6 Segunda-feira 24 de agosto de 2015 Jornal do Comércio - Porto Alegre Economia CÂMBIO Pechincha é saída para negociar dólar Ligar para o cliente e cobrir a oferta da concorrência estão entre as práticas do mercado Só neste ano, o dólar já subiu quase 30%. Em 12 meses, a alta é de 55%. Na cotação comercial, a moeda norte-americana saltou de R$ 2,263 em 20 de agosto de 2014 para R$ 3,493 no fechamento das negociações de sexta-feira. No câmbio turismo, ao qual quem vai viajar tem de recorrer, a variação foi parecida e, na sexta-feira, a divisa fechou o dia vendida a R$ 3,663 no Rio de Janeiro. Com a disparada, pechincha é a palavra de ordem para quem precisa das verdinhas. Casas de câmbio e corretoras já entenderam isso e estão dispostas a negociar. Ligar para o cliente, perguntar quanto ele está disposto a pagar e cobrir a oferta da concorrência estão entre as práticas do mercado. Na sexta-feira, quem queria comprar dólar podia encontrar o papel-moeda entre R$ 3,56 a R$ 3,71, sem o IOF de 0,38%. A DG tinha a melhor cotação, a R$ 3,56. A TOV vendia a moeda americana a R$ 3,60l, mas estava aberta à negociação e acabou baixando o preço para R$ 3,59. A Western Union também vendia a moeda americana a R$ 3,60. Já a Cotação, cujo valor de tela era de R$ 3,71, fez de tudo para não perder o negócio e, de cara, informou que estava aberta a barganhar: reduziu o preço para R$ 3,595. Já os três maiores bancos do País são mais linha-dura quando se trata de negociar. O Banco do Brasil oferecia taxa de R$ 3,56, mas sem margem para barganha. Só que o cliente tem de pagar R$ 60 por operação. No Bradesco, o dólar saía a R$ 3,71 - sem chance de melhorar a taxa. No Itaú, o preço da divisa depende do montante a ser adquirido, variando entre R$ 3,66, até US$ 1 mil, e R$ 3,72, acima de US$ 3 mil. Antonio Jordão, gerente de câmbio da TOV, diz que a abordagem de quem precisa de dólares mudou. Atualmente, o desconto pode chegar a 2%. “Comprar dólar é fácil. Por isso, tenho que entender o cliente: saber quando vai viajar, do quanto precisa, onde trabalha. Se é de uma grande empresa, por exemplo, pode me trazer outros clientes.” Para quem vai viajar a partir de dezembro, a recomendação dos especialistas é a mesma: comprar parceladamente para diluir possíveis perdas devido à variação cambial. Uma opção é fazer até duas compras mensais até a data da viagem. A professora de finanças da Faap Virgínia Prestes lembra que a expectativa é de que a cotação comercial feche o ano entre R$ 3,60 e R$ 3,80. Há até quem fale em R$ 4, embora uma volta a R$ 3,20 também não seja descartada. Já o uso do car- MARCELLO CASAL JR/ABR/JC Ao contrário do bancos, operadoras possuem mais jogo de cintura na hora da negociação tão de crédito não é recomendado. A DG diz que prefere já trabalhar com o valor mínimo em vez de negociar com o cliente. A Western Union informou que busca oferecer aos clientes as melhores condições. O BB confirmou que não pratica distinção de taxas na venda. O Bradesco informou apenas que “independentemente do valor, a taxa é única”. Procurados, Itaú e Cotação não se pronunciaram. MERCADO DE CAPITAIS Bolsas dos EUA têm pior semana em quase quatro anos; Ibovespa fecha em queda A perspectiva de desaceleração na China voltou a causar turbulências nos mercados mundiais na sexta-feira. Nos Estados Unidos, os índices Dow Jones e S&P 500 acumularam desvalorização de mais de 5% na semana. Foi a maior perda semanal de ambos desde setembro de 2011. No Brasil, o Ibovespa caiu 1,99%, para 45.719 pontos, menor nível desde 17 de março de 2014. O Dow Jones, que reúne as ações mais negociadas da Bolsa de Nova Iorque, encerrou a sexta-feira com queda de 3,12%, para 16.459 pontos - o menor nível desde 20 de outubro do ano passado. Na semana, o índice cedeu 5,82%, no maior tombo desde a semana encerrada em 23 de setembro de 2011, quando a desvalorização somou 6,41%. O S&P 500, que abrange as ações das 500 maiores empresas da Bolsa de Nova Iorque, caiu 3,19%, para 1.970 pontos, o menor patamar desde 27 de outubro do ano passado. A queda semanal foi de 5,77%, também a maior para o período desde a semana terminada em 23 de setembro de 2011, quando o tombou chegou a 6,54%. Na China, a atividade no setor industrial recuou em agosto no maior ritmo em quase seis anos e meio, afetada pela fraqueza na demanda doméstica e por exportações, mostrou a pesquisa Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês) preliminar do Caixin/Markit. O dado reforça a apreensão com uma desaceleração forte da China. O PMI caiu para 47,1 em agosto, abaixo do resultado final de julho, que foi de 47,8. A leitura foi a pior desde março de 2009, no ápice da crise financeira global. Foi a sexta consecutiva que o indicador ficou abaixo dos 50 pontos, nível que separa crescimento da atividade e contração em base mensal. A surpreendente desvalorização do yuan na semana passada e o quase colapso das Bolsas de valores vêm provocando temores sobre a economia do país, levando os mercados financeiros a derrapar. “O PMI evidencia o quadro de desaceleração da economia chinesa em patamares superiores aos que aparecem no PIB oficial”, avalia, em relatório, o analista Marco Aurélio Barbosa, da CM Capital Markets. “Intervenções pontuais do governo nas áreas monetária e cambial parecem não estar surtindo efeitos práticos no que tange à retomada da confiança dos agentes de mercado.” As turbulências na China também derrubaram os índices europeus. O índice da Bol- sa de Londres fechou em baixa de 2,83% enquanto a Bolsa de Paris teve desvalorização de 3,19%, e a de Frankfurt caiu 2,95%. A Bolsa de Madri caiu 2,98%, e a de Milão encerrou com perda de 2,83%. Em Lisboa, a Bolsa teve queda de 2,73%. “A preocupação com o crescimento chinês tem impacto sobre os emergentes, principalmente para quem exporta commodities, como o Brasil, e traz também uma maior aversão a risco”, afirma Ignácio Rey, economista da Guide Investimentos. No Brasil, o Ibovespa, principal índice do mercado acionário brasileiro, fechou com queda de 1,99%, para 45.719 pontos, menor nível desde 17 de março de 2014. No mercado cambial brasileiro, o dólar à vista, referência no mercado financeiro, encerrou o dia com valorização de 1,03%, para R$ 3,497. Na semana, a moeda teve leve alta de 0,71%, enquanto no ano o avanço é de 30%. Já o dólar comercial, usado em transações no comércio exterior, subiu 0,98%, para R$ 3,495. A valorização na semana foi de 0,3%, e no ano já está em 31,3%.