A Família Real No Rio de Janeiro: Doenças e Práticas Terapêuticas no Período Joanino Por Matheus Alves Duarte da Silva Pesquisa apresentada ao PROVOC Avançado Orientadora: Dilene Raimundo do Nascimento Escola: CAp-UERJ Casa de Oswaldo Cruz Rio de Janeiro, Março de 2009. 1 Agradeço ao meu pai, Guilherme, ao meu irmão, Vinicius e aos meus avós, João e Dorina, e a minha namorada, Ana Carolina, pelo carinho. Dedico também a memória de minha mãe, Célia e minha avó, Therezinha. Agradeço especialmente à minha orientadora Dilene Raimundo do Nascimento, pela sua dedicação, paciência, sabedoria e comprometimento, sem os quais esse trabalho não teria sido possível. 2 Sumário Introdução 4 Capitulo I: A Vinda da Família Real 6 Conjuntura Política Européia 6 A Transferência 8 A Chegada 8 O Projeto Reformador 11 Capítulo II: O Rio de Janeiro 12 Aspectos Urbanos e Sanitários no Início do Século XIX 12 Pântanos e Charcos 16 As Valas 18 Manifestações da População Carioca 19 Capitulo III: Doenças e Práticas Terapêuticas 22 Principais Doenças 22 Terapeutas e Suas Práticas 25 Mudanças Institucionais 27 Conclusão 30 Fontes e Bibliografia 31 3 Introdução O presente trabalho é o resultado de dois anos de pesquisa histórica desenvolvida no Projeto Provoc Avançado, com o tema “A Família Real no Rio de Janeiro: Doenças e Práticas Terapêuticas No Período Joanino”. De acordo com o projeto inicial de pesquisa, buscou-se durante este tempo estabelecer as relações entre a vinda da família real portuguesa ao Brasil com as transformações sanitárias e urbanísticas ocorridas no Rio de Janeiro do período, que se estende de 1808 a 1821, tempo em que Dom João VI permaneceu no Brasil. Deste modo procurou-se entender como eram as condições sanitárias da cidade antes e durante a permanência da família real, as principais doenças da população e as práticas terapêuticas. Aliado a isto, buscou-se compreender de que maneira a vinda da família real e a figura do próprio rei foram importantes para as mudanças ocorridas no período. Para compor este trabalho foram usados diversos documentos, entre eles textos de historiadores ou escritores consagrados sobre o período que auxiliaram no embasamento teórico e na composição de um pano de fundo histórico, como Sérgio Buarque de Hollanda, Afonso Carlos Marques dos Santos e Nireu Cavalcanti. Foram utilizados, em seguida, relatos de viajantes do período, que são importantíssimos, pois permitem vislumbrar o contexto social e cultural da época, apresentando a cidade do Rio de Janeiro, os costumes da população, e especialmente as condições sanitárias, as doenças e as práticas terapêuticas. Os principais viajantes utilizados neste trabalho foram os naturalistas bávaros Von Spix e Von Martius e o comerciante inglês John Luccock. Outras fontes obtiveram grande destaque e importância no desenvolvimento deste trabalho. Diversos foram os documentos encontrados no decorrer do projeto, como uma série de cartas da população carioca enviadas ao Senado pedindo providências quanto à construção de valas, encontradas no Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro e cartas da Fisicatura, liberando uma série de terapeutas a praticar sua profissão, estas encontradas na 4 Biblioteca Nacional. Além destes documentos, outros foram utilizados, como o jornal O Patriota, relatórios médicos, mapas e imagens de pintores como Debret. Assim sendo, todos estes documentos permitiram desenvolver este trabalho, que se divide em três Capítulos. No primeiro capitulo está presente a introdução histórica sobre a vinda da família real para o Brasil, abordando-se as complicações políticas e militares pelas quais passava a Europa no período e que foram determinantes para a vinda da corte. Aborda-se também a manobra política por trás da vinda da família real, além dos impactos que os primeiros anos de estadia da corte portuguesa trouxe para a colônia, em especial para a cidade do Rio de Janeiro. No segundo capitulo tem-se a cidade do Rio de Janeiro como personagem principal, abordando-se como ela era antes da vinda da corte, e como foi o primeiro contato entre os dois. A partir daí é desenvolvida uma análise dos problemas sanitários da cidade e de que maneira eles influenciavam a população como um todo no acometimento de doenças e como o papel da família real, em especial do príncipe regente, foi determinante para a resolução de alguns desses problemas. São abordadas também as principais soluções sanitárias do período, que eram a drenagem de pântanos e a construção de valas, e a participação da população nessas soluções. Tal análise foi feita através das cartas que a população enviava ao rei ou ao senado tratando destas intervenções urbanas. O terceiro capítulo analisa as principais doenças do período, seus modos de transmissão e de contágio e os principais métodos de cura. Mostra também quem eram as pessoas que realizavam esta cura, quais eram suas práticas e como se relacionavam com a população em geral. Aborda-se também as tentativas reais de fiscalizar estes terapeutas, através da Fisicatura, seus modos de operação e as conseqüências disso para a sociedade. Esta análise foi feita a partir das cartas da fisicatura, de relatos de viajantes, entre outros documentos. 5 Capitulo I: A Vinda da Família Real A Conjuntura Política Européia A vinda da família real portuguesa para o Brasil está intimamente ligada aos acontecimentos políticos ocorridos na Europa no inicio do século XIX, e que envolveram Portugal diretamente. A principal conturbação ao status quo europeu vigente à época, foi a deflagração da revolução francesa em 1789, que, após a morte do rei francês Luis XVI e uma série de convulsões sociais, levou, por fim, ao poder o general do exército francês Napoleão Bonaparte. Decidido a expandir seu império para além dos limites territoriais franceses, Napoleão iniciou uma série de campanhas militares, onde alcançou expressivas vitórias, que além de aumentarem o império, o ajudaram a construir a imagem de gênio maior da estratégia militar. Desse modo a França subjugou uma série de estados europeus como a Prússia e anexou outros territórios pertencentes à paises como Rússia e império Austro-Húngaro1. Apesar destas façanhas militares, a França ainda não gozava totalmente do status de maior potência mundial, posto que ainda cabia à Inglaterra, sua histórica adversária. Porém, as campanhas militares empreendidas por Napoleão para derrotá-la, fracassaram militarmente, esbarrando na posição geográfica e na capacidade bélica da esquadra inglesa. Isto se tornou mais evidente após a batalha de Trafalgar, em 1805, onde as esquadras francesas e espanholas foram destruídas pela britânica, o que provocou uma mudança na estratégia napoleônica2. Decidido então a derrotar os ingleses não somente pela guerra, mas também pela via econômica, Napoleão decretou um bloqueio comercial, proibindo qualquer nação européia e suas subseqüentes colônias, a manterem qualquer relação comercial com a Inglaterra. Aqueles países que ousassem desobedecer ao imperador seriam imediatamente invadidos. Desse modo Napoleão esperava levar à falência a economia inglesa que dependia muito deste comércio marítimo, em especial com o império português. 1 HOLANDA, Sergio Buarque, História Geral da Civilização Brasileira: Tomo II, O Brasil Monárquico, 1° volume: O Processo de Emancipação, São Paulo, Difusão Européia do Livro, 1970 2 Idem 6 No entanto, a relação de dependência portuguesa para com o capital inglês era ainda maior, pois Portugal possuía grandes dívidas com a Inglaterra, além de ser originário deste país a maioria dos produtos manufaturados utilizados em Portugal e subseqüentemente no Brasil. Assim sendo, o pequeno país ibérico se viu no meio de um impasse diplomático e econômico, pois, se apoiasse os ingleses teria seu território invadido como ocorreu com a Prússia e tantos outros. Porém, se aderisse ao Bloqueio de Napoleão, perderia seu maior parceiro econômico e ainda veria sua maior colônia, o Brasil, ser invadida pela Inglaterra, como aconteceu com Buenos Aires, no momento em que a Espanha se tornou uma aliada francesa3. Diante de tal dilema, coube ao príncipe regente português Dom João a difícil decisão política, aumentada ainda mais pela sua condição de regente e não de rei. Dom João tornara-se regente em 1799, após a constatação de que sua mãe, Dona Maria I, estava mentalmente incapacitada para governar. Pouco se sabe sobre as razões que levaram a rainha a este estado de debilidade, porém a historiografia consagrou que isto ocorreu devido ao choque emocional causado pelas mortes de seu marido, Dom Pedro III, e de seu filho Dom José, o herdeiro do trono, e pelos problemas políticos suscitados com a revolução francesa. Assim sendo, o príncipe regente, apesar de não ter sido preparado para as artes políticas de que tanto necessitava neste momento turbulento, aceitou transferir-se com sua corte para o Brasil, uma medida radical, dado o seu ineditismo na história das monarquias européias, porém, de nenhum modo surpreendente nem imprevista. Diversas vezes, em que a monarquia lusitana esteve prestes a ser destruída pelos seus vizinhos mais poderosos, a idéia de que a corte se mudasse para sua colônia mais rica e ali construísse um novo império foi pensada. Marquês de Pombal, por exemplo, grande reformador do estado português, sugeriu ao rei Dom José I a transladação da corte, de modo a equilibrar na América a fraqueza de Portugal na Europa. No entanto, mesmo com todos os problemas enfrentados pela monarquia, esta sempre conseguira se manter a salvo, de algum modo, em seus domínios europeus. O momento, porém, se mostrou diferente dos demais.4 3 4 Idem LIMA, Oliveira. Dom João VI no Brasil. Rio de Janeiro, Topbooks, 2006. 7 A Transferência A idéia, porém, foi longamente discutida e evitada pelos ministros portugueses apesar da forte pressão franco-inglesa para que se chegasse a uma solução. A situação, no entanto, se mostrou insustentável após a assinatura do tratado de Fontainebleau pelo qual França e Espanha dividiram Portugal entre si. Após a assinatura do tratado, outro fator determinante para a transferência da família real foi o não cumprimento dele por parte da França e a conquista do reino espanhol pelos exércitos franceses. Decidido, então, a não ter o mesmo destino que o rei espanhol Carlos IV, Dom João por fim aceitou partir para o Brasil, escoltado pelos navios ingleses. A execução da manobra foi extremamente apressada, tendo a partida ocorrido momentos antes da entrada dos exércitos do general Junot na capital portuguesa. Acompanharam o rei e sua família cerca de dez mil nobres5, tendo todos zarpados de Lisboa, no dia 29 de novembro de 1807. Além dos nobres, veio também para o Brasil a máquina burocrática lusitana, composta por documentos, leis e ofícios. Apenas o conteúdo da Biblioteca dos Reis, futura Biblioteca Nacional, foi esquecido no porto, sendo depois transferido para o Brasil. Apesar das péssimas condições do transporte e do risco que era cruzar o Atlântico, naquela época, a esquadra portuguesa - escoltada pela marinha inglesa - nada sofreu, tendo chegado em segurança no Brasil em janeiro de 1808. Devido a um pequeno desvio de rota, a nau que transportava o monarca acabou se dirigindo a Salvador, onde ele desembarcou em 23 de janeiro de 18086. A Chegada A chegada da família real portuguesa ao Brasil foi um marco para a sociedade colonial, pois jamais qualquer rei europeu havia sequer visitado alguma colônia, quanto 5 Tal número foi consagrado por diversos historiadores como Oliveira Lima. No entanto esta quantia vem sofrendo, nas últimas décadas, fortes contestações de outros pesquisadores como Nireu Cavalcanti, que afirmam, com base em cálculos sobre a quantidade de navios e o impacto sobre a cidade, que o número de nobres não passou de quinhentos. 6 LIMA, 2006. 8 mais se transferir e passar a viver, e governar, em uma. A ocasião era merecedora de intensos festejos, que ocorreram durante uma semana, saudando a chegada da família real. Logo após esta semana, o príncipe regente tomou a primeira e uma das maiores decisões do período em que permaneceu no Brasil. Em 28 do mesmo mês, os portos brasileiros foram abertos às nações amigas. Tal evento, para muitos historiadores, caracteriza o fim do pacto colonial e o primeiro passo de nossa independência. Esta interpretação se apóia na noção de que o pacto colonial, medida econômica básica do mercantilismo, e que previa que a colônia exportaria suas riquezas exclusivamente para a metrópole, fora demolido através do ato régio. A medida não foi posta em prática pela benevolência do rei para com a colônia: tratava-se de um ato racional e prático, visando à saúde financeira do reino, pois, caso os portos continuassem fechados, a falência do império estaria decretada. Portugal, além de falido e sem rei, estava sob as armas francesas, incapaz, portanto, de comercializar com o Brasil. Com isso, a Inglaterra tornou-se, neste primeiro momento, a única nação aliada a comercializar com o Império Português. Ainda na Bahia, Dom João tomou outra grande decisão, criando, pelo Aviso de 18 de fevereiro, as primeiras escolas de medicina na colônia. O Aviso estipulava que seriam instaladas na Bahia e no Rio de Janeiro duas aulas de cirurgia, visando com isso suprir a carência de médicos nas capitais e no interior7. Tal evento trouxe profundas mudanças para a questão médica da época e será melhor desenvolvido no terceiro capítulo deste trabalho. Alguns dias depois destes eventos, e apesar do pedido insistente do povo baiano para que ficasse, Dom João zarpou para seu destino inicial, desembarcando no Rio de Janeiro em 08 de março de 1808. As primeiras manifestações pela sua chegada foram de grande entusiasmo por parte da população colônia, como já ocorrera na Bahia, pois muitos acreditaram que um novo momento na história do país estava sendo escrito. Nas palavras do viajante John Mawe, que estava em São Paulo no momento da chegada do príncipe na Bahia, “a noticia foi ali recebida com grande alegria, ocasionando procissões, foguetórios e outras demonstrações ruidosas” e ajunta depois, “o império brasileiro foi considerado estabelecido”8. 7 8 Idem. APUD LIMA, 2006, p. 66. 9 Apesar das festas e comemorações pela chegada da família real, os novos governantes se depararam com um primeiro problema na nova sede do império: como acomodar todos os novos moradores. Mesmo sendo contestado o número de nobres, é fato que vieram muitas pessoas, e essas precisavam ser acomodadas. A própria família real teve que ser, num primeiro momento, instalada de improviso no antigo palácio dos vice-reis9. Para outros nobres, o problema da moradia foi resolvido requisitando-se as habitações da população. Contudo, segundo o viajante inglês John Luccock10: “Havia pouca necessidade de uma ordem real para induzir os homens de categoria e posses, entre os da colônia que ajudassem os infortunados estrangeiros (...) eles se adiantavam em seus oferecimentos, emprestando espontaneamente seu dinheiro, suas casas, e quase que todas as suas comodidades”11. Esta aparente bondade dos novos súditos, em especial dos comerciantes fluminenses, era repleta de outras intenções, tendo estes procurado durante todo o período joanino uma maior aproximação com a nobreza. Com este intuito, refinavam seus hábitos e costumes e financiavam obras públicas e filantrópicas. Em retribuição por estes serviços, Dom João concedia-lhes títulos, mercês, terras e favores, numa prática que se estenderia durante todo o período joanino e seria uma marca da passagem do monarca pelas terras brasileiras12. 9 O palácio dos vice-reis, depois conhecido como Paço Imperial, foi a residência temporária da família real, até sua mudança para a Quinta da Boa Vista. Localiza-se, atualmente, na Praça XV de Novembro, no centro do Rio de Janeiro. 10 O viajante inglês John Luccock foi um dos principais cronistas do período joanino, o qual vivenciou durante treze anos, tendo chegado ao Brasil em 1808, beneficiado pela abertura dos portos. 11 LUCCOCK, John, Notas sobre o Rio de Janeiro e partes meridionais do Brasil, São Paulo, Editora Itatiaia, 1975, p. 68 12 SANTOS, Afonso Carlos Marques dos, A Invenção do Brasil: Ensaios de História e Cultura, Rio de Janeiro, Editora UFRJ, 2007. 10 O Projeto Reformador Resolvido o problema inicial da habitação, instalou-se na cidade o aparelho burocrático português, tornando-a o centro administrativo do império lusitano. Coube então ao príncipe, modernizar o Rio de Janeiro, de modo a transformá-lo em sede de um grande império. Esse projeto “modernizador”, conforme chamou Afonso Marques dos Santos em a “Invenção do Brasil”, justificava-se por transformar o Rio em uma sede digna para um rei europeu viver, além de tornar mais aprazível a vida dos enviados estrangeiros, bem como dos nobres que acompanharam a família real. Deste modo, procurava-se transformar a Rio numa cidade européia, objetivando romper com algumas marcas coloniais da cidade. Este projeto, no entanto não foi de todo eficaz, esbarrando em dois pontos. O primeiro consistia na máquina burocrática portuguesa emperrada, recheada de nobres e fidalgos, que acompanharam o rei na transferência e que esperavam por isso recompensas. O segundo ponto refere-se à estrutura social da colônia, marcada pelo trabalho escravo, em um mundo onde o trabalho livre e o consumo de bens industriais cresciam, graças à revolução industrial13. Mesmo com todos estes entraves, o “projeto modernizador” foi levado a frente pelo governo, que, no primeiro momento, agiu no sentido de construir novas moradias para os recém chegados, não apenas os nobres vindos com a corte, mas também uma grande quantidade de comerciantes estrangeiros, artistas, estudiosos, entre outros, beneficiados pela abertura do país ao mundo. O segundo momento do projeto ocupou-se com a construção de novas ruas e bairros, de modo a atender o crescimento da população, na melhoria das antigas construções, na tentativa de sanear e urbanizar a cidade e na reforma e criação de instituições. É este segundo momento o objeto de interesse deste estudo e será melhor abordado nos capítulos subseqüentes. 13 Idem 11 Capítulo II: O Rio de Janeiro14 Aspectos Urbanos e Sanitários No Início Do Século XIX Conforme mostrado anteriormente, o projeto de urbanizar e sanear o Rio de Janeiro foi um dos pilares da administração joanina. E isto se justificava pelas características da capital a época, que assombraram o rei e seus súditos ao desembarcarem em sua nova morada. Se por um lado, a natureza deslumbrava os europeus por seu exotismo, por outro a aglomeração urbana os assustava. O Rio de Janeiro era uma cidade pequena para os padrões europeus e até mesmo para os nacionais, uma vez que Salvador, a antiga capital, era muito maior e mais populosa. A cidade do Rio contabilizava sessenta mil pessoas, segundo Luccock, havendo apenas vinte mil brancos, sendo o restante da população composto por trabalhadores pardos e por escravos negros, sendo estes calculados em torno de doze mil15. Tal número assustava os novos habitantes, que não consideravam a nova capital um lugar digno para que ricos fidalgos vivessem em meio a negros. Para piorar a situação, a nova capital era ainda um lugar pequeno, recheado de vielas e com um comércio incipiente. No entanto, o mais grave problema que a cidade possuía na época da chegada da família real era a sua condição sanitária. Assim que pôs os pés na cidade Dom João pode perceber o quão malcheirosa ela era, apesar dos esforços dos comerciantes em tentar diminuir o mau-cheiro, utilizando algumas ervas16. Tal situação decorria da péssima qualidade do escoamento do lixo e do esgoto, que se amontoavam na cidade. Em uma época em que não existia sistema de esgoto, muito menos de tratamento deste, havia apenas três soluções, para o escoamento dos dejetos humanos no Rio de Janeiro, conforme lista o viajante inglês John Luccock17. A primeira, utilizada pelas casas não tão abastadas, consistia em acumular o lixo no pátio da residência esperando que as chuvas tropicais o levassem. O segundo, e muito 14 Este capítulo baseia-se no artigo publicado em co-autoria com minha orientadora, Dilene Raimundo do Nascimento, na Revista do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, intitulado “As fontes em tempos de D. João: abastecimento de água e escoamento de esgoto no Rio de Janeiro oitocentista” v. 2, p. 58-73, 2008. 15 LUCCOCK, 1975, p 90. 16 Lima, 2006. 17 Idem 12 pitoresco, era a utilização de escravos que deveriam carregar os dejetos em tinas levadas às costas e despejá-las na Baía de Guanabara. Tal solução era utilizada apenas pelos mais ricos, que podiam arcar com este serviço. À tina era dado o nome de “tigre” e aos negros que desempenhavam tal função era dado o nome de “tigreiro”, em virtude das listras brancas que se formavam em suas costas, decorrentes das queimaduras provocadas pela amônia e pela uréia, presentes nos dejetos, que eventualmente escorriam sobre eles18. A terceira solução era derramar o lixo nas ruas que possuíam valas ou nas próprias, e esperar que estas o levassem até o mar. Dada a facilidade e abundância delas, este se tornou o principal meio de despejo dos dejetos, bem como de outros materiais. Todas estas três soluções transformavam a cidade num lugar insuportável para se viver, não só pelo cheiro que exalavam as ruas, por conta das imundícies ali presentes, mas também pelas conseqüências que essas práticas acarretavam, tais como a multiplicação de ratos e baratas, e uma proliferação de doenças. Quem melhor resume o que era a cidade, nessa época, é o próprio John Luccock, pois para ele o Rio de Janeiro era “o mais imundo dos ajuntamentos de seres humanos de baixo do céu”19. Outro grande problema que possuía a cidade e piorava sua condição sanitária era o escoamento das águas fluviais e pluviais. Antes da chegada da família real, a questão já era um problema e, à medida que a cidade aumentava de tamanho, piorava. Desde o ano de 1798, o poder público já era alertado sobre os problemas que as estagnações da água, sendo elas fluviais ou pluviais, traziam para a cidade. Nesse ano, três médicos responderam à questões sobre as doenças “endêmicas” e “epidêmicas” da cidade do Rio de Janeiro, propostas pela Câmara municipal, apontando soluções para diversos problemas da cidade, entre eles as doenças causadas pelas estagnações. Os três médicos que acolheram as indagações da Câmara foram Manoel Joaquim Marreiros, Bernardino Antonio Gomes e Antonio Joaquim de Medeiros. Tais relatos foram publicados no ano de 1813, pelo jornal O Patriota20 e dão conta de diversos problemas que a cidade possuía por conta do escoamento 18 GOMES, Laurentino, 1808: Como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a História de Portugal e do Brasil, São Paulo, Editora Planeta do Brasil, 2007 19 LUCCOCK, 1975,p: 90. 20 O Patriota veio a público em 1813 e 1814 por meio da Impressão Régia, instalada no Rio de Janeiro em 1808. Seu editor, Manuel Ferreira de Araújo Guimarães (1778-1838), era, na época, o responsável pela Gazeta do Rio de Janeiro, espécie de órgão oficial do governo. 13 precário, entre eles as doenças que se acreditavam serem causadas por isto, como atesta o depoimento do dr Manuel Joaquim Marreiros: “O Rio de Janeiro, (...), ocupa lugar numa vastíssima planície que representando o fundo de uma baía, e circundada por uma cadeia de serras empinadas, mananciais de copiosíssimas águas, as quais, apesar de caudalosos rios, que as conduzem ao braço do mar, intrometido em forma de uma baía, em muitas partes estagnam, pela pouca inclinação do terreno, todo baixo, a respeito do nível do mar, evaporando-se lentamente por falta do movimento do ar: este degenera da sua pureza impregnado de água, hidrogênio e inflamável, proveniente dos charcos, (...), dispõe os corpos para as acrimônias particulares, matrizes de erisipelas, impingens, sarnas, edemas crônicos e da doença vulgarmente chamada de Mal de São Lázaro, de febres”21. Não só a estagnação das águas dos rios era um problema para o Rio de Janeiro, mas também a dificuldade de escoamento das águas provenientes das chuvas. Isto era prejudicial ao clima da cidade, o que fica claro pelo depoimento do médico Bernardino Gomes à Câmara: “Segue-se mais que se devem ter por causas, ainda que mais remotas, as que fazem a umidade do clima. (...) A planície da cidade é também visível, que desta sorte não há escoante, ou esgoto para as águas das chuvas, e que, 21 O Patriota, 1813 p. 60. 14 portanto tem estas de secar-se maiormente pela evaporação que exala o sol”22. Outro documento que corrobora o prejuízo causado pela estagnação das águas é a Memória apresentada em 1816, pelo engenheiro João Manoel da Silva, intitulada “Regime das Águas”. Tal documento encontra-se atualmente no Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, e nele o autor tenta mostrar como funciona o ciclo das águas no Rio de Janeiro e quais são os problemas causados por este, bem como propõe soluções, entre elas a afirmação de que são necessárias obras de aterramento na cidade para melhoria da saúde pública. Sobre a estagnação e seus malefícios ele discorre: “entre o Vallongo e Sant’Anna, onde agora se abriram novas ruas ficam debaixo de água, e posto existem nelas por muito tempo lagoas, os quais não se esgotam senão pela evaporação causada pelo Sol. O quanto isto é prejudicial à saúde é claro e manifesto”23. Ele finaliza o documento, ressaltando que se a obra proposta não for feita por pessoas competentes: “[a cidade] experimentará sempre catástrofes iguais à deste ano, e sofrerá todos os anos a epidemia de biliosas e intermitentes, precedidas das inundações das casas e das pútridas evaporações dos muitos e grandes pântanos que há dentro e fora da cidade”24. 22 O Patriota, 1813 p. 57-58. SILVA, João Manuel, “Regime das Águas”, 1811, p. 5 24 Idem 23 15 Segundo a concepção médica da época, e que era corroborada pelos três médicos, as águas estagnadas, principalmente as dos pântanos e charcos, eram prejudiciais à saúde, pois delas emanavam eflúvios e miasmas pestíferos, o que também fica claro na Memória de João Manoel da Silva, e que seriam capazes de contaminar a população com toda sorte de doenças. Para tanto, não faltavam medidas visando combater as águas estagnadas. Entre elas, propunham os médicos: o nivelamento das ruas de modo a facilitar o escoamento, o aterramento dos pântanos, e a construção e limpeza das valas. Pântanos e Charcos Como se viu anteriormente, aos pântanos e charcos existentes na cidade era creditada em parte a culpa por diferentes males que se abatiam sobre a cidade, principalmente um grande número de doenças. Dessa forma, a maioria dos médicos e encarregados da saúde pública, achava que os destruindo se resolveria grande parte do problema. A relação entre o Rio de Janeiro e as terras alagadiças era antiga e remonta ao início do povoamento da cidade, uma vez que o sítio original encontrava-se sobre uma região de pântanos onde foi vital vencê-los de modo a poder se povoar a região. Somente na área central existiam cinco grandes lagoas, sendo elas: Boqueirão, Sentinela, Desterro, Pavuna e Santo Antônio. Levou-se duzentos anos até que a última — a do Boqueirão — fosse aterrada, no governo do vice-rei Dom Luis de Vasconcelos e transformada no primeiro Passeio Público da cidade, em 1783. Além das lagoas, outro grande entrave à colonização da cidade era os pântanos. Antonio Joaquim de Medeiros foi bastante enfático ao responder à Câmara, sobre as águas estagnadas na cidade do Rio de Janeiro: “as águas estagnadas, que apodrecendo pelo grande calor, exalam os mais pestíferos vapores. Somente os eflúvios, que emanam das águas encharcadas, que perenemente existem dentro da cidade, os vapores, que lançam as imundícies amontoadas nos largos e praças, e 16 o grande fedor, que vem de uma grande vala, que se abriu para dar escoante as águas, mais que serve para despejo dos moradores circunvizinhos, bastariam para fazer do Rio de Janeiro endêmico, quanto mais concorrendo outra coisa mais poderosa, que as primeiras. O ar úmido e quente, que combinando-se com os eflúvios das imundícies fica mais alterado, mais corrupto, mais degenerado e mais capaz de produzir enfermidades25. Medeiros traça um quadro bastante desolador da capital do Brasil. Kury assinala que o editor de O Patriota teve a preocupação de ressalvar em nota ao pé da página, que sua intenção ao publicar tais textos teria sido mostrar como grande parte das causas das doenças “se tem desvanecido depois que esta Cidade tem a honra de ser a Corte do Nosso Augusto Soberano”26. Os maiores pântanos existentes na cidade eram o de São Diogo e o de Pedro Dias, sendo o primeiro localizado na Cidade Nova. A drenagem do mangue de São Diogo era imprescindível para a cidade, uma vez que esta se expandia e já não possuía novos lugares para habitar. Deste modo por meio de sucessivos aterros e drenagens o mangue foi parcialmente vencido ainda no século XVIII, estando, na época da chegada da família real, quase totalmente aterrado, existindo diversas habitações na região. Já o de Pedro Dias, estava localizado entre os morros de Santa Thereza, Senado e Pedro Dias Paes Leme. A localização deste pântano encontrava-se em uma área de grande crescimento populacional no século XIX, o que tornava a destruição dele vital, visto que, além de ser um impedimento à povoação, era um foco de doenças. Para seu arrasamento foram utilizadas as terras dos morros que o circundavam, o que já era previsto e solicitado pelo engenheiro João Manoel da Silva: 25 O Patriota, 1813, p. 9. KURY, Lorelai. Descrever a Pátria, Difundir o Saber. In: KURY, Lorelai (org.). Iluminismo e império no Brasil: O Patriota (1813-1814). Rio de Janeiro, Editora Fiocruz, 2007, p. 163. 26 17 “De quanto melhorará a saúde pública com esta obra [o aterramento do pântano] é indizível: basta dizer que se faz desaparecer o maior dos pântanos que há no meio da cidade, o qual existe todo ano exalando vapores pútridos e pestíferos. Para o aterro, a providencia pôs junto do grande pântano dois morros, que são o de santo Antonio e o de Pedro Dias Paes Leme”27. Ainda em 1798, a destruição deste e de outras regiões pantanosas já era solicitada junto às autoridades, conforme fica claro no depoimento do Dr. Joaquim de Medeiros: “É da primeira necessidade que se dêem as últimas providências, para se secar, não somente das águas das chuvas, que se acham represadas dentro da cidade, e sem expedição para o mar, com as águas estagnadas pelas grandes marés nos arrabaldes da cidade. Por enquanto, não somente resultaria ao povo a destruição de uma causa constante e poderosa das enfermidades do País, a respeito dos lugares pantanosos, fermento de febres podres e intermitentes, senão que aproveitaria mais este terreno inculto e sem valia, quer para as casas, quer para a lavoura: o povo vai crescendo consideravelmente, e entretanto não tem a cidade lugar para onde se estenda que não seja pantanosa”28. As Valas Como se pôde ver, a grande solução para os diversos problemas sanitários que possuía o Rio de Janeiro era a construção de valas. Elas serviam para escoar as águas 27 28 SILVA, 1811, p. 2. O Patriota, 1813, p 14. 18 fluviais e pluviais, facilitar o aterramento dos pântanos e dar despejo para os dejetos humanos. E se hoje em dia as valas são sinônimos de regiões subdesenvolvidas e com sérias deficiências ou a total falta de saneamento, o mesmo não pode se dizer do Rio de Janeiro do início do século XIX. A primeira grande vala remonta à construção do aqueduto da Carioca e do chafariz no largo de Santo Antonio. A quantidade de água que jorrava era tão grande que ultrapassava a demanda e acabava transbordando e inundando a região do largo, transformando-o num grande lago. A região, portanto, tornou-se um criadouro de mosquitos e um empecilho para aqueles que vinham se servir da água, o que obrigou a construção de uma grande vala de modo a escoar esta água que sobrava para o mar. A esta rua, que abrigava a vala, foi dado o nome de Rua da Vala, que hoje se estende pelas ruas Uruguaiana e do Acre, e desembocava na Prainha. Outra função a que serviram as valas foi para dar escoamento às águas dos pântanos enquanto eles não eram aterrados, conforme lembra o engenheiro José Manoel da Silva: ”este escoamento [das águas do pântano] não se pode fazer se não por meio de valas espaçosas e multiplicadas enquanto não houver um canal onde vão dar, e enquanto se não fizer o aterro”29. A grande função, porém, a que serviam as valas era dar escoamento aos dejetos humanos ou a canalização das águas da chuva. Portanto, o período da estadia da família real no Brasil é o momento em que a necessidade das valas aumenta, em virtude do crescimento populacional e da tentativa de saneamento e embelezamento da nova capital do império português, empreendida por Dom João VI. Tal fato fica atestado pelo grande número de cartas enviadas pela população em geral, ao Senado, à Câmara ou à Sua Majestade, relativo às valas, durante este período. Manifestações da População Carioca Um bom exemplo desse tipo de documento é uma carta enviada por moradores das novas ruas construídas no que viria a ser o bairro do Catete. A carta é dirigida ao Senado, 29 SILVA, 1811, p. 2 19 pedindo pela construção de valas. Este documento encontra-se no Arquivo Geral da Cidade e segue na íntegra. “Senhor, Dizem os edificadores dos prédios que se estão construindo de novo no Bairro da Glória e Caminho do Catete, que representando ao Senado da Câmara a necessidade que havia de se abrir uma nova vala, para escoamento das águas que vem do morro da Pedreira, por terras da viúva do tenente coronel Antônio Cardoso Ramalho da qual nenhum prejuízo se causa a supra citada, antes é de utilidade absoluta ao Público, foi o mesmo Senado servido mandar proceder a vistoria, a qual se efetuou como consta o documento junto, sendo alinhada a dita vala pelo respectivo arquiteto, pelo mesmo Senado ter confirmado a utilidade que fazia aos requerentes, ao bem publico, porém sucede a supra citada não querer estar pelas determinações do Senado da Câmara e continua com embargos a obra dos representantes; e como Real Senhor, aos supra citados causa um grande prejuízo, ao entrarem em contestações de demandas, não só pelo prejuízo que lhe causa de já terem a dita Vala principiada, mas também pelo prejuízo do bem Público, por isso não podem deixar de rogar a bem conhecida Grandeza de Vossa Majestade se digne em dar por efeito de benevolência seja válida e expectada a vistoria que o Senado da Câmara procedeu sem mais impedimento algum, visto ser justo, a bem dos supracitados, do público e não causará prejuízos à supracitada, portanto.30 Rio de Janeiro, 1816” 30 Carta relativa à vala do Catete, 1816, Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro. 20 A partir da leitura desta carta, pode-se compreender melhor diversos fatos que foram abordados ao longo deste capitulo e que merecem análise aprofundada. Em primeiro lugar, pode-se notar pelo conteúdo do documento a importância das valas para a população carioca. O bairro do Catete era novo e sua ocupação recente, portanto, carecia de diversas obras de infra-estrutura, entre elas a vala. Julgando apenas o que está contido na carta, esta vala serviria somente para dar escoamento às águas da chuva e, ao menos à primeira análise, não seria utilizada para os dejetos. Esse escoamento das águas das chuvas se fazia necessário, uma vez que se estavam construindo habitações que poderiam ser arrasadas caso as águas não estivessem canalizadas. Contudo, é necessário analisar a recusa da proprietária do terreno por onde a vala passaria. Não sabemos se foi por implicância aos edificadores ou pelas conseqüências que a vala traria para o seu terreno. Logo, é possível conjecturar que a referida vala, também seria usada para carregar os dejetos, fato este muito comum. Outro ponto de profunda importância que se encontra nessa carta são os papéis desempenhados pela população, pelo Senado e por Sua Majestade. O papel da população é evidente, já que ela é a remetente da carta, pedindo pela realização de benfeitorias, no caso, a permissão para a construção da vala. No entanto, esta não será feita pelo Senado nem por Sua Majestade, como era inicialmente, mas sim, pelos próprios edificadores. Coube ao Senado a parte técnica, que incluiu a vistoria do terreno e o alinhamento da vala, o que foi feito pelo arquiteto do Senado, a confirmação da necessidade da construção e por fim a liberação da obra. Coube à Sua Majestade a resolução da pequena desavença entre vizinhos. O que fica claro com isto é que a Câmara, que outrora concorria com todos os passos da construção da vala, passa a ter um caráter restrito, já que agora se tem a figura do monarca para resolver o problema. Ao monarca além da resolução destas pequenas contendas, coube também a tarefa de incentivar estas obras, como também promover outras, visando o embelezamento e o saneamento da nova capital. 21 Capítulo III: Doenças e Práticas Terapêuticas Principais doenças Como se viu nos capítulos anteriores a preocupação em sanear o Rio de Janeiro foi um dos principais eixos da administração joanina. E isto se justificava pelo fato da configuração sanitária do Rio de Janeiro ser uma das maiores responsáveis, ao menos segundo a concepção da época, pela aquisição de doenças por parte da população. Além de prejudiciais para a sociedade, elas eram ainda um entrave para uma maior colonização do território brasileiro, como também contribuíam para a péssima reputação da cidade junto aos cidadãos estrangeiros. Além da péssima configuração sanitária da cidade, era creditada ao clima tropical grande parte da culpa pela manifestação das doenças. Isto decorria, segundo o saber médico da época, pelo fato do calor prejudicar o desempenho físico da população, como também acelerar a putrefação dos corpos. Isto fica atestado pelo seguinte depoimento de Bernardino Gomes acerca dos males do clima: “Segue-se daqui o clima quente e úmido desta cidade deve-se considerar-se como uma das principais causas das mencionadas moléstias: nada é mais capaz de enervar a constituição humana e nada favorece mais a putrefação das substâncias animais e vegetais e em conseqüência a origem dos miasmas referidos”31. Os relatos dos médicos publicados no Patriota dão conta de uma série de doenças muito comuns na cidade, à época da vinda da família real. Segundo Marreiros eram elas as mais comuns e endêmicas: “erisipelas, impingens, sarnas, edemas crônicos e da doença vulgarmente chamada de Mal de São Lázaro, de 31 O Patriota, 1813, p. 57. 22 febres, (...), indisposições de entranhas, principalmente bote, e fígado, do que provém numerosas tísicas, e os vulgarmente denominados tubérculos, que consistem essencialmente em uma obstrução do fígado, interessado por consenso, o bote”32 Já Bernardino Gomes informa que eram típicas doenças cariocas as “sarnas, erisipelas, empingens, bolbos, morféia, elefantíase, formigueiro, o bico - dos - pés, edemas de pernas, hidrocele, sarcocele, lombrigas, hérnias, luchorrea, disminorréa, hemorróides, dispepsia, vários afetos compulsivos, hepatites e diferentes sortes de febres intermitentes e remitentes33”. E por ultimo informa o Dr Antonio Joaquim de Medeiros como sendo as principais doenças encontradas na cidade as “erisipelas, as Doenças de Pele, as Obstruções do Fígado, (...), e finalmente as Afeções Hemorroidais34”. Como se viu, existem doenças que são citadas pelos três médicos, o que evidencia seu caráter comum a toda a população. Destas, uma das que mais chamam a atenção são as febres, por serem incluídas não como sintomas de algumas doenças, como seriam mais tarde atribuídas, mas sim, como a própria doença. Segundo Lycurgo Santos Filho, isto ocorria pelo fato de que os médicos ignoravam as causas, as origens ou os próprios agentes que levavam ao estado febril, o que os fazia encará-la como a própria doença35. Assim sendo, existiam toda sorte de denominações de febres, decorrentes da apresentação, da evolução e dos sintomas apresentados. São algumas delas: as febres intermitentes, incluídas no grupo das palustres, que eram as originárias das emanações dos pântanos, segundo as teses da época; a febre biliosa, cujo sintoma paralelo era o derramamento da bile, sendo por vezes confundida com febre amarela e tifo; as febres crônicas, que segundo o estatuto da escola de Medicina do Rio de Janeiro eram “aquelas que vem de alguma ofensa interna, que provinda da mínima sensibilidade e irritabilidade ou inirritabilidade acabam com estrago de entranhas, como filisicos espontâneos, escrofulosos, ou sifilíticos, principiem depois de 32 O Patriota, 1813, p. 60-61. O Patriota, 1813 p.56. 34 O Patriota, 1813, p.4. 35 FILHO, Lycurgo Santos, História Geral da Medicina Brasileira, São Paulo, Editora da Universidade de São Paulo, 1977. 33 23 hemoptise, ou sem ela36”, e as febres malignas ou pestilentas, causadas, segundo a concepção da época, pelos miasmas pestíferos37. Ainda que no diagnóstico e na classificação houvesse muita discussão entre os profissionais devido ao grande número de denominações de febres, o mesmo não ocorria ao apontarem uma das causas pela piora dos pacientes. Tal fato era atribuído à terra e ao clima tropical38, conforme foi apresentado anteriormente pelo discurso de Bernardino Gomes ao tratar das principais doenças da população carioca. Outra doença de destaque nesta época é a erisipela, que segundo vários cronistas era muito comum à toda a população brasileira, não tendo poupado nem mesmo o rei Dom João VI, que segundo Oliveira Lima possuía esse problema na perna, tendo sido receitado para ele os pitorescos banhos na Baía de Guanabara39. O depoimento do médico Joaquim de Medeiros, ao “Patriota”, ajuda a ilustrar de que maneira esta doença era percebida pela comunidade e pelos médicos. Segundo ele: “As Erisipelas, a ninguém, nem mesmos aos recémnascidos, como eu tenho observado, poupam. Raríssimas são as pessoas desta cidade, que não sofreram impulsos erisipelosos, e por isto os naturais do País já não reputam enfermidades a Erisipela. Curam com seus remédios domésticos sem o auxílio da arte, tão vulgar se tem feito esta doença! Mas a falta de método curativo, e a pouca regularidade e dieta, que os enfermos tem nos seus insultos, deram origens a outras moléstias, que ainda se faz mais sensível aos que habitam este recinto da cidade: falo das inchações das pernas e dos testículos (...). Vê-se logo que a erisipela no País é por todos os tipos temível, tanto por freqüentes termina pela gangrena e morte, como eu 36 Estatuto da Medicina, Biblioteca Nacional, Fundo Casa dos Contos,p: 2. SANTOS FILHO, 1977. 38 Idem. 39 LIMA, 2006. 37 24 muitas vezes rapidamente tenho observado, como porque, quase sempre deixa deformidades nas partes afetadas”.40 Conforme ilustrado pelo depoimento acima, por mais comum que fosse a erisipela, esta era, por vezes, extremamente perigosa devido aos seus efeitos secundários e ao péssimo tratamento médico. Outras doenças cutâneas muito comuns à época e que tinham efeitos danosos eram a lepra, a sarna, a elefantíase a as impingens, segundo os médicos do Patriota41. Foram considerados como causadores dessas doenças o ar viciado, distúrbios alimentares, maus humores, má alimentação, além de fatores climáticos42. Terapeutas e Suas Práticas Para o tratamento das doenças anteriormente citadas, bem como de outras, existiam uma série de terapeutas, formados em escolas ou não, que desempenhavam diversas práticas terapêuticas para tratamento destas doenças. A prática terapêutica mais comum, à época, receitada para a grande maioria das doenças, em especial as febres, era a da sangria. Remanescente do período medieval, a sangria era praticada no Brasil pelos cirurgiões e pelos barbeiros sangradores, sendo estes últimos muito mais comuns e, quase sempre, negros escravos ou ex-escravos43. A sangria objetivava, segundo o pensamento da época, retirar do doente a causa da doença, ou na linguagem médica o “humor vicioso”, o “humor podre”, o “humor colérico”, entre outros. Para tal fim, os terapeutas lançavam mão de vários métodos sendo o mais comum abrir uma veia, geralmente perto do cotovelo, utilizando uma lanceta, ou na falta dela um canivete, retirando assim o sangue do paciente e também a “doença”. Para o auxílio dessa tarefa aplicava-se um torniquete acima da incisão e uma bacia recolhia o 40 O Patriota, 1813, p.4. Idem. 42 SANTOS FILHO, 1977. 43 PIMENTA, Tânia Salgado, Artes e ofícios de curar no Brasil. Editora Unicamp, Campinas, 2003. 41 25 sangue do doente. Após o serviço, oferecia-se um copo de vinho para reconfortar o paciente44. Além do método descrito acima, existiam outros que objetivavam o mesmo fim. Um deles era a utilização de sanguessugas, que consistia na aplicação destes vermes hematófagos na pele do paciente, de modo que estes parasitas, ao sugarem o sangue, também retirassem o agente causador da doença. Outro método utilizado era o das sarjas, que eram pequenas aberturas feitas na pele do paciente onde se colocava algumas ventosas de vidro, com o objetivo de “dilatar o ar interno do corpo”.45 Estas intervenções, apesar de muito utilizadas pela população em geral, eram feitas sem cuidado, sem assepsia e como tiravam uma grande quantidade de sangue de pessoas que já estavam debilitadas, levavam muitas delas à morte, o que ocorreu em diversos momentos. Outra prática terapêutica muito comum, neste período, foi a cirurgia. Por cirurgia entendia-se a amputação de membros, redução de fraturas e luxações, cauterização de feridas, lancetamento de abscessos, ligadura de artérias e veias, entre outros. Quem realizava estas funções era o cirurgião-barbeiro, considerado inferior aos físicos na escala médica, devido ao caráter sangrento de sua arte. Até 1808, a maioria destes homens não possuía formação teórica, aprendendo sua arte com profissionais mais antigos ou nos campos de batalha46. Para a realização de uma cirurgia existiam poucos pré-requisitos. Operava-se em qualquer lugar, na casa do doente, nos campos de batalha e nos hospitais, onde não existiam salas a apropriadas para tal fim. O paciente era seguro e amarrado por seus familiares ou por ajudantes do cirurgião, para que seus espasmos de dor não afetassem a cirurgia, uma vez que se operava sem anestesia e o paciente só se acalmava quando desmaiava pela dor. Devido à falta de assepsia e a péssima formação dos profissionais, que muitas vezes realizavam cirurgias malfeitas, ocorriam diversas infecções no paciente, que dependia para a sua cicatrização muito mais na sua boa saúde, ou sorte, do que dos serviços prestados47. 44 Idem. http://www.historiacolonial.arquivonacional.gov.br 46 SANTOS FILHO, 1977. 47 Idem. 45 26 Além destes terapeutas, existiam, na falta de médicos formados, muitos outros que realizavam diversas funções. Eram eles: boticários, curandeiros, rezadores e padres 48. Estes não realizavam intervenções cirúrgicas como os cirurgiões e os sangradores, utilizando para sua arte alguns remédios fabricados e ervas nativas, além de um pouco de superstições e orações, sendo isto menos comum aos boticários49. A função da obstetrícia era quase sempre realizada por parteiras, mulheres que possuíam alguma experiência em partos e que auxiliavam as mães no momento do nascimento. Sua aceitação dentro da sociedade era grande, até mesmo entre as senhoras mais ricas, que davam preferência a elas do que aos físicos ou cirurgiões, que só partejavam em raríssimas situações. Seu auxílio na hora do parto não se resumia apenas em acalmar a parturiente, mas também dizer orações, proferir palavras misteriosas, além de empurrar o útero para ajudar no nascimento. Realizado este, a parteira ainda ficava na casa por mais algum tempo, acompanhando a dieta da mãe e cuidando do recém-nascido, além de escolher a ama-de-leite50. Mudanças Institucionais Como se viu anteriormente, ainda que gozassem de grande aceitação popular, os terapeutas sem formação muitas vezes praticavam sua arte sem nenhuma fiscalização, e sem perícia, levando muitos pacientes à morte. Dom João realizou duas medidas extremamente importantes que intervieram nesse contexto. A primeira foi a criação de faculdades de medicina, de modo a suprir no Brasil a carência de médicos formados e praticantes da medicina oficial51. Além do mais, a criação destas faculdades se fazia necessária, também, para a formação dos fidalgos portugueses, uma vez que a faculdade de Coimbra, responsável por essa formação, estava sob o domínio napoleônico. No entanto, ainda que não fosse a idéia central no momento da criação das faculdades, o aumento no número de médicos equilibraria o contingente de praticantes da medicina oficial com os de 48 PIMENTA, 2003. SAMPAIO, Gabriela dos Reis, Nas Trincheiras da Cura, Campinas, SP, Editora da Unicamp, 2001. 50 FILHO, 1977. 51 LIMA, 2006. 49 27 terapeutas populares. Desse modo, conseguiriam uma maior aceitação por parte da população, estes doutores, que muitas vezes eram preteridos em relação aos terapeutas. Se tal repulsa ainda era grande no final do século XIX, quando já existia um número maior de médicos, é de se concluir que no início do século ela era enorme52. A outra frente de ação visava acabar com a facilidade de exercer práticas terapêuticas sem nenhuma fiscalização, o que levou a criação da Fisicatura e sua intensa fiscalização. Tal órgão se assemelhava quanto às suas funções à antiga Junta do ProtoMedicato, tendo como atribuições principais zelar pela higiene e saúde da população, conceder cartas de aprovação para aqueles que estivessem aptos a exercer as práticas terapêuticas, bem como fiscalizá-los e cassar aqueles que não tinham tais permissões53. A partir de 1808, só poderiam exercer artes de cura, segundo Pimenta, aqueles que prestassem exames junto a uma banca de médicos, provando que aprenderam, na prática, a sua arte. Caso fossem considerados aptos comprariam uma carta de permissão e retornariam anualmente para um novo exame. Diversos são os documentos que mostram esse processo, desde o pedido para fazer o exame, até a aprovação ou não da junta. Um desses documentos é o pedido de exame de Mauricio José de Jesus: “Ano do Nascimento de Nosso senhor Jesus Cristo de mil oitocentos e doze, aos vinte e quatro dias do mês de janeiro do dito ano, neste arraial do Tejuco. Diz Mauricio José de Jesus natural de Portugal, hoje morador deste arraial do Tejuco, que tem praticado a arte de sangrador, como mostra a certidão junta e quer habilitar-se para fazer exame na forma da lei”54. Após este pedido, o requerente era testado e caso fosse considerado apto receberia a carta de concessão, conforme ocorrera com o negro Vicente: 52 SAMPAIO, 2001. PIMENTA, 2003. 54 Autuação de uma petição para exame de Sangria, 1812, Biblioteca Nacional, Fundo Casa dos Contos. 53 28 "Registro da carta de sangria e dentista de Vicente, Preto de Nação Angola. O doutor José Corrêa Picanço V.S. ª faço saber a todos os provedores que eu por esta carta de confirmação dou licença a Vicente, preto de nação Angola, escravo de Anacleto José Coelho, morador desta corte do Rio de Janeiro, para que possa sangrar, sarjar, lançar ventosas e sanguessugas e tirar dentes. Foi examinado em minha presença, pelos examinadores Domingos Ribeiro dos Guimarães Peixoto e Antônio Américo d' Azevedo, cirurgiões aprovados e o primeiro da Real Câmara, os quais deram por aprovado (...) debaixo de juramento que haviam recebido V.S.ª Passou-se conta aos vinte e dois de Agosto de mil oitocentos e vinte, e vai subscrita por Luís Bandeira de Gouveia Escrivão Secretário do Cirurgião Mor do Reino (...) pagou mil e seis contos de réis do selo. Rio dois de Setembro de mil oitocentos e vinte, Medeiros , o Conselheiro José Corrêa Picanço55." Como se pode ver nesta carta, estão presentes diversos elementos que ilustram a organização da Fisicatura. Em primeiro lugar, a autorização de uma prática terapêutica, que está muito bem delimitada na carta, uma vez que o requerente prestou exames e provou que sabia exercer as práticas determinadas e por ele requeridas. Em segundo lugar, a própria questão do exame, uma vez que este escravo foi analisado por diversos médicos e cirurgiões, alguns até ilustres, tendo por fim obtido seu parecer pelas mãos do próprio Físico-mor, que era a autoridade competente para a realização desta tarefa. Em terceiro lugar, existe a questão do pagamento para a obtenção da carta, cujo valor está citado no texto. Provavelmente nem todos poderiam arcar com essa despesa e continuariam na ilegalidade. Por último, está a própria prática terapêutica a ser realizada pelo escravo, a arte da sangria, que como dito anteriormente era praticada por escravos ou ex-escravos. 55 http://www.historiacolonial.arquivonacional.gov.br/Media/Vicente.pdf 29 Conclusão Como se viu no decorrer deste trabalho, está claro que a vinda da família real trouxe diversas mudanças para o Brasil e mais especialmente para o Rio de Janeiro, a nova capital do império lusitano. Essas mudanças não ficaram restritas ao plano econômico ou político, mas passaram também pelos âmbitos sociais, culturais e urbanos. Como se viu, a configuração do Rio de Janeiro chocava os nobres acostumados com os requintes e sofisticações da vida européia, o que não encontraram ao chegar aqui. Assim sendo, um dos principais eixos políticos do novo governo foi transformar a urbe carioca, de uma vila com características africanas para uma cidade européia, ou conforme chamou Oliveira Lima, na Versailles tropical. Dessa forma, esta transformação passou pela reforma urbana e sanitária do Rio de Janeiro, com o objetivo de modernizá-lo, permitir sua ocupação, como também acabar com os focos das doenças, que eram um entrave à colonização. Deste modo, pântanos e mangues foram aterrados, morros destruídos e novas valas foram construídas, de modo a permitir o escoamento das águas, mas sendo mais utilizadas para dar escoamento aos dejetos humanos, que abundavam na cidade e provocavam mau cheiro, e também eram criadouros de doenças. Ironicamente esta política seria considerada ecologicamente incorreta atualmente, uma vez que os mangues são lugares utilizados como berçário para diversas espécies de animais e as valas são alguns dos retratos mais emblemáticos de regiões subdesenvolvidas. No entanto, no período joanino eram medidas consideradas de extrema importância e possuíam respaldo cientifico. Estas mudanças também se fizeram necessárias para aqueles que tratavam destas doenças e que, por falta de perícia, acabavam levando diversos pacientes à morte. Assim sendo, o rei criou órgãos que buscavam formar profissionais melhor qualificados, como também regular e fiscalizar aqueles que já existiam. Estas reformas, assim como as outras anteriormente citadas, não ficaram restritas ao período joanino, tendo deixado suas marcas e conseqüências na sociedade carioca e brasileira por muitos anos seguidos. 30 Fontes Textuais Autuação de uma petição para exame de Sangria, 1812, Biblioteca Nacional, Fundo Casa dos Contos. Carta relativa à vala do Catete, 1816, Arquivo geral da Cidade do Rio de Janeiro. Estatuto da Medicina, Biblioteca Nacional, Fundo Casa dos Contos. SILVA, João Manuel, “Regime das Águas”, 1811, Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro. O Patriota, 1813. 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