O dólar sobe: que bom!
Por Paulo Sérgio de Moraes Sarmento
Como temos acompanhado pelos noticiários, a tendência é de subida do dólar. A
expectativa é que ele chegue a R$ 2,30 ou R$ 2,40 até o final deste ano. Abaixo de R$
2,00 é muito difícil. Nem mesmo com a intervenção do Tesouro Nacional vendendo
parte de suas reservas e retirando o IOF. Motivo? Essa valorização se deve aos sinais
da recuperação da economia americana e que vem atraindo os investidores a
comprarem mais dólares no lugar de outros investimentos.
Ora, isso é bom para todos. Afinal, o mundo inteiro vinha torcendo pelos Estados
Unidos para que voltassem a crescer e consumir. Com o dólar mais alto algumas
importações brasileiras da China ficam menos atraentes e com isso a indústria
nacional desses produtos pode voltar a produzir, a exemplo das fábricas de vestuário,
calçados, impressos e muitos outros.
O desequilíbrio da balança comercial pode deixar de existir por reduzir o volume das
importações que superam o das exportações. Melhora a posição da indústria nacional
e não precisamos comprar dólares valorizados para importar. Isso é bom.
Com o Real desvalorizado, as exportações ganham mais força. Os nossos preços
ficam mais baratos em dólar e de contra peso camuflamos o alto custo Brasil.
Aumentando as exportações, trazemos mais dólares valorizados para nós. Também é
bom.
Nossas consideráveis reservas do Tesouro, todas em dólar, vão ficar mais
valorizadas. Aliás, para quem tiver investimentos em dólares, depósitos no exterior,
dólares no colchão e imóveis em Miami, é igualmente bom.
Brasileiros vão deixar de viajar tanto para o exterior prestigiando assim o caro turismo
nacional que, comparativamente, acaba ficando menos caro. O estrangeiro visitará
mais o Brasil porque sua viagem será econômica. Ganham os negócios da indústria
do turismo, restaurantes, bares e o consumo interno agradece. É muito bom!
Os produtos que tenham componentes importados e mesmo os totalmente importados
ficarão mais caros. Por isso mesmo alguns deixarão de ser consumidos, ou terão
menor consumo, reduzindo-se assim a demanda - gerando uma compensação na
pressão exercida na alta dos preços e, consequentemente, na inflação. Uma
acomodação que, por esse aspecto, não deixa de ser bom. Do ponto de vista da
política externa, não precisaremos brigar com a OMC para criar barreiras de
importação e nem reclamar das barreiras dos outros.
Não é tudo bom? E porque há quem ache que o aumento do dólar é ruim? Pelos
mesmos motivos acima só que com argumentações inversas e igualmente válidas. Ou
seja, o que é bom, pode ser ruim e vice e versa dependendo do que se deseja.
Inflação é ruim, mas há quem defenda que se deva permitir o seu avanço para
estimular o crescimento. Temos isso registrado em nossa história e acabamos de ver
acontecer no governo. Em economia é assim: tudo é relativo. Quando um sobe, outro
desce. Quando o dólar sobe agrada uns e quando desce agrada outros. Tem sempre
alguém achando bom.
Paulo Sérgio de Moraes Sarmento é economista e sócio da VSW Soluções
Empresariais.
Sobre a VSW Soluções Empresariais:
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