hemitórax direito, enfisema pulmonar centro lobular, opacidades em base de hemitórax direito. A TC e a ressonância nuclear magnética (RNM) de crânio evidenciaram ausência de sinais compatíveis com infarto isquêmico. A histopatologia da artéria temporal direita revelou áreas de inflamação e necrose (ausência de granulomas). Durante a internação, houve piora da sintomatologia. O paciente evoluiu com insuficiência renal aguda não-oligúrica e não dialítica. O paciente referia ter sofrido perda súbita da visão em seu olho direito, sendo a avaliação oftalmológica agendada no ambulatório central 9 dias após a sua internação. O exame oftalmológico revelou acuidade visual de visão de vulto sem olho direito e 20/20 no olho esquerdo. A pressão intraocular era igual a 12mmHg em olho direito (OD) e a 11mmHg em olho esquerdo (OE). Ao exame biomicroscópico não se evidenciaram alterações em ambos os olhos. O exame fundoscópico do OD evidenciou branqueamento difuso da retina, poupando a região macular (mácula em cereja), sendo o quadro compatível com oclusão da artéria central da retina. Não havia anormalidades no exame fundoscópico do OE. Solicitou-se retinografia e angiografia fluoresceínica que foram efetuadas cerca de 25 dias após o exame fundoscópico inicial. O exame retinográfico (figura 1) ainda demonstrava uma palidez retiniana difusa discreta (em resolução) com mácula em cereja no OD. A retinografia do OE mostrava pequena área de hemorragia intrarretiniana superficial com centro branco na arcada temporal inferior. Portanto, os achados retinográficos confirmaram e documentaram o diagnóstico de oclusão da artéria central da retina no OD. Orientou-se o paciente sobre a ausência de tratamento específico para o OD. Solicitou-se tratamento da doença de base (vasculite sistêmica) e indicou-se retorno após 7 dias para acompanhamento oftalmológico, inclusive do OE. No momento da avaliação oftalmológica, a equipe da clínica médica tinha como hipótese diagnóstica uma vasculite sistêmica, incluindo a possibilidade de PAM ou Granulomatose de Wegner. Já haviam sido solicitados exames laboratoriais entre eles o p-ANCA e o c-ANCA, bem como havia sido efetuada uma biópsia da artéria temporal. Confirmando-se o diagnóstico de PAM, institui-se pulsoterapia mensal com metilprednisolona 500mg na dose de 1g EV por dia, durante 3 dias. No quarto dia foi instituída ciclofosfamida 1g na dose de 750mg/m2. Durante os intervalos das pulsoterapias, foi prescrito prednisona 20mg na dose de 60mg por dia, associada à azatioprina 50mg na dose de 100mg por dia. Realizou-se 6 ciclos mensais deste esquema de pulsoterapia. Após 45 dias do início do tratamento, o paciente evoluiu com melhora da função renal e queda dos marcadores inflamatórios. Na alta hospitalar, prescreveu-se imunossupressor sistêmico (azatioprina 50mg na dose de 100mg por dia) e corticoterapia via oral (prednisona 20mg na dose de 40mg por dia). O paciente foi encaminhado ao ambulatório de reumatologia e oftalmologia para seguimento. Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (6): 386-9 388 Domingues CG, Capitanio CF, Abreu LB, Mattana MV O exame oftalmológico realizado um ano após o episódio da OACR revelou acuidade visual de visão de vultos em OD e 20/ 20 em OE. A pressão intraocular era igual a 12mmHg em OD e a 11mmHg em OE. Ao exame biomicroscópico não se evidenciaram alterações em ambos os olhos. O exame fundoscópico do OD evidenciou estreitamento vascular generalizado e palidez de nervo óptico. Não havia anormalidades no exame fundoscópico em OE. Foi realizada retinografia para documentação (figura 2). Um ano após o diagnóstico, paciente segue em uso de imunossupressor sistêmico (azatioprina 50mg na dose de 100mg por dia) e corticoterapia via oral (prednisona 20mg na dose de 10mg por dia), sem recidivas da doença. Figura 1: Retinografia do olho direito com palidez retiniana difusa discreta (em resolução) com mácula em cereja Figura 2: Retinografia do olho direito com estreitamento vascular generalizado e palidez de nervo óptico DISCUSSÃO A PAM é uma vasculite necrosante autoimune da microvasculatura (capilares, vênulas e arteríolas), e que, mais raramente, pode acometer pequenas e médias artérias. É caracterizada por apresentar ausência ou escassez de depósitos imunes vasculares na imunofluorescência direta, sendo associada Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (6): 386-9 aos anticorpos anticitoplasma de neutrófilos (ANCA), onde há o predomínio do padrão p-ANCA, ainda que e o c-ANCA também possa ser encontrado(1). Há uma relação entre homens e mulheres de 1:2 e início dos sintomas em torno dos 50 a 60 anos, embora indivíduos de qualquer idade possam ser acometidos(1-3). A PAM geralmente manifesta-se com sintomas constitucionais, tais como perda ponderal, febre e mialgia. Outros achados incluem poliartralgia, vasculite cutânea (púrpura palpável) e síndrome reno-pulmonar. Queixas articulares e musculares podem preceder o surgimento de alterações renais e/ou pulmonares. O acometimento renal ocorre em cerca de 80% dos casos, sendo observada a glomerulite focal e segmentar necrosante, manifestando-se com hematúria microscópica, síndrome nefrítica ou nefrótica, podendo chegar até a insuficiência renal dialítica. Já o comprometimento pulmonar é menos comum, ocorrendo em cerca de 12% dos casos, podendo se manifestar com tosse, dispnéia, dor torácica e hemoptise (hemorragia alveolar), devido à capilarite pulmonar. A imagem radiológica pode evidenciar opacidade ou infiltrado alveolar(4-6). A oclusão da artéria central da retina manifesta-se com perda súbita da visão. O diagnóstico é basicamente clínico, evidenciando-se um edema pálido da retina que poupa a região macular que fica com uma coloração típica de mácula em cereja. A angiografia fluoresceínica confirma a suspeita clínica, evidenciando retardo da circulação arterial retiniana. Posteriormente, a aparência leitosa da retina desaparece num período de 2 a 6 semanas, podendo ocorrer atrofia óptica(7,8). No presente caso, o paciente apresentou sintomas constitucionais, perda súbita de visão em olho direito (oclusão de artéria central de retina), neuropatia periférica, manifestações pulmonares, insuficiência renal aguda não oligúrica, aumento de marcadores inflamatórios e anemia normocítica normocrômica (anemia de doença crônica). Os ANCA são autoanticorpos que possuem especificidade para constituintes citoplasmáticos de monócitos e neutrófilos e são marcadores sorológicos utilizados no diagnóstico e monitoramento de vasculites de pequenos vasos. A poliangeíte microscópica pertence ao espectro das vasculites associadas ao ANCA, geralmente causando um padrão perinuclear de coloração no exame por imunofluorescência (p-ANCA). Além da pesquisa de anticorpos na PAM, faz-se necessário a biópsia pulmonar e/ou renal, dependendo da clínica do paciente(1,6). A pesquisa de ANCA para o paciente acima foi positiva e revelou padrão perinuclear (p-ANCA) através da imunofluorescência indireta. A PAM deve ser diferenciada da Granulomatose de Wegener (GW) e da Síndrome de Churg-Strauss (SCS), as quais também são vasculites autoimunes de pequenos vasos associadas com anticorpos anticitoplasma de neutrófilos (ANCA) e com aspectos histológicos semelhantes. Qualquer tipo de ANCA pode ser observado nestas vasculites, contudo o padrão c-ANCA tem predominância na GW e o p-ANCA na SCS. O diagnóstico diferencial entre PAM e GW é feito através do exame histopatológico: na primeira doença não são observados granulomas; já na segunda, esta alteração quase sempre é visível (pele, pulmão, mucosa respiratória). Porém, na GW a biópsia renal não cursa com granulomas, portanto a lesão glomerular costuma ser igual em ambas as doenças. As três vasculites (PAM, GW e SCS) cursam com sintomas constitucionais e achados laboratoriais inespecíficos, como elevação do VHS e proteína C reativa, anemia, leucocitose, trombocitose, entre outros marcadores. Porém, na SCS é encontrada eosinofilia importante (>1.000/mm3) e a biópsia pode ser sugestiva da doença. Associa- Oclusão da artéria central da retina em paciente com poliangeíte microscópica do a isto, na SCS o quadro clínico clássico é de vasculite necrosante com granulomas eosinofílicos em um paciente com asma progressiva de início na vida adulta, rinite alérgica, polipose nasal e vasculite cutânea(1-3,6). A base do tratamento da PAM é o uso de corticosteroide, o qual é utilizado na indução da remissão e na profilaxia de recidivas da doença.Esquemas agressivos com prednisona e ciclofosfamida costumam ser utilizados. Alguns autores defendem o uso de pulsoterapia com metilprednisolona em casos de evolução fulminante. Já a plasmaferese estaria indicada nos casos de glomerulonefrite rapidamente progressiva com síndrome urêmica e necessidade de diálise. Outro esquema seria a utilização apenas da prednisona, o qual geralmente é reservado para as formas de doença limitada que não comprometam órgãos viscerais(1-6). Para o paciente citado acima, instituiu-se o tratamento com pulsoterapia de metilprednisolona associada à ciclofosfamida. Na alta hospitalar, optou-se por imunossupressor sistêmico (azatioprina) e prednisona via oral. Um ano após o diagnóstico, o paciente segue em uso de imunossupressor sistêmico e corticoterapia, sem recidivas da doença. O tratamento da doença oclusiva arterial visa restabelecer a circulação retiniana o mais rapidamente possível através de medidas que incluem a descompressão súbita do globo ocular e uso de fibrinolíticos. Estudos tem demonstrado que após 240 minutos de isquemia, o tecido retiniano apresenta um dano maciço e irreversível, portanto é imprescindível a precocidade do diagnóstico e do tratamento(7). Considerando que a maioria dos casos de OACR ocasiona perda visual severa e irreversível, faz-se imprescindível a determinação da etiologia da doença, buscando-se a prevenção do acometimento do olho contralateral(7-10). CONCLUSÃO Os autores atentam para a associação entre oclusão da artéria central da retina e a poliangeíte microscópica. Embora diversas doenças autoimunes já são conhecidas como possíveis causas de doenças oclusivas vasculares retinianas, essa associação ainda não havia sido descrita na literatura. A pesquisa sorológica utilizada na busca de causas sistêmicas para a oclusão da artéria central da retina, geralmente inclui o exame do c-ANCA, o qual é solicitado a fim de pesquisar a possibi- 389 lidade de Granulomatose de Wegner. Além do c-ANCA, deveria ser solicitado o p-ANCA, o qual se apresenta positivo na maioria dos casos de PAM. A necessidade de biópsia para a comprovação diagnóstica e o tratamento das complicações sistêmicas dessa vasculite com corticosteróides e/ou imunossupressores deve ser conduzida por um médico clínico habilitado. REFERÊNCIAS 1. Lauz S, Sonaglio A, Espíndola W, Facin E, Pintos V, Balaguez H. [Microscopic polyangiitis with encephalic and kidney manifestation. Case report]. Rev Bras Clin Med. 2010;8(5):464-6. Portuguese. 2. Hashimoto H. Microscopic polyangiitis in systemic sclerosis. Int J Rheumatol. 2010;2010:148528. 3. Gómez-Puerta JA, Bosch X. Anti-neutrophil cytoplasmic antibody pathogenesis in small-vessel vasculitis: an update. Am J Pathol. 2009;175(5):1790-8. Review. 4. Brandt HR, Arnone M, Valente NY, Sotto MN, Criado PR. [Medium and large vessel vasculitis]. An Bras Dermatol.2009;84(1):5767. Portuguese. 5. Santos JW, Michel GT, Pereira CE, Capelozzi VL, Mileto JN, Fiorini CA. [Microscopic polyangiitis with alveolar hemorrhage]. J Bras Pneumol. 2004;30(2):150-3. Portuguese. 6. Goldman L, Ausiello D. Cecil tratado de medicina interna. 23a ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2010. 7. Hofling-Lima AL, Moeller CT, Freitas D, Martins EN. Manual de condutas em oftalmologia. São Paulo: Atheneu; 2008. 8. Kanski JJ, Bowling B. Clinical ophthalmology: A systematic approach. 7aed. Edinburgh: Elsevier Saunders; 2011. 9. Ryan SJ. Retina. 5aed. St Louis: Mosby; 2006. 10. Biousse V, Calvetti O, Bruce BB, Newman NJ. Thrombolysis for central retinal artery occlusion. J Neuroophthalmol. 2007;27(3):215-30. Review. Autor Correspondente: Chrissiê Fianco Capitanio Rua Cel. Pena de Moraes, nº 415 Caixa Postal 242 CEP 95180-000 – Farroupilha (RS), Brasil E-mail: [email protected] Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (6): 386-9 RELATO 390 DE CASO Síndrome de Rothmund Rothmund syndrome Thiago Gonçalves dos Santos Martins1, Ana Luiza Fontes de Azevedo Costa2, Thomaz Gonçalves dos Santos Martins3 RESUMO A síndrome de Rothmund (RTS) é uma rara genodermatose, de herança autossômica recessiva. Sua incidência é desconhecida, com aproximadamente 300 casos descritos na literatura. A síndrome é determinada por eritema facial (poiquilodermia), seu marco diagnóstico, além de alterações esqueléticas, alopecia, catarata juvenil e predisposição a osteossarcoma. Neste relato, descrevemos uma paciente com esta síndrome, que foi referida ao serviço de oftalmologia por baixa visão e hiperemia ocular. Descritores: Síndrome de Rothmund-Thomson/complicações; Baixa visão/etiologia; Acuidade visual; Relatos de casos ABSTRACT Rothmund-Thomson syndrome (RTS) is a rare autosomal recessive genodermatosis. While its incidence is unknown, approximately 300 cases have been reported in the literature. The syndrome typically presents with a characteristic facial rash (poikiloderma), its diagnostic hallmark, and heterogeneous clinical features including congenital skeletal abnormalities, sparse hair distribution, juvenile cataracts, and a predisposition to osteosarcoma. This is a report describing a patient diagnosed with RTS referred to us because of low vision and red eyes. Keywords: Rothmund-Thomson syndrome/complications; Vision, low/etiology; Visual acuity; Case reports 1,2 Universidade Federal de São Paulo – São Paulo (SP), Brasil; Universidade de São Paulo – São Paulo (SP), Brasil; 3 Curso Acadêmico de Medicina da Universidade Estácio de Sá – Rio de Janeiro (RJ), Brasil. 2 Os autores declaram não haver conflitos de interesse. Recebido para publicação em 21/01/2015 - Aceito para publicação em 02/04/2015 Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (6): 390-2 Síndrome de Rothmund 391 INTRODUÇÃO A síndrome de Rothmund (poiquilodermia congênita) é uma doença de herança autossômica recessiva, que se inicia na infância com a presença de eritema facial (poiquilodermia) associado a anormalidades ósseas, baixa estatura, alterações do rádio, alopecia, ausência de cílios e sobrancelhas, carata juvenil e predisposição a neoplasias(1). Relatamos um caso de uma paciente com síndrome de Rothmund com insuficiência límbica em ambos os olhos, que foi acompanhada por uma equipe multidisciplinar devido a suas manifestações sistêmicas. RELATO DE CASO A paciente relatou que, já na infância, apresentou retardo de crescimento e sintomas dermatológicos, com pele seca e descamativa, seguida por fotossensibilidade e eritemas poiquilodermatosos, particularmente em face, pescoço e membros (figuras 1A E 1B). Figura 1 (A e B): Pele seca e descamativa, alopecia, poiquilodermia, hipoplasia dos quirodáctilos Após o diagnóstico de síndrome de Rothmund na infância, apresentou episódios de anemia crônica microcítica e hipocrômica persistente apesar da terapia de reposição de ferro. Foi submetida à facectomia em ambos os olhos aos 14 anos, sem intercorrências. Ao exame apresentava glossite, queilite, afinamento dos cabelos, distrofia das unhas, alteração dos dedos e anormalidades dentárias, tendo os dentes removidos e atualmente utilizando próteses. Apresentava acuidade visual de 20/100 em ambos os olhos, hiperemia ocular, neovasos e opacidades estromais corneanas em ambos os olhos (figuras 2A e 2B), ausência de cílios e sobrancelhas, entrópio palpebral e pressão intraocular de 10 mmHg em ambos os olhos. Não apresentava alterações do segmento posterior nos exames ultrassonográficos. A paciente queixava-se da baixa acuidade visual e hiperemia ocular há sete anos. Fazia uso de lubrificantes oculares em forma de colírios e géis há um ano. Na história familiar, não havia outros casos semelhantes e seu cariótipo era normal, bem como seu desenvolvimento neurocognitivo. DISCUSSÃO A sindrome de Rothmund foi descrita pela primeira vez em 1868, por A. Rothmund(2), um oftalmologista alemão que notou que crianças nascidas em vilas da Bavaria, onde o casamento consanguíneo era comum, eram afetadas por poiquilodermia, retardo de crescimento e catarata juvenil. Em 1936, M. Thomson, um dermatologista inglês, relatou três pacientes com manifestações cutâneas semelhantes, retardo de crescimento e defeitos esqueléticos (3). Os sintomas descritos por Thomson são idênticos aos observados por Rothmund, com exceção da catarata. Em 1957, W. Taylor, um médico americano, determinou o epônimo síndrome de Rothmund- Thomson para descrever os pacientes com esses sinais e sintomas(4). Há duas formas clínicas da doença. O tipo 1 é caracterizado por poiquilodermia, displasia ectodermal e catarata juvenil, enquanto o tipo 2 apresenta poiquilodermia, defeitos congênitos ósseos, grande risco de osteossarcoma na infância e de câncer de pele na idade adulta. O defeito genético do tipo 1 ainda não foi identificado, mas o tipo 2 é causado por mutação no gene RECQL4 helicase no cromossomo 8, que produz a proteína RECQ que, quando defeituosa, prejudica a capacidade de reparo do DNA(5). Os dermatologistas costumam ser os primeiros a diagnosticar essa síndrome, já que a pele, cabelo, unhas e dentes costumam ser os primeiros a serem afetados. O principal marco clínico da síndrome é o eritema cutâneo, que normalmente aparece entre seis meses e três anos de idade e costuma acometer inicialmente as bochechas, estendendo-se até as extremidades, acometendo nádegas e superfícies extensoras e flexoras dos membros. Tronco e abdome costumam ser poupados. O paciente costuma ter cabelo fino e esparso, e ausência de cílios e sobrancelhas. O retardo de crescimento é o segundo sinal mais importante da síndrome. Alterações esqueléticas podem ocorrer, assim como catarata juvenil em até 50% dos pacientes(5,6). Os principais tumores aos quais estes pacientes estão predispostos são o osteossarcoma (infância e adolescência) e o carcinoma espinocelular em adultos. A avaliação genética não é necessária para o diagnóstico da síndrome. O diagnóstico diferencial inclui outras causas de poiquilodermia na infância, com síndrome de Gottron, poiquilodermia esclerosante hereditário, síndrome de Kindler, síndrome de Bloom, síndrome de Werner, disceratose congênita, xeroderma pigmentoso, anemia de Fanconi, ataxiatelangiectasia e síndrome de Cockayne(6,7). A paciente foi encaminhada ao serviço de plástica ocular para realizar a correção do entrópio, para posteriormente ser submetida a um transplante de limbo e córnea como objetivo de melhorar a acuidade visual. CONCLUSÃO Figura 2 (A e B): Neovasos corneanos, opacidades estromais e ausência de cílios Relatamos o caso de uma síndrome rara, com manifestações oftalmológicas e indicação de intervenção cirúrgica para buscar melhora visual. Os sintomas visuais são considerados sinais menores para o diagnóstico, embora a catarata juvenil possa estar presente em até 50 % dos pacientes. A paciente deve Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (6): 390-2 392 Martins TGS, Costa ALFA, Martins TGS ser seguida por uma equipe médica multidisciplinar devido as alterações sistêmicas descritas e o risco de desenvolvimento de neoplasias. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. Larizza L, Roversi G, Volpi L. Rothmund-Thomson syndrome. Orphanet J Rare Dis.2010 Jan 29;5:2. Rothmund A. [Uber Cataracte in Verbindung mit einer eigenthuemlichen Hautdegeneration]. Albrecht Von Graefes Arch Klin Exp Ophthalmol. 1868; 14:159-82. German. Thomson MS. Poikiloderma congenitale. Br J Dermatol. 1936; 48:221–34. Taylor W B. Rothmund’s syndrome-Thomson syndrome. Arch Dermatol. 1957; 75(2): 236-44. Vennos EM, Collins M, James WD. Rothmund-Thomson syndrome: review of the worldliterature. J Am Acad Dermatol. 1992;27(5 Pt 1):750-62. Review. 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It is an endemic disease in many countries. It affects approximately 1,5 million people every year, and when associated with mal-nutrition and co-infection it may be fatal. Fever, hepatosplenomegaly, and pancytopenia is its typical clinical picture. Ocular manifestations of Kalaazar are relatively rare and can affect either anterior or posterior segment of the eye. We report a patient with kala-azar presenting intraretinal hemorrhages that regress completely after the successful treatment for visceral leishmaniasis. Keywords: Leishmaniasis, visceral; Retina; Macula lutea; Pancytopenia; Retinal hemorrhage RESUMO Leishmaniose visceral, também conhecida como calazar é uma doença tropical parasitária, causada pelo protozoário do gênero Leishmania donovan uma doença endêmica em muitos países. Afeta aproximadamente 1,5 milhões de pessoas durante todo ano e quando associada à desnutrição e coinfecção pode ser fatal. Febre, hepatoesplenomegalia e pancitopenia e o quadro típico. Manifestações oculares são raras e podem afetar tanto o segmento anterior como o posterior do olho. Relatamos o caso de um paciente com calazar e hemorragia intrarretiniana que regrediu após tratamento para leishmaniose visceral. Descritores: Leishmaniose visceral; Retina; Mácula lútea; Pancitopenia; Hemorragia retiniana 1 Department of Ophthalmology, Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará – Fortaleza (CE), Brazil. This work was carried out at department of Ophthalmology, Faculdade de Medicina, Universidade Federal do Ceará – Fortaleza (CE), Brazil. The authors declare no conflict of interest. Recebido para publicação em 26/04/2015 - Aceito para publicação em 26/05/2015 Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (6): 393-5 394 Aragao REM, Barreira IMA, Pereira LA, Arrais BLA, Oliveira Neto FH, Almeida, EFV INTRODUCTION L eishmaniasis is a tropical disease that primarily affects either the mononuclear-phagocytic system (visceral leishmanniasis) or the skin (cutaneous leishmaniasis)(1). Visceral leishmaniasis is also know as kala-azar, a Hindi word that means “black sickness”. Others terms are less frequently used, such as Burdwan fever, Dumdum fever, and Shahi’s disease(2). Leishmaniais is a parasitic disease, which is widespread in over 88 countries in the world. It is endemic in Asia, Africa, and South America, and in Europe in some areas of the Mediterranean basin. Approximately 1,5 million new cases occur each year(3). It is a chronic disease caused by protozoa of the genus Leishmania donovani complex, and is transmitted through the bite of the sandfly (phlebotomus). It is characterized by irregular fever, hepatosplenomegaly, weight loss, hypergammaglobulinemia, and pancytopenia(1). Until 1978, there were few reports on ocular involvement in the systemic disease from Africa and Unites States. Since then, there have been an increased number of report cases of ocular leishmaniasis in the form of cutaneuos eyelid involvement, as well blepharoconjunctivitis, ulcerative conjunctivitis, nodular episcleritis, keratitis, anterior uveitis, dacryocistitis, retinal hemorrhages and even a bilateral panuveitis complicated by retinal detachment and proliferative vitreoretinopathy(4,5). CASE REPORT A 48-year-old man, who resided in a rural area of northeast Brazil, was hospitalized with malaise, fever, anorexia, weight loss, hepatosplenomegaly and pancitopenia. The case was suspect of visceral leishmaniasis and the bone marrow tap revealed pancytopenia. The treatment was started with lipossomal anfotericin-B. The diagnosis of visceral leishmaniasis was confirmed later by testing serum antibody to the leishmanial antigen K39. Shortly after hospitalization, the patient experienced a sudden of visual acuity in his left eye. Best-corrected visual acuity (BCVA) was 20/20 OD, and OS 20/40. Indirect ophthalmoscopy reveled three retinal hemorrhages, one of which was in the fovea; a central scotoma was seen in the campimetry of the left eye (figures 1,2). One month later, BCVA in the left eye had improved to 20/20 with no residual scotoma. Clinically, the patient was asymptomatic with complete resolution of hepatosplenomegaly and normalization of blood counts. Figure 1: Fundus photography and corresponding fluorescein angiogram showing intraretinal hemorrhages (arrows) in the left eye Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (6): 393-5 Figure 2: Left eye visual field showing central scotoma DISCUSSION Leishmaniasis is parasitic vector-borne disease caused by a family of obligate intracellular dimorphic protozoa of the genus leishmania(6). In our country, Brazil, the visceral leishmaniasis when associated with malnutrition and co-infections it may be fatal. An increase in transmitions rates related to urbanization has been observed in the past 20 years(7). Visceral leishmaniasis is a worldwide infection including multiples clinical syndromes, increasingly recognized as an opportunistic infection, related with immunosuppression conditions, mainly with HIV infection. Four clinical syndromes occur: Visceral leishmaniasis usually fatal without treatment, is characterized by hepatosplenomagaly and anemia and is caused mainly by the leshimania donovani; old world cutaneous leishmaniasis; mucotunaneous leishmaniasis and diffuse cutaneous leishmaniasis. The typical clinical picture of visceral leishmaniasis is fever, constitutional symptoms, hepatosplenomegaly, and pancytopenia(8,9). Hiperpigmentation of skin specially on the hand, feet, abdomen, and forehead, is marked in light skinned patients. Diagnosis is by finding the intracellular parasite in biopsies or in culture of tissues. A firm diagnosis of visceral leishmaniasis requires demonstration of the parasite in splenic or bone marrow aspirate. Diagnosis can be difficult as parasite identification is not always possible, serological tests have suboptimal sensitivity, and molecular biology techniques, like polymerase chain reaction, are often unavailable in clinical practice. K39 is a no invasive method of diagnosing visceral leishmaniasis under field conditions by testing serum antibody to the leishmanial antigen K39, the test has high sensitivity and specificity but it remains positive long after treatment (up to 3 years)(3,7,10). The differential diagnosis includes leukemia, lymphoma, tuberculosis, histoplasmosis, infectious mononucleosis, brucellosis, malaria, typhoid, and schistosomiasis. Ocular lesions in visceral leishmaniasis, must frequently the clinical presentation is anterior uveitis either prior to or just after presumed successful treatment of visceral leishmaniais. Uveitis can lead to secondary glaucoma. Retinal hemorrhages is very rare, in a more severe cases these lesions appeared to be “flame-shaped” potentially arising from hemorrhages from arteriolar capillaries of the nerve fiber layer. In all reported cases, there was a correlation with at least moderated-to-severe anemia with thrombocytopenia, a fall in the fibrinogen level in the plasma, or an increase in fibrinolytic activity in the plasma(11). Maude et al.(11) reported perivascular whitening and tortuous vessels in patients with visceral leishmaniasis, which would be consistent with the presence of vasculopathy, possibly causing Intraretinal hemorrhage associated with visceral leishmaniasis focal ischaemia. These lesions resolved after the treatment for leishmaniasis and improvement of the anemia and thrombocytopenia(11.12). Other ocular lesions include subacute focal retinitis, nerve fiber layer infarcts that resolve spontaneously, central retinal vein thrombosis, papillitis, and keratitis, they also regress after the treatment(1,4,5,7,13). Treatment of choice is pentavalente antimonial compounds and multiple drug therapy especially combined stibogluconate and allopurinol is also recommended. Anfotericin-B is used in severe cases. Ocular lesions may be missed, because it has been almost very difficult to be differentiated among the others types of ocular disease caused by others pathogens. The ophthalmologist ought to be aware of the lesions caused by the leishmaniasis especially in endemic areas on account of the early recognition of the ocular lesions may help in the diagnosis and management. 395 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. REFERENCES 13. 1. 2. 3. 4. 5. Montero JA, Ruiz-Moreno JM, Sanchis E. Intraretinal hemorrhage associated with leishmaniasis. Ophthalmic Surg Lasers Imaging. 2003; 34(3):212-14. Meyers AJMW, Klassen-Fischer MK, Neafie RC. Visceral leishmaniasis. In: Topics on the pathology of protozoan and invasive arthropod diseases. Bethesda: Uniformed Services University of the Health Sciences; 2011. p. 1-11. Zadeh MM, Manshai K, Shaddel M, Oormazdi H. Ocular leishmaniasis review article. Iran J Ophthalmol. 2006;12(3):1-5. Nimir AR, Saliem A, Ibrahim IA. 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Corresponding Author Ricardo Evangelista Marrocos de Aragão Rua Osvaldo Cruz, nº 2335 – Dionisio Torres Fortaleza – (CE), Brazil Tel: 55 (85) 99137-9313 E-mail: [email protected] Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (6): 393-5 R 396 ELATO DE CASO Anoftalmia clínica associada a coloboma e malformações sistêmicas: etiologia e relação oftalmologista-paciente Clinical anophthalmia and coloboma associated with systemic malformations: etiology and ophthalmologist-patient relationship Pedro Ventura1, Rafael Bortoli Debarba2, Bruna Zago3, Diego Davi Corso4, Elcio Luiz Bonamigo5 RESUMO O presente relato refere-se a uma paciente de 2 anos e 9 meses de idade, portadora de anoftalmia clínica à direita associada a coloboma posterior à esquerda e malformações sistêmicas. A mãe foi vacinada contra rubéola três meses antes da concepção e, ao nascimento, os exames laboratoriais mostraram título de anticorpos IgG de 267 UI/mL para rubéola e 3,5 UI/mL para citomegalovírus, sendo o IgM negativo para ambos. As anormalidades encontradas possuem características de síndrome da rubéola congênita (SRC) e infecção congênita por citomegalovírus. Também podem constituir alteração genética, decorrer de outras etiologias ou apresentarse sem explicação. A avaliação psicológica da paciente foi normal e a mesma encaminhada para reabilitação visual. A mãe manifestou sintomas depressivos e indicado tratamento especializado. Outros estudos serão necessários para esclarecer a etiologia das malformações oculares congênitas e os cuidados holísticos a serem valorizados durante a relação oftalmologista-paciente. Descritores: Anoftalmia; Microftalmia; Anormalidades congênitas; Adaptação psicológica; Relatos de casos ABSTRACT This report refers to a two years and nine months patient, carrier of clinical anophthalmia in her right eye associated with posterior coloboma in her left eye and systemic malformations. The mother was vaccinated against rubella three months before conception and, at birth, the laboratory tests showed 267 IU/mL for rubella IgG antibodies level and 3,5 IU/mL for cytomegalovirus, being IgM antibodies negative for both. The abnormalities found have characteristics of congenital rubella syndrome (CRS) and congenital cytomegalovirus infection. It can also constitute genetic alteration, derive from other etiologies or present themselves without explanation. The patient’s psychological evaluation was within normal limits, being referred for vision rehabilitation. The mother manifested depressive symptoms, being shown to her specialized treatment. Further studies are needed to clarify the etiology of congenital eye malformations and the holistic cares to be valued during the relationship ophthalmologist-patient. Keywords: Anophthalmos; Microphthalmos; Congenital abnormalities; Adaptation, Psychological; Case reports 1,2 Médico recém-formado do Curso de Medicina da Universidade do Oeste do Estado de Santa Catarina (UNOESC) – Campus de Joaçaba (SC), Brasil; Acadêmica do Curso de Medicina da Universidade do Oeste do Estado de Santa Catarina (UNOESC) – Campus de Joaçaba (SC), Brasil; 4 Médico em Xanxerê (SC), Brasil; 5 Doutor, professor da Universidade do Oeste do Estado de Santa Catarina (UNOESC) – Campus de Joaçaba (SC), Brasil. Trabalho realizado na Universidade do Oeste de Santa Catarina (UNOESC) – Campus de Joaçaba (SC), Brasil. Os autores declaram não haver conflitos de interesse. Received for publication 15/08/2012 - Accepted for publication XX/XX/20XX 3 Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (6): 396-9 Anoftalmia clínica associada a coloboma e malformações sistêmicas: etiologia e relação oftalmologista-paciente 397 INTRODUÇÃO A noftalmia consiste em malformação congênita ou adquirida que se caracteriza pela ausência de um ou ambos os olhos. Anoftalmia verdadeira é uma condição rara em que não há desenvolvimento da vesícula óptica, sendo a pesquisa histológica negativa. Na prática adota-se o conceito de anoftalmia clínica em que não há evidência clínica ou radiológica de globo ocular na órbita(1). Microftalmia é a diminuição do comprimento axial total do globo ocular por interrupção de seu desenvolvimento. O presente relato refere-se a uma paciente portadora de anoftalmia clínica ou microftalmia severa associada a coloboma posterior do olho contralateral e anomalias sistêmicas. O projeto de pesquisa obteve parecer favorável do Comitê de Ética através do protocolo nº 012/2011. RELATO DE CASO Paciente feminina, branca, 2 anos e 9 meses de idade, resultado da terceira gestação normal, pai com 28 anos, mãe com 30 anos, casal sem consanguinidade. Possui dois irmãos sadios, o primeiro de união paterna anterior e o segundo da atual, com idades respectivamente de 14 e 8 anos. A mãe referiu acompanhamento pré-natal adequado e negou hipertensão, diabetes ou intercorrências gestacionais. Relatou uso de hioscina no primeiro semestre gestacional. Negou uso de álcool, tabaco ou drogas. A história familiar de malformações congênitas foi negativa. Foi vacinada contra rubéola, em 13/08/08, terceiro mês anterior à concepção. O parto cesariano ocorreu a termo. Ao nascer pesou 2.605g, mediu 44 cm de altura e apresentou apgar 10-10. Como anormalidades constatou-se anoftalmia (figura 1), microftalmia, sindactilia em uma das mãos e oligodactilia em ambos os pés (figura 2). Ao nascimento apresentou sorologia negativa para sífilis, toxoplasmose, hepatite B e anti-HIV, porém foram positivos os títulos de anticorpos IgG para rubéola, no valor de 267 UI/mL, e para citomegalovírus, no valor de 3,5 UI/mL. O IgM foi negativo para ambos. Figura 2: Sindactilia em mão direita e oligodactilia em ambos os pés Figura 1: Paciente aos 21 meses de idade com anoftalmia clínica à direita A ecografia ocular bilateral revelou ausência do globo ocular à direita, com rudimentos de tecidos, e coloboma da parede posterior à esquerda (figura 3). A ultrassonografia das vias urinárias mostrou leve distorção do sistema pielo-calicial do rim esquerdo e o ecodoppler cardíaco e persistência da comunicação interatrial. Figura 3: Ecografia de órbitas com rudimentos de globo ocular à direita e coloboma posterior à esquerda Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (6): 396-9 398 Ventura P, Debarba RB, Zago B, Corso DD, Bonamigo EL O potencial evocado auditivo e do tronco cerebral (BERA) revelou déficit auditivo profundo à direita e ausência de alterações à esquerda. O estudo citogenético diagnosticou cariótipo feminino normal (figura 4). Figura 4: Cariotipagem por bandamento G com resultado normal A avaliação motora e psicológica foi normal e a acuidade visual do olho esquerdo apresentou-se parcialmente preservada, embora sem fixação central. A radiografia mostrou crânio de configuração simétrica, abóbada craniana de espessura, densidade, estrutura e contornos normais (figura 5). A mãe manifestou sintomas depressivos durante os atendimentos, sendo orientada a acompanhamento psicológico. Figura 5: Radiografia de crânio mostrando assimetria das cavidades orbitárias sem outras anormalidades Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (6): 396-9 DISCUSSÃO Anoftalmia e microftalmia são anormalidades oculares raras que podem comprometer o desenvolvimento psicossocial do indivíduo afetado. A assistência ao paciente e aos seus familiares por equipe multidisciplinar contribui para o bem-estar e a integração social(2). Por isso, a mãe foi encaminhada para tratamento psicológico e a filha para tratamento especializado em centro de reabilitação visual. A anoftalmia e microftalmia manifestam-se isoladamente ou acompanhadas de alterações sistêmicas. A patogenia do desenvolvimento embriológico da anoftalmia é imprecisa. A microftalmia pode ter origem durante o período pós-natal por alteração vítrea, diminuição da pressão intraocular ou desenvolvimento de cisto no período de fechamento da fissura óptica. Entre os fatores que causam anoftalmia e microftalmia estão o pesticida Benomyl e as infecções no período gestacional por: rubéola, toxoplasmose, varicela, citomegalovírus, herpes zoster, parvovírus B19, influenza e coxsackie A9. As causas não infecciosas ocorrem por deficiência materna de vitamina A, febre, hipertermia, exposição a raio-X, solventes, talidomida, warfarin e álcool, bem como pela mutação de diversos genes(3). Quando acompanhadas de sindactilia, a anoftalmia e microftalmia podem estar associadas a alteração dos genes BMP4, GDF6 e SMOC1; oligodactilia ao gene SMOC1; defeitos cardíacos ao SOX2; renais aos genes SOX2, OTX2, SMOC1 e GDF6; coloboma aos SOX2, OTX2, PAX6, RAX, BMP4, SMOC1 e GDF6; problemas auditivos aos SOX2 e OTX2(4). Distúrbios isquêmicos foram aventados como possibilidade etiológica de anoftalmia que também ocorre sem explicação(5). Esta paciente apresentou, ao nascimento, títulos elevados de anticorpos IgG para rubéola e citomegalovírus. Porém, a mãe havia sido vacinada e a comprovação laboratorial para rubéola no terceiro mês de vida não ocorreu. Posteriormente foi vacinada, prejudicando o eventual diagnóstico. A rubéola congênita inclui-se entre as principais causas de cegueira infantil no Brasil, afetando entre 27.000 a 32.000 crianças(6). A disponibilidade de vacina tornou-a potencialmente evitável, diminuindo drasticamente sua ocorrência. As manifestações oculares são: microftalmia, uveíte anterior, retinopatia em “sal e pimenta”, catarata, ceratopatia e erros de refração. Ao conjunto das manifestações denomina-se Síndrome da Rubéola Congênita (SRC) que afeta o desenvolvimento de vários órgãos, causando cardiopatia, cegueira, surdez e deficiências múltiplas. O risco aumenta quando a infecção ocorre nas primeiras doze semanas de gravidez(7). Um estudo que avaliou 152 mulheres vacinadas contra rubéola sem conhecimento de sua gravidez, ou que engravidaram até 30 dias após a vacinação, foi negativo para SRC(8). O Ministério da Saúde considerou efetiva a segurança da vacina quando aplicada acima de trinta dias da concepção e afastou a associação com SRC(9). Ocorrências semelhantes ao caso relatado são uma associação entre vacina e eventos não relacionados à vacina, podendo não ter explicação, tratar-se de infecção por citomegalovírus ou serem causadas por outros fatores que desencadeiam cardiopatia, malformações craniofaciais ou distúrbios psicomotores(7). Infecção congênita por citomegalovírus pode ocorrer em qualquer estágio da gravidez ou durante o parto. O potencial teratogênico é proporcional à precocidade da infecção. Há manifestação sistêmica, em que ocorrem calcificações cerebrais, hepatoesplenomegalia, coriorretinite, trombocitopenia, exante- Anoftalmia clínica associada a coloboma e malformações sistêmicas: etiologia e relação oftalmologista-paciente ma macular, anemia hemolítica e comprometimento do desenvolvimento de órgãos, denomina-se doença de inclusão citomegálica. Quando ocorre anoftalmia ou microftalmia severa, o olho contralateral pode ser normal ou portador de anormalidades do segmento posterior, suscitando a necessidade de futuros estudos na tentativa de estabelecer uma relação entre fenótipo e respectivo genótipo(10). O coloboma é uma falha no fechamento da fissura coroidal embrionária durante a 35ª a 41ª semana de gestação e pode afetar íris, o corpo ciliar, a coroide, a esclera ou a retina(11), como ocorreu no presente caso, podendo fazer parte de diversas síndromes. Este relato chama a atenção de algumas possibilidades etiológicas referentes às malformações oculares congênitas e dos cuidados psicológicos a serem valorizados durante a assistência oftalmológica do paciente(12). Ao constatar-se a malformação congênita, a habilidade do médico na comunicação da má notícia pode contribuir para a diminuição do impacto inicial dos familiares. Mesmo que a causa não seja identificada e a cura seja inalcançável, sempre será possível proporcionar benefícios, não somente tratando a doença e assistindo o doente, mas também orientando e confortando os familiares que geralmente encontram-se sob forte trauma emocional. Assim, através desta abordagem holística, o médico oftalmologista poderá cumprir o princípio fundamental do Código de Ética Médica de atuar humanisticamente nesta relação e com o melhor de sua capacidade profissional em benefício de seu paciente(13). A literatura nacional sobre o assunto é escassa e maiores estudos serão necessários tanto para esclarecer a etiologia das malformações oculares congênitas, como para orientar a conduta dos oftalmologistas frente às manifestações psicossociais sobrevindas nesta relação oftalmologista-paciente. 399 3. Verma AS, FitzPatrick DR. Anophthalmia and microphthalmia. Orphanet J Rare Dis. [periódico na internet] 2007 [citado 2012 julho 10];2:47:[cerca de 8p]. 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Geralmente é assintomático, contudo deve ser avaliado periodicamente com exames, sendo um deles a campimetria computadorizada que se encontra alterada em 90% dos casos. Relatamos o caso de um homem de 61 anos sem diagnóstico prévio de melanocitoma do disco óptico. Discute-se a importância de um diagnóstico diferencial com melanoma e acompanhamento seriado do paciente. Descritores: Disco óptico/patologia; Neoplasias do nervo óptico/complicações; Melanoma/diagnóstico; Diagnóstico diferencial; Diagnóstico por imagem; Relatos de casos ABSTRACT The optic disc melanocytoma is a benign tumor, with little predisposition to become a melanoma. It is usually asymptomatic, nonetheless should be evaluated periodically, most often by computerized perimetry, which in 9 out of 10 cases will show some alteration. In the following paper we report the case of 61 years old man without previous diagnosis of optic disc melanocytoma and discuss the importance of melanoma differential diagnosis and monitoring. Keywords: Optic Disc/pathology; Optic nerve tumors/complications; Melanoma/diagnosis; Differential diagnosis; Diagnostic imaging; Case reports 1,2,3 4 Residente de Oftalmologia do Instituto de Olhos de Goiânia – Goiânia (GO), Brasil; Doutor, Departamento de Retina e Vítreo do Instituto de Olhos de Goiânia – Goiânia GO – Brasil. Os autores declaram não haver conflito de interesses. Recebido para publicação em 22/08/2012 - Aceito para publicação em 13/01/2013 Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (6): 400-3 Diagnóstico e conduta em melanocitoma do disco óptico 401 INTRODUÇÃO O melanocitoma do disco óptico é uma alteração com a qual os oftalmologistas necessitam se familiarizar, principalmente em virtude do importante diagnóstico diferencial com melanoma. Caracteriza-se por uma lesão densamente pigmentada, pouco sobrelevada, arredondada, geralmente localizada no quadrante temporal inferior do disco óptico e tipicamente unilateral. É considerado um tumor benigno, assintomático, que evolui com transformação maligna em 1-2% dos casos(1,2). Em geral, o melanocitoma é estacionário ou apresenta crescimento muito lento. Na grande maioria dos casos não interfere na acuidade visual e raramente causa uma perda súbita ou progressiva da visão(3,4). O diagnóstico é feito comumente em exame oftalmológico de rotina, e deve ser complementado com exames de imagem como ecografia, angiofluoresceinografia e campimetria computadorizada. Relatamos o caso de um homem de 61 anos com diagnóstico de melanocitoma com campo visual normal e sem alteração na acuidade visual. Foram realizados exames para elucidação do diagnóstico e melhor conduta. Figura 2: Angiofluoresceinografia revelou bloqueio da fluorescência na topografia do melanocitoma em todos os tempos Tomografia de coerência óptica (OCT 2000 Topcon-Japan) mostrou lesão elevada sobre disco óptico, com camada de alta refletividade e sombreamento através deste, sem edema na retina sensorial e sem infiltração de fluido sub-retiniano nesta região (figura 3). RELATO DE CASO Paciente do sexo masculino, 61 anos, pardo, pintor, procurou o ambulatório do Instituto de Olhos de Goiânia para consulta oftalmológica de rotina em outubro de 2011. O exame inicial revelou melhor acuidade visual corrigida de 0,8 em ambos os olhos (AO). A biomicroscopia do segmento anterior estava dentro dos padrões da normalidade, com todos os meios transparentes e pressão intraocular de 16 mmHg AO. À fundoscopia observou-se lesão enegrecida, arredondada e elevada sobre a papila do disco óptico, acometendo o quadrante nasal inferior do olho esquerdo. Não possuía diagnóstico prévio de lesão em fundo de olho. Campimetria computadorizada central 54/24 (Humphrey 750-USA) mantendo padrão habitual e similar ao olho contralateral (figura 1). A angiofluoresceinografia TRC 50DX (Topcon-Japan) apresentou lesão papilar hipofluorescente em todos os tempos e ausência de extravasamento de contraste (figura 2). Figura 3: OCT mostrando lesão elevada na localização do nervo óptico com alta refletividade e sombreamento A ecografia B do OE mostrou lesão elevada, sólida, com formato arredondado na frente do nervo óptico de 1,76 mm em corte anteroposterior. E na ecografia A evidenciou picos elevados na localização da lesão pigmentada. Figura 1: Campimetria computadorizada sem aumento da mancha cega Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (6): 400-3 402 Figueiredo MNFC, Machado ML, Oliveira FG, Vieira DM, Nassaralla Junior JJ O paciente foi reavaliado com exame de rotina oftalmológica, angiofluoresceinografia e OCT dois meses após o diagnóstico, não havendo alteração do aspecto da lesão. Atualmente o paciente encontra-se em seguimento semestral. DISCUSSÃO O melanocitoma do disco óptico é tipicamente pequeno, de aproximadamente 2 mm de diâmetro e 1 mm em espessura, e na maioria das vezes unilateral. É um tumor benigno, arredondado, localizado frequentemente em região temporal inferior do disco óptico, e geralmente estacionário. Aparece como uma lesão pigmentada de cor marrom escura ou preta. A idade média do diagnóstico é de 50 anos, e distribuição igual entre as raças(1,2). No caso relatado neste estudo o tumor apresentava o tamanho e forma compatível com o descrito na literatura com 1,76 mm em corte anteroposterior, contudo diferentemente das estatísticas estava localizado em região nasal inferior do disco óptico. Enquanto alguns melanocitomas são confinados no disco, a maioria dos casos envolve de forma adjacente a retina e a coroide. Segundo Joffe et al.(3), 18% dos pacientes apresentam lesão pigmentada confinada à cabeça do nervo óptico, 77% apresenta extensão para a retina e 47% possui componente coroidal justapapilar. Além disso, pode estar associado à edema de nervo óptico, microhemorragias, edema na retina ou fluidos subretinianos(5,6). Os melanocitomas do nervo óptico são caracterizados como estáveis ou apresentam crescimento lento da lesão(3). Joffe et al. acompanharam 40 casos por mais de um ano e encontraram um pequeno crescimento em 15% dos casos(3). O padrão de crescimento que pode ocasionalmente ocorrer em melanocitomas ainda não é conhecido. Apple et al.(4) descreveram o primeiro caso de transformação maligna de um nervo óptico em melanocitoma, no entanto, não houve evidência com relação à origem do melanoma que pode ter surgido a partir da coroide ou do nervo óptico. O diagnóstico diferencial do melanocitoma deve ser feito primeiramente com o melanoma maligno devido à sua morbidade e mortalidade, por isso antes de fazer o diagnóstico de melanocitoma, é fundamental descartar melanoma. O melanoma maligno tem como características típicas: espessura de mais de 1,5 mm, fluido sub-retiniano, presença de pigmento cor de laranja, presença de vascularização na ecografia e hiperfluorescência da lesão na angioflouresceinografia(7,8). Outros diagnósticos diferenciais são: nevo de coroide, hiperplasia do epitélio pigmentar da retina, adenoma do epitélio pigmentar da retina e melanoma metastático do disco óptico(9). A literatura descreve que a transformação maligna é muito rara, de aproximadamente 1-2% dos casos(2). Deve-se considerar como risco de malignidade se houver crescimento progressivo ou envolvimento extenso do disco óptico com perda da visão, embora que 10-15% dos melanocitomas terão aumento sutil de tamanho durante seu seguimento(4,8). A partir da identificação de uma lesão suspeita, é imprescindível o acompanhamento próximo do paciente nos primeiros meses, com avaliação clínica oftalmológica, além de ecografia modo A e B, OCT, angiofluoresceinografia e campimetria computadorizada. À angiofluoresceinografia, o melanocitoma apresenta hipofluorescência precoce por bloqueio devido à densa pigmentação do tumor, que se mantém em todos os tempos do exame(7,10). Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (6): 400-3 Geralmente a lesão é assintomática, contudo é possível encontrar defeitos do campo visual e perda da visão. Mais de 90% dos casos vão ter algum defeito na campimetria computadorizada, entretanto esses defeitos são raramente sintomáticos(11). As alterações incluem aumento da mancha cega e defeito na camada de fibras nervosas. O caso descrito se torna interessante pelo aspecto incomum e por não apresentar alteração no campo visual. A maioria não cursa com perda da visão, mas em 25% dos casos pode ocorrer uma perda leve da visão(12). No caso relatado não houve perda de visão, estando de acordo com a maioria dos casos. As causas de perda visual em melanocitomas do disco óptico são múltiplas. Joffe et al.(3) avaliaram 40 pacientes e encontraram em 75% dos olhos acuidade visual com variação de 20/15 a 20/30. Zimmerman(13,14,15) descreveu um caso mostrando necrose isquêmica de um melanocitoma do nervo óptico que estava relacionado com oclusão de ramo vascular anômalo que nutre o tumor e a retina temporal. Apesar desses relatos isolados, a maior causa de diminuição da visão é atribuída ao edema dos axônios a partir da compressão das fibras nervosas e seu suprimento vascular pelo tumor(11). A ecografia é importante para acompanhamento do crescimento da lesão. O modo A avalia o tamanho do tumor e o modo B revela, na maioria das vezes, uma lesão sólida com refletividade interna regular, sem vascularização interna(16). A OCT não apresenta alterações específicas, porém é de grande valor para acompanhar edema de retina e extensão do fluido subretiniano(17). Uma lesão pigmentada do disco óptico e área peripapilar, desconhecida e não documentada previamente, é motivo de preocupação. No entanto, conhecendo as principais características de um melanocitoma do disco óptico pode ajudar no diagnóstico desta lesão e diferenciá-la de melanoma de coroide. O paciente deve realizar os exames citados e retornar mensalmente para reavaliação. Se não houver mudanças no aspecto da lesão, o seguimento passa a ser semestral. O acompanhamento periódico é importante para avaliar mudanças no tamanho, forma e consistência da lesão. Se um melanocitoma do disco óptico tem características atípicas, só podemos excluir a hipótese de melanoma após o paciente ter sido acompanhado ao longo do tempo e ausência de alterações sugestivas de melanoma. Um grande envolvimento do disco óptico e/ou crescimento progressivo da lesão pigmentada com perda de visão é sugestivo de malignidade(4). Nesses casos de suspeita de transformação maligna, deve-se considerar a enucleação e braquiterapia. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. Shields JA, Demirci H, Mashayekhi A, Eagle RC Jr, Shields CL. Melanocytoma of optic disc: a review. Surv Ophthalmol. 2006;51(2):93-104. Shields JA, Shields CL, Piccone M, Snady-McCoy LC. Spontaneous appearance of an optic disk melanocytoma in an adult. Am J Ophthalmol. 2002;134(4):614-5. Joffe L, Shields JA, Osher RH, Gass JD. 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Am J Ophthalmol. 2000;130(6):845-7. Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (6): 400-3 ARTIGO 404 DE REVISÃO Aplicação da mitomicina C na cirurgia refrativa Mitomycin C application in refractive surgery Caroline Piva1, Marcony R. Santhiago2 RESUMO A mitomicina C teve seu uso profilático e terapêutico estabelecido, ao longo dos anos, para diminuir o haze depois da ablação superficial. A mitomicina C é segura e eficaz como uma terapia adjuvante aplicada após um procedimento primário de ceratectomia fotorrefrativa ou após um retratamento com ceratectomia fotorrefrativa após o laser in situ keratomileusis LASIK. A mitomicina age modulando a cicatrização após a cirurgia. Constitui-se num potente inibidor de mitose, bloqueia a ativação e a profliferação dos fibroblastos e a diferenciação dos miofibroblastos. Embora existam muitos estudos apontando a segurança da mitomicina nas doses ultilizadas, ainda persistem dúvidas quanto à segurança, a longo prazo, do uso da mitomicina. Quando as córneas são examinadas com microscópios confocal, após depleção inicial dos ceratócitos, a densidade celular parece retornar ao normal seis a 12 meses após o uso de mitomicina C . A maioria dos estudos clínicos não encontrou diferença significativa entre a densidade endotelial celular préoperatória e pós-operatória quando a mitomicina C 0.02% foi aplicada durante a cirurgia com um tempo de exposição de 2 minutos ou menos. Em aproximadamente 14 anos, a mitomicina C mostrou-se eficaz na prevenção e tratamento do haze corneano. Descritores: Mitomicina; Ceratectomia fotorrefrativa; Miofibroblastos; Cicatrização ABSTRACT Over the years, mitomycin C has been used by refractive surgeons to prophylactically decrease haze after surface ablation procedures and therapeutically in the treatment of preexisting haze. Development of mitomycin C treatments has had a significant role in the revival of surface ablation techniques. We reviewed the literature regarding mechanism of action of mitomycin C, its role in modulating wound healing after refractive surgery, and its safety and efficacy as adjuvant therapy applied after primary photorefractive keratectomy surgery or after photorefractive keratectomy re-treatment after laser in situ keratomileusis and other corneal surgeries and disorders. The drug is a potent mitotic inhibitor that effectively blocks keratocyte activation, proliferation, and myofibroblast differentiation. Many studies have suggested that mitomycin C is safe and effective in doses used by anterior surface surgeons, although there continue to be concerns regarding long-term safety. After initial depletion of anterior keratocytes, keratocyte density seems to return to normal 6 to12 months after the use of mitomycin C when corneas are examined with the confocal microscope. Most clinical studies found no difference between preoperative and postoperative corneal endothelial cell densities when mitomycin C 0.02% was applied during refractive surgery,with exposure time of 2 minutes or less. After approximately 14 years of use, mitomycin C has been found to be effective when used for prevention and treatment of corneal haze. Keywords: Mitomycin; Photorefractive keratectomy; Myofibroblasts; Wound healing 1 2 Hospital Federal de Bonsucesso – Rio de Janeiro (RJ), Brasil; Departamento de Oftalmologia da Universidade de São Paulo (SP), Brasil. Trabalho foi realizado no Setor de Cirurgia Refrativa do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de São Paulo (SP), Brasil. Os autores declaram não haver conflito de interesses. Recebido para publicação em 29/09/2014 - Aceito para publicação em 14/10/2014 Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (6): 404-7 Aplicação da Mitomicina C na cirurgia refrativa INTRODUÇÃO E m 1956(1), a mitomicina A e B foram isoladas a partir do Streptomyces caespitosus. Pouco depois, foi descoberta a mitomicina C (MMC)(1,2). A mitomicina é um antibiótico que pertence a família das quinolonas antineoplásicas. Age como um agente alquilante após ativação enzimática, resultando em cross-linking de DNA. O potente efeito da MMC na replicação celular tem chamado a atenção dos pesquisadores oftalmológicos. Seus potenciais benefícios em prevenir ou inibir a formação de cicatrizes apontam uma série de possíveis aplicações. A aplicação da MMC tem otimizado os resultados de tratamentos de desordens do segmento anterior, tais como: glaucoma, pterígio e neoplasia intraepitelial conjutival e corneana(3,4). A cicatrização corneana após procedimentos refrativos A cicatrização corneana contribui para a eficácia e segurança de todos os procedimentos refrativos. A variabilidade na cicatrização é o principal fator envolvido em casos de hipercorreção, hipocorreção, opacidade estromal e outras complicações possíveis dessas cirurgias(5). Dependendo do nível de correção almejada, a cicatrização corneana e os estímulos para a resposta fibrótica podem ser mais fortes após o PRK. Na verdade, a principal consequência são os defeitos estruturais e funcionais do epitélio da membrana basal ocorridos quando há grande superfície de irregularidade após altas correções(6,7). Concluíuse que a apoptose dos ceratócitos, assim como a posterior proliferação e geração de miofibroblastos, foi diferente qualitativamente e quantitativamente no PRK para alta miopia. Tal diferença, também ocorreu na comparação PRK para baixa miopia ou LASIK para alta miopia. A MMC como terapia adjuvante após o PRK A técnica original de ablação de superfície, o PRK, envolve a remoção epitelial mecânica, com remoção da membrana basal, e a posterior fotoablação a laser da camada de Bowman e do estroma anterior(8). A resposta cicatricial corneana posterior ao PRK é geralmente mais intensa do que após o LASIK para níveis de correção similares. As complicações relacionadas à cicatrização, tais como o haze e a regressão, tendem a ser mais significativas após cirurgia de PRK. Há vários processos interrelacionados, e algumas vezes uma resposta biológica imprevisível, envolvida no processo de cicatrização corneana após os procedimentos refrativos. Posteriormente ao PRK, a organização da matriz extracelular pode ser alterada no estroma anterior. Isto pode estar associado à diminuição da transparência (denominado haze) em algumas córneas. Na maioria dos pacientes, o nível de opacidade estromal formada após o PRK não é clinicamente significativa. Contudo, em alguns, especialmente após altos níveis de correção, a opacidade pode ser severa. A geração e a persistênsia de miofibroblastos parece ser uma resposta biológica primária responsável pelo desenvolvimento do haze corneano(9,10). Miofibroblastos são células contráteis com transparência reduzida, supostamente pela diminuição da produção intracelular de crystallin. Opacidade anterior corneana, ou haze, ocorre em 1% a 4% dos olhos submetidos a procedimentos de ablação de superfície, tais como PRK sem MMC profilática(11,12). O desaparecimento do haze está associado ao desaparecimento de miofibroblastos e ao remodelamento do colágeno estromal pelos ceratócitos. 405 A possível formação do haze subepitelial severo corneano tendia a limitar os procedimentos de ablação de superfície e as opções para corrigir altos erros refrativos(13). Após alguns anos, o uso intraoperatório da MMC tópica associada ao PRK tem sido considerado um tratamento adjunto eficaz para limitar a formação do haze corneano subepitelial, especialmente após correção de alta miopia(14). Em 2000, houve os primeiros relatos sobre a eficácia da MMC 0,02% na prevenção da recorrência de fibrose corneana subepitleial(15). Mostrou-se também que a concentração da MMC 0,02% foi tão efetiva quanto a de 0,002%. Os tempos de exposição curtos, até 12 segundos, foram tão efetivos quanto as longas exposições (2 min e 1 min) na redução do haze subepitelial e na depleção da densidade de miofibroblastos no estroma anterior após 1 mês de PRK - 9D. Contudo, para miopias moderadas e profundidade superficial, a dose baixa parece ser igualmente efetiva. Mudanças no tempo de exposição impactam menos na absorção da MMC pela córnea e humor aquoso do que mudanças na concentração(16,17). Assim, a droga é geralmente aplicada por 12 segundos a 1 minuto, dependendo da profundidade da ablação(18,19). A abordagem padrão inicia com a MMC 0.02% por 30 segundos nos casos primários de PRK e com a MMC 0.02% por 1 minuto nos casos mais complicados, tais como os buttonhole flaps após LASIK, o PRK após ceratotomia radial ou ceratoplastia penetrante, ou os retoques com o PRK após o LASIK(20). Os mais importantes efeitos da MMC após ablação superficial são a inibição da proliferação de ceratócitos (e, portanto, repopulação do estroma anterior) e a inibição resultante da diferenciação dos miofibroblastos de células precurssoras(21). Embora a morte celular dos ceratócitos via apoptose ou necrose também seja maior após tratamento com a MMC após o PRK(22). Isto não parece ser o efeito responsável pela eficácia clínica da MMC. Houve diminuição da celularidade do estroma anterior quando comparada aos controles até 1 mês após tratamento com o PRK associado à MMC, persistindo por até 6 meses após a cirurgia. Isso, eleva a preocupação em relação a segurança a longo prazo do tratamento com a MMC. Algum conforto pode ser obtido em estudos com microscópio confocal cujos resultados mostram, após depleção inicial, qie a densidade de ceratócitos retornou ao normal após 6 a 12 meses posteriores ao uso de MMC(23,24). Contudo, longo seguimento e décadas de estudos histológicos após tratamento com a MMC são necessários para dispersar preocupações quanto a complicações a longo prazo. Outra preocupação dos cirurgiões refrativos é o potencial efeito da MMC sobre o endotélio corneano(25,26). A maioria dos estudos clínicos não encontrou diferença entre densidade celular endotelial pré-operatória e pós-operatória quando 0.02% MMC foi aplicada durante procedimentos refrativos. Há limitações significativas dos estudos sobre a segurança da MMC na camada endotelial(27,28). A MMC após retratamento com o PRK após LASIK Em alguns casos é muito difícil realizar um levantamento de flap, principalmente se o flap do LASIK foi realizado com laser de femtossegundo(29,30). Um retratamento numa área de superfície previamente ablada é mais suscetível a formação do haze devido à injúria repetida sobre a membrana basal e a presença de ceratócitos residuais ativados no local da ablação. Alguns autores têm realizado retoques na ablação superficial sem a MMC e não encontraram incidência significativa do haze pósoperatória no tratamento da miopia residual(31,32). Contudo, a Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (6): 404-7 406 Piva C, Santhiago MR tendência ao desenvolvimento do haze é diretamente proporcional ao número de retratamentos. Vários estudos relatam opacidade pós-peratória em olhos que tiveram PRK e posterior LASIK sem o uso da MMC(33,34 ). Demonstrou-se ser seguro e efetivo o uso de PRK com MMC como uma terapia adjuvante para corrigir erro residual refrativo após LASIK(35,36). Embora não haja um consenso sobre a necessidade do uso da MMC no tratamento pós-PRK para correção de miopia residual, estudos sugerem que seu uso é seguro para fazer retoques em ablações superficiais(37). CONCLUSÃO Há mais de 10 anos oftalmologistas iniciaram o uso da MMC profilaticamente e terapeuticamente para controlar o haze. Esse potente inibidor de proliferação celular e geração de miofibroblastos provou ser efetivo na modulação da cicatrização. Portanto, é um potente adjuvante para o tratamento e prevenção do haze após procedimentos ablativos. A MMC parece ser segura nas doses utilizadas rotineiramente por cirurgiões de superfície anterior, com poucos relatos de problemas, tais como a descompensação endotelial ou a necrose maior do que 1.25 D ou remoção tecidual com ablação a laser maior do que 50 a 75µm estromal. Uma recomendação comum na comunidade de cirurgia refrativa é o uso profilático da MMC com o PRK para tratamentos maiores do que -4 e -6 D de miopia, astigmatismo Apesar da inquestionável eficácia da MMC na prevenção e tratamento do haze, permanecem ainda algumas questões sobre quais os parâmetros ótimos de tratamento para MMC e qual o perfil de segurança do seu uso a longo prazo. REFERÊNCIAS 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. Shiraha Y, Sakai K, Teranaka T. Clinical trials of mitomycin C, a new antitumor antibiotic; preliminary report of results obtained in 82 consecutive cases in the field of general surgery. Antibiot Annu. 1959;6:533–40. Wakaki S. Recent advance in research on antitumor mitomycins. Cancer Chemother Rep. 1961;13:79–86. Bligh HF, Bartoszek A, Robson CN, et al. Activation of mitomycin C byNADPH:cytochrome p-450 reductase. Cancer Res. 1990;50(24):7789–92. Cummings J, Spanswick VJ, TomaszM, Smyth JF. 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Só serão aceitos os relatos de casos clínicos de relevada importância, quer pela raridade como entidade nosológica, quer pela não usual forma de apresentação. Deve ter: Introdução, Descrição objetiva do caso, Discussão, Resumo, Descritores, Título em Inglês, Abstract e Keywords e Referências. Cartas ao Editor: Têm por objetivo comentar ou discutir trabalhos publicados na revista ou relatar pesquisas originais em andamento. Serão publicadas a critério dos Editores, com a respectiva réplica quando pertinente. APRESENTAÇÃO E SUBMISSÃO DOS MANUSCRITOS Preparo do Manuscrito: A) Folha de Rosto deverá conter: • Título do artigo, em português e inglês, contendo entre dez e doze palavras, sem considerar artigos e preposições. O Título deve ser motivador e deve dar idéia dos objetivos e do conteúdo do trabalho; • Nome completo de cada autor, sem abreviaturas, porém se o autor já possui um formato utilizado em suas publicações, deve informar à secretaria da revista; • Indicação do grau acadêmico e/ou função acadêmica e a afiliação institucional de cada autor, separadamente. Se houver mais de uma afiliação institucional, indicar apenas a mais relevante. Cargos e/ou funções administrativas não devem ser indicadas. • Indicação da Instituição onde o trabalho foi realizado; • Nome, endereço, fax e e-mail do autor correspondente; • Fontes de auxílio à pesquisa, se houver; • Declaração de inexistência de conflitos de interesse. O artigo enviado deverá ser acompanhado de carta assinada por todos os autores, autorizando sua publicação, declarando que o mesmo é inédito e que não foi, ou está sendo submetido à publicação em outro periódico e foi aprovado pela Comissão de Ética em Pesquisa da Instituição em que o mesmo foi realizado. A esta carta devem ser anexados: • Declaração de Conflitos de Interesse, quando pertinente. A Declaração de Conflitos de Interesses, segundo Resolução do Conselho Federal de Medicina nº 1595/2000, veda que em artigo científico seja feita promoção ou propaganda de quaisquer produtos ou equipamentos comerciais; • Informações sobre eventuais fontes de financiamento da pesquisa; • Artigo que trata de pesquisa clínica com seres humanos deve incluir a declaração de que os participantes assinaram Termo de Consentimento Livre Informado. Todas as pesquisas, tanto as clínicas como as experimentais, devem ter sido executadas de acordo com a Declaração de Helsinki. A Revista Brasileira de Oftalmologia não endossa a opinião dos autores, eximindo-se de qualquer responsabilidade em relação a matérias assinadas. Os artigos podem ser escritos em português, espanhol, inglês ou francês. A versão “on-line” da revista poderá ter artigos apenas em inglês. A Revista Brasileira de Oftalmologia recebe para publicação: Artigos Originais de pesquisa básica, experimentação clínica ou cirúrgica; Divulgação e condutas em casos clínicos de relevante importância; Revisões de temas específicos, Atualizações; Cartas ao editor. Os Editoriais serão escritos a convite, apresentando comentários de trabalhos relevantes da própria revista, pesquisas importantes publicadas ou comunicações dos editores de interesse para a especialidade. Artigos com objetivos comerciais ou propagandísticos serão recusados. Os manuscritos deverão obedecer as seguintes estruturas: Artigo Original: Descreve pesquisa experimental ou investigação clínica - prospectiva ou retrospectiva, randomizada ou duplo cego. Deve ter: Título em português e inglês, Resumo estruturado, Descritores; Abstract, Keywords, Introdução, Métodos, Resultados, Discussão, Conclusão e Referências. Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (6): 408-9 B) Segunda folha Resumo e Descritores: Resumo, em português e inglês, com no máximo 250 palavras. Para os artigos originais, deverá ser estruturado (Objetivo, Métodos, Resultados, Conclusão), ressaltando os dados mais significativos do trabalho. Para Relatos de Caso, Revisões ou Atualizações, o resumo não deverá ser estruturado. Abaixo do resumo, especificar no mínimo cinco e no máximo dez descritores (Keywords) que definam o assunto do trabalho. Os descritores deverão ser baseados no DeCS Descritores em Ciências da Saúde - disponível no endereço eletrônico http://decs.bvs.br/ Abaixo do Resumo, indicar, para os Ensaios Clínicos, o número de registro na base de Ensaios Clínicos (http://clinicaltrials.gov)* C) Texto Deverá obedecer rigorosamente a estrutura para cada categoria de manuscrito. Em todas as categorias de manuscrito, a citação dos autores no texto deverá ser numérica e sequencial, utilizando algarismos arábicos entre parênteses e sobrescritos. As citações no texto deverão ser numeradas sequencialmente em números arábicos sobrepostos, devendo evitar a citação nominal dos autores. Introdução: Deve ser breve, conter e explicar os objetivos e o motivo do trabalho. 409 Métodos: Deve conter informação suficiente para saber-se o que foi feito e como foi feito. A descrição deve ser clara e suficiente para que outro pesquisador possa reproduzir ou dar continuidade ao estudo. Descrever a metodologia estatística empregada com detalhes suficientes para permitir que qualquer leitor com razoável conhecimento sobre o tema e o acesso aos dados originais possa verificar os resultados apresentados. Evitar o uso de termos imprecisos tais como: aleatório, normal, significativo, importante, aceitável, sem defini-los. Os resultados da pesquisa devem ser relatados neste capítulo em seqüência lógica e de maneira concisa. Informação sobre o manejo da dor pós-operatório, tanto em humanos como em animais, deve ser relatada no texto (Resolução nº 196/96, do Ministério da Saúde e Normas Internacionais de Proteção aos Animais). Resultados: Sempre que possível devem ser apresentados em Tabelas, Gráficos ou Figuras. Discussão: Todos os resultados do trabalho devem ser discutidos e comparados com a literatura pertinente. Conclusão: Devem ser baseadas nos resultados obtidos. Agradecimentos: Devem ser incluídos colaborações de pessoas, instituições ou agradecimento por apoio financeiro, auxílios técnicos, que mereçam reconhecimento, mas não justificam a inclusão como autor. Referências: Devem ser atualizadas contendo, preferencialmente, os trabalhos mais relevantes publicados, nos últimos cinco anos, sobre o tema. Não deve conter trabalhos não referidos no texto. Quando pertinente, é recomendável incluir trabalhos publicados na RBO. As referências deverão ser numeradas consecutivamente, na ordem em que são mencionadas no texto e identificadas com algarismos arábicos. A apresentação deverá seguir o formato denominado “Vancouver Style”, conforme modelos abaixo. Os títulos dos periódicos deverão ser abreviados de acordo com o estilo apresentado pela National Library of Medicine, disponível, na “List of Journal Indexed in Index medicus” no endereço eletrônico: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/ entrez/query.fcgi?db=journals. Para todas as referências, citar todos os autores até seis. Quando em número maior, citar os seis primeiros autores seguidos da expressão et al. Artigos de Periódicos: Dahle N, Werner L, Fry L, Mamalis N. Localized, central optic snowflake degeneration of a polymethyl methacrylate intraocular lens: clinical report with pathological correlation. Arch Ophthalmol. 2006;124(9):1350-3. Arnarsson A, Sverrisson T, Stefansson E, Sigurdsson H, Sasaki H, Sasaki K, et al. Risk factors for five-year incident age-related macular degeneration: the Reykjavik Eye Study. Am J Ophthalmol. 2006;142(3):419-28. Livros: Yamane R. Semiologia ocular. 2a ed. Rio de Janeiro: Cultura Médica; 2003. Capítulos de Livro: Oréfice F, Boratto LM. Biomicroscopia. In: Yamane R. Semiologia ocular. 2ª ed. Rio de Janeiro: Cultura Médica; 2003. Dissertações e Teses: Cronemberger S. Contribuição para o estudo de alguns aspectos da aniridia [tese]. São Paulo: Universidade Federal de São Paulo; 1990. Publicações eletrônicas: Herzog Neto G, Curi RLN. Características anatômicas das vias lacrimais excretoras nos bloqueios funcionais ou síndrome de Milder. Rev Bras Oftalmol [periódico na Internet]. 2003 [citado 2006 jul 22];62(1):[cerca de 5p.]. Disponível em: www.sboportal.org.br Tabelas e Figuras: A apresentação desse material deve ser em preto e branco, em folhas separadas, com legendas e respectivas numerações impressas ao pé de cada ilustração. No verso de cada figura e tabela deve estar anotado o nome do manuscrito e dos autores. Todas as tabelas e figuras também devem ser enviadas em arquivo digital, as primeiras preferencialmente em arquivos Microsoft Word (r) e as demais em arquivos Microsoft Excel (r), Tiff ou JPG. As grandezas, unidades e símbolos utilizados nas tabelas devem obedecer a nomenclatura nacional. Fotografias de cirurgia e de biópsias onde foram utilizadas colorações e técnicas especiais serão consideradas para impressão colorida, sendo o custo adicional de responsabilidade dos autores. Legendas: Imprimir as legendas usando espaço duplo, acompanhando as respectivas figuras (gráficos, fotografias e ilustrações) e tabelas. Cada legenda deve ser numerada em algarismos arábicos, correspondendo as suas citações no texto. Abreviaturas e Siglas: Devem ser precedidas do nome completo quando citadas pela primeira vez no texto ou nas legendas das tabelas e figuras. Se as ilustrações já tiverem sido publicadas, deverão vir acompanhadas de autorização por escrito do autor ou editor, constando a fonte de referência onde foi publicada. O texto deve ser impresso em computador, em espaço duplo, papel branco, no formato 210mm x 297mm ou A4, em páginas separadas e numeradas, com margens de 3cm e com letras de tamanho que facilite a leitura (recomendamos as de nº 14). O original deve ser encaminhado em uma via, acompanhado de CD, com versão do manuscrito, com respectivas ilustrações, digitado no programa “Word for Windows 6.0. A Revista Brasileira de Oftalmologia reserva o direito de não aceitar para avaliação os artigos que não preencham os critérios acima formulados. Versão português-inglês: Seguindo os padrões dos principais periódicos mundiais, a Revista Brasileira de Oftalmologia contará com uma versão eletrônica em inglês de todas as edições. Desta forma a revista impressa continuará a ser em português e a versão eletrônica será em inglês. A Sociedade Brasileira de Oftalmologia, Sociedade Brasileira de Catarata e Implantes Intraoculares e Sociedade Brasileira de Cirurgia Refrativa, se comprometem a custear a tradução dos artigos para língua inglesa, porém seus autores uma vez que tenham aprovado seus artigos se disponham a traduzir a versão final para o inglês, está será publicada na versão eletrônica antecipadamente a publicação impressa (ahead of print). * Nota importante: A “Revista Brasileira de Oftalmologia” em apoio às políticas para registro de ensaios clínicos da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do Intemational Committee of Medical Joumal Editors (ICMJE), reconhecendo a importância dessas iniciativas para o registro e divulgação internacional de informação sobre estudos clínicos, em acesso somente aceitará para publicação, a partir de 2008, os artigos de pesquisas clínicas que tenham recebido um número de identificação em um dos Registros de Ensaios Clínicos validados pelos critérios estabelecidos pela OMS e ICMJE, disponível no endereço: http:/ /clinicaltrials.gov ou no site do Pubmed, no item <ClinicalTrials.gov>. O número de identificação deverá ser registrado abaixo do resumo. Os trabalhos poderão ser submetidos pela Internet, pelo site rbo.emnuvens.com.br Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (6): 408-9 410 Revista Brasileira de Oftalmologia Declaração dos Autores (é necessária a assinatura de todos os autores) Em consideração ao fato de que a Sociedade Brasileira de Oftalmologia está interessada em editar o manuscrito a ela encaminhado pelo(s) o(s) autor(es) abaixo subscrito(s), transfere(m) a partir da presente data todos os direitos autorais para a Sociedade Brasileira de Oftalmologia em caso de publicação pela Revista Brasileira de Oftalmologia do manuscrito............................................................. . Os direitos autorais compreendem qualquer e todas as formas de publicação, tais como na mídia eletrônica, por exemplo. O(s) autor (es) declara (m) que o manuscrito não contém, até onde é de conhecimento do(s) mesmo(s), nenhum material difamatório ou ilegal, que infrinja a legislação brasileira de direitos autorais. Certificam que, dentro da área de especialidade, participaram cientemente deste estudo para assumir a responsabilidade por ele e aceitar suas conclusões. Certificam que, com a presente carta, descartam qualquer possível conflito financeiro ou de interesse que possa ter com o assunto tratado nesse manuscrito. Título do Manuscrito___________________________________________________________________________ Nome dos Autores_______________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________ Minha assinatura abaixo indica minha total concordância com as três declarações acima. Data____________Assinatura do Autor____________________________________________________________ Data____________Assinatura do Autor____________________________________________________________ Data____________Assinatura do Autor_____________________________________________________________ Data____________Assinatura do Autor_____________________________________________________________ Data____________Assinatura do Autor____________________________________________________________ Data____________Assinatura do Autor_____________________________________________________________ Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (6): 410