Pós-Graduação em Língua Portuguesa – 1/2011
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Semanticistas têm diferentes visões do que
seja o significado e de como se constrói a
significação.
Semântica textual, cognitiva, lexical,
argumentativa, discursiva...
Nosso foco: semântica formal, da enunciação
e cognitiva.
A semântica do Garfield.
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Relação entre as expressões linguísticas e o
mundo.
Propriedade central das línguas – “ser sobre
algo” – referencialidade.
Condições de verdade.
“Há uma flor em minha casa que...”
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“Se não conhecemos as condições em que
uma sentença é verdadeira, não conhecemos
seu significado”.
Descrição de todas as situações em que tal
sentença é verdadeira.
Relevância: o estudo do processo a partir do
qual chegamos ao significado.
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Derivamos significados porque cada parte da
sentença contribui de forma sistemática
para a construção de um significado.
Podemos analisar as línguas naturais
composicionalmente (exemplo da linguagem
das abelhas).
A língua pode ser recomposta infinitas vezes,
criando infinitas possibilidades significativas.
Um sujeito com um predicado:
São Paulo é poluída – descrevemos que o
indivíduo sobre o qual o sujeito fala pertence ao
conjunto das entidades sobre as quais o
predicado fala.
Maria gosta de falar com Joana.
Inés perdeu o equilíbrio novamente.
“Sete Quedas por nós passaram/ e não soubemos
amá-las” (Carlos Drummond de Andrade).
S
{cidades poluídas}
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Denotação de sentenças coordenadas:
São Paulo é poluída e perigosa = São Paulo é
poluída e São Paulo é perigosa.
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Cidades perigosas
São
Paulo
Cidades poluídas
Condição de verdade = soma das duas situações
introduzidas pelas orações coordenadas.
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João matou o bandido.
O bandido matou João.
Sem atenção à estrutura sentencial, não
haveria como diferenciá-las.
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- Expressões nominais que representam um
indivíduo no mundo: nomes próprios,
descrições definidas (“o maior rio do mundo”),
pronomes pessoais (eu, vocês, mim) – atribuem
propriedade ao indivíduo denotado.
O maior escritor brasileiro é inteligente.
Indivíduo denotado por 1 {indivíduos
inteligentes}.
A quarta sinfonia de Beethoven é eterna.
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Nada é eterno.
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Nada não denota conjunto vazio.
O conjunto vazio está presente em todos os conjuntos e não
impede que a presença de outros.
Eterno não pode ser atribuído a nenhuma entidade
O conjunto das coisas eternas é vazio.
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Nenhum escritor brasileiro é bonito
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Existe uma não-relação.
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Noção de referência que vai além do falar sobre indivíduos.
“Sigo perseguindo sonhos que me escapam
como borboletas”
Condição de verdade:
1)Eu tenho sonhos.
2) Eu persegui sonhos.
3) Eu persigo sonhos.
4) (????)Eu persegui vários sonhos.
5) Os sonhos me escapam.
6) Um sonho já me escapou.
7) (????)Vários sonhos já me escaparam
8) (????)Sou iludida
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1)O organizador do livro “Introdução à Linguística
I” é José Luiz Fiorin.
2)O indivíduo que organizou o livro “Introdução à
Linguística I” é o indivíduo nomeado pela
expressão “José Luiz Fiorin”.
3)José Luiz Fiorin é José Luiz Fiorin.
- 2 explicita o significado de 1 e 3 teria de ser
sinônima de 1. Mas não é assim...
- 1 é informativa, precisa ser verificada no mundo.
- 3 é verificável a priori (é óbvia).
- Qual é o problema?
Não podemos pensar só em que objeto a
expressão faz referência no mundo, temos
que acrescentar o sentido (Frege).
1)O organizador do livro “Introdução à
Linguística I” é José Luiz Fiorin – mesma
referência, sentidos diferentes.
3)José Luiz Fiorin é José Luiz Fiorin – mesma
referência e mesmo sentido.
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1)Electra ama seu irmão.
2)Orestes é irmão de Electra.
3)Electra ama Orestes.
1)Electra não sabe que o homem na frente dela é seu irmão.
2) Electra sabe que Orestes é seu irmão.
3) O homem na frente de Electra é Orestes.
4) Electra sabe e não sabe que o homem na frente dela é Orestes
(?????)
Verbos como saber, acreditar, sonhar, imaginar, etc.
criam contextos em que a substituição por uma
expressão com a mesma referência não é possível.
Contextos opacos ou intensionais.
- Electra não sabe que o “homem na frente dela” é um modo de
representação de seu irmão.
- Maria é o funcionário mais eficiente deste setor.
- Maria é a funcionária mais eficiente deste setor.
Imagine o seguinte resultado eleitoral:
Célia – 2512 votos
Hildo – 1877 votos
José Bolinha -721
Qual a diferença entre dizer que
Célia foi o vereador mais votado e
Célia foi a vereadora mais votada.
Alface é hipônimo de vegetal.
Televisão é hipônimo de meio de comunicação.
(o sentido de um contido no sentido do outro)
Noção de hiponímia extendida para
sentenças:
1)Suzana continua a amar seu primeiro
namorado.
2)Suzana amava seu primeiro namorado.
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2 está contida em 1.
2 é hipônima de 1.
1 acarreta 2.
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A relação de hiponímia pode ser estabelecida
entre sentidos.
A relação de acarretamento só pode ocorrer
entre referências.
“Uma sentença acarreta outra sentença se a
verdade da primeira garante a verdade da
segunda e a falsidade da segunda garante,
necessariamente, a falsidade da primeira”.
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Determina nossos padrões de inferência.
Sabine é professora.
Sabine é carioca.
Sabine é uma professora carioca.
Tico é um pardal.
Tico é um ser vivo.
Se Tico não for um ser vivo, não é um pardal.
O office boy pagou a conta. Há uma conta. Se não
há conta, o office boy não a pagou.
Pré-suposição.
 Pano de fundo de uma asserção.
 Parte do conhecimento partilhado pelo falante
e pelo ouvinte.
- Maria parou de fumar.
Implica para o ouvinte e o falante que
- Maria fumava.
Mesmo que a neguemos, ela segue verdadeira
Maria não parou de fumar.
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a) A Maria parou de fumar.
b) A Maria parou de fumar? (não acarreta,
rompe a preservação da verdade).
c) A Maria não parou de fumar.
d) Eu lamento que a Maria tenha parado de
fumar.
e) Se a Maria parou de fumar, então sua saúde
deve ter melhorado.
2.Para cada par de sentenças, diga se a sentença (a)
acarreta a sentença (b) e justifique suas respostas.
1. a. Os estudantes não vão à festa.
b. Todo estudante vai à festa.
2. a.João é solteiro.
b. João nunca se casou.
3. a.Nós acabamos de comprar um cachorro
b. Nós acabamos de comprar alguma coisa.
4. a Seu discurso me confundiu.
b.Seu discurso me confundiu profundamente.
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O Pedro parou de bater na mulher.
Mas o Pedro nunca bateu na mulher!
Fazer pressuposições e negá-las são
maneiras de construir o discurso.
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Adolfo e Berenice foram amantes quase a vida
inteira. Fazia mais de trinta anos que estavam
amigados. Estão os dois de noite assistindo
televisão quando em uma cena de novela
aparece uma cerimônia de casamento: noiva,
padrinho, marcha nupcial, etc. Emocionada, ela
olha para Adolfo e diz:
Olha, meu amor! Que coisa linda é o
casamento...Puxa vida, bem que a gente podia
se casar, né?
Xiii...nestas alturas da vida, quem é que vai
querer a gente?
Todos nós sabemos que o poeta Olavo Bilac
é, na literatura brasileira, um dos principais
representantes do movimento literário do
Parnasianismo, que se apresentou, entre
outros aspectos do seu ideário, como uma
reação ao romantismo. Suponha que, num
concurso público foi proposta a seguinte
questão dissertativa.
Por que Olavo Bilac é romântico?
“Não se deixe explorar pela concorrência!
Compre na nossa loja!”
- Por que essa propaganda é potencialmente
prejudicial ao comerciante que a utiliza?
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Maria parou de fumar.