H1 %HermesFileInfo:H-1:20121112: SEGUNDA-FEIRA, 12 DE NOVEMBRO DE 2012 Em obras Governo prepara novo modelo para atrair capital privado Pág. H4 INFRAESTRUTURA E LOGÍSTICA Parceria é a saída para o crescimento Melhorar e ampliar sistemas de transporte e telecomunicações, aumentar a oferta de energia e universalizar o saneamento básico são condições fundamentais para que o País consiga crescer e se modernizar. Este quarto caderno da série Desafios Brasileiros – parceria inédita entre o Estado e O Globo que alcança 2,5 milhões de leitores – mostra que o Brasil precisa investir no mínimo 4% ao ano do Produto Interno Bruto (PIB) em infraestrutura para alcançar uma expansão econômica sustentável. Vencida a batalha pela estabilização monetária, o País depara-se com a urgência de superar gargalos que atrapalham o desenvolvimento. Para garantir seu lugar entre as maiores economias do mundo, é preciso investir... e investir. Depois de transferir à iniciativa privada grandes aeroportos como Guarulhos, Viracopos e Brasília, o governo prepara agora um novo modelo de concessão para os terminais do Galeão e Confins. Em agosto, foi lançado o Programa de Investimentos em Logística para Rodovias e Ferrovias, que prevê investimentos privados de R$ 133 bilhões em 25 anos em 7,5 mil quilômetros de rodovias e 10 mil quilômetros de ferrovias. Em setembro, a presidente Dilma Rousseff anunciou um conjunto de medidas para baixar o custo da energia elétrica — uma antiga demanda do setor produtivo. Todas essas transformações devem ajudar a preparar terreno para a Copa de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016 e também posicionar os produtos brasileiros para conquistar fatias mais consistentes do comércio mundial. No cenário atual, o governo não consegue fazer tudo sozinho e precisa de investidores privados, que esperam regras claras, menos intervencionismo, menos burocracia e menos impostos. %HermesFileInfo:H-2:20121112: H2 Especial SEGUNDA-FEIRA, 12 DE NOVEMBRO DE 2012 INFRAESTRUTURA E LOGÍSTICA Brasil precisa duplicar investimentos para conseguir crescer 4% ao ano Especialistas afirmam que só com parcerias com o setor privado o País pode dobrar o volume de capital aplicado em infraestrutura PAULO LIEBERT/ESTADÃO-27/4/2012 Entraves. Movimento no Terminal Santos Brasil no Porto de Santos: ineficiência de algumas empresas estatais é destacada por especialistas como um dos grandes entraves ao crescimento Fernando Dantas / RIO ESTADO 2,19 2,13 2,03 1,48 1,47 0,76 0,67 0,80 0,73 0,64 0,63 0,64 0,46 0,43 0,24 0,15 0,19 Investimentos feitos nos últimos 10 anos EM PORCENTAGEM DO PIB S TO EN M EA A Gustavo Rocha, diretor-presidente e de relações com investidores da Invepar, grupo de empresas compesados investimentos em concessões de transportes, acha que o Brasil perdeu a visão de planejamento de in- fraestrutura que havia na década de 70, e apenas agora começa a retomá-la. “Agora, com a EPL (Empresade Planejamentoe Logística), há a expectativa consistente de um mercado de projetos de médio e longo prazos.” A Invepar, associação entre a OAS e os três maiores fundos de TOTAL 2,29 N RIO pensão (Previ, Petros e Funcef), ganhou a concessão do Aeroporto de Guarulhos, tem várias concessõesdeaeroportos eadministra o metrô do Rio. De 2009 a 2012, a Invepar investiu R$ 3,5 bilhões. Para Rocha, um dos gargalos para o Brasil avançar na infraestruturaéafaltadeprojetos–ligada à carência de profissionais e empresas da área, quando comparados com o volume da demanda. “O Brasil ficou 25 a 30 anos sem fazer, e o ruim de não TOTAL 3,62 SA Há décadas, País está sem ‘visão de planejamento’ TOTAL 5,42 VI RO “Só a iniciativa privada teria a agilidade para atender aos grandes eventos esportivos que estão chegando.” ÁGUA E SANEAMENTO TOTAL ID PRESIDENTE DA CONCESSIONÁRIA AEROPORTO INTERNACIONAL DE GUARULHOS 2001/2010 TRANSPORTES H ANTÔNIO MIGUEL MARQUES TELECOMUNICAÇÕES OS RT “É insustentável o Tesouro transferir mais R$ 150 bilhões, R$ 200 bilhões para o BNDES. Nem o próprio banco quer isso.” 1990/2000 1981/1989 PO CONSULTOR ELETRICIDADE Obstáculos. Apesar do bom momento para a infraestrutura, com o anúncio recente do pacote de concessões rodoviárias e ferroviárias de R$ 133 bilhões, e outros anúncios por vir, como o pacote para portos, Frischtak vê uma série de desafios que terão de ser enfrentados para que se possa dobrar o investimento em infraestrutura e logística. O primeiro deles é restaurar a competência técnica das agências reguladoras, e acabar com a ingerência política nesses órgãos. Ele acredita que a presidente DilmaRousseff estáatacandoessa questão, como fica claro com a nomeação técnica de Magda Chambriard para a Agência Nacional de Petróleo (ANP), mas o problema persiste nas agências ligadas aos transportes, a AgênciaNacional deTransportesTerrestres (ANTT) e a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq). O segundo desafio é evitar, no afã de baratear o custo do País, mudançasquesejamsentidaspelos investidores como mudança das regras do jogo. O recente pacotede barateamento da energia elétrica, que provocou grandes quedas das ações das empresas do setor, é um exemplo preocupante. O terceiro obstáculo são as diversas empresas estatais no setor de infraestrutura e logística, que primam pela ineficiência e, emalgunscasos, pela interferência política. Ele cita as companhias Docas (dos portos), empresas estaduais de energia que foram absorvidas pela Eletrobrás, especialmente da Região Norte, e di- 1971/1980 EM PORCENTAGEM DO PIB O CLAUDIO FRISCHTAK Investimentos feitos no Brasil N erradas PANORAMA DA INFRAESTRUTURA O RI Á TU OR OP ER TE IO A OR R SP IÁ N V A RO TR ET M TE IO OR R SP IÁ N V A O R TR R FE TE O OR RI SP IÁ N V A O D TR RO ES ÇÕ A IC UN M A CO GI A LE ER RIC TE EN ÉT EL ● Mãos teira),daprimeirafasedaprivatização ferroviária, dos terminais portuários privativos e daqueles arrendados dentro dos portos públicos, e está negociando apoio para todas as concessões recentes de aeroportos. Um empréstimo-ponte de R$ 1,2 bilhão para Guarulhos já foi aprovado. A O Brasil precisa, no mínimo, dobrar os investimentos em infraestruturaelogísticaparacrescer de forma sustentável a 4% ao ano.Hojeemtornode2%doProduto Interno Bruto (PIB) do País, esses investimentos deveriam saltar para a faixa entre 4% e 6%, na visão do consultor e especialista Claudio Frischtak. Ele acrescenta que, investindo menos de 3%, o Brasil não cobre nem a depreciação do capital físico per capita. “É o que observamos quando a gente sai na rua”, diz o consultor, referindo-se, por exemplo, à congestão crescente das grandes cidades e à deterioração da malha rodoviária, que faz do País um campeão de acidentes e mortes nas estradas. Segundo Frischtak, só o setor privado pode dar conta da tarefa de duplicar os investimentos em infraestrutura no Brasil. “É insustentável o Tesouro transferir mais R$ 150 bilhões, R$ 200 bilhões para o BNDES (Banco Nacional deDesenvolvimento Econômico e Social). Nem o próprio banco quer isso”, analisa. Para Antônio Miguel Marques, presidente da Concessionária Aeroporto Internacional deGuarulhos,“sóainiciativaprivada teria a agilidade para atender aos grandes eventos esportivos que estão chegando”. Frischtak acha que existe uma grandedemanda,dapartedosinvestidores, por projetos de infraestrutura no Brasil. Os grandeságios(comonaconcessão recente de aeroportos) e deságios (nas tarifas da concessão de rodovias)são umsinaldaforçadessa demanda. Eleacrescentaqueasbaixastaxas de juros no Brasil e no exterior são um estímulo adicional a empurrar o capital para os projetos brasileiros de infraestrutura. No caso dos fundos de pensão nacionais,estácadavezmaisdifí- cil alcançar a meta atuarial de rentabilidadecomtítulosderenda fixa. Asdebênturesdeinfraestrutura, criadas em 2010 e voltadas a financiar projetos no setor, com isenções fiscais, são um fator a mais de otimismo. Hoje, elas parecem próximas de deslanchar. Em outubro, a Autoban, concessionária do Sistema Anhanguera-Bandeirantes, do grupo CCR, colocou R$ 100 milhões em debêntures de infraestrutura para mais de mil investidores de private banking (pessoas físicas com grande patrimônio), por um prazo de cinco anos e taxa de juros de IPCA mais 2,71%. “A demanda foi o dobro do esperado, e colocamos pela mesma taxa que o governo capta comseuspapéis”,comemoraRenato Vale, presidente da CCR. De qualquer forma, o grande financiador da infraestrutura no Brasil continua sendo o BNDES, como explica Cleverson Aroeira da Silva, chefe do Departamento de Logística da área de Infraestrutura.“Obancotemumahistória bastanteatrelada ao financiamento da infraestrutura.” O BNDES participou ou ainda participaintensamentenofinanciamentodeconcessõesrodoviárias (mais de 30 rodovias na car- TOTAL 3,15 2001 0,67 1,69 0,46 0,07 n.d. 0,04 0,03 0,02 0,17 2002 0,75 0,66 0,35 0,05 n.d. 0,04 0,03 0,01 0,09 2003 0,58 0,47 0,24 0,07 n.d. 0,04 0,01 0,00 0,03 2004 0,50 0,69 0,25 0,10 n.d. 0,03 0,03 0,01 0,25 2005 0,57 0,66 0,32 0,16 n.d. 0,03 0,02 0,01 0,23 2006 0,66 0,53 0,38 0,12 n.d. 0,04 0,03 0,01 0,24 2007 0,68 0,47 0,33 0,12 0,04 0,02 0,04 0,01 0,13 2008 0,68 0,80 0,44 0,17 0,08 0,01 0,04 0,01 0,21 2,45 2009 0,72 0,56 0,59 0,11 0,15 0,01 0,05 0,02 0,23 2,45 2010 0,75 0,42 0,62 0,15 0,08 0,02 0,05 0,01 0,21 2011 0,59 4,48 0,49 0,15 0,05 0,03 0,09 0,00 0,17 FONTES: CASTELAR PINHEIRO E GIAMBIAGI (2012) E FRISCHTAK (2011) 1,99 1,44 1,85 2,01 2,02 1,84 2,30 2,05 INFOGRÁFICO/ESTADÃO versas empresas estaduais de saneamento. Frischtak defende a privatizaçãodascompanhiasDocas e Parcerias Público-Privadas (PPPs) na área de saneamento. “O que falta hoje é alguém que mande no porto”, diz Wilen Manteli, presidente da Associação Brasileira dos Terminais Portuários (ABPT), que critica as companhias Docas pela interferência político-partidária e pela falta de autonomia, de velocidade e de dinamismo. Manteli defende um modelo de PPP para os portos. Planejamento. Já Mauro Salga- do, diretor comercial da Santos Brasil (com três terminais de contêineres) e presidente da Federação Nacional dos Operadores Portuários (Fenop), nota que o comércio exterior brasileiro cresceu sete vezes desde a Lei dos Portos em 1993, que possibilitou a privatização. “Nenhum volume de carga deixou de ser movimentado por causa dos portos, e o valor pago pelos armadores aos portos caiu significativamente.” O ponto final defendido por Frischtak é que deve haver um planejamento de longo prazo na área de transporte e logística, como a empresa de Planejamento Energético (EPE) faz na área de eletricidade. O consultor considera necessários planos quinquenais, decenais e de 30 anos para o setor de transporte, que poderiam ficar a cargo da nova Empresa de Planejamento Logístico (EPL). Mas ele alerta também para o risco de que “a expansão dos poderes da EPL enfraqueça ainda mais a ANTT e a Antaq”. fazer não é apenas o que não foi feito,étambém quesedesaprende como faz”, diz Rocha. Um passo positivo, segundo o executivo, são as “manifestações de interesse público”, pelas quais o setor privado pode propor obras e projetos. O projeto de implantação e operação do corredor expresso Transolímpica, no Rio, e a Rota do Atlântico, em Pernambuco, são projetos derivadosdemanifestação de interesse público, aponta Rocha. Renato Vale, presidente da CCR, que tem várias concessões rodoviárias, preocupa-se com a chamada “inversão de fase”, que, segundo ele, prevaleceu em quase todas as concessões rodoviárias a partir de 2007 e 2008. Na inversão de fase, a empresa coloca a proposta econômica antes da avaliação da sua qualificação. “Definido qual é o menor preço, fica praticamente impossível para o poder concedente fazer qualquer avaliação, e ele vai ter de entregar o projeto para aquele que deu o menor preço”, critica Vale. Para ele, dessa forma “só será verificado se a empresa tem a devida qualificação trêsouquatro anosdepois,quando ela não ‘performar’”. Julio Fontana Neto, diretorpresidente da Rumo Logística, empresa do Grupo Cosan voltado à logística intermodal na exportação de açúcar e outros granéis sólidos, está otimista com o modelo de concessão ferroviária. “A gente tem tudo para ser o tal do operador ferroviário independente.” /F.D. ● Coordenação do projeto: Ari Schneider (Estado) e Sílvia Fonseca (O Globo) ● Pauta e edição: Cley Scholz (Estado) e Cristina Alves (O Globo), ● Editoras assistentes: Sandra Regina Carvalho (Estado) e Liane Thedim (O Globo); ● Redator: Cláudia dos Santos (O Globo); ● Diagramadores: Marcos Azevedo (Estado) e Anderson Oliveira (O Globo); ● Ilustração: Farrell (Estado); ● Editores de arte: Fabio Salles (Estado) e Leo Tavejnhansky (O Globo); ● Arte: Marcos Brito (Estado) e Renato Carvalho (O Globo); ● Revisão: Neemias Freire (Estado) e José Neves (O Globo) Estado: [email protected]; O Globo: [email protected] %HermesFileInfo:H-4:20121112: H4 Especial SEGUNDA-FEIRA, 12 DE NOVEMBRO DE 2012 INFRAESTRUTURA E LOGÍSTICA WERTHER SANTANA/ESTADÃO Pressa. Obras de ampliação da Rodovia Fernão Dias Parceria ajuda a tirar rodovias do papel Com novo modelo, meio público e meio privado, governo da presidente Dilma Rousseff espera acelerar a execução de obras Lu Aiko Otta / BRASÍLIA ESTADO O governo vai adotar um modelo meio privado meio público para aumentar a qualidade das rodovias brasileiras. Em dezembro, será lançado o primeiro edital de um ambicioso programa de concessão de estradas para exploraçãopela iniciativa privada,no valor de R$ 42 bilhões. Mas isso não quer dizer que o Ministério dos Transportes investirá menos. Pelo contrário. Algumas das rodovias que vão a leilão serão parcialmenteduplicadas comrecursos do orçamento federal e só depois entregues à concessionária. O objetivo é baratear as tarifas de pedágio, segundo explicou o ministro dos Transportes, PauloSérgioPassos.Seaduplicação fosse toda deixada a cargo da iniciativa privada, as tarifas teriam de ser mais elevadas. “Isso não nos interessa”, afirmou. É o caso da BR-101 na Bahia. A ideiaéconcedê-laem abrilpróximo, e a rodovia terá de ser duplicadaemcincoanos.Porém,otrecho entre Mucuri e Eunápolis já estava entre as obras do Programade AceleraçãodoCrescimento(PAC).Assim,aduplicaçãoserá feita pelo governo, ajudando a baratear a tarifa. O mesmo ocorre na BR-262 no Espírito Santo e na BR-364, em Mato Grosso. Segundo Passos, o governo pretende leiloar para concessão 7.500 km de rodovias, dos quais 5.600 km serão duplicados pelas empresas. “Quer dizer que os 1.400 km restantes são obras do PAC”, disse. “Farão parte das concessões, mas é obrigação do governo fazer.” A parceria entre governo e iniciativa privada foi a resposta encontrada pela presidente Dilma Rousseff para a dificuldade da máquina pública em investir. O problema nos últimos anos não foifaltade dinheiro, esim alentidão em tirar os projetos do papel.Abaixavelocidadefoiagravada nos dois primeiros anos do atual governo pela “faxina” que derrubouacúpula dosTransportes e obrigou a uma revisão geral dos contratos em andamento. Dados mais recentes mostram que só agora o ritmo de gastos voltou aos níveis de 2010 e 2011. Ainda assim, ele é reconhecidamente demorado. “A iniciativa privadaéeficienteetemmaisagilidade”, afirmou Passos. “O governo não pode fazer tudo.” Sem burocracia. Na mão das empresas, as obras não precisam se submeter a um conjunto de rituais burocráticos que consomem muito tempo no governo, como é o caso da elaboração de editaisdelicitação.“Oconcessionário privado vai poder contratarosserviços requeridos de maneira mais sumária, mais direta do que o governo faz”, compara o ministro. Além disso, a empresa receberá a rodovia já com uma previsão de receitas e um fluxo segurodedinheiro, o quenãonecessariamente ocorre no gover● Nove lotes O primeiro leilão, da BR-116 no trecho de Minas Gerais, está programado para dezembro. Em janeiro, será a vez da BR-040. Os outros devem ficar para abril. no, onde as verbas dependem das prioridades orçamentárias. Isso não quer dizer, porém, que as obras nas rodovias concedidas surgirão da noite para o dia. Os potenciais interessados no negócio estão preocupados, por exemplo, com o risco de demora na obtenção de licenças ambientais. Elas não sairão em menosdeumano,segundoinformouadiretoradaAgênciaNacional de Transportes Terrestres (ANTT) Natália Marcassa, pois oIbamapedeanálisessobreopotencialimpacto das obras nafauna e flora em todas as estações do ano. Assim, os trabalhos de duplicação poderão demorar a começar,oque deveprejudicaro fluxo financeiro das concessionárias.Elassópoderãocobrarpedágio após concluir 10% das obras, segundo as normas divulgadas em agosto. Lições. A demora na emissão de licenças ambientais atrasou osinvestimentosprevistosnarodada anterior de concessões rodoviárias, realizada em 2008. Passos admitiu também que pode ter havido falhas na fiscalização por parte da ANTT. Para não repetir o problema, o governo já estásolicitandoalicençaambiental dos trechos que serão oferecidosemleilão. Quandoocontrato comonovoconcessionárioforassinado,noanoquevem,elepoderá optar por assumir a tarefa de conseguir a licença ou deixá-la a cargo do governo. O programa de concessões de rodovias federais prevê a oferta de nove lotes. Segundo o ministro, a preparação dos editais está “rigorosamente em dia”. APÓS A FAXINA Estradas sob concessão têm melhor avaliação Investimentos feitos em rodovias retornam ao nível histórico EM MILHÕES DE REAIS ANO DE 2010 ANO DE 2011 ANO DE 2012* ● As rodovias concedidas ga- 1.770 2.000 1.500 1.173 1.000 1.153 500 0 JAN 2012 DEZ SET *Até o mês de setembro O programa de concessão de rodovias INVESTIMENTOS OS TRECHOS A SEREM LICITADOS EXTENSÃO EM BILHÕES DE REAIS 7.500 km G BR 101 BA G BR 262 ES/MG Total R$ 42 bilhões G BR 153 TO/GO R$ 23,5 bilhões nos primeiros cinco anos G BR 050 GO/MG G BR 163 MT G BR 163 MS, BR 262 MS, BR 267 MS G BR 060 DF/GO, BR 153 GO/MG, BR 262 MG G BR 116 MG G BR 040 DF/GO/MG FONTE: MINISTÉRIO DOS TRANSPORTES INFOGRÁFICO/ESTADÃO Ministério dos Transportes é ponto fraco do PAC Pasta foi a única que fez menos este ano que em 2011; balanço que será divulgado mostra obras em 4.186 km de estradas BRASÍLIA Desde sua criação em 2007, o ProgramadeAceleraçãodoCrescimento (PAC) já executou obras em 4.186 km de rodovias. O dado consta do balanço que será divulgado nos próximos dias. Em ferrovias, foram construídos 1.368 km. Também foram realizadas 25 obras em por- tos, 14 nos aeroportos e 12 em hidrovias. A meta do governo, segundo informou o secretário do PAC, Maurício Muniz, é elevar a execução física da atual versão do programa (2011-2014) em relação à anterior (2007-2010) em 40%. Ele acredita que isso será possível porque o governo vem num processo de aprendizado na realização de investimentos. Assim, a expectativa é que as obras sejam contratadas e concluídas em menos tempo. Este ano, porém, o desempenho do PAC apresenta um ponto fraco:oMinistériodosTransportes.O volumeacumulado de gas- tosemrodoviaseferroviaséinferior ao observado em 2011. Foram R$ 8,1 bilhões até outubro, ante R$ 9,7 bilhões em igual período do ano passado. “Nas outrasáreas do PAC, nãohá nenhuma que tenha feito menos do que no ano anterior”, comentou o secretário. Segundo explicou, a Pasta passou por uma reformulação de processos após a troca de comando, e isso derrubou a conclusão de obras nos primeiros meses do ano. Os dados mensais, porém, já mostram uma recuperação. Em outubro, foi pago R$ 1,3 bilhão em investimentos do PAC a cargo do Ministé- rio dos Transportes, ante R$ 900 milhões em outubro do ano passado. Apesar da melhora no desempenho, Muniz não arrisca dizer se será possível alcançar o mesmo volume de 2011. O próprio ministro dos Transportes, Pau● Comparação R$ 8,1 bi foram investidos até outubro em comparação com os R$ 9,7 bilhões investidos no mesmo período do ano passado nham disparado das públicas em termos de qualidade, segundo mostra pesquisa da Confederação Nacional dos Transportes (CNT) divulgada em outubro. Da malha avaliada, 86,7% das privatizadas receberam avaliação ótima ou boa, enquanto entre as públicas esses conceitos foram alcançados por 27,8%. A pesquisa abrange rodovias federais e estaduais. Considerando só as federais, 40,3% foram classificadas como ótimas ou boas. Os números mostram que as rodovias concessionadas ganham pontos sobre as federais porque são mais bem conservadas e a sinalização é melhor, inclusive na pintura de faixas. A pesquisa analisa três aspectos: pavimento, sinalização e geometria. No primeiro, as rodovias federais receberam conceito ótimo em 56,8% dos trechos analisados. O conceito péssimo só atingiu 2,6%. Mas a sinalização só foi classificada como ótima em 9,6% dos trechos e a geometria – o traçado da estrada – em 3,2%. O ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, disse que a sinalização foi prejudicada em alguns trechos justamente por eles estarem recebendo obras de manutenção do pavimento. / L.A.O. lo Sérgio Passos, acha que sua Pasta realizará investimentos cerca de 8% menores do que os do ano passado. Ovolume decontratos que estão sendo assinados pelo Departamento Nacionalde Infraestrutura de Transportes (Dnit), porém, indica que a quantidade de investimentosconcluídosvaiaumentar no ano que vem. Além de contratos para reforma e manutençãode rodovias,foram iniciadas obras com grande impacto local, como as da duplicação da BR-381 entre Belo Horizonte e Governador Valadares, ambas em Minas Gerais. Segundo Muniz,essetrechoregistra altoíndi- ce de acidentes. O secretário acredita que os investimentostendem aaumentar também por causa da adoção, pelo Dnit, do Regime Diferenciado de Contratação (RDC). Criado para acelerar as obras da Copa, o RDC reduz a possibilidade de questionamentos jurídicos nas fases intermediárias da licitação. Portanto, ele permite encurtar prazos. Os programas de concessão em rodovias, ferrovias, portos e aeroportos que a presidente Dilma Rousseff está colocando em marcha terão um papel complementar ao PAC, disse o secretário. A iniciativa privada atuará nas áreas mais rentáveis. O governo seguirá investindo nas áreas menos desenvolvidas e com menor renda. / L.A.O. SEGUNDA-FEIRA, 12 DE NOVEMBRO DE 2012 %HermesFileInfo:H-5:20121112: Especial H5 INFRAESTRUTURA E LOGÍSTICA CHICO SIQUEIRA/ESTADÃO-6/3/2011 Obra para ampliar hidrovia do Tietê ao Paraná é iniciada Barragem de Santa Maria da Serra é parte de um convênio de R$ 1,5 bilhão entre o Estado de São Paulo e a União José Maria Tomazela SOROCABA ESTADO OconsórciocontratadopeloDepartamentoHidroviáriodoEstado de São Paulo para construir a barragem de Santa Maria da Serra, no Rio Piracicaba, iniciou no último dia 6 os estudos geológicos na área a ser inundada. A obra, no valor de R$ 420 milhões, deve ser concluída até 2015. O lago vai permitir a navegação em mais 55 quilômetros e levaraHidroviaTietê-Paranápara a região de Piracicaba, um dos principais polos industriais e sucroalcooleiros do Estado de São Paulo. O consórcio vencedor da licitação tem mais 18 meses para entregar o projeto executivo e os estudos ambientais para a obra. A barragem de Santa Maria da Serra levará as barcaças com cargasaté odistritodeArtemis, permitindoaintegraçãocomaferrovia em Piracicaba. A obra faz parte de um convênio de R$ 1,5 bilhão entre o governo do Estado e aUniãoparamodernizarahidrovia e ampliar a capacidade de navegação. Do montante, R$ 900 milhões sairão dos cofres federais e R$ 600 mil do Estado. O pacote inclui a ampliação do ei● Destaque Atualmente com 1.020 km de extensão, dos quais 554 km no Rio Tietê, a Hidrovia Tietê-Paraná é a segunda no Brasil em transporte de cargas, atrás apenas dos sistemas da Bacia Amazônica. Transporte de carga usa 8,5 mil km de rios no País SOROCABA O Brasil utiliza 8,5 mil km de rios para o transporte regular de cargas. Além da Hidrovia Tietê-Paraná, outros importantes corre- dores hidroviários fazem o escoamento da produção pelo País. Na região amazônica, a Hidrovia do Madeira (Corredor Oeste-Norte), com extensão navegável de 1.056 km entre Porto xo principal da hidrovia em outros 200 km, entre os municípios de Anhembi e Salto, no Médio Tietê. Para isso, serão construídas outras cinco barragens no Rio Tietê. Também está prevista a construção de portos e a instalação de terminais para carga e descarga em Araçatuba e Rubineia, além de obras de dragagem, retificação de canais e abertura em vãosdepontesaolongodahidrovia. As eclusas de Barra Bonita, Bariri, Ibitinga, Nova AvanhandavaeTrês Irmãos,todas no Tietê, passarão por reformas. Opção. Comboio de 140 metros com 5 mil toneladas de soja navega pela Tietê-Paraná Ampliação. A extensão da navegação, segundo o Departamento Hidroviário, vai triplicar o volume de cargas que passa pela hidrovia, dos atuais 7 milhões de toneladas para 21 milhões de toneladas ao ano. O aumento deve ocorrer em toda a via, com destinos finais, inicialmente, em Pederneiras, Santa Maria da Serra, Anhembi, Conchas e, por último,emSalto.Omodaléconsiderado35%maisbaratoqueotransporte rodoviário. As barragens de Anhembi e Velho e o Rio Amazonas, transporta 2,5 milhões de toneladas porano,sobretudosoja.AHidrovia do Araguaia-Tocantins (Corredor Araguaia-Tocantins) começa a ser usada no transporte de minérios das jazidas de caulim e bauxita – a previsão é de transportar até 5 milhões de toneladas anuais. Ligando o Sudeste ao Nordeste, a Hidrovia do São Francisco (CorredorSão Francisco)abrange quase toda a extensão do rio, mas sofre restrições nos períodos de seca e não tem saída para o mar. Movimenta 100 mil toneladas por ano, mas serve também ao transporte de passageiros.AHidroviadoParaguai(Corredor do Sudoeste), conecta o Rio Paraguai e o curso inferior do Rio Paraná ao Rio da Prata, com3.442km deextensão, desde Cáceres (MT), sendo 1.278 em território brasileiro. Apesar das restrições em épocas de seca, movimenta pelo menos 3 milhõesde toneladas aoano, sobretudo soja e minérios. A Hidrovia do Jacuí-Taquari-Lagoa dos Patos e Mirim (Corredor Sul), no Rio Grande do Sul, transportou 2,4 milhões de toneladas no ano passado, apenas nas vias internas. / J.M.T. Conchasestão com projeto básico e executivo emcontratação. A deLaranjalPaulistatemacontratação prevista para o início de 2013. Já as barragens de Tietê e Porto Feliz tiveram os projetos básicos concluídos e têm o estudoambiental em andamento. Os municípios que serão atingidos pela extensão planejam explorar o turismo fluvial, que já ocorre ao longo da hidrovia, especialmente em Barra Bonita. Atualmente com 1.020 km de extensão, dos quais 554 km no Rio Tietê, a Hidrovia Tietê-ParanáéasegundanoBrasilemtransporte de cargas, atrás apenas dos sistemas hidroviários da Bacia Amazônica. %HermesFileInfo:H-6:20121112: H6 Especial SEGUNDA-FEIRA, 12 DE NOVEMBRO DE 2012 INFRAESTRUTURA E LOGÍSTICA WERTHER SANTANA/ESTADÃO Empresas perdem até 20% com logística Para garantir competitividade, companhias investem no transporte e na distribuição Henrique Gomes Batista Danielle Nogueira O GLOBO As filas de navios que aguardam espaço nos portos, as estradas esburacadas, os problemas nos aeroportos e a falta de ferrovias influenciam diretamente no caixa das empresas brasileiras, seja porque elas precisam fazer gastos com logística acima da média mundial, seja porque essas dificuldades levam a um estouro de prazos nos negócios. Para evitar custos ainda maiores, as companhias no Brasil estão em busca de soluções de logística mais eficientes. Desde o controletotalda cadeia de transporte a um investimento pesado em centros de distribuição, passando pelo compartilhamento de caminhões. Apesar disso, em alguns setores os custos de logística chegam a representar 20% do faturamento, segundo levantamento da Fundação Dom Cabral. No total, o País perde R$ 83 bilhões por ano com essa ineficiência, na comparação com o modelo americano, aponta o estudo. “O custo mais elevado da logística brasileira afeta diretamente as grandes empresas que concorrem globalmente”, afirmou Paulo Resende, que coordenou a pesquisa com 126 empresas que, juntas, representam 20% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional. Alimentos. As dificuldades do transporte no Brasil ficam ainda mais evidentes em grandes empresas transnacionais. No JBS, gigante do setor de carnes, que atua no Brasil e nos Estados Unidos, a diferença é relevante: o impacto da logística é 30% maior aqui que na América do Norte, informa a empresa. Asdiferenças,contamexecutivosdogrupo,vãodosmodaisutilizados para transportar a carga ao desgaste dos pneus dos caminhões, passando pela burocracia. “O pneu de um caminhão, queaqui noBrasilprecisa ser trocado a cada 100 mil quilômetros,chega a durar 500mil quilômetros nos Estados Unidos, por causa da conservação das estradas. Além disso, aqui precisamos investir pesadamente em frota própria e cada caminhão custa R$ 500 mil. Temos 1.200 ● Comparação GILMAR SCHUMACHER DIRETOR DE LOGÍSTICA DO JBS “O pneu de um caminhão, que aqui no Brasil precisa ser trocado a cada 100 mil quilômetros, chega a durar 500 mil quilômetros nos Estados Unidos, por causa da conservação das estradas.” caminhões, enquanto nos EUA trabalhamos muito mais com transportadoras”, afirma Gilmar Schumacher, diretor de logística do JBS. Com 45 fábricas espalhadas em 10 Estados pelo Brasil, a empresatemumaestruturadeguerra para lidar com 50 mil fornecedores e 70 mil clientes nacionais. Além da frota própria e de contratos de exclusividade com diversas transportadoras, a JBS ainda conta com 14 centros de distribuição pelo Brasil, que dão maisagilidade e reduzem os custos de distribuição. “Há cinco anos tínhamos apenas três centros de distribuição pelo País”, conta Renato Costa, presidente da divisão de carnes do JBS, ressaltando que a diferença para os EUA é gritante. “Lá temos um terminal ferroviário em cada fábrica.Transportamos muita coisa também por hidrovia. Aqui, dependemos do caminhão.” Assim, afirma Costa, a empresa teve de ser criativa para reduzir seus custos. “Nossos caminhões vão aos grandes centros carregados decarne e voltam para o interior com material de higiene e limpeza, por exemplo. Já fechamos acordos com grandes fabricantes multinacionais.” Schumacher, da logística do JBS, conta que outro desafio será a implementação total da nova lei que regulamenta o trabalho dos caminhoneiros e pode elevar o custo por viagem entre 15% e 20%. Costa gostaria de usar outros modais no País, como ferrovias e hidrovias. Por isso, apoia a iniciativa do governo de estimular o setor. Para ele, os novos desafios estão focados no Nordeste, região que mais cresce no País e onde há uma maior demanda reprimida por proteína animal. Com investimentos de R$ 6,2 bilhõespara gerar 1,5 milhão de toneladas por ano – praticamente tudo destinado à exportação – , a empresa está baseada em uma operação logística integrada. “Para a empresa ter sucesso, a logística é tão importante quanto a produção de celulose em si”, afirmou José Carlos Grubisich, presidente da Eldorado Celulose e Papel, divisão de celulose da J&F, controladora do JBS. O grande diferencial no transporte da companhia é o uso de hidrovias e ferrovias. A empresa comprou 30 locomotivas e 450 vagões paralevar metade daprodução até Santos. Outra metade vai por barcaças pelo Rio Tietê, e depois seguindo depois até Santos por trem. No total, a empresa investiu R$ 800 milhões na área de transporte. Varejo. No setor do varejo, a preocupação com a logística só aumenta. Na Máquina de Vendas, holding que congrega as redes Ricardo Eletro, Insinuante, City Lar e Eletro Shopping, com 1.100lojasefaturamento estima- Custo. Uso das rodovias encarece transporte de carga e a conservação ruim das estradas eleva ainda mais as despesas do este ano em R$ 9 bilhões, a preocupação é ainda maior. Criada com a união de diversas empresas, o grupo está presente em 442 cidades. “Demos prioridade aos parceiros logísticos de maior porte com capacidade de atender às necessidades de uma empresa como a nossa. Também valorizamos a troca de experiências entre as equipes de trabalho,assimconseguimos padronizar a gestão de recebimento e distribuição de mercadorias”, informou Luiz Carlos Batista, presidente do Conselho de Administração do grupo. A Máquina de Vendas espera ainda usar outros modais, além do rodoviário, como ferrovias e cabotagem. Segundo Batista, os fretes rodoviários são 30% mais caros que nos outros modelos. Mineração. A mineradora Vale faz pesados investimentos em logísticapara assegurarsuacompetitividade. Com seu principal cliente na Ásia, a China, e seu maior rival na Austrália, a BHP Billiton, a empresa logo percebeu que, se dependesse de ferrovias e portos públicos, fatalmente ficaria para trás na briga com as gigantes da mineração. Por isso, a companhia controla a operação de ponta a ponta, da mina ao porto. A estratégia, associada ao elevado preço do minério de ferro em 2011, lhe garantiu o status de maior exportadora brasi- leira no ano passado. Na lista de instalações logísticas sob o controle da Vale estão 10 mil quilômetros de ferrovias no Brasil e quatro terminais portuários, além do Porto de Tubarão (ES). Entre as ferrovias está a Estrada de Ferro Carajás (EFC), apontada como uma das mais eficientes do mundo e por ondetrafegaomaiortremdoplaneta,com 330vagões.Ela ligaCarajás (PA), que abriga a maior reserva de minério de ferro da empresa, ao terminal Ponta da Madeira, de uso privativo da Vale, em São Luís (MA). Com 892 quilômetros, a estrada de ferro está sendo duplicada, para que os trens possam ir e vir simultaneamente. A duplicação da EFC faz parte do Programa Capacitação Logística Norte (CLN), que inclui ainda a ampliação de Ponta da Madeira, e está orçado em US$ 4 bilhões. Com os investimentos, a capacidade de transporte da ferrovia passará das atuais 130 milhões de toneladas/ano para 230 milhões de toneladas anuais até 2016. A mineradora tem ainda uma extensa frota, que inclui 18 navios dos chamados Valemax, com capacidade para 400 mil toneladas. As embarcações são as primeiras de uma encomenda de 35 feita a estaleiros na China e na Coreia do Sul, que serão entregues até 2016. Compartilhar caminhões pode ser uma saída Apesar de entender que uma melhor regulamentação da atividade dos caminhoneiros seja necessária, empresários temem que a elevação dos custos com logística seja relevante com a nova lei do setor, que começa a vigorar em março do próximo ano. O JBS estima, por exemplo, que cada viagem de caminhão pelo País pode ficar até 20% mais cara, quando a nova lei entrar em vigor. Entre os principais motivos para o aumento dos custos está a obrigatoriedade de repouso de 11 horas dos motoristas a cada 24 horas, parada para as refeições de uma hora, jornada máxi- ma de trabalho de oito horas, com no máximo duas horas extras por dia e paradas de descanso de 30 minutos a cada quatro horas de condução. Mas, para alguns especialistas, é possível anular esse aumento de custo e até ganhar dinheiro com a medida. Como a frota brasileira terá de ser con- trolada, especialistas estimam que ficará mais fácil controlar rotas, colocar planejamento no setor e, assim, compartilhar caminhões com outras empresas, reduzindo os custos totais. O outro lado. “Na verdade, a lei assusta em princípio, mas ao determinar a necessidade de O GASTO DAS COMPANHIAS Custo da logística no Brasil Média em porcentual da receita bruta (pesquisa com 126 empresas que representam 20% do PIB) EM PORCENTAGEM 6,49 QUÍMICA E PETRÓLEO 8,76 INDÚSTRIA AUTOMOTIVA 9,45 TÊXTIL 10,74 BENS DE CONSUMO 12,04 PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA 12,82 SIDERURGIA E METALURGIA 13,14 TODOS OS SETORES 14,63 MINERAÇÃO 20,88 CONSTRUÇÃO 22,69 BENS DE CAPITAL Opinião dos entrevistados na pesquisa (Mútiplas respostas são aceitas) 70,7% MELHORAR GESTÃO DAS FERROVIAS COM INTEGRAÇÃO MULTIMODAL 68,6% 67,2% 65,0% 62,7% MAIOR ACESSO ÀS FERROVIAS DO SUDESTE E DO SUL MUDANÇA NA COBRANÇA DO ICMS FONTE: FUNDAÇÃO D. CABRAL monitoramento total dos caminhões vai criar um transporte mais inteligente, permitir mais compartilhamentos de estrutura”, afirmou Gustavo Coelho, diretor comercial da Sascar, empresa de localização e soluções em monitoramento de veículos e de gestão de frota. A Sascar, contudo, espera crescer com a regulamentação. Hoje em dia, metade da frota nacional de 2 milhões de caminhões já possui algum tipo de REDUÇÃO DA BUROCRACIA PORTUÁRIA MELHORIA NAS CONDIÇÕES RODOVIÁRIAS INFOGRÁFICO/ESTADÃO sistema de monitoramento. Para colocar o sistema na outra metade da frota, provavelmente serão necessários investimentos de R$ 1,5 bilhão, calcula a empresa. O custo de implantação por veículo fica entre R$ 2,5 mil e R$ 4,5 mil. “A princípio, a nova lei gera custos, mas o fato de ter uma frota mais inteligente e controlada pode trazer benefícios para as empresas que se planejarem”, afirma Coelho. / H.G.B. SEGUNDA-FEIRA, 12 DE NOVEMBRO DE 2012 %HermesFileInfo:H-7:20121112: Especial H7 INFRAESTRUTURA E LOGÍSTICA Reforma em aeroportos tem 2 anos para acabar Com proximidade da Copa, Infraero deve conceder mais terminais à iniciativa privada O GLOBO Nos últimos cinco anos, o movimento de passageiros nos aeroportos brasileiros saltou 63%, beirando 180 milhões de pessoas em 2011. Resultado do aumento da renda média do brasileiro, do crédito farto e da maior competição entre as empresas aéreas.Nomesmoperíodo,amédia de execução dos investimentosdaInfraerofoide48%,segundo levantamento da ONG Contas Abertas. O descompasso entreaumentodedemandaeinvestimentos em expansão da oferta fezdosaeroportosumdosprincipais gargalos da infraestrutura doPaís.Filasnocheck-ineengarrafamento nas pistas de pouso tornaram-se rotina. Diante da perspectiva de novos aumentos no fluxo de passageiros – estudo da Coppe/UFRJ estima em 55% o crescimento da demanda no setor entre 2010 e 2014, para 239,5 milhões – e da proximidade da Copa do Mundo e da Olimpíada, a Infraero resolveu conceder à iniciativa privada parte dos 66 terminais que estavam sob sua tutela, com o objetivo de agilizar as obras e evitar dores de cabeça du- ranteos eventosesportivos.Aestatal afirma que a dificuldade de execução dos investimentos se deve a problemas jurídicos e de licenciamento ambiental. Licitados em fevereiro deste ano, Guarulhos (SP), Viracopos (Campinas-SP) e Brasília foram os primeiros da fila. Agora, a Infraero acerta os últimos detalhesdo modelo que será adotado no Galeão (RJ) e em Confins (MG). As novas diretrizes devem constar do pacote para o setor aéreo que o governo divulgaráestemês,apóssucessivosadiamentos. Há três opções sobre a mesa: concessão a investidores privados, em que a Infraero seria minoritária com 49% da sociedade (como no leilão de fevereiro); Parceria Público-Privada com um grande operador internacional,naqualaInfraeroseria majoritária; e transferência de gestão. A preferência da presidente Dilma Rousseff era pelo segundo modelo, mas o desinteresse dos grandes operadores deve acabar levando o governo a optar pelo primeiro. “Seria mais prudente manter as regras do leilão de fevereiro, com pequenos ajustes. Nãoháporqueficartestando novos modelos a todo momento”, diz o consultor José WilsonMassa,ex-assessor da Superintendência da Infraero no Galeão. Uma das mudanças nos novos editais deverá ser a exigência de experiência em aeroportos com movimento igual ou superior a 30 milhões de passageiros por ano. Na lici- Evolução dos investimentos da Infraero Evolução da demanda de passageiros** EM MILHÕES DE REAIS Nos 63 aeroportos administrados pela Infraero e nos três já concedidos à iniciativa privada 2007 2008 2009 2010 EXECUTADO VARIAÇÃO 1.624,733 43,4% 705,202 2.676,729 275,656** 239,470** EM MILHÕES VARIAÇÃO 17,0% 454,896 1.166,039 179,949 VARIAÇÃO 42,9% 500,390 1.221,285 155,363 VARIAÇÃO 59,5% 726,398 1.568,780 2011 2012 PREVISTO VARIAÇÃO 75,6% 1.186,716 2.011,924 369,923* 128,135 110,569 113,263 VARIAÇÃO 18,4%* 2007 2008 2009 2010 2011 2014 2016 *Até junho de 2012 **Previsão FONTES: CONTAS ABERTAS, INFRAERO E COPPE/UFRJ tação dos três primeiros terminais, essa exigência era de apenas cinco milhões de passageiros, o que acabou trazendo para o País operadores que administram aeroportos de médio porte. Os consórcios que acabam de assumirosaeroportosdeGuarulhos, Viracopos e Brasília rebatem as críticas com promessas de investimento. Juntos, eles vão investir R$ 5,8 bilhões até 2014. A Infraero planeja R$ 8,3 bilhões para todos os seus aeroportos no mesmo período. Capacidade. Um dos principais gargalos enfrentados hoje é a capacidade dos terminais de passageiros. Segundo estudo da Coppe/UFRJ, a situação de Guarulhos é a mais crítica. Em 2010, o aeroporto recebeu 26,7 milhões de passageiros acima de sua capacidade na época, de 24,9 milhões. Para 2014, a previsão de demanda é de 37,7 milhões de passageiros, aponta o estudo, próximo à capacidade projetada de 40 milhões. Em Brasília, os passageiros também sofrem com o aperto. A capacidadeem2010 erade 14milhões de passageiros. Naquele ano, 14,1 milhões de pessoas embarcaram e desembarcaram no aeroporto. Para 2014, a previsão é de um movimento de 20 milhões de pessoas. No Galeão, a situaçãoébem mais confortável: daqui a dois anos, espera-se que a demanda no terminal seja de 21,4 milhões passageiros por ano, metade da capacidade projetada (44 milhões). “As promessas da Infraero INFOGRÁFICO/ESTADÃO ● Prazo ELTON FERNANDES COPPE/UFRJ “As promessas da Infraero e das empresas que assumirão os aeroportos é de que as obras virão a tempo para os eventos esportivos.” edas empresas que assumirão os aeroportos é de que as obras virão a tempo para os eventos esportivos. A privatização pura e simples não é sinônimo de melhoria, é uma decisão política do governo. Vamos esperar e ver”, afirmaEltonFernandes, da Coppe/UFRJ,quefezo estudoapedido do Sindicato Nacional das Empresas Aéreas (Snea). A concessionária Aeroporto Internacional de Guarulhos é a queprevêinvestimentosmaisrobustos no curto prazo: R$ 3 bilhões até 2014, com foco no conforto e na segurança do usuário. Entre asobras previstas até lá estãoaconstrução deumnovo edifício-garagem com 2.400 vagas e deumnovoterminaldepassageiros, Para os 30 anos de concessão, serão R$ 6 bilhões em investimentos. Há preocupação também com o deslocamento no interior do complexo aeroportuário. Uma das novidades, informa o presidente da concessionária, AntonioMiguelMarques,éummonotrilho que vai interligar todos os terminais ao custo de US$ 40 milhões. A expectativa é que ele fique pronto em Limitações. Outro gargalo comum aos aeroportos são as pistas de pouso, seja por seu tamanho aquém do necessário ou pelo fato de a maioria dos terminais dispor de apenas uma pista. Casode Viracopos, onde um acidente com um cargueiro americano interditou o aeroporto por quase 46 horas mês passado. A segunda pista não ficará pronta antes de 2017. “Estamos fazendo o projeto no momento e depois temos de aprová-lo nos órgãos ambientais, o que leva tempo. Enquanto isso, estamos investindoR$50 milhõesnarevitalização de uma pista auxiliar e da pista de taxiamento”, diz João Santana, presidente do Conselho de Administração da Aeroportos do Brasil, que assume a administração de Viracopos esta semana. Santana também afirmou que a concessionária já encomendou o chamado recovery kit (kit de resgate), usado para remover aviões da pista. Hoje, só a TAM possui os equipamentos no País. Além de uma nova pista, o consórcio prevê investir R$ 2 bilhões nos próximos dois anos. No prazo de 30 anos de concessão, serão R$ 9,5 bilhões em investimentos. Já a Inframérica, que ganhou oleilãode Brasília,planeja investir R$ 2,85 bilhões em 25 anos, dos quais R$ 750 milhões até 2014. O consórcio garante que os investimentosserãosuficien- tes para atender à demanda prevista para 2014, de 20 milhões de passageiros por ano. Hoje, a capacidade é de 15,4 milhões. Se a situação é ruim nos aeroportos centrais, fica ainda pior nos pequenos e médios terminais. Segundo empresários do setor, mais de duas dezenas desses aeroportos poderiam ser lucrativos e concedidos à iniciativa privada. Na opinião de Apostole Lazaro Chryssafidis, presidente da Associação Brasileira das Empresas de Transporte Aéreo Regional (Abetar), o setor poderiaser 30% maiorse problemas simples fossem resolvidos. Ele lembra que algumas regras no Brasil são mais rígidas que nosEstadosUnidos.“Umpequeno aeroporto no Brasil precisa de uma estrutura tão grande como a dos maiores terminais. Muitas cidades, por exemplo, que recebem dois ou três voos por dia precisam de toda uma estrutura própria de combate a incêndioseambulâncias exclusivas, que custam R$ 600 mil. Não pode usar aestrutura que jáexiste na cidade.” Chryssafidis recorda ainda que nas pequenas cidades o preço do combustível de aviação é de cerca de R$ 4 o litro, contra R$ 2,50 nos aeroportos centrais, por causa da necessidade de se pagar o frete e o distribuidor do local. E afirma que, com poucas alteraçõesburocráticaseinvestimentos– um estudo apontou serem necessários R$ 2,5 bilhões para 180 aeroportos regionais prioritários –, a situação seria muito diferente. tal paulista. No Rio, conta ele, muitas vezes quando já está em voo, os jatinhos são redirecionadosdoSantosDumontparaoGaleão ou para Jacarepaguá. E, explicaNogueira,mesmoo privatizado aeroporto de Brasília enfrenta grandes dificuldades no período da manhã, praticamente restrito à aviação comercial. Nogueiraexplicaqueatendência do governo é tentar levar a aviação geral cada vez para mais longe dos grandes centros, o que na prática inviabiliza o setor, pois quem tem urgência de alugar um táxi aéreo ou dispõe de recursosparacomprarumaaeronave precisa se deslocar rapidamente, passando longe dos transtornos da aviação comercial. Uma alternativa seriam investimentos privados nesse segmento.“Sabemosquehápropostas de terminais próprios na Grande São Paulo que poderiam se viabilizar apenas com investimentos privados. Sabemos de projetos de até R$ 500 milhões, mas que dependem de uma série de autorizações governamentais para sair do papel”, diz ele, se referindo a projetos em Sorocaba e perto do Rodoanel. / H.G.B. 2016, e os passageiros poderão usá-lo de graça. MICHEL FILHO/AGÊNCIA O GLOBO Danielle Nogueira Henrique Gomes Batista RADIOGRAFIA DO SETOR No limite. Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos: até 2014, R$ 3 bi em investimentos Jatinhos decolam sem saber onde vão pousar Os problemas nos aeroportos brasileiros não afetam apenas a aviação comercial. Os detentores de jatos executivos e usuários de táxi aéreo também reclamam da falta de estrutura e alertamque,empoucotempo,omercado de aeronaves poderá parar de crescer. O principal motivo são as restrições à chamada aviação geral. Hoje, mesmo os proprietários de um jato – cujo preço varia entre R$ 8 milhões a R$ 50 milhões – podem ter de esperar até duas horas para sair de São Paulo, voar para o Rio sem a certeza sobre em qual terminal a aeronave acabará pousando ou simplesmente proibido de parar em determinados horários em Brasília. O terceiro maior mercado de jatos executivos do planeta, com cerca de 1.650 aeronaves, pode demorar para superar os 1.800 jatosdoMéxico (osEstadosUni- dos são líderes isolados), fazendo com que uma importante geração de divisas não cresça no Brasil. O acréscimo de 65 novos jatos neste ano pode frear ou até estagnar. No total, a aviação geral já soma mais de 13 milaeronaves no País. “Converso sempre com as pessoas no setor e vemos que começa a surgir um sentimento de que talvez não valha a pena investir tanto em um avião. As restrições dificultam cada vez mais o mercado, que gera muitos negócios e empregos”, afirma Ricardo Nogueira, diretor-geral da Associação Brasileira de Aviação Geral (Abag). Ele explica que os problemas para o setor, antes mais restritos a Congonhas, começam a se espalhar por outros terminais. Se nãofor marcadocomantecedência, o voo de um jato pode ter de esperar até duas horas para sair doterminal mais central da capi- %HermesFileInfo:H-10:20121112: H10 Especial SEGUNDA-FEIRA, 12 DE NOVEMBRO DE 2012 INFRAESTRUTURA E LOGÍSTICA GENILSON ARAÚJO/AGÊNCIA O GLOBO Nos portos, receita é choque de gestão Governo prepara pacote de incentivos; especialistas defendem medidas simples Henrique Gomes Batista O GLOBO CRONOLOGIA Apontados como um dos principais vilões da competitividade brasileira, os portos ainda aguardam um choque de eficiência que possa cortar a burocracia e reduzir drasticamente custos para as empresas. Um novo pacote do governo para o setor pode chegar a R$ 45 bilhões em investimentos e é aguardado para breve. Entre os objetivos, estão a modernização das arcaicas estruturas portuárias, como as Companhias Docas, e a diminuição do custo da mão de obra. Enquanto o novo marco regulatório não é aprovado, especialistas sugerem soluções mais simples, que podem ser implementadas de forma imediata. Segundo estudo da Fundação Dom Cabral, o custo para se exportar um contêiner no Brasil chega a US$ 1.790, valor 300% superior ao de Cingapura (US$ 456), o dobro do cobrado na Alemanha (US$ 872) e 70% acima do preço do serviço nos Estados Unidos (US$ 1.050). Além do custo, há filas de navios nos terminais e falta de capacidade para receber grandes embarcações, principalmente agora que o Brasil desponta na rota demuitas companhias exportadoras, com a crise que aflige a Europa e os EUA. A burocracia também é generalizada e faz com que embarcações fiquem dias paradas por falta de técnicos ou fiscais nos terminais brasileiros. O modelo de concessão, iniciado em 1993, permitiu uma administração privada dos terminais nos 34 portos públicos brasileiros e a permissão para que 129 terminais privativos funcionassem no País, com qualidade. Somente os terminais de contêineres, por exemplo, estimam investir mais de R$ 10 bilhões até 2020. Novos investimentos tendem a vir com esse modelo. Para muitos empresários, os problemas não estão na operação portuária em si, mas nas questões administrativas e de infraestrutura. Segundo armadores, por exemplo, a praticagem no Brasil – práticos são os profissionais encarregados de atracar o navio no porto – custa o dobro dos Estados Unidos. Aqui, esses profissionais chegam a ganhar até R$ 300 mil por mês. Isso encarece o custo, já afetado por greves de funcionários públicos, pela falta de acessos terrestres e por problemas de dragagem de canais. Outro problema é a burocracia: a Receita Federal, por exemplo, não atua nos fins de semana e os técnicos da Anvisa só trabalham das 9h às 18h. Na prática, é comum que navios fiquem esperando até sete dias para terem a cargadesembaraçada. “Poderíamos terganhos quase sem investimentos. Se pudéssemos operar na plenitude da capacidade de um porto, funcionando 24 horas por dia, aumentaríamos sig● Medida simples MARCELO ARAÚJO PRESIDENTE DO GRUPO LIBRA “Poderíamos ter ganhos quase sem investimentos. Se pudéssemos operar na plenitude da capacidade de um porto, funcionando 24 horas por dia, aumentaríamos significativamente a nossa eficiência.” O setor em três momentos 1808 Primeira abertura dos portos brasileiros. Considerado por historiadores como uma das mais importantes medidas com a vinda de D. João VI ao Brasil, a medida inseriu de fato o Brasil no comércio marítimo global, abrindo caminho para a independência do País. 1993 Considerada por especialistas a segunda abertura de portos do País. Planejada ainda durante o governo Collor, o projeto que resultou na Lei n.º 8.630 rompeu com o monopólio da Portobrás e tentou equacionar o histórico problema da contratação de mão de obra avulsa, dando um choque de capitalismo ao setor. Na prática, a lei gerou bilhões em investimentos e estabeleceu a concorrência entre terminais privativos e públicos, aumentando a eficiência do setor. 2012 Para os empresários do setor, o novo pacote do governo para os portos pode ter a magnitude de uma terceira abertura dos portos, se resolver anacronismos como a elevada burocracia e a ineficiência das Companhias Docas. O pacote, além de incentivar investimentos de R$ 45 bilhões, pode facilitar a existência de portos privados. Burocracia. Vista aérea de carros importados no Porto do Rio de Janeiro: carga espera, às vezes, sete dias para ser liberada nificativamente a nossa eficiência. Se pudéssemos ter coisas simples, como os práticos e os fiscais da Receita Federal e da Anvisa trabalhando imediatamente após a chegada de um navio, poderíamos ter ganhos de produtividade de 20% a 30%, sem a construção de novos terminais. Os terminais privados funcionam 24 horas por dia, sete dias da semana. Os portos, não”, desabafa Marcelo Araújo, presidente do Grupo Libra, com terminais em Santos e no Rio. Caso a caso. O executivo diz que o governo pode errar se pensar em uma solução global para os portos. Ele pondera que é preciso buscar soluções para cada tipo de carga: geral e a granel (soja, minério e petróleo). Para ele, seria necessário investir forte em gestão descentralizada. Os especialistas Dalmo dos Santos Marchetti e Tiago Toledo Ferreira, que assinam o capítulo de logística do estudo “Perspectivas setoriais – BNDES 60 anos”, defendem um novo marco regulatório para os portos. “É necessário o fortalecimento da administração dos portos públicos, com o aperfeiçoamento do modelo de governança, que contemple alguma representação da localidade onde o porto está inserido, e maior autonomia do modelo de gestão, inclusive com contrapartida de resultados”, diz o documento. Rogerio Caffaro, presidente da Triunfo Logística, que detém um terminal no Porto do Rio, acredita que o problema das Companhias Docas, que administram os portos, não é de falta de competência de seus funcionários, mas de um modelo engessado que dificulta a solução de problemas simples, pela falta de autonomia – acreditase que isso pode constar no novo pacote do governo. Caffaro estima que mesmo com os investimentos iniciais no setor há muito a ser feito. “Hoje ainda enfrentamos problemas de mão de obra, grande parte dos funcionários tem mais de 55 anos. Todos os terminais do Rio gastam cerca de R$ 30 milhões por ano com o Ogmo (Órgão Gestor de Mão de Obra e Trabalho portuário, sistema que se tentou modernizar nos anos 90, mas continua obsoleto e caro). E esse custo não existe para portos totalmente privados, se eles fossem liberados. Assim, o governo tem de tomar cuidado com o pacote de portos, para não criar uma concorrência desleal que pode inviabilizar as empresas dos terminais privados em portos públicos.” ‘Apagão logístico’. Fernando Martins, sócio da Bain & Company, acredita que, além da melhor gestão, são necessárias mudanças no marco regulatório. Segundo ele, o pior erro do governo, num novo pacote de incentivos aos investimentos do setor portuário, seria tentar relicitar os mais de 90 terminais arrendados e concedidos em portos públicos de uma vez ou em curto intervalo de tempo. Seria muito arriscado e poderia até causar uma espécie de apagão OS NÚMEROS DOS TERMINAIS NO BRASIL Movimentação por tipo de carga EM TONELADAS - 2011 34 Sólidos Líquidos 217 milhões (24%) 543 milhões (61%) TOTAL 886 PORTOS PÚBLICOS milhões de toneladas o governo não tem de se preocupar com os terminais privativos de carga, essenciais para empresas de commodities, onde cada real a menos no custo pode significar a viabilidade de um negócio com cotações globais. “Estamos em um momento em que, infelizmente, o Brasil cresceu menos. Ainda assim, movimentamos 886 milhões de toneladas no ano passado. Com a retomada da economia, rapidamente ultrapassaremos 1 bilhão. E hoje não estamos preparados para isso.” Aposta. Mas, mesmo sem o 129 TERMINAIS DE USO PRIVATIVO Carga geral 131 milhões (15%) Solta 46 milhões (35% da carga geral) Contêiner 85 milhões (65% da carga geral) Movimentação por tipo de porto EM TONELADAS - 2011 PORTO PÚBLICO 308 milhões (35%) FONTE: ABTP logístico. Meton Soares Jr., presidente da Federação Nacional de Navegação e vice-presidente da Confederação Nacional do Transporte (CNT), acredita que, antes de mais nada, o governo precisa saber que tipo de modelo portuário o País deseja. “O governo precisa fazer um estudo, saber exatamente qual o modelo mais indicado para a nossa TERMINAL DE USO PRIVATIVO 577 milhões (65%) INFOGRÁFICO/ESTADÃO realidade. Na área de contêineres, por exemplo, acredito que seria mais eficiente ter poucos terminais concentradores que uma prática disseminada pela costa, que não gera ganhos de escala.” Já Wilen Manteli, presidente da Associação Brasileira de Terminais Portuários, além de defender a manutenção do atual marco legislativo, acredita que anúncio do pacote do governo, os investimentos já estão ocorrendo. Um dos mais recentes é o projeto de R$ 322 milhões para a construção do Terminal de Grãos do Maranhão (Tegram), no Porto de Itaqui. O projeto pode multiplicar por seis a exportação de soja na região, com a capacidade de 15 milhões de toneladas de grão em 2020. “Sabemos que 68,2 milhões de toneladas de soja são produzidas acima em Mato Grosso, mas apenas 14,5 milhões de toneladas de grãos saem do País pelo Norte. O resto segue por caminhão até os portos do Sul e do Sudeste, o que encarece e cria problemas nas estradas e mais emissões de gases. Esperamos criar uma oportunidade, queserá viabilizada com a Ferrovia Norte-Sul”, afirmou Luiz Carlos Fosseti, presidente da Emap, empresa portuária do Maranhão, que fará os investimentos com um consórcio com quatro grupos do setor agropecuário brasileiro. SEGUNDA-FEIRA, 12 DE NOVEMBRO DE 2012 %HermesFileInfo:H-11:20121112: Especial H11 INFRAESTRUTURA E LOGÍSTICA Fantasma do apagão ainda assombra o Brasil O QUE ESTÁ PREVISTO Investimentos programados no setor de energia Às escuras Total acumulado por ano EM BILHÕES DE REAIS - ENTRE 2011 E 2012 18,40 NÚMERO DE HORAS SEM LUZ Geração 213 (19,4%) Oferta de energia elétrica 269 (24,5%) O GLOBO Em um país onde 69 milhões de brasileiros sofrem com apagões, boa parte dos R$ 269 bilhões em investimentos previstos para o setor elétrico até 2021 pode ficar comprometida com o pacote do governo para o setor. As novas regras vão permitir a redução das tarifas ao consumidor e à indústriaem 20%, em média, apartir de fevereiro de 2013. Mas, para especialistas, as empresas não terão caixa suficiente para o aumento de geração e transmissão na próxima década. Ao mesmo tempo, o próprio governo já admite que serão necessários mais investimentos em transmissão. Somente entre 2006 e 2011, o número de horas queo brasileiro ficou sem luz subiu 15%, para 18,4 horas. Pelo cronograma atual, entre 2012 e 2021, estão previstos R$ 56 bilhões em novas linhas, número que responde por quase 21% do total planejado para o setor elétrico. Para a geração de energia, a estimativa é de R$ 269 bilhões. Os dados, da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), levam em conta um crescimento médio da economia de 4,4%, de 2012 a 2017, e de 5%, entre 2018 e 2021. Os especialistas acreditam que os investimentos do setor podem sofrer um forte recuo a partir de 2015, já que metade do que foi programado está em andamento. Segundo eles, as empresas levam entre três e cinco anos para concluírem os projetos vencidosem leilão, revela Nivalde de Castro, coordenador do Grupo de Estudos em Energia Elétrica da UFRJ. Pela proposta do governo, serão eliminados ou reduzidos encargos embutidos na conta de luze, além disso,as concessionárias aplicarãodescontos nas tarifas. Para viabilizar o desconto, as concessionárias serãoindenizadas, pelos investimentos que fizeram e aindanão foram amortizados. Mas o governo anunciou indenizações abaixo do esperado pelasempresas.A Eletrobrás, por exemplo, esperava re● Dúvida FERNANDO SOARES UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE “Os recursos planejados pelo governo são robustos... A questão é saber se as empresas vão conseguir, realmente, executar as obras.” ceber R$ 30 bilhões e terá apenas R$ 14 bilhões. O consultor Fernando Soares,daUniversidadeFederalFluminense(UFF), ressaltaque,entre os projetos já programados, a principal preocupação é com as obras, que podem atrasar: “Umacoisa éolhar para ospróximos leilões de energia. Outra é analisar o que já foi contratado. Os recursos planejados pelo governo são robustos e atendem à necessidade de crescimento do País. A questão é saber se as empresas vão conseguir, realmente, executar as obras. O setor vai ser muito afetado com as novas regras, pois vai ter seu caixa reduzido”. Caixa reduzido. O consultor Raimundo Batista cita o caso da Chesf, que conta com 8,9% da potência instalada no Brasil, a maior entre as empresas do País. Segundo seus cálculos, a companhia vai ver seu caixa ser reduzido em R$ 2,7 bilhões, de R$ 3 bilhões para R$ 300 milhões, já no próximo ano. Em dez anos, a perda será de R$ 20 bilhões. “Aorenovaraconcessão, aempresa, no primeiro ano, vai receber uma indenização de R$ 3,3 bilhões. E depois? A geração de caixa fica prejudicada. Será uma 2001 2003 2005 2007 2009 2011 Transmissão 56 (5,1%) Setor precisa de novos recursos, mas pacote do governo reduz receita das empresas; especialistas preveem atraso nas obras Bruno Rosa 16,11 FREQUÊNCIA DE APAGÕES 14,20 11,15 2001 Petróleo e gás natural 749 (68,3%) 2003 2005 2007 2009 CONSUMIDORES AFETADOS 50,444 Biocombustíveis líquidos 79 (7,2%) 2001 2011 69,043 2003 2005 2007 2009 2011 Indicadores de fiscalização Número de notificações* 2010 Autos de infração 840 2011 2012** ANO 734 746 *Feitas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) às empresas do setor QUANTIDADE VALOR 323 218 264 R$ 357,304 milhões R$ 277,420 milhões R$ 373,085 milhões 2010 2011 2012** **Até setembro FONTE: EMPRESA DE PESQUISA ENERGÉTICA (EPE) E AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA (ANEEL) nova companhia. A Chesf terá de renovar suas concessões já no início de 2013 e será a mais afetada. Depois, o mesmo vai ocorrer com as outras empresas,como Furnas. Por isso,o plano de investimento do governo corre o risco não ter investidor. Há o temor de que, lá na frente, o governo tenha que reduzir o ágio para atrair investidores”, diz Batista. Castro, da UFRJ, também acredita que “o barato pode sair caro”. Além disso, mostra preocupação com o andamento dos investimentos. Segundo ele, há dúvidas sobre a qualidade dos empreendedores. Ele lembra que muitas termelétricas foram contratadas e ainda não saíram dopapel.Por isso,ressalta, épreciso que a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) crie mais mecanismos de garantias. “Temde haver um maior critério para quem entra nesses projetos. Estamos falando dos investimentos futuros, mas hoje sofremoscomproblemas de manutenção das linhas. Pelo visto, emdecorrênciadograndenúmerode apagões,os gastos com manutenção não estão sendo suficientes”, afirma Castro. Segundo a Aneel, o número de brasileiros afetados pela interrupção de energia aumentou INFOGRÁFICO/ESTADÃO quase 37% nos últimos dez anos. Do outro lado, o presidente da EPE, Maurício Tolmasquim, lembra que o setor vai investir no reforço de linha em capitais para tornar a rede mais robusta. Além disso, ele lembra que até 2021 a capacidade de geração vai crescer 56% e a linha de transmissão vai subir 46,4%. “ A rede brasileira está cada vez mais complexa. Estamos analisando se é possível aumentar a redundância, elevando, assim, a segurança, e reduzindo o número de cortes. Mas a questão é saber o quanto isso iria elevar o custo para o consumidor”, revela Tolmasquim. %HermesFileInfo:H-12:20121112: H12 Especial SEGUNDA-FEIRA, 12 DE NOVEMBRO DE 2012 INFRAESTRUTURA E LOGÍSTICA ROLF KUNTZ Colunista do Estado ✽ ● [email protected] Uma economia encalhada O Brasil exportou de janeiro a outubro US$ 202,4 bilhões, 5,5% menos que um ano antes, pela média dos dias úteis, e isso se explica apenas em partepelacrise nosprincipais mercados. Com o comércio internacional em marcha lenta, a disputa pelos clientesficou mais dura.Os produtores brasileiros têm perdido espaço até no mercado interno para concorrentes estrangeiros mais competitivos. Uma infraestrutura deficiente e de baixa qualidade, especialmente na área de logística, é uma das maiores desvantagens de quem produz no Brasil.Numalistade144países,oBrasil fica na 123.ª posição quando se comparam estradas, na 134.ª quando setrata deaeroportos e na 135.ªquan- do o assunto é o sistema portuário, segundooÍndicedeCompetitividade Global divulgado anualmente pelo Fórum Econômico Mundial. Graças à sua eficiência, a agricultura nacional continua vendendo muito, mas para isso precisa vencer obstáculos temíveis. O exportador brasileiro gasta em torno de US$ 125 para levar uma tonelada de soja de Mato Grosso ao Porto deSantos,enquantooconcorrenteamericano paga US$ 25 para o transporte entre Illinois e Nova Orleans. Números como esses, divulgados por entidades de produtores e de exportadores, dão umaprimeiraideiada ineficiência logística e do choquede qualidade quando se cruza a porteira da fazenda ou o portão da fábrica para o sistema público de transporte.Naquelacomparação,cami- nhõeslevamoprodutobrasileiroaoporto, enquanto a mercadoria americana é transportada por hidrovia. Mas o brasileiro estaria em desvantagem, de toda forma, se o confronto fosse entre as malhas rodoviárias dos dois países. O Brasil perde na maior parte das comparaçõescompaísesrelevantes, como lembrou em discurso no ano passado a senadora Kátia Abreu, presidente daConfederaçãodaAgriculturaePecuária do Brasil (CNA). Ela mencionou 4 milhões de quilômetros de rodovias asfaltadas nos Estados Unidos, 1,5 milhão na China e 196 mil no Brasil. Lembrou as ferrovias americanas, com 226 mil quilômetros de extensão, as chinesas, com 74 mil,e ascanadenses, com 48 mil, e comparou-as com as brasileiras, com apenas 29 mil. O contraste é quase espantoso, quando se trata do transporte hidroviário. Apesar de sua invejável malha fluvial, o Brasil tem apenas 7 mil quilômetros de hidrovias, enquanto os Estados Unidos têm 41 mil, a China, 124 mil, e a Rússia, 102 mil. Parte importante do discurso foi uma cobrança de investimentos em eclusas para facilitar a navegação em rios importantes da Região Norte. Mas o quadro fica mais feio, quando se examina a qualidade das malhas disponíveis.Ascondiçõesdasestradas brasileiras pioraram entre 2011 e 2012, segundo pesquisa anual da Confederação NacionaldosTransportes (CNT)divulgada em 24 de outubro. Quase dois terços dos 95.707 quilômetros avaliados – 62,7% – estão em condição regular, ruim ou péssima. No ano anterior, 57,4% haviam sido classificados dessa forma. A avaliação cobriu a qualidade da pavimentação, da sinalização e da geometria das estradas. É preciso investir muito mais, tanto para manutenção quanto para expansão e modernização do sistema e, para isso, o governo lançou o Plano Nacional de Logística e Transportes. Foram projetados investimentos de R$ 430 bilhões até 2023, mas o pacote inicial é de R$ 133 bilhões para rodovias, ferrovias, portos e aeroportos. O governo reconheceu suas limitações financeiras e decidiu chamar o setor privado para participar dos projetos por meio de concessões e de parcerias. A novidade é promissora, mas o governo aindaterá decuidardos critériosde seleção das empresas, dos editais e das licitações. Os contratos só passarão pelo Tribunal de Contas da União se os procedimentos forem mais cuidadosos do que têm sido até recentemente. Apesar do importante papel atribuído ao setor privado, o governo terá de mostrar muito mais competência do que tem mostrado na gestão dos programas. O Ministério dos Transportes ficou quase travado por mais de um ano, depois da faxina realizada em 2011, quando se tornou impossível, para o governo, ignorar uma longa e custosíssima história de bandalheiras. Muito mais que financeira, a limitação dos investimentos em infraestrutura tem sido política e gerencial. Essa parte do problema foi atacada apenas limitadamente, desde o ano passado. Seria preciso ir mais longe, na profilaxia, para vencer os males do loteamento e do aparelhamento da administração federal. Ferrovias estão à espera de R$ 91 bi Modal esquecido por anos pelo governo deve receber investimentos para renovar e construir uma nova malha de 10 mil km de extensão Renée Pereira ESTADO O pacote lançado pela presidente Dilma Rousseff, em agosto deste ano, promete dar um novo ritmo ao setor ferroviário. Com regras mais rígidas, baseadas no modelo inglês, o governo espera ampliar a participação das ferrovias no transporte de cargas e inaugurar uma nova fase no setor. Hoje, o transporte sobre trilhos representa apenas 26% de tudo queé movimentado no País – valor considerado baixo comparado a outras nações. Para mudar esse quadro, o pacote prevê investimentos privados de R$ 91 bilhões na renovação e construção de uma nova malha, de 10 mil quilômetros (km)deextensão.Asnovasferrovias já serão feitas com base no novomodeloemqueumaempresa privada constrói a infraestrutura e o governo federal, por meiodaestatalValec,compratoda a capacidade da ferrovia. Depois, ele revende essa capacidade para os operadores que quiserem usar os trilhos. Neste momento, a Empresa de Planejamento Logístico (EPL) está elaborando os estudospara aslicitações, quedevem ocorrer no ano que vem. Alguns projetos estão sob responsabilidade da mineradora Vale, que tinha uma antiga pendência com a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Naavaliaçãodo diretorde projectfinancedoHSBC,SérgioMonaro, o novo pacote tenta revitalizar uma área esquecida durante muitos anos. “O País tem uma dívida logística muito grande. As rodovias sempre foram privilegiadas em detrimento das ferrovias.”Ele avalia como bom o modelo proposto pelo governo, com a Valec contratando a capacidade da ferrovia. Mas adverte: nem todos os trechos terão o mesmo interesse dos investidores privados. “Em alguns trechos, pode não fazer sentido colocar dinheiro.” O novo modelo não atinge a malha que já está nas mãos da iniciativaprivada,concedidadurante a privatização na década de 90. Mas esses investidores A ECONOMIA NOS TRILHOS G Governo da presidente Dilma quer ampliar a participação das ferrovias no transporte de cargas no Brasil Participação dos produtos transportados Evolução do setor Investimento na malha existente Movimentação de carga EM BILHÕES DE REAIS EM MILHÕES DE TONELADAS ÚTEIS 5,300 6,000 600,0 EM PORCENTAGEM 522,0 5,000 500,0 4,000 3,000 4000 2,000 300,0 1,000 0 1997 2012 200,0 1997 MINÉRIOS E CARVÃO 2012 76,61% Tamanho da frota EM NÚMEROS EM 1997 EM 2011 OUTROS 3,91 locomotivas PROJEÇÃO DE AQUISIÇÃO ENTRE 2012 A 2020 1.154 3.045 11,51 PRODUTOS SIDERÚRGICOS Vagões 2.000 AGRONEGÓCIO PROJEÇÃO DE AQUISIÇÃO ENTRE 2012 A 2020 43.816 100.924 40.000 3,77 DERIVADOS DE PETRÓLEO E ÁLCOOL 2,79 INSUMOS CONSTRUÇÃO CIVIL E CIMENTO 1,41 FONTE: ANTF INFOGRÁFICO/ESTADÃO cliente, sejam revisadas de tempo em tempo, de acordo com o cenário econômico. “Isso nunca ocorreu desde a privatização. Mas, de lá para cá, houve uma série de alterações tecnológicas e um aumento de produtividade que justificam a revisão.” Algumas concessionárias, no entanto, não concordaram com os novos preços, entraram na Justiça e conseguiram liminares evitando a mudança. Por esse motivo, alguns processos estão em revisão, diz o executivo da ANTT. “Pode haver algum ajuste pontual, mas não será nenhuma mudança significativa.” Barbosa destaca também que aANTT deveráfinalizaratéo inicio do ano que vem as negociações que envolvem a devolução de trechos subutilizados pelas concessionárias. No ano passado, a agência reguladora publi- cou os trechos que podem voltar para as mãos do governo federal. São 1.700 km de estradas de ferro em diferentes regiões do País. Em alguns casos, a exemplo do que deve ocorrer no setor elétrico, aUnião poderá ter de indenizar asempresas. Em outros casos, não está descartada a possibilidade de a empresa ter de pagar para o governo. “Ela tem de entregar a malha do jeito que recebeu. E há casos em que o trecho está completamente degradado.” A medida tem o objetivo de ampliar o transporte ferroviário e diversificar as cargas que passam pelos trilhos. Até o ano passado, 76,61% de tudo que era movimentado pelas ferrovias era minério de ferro e 11,51%, grãos, segundo dados da Associação Brasileira dos Transportadores Ferroviários (ANTF). Além disso, quase todo o volume transportado está concentrado em apenas 10% da malha total do Brasil. O presidente da ANTF, Rodrigo Vilaça, acredita que as atuais concessionárias podem ter um papel importante nessa segunda fase das concessões ferroviárias. Ele lembra que, de 1997 a 2011, as empresas investiram cerca de R$ 30 bilhões na malha existente.Ovolumedecargatransportada nesse período cresceu 111,7% e a frota, que antes contava com 1.154 locomotivas e 43.816 vagões, saltou para 3.045 e 100.924, respectivamente. Até 2015, diz ele, serão investidos R$ 3 bilhões por ano em média – sem considerar o pacote do governo. “Questiono se não é o momentodenós sermosconsultados no sentido de identificar soluções mais produtivas.” Pacote do governo e eventos estimulam o setor nossos produtos para aumentar o conteúdo local”, diz Mendonça. Ele explica que atualmente a unidade tem conseguido atingir níveis entre 50% e 60%. “No ano que vem já esperamos atingir 70% de conteúdo local.” Apesar do cenário positivo para carga, a fabricação de trens de passageiros deve comandar o ritmo da indústria, avalia Abate. A expectativa é produzir cerca de 400 carros (vagões de passageiro) – 60 a mais que neste ano. “Estamos esperando a realização de algumas licitações no ano que vem. A ênfase na mobilidade deve elevar o crescimento da área. Hoje, a indústria ferroviária conta com três fabricantes de vagões de carga, dois de locomotivas e oito empresas de carros de passageiros. Entre elas, estão as multinacionais Alstom, Siemens, CAF e Bombardier. / R.P. O novo pacote de ferrovias, o trem-bala e os projetos de mobilidade urbana para a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos devem turbinar as encomendas da indústria metroferroviária. Em 2011, o setor teve o segundo melhor ano da história e as expectativas para os próximos anos são bastante positivas. “Es- também terão de se adequar a algumas mudanças, como as novas metas estabelecidas por trechos. A ANTT está avaliando as metas para o próximo quinquênio, que começam a valera partir de janeiro de 2013. De acordo com a regra, a concessionária que estabelecer uma metaabaixodacapacidadedaferrovia terá de ceder a diferença para outros operadores que tenham interesse em usar a malha, explica o diretor da ANTT, Fábio Coelho Barbosa. Por esse motivo, muitas empresas estão elevando as metas para não permitir a entrada de um terceiro. “Mas, se não cumprirem as metasestabelecidas,elasserãomultadase, nolimite, podematé perder a concessão.” Tarifa. Outro ponto polêmico é o estabelecimento de uma nova tamos vivendo um momento especial. O programa de investimento lançado pelo governo vai se refletir no crescimento da indústria”, avalia o presidente da Associação Brasileira da Indústria Ferroviária (Abifer), Vicente Abate. Para este ano, a previsão é fechar o ano com 3.500 vagões fa- ● Debate SÉRGIO MONARO DIRETOR DE PROJECT FINANCE DO HSBC “O País tem uma dívida logística muito grande. As rodovias sempre foram privilegiadas em detrimento das ferrovias.” RODRIGO VILAÇA PRESIDENTE DA ANTF “Questiono se não é o momento de nós sermos consultados no sentido de identificar soluções mais produtivas.” tarifa-tetoparaacobrançadofrete ferroviário. Barbosa explica que os contratos de concessão preveem que essas tarifas, que são o limite máximo que as concessionárias podem cobrar do bricados. A quantidade será menor que a verificada no ano passado, mas ainda assim é um número bom levando em conta a crise mundial. “Ainda assim, é nosso segundo melhor ano”, completa o diretor da GE Transportation, Rogério Mendonça. A empresa foi uma das primeiras a voltar a pro- duzir locomotivas no Brasil para o transporte de carga. Hoje a fábrica, com capacidade para produzir entre 120 e 150 locomotivas por ano, exporta entre 30% e 40% da produção. “Em termos de capacidade não precisamos fazer novos investimentos na nossa planta. Mas continuamos aperfeiçoando SEGUNDA-FEIRA, 12 DE NOVEMBRO DE 2012 %HermesFileInfo:H-13:20121112: Especial H13 INFRAESTRUTURA E LOGÍSTICA TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO-19/7/2012 Banda larga e celular tiram sono de empresas Investimento não acompanha expansão da base de clientes e problemas afetam a competitividade Renato Cruz ESTADO A GFT Brasil fornece serviços de tecnologia da informação para instituições financeiras. As telecomunicações são um insumo básicopara seutrabalho. Háquase três meses, seus gestores resolveram trocar de operadora de telecomunicações. A proposta donovoprestadordeserviçoprevia uma redução de 50% na conta e instalação em 20 dias úteis. “Elessimplesmente desapareceram”, afirmou Marco Santos, diretor-geral da companhia. “O problema é generalizado.” Empresas e consumidores enfrentam, em seu dia a dia, baixa qualidade de serviço, mau atendimento, demora e preços altos quando precisam de serviços de telecomunicações. O caso da GFT Brasil é somente um exemplo dos problemas do setor. Santos contou que, quando precisa de uma conexão de dados ponto aponto,aesperachega atrêsmeses. Esse foi o caso quando a empresa precisou ligar sua operaçãoem Sorocabaaoescritório de Alphaville, em Barueri, ambas as cidades em São Paulo. Em outra ocasião, foram dois meses e meio para conectar Alphaville a um grande cliente na capital. “É muito demorado para fazer uma extensão ou um link novo”, afirmou Santos. E as dificuldades não se limitam aos serviços fixos. No começo do mês, a empresa ficou um dia das 18 horas às 2 horas sem conseguir acessar a banda larga comtecnologia celular deterceira geração (3G). “Estamos passando por um apagão de telefonia móvel”, disse Santos. “O nível de serviço está muito baixo e pagamosumadascontasmaiscarasdo mundo.”ComsedenaAlemanha, a GFT tem 170 funcionários no Brasil e registrou, no ano passado, um faturamento mundial de € 272 milhões. Esse cenário tem feito a Agência Nacional de Telecomunicações(Anatel)tomar medidaspara elevar a qualidade dos serviços prestados. O regulador chegou a suspender, por 11 dias, a comercializaçãodechipsdetelefonia celular da TIM, Oi e Claro em diversos Estados e, para liberar a retomada da comercializa- Insatisfação. Marco Santos, diretor-geral da GFT Brasil: mau atendimento por parte das operadoras causa prejuízos ● Pontos de vista MARCOS SANTOS DIRETOR DA GFT BRASIL “Estamos passando por um apagão de telefonia móvel.” EDUARDO LEVY PRESIDENTE DO SINDITELEBRASIL “Não existe setor que invista mais do que nós por ano que seja mais tributado.” ção,exigiuque asempresas apresentassemplanosdeinvestimento para melhora da qualidade do serviço. A insatisfação com as telecomunicações se reflete nos órgãos de defesa do consumidor. A telefonia celular é líder em reclamações nos Procons de todo o País. O Ministério da Justiça divulgou um ranking das queixas apresentadas em todo o País durante o primeiro semestre, e as empresas celulares ficaram em primeirolugar,com9,13%dasreclamações, àfrente decartões de crédito e bancos. Asoperadorasse defendemdi- zendo que os números dos Procons deveriam levar em conta o total de clientes. Existem quase 260 milhões de celulares em uso, uma base maior que de outros setores reclamados. E tambémque,desdeaprivatização do sistema Telebrás, foram investidosR$ 390 bilhões, o que equivale a 20% do faturamento das empresas. O número estaria acima da média mundial, de 15%. Neste mês, entraram em vigor novas regras para a banda larga, comexigênciadequeasoperadoras entreguem, em média, pelo menos 60% da velocidade contratada pelo consumidor. Anteriormente, as empresas garantiam em contrato somente 10% da velocidade contratada. Essa velocidade começou a ser medida pela Anatel. A edição mais recente do ÍndiceBrasscomdeConvergênciaDigital apontou que a velocidade da banda larga brasileira está abaixodamédiamundial.Aconexão média no País tem 1,8 megabit por segundo (Mbps). Na Coreia do Sul, são 17,5 Mbps. Na Romênia, 6,4 Mbps. “O crescimento da banda larga tem sido bas- tante grande”, afirmou Nelson Wortsman,diretordeInfraestrutura e Convergência Digital da Associação Brasileira de Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom). “OPlano Nacionalde BandaLarga desonerou as conexões de até 1 Mbps e ampliou o mercado, mas acabou puxando a velocidade média do acesso para baixo.” Desembolso. O investimento não tem acompanhado a expansão acelerada da base de clientes. Um estudo divulgado recentemente pela A.T. Kearney mostrou que o investimento nas redes de telefonia fixa e móvel cresceu, em média, 3% entre 2005 e 2011. O total investido no período somou R$ 115 bilhões. O faturamento das empresas, por outro lado, aumentou 8,3%, passando de R$ 112,9 bilhões em 2005 para R$ 181,8 bilhões no ano passado. Asoperadorasafirmam, noentanto, que o investimento está se acelerando. Segundo a AssociaçãoBrasileirade Telecomunicações (Telebrasil), o investimento no primeiro semestre deste ano foi 24% maior que no mesmo período de 2011. “Não existe setor que invista mais do que nós por ano, que seja mais tributado e tenha crescido mais em assinantes e em abrangência”, afirmouEduardo Levy, presidente do Sinditelebrasil, sindicato das empresas de telecomunicações. “Nossos gargalos são dificuldades para implantar infraestrutura, além de restrições da carga tributária e da regulação.” Levy destacou a dificuldade de conseguir licenças das prefeiturasparainstalar antenasde celulares. Existem cerca de 56 mil antenas no Brasil. “Para a 4G, vamos precisar dobrar o número de antenas em dois ou três anos”, explicou o executivo. A quarta geração da telefonia celular (4G) opera numa frequência mais alta que a terceira geração (3G) e, por causa disso, o raio de cobertura das antenas é menor. Existe uma proposta de Lei das Antenas, para unificar nacionalmente as regras para instalação da infraestrutura. Segundo Levy, existe o mesmo problema na instalação de cabos. %HermesFileInfo:H-14:20121112: H14 Especial SEGUNDA-FEIRA, 12 DE NOVEMBRO DE 2012 INFRAESTRUTURA E LOGÍSTICA GEORGE VIDOR Colunista do Globo ✽ ● [email protected] Já melhorou, mas é preciso fazer mais G randes navios carregados de contêineres costumam aportar no Rio de Janeiro às sextas-feiras, sábadose domingos, pois evitam o Porto de Santos nesses dias (a estadia lá é mais cara que no Rio nos fins de semana). Com isso, já no fim da tarde de sexta-feira ou nas manhãs de sábado, carretas pesadas, transportando, às vezes, até dois contêineres de 40 pés, trafegam por rodovias que saem do Rio em direção ao interior e a Estados vizinhos. Nesse trajeto, disputam espaço com caminhões ce- gonheiros (aqueles que carregam até dez veículos), ônibus, caminhonetes, vans e automóveis, incluindo aqueles que se destinam a locais de lazer no fim de semana. Esse movimento tanto pode passar pela belíssima subida da serra de Petrópolis (cujo traçado sinuoso é da década de 20), pela saturada Ponte Rio-Niterói em direção ao norte Fluminense e ao Espírito Santo, pela Via Dutra, ou pela agora ainda mais notória Avenida Brasil. No Porto, graças a investimentos realizados por operadores privados,os terminais são ágeis na movimen- tação dos contêineres. Tudo lá funciona como uma corrida contra o tempo. O desembaraço das mercadorias junto àsautoridades (Receita Federal ou estadual e Ministério da Agricultura, ou Anvisa) pode atrasar um pouco a liberação, mas nada que se compare ao passado, em que a carga ficava armazenada por semanas na chamada retroárea do porto. Marítimos, que trabalham nos navios, quase não têm mais tempo para desembarcar. Ficou apenas no folclore aquela lenda de “uma mulher em cada porto” (até porque a tripulação feminina vem aumentando; 45% dos alunos na escola que forma oficiais de Marinha Mercante no Rio são mulheres). Mas, se houve consideráveis avanços em portos e ferrovias, nos outros modais o Brasil ainda fica a desejar. De fato, não é possível que uma das principais ligações com Minas Gerais (Estado cercado de Brasil, como gostam de dizer os mineiros) tenha, em um dos seus trechos críticos, uma estrada cheia de curvas fechadas, inaugurada em 1928 pelo presidente Washington Luís. A rodovia está sob concessão, e até existe um projeto para duplicação de nova subida da serra petropolitana, mas o governo federal é lento em tomar umadecisão. A Ponte Rio-Niterói precisa de novos acessos, há também projetos prontos que podem ser executados pelas concessionárias, mas tudodepende da aprovação de muitas instâncias de poder. Governos estaduais e federais até que têm se esforçado para eliminar gargalos na estrutura de transportes, apoiando-se em verbas federais. Assim, o Rodoanel em São Paulo vai aos poucos sendocompletado, e o Arco Metropolitano(que interligará todas as estradas que chegam ao Rio) parece que se tornará realidade no fim de 2013. A economia cresce devagar, e talvez por isso as deficiências deinfraestrutura do País não sejam mais evidentes.A perda de capacidadede investimento do setor público fez com que a infraestrutura, que já era precária, se deteriorasse nos anos 80 e não fosse a privatização na segunda metade dos anos 90, o País teria parado. Ainda que se pague um preço por essa privatização, sob a forma de pedágios e tarifas nada módicos, pior teria sido transitar por rodoviase ferrovias extremamente deterioradas ou não contar com portos que funcionem. O governo Dilma Rousseff vem anunciando diversos programas para infraestrutura, e quase todos contam com participação preponderante de investidores e concessionários privados nas rodovias, ferrovias, hidrovias, grandes aeroportos e terminais portuários. Melhor assim, pois se o País não der saltos importantes nesses segmentos, que permitam, por exemplo, escoara produção doCentro-Oeste pelo Norte ou pelo Nordeste, a economia brasileira terá de se contentar com um modesto crescimento nos próximos anos. EDUARDO NICOLAU/ESTADÃO Saneamento se opõe à realidade econômica do País Quase 23 milhões de domicílios brasileiros não têm acesso à rede de esgoto; investimento necessário até 2030 é de R$ 157 bilhões Fabiana Ribeiro O GLOBO Andréa Maria de França mora com dois filhos na comunidade Lemos Torres – encravada na Rua Flor de Santana, reduto de edifícios de classe média alta no sofisticado bairro de Parnamirim, em Recife. O luxo dos espigões, no entanto, não chega até ela: a menos de 10 metros de sua casa, há um canal que funciona como esgoto a céu aberto. A sujeira é tanta que, não faz muito tempo, ela se juntou com uma vizinha e ambas pagaram R$ 20 a um homem para fazer a limpeza das margens do canal. “Ninguém limpa isso aqui não.” Infelizmente, a casa onde mora Andréa está longe de ser uma exceção no Brasil. Os indicadores de saneamento do País destoam de sua posição entre as principais economias do planeta. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE, mostram que quase 23 milhões de domicílios não têm acesso à rede de esgoto –umdéficitqueafetadiretamente a vida de cerca de 70 milhões de pessoas (considerando que, em média, moram três pessoas em cada casa do País). É como se a população toda da França visse seuesgoto escorrera céu aberto. De acordo com os dados da Pnad, apenas 38,3 milhões de lares brasileiros – 62,6% do total – tinhamacesso asaneamento(rede coletora e fossa séptica ligada à rede). Em 2009, eram somente 34,5 milhões com o serviço, ou 59,1% dos domicílios. Os números do saneamento contrastam com os avanços mais rápidos de outros serviços como eletricidade (em 99,3% dos lares) e telefone (89,9%). E também perde para o abastecimento de água, em 84,6% dos domicílios. Lacuna. Os números refletem os atrasos – e a falta – de investimentos, em especial nas regiões mais distante dos grandes centros. “O problema já não é mais de recurso: não conseguimos gastarosrecursos.Existedespreparo nas prefeituras para tocar projetos de saneamento, além de vontade política. Afinal, saneamento não é prioridade do próprio eleitor, que não associa a falta de saneamento a doenças”, explica Édison Carlos, presidente executivo do Instituto Trata Brasil. O atual retrato do saneamentonoPaíséconsequênciadeatrasos em investimentos em infraestrutura. Quase na metade do mandato, o governo de Dilma Rousseff aplicou menos de um quarto do orçamento previsto para saneamento básico. Entre 2011 e 2012 (até a primeira quinzena de outubro), de R$ 16,094 bilhões disponíveis foram desembolsados R$ 3,549 bilhões. Nesse ritmo, o País não conseguiráatingirametadeuniversalizar o serviço até 2030 (com fornecimento público de 100% de águae88%deesgoto).Paraauniversalização do saneamento, segundo estudo do Ministério das Cidades, o investimento necessário para esgoto é de R$ 157,54 bilhões, entre 2011 e 2030. Estudo do BNDES mostra que o principal movimentoem curso no setor são as parcerias entre os setores público e privado para a prestação do serviço nas regiões metropolitanas. Caso da Área de Planejamento 5 - AP5 no Rio de Janeiro (que engloba, por exemplo, diversos bairros localizados às margens da Avenida Brasil), com a concessão do serviço de esgotamento sanitário por 30 anos para a iniciativa privada, com investimento estimado em R$ 1,8 bilhão e atendendo 1,5 milhão de pessoas. Há outras concessões sendo estruturadas, segundo o banco, como a PPP Compesa, concessão do serviço em toda a região metropolitana de Recife e da cidade de Goiana (investimento estimado em R$ 4,3 bilhões e atendendo 3,7 milhões de pessoas).“Aparticipaçãodainiciativa privada é o caminho. É o que acontece em Niterói, a anos-luz do saneamento do Rio de Janeiro”,disse Carlos, do Trata Brasil. A opinião não é unânime. Para Léo Heller, professor do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da UFMG, a gestão pública deve conduzir os in● Cidade modelo 99,2% é o índice de coleta de esgoto registrado em Santos, no Estado de São Paulo; 100% tratado 100% da cidade litorânea tem abastecimento de água vestimentos. “Não creio que apostar fortemente nesse caminho (das parcerias) solucionará o problema. As experiências internacionais apontam em direçãocontrária. Éessencialmelhorar a gestão pública, o que não excluiaparticipaçãoprivada. Porém, esta deve estar subordinada a uma competente gestão pública, que saiba exatamente o que deseja do setor privado e consiga estabelecer efetivos mecanismos de regulação.” O outro lado. Contudo, há iniciativas bem-sucedidas. É o caso de cidades que têm um sistema de tratamento de mais de 70% do esgoto – serviço ainda mais distante da universalização do que o próprio saneamento. Índice que aparece em cidades como Sorocaba (SP), Niterói (RJ), São José do Rio Preto (SP), Jundiaí (SP), Curitiba (PR) e Maringá (PR), Ribeirão Preto (SP), Londrina (PR), Uberlândia (MG), Montes Claros (MG), Santos (SP), Franca (SP), Salvador (BA), Petrópolis (RJ) e Ponta Grossa (PR), segundo o Instituto Trata Brasil. Primeira colocada no Ranking doSaneamentodoInstitutoTrata Brasil, Santos conta com 100% de abastecimento de água e 99,2% de coleta de esgoto, sendo tratado 100% dos esgotos coletados. Está na contramão da maioria dos municípios brasileiros. Para acompanhar o crescimento populacional e o desenvolvimentoeconômicodomunicípio, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo(Sabesp)–empresadeeconomia mista responsável pelo fornecimento de água, coleta e tratamentodeesgotosde363municípios do Estado de São Paulo –investecontinuamentenasúltimas décadas. De 2007 a 2010, foram cerca de R$ 170 milhões em obras no sistema de abastecimento de água e R$ 200 milhões no esgotamento sanitário. De todas as capitais brasileiras, Curitiba é a cidade que possuio maiselevado índicede coleta e tratamento de esgoto – é a única cujo índice de coleta de esgoto é de 94%. De todo o esgoto coletado,99%sãotratados.Oórgão responsável pelo saneamento básico no município é a Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar). Segundo a AssessoriadePlanejamentoEstratégico da Sanepar, em 2004, o índice Fato. Falta de saneamento atinge 70 milhões no País, o equivalente à população da França de atendimento de rede de coleta de esgotos era de 75,67% e o de tratamento de esgoto coletado era de 93%. Com investimentos contínuos no período de 2004 a 2011, da ordem de R$ 270 milhões, o município alcançou os atuais níveis. Meio ambiente. A falta de sa- neamento leva ainda a problemas ambientais. Do volume de esgoto gerado nas 100 maiores cidades do País somente 36,28% são tratados, mostrou estudo do Instituto Trata Brasil. Ou seja, são quase 8 bilhões de litros de esgoto lançados todos os dias nas águas brasileiras sem ne- nhum tratamento, somente nas cidades analisadas. É o mesmo que jogar 3.200 piscinas olímpicas de esgoto por dia na natureza.“Osetortemumgrandepassivo com o tratamento de esgotos. Parte da explicação para isso é a lógica mercantilista dos prestadores de serviços. Implantar tratamento de esgotos não gera necessariamente receitas adicionais, apenas despesas. Para que avancemos mais em tratamento, seria necessária uma ação mais coordenada, entre os órgãos de saneamento, meio ambiente, recursos hídricos e saúde. Deveria haver uma política mais efetiva de coerções e incen- tivos para que os prestadores de serviços investissem nesse campo”, disse Léo Heller, especialista em saneamento. Os dados de saneamento são, também, mais um dos retratos dadesigualdade noPaís.NoNorte, quase 80% dos domicílios não têm acesso a esgoto. No Sudeste, 13% das casas não têm o serviço. “As condições das residências revelam as desigualdades do País. E mostram a gritante pobreza que expõe milhões de pessoas a péssimas condições de vida”, disse Tatiane Menezes, professora da Universidade Federal de Pernambuco. / COLABOROU LETÍCIA LINS, DE RECIFE SEGUNDA-FEIRA, 12 DE NOVEMBRO DE 2012 %HermesFileInfo:H-15:20121112: Especial H15 INFRAESTRUTURA E LOGÍSTICA NILTON FUKUDA/ESTADÃO-3/11/2011 Rede de metrô do Brasil pode duplicar até 2018 Piora da mobilidade urbana, pelo avanço da frota de carros, acordou autoridades, que prometem mais 253,5 km de linhas Rodrigo Burgarelli Ocimara Balmant ESTADO Em 1863, no auge da Revolução Industrial, Londres ganhou sua primeira linha de metrô. Nossa vizinha Buenos Aires inaugurou a sua em 1913, ainda antes da 1.ª Guerra Mundial. Já São Paulo, a primeira cidade do Brasil a ter metrô,passouaoferecer essaopção aos habitantes apenas em 1974 – mais de um século depois da capital inglesa. A demora foi grande, mas as capitais brasileiras agora querem tirar o atraso de décadas em poucos anos. Caso todos os projetos prometidos saiam do papel, o total da rede de metrô do País deverá dobrar até 2018. Atualmente, sete capitais de Estados no País têm rede de metrô em funcionamento comercial: São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro,Recife,Porto Alegre,Belo Horizonte e Teresina. Juntas, elas compõem uma rede de 276,4 km de trilhos – menos do que várias cidades sozinhas ao redor do mundo, como Nova York (337 km) e Tóquio (328 km), e apenas um pouco mais do que a Cidade do México (225 km). Até mesmo Xangai, cidade chinesa que inaugurou sua primeira linha apenas em 1995, tem mais quilômetros de metrô do que todas as redes brasileiras somadas: 424 km. As autoridades nacionais, porém, prometem uma reviravolta nesse quadro. O principal motivo apontado por especialistas é o estrangulamento do tráfego e da mobilidade urbana nas grandes e médias cidades do Brasil. O aumentona frotanacionalde automóveis ocorrido nos últimos anos, impulsionado pelo crescimento da renda e da classe C, criou engarrafamentos em locais que antes nunca haviam tido tal problema – e o pior: ficou mais grave nas capitais que já sofriam com o excesso de veículos há algumas décadas. Atraso. Os gargalos impulsionaram novos investimentos municipais, estaduais e federais em mobilidade urbana que demoraram anos para sair. Agora, a promessa é que 253,5 km de metrô sejam construídos até 2018, o que elevaria a malha brasileira paracercade530km.Osmorado- Pioneira. Linha Amarela do metrô de São Paulo: cidade foi a primeira do Brasil a ter metrô PROMESSA ● Previsão oficial de ampliação das linhas METRÔ ATUAL São Paulo Brasília Rio de Janeiro Recife Porto Alegre Belo Horizonte Teresina EXTENSÃO (EM KM) 74,3 42,38 40,9 39,5 38,7 28,1 12,5 NOVOS PROJETOS EXTENSÃO (EM KM) Curitiba Fortaleza Salvador São Paulo Rio Belo Horizonte Brasília Porto Alegre 14 24,1 36,4 126 14 16,7 7,5 14,8 res de três cidades que até hoje nãotêmoperaçãocomercialdesse meio de transportes já deverão ter recebido suas primeiras linhas até lá. São elas Curitiba, Fortaleza e Salvador. A capital baiana é talvez o caso mais drástico de problemas de investimentos. As obras da primeira linha de metrô da cidade começaram a ser feitas ainda em 1997. Quinze anos depois, entre- tanto, o meio de transporte ainda não funciona, por causa de erros na execução do projeto e da falta de verbas para solucionálos. Com cerca de novos R$ 3,5 bilhões de investimentos, a expectativa é que Salvador tenha 36 km de linhas em operação entre 2014 e 2015. Já Curitiba, onde o sistema de ônibus em via segregada virou modelo regional de transporte, a piorano trânsito levou a cidade a optar pelo metrô, que deve ser inaugurado em 2016. Fortaleza já tem um pequeno trecho em testes e sua operação comercial deve começar no ano que vem. A maior ampliação, porém, ocorrerá em São Paulo, onde 126 km deverão estar prontos até 2018, segundo promessa do governador Geraldo Alckmin (PSDB). O número contempla também os polêmicos monotrilhos. Só até 2015, estão previstos investimentos de R$ 45 bilhões, distribuídosentregovernoseiniciativa privada por meio de Parcerias Público-Privadas (PPPs) – modelo de financiamento que está se tornando popular e também explica o aumento nos investimentos. 4 PERGUNTAS PARA... Marcos Bicalho, presidente da ANTP 1. Como o sr. enxerga essa evolução na construção de metrôs? O metrô é uma boa solução para lugares que tenham alta demanda. Mas é preciso que o uso realmente justifique, porque a obra é cara e demorada. O sucesso do metrô em São Paulo criou um fetiche de que é a única solução que funciona, e não é. Um bom sistema é aquele que faz com que a cidade ande. 2. O importante é integrar... Exatamente. E isso não acontece. Na maioria das cidades, o metrô não conversa com os ônibus, que não conversam com as bicicletas. E essa ausência de diálogo é resultado não só da falta de entrosamento dos modais, mas também da falta de uma integração tarifária. 3. E o serviço de ônibus? O ônibus é o primo pobre, as pessoas o veem como um mau serviço. E a qualidade não é boa, isso é fato, porque ele tem de disputar espaço com o carro e com o asfalto esburacado. Melhorar o transporte de ônibus significa diminuir o espaço dos carros, e essa é uma decisão de gestão política que os prefeitos sempre postergam. 4. Com a redução do IPI, o governo até incentiva usar carro. O caminho certo é exatamente o oposto. Para isso, vale o pedágio urbano, o aumento no preço dos combustíveis e do estacionamento. Não se pode esquecer que parte do mau desempenho dos ônibus é culpa dos carros. E ninguém vai deixar de andar de carro se não pesar no bolso. Mobilidade urbana NILTON FUKUDA/ESTADÃO dental, poucos modelos foram construídos fora de aeroportos ou parques temáticos – um dos mais famosos é o da Disney, em Orlando, inaugurado em 1971. No Brasil, uma linha particular demonotrilhochegou aseraberta em Poços de Caldas (MG) há 30 anos, mas está abandonada. A capital paulista planeja fazer o monotrilho com a maior capacidade já existente no mundo. Atualmente, o recorde é de Tóquio,comcercade300milpassageirospor dia.O da Linha15-Prata, ramal já em obras que ligará a Vila Prudente a Cidade Tiradentes, na zona leste, terá capacidade para 510 mil passageiros diários – metade do que transportam hoje as linhas Azul e Vermelha do metrô, para efeito de comparação. A capital paulista deverá ganhar dois outros ramais do modal:aLinha17-Ouro, ligando Jabaquara ao Morumbi, que também está em obras, e a Linha 18-Bronze, que passará por cidades do ABC Paulista como São Bernardo e Santo André, prevista para 2015. Especialistas em transportes discutem as razões alardeadaspelogovernopara adotar o modal: preço mais barato que o metrô e execução mais rápida. “O metrô é a única solução. Ele não é caro nem édemorado.Omonotrilhopode custar metade do preço do metrô, mas, se transportar um quarto dos passageiros, significa que o metrô tem benefício duas vezes maior”, afirmaoespecialistaemtransportes Sérgio Ejzenberg. Já Luis Ramos, diretor de comunicação da Bombardier –empresa que estáconstruindoosmonotrilhos–naAmérica Latina,afirma que a capacidade entre os dois sistemas é similar. Para ele, a questão estética nãoéproblemaenãodevecausar os problemas deoutro elevado famoso na cidade, o Minhocão, cujas marquises viraram abrigo para moradores de rua. “No caso do monotrilho, não teremos marquise. A parte superior será vazada e o piso abaixo da linha será usado como ciclovia.” / R. B. e O. B. Alexandre Rojas, especialista em transportes da UERJ BRTs estarão saturados. ‘No Rio, não vamos recuperar 40 anos em 4’ ● Qual é o meio ideal? No Rio, elas são contínuas, uma injeta na outra. Então, temos de ter mais tempo entre um carro e outro por segurança. transporte público funciona, porque foi planejado em associação ao desenvolvimento urbano. ● Em que a cidade modelo o Rio poderia se inspirar? ● O Rio estará preparado para a Copa e a Olimpíada? No exterior, Viena. É um exemplo de integração, com metrô e ônibus rápidos, além de vias em bom estado de conservação. No Brasil, Curitiba, onde o A prefeitura está correndo. Mas não vamos recuperar 40 anos em quatro. Ficamos décadas sem investir em transporte público. Em obras. Monotrilho ligará Vila Prudente à Cidade Tiradentes, na zona leste de SP MONOTRILHO É NOVA APOSTA EM SÃO PAULO Tão inovador quanto polêmico, ramal que já teve as obras iniciadas deve transportar 510 mil passageiros por dia U mtremquecorresobreumalinhaelevada, com apenas um trilho, corta uma grande avenida paulistana pelo alto. Suspenso em grandes pilares, continua o trajeto por ruas residenciais arborizadas e cheias de casas, em um cenário futurista que era impensável há apenas dez anos pelos gestores públicos.Ospolêmicosmonotrilhos, que são defendidos ou atacados com veemência por quem os ama ou odeia, tornaram-se a mais nova aposta de São Paulo para resolver seu problema crônico de mobilidade. Atualmente, o monotrilho só se tornou opção séria de transporte público em cidades asiáticas, como Tóquio (Japão), Kuala Lumpur (Malásia) ou Xunquim eXangai (China).Nomundooci- ENTREVISTA O GLOBO ● Os BRTs (corredores expressos de ônibus) são boa opção? Alexandre Rojas, especialista da URFJ, diz que BRTs são boa solução a curto prazo, mas têm risco de ficarem saturados. São a melhor alternativa no curto prazo, pois são baratos e implementados rapidamente. Mas são um tipo de transporte de média capacidade. Um ôni- Danielle Nogueira bus transporta até cem pessoas. Uma composição do metrô (que inclui seis carros) transporta até três mil. Quando Campo Grande e Pedra de Guaratiba estiverem mais desenvolvidos, por exemplo, os O metrô, mas não do jeito que está sendo feito aqui no Rio. O tempo entre um carro e outro é de seis minutos. Em São Paulo, é de 90 segundos; em Londres, um minuto. Essa diferença acontece porque, nessas cidades, o metrô é em rede, as linhas apenas se entrecruzam.