ANO XXV • Nº 184 • MAIO/2010 Terminalidade da vida Cuidados paliativos trazem conforto e segurança Familiares, especialistas e médicos relatam o impacto positivo dessa opção terapêutica na rotina das unidades de saúde. Págs. 6 e 7 Fórum discute a carreira de Estado para o médico. Pág. 3 Jovem médico Recadastramento Integração Recém-formados estão entre prioridades do CFM Novo prazo vence em 11 de novembro No Acre, conselhos lutam contra TACs Pág. 9 Pág. 10 Pág. 11 EDITORIAL 2 Atentos às conquistas e reivindicações "/0997r/r."*0 Terminalidade da vida Cuidados paliativos trazem conforto e segurança Familiares, especialistas e médicos relatam o impacto positivo dessa opção terapêutica na rotina das unidades de saúde. Págs. 6 e 7 Fórum discute a carreira de Estado para o médico. Pág. 3 Jovem médico Recadastramento Integração Recém-formados estão entre prioridades do CFM Novo prazo vence em 11 de novembro No Acre, conselhos lutam contra TACs Pág. 9 Pág. 10 Pág. 11 “ Das áreas da pesquisa e do Judiciário vieram visões que validam a ideia de criação da carreira de Estado para o médico A atenção dos médicos brasileiros direciona-se para o fim de julho, quando, em Brasília, representantes de todos os estados participarão do XII Encontro Nacional das Entidades Médicas (Enem), evento que assume relevância no atual momento do país. Com um acréscimo valioso: suas conclusões comporão documento a ser entregue aos candidatos às próximas eleições presidenciais. Assim procedendo, os médicos alavancam o debate sobre o futuro da medicina brasileira e contribuem, efetivamente, com propostas para o fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS). Temos percebido com entusiasmo o crescente interesse manifestado entre os profissionais quanto à relevância da ação política articulada pela categoria. Nesta edição do jornal Medicina contribuímos com o processo ao qualificarmos ainda mais o debate que desaguará no XII Enem. Procuramos ouvir novas vozes e mostrar como outros setores da sociedade avaliam a proposta de tema que tem status prioritário na agenda do Conselho Federal de Medicina (CFM). Das áreas da pesquisa e do Judiciário vieram visões que validam a ideia de criação da carreira de Estado para o médico, a qual, se implementada, aliviará a pressão reinante no campo assistencial. Os comentários favoráveis a respeito do tema – que admitimos ser portador de polêmica natural – mostram que, nesta luta, os médicos não estão sós. Nas outras páginas não tratamos apenas de reivindicações que afetam o trabalho nos consultórios e hospitais. Dedicamos importante espaço também às conquistas implementadas a partir do novo Código de Ética Médica, em vigor desde 13 de abril. Um dos tópicos que elevam o novo escopo à posição de vanguarda – o uso dos cuidados paliativos – é mostrado a partir das experiências de médicos, familiares e pacientes de hospitais que empregam essa abordagem. Os depoimentos traduzem o sentimento de segurança que, agora, grassa entre os médicos. O tema sensível – bem enquadrado pelo atual normativo ético – confirma o posicionamento moderno e oportuno adotado pela medicina brasileira ante a defesa da dignidade humana. O médico ganha, portanto, suporte para cumprir seu papel de “agente libertador”, como relatou um de nossos entrevistados, sem a pressão de contrapor-se à doença, imposta pela formação tradicional. Apesar dos avanços alcançados, contudo, é bom lembrar que o Código não encerra definitivamente essa polêmica. No Congresso Nacional, tramitam projetos de lei que tratam dos direitos da pessoa em fase terminal de doença, a exemplo do que ocorreu no Estado de São Paulo, que aprovou em 1999 a Lei 10.241, que trata do assunto. Esta lei, promulgada pelo então governador Mario Covas, dispõe sobre os direitos dos usuários dos serviços de saúde. Entre eles, consta o de consentir ou recusar, de forma livre, voluntária e esclarecida, com adequada informação, procedimentos diagnósticos ou terapêuticos a serem realizados. E até optar pelo local de morte. Como habitualmente tem feito no terreno político, o CFM monitorará a evolução das propostas no Congresso para aperfeiçoálas e defendê-las. Como neste e em outros temas, a entidade se mantém atenta às conquistas e reivindicações que configuram o universo do movimento médico e apontam para o caminho da valorização do profissional e da medicina. “ Desiré Carlos Callegari Diretor executivo do jornal Medicina Cartas* Comentários podem ser enviados para [email protected] Informamos a criação da rede social batizada por Campanha Nacional pela Valorização Médica. O movimento está hospedado no site http://doutor.ning.com/. Pretendemos, a partir dessa iniciativa, reunir o maior número de profissionais da área médica para propor reivindicações e elaborar ações necessárias. Convido os interessados a visitarem o site, partilhando suas opiniões e reflexões e convidando outros colegas a comporem a comunidade. Ansiamos pelo apoio das sociedades representativas de classe. Cumprimentamos o presidente do CFM, Roberto Luiz d’Avila, pelo artigo publicado no jornal O Globo, em 23/4/2010, sob o título: “Falta ação política na saúde”. Nele, são expostos de forma didática alguns dos problemas básicos da saúde no país. A ação política para enfrentá-los só terá lugar com o envolvimento nesta luta não apenas das lideranças tradicionais, mas de parcela significativa dos médicos brasileiros, que têm permanecido à margem das questões organizacionais da profissão. Com relação à reportagem “Programa Saúde da Família – Defendida coordenação médica” (edição 182), acrescentamos que, na nossa visão, essa responsabilidade deve ser dos médicos também nas unidades básicas de saúde, nos prontos-socorros e nas clínicas de atendimento especializado – porque esse profissional sempre é o responsável técnico, sendo, então, por obrigatoriedade, o coordenador. Um exemplo disso acontece nas Forças Armadas brasileiras. Leandro Nunes Azevedo CRM-ES 7898 [email protected] Marcio Meirelles CRM-RJ 105.851 [email protected] Douglas Alberto Ferraz de Campos Filho CRM-SP 54.545 [email protected] * Por questão de espaço, as mensagens poderão ser editadas sem prejuízo de seu conteúdo MEDICINA CONSELHO FEDERAL - Dez./2009 Publicação oficial do Conselho Federal de Medicina SGAS 915, Lote 72, Brasília-DF, CEP 70 390-150 Telefone: (61) 3445 5900 • Fax: (61) 3346 0231 http://www.portalmedico.org.br • e-mail: jor[email protected] Diretoria Presidente: 1º vice-presidente: 2º vice-presidente: 3º vice-presidente: Secretário-geral: 1º secretário: 2º secretário: Tesoureiro: 2º tesoureiro: Corregedor: Vice-corregedor: Roberto Luiz d’ Avila Carlos Vital Tavares Corrêa Lima Aloísio Tibiriçá Miranda Emmanuel Fortes Silveira Cavalcanti Henrique Batista e Silva Desiré Carlos Callegari Gerson Zafalon Martins José Hiran da Silva Gallo Frederico Henrique de Melo José Fernando Maia Vinagre José Albertino Souza Conselheiros titulares Abdon José Murad Neto (Maranhão), Aloísio Tibiriçá Miranda (Rio de Janeiro), Antônio Gonçalves Pinheiro (Pará), Cacilda Pedrosa de Oliveira (Goiás), Carlos Vital Tavares Corrêa Lima (Pernambuco), Celso Murad (Espírito Santo), Cláudio Balduíno Souto Franzen (Rio Grande do Sul), Dalvélio de Paiva Madruga (Paraíba), Desiré Carlos Callegari (São Paulo), Edevard José de Araújo (AMB), Emmanuel Fortes Silveira Cavalcanti (Alagoas), Frederico Henrique de Melo (Tocantins), Gerson Zafalon Martins (Paraná), Henrique Batista e Silva (Sergipe), Hermann Alexandre Vivacqua Von Tiesenhausen (Minas Gerais), Jecé Freitas Brandão (Bahia), José Albertino Souza (Ceará), José Antonio Ribeiro Filho (Distrito Federal), José Fernando Maia Vinagre (Mato Grosso), José Hiran da Silva Gallo (Rondônia), Júlio Rufino Torres (Amazonas), Luiz Nódgi Nogueira Filho (Piauí), Maria das Graças Creão Salgado (Amapá), Mauro Luiz de Britto Ribeiro (Mato Grosso do Sul), Paulo Ernesto Coelho de Oliveira (Roraima), Renato Moreira Fonseca (Acre), Roberto Luiz d’ Avila (Santa Catarina), Rubens dos Santos Silva (Rio Grande do Norte) Conselheiros suplentes Ademar Carlos Augusto (Amazonas), Aldemir Humberto Soares (AMB), Alberto Carvalho de Almeida (Mato Grosso), Alceu José Peixoto Pimentel (Alagoas), Aldair Novato Silva (Goiás), Alexandre de Menezes Rodrigues (Minas Gerais), Ana Maria Vieira Rizzo (Mato Grosso do Sul), André Longo Araújo de Melo (Pernambuco), Antônio Celso Koehler Ayub (Rio Grande do Sul), Antônio de Pádua Silva Sousa (Maranhão), Ceuci de Lima Xavier Nunes (Bahia), Dílson Ferreira da Silva (Amapá), Elias Fernando Miziara (Distrito Federal), Glória Tereza Lima Barreto Lopes (Sergipe), Jailson Luiz Tótola (Espírito Santo), Jeancarlo Fernandes Cavalcante (Rio Grande do Norte), Lisete Rosa e Silva Benzoni (Paraná), Lúcio Flávio Gonzaga Silva (Ceará), Luiz Carlos Beyruth Borges (Acre), Makhoul Moussallem (Rio de Janeiro), Manuel Lopes Lamego (Rondônia), Marta Rinaldi Muller (Santa Catarina), Mauro Shosuka Asato (Roraima), Norberto José da Silva Neto (Paraíba), Pedro Eduardo Nader Ferreira (Tocantins), Renato Françoso Filho (São Paulo), Waldir Araújo Cardoso (Pará), Wilton Mendes da Silva (Piauí) Conselho editorial Abdon José Murad Neto, Aloísio Tibiriçá Miranda, Cacilda Pedrosa de Oliveira, Desiré Carlos Callegari, Henrique Batista e Silva, Mauro Luiz de Britto Ribeiro, Paulo Ernesto Coelho de Oliveira, Roberto Luiz d’ Avila Diretor-executivo: Editor: Editora-adjunta: Redação: Copidesque e revisor: Secretária: Apoio: Fotos: Impressão: Desiré Carlos Callegari Paulo Henrique de Souza Vevila Junqueira Ana Isabel de Aquino Corrêa, Thiago de Sousa Brandão, Nathália Siqueira (colaboradora) Napoleão Marcos de Aquino Rônia Rodrigues Fernandes Amilton Itacaramby Márcio Arruda - MTb 530/04/58/DF Gráfica e Editora Posigraf S.A. Projeto gráfico Grupo 108 de Comunicação e diagramação: (Jailson Belfort) Tiragem desta edição: 335.000 exemplares Jornalista responsável: Paulo Henrique de Souza RP GO-0008609 Mudanças de endereço devem ser comunicadas diretamente ao CFM Os artigos assinados são de inteira responsabilidade dos autores, não represen tando, necessariamente, a opinião do CFM Os artigos enviados ao conselho editorial para avaliação devem ter, em média, 4.100 caracteres 3 Política e saúde ÉTICAEMÉDICA PLENÁRIO COMISSÕES Carreira de Estado do médico Entidades discutem modelo Em fórum organizado pelo CFM, em Brasília, será ampliado o debate que ajudará a definir detalhes da proposta A à implementação da proposta, acontece, em 8 de junho, um encontro com representantes de vários setores da sociedade. Nomes importantes do Judiciário, do Ministério Público, da Câmara e do Senado já confirmaram presença no I Fórum sobre Carreira de Estado para Médicos. Das discussões, podem Foto: Radilson Carlos Gomes /Min. da Saude criação de uma carreira de Estado para o médico se tornou uma bandeira prioritária para o Conselho Federal de Medicina (CFM) e as outras entidades médicas nacionais – Associação Médica Brasileira (AMB) e Federação Nacional dos Médicos (Fenam). Para avançar solidamente no debate que deverá levar Falta de estrutura: proposta quer garantir ao médico condições de exercer a profissão em áreas distantes ou de difícil provimento sair sugestões que ajudarão a delinear de forma mais clara aspectos importantes para a proposta, como a forma de acesso, os critérios de seleção, as modalidades de progressão, entre outros. No entanto, um consenso já existe: a criação da carreira de Estado para o médico dá golpe único em dois problemas graves que afligem o funcionamento do Sistema Único de Saúde (SUS). Primeiramente, contribui para a oferta de uma assistência de qualidade à população ao assegurar a presença do médico em áreas de difícil provimento, vinculado a uma estrutura que permite o exercício da boa medicina. Secundariamente,além de ampliar e qualificar a atenção, especialmente a realizada nos postos de saúde, a carreira ajuda no processo de valorização do trabalho médico – porque assegura remuneração digna e benefícios que fazem a diferença ao longo do tempo, como programas de formação médica continuada. De acordo com o 2º vice-presidente do CFM e coordenador da Comissão Nacional Pró-SUS, Aloí- Especialistas dão apoio à ideia Para representantes de outros setores da sociedade, a carreira de Estado para o médico não é sonho, mas um instrumento para que direitos legais sejam cumpridos em sua plenitude. Exemplo lapidar é dado pelo ministro aposentado do Superior Tribunal de Justiça (STJ), José Augusto Delgado. Segundo ele, a Constituição garante a saúde como um direito de todos e dever do Estado, sendo que o médico é parte indispensável neste processo. “O médico é o responsável pela guarda da saúde. A categoria tem que ser levada ao mesmo nível das carreiras de Estado”, defende Delgado, para quem devem ser garanti- das carreiras específicas para as atividades essenciais ao funcionamento do Estado. Mas ele alerta para a importância da mobilização coordenada pelas entidades médicas como forma de ver atendido este pleito. “O Estado respeita o profissional do Direito porque precisa dele em sua estrutura. O médico virou problema da sociedade”. O apoio não vem apenas do meio jurídico. O pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Roberto Passos, lembra que o Programa Saúde da Família (PSF) incentiva a interiorização da medicina, mas não supre as necessidades do profissional. “Além do finan- ceiro, faz-se necessário um mecanismo de fixação por meio de uma progressão de carreira”, ressalta. O pesquisador enaltece que a ideia da carreira consolida-se gradativamente. E ressalta que no PSF os médicos recebem altos salários, até mesmo maiores que os dos prefeitos da cidade, entretanto “não dá nenhuma garantia de continuidade”, e completa: “como qualquer outro indivíduo, o médico está onde existem melhores possibilidades econômicas e sociais. Esta carreira tem que ser muito bem pensada, para não só priorizar o financeiro. É necessário um incentivo de progressão, assim como o do juiz”. MEDICINA CONSELHO jornal MEDICINA - FEDERAL MAI/2010 - Jan./2010 jornal MEDICINA - MAI/2010 sio Tibiriçá Miranda, com essa proposta fica assegurada a infraestrutura de trabalho (instalações e equipamentos) e uma rede integrada, capaz de absorver os casos de maior gravidade. O presidente do CFM, Roberto d’Avila, defende a ideia, sem a qual vê o comprometimento dos avanços assistenciais e de qualidade de vida surgidos na esteira do SUS. “Sem essas ga- rantias mínimas, o médico sempre terá dificuldades de criar raízes, exercer com tranquilidade sua profissão e, assim, contribuir para o desenvolvimento humano de uma comunidade. O que assistimos é um fluxo irregular. Mesmo aqueles que assumem o desafio de ir para o interior muitas vezes desistem mal dados os primeiros passos. Juntos, precisamos mudar essa realidade”. Proposta está no Congresso e no Ministério da Saúde A proposta de criação da carreira de Estado para o médico corre em duas frentes. No Congresso deu entrada por meio da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 454/09, apresentada pelos deputados Eleuses Paiva (DEM-SP) e Ronaldo Caiado (DEM-GO). A PEC contou com o apoio de 179 parlamentares para iniciar sua tramitação. Até o fim de maio, encontravase na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara e tem como relator o deputado Colbert Martins (PMDB-BA). O projeto estabelece normas para a carreira de médico de Estado. A atividade só poderia ser exercida por ocupantes de cargos efetivos, contratados por concurso público. Também estão entre as diretrizes da PEC, entre outros pontos, a ascensão funcional basea-da, alternadamente, em critérios de merecimento e antiguidade; o exercí- cio do cargo em regime de dedicação exclusiva, com autorização para ocupar outro cargo ou função apenas no magistério; a proibição de receber honorários ou qualquer outro tipo de remuneração de pessoas físicas ou jurídicas, públicas ou privadas, ressalvadas as exceções previstas em lei. As discussões também chegaram ao Ministério da Saúde. Em audiência no dia 17 de março, o ministro José Gomes Temporão se comprometeu com as entidades médicas em incluílas em grupo de trabalho previsto para ser criado em maio, no âmbito do governo, especialmente para cuidar da proposta da carreira médica no Sistema Único de Saúde (SUS). A reunião integrou uma estratégia de apresentar a pauta dos médicos aos gestores, buscando garantir melhoras efetivas nas condições de trabalho e de assistência oferecidas. Compromisso: Temporão assumiu o compromisso de incluir entidades em GT do Ministério Política e Saúde Encontro Nacional das Entidades Médicas (Enem) Sul e Sudeste definem propostas para o Enem Foto: Osmar Bustos/Cremesp Pauta política: no Pré-Enem Sul/Sudeste, participantes destacaram a importância do debate no momento em que se forma o cenário eleitoral no país A defesa do trabalho médico no Sistema Único de Saúde (SUS) e na saúde suplementar; a avaliação progressiva dos estudantes de medicina por instituição externa; a reafirmação do compromisso com o SUS e seu adequado financiamento e gestão; e maior aproximação com os movimentos sociais. Essas são algumas das mais de 100 propostas que os participantes do Pré-Enem Sul/Sudeste levarão ao XII Encontro Nacional das Entidades Médicas (XII Enem). As conclusões foram obtidas após dois dias intensos de reuniões realizadas em São Paulo, entre 14 e 15 de maio. O ingrediente político esteve presente em todas as mesas do Pré-Enem Sul/ Sudeste. Logo na abertura, o presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado de São (Cremesp), Luiz Alberto Bacheschi, ressaltou as possibilidades que o cenário eleitoral traz para permitir apoio político às reivindicações dos médicos. Como resultado do XII Enem, está prevista a elaboração de uma Carta dos Médicos aos candidatos às eleições de outubro de 2010. No XII Enem, um dos temas-chave deverá ser os desdobramentos da proposta de criação da carreira de Estado para o médico, apoiada pelo CFM e entidades médicas. O 1º secretário do CFM, Desiré Callegari, ressaltou dados da má distribuição de médicos no país, que leva ao aparecimento de vazios assistenciais. “A concentração de médicos nos grandes centros urbanos é decorrente da falta de políticas públicas que reconheçam a importância do médico em todo o país”, defendeu, ao esclarecer que os números levantados pelo CFM confirmam a importância de se encontrar uma solução definitiva para a interiorização da medicina. Ensino – Mas os debates não se limitaram às políticas de trabalho para os médicos já formados. Falou-se muito também sobre o ensino médico no Brasil. Um dos expositores – o diretor científico da AMB, Edmund Chad Baracat – lembrou a falta de controle nesta área e relatou que das 181 escolas médicas existentes, dois terços não têm autorização do MEC para funcionar. “O número de escolas médicas abertas no Brasil é um escândalo em qualquer lugar. Não há hospitais de ensino para treinamento, o que inviabiliza que esses alunos tenham aprendizado satisfatório”, afirmou Adib Jatene, ex-ministro da Saúde e presidente da Comis- são de Avaliação das Escolas da Secretaria de Educação Superior do Ministério da Educação, preocupado com a situação. Outro ponto importante dos debates foi a percepção de que as preo-cupações da categoria médica não são corporativistas ou isoladas do restante da sociedade. Para os participantes do Pré-Enem Sul/Sudeste, é necessário divulgar esta pauta como forma de conquistar apoio para as lutas que beneficiarão a todos que precisam ou trabalham com a assistência em saúde. “Não podemos ter vergonha ou medo de dizer quanto ganhamos no SUS e na saúde suplementar”, defendeu o vicepresidente do Cremesp, Renato Azevedo Júnior. Próxima parada: Belém O último dos três encontros preliminares previstos – o Pré-Enem Norte/Centro-Oeste – acontece nos dias 4 e 5 de junho, em Belém (PA). Antes dele, já foram realizados os do Sul-Sudeste e Nordeste, em Natal (RN), nos dias 25 e 26 de março. O XII Encontro Nacional das Entidades Médicas (XII Enem) será realizado de 27 a 30 de julho, na sede da Associação Médica de Brasília. Participam 450 delegados – 150 da área associativa, 150 dos conselhos de medicina e 150 dos sindicatos médicos. Financiamento Honorários médicos Judicialização em debate Projeto que prevê reajuste deve ser votado A regulamentação da Emenda Constitucional 29 – que fixa os percentuais mínimos a serem investidos anualmente em Saúde pela União, estados e municípios – foi tema de mais uma audiência no Congresso Nacional, em maio. Na oportunidade, profissionais ligados ao direito à saúde apresentaram uma série de sugestões para desafogar a Justiça brasileira das cerca de 50 mil ações que obrigam a União, os estados e os municípios a fornecer tratamentos, leitos e medicamentos não contem- plados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Entre as propostas está a criação de câmaras de conciliação integradas por representantes do Executivo, do Ministério Público, do Judiciário e da Defensoria Pública, que tentariam resolver as demandas da população pela via administrativa. O motivo é evitar a corrida ao Judiciário. Foi também sugerida a criação de câmaras técnicas formadas por profissionais de saúde, para auxiliar os juízes nas sentenças contra o SUS. O deputado Vital do Rêgo Filho (PMDB-PB), relator do Projeto de Lei 6.964/10 na Comissão de Defesa do Consumidor (CDC) da Câmara dos Deputados, afirma que seu relatório sobre a proposta será submetido a votação antes do recesso legislativo do meio do ano. “O relatório está pronto e sintonizado com o entendimento da classe médica”, disse. De acordo com o deputado, a emenda ao projeto que garante reajuste anual aos médicos que atuam em MEDICINA CONSELHO FEDERAL Dez./2009 jornal MEDICINA - MAI/2010 MEDICINA CONSELHO FEDERAL -- Jan. /2010 saúde suplementar, incluída no Senado, foi mantida. O texto aprovado pelos senadores estabelece que o reajuste seja efetivado nos primeiros 90 dias do início de cada ano calendário. Caso este prazo seja ultrapassado, o índice será definido pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). “Há reajustes anuais nos valores cobrados pelas operadoras; os profissionais devem compartilhar deles”, disse Rêgo Filho (foto). Foto: Agência Câmara 4 Proposta: sintonia com os médicos Política e Saúde 5 III Fórum Nacional de Cooperativismo Médico Papel socioeconômico das entidades em debate Avanços: Hiran Gallo (2º à dir.) lembrou a importância de reuniões deste tipo para a solução de problemas relacionados às cooperativas N ortear a elaboração de um plano estratégico entre as entidades e os segmentos da área para enfrentar os desafios relativos ao cooperativismo médico brasileiro. Este foi o ponto alto do III Fórum Nacional de Cooperativismo Médico, realizado no Conselho Federal de Medicina, em 27 e 28 de maio. Entre os problemas, se destacam a precarização do trabalho, a judicialização da saúde, a alta tributação e a defasagem honorários médicos. O presidente do CFM, Roberto Luiz d’Avila, ressaltou a necessidade de respostas a estes problemas. “Deverão surgir proposições para uma mudança de atitude frente aos nossos desafios”, disse. Durante o fórum, os participantes assumiram a missão de atender à expectativa dos médicos brasileiros. Entre as medidas já propostas constam: o alinhamento das entidades médicas com o segmento cooperativista para definição de ações conjuntas, o apoio a projetos que tratam do reajuste anual dos médicos (PL 6.964/2010) e a construção de um ambiente político que propicie resultados na representação das políticas públicas sociais e encaminhamentos tributários. A consolidação das propostas será feita em reuniões no âmbito da Comissão de Cooperativismo Médico do CFM, coordenada pelo conselheiro Hiran Gallo (diretor-tesoureiro da entidade). “O sistema cooperativista será o quarto elemento a compor a atuação das três entidades médicas nacionais (CFM, AMB e Fenam)”, afirmou ele. Olho no Congresso Acupuntura – Embora a acupuntura seja uma especialidade médica reconhecida, em 2006, ao aprovar a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no SUS, por meio da Portaria 971, o Ministério da Saúde sugeriu que se tratava de “prática de caráter multiprofissional”. A mesma ameaça volta agora na Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados, que aprovou em 12 de maio que o exercício da acupuntura pode ser feito por profissionais de nível superior de qualquer área da saúde, desde que tenham especialização reconhecida por conselhos federais. O texto aprovado é o substitutivo da deputada Aline Corrêa (PP-SP) ao Projeto de Lei 1.549/03, do deputado Celso Russomanno (PP-SP), e outras propostas apensadas. As entidades médicas irão atuar contrariamente à proposta, que segue em tramitação na Câmara. Direito das gestantes – Recebeu parecer favorável do relator, deputado Dr. Paulo César (PR-RJ), na Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados, o Projeto de Lei 7.055/10, de autoria do deputado Arlindo Chinaglia (PT/SP), que assegura à médica residente gestante licença-maternidade de 180 dias, com a prorrogação da bolsa pelo mesmo período. O PL tramita apensado ao Projeto de Lei 6.146/09, do mesmo parlamentar, que visa criar uma bolsa natalina para os médicos residentes. As médicas residentes já têm direito à licençagestante. O projeto propõe que, a exemplo de trabalhadoras de empresas e da administração pública, sua duração seja estendida para 180 dias. Trabalhadores do SUS – Com a participação de representantes dos médicos, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais e outros profissionais de saúde, além de órgãos do governo, o comitê nacional criado para elaborar diretrizes para a Política Nacional de Promoção da Saúde dos Trabalhadores do SUS realizou suas últimas reuniões nos dias 10 e 11 de maio, em Brasília. O texto final será encaminhado à Mesa Nacional de Negociação Permanente do SUS. Saúde Suplementar Seguradoras e Medicina de Grupo estão contra a CBHPM Em 2010 foram realizadas três reuniões do grupo de trabalho da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) que discute critérios de reajuste de honorários e a possibilidade de adoção pelos planos de saúde da CBHPM como padrão de hierarquização dos procedimentos médicos. Na última rodada, ocorrida em abril, na sede da ANS, o representante da AMB, Amílcar Giron, apresentou a metodologia de elaboração da CBHPM, os atributos dos atos médicos e a padronização dos portes. Manoel Peres, representante da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), instituição que congrega as seguradoras, apontou o que chamou de “elevado grau de subjetividade e de distorções da CBHPM”, acrescentando que o setor “já possui lógica própria”. O representante da Associação Brasileira de Medicina de Grupo (Abramge), Sérgio Vieira , afirmou que “não há razão para discutir hierarquização de procedimentos nem valores de honorários de apenas um profissional, pois é preciso olhar o sistema como um todo, considerando fatores de produtividade e desempenho.” Os representantes da Unimed, Jurimar Alonso, e da Unidas, Sonia Guyt, afirmaram que suas entidades concordam com a proposta do CFM, AMB e Fenam de adoção da hierarquização na saúde suplementar. A ANS, por sua vez, concorda com a padronização, mas posiciona-se contra “o tabelamento de preços e a discussão coletiva de valores”. O grupo de trabalho vinha sendo coordenado pelo diretor da ANS, Maurício Ceschin, conduzido recentemente à presidência da agência. A próxima reunião, prevista para o início de junho, irá abordar os critérios de reajuste dos honorários médicos. MEDICINA CONSELHO FEDERAL -- Jan Dez./2009 MEDICINA CONSELHO FEDERAL /2010 jornal MEDICINA - MAI/2010 População diz sim a reajustes Uma enquete da Câmara dos Deputados apontou que 58% dos brasileiros concordam com o Projeto de Lei 1.220/07, que obriga os planos de saúde a respeitarem as tabelas das entidades das categorias profissionais. Segundo a pesquisa, os internautas acreditam que a falta de reajuste nos valores das consultas tem levado muitos médicos a desistir de atender por convênio. Para o coordenador da Comissão de Saúde Suplementar e 2º vice-presidente do CFM, Aloísio Tibiriçá Miranda, a sociedade observa que a classe médica tem sido mal remunerada e, principalmente, que isso tem reflexo nas consultas. A tramitação da proposta também está sendo acompanhada de perto pela comissão de assuntos políticos das entidades médicas. Não é a primeira vez que a opinião pública se manifesta favoravelmente com relação às propostas apoiadas pelo Conselho Federal de Medicina. Em dezembro, o projeto do Ato Médico, que regulamenta o exercício da medicina, foi objeto de enquete da Agência Senado. O resultado foi animador: 62% de um total de 545.625 internautas participantes manifestaramse a favor do mesmo e do PLS 268/02. 6 ÉTICA MÉDICA Terminalidade da vida Novo Código muda realidade em hospitais O êxito de alguns hospitais no uso dos cuidados paliativos mostra o avanço positivo dessa abordagem E m vigor desde 13 de abril, o novo Código de Ética Médica tem causado repercussão positiva no que se refere à prescrição de cuidados paliativos, opção que estende conforto e atenção especiais aos pacientes com quadros graves e de difícil prognóstico. Vários profissionais relatam o impacto benéfico do documento, que fortalece a humanização do atendimento, inclusive nos hospitais públicos. O texto estabelece, em seu art. 41, que: “Nos casos de doença incurável e terminal, deve o médico oferecer todos os cuidados paliativos disponíveis sem empreender ações diagnósticas ou terapêuticas inúteis ou obstinadas, levando sempre em consideração a vontade expres- sa do paciente ou, na sua impossibilidade, a de seu representante legal”. O mesmo artigo do Código proíbe ao profissional de medicina abreviar a vida do paciente, ainda que a pedido desse ou de seu representante. Agente libertador – O chefe do Núcleo de Cuidados Paliativos da Secretaria de Saúde do Distrito Federal, Hélio Bergo, afirma que o Código fortalece as unidades que trabalham com cuidados paliativos. “A formação tradicional do médico é fortemente marcada na contraposição à doença. A doença é vista como um algoz que precisa ser aniquilado. O médico assume o papel de agente libertador, aquele que conhece as estratégias de combate e detém as Humanização: no lugar de ações obstinadas e desnecessárias, o apoio e a solidariedade armas para destruir esse mal”, diz. A médica Cláudia Burlá, membro da Câmara Técnica sobre Terminalidade da Vida e Cuidados Paliativos do Conselho Federal de Medicina (CFM), também considera importante a mudança: “Os cuidados paliativos são uma resposta ativa aos problemas decorrentes da doença prolonga- Para especialistas, cresceu busca por cuidados paliativos Médicos que assistem pacientes em fase terminal afirmam que, desde a entrada em vigor do novo Código, aumentou a compreensão sobre a prática dos cuidados paliativos. Essa é a opinião da chefe do Serviço de Cuidados Paliativos do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo e coordenadora científica da Academia Nacional de Cuidados Paliativos, Maria Goretti Sales Maciel. “Parece ter havido aumento da procura por cuidados paliativos no último mês. Os colegas médicos se sentiram aliviados e passaram a encaminhar mais doentes às enfermarias que oferecem essa abordagem. É preciso que todos saibam que os pacientes têm uma sobrevida excepcional quando bem cuidados”, diz. Segundo conta, o médico Segurança: Anelise Pulschen diz que o novo Código trouxe respaldo para o trabalho do médico nos casos de pacientes terminais se sente mais confortável, inclusive pela existência de literatura científica que o ajuda a identificar as formas e o registro de evolução das doenças. A chefe da Unidade de Cuidados Paliativos do Hospital de Apoio de Brasília, Anelise Carvalho Pulschen, concorda e acrescenta que o Código facilitou o trabalho do médico paliativista. “O texto trouxe a possibilidade de que o médi- co faça tudo com segurança e respaldo. No passado, houve questionamentos sobre a aplicação de cuidados paliativos, às vezes dos próprios colegas, às vezes da Justiça”, diz. Para ela, as pessoas estão entendendo melhor o que é deixar que uma doença incurável siga seu curso. “Não é omissão de socorro, desde que você cuide do doente até o último instante”, ressalta. MEDICINA CONSELHO FEDERAL Dez./2009 jornal MEDICINA - MAI/2010 MEDICINA CONSELHO FEDERAL --Dez./2009 da, incurável e progressiva, na tentativa de prevenir o sofrimento e proporcionar a máxima qualidade de vida possível às pessoas doentes e a seus familiares”. Carlos Vital, 1º vicepresidente do CFM e membro da comissão nacional que trabalhou na revisão do Código, sintetiza o alcance do documento: “O Código chama a atenção do médico para a importância dos cuidados médicos, para a possibilidade de abstenção de procedimentos extraordinários, desproporcionais e incompatíveis com a dignidade humana, de forma a reverenciar a autonomia da vontade do paciente, expressa pessoalmente ou por seu representante legal”. Familiares elogiam abordagem A abordagem trazida pelos cuidados paliativos muda a percepção da morte e da vida entre pacientes e familiares. Vera Lúcia Aureliano Santos se reveza com os quatro irmãos na missão de acompanhar a mãe, dona Josefa, no Hospital de Apoio de Brasília. Durante os períodos de internação, a paciente e sua família foram informados pela equipe de profissionais da unidade sobre tudo o que estava ocorrendo. “É a segunda vez que estamos aqui. A primeira internação durou pouco mais de um mês. Houve melhora e ela recebeu alta. Vivemos em casa, em família, por dois meses, e agora estamos de volta. Conhecemos os limites e somos respeitados”, disse Vera Lúcia durante o banho de sol da mãe na Praça das Rosas do hospital. “Os procedimentos aqui adotados são os melhores”, avalia. O depoimento é apenas um entre vários. Casos assim mostram a importância de se discutir o reconhecimento da medicina paliativa como área de atuação. A proposta deverá ser tratada durante o I Fórum de Atualização dos Programas de Formação de Especialistas, previsto para setembro. “A Comissão Mista de Especialidades (organizadora do encontro) entende que essa área de atuação é necessária. Queremos ouvir as sociedades médicas para verificar quais delas têm interesse em incorporála”, afirma Carlos Vital. “O desafio do Brasil, hoje, é formar profissionais que saibam fazer cuidados paliativos. Eles precisam identificar bem a terminalidade e conduzir o caso, sem apressar a morte do doente”, acrescenta Maria Goretti. INTEGRAÇÃO ÉTICA MÉDICA 7 Terminalidade da vida Foco voltado para o bem-estar do paciente A prática de cuidados paliativos já é regular em alguns locais do país, mas o número exato de unidades que a adotam não é conhecido. O Hospital de Apoio de Brasília (HAB) conta com 19 leitos e recebe aproximadamente 30 pacientes por mês. Parte do Núcleo de Cuidados Paliativos da secretaria de Saúde oferece atendimento hospitalar a portadores de câncer. A maioria dos pacientes chega à unidade com o quadro de irreversibilidade da doença atestado. “Alguns vêm em razão de alguma intercorrência, são tratados e seguem sendo acompanhados em casa”, explica a chefe do serviço, Anelise Carvalho Pulschen. Em São Paulo, o Serviço de Cuidados Paliativos do Hospital do Servidor Público Estadual (HSPE) possui 10 leitos de internação e também oferece atendimento em ambulatório e em domicílio. Mas, ao contrário do que acontece em Brasília, os cuidados paliativos aplicados no hospital paulista não são exclusivos aos doentes de câncer. No entanto, os pacientes com outras doenças não passam de 10% do total. Visão integral – “Os cuidados paliativos melhoram as condições gerais do paciente. Ele se sente seguro, mesmo sabendo que não haverá alteração no quadro da doença”, diz Maria Goretti Sales Maciel. Tanto no HSPE quanto no HAB, equipamentos de suporte avançado à vida não são utilizados. Recorre-se apenas a sondas alimentares ou de drenagem, quando necessário. Cirurgias de caráter paliativo também podem acontecer e os sedativos são usados pontualmente, de modo controlado. “Aliviamos bem as dores relacionadas à doença. Por isso, os pacientes ficam acordados, interagem, recebem amigos”, diz a chefe do HSPE. “As equipes têm uma visão integral do paciente. Elas levam em consideração aspectos físicos, emocionais, familiares, sociais, espirituais, enfim, tudo o que cerca a pessoa”, diz a médica do HAB. Neste hospital, 18 leitos são divididos entre seis quartos. Um sétimo quarto, com um único leito, é reservado ao paciente em situação de morte iminente. Lá, tem a privacidade para receber amigos e familiares com mais conforto, sem limite de visitantes e horários. “Um dos princípios de nosso trabalho é o da aceitação da morte e da valorização da vida”, afirma Pulschen – em seu hospital são promovidos reencontros, pequenas celebrações e até casamentos. Os registros fotográficos desses momentos estão no mural da Unidade de Cuidados Trabalho contínuo: a Comissão de Terminalidade da Vida está atenta às propostas em tramitação no Legislativo Paliativos. Há oficinas terapêuticas, sessões de relaxamento, musicoterapia e treinamento para que os familiares cuidem corretamente do doente. “A vida é importante até o fim. Já conseguimos localizar muitos familiares desaparecidos, que os pacientes gostariam de rever, para que houvesse um reencontro, uma reconciliação. E já houve três casamentos, com presença de padre e juiz”, relata Pulschen. “Há afeto e respeito ao paciente em nossa abordagem. Tanto eles quanto os familiares sentem-se acolhidos, dialogam, sabem o que estão vivendo”, destaca. Alivio e solidaridade: no Hospital de Apoio, soluções foram pensadas para garantir a aceitação da morte e a valorização da vida CFM monitora projetos no Congresso A Câmara Técnica sobre Terminalidade da Vida e Cuidados Paliativos do Conselho Federal de Medicina (CFM) tem trabalhado em propostas de aperfeiçoamento de projetos de lei relacionados aos temas, em trâmite no Congresso Nacional. “Nossas sugestões vêm da experiência de um conjunto de médicos que lidam com o fim da vida de pacientes e que há muito discutem as mudanças legislativas cabíveis”, explica Carlos Vital. Para ele, há uma convergência de interesses entre o Poder Legislativo, a sociedade e os profissionais de medicina. “O que se quer é a possibilidade de uma atenção médica de caráter paliativo, que mitigue o sofrimento e promova e preserve a dignidade humana no processo de terminalidade da vida”, diz Vital. Meios desproporcionais – Um texto que recebe atenção especial é o Projeto de Lei do Senado (PLS) 116/00 (atualmente em trâmite na Câmara dos Deputados sob o nº 6.715/09). De autoria do senador Gerson Camata (PMDB-ES), MEDICINA CONSELHO FEDERAL--Dez./2009 Dez./2009 MEDICINA CONSELHO FEDERAL jornal MEDICINA - MAI/2010 a proposta insere um artigo no Código Penal para estabelecer que não é crime, no âmbito dos cuidados paliativos aplicados a paciente terminal, deixar de fazer uso de meios desproporcionais e extraordinários, desde que haja o consentimento do paciente ou, no caso de sua impossibilidade, de um familiar próximo (cônjuge, companheiro, ascendente, descendente ou irmão). O senador Augusto Botelho (PT-RR) – relator da matéria na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado – se posicionou a favor. “Sou médico e pude conhecer os sentimentos das pessoas que eram mantidas vivas contra a sua vontade [com o uso de meios extraordinários], sofrimento que também era dos familiares”, diz Botelho. A CCJ proferiu decisão terminativa sobre o relatório. Isto é, a aprovação na comissão teve valor de decisão do Senado, dispensando-se a necessidade de apreciação pelo plenário da Casa. Justiça – Se aprovado, encerrará controvérsia judicial sobre a aplicação de cuidados paliativos. Em 2006, o CFM expediu a Resolução 1.805, que prevê que na fase terminal de enfermidades graves e incuráveis é permitido ao médico limitar ou suspender procedimentos e tratamentos que prolonguem a vida do paciente, respeitando-se a sua vontade ou a de seu representante legal. Em 2007, a Justiça do Distrito Federal emitiu liminar que suspende a eficácia da resolução, a pedido do Ministério Público Federal (MPF). Para Botelho, com a aprovação do projeto a controvérsia deixará de existir. “Tenho a certeza de que o diálogo entre Câmara e Senado é no sentido de que o projeto seja aprovado o mais rápido possível, para evitar que se prolongue esse tipo de sofrimento”, avalia. Agora, o documento está na Comissão de Seguridade Social e Família (CSSF) da Câmara dos Deputados. O relator da matéria, deputado José Linhares (PP-CE), se posicionou pela aprovação do projeto, mas apresentou um texto substitutivo. Seu relatório, apresentado em maio, ainda não foi votado na CSSF. PLENÁRIO E COMISSÕES Transplantes de córneas Projeto propõe extinção de filas em oito meses Foto: Arquivo Pessoal /Dra. Tania Schaefer 8 Tempo de espera: cerca de 23 mil pacientes aguardam para fazer um transplante de córnea no país C om uma proposta de investimento de R$ 2,35 milhões para a criação de bancos de olhos e melhora no processo de captação de córneas, a Câmara Técnica de Oftalmologia do Conselho Federal de Medicina (CFM) acredita ser possível zerar em oito meses a fila de espera por um transplante desse tipo. O projeto – desenvolvido em parceria com a Sociedade Brasileira de Oftalmologia (SBO) e suas regionais – foi encaminhado para análise do Ministério da Saúde. Além das ações efetivas a serem realizadas, o trabalho também faz um diagnóstico da situação vivenciada pelo país. De acordo com o coordenador da câmara, José Fernando Maia Vinagre, foram identificados os principais problemas operacionais em termos de infraestrutura e nível de gestão. O presidente do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), Paulo Augusto de Arruda Melo, está otimista com os resultados que virão após a aprovação e implementação da proposta. “Em até quatro meses, aumentaremos em 30% o total de cirurgias. Depois disso, é zerar a fila. É um desafio que queremos colocar em prática o mais rápido possível”, afirmou. No documento encaminhado, a câmara aponta a necessidade de resolver questões como o pequeno número de equipes transplantadoras pelo SUS e a melhoria dos sistemas de captação e distribuição de tecidos (córneas) pelas centrais de transplante dos bancos de olhos existentes, dentre outros fatores. O projeto resultou de entendimento da Câmara Técnica de Oftalmologia com a coordenadora do Sistema Nacional de Transplantes, Rosana Reis Nothen. Em fevereiro, durante encontro, ela apontou dois pontos que considera críticos: a captação com as famílias e o aperfeiçoamento da estrutura de trabalho das equipes que fazem as cirurgias. Câmara aponta problemas Segundo dados do Ministério da Saúde, cerca de 23 mil pessoas aguardam por uma cirurgia desse tipo. E um paciente espera, em média, três anos por um transplante de córnea. Essa demora ocorre, em parte, pelo pequeno número de equipes em atividade. Atualmente, há 68 delas atuando em bancos de olhos espalhados pelo país. A falta de profissionais contribui para o não apro- veitamento de córneas disponíveis, já que há insuficiência de equipes transplantadoras no SUS que atuem em regime de 24 horas. De acordo com o documento enviado pela câmara do CFM, parte disso ocorre pela indisponibilidade da estrutura física no período noturno e nos fins de semana, além de remuneração defasada dos médicos e instalações hospitalares precárias, entre outros pontos. Geriatria Parabólica da saúde Medicina Marítima – A garantia de atenção à saúde dos passageiros e tripulantes marítimos, bem como os cuidados que devem ser observados dentro de navios e embarcações, são alvos da recém-criada Câmara Técnica de Medicina Marítima do Conselho Federal de Medicina (CFM). A primeira reunião do grupo ocorreu em 19 de maio, em Brasília (DF). O coordenador do grupo, conselheiro Luiz Nodgi, lembra que os barcos ficam semanas em alto-mar e, em caso de emergência, muitas vezes não conseguem receber apoio de helicópteros. “Estudaremos normas para estabelecer uma estrutura mínima de trabalho médico”, completa. Foram solicitadas à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e à Marinha do Brasil informações sobre a legislação e os dados relativos ao tema. Urgência e Emergência – No dia 24 de junho de 2010, no auditório do Conselho Federal de Medicina, em Brasília, acontece o seminário Trabalho Médico de Urgência e Emergência no Sistema Público de Saúde, com a presença das entidades médicas, profissionais que atuam na organização dos serviços de urgência e emergência, representantes do Ministério da Saúde, do Conass, que reúne os secretários estaduais de saúde, e do Conasems, entidade que representa os secretários municipais de saúde. Visando discutir o aprimoramento da política de assistência médica na urgência e emergência, serão abordados os temas regulação do sistema, classificação de risco e formação do médico de emergência. Informações adicionais pelo tel. (61) 3445 5957 ou e-mail: [email protected]. Atenção a idosos preocupa médicos A Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) estabelecerá parcerias de atuação e assessoramento com os conselhos regionais de medicina e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que contribuirão para a fiscalização do exercício profissional e do funcionamento das Instituições de Longa Permanência para Idosos (Ilpis). A decisão foi tomada pela recém-criada Câmara Técnica de Geriatria do CFM – que se reuniu em 20 de maio. A parceria aprovada permitirá, por exemplo, oferecer às Ilpis orientações sobre a normatização de dietas alimentares e suplementos para nutrição do idoso e a política de medicamentos para essa faixa etária, especialmente os utilizados para casos de demência. Em sua primeira reunião, o grupo – coordenado pelo conselheiro Gérson Zafalon Martins – também MEDICINA CONSELHO FEDERAL - Dez./2009 jornal MEDICINA -MAI/2010 Crescimento: Em 40 anos, 18% da população terá mais de 65 anos discutiu questões ligadas à residência em geriatria. Para avançar nas discussões, representantes do CFM participarão do XVII Congresso Brasileiro de Geriatria e Gerontologia, a realizar-se de 28 a 31 de julho, em Belo Horizonte (MG). Também se estuda dedicar uma edição da Revista Bioética ao tema. A preocupação com a assistência aos idosos é amparada em dados estatísticos. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nas próximas décadas o percentual da população com mais de 65 anos deve quase quadruplicar. Em 2000, apenas 5% dos brasileiros se enquadravam nessa faixa etária. Em 2050, devem ser 18%. Ressalte-se que os avanços da medicina e as mudanças socioeconômicas têm elevado a média de expectativa de vida ao nascer de 45,5 anos, em 1940, para 72,7 anos, em 2008. 9 Plenário e Comissões Jovem médico CFM busca diálogo com novos profissionais C erca de 30% dos médicos brasileiros inscritos nos conselhos de medicina têm no máximo 35 anos de idade. De forma geral, se considerados o tempo de formação nas universidades e o período de residência, são profissionais que ainda estão em início de carreira. Para alcançá-los e aproximá-los das discussões relacionadas às dificuldades da profissão, a Câmara Técnica de Integração do Médico Jovem do Conselho Federal de Medicina (CFM) definiu uma pauta de prioridades para tratar o assunto em nível nacional. Em sua primeira reunião na atual gestão do CFM, realizada em 29 de abril, o grupo estabeleceu como prioridades identificar jovens lideranças na profissão, criar um canal de comunicação com os recém-formados e debater a interiorização da medicina no território Inserção: a Câmara Técnica criada pelo CFM quer ajudar na integração dos novos profissionais nos debates de interesse para a categoria nacional. Outras questões, como o acesso à especialização e a inserção no mercado de trabalho, também serão abordados dentro dessa estratégia de aproximação. “Queremos discutir com os jovens médicos quais são suas prioridades, e inseri-los nos debates que ocorrem nas entidades médicas, como os conselhos de medicina”, afirmou o conselheiro Renato Moreira Entrevista Fonseca, coordenador da câmara. Que complementou: “As atividades do grupo ligado ao CFM terão um cuidado especial com os médicos que passam pelo período de residência ou estão ingressando no mercado de trabalho. Para chegar até eles, um dos caminhos é realizar eventos científicos e políticos”. A próxima reunião da câmara está prevista para 25 de junho. Residentes apoiam a iniciativa Rafael Scheffel tem 29 anos e é médico há cinco. Graduou-se pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS) e na sequência emendou duas residências: Medicina Interna e Endocrinologia. Atualmente, trabalha em Novo Hamburgo, a 40 km de Porto Alegre, onde divide seu tempo entre dois hospitais e uma clínica. Sua jornada média é de oito horas de trabalho por dia e vários plantões semanais. A história de Scheffel é apenas uma dentre as de mais de 100 mil jovens médicos em atividade no país. Apesar do tempo restrito, Scheffel comemora ter trabalho. “As vagas são escassas para algumas especialidades, especialmente em determinadas regiões”, ressaltou. Com milhares de casos assim, o interesse do CFM em estabelecer um canal de diálogo com os novos profissionais e estudantes de medicina repercutiu bem no grupo. Para o presidente da Associação Nacional dos Médicos Residentes (ANMR), Nívio Lemos Moreira Júnior, 30 anos, “o jovem médico está exposto a mais riscos e por isso precisa ser acolhido”. Segundo conta, não são raros os casos de pessoas atraídas por ofertas de trabalho no interior que parecem boas, mas se revelam decepcionantes. “O interessado vai para uma cidade distante, com grandes expectativas. Às vezes, leva sua família e só então descobre que não há condições para o exercício da profissão”, relata. Ensino Médico – Acontece em Brasília nos dias 1º e 2 de julho o I Fórum de Ensino Médico, organizado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). Entre outros temas, haverá discussões sobre residência médica, formação de especialistas, residência multiprofissional etc. Os interessados em participar devem enviar mensagem para [email protected]. O assunto da mensagem deve ser “I Fórum de Ensino Médico”. Frederico Henrique de Melo “Antes de aceitar uma proposta de emprego, o profissional deve buscar informações” Nada melhor que a experiência, para ajudar aqueles que estão dando os primeiros passos. Por isso, o jornal Medicina foi buscar a opinião de Frederico Henrique de Melo. Ele concluiu o curso de Medicina em 1974, na Universidade Federal do Ceará, fixando-se depois no interior de Goiás, numa região que atualmente pertence ao território do Tocantins, onde continua até hoje. Venceu as dificuldades do início, prosperou e hoje representa seu Estado no CFM, onde ocupa o cargo de 2º Tesoureiro, sem nunca esquecer sua terra de adoção: Miranorte. Jornal Medicina – Que papel os conselhos podem ocupar na vida do jovem médico? Frederico Henrique de Melo – Lamentavelmente, as escolas não dão ao médico o preparo ético de que necessita para o desempenho profissional. No inte- rior, ele se depara com dificuldades éticas imensas. Nesse ponto reside a importância da aproximação dos conselhos de medicina. Assim, cabe aos conselhos guiar, orientar e amparar. Saber que ele está vigilante é uma segurança para o médico. JM – Quais as dificuldades que o médico enfrenta fora do eixo Sul-Sudeste? FHM – A primeira é a questão da referência do paciente. É preciso que os médicos que estão no interior saibam para onde poderão transferir os pacientes que necessitam de cuidados secundários ou terciários. Em segundo lugar, há dificuldade em relação aos honorários. A criação da carreira de Estado para o médico é uma das maneiras de levá-lo para os pontos mais distantes, oferecendolhe um salário digno e com a segurança de que um dia pode vir a residir num centro maior. MEDICINA CONSELHO FEDERAL - Dez./2009 jornal MEDICINA - MAI/2010 JM – Há realmente problemas na contratação de médicos no interior? FHM – Sim. Há ofertas de emprego nos mais diferentes locais e com diferentes perfis. Ás vezes o gestor municipal promete um salário compatível, respeito, boas condições de trabalho e cumpre seu compromisso. Mas acontece também de tudo ser completamente diferente. Para evitar problemas desse tipo, o médico deve se prevenir. Antes de aceitar uma proposta de emprego, o profissional deve buscar informações. Saber se o município já teve médicos antes e o que os levou a deixar o local. É importante conhecer a realidade do município onde pretende atuar, para isso podese contar com a ajuda dos sindicatos da categoria. JM – Ainda é interessante exercer a medicina em áreas distantes, de difícil provimento? FHM – Sim. O médico precisa estar presente mesmo nos locais mais distantes. Ali estão brasileiros que necessitam de nossa atenção. Ir para o interior dá ao médico uma respeitabilidade inimaginável. O profissional nessas regiões continua sendo muito querido pela comunidade, o que é sem dúvida gratificante. 10 EM DIA Recadastramento dos médicos Novo prazo termina em 11 de novembro A endocrinologista Liana Farias Leiria compareceu em 17 de maio, na sede do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio Grande do Sul (Cremers), para finalizar seu recadastramento. “Achei o processo rápido e sem complicações”, relatou. Ela é um dos 55.490 médicos brasileiros que se beneficiaram com a prorrogação – por mais seis meses – do prazo para a atualização dos dados. Foto: Cremepe Cerca de 17% dos médicos ainda precisam fazer o dever de casa e atualizar seus dados cadastrais Agora, 11 de novembro é a data-limite para regularização junto aos conselhos regionais de medicina. De acordo com Gerson Zafalon Martins, 2º secretário do CFM e coordenador da Comissão Nacional de Recadastramento (da qual também fazem parte os conselheiros Carlos Vital, do CFM, e Henrique Gonçalves, do Cremesp), “os médicos deixaram para fazer o recadastramento nos últimos dias, o que Saiba como fazer Após concluir o preenchimento do formulário online (que pode ser acessado até 11 de novembro em https:// recadastramento.cfm.org. br), o médico deverá se dirigir ao CRM de seu estado portando uma foto colorida 3x4, originais e cópias da carteira de identidade, título de eleitor, CPF, comprovante recente de residência, diploma, títulos de especialista, carteira profissional e comprovante de sociedade em empresa de serviços médicos, se for o caso. Se médico estrangeiro, deverá apresentar, ainda, comprovante de legalidade de permanência no país. Posteriormente, em casa, receberá um aviso para retirar sua nova carteira profissional. Agendamento: definir com antecedência a data de entrega dos documentos no CRM pode facilitar a vida do médico e das entidades acarretou enorme demanda do sistema”. Aos que ainda não se recadastraram, Zafalon orienta o preenchimento do formulário disponibilizado na internet. Para a entrega dos documentos, uma dica é de que seja agendada previamente nos conselhos regionais, para agilizar o atendimento e diminuir o tempo de espera. Cerca de 17% dos médicos que atuam no país ainda precisam atualizar seus dados profissionais para a confecção da nova Cédula de Identidade Médica. Além de contemplar a alta demanda registrada nos dias que antecederam o fim do prazo anterior (11 de maio), a prorrogação também beneficiará o processo de implementação do chamado CRM Digital, proposto para janeiro de 2011. Após sua conclusão, o recadastramento permitirá definir o perfil do médico brasileiro, indicando suas características: idade, gênero, local de trabalho, qualificações, área de atuação, entre outras – importantes dados para auxiliar pesquisas e estudos estatísticos que permitirão traçar as necessidades da categoria e desenvolver estratégias para enfrentá-las. Recadastrados % SP RJ SC PR MT MG RO PE BA RN SE AP MS GO PB RS AC TO PA DF ES AL RR CE PI MA AM 99.526 51.351 7.087 12.444 2.194 24.345 785 7.684 9.661 2.274 1.538 276 1.927 4.536 2.500 14.289 299 646 3.020 4.528 3.394 1.698 199 3.759 1.149 1.039 873 100,00 92,95 82,04 81,59 79,49 79,06 72,96 71,83 71,74 71,24 68,36 67,65 65,06 65,00 65,00 64,76 62,29 60,60 59,75 58,73 58,72 52,41 51,69 50,61 49,12 34,58 30,43 TOTAL 263.021 82,58 Tecnologia Avança proposta para a criação do CRM digital Até janeiro de 2011, o Conselho Federal de Medicina (CFM) espera concluir o processo que permitirá a entrega do CRM digital aos médicos brasileiros. Atualmente, o projeto está em fase de ajustes para a definição de aspectos relacionados a custos e tecnologia. A certificação é a base legal para que o profissional possa ser legalmente conhecido no mundo virtual. É a identidade digital, junto com a assinatura (certificação digital), que permite esse reconhecimento. Pelo projeto em curso, o CFM será a autoridade certificadora que fornecerá a assinatura digital. O 1º secretário do CFM, Desiré Callegari, afirma que o processo tem sido atento às garantias de tecnologia e confiabilidade. “Além disso, não haverá trabalho extra para o médico, pois o banco de dados atualizado com o recadastramento permitirá a confecção do cartão e da assinatura digital”, pontuou. Mas que tipo de mudanças isso trará, na prática, para os 350 mil médicos brasileiros? Com essa ferramenta, o médico poderá, por exemplo, assinar digitalmente o prontuário eletrônico, assegurando a autenticidade do documento. Isso é importante, pois o armaze- namento desses dados nos estabelecimentos de saúde exige critérios rigorosos de confidencialidade e segurança, calcados no uso da certificação digital. Essas exigências estão especificadas no Manual de Certificação para Sistemas de Registro Eletrônico em Saúde, fruto de cooperação técnica do CFM com a Sociedade Brasileira de Informática em Saúde (Sbis). Ressalte-se, adicionalmente, que as normas técnicas para digitalização e uso dos sistemas informatizados para a guarda e manuseio dos prontuários também estão previstas na Resolução CFM 1.821/07. MEDICINA CONSELHO FEDERAL - Dez./2009 jornal MEDICINA - MAI/2010 Prazo: a equipe do CFM trabalha para a certificação digital dos médicos, prevista para o início do próximo ano O CRM digital facilitará em muito a relação do médico com os conselhos de medicina. Pedidos de transferência, emissão de certidões e de outros documentos poderão ser feitos de casa, via online, com ganho de tempo. Também será possível realizar elei- ções de conselheiros de maneira informatizada, com o voto depositado por meio de computadores privados, sem a necessidade de deslocamento. Esse leque de possibilidade tende a aumentar com a ampliação dos serviços oferecidos pelo mundo digital. Integração 11 Encontros com CRMs Diferença de classe 13 conselhos regionais receberam visita da diretoria do CFM Cremers têm vitória junto ao STF Foto: CRM-RO C om visita realizada ao Conselho Regional de Medicina de Rondônia (Cremero), a diretoria do Conselho Federal de Medicina (CFM) completou uma série de 13 encontros com as entidades vinculadas que atuam nos estados. A estratégia objetiva integrar as duas esferas de decisão, o que contribuirá para articular projetos e propostas em andamento. “Alinhar o discurso e construir uma ação conjunta estão entre os principais objetivos”, explica o presidente do CFM, Roberto Luiz d’Avila. Até maio, a diretoria do CFM esteve nos CRMs de Goiás, Distrito Federal, Santa Catarina, Acre, Sergipe, Pernambuco, Rio de Janeiro, Paraná, São Paulo, Rio Grande do Sul, Rio Grande do Norte e Bahia. No mês de junho, estão previstos encontros no Mato Grosso do Sul (dia 16), Mato Grosso (dia 17) e Amazonas (dia 25). Para Salomão Rodrigues Filho, presidente do Conselho Regional de Medicina de Goiás (Cremego), que recebeu a visita em março, Rondônia: no encontro no Estado, a diretoria do CFM avançou em seu projeto de integração com os conselhos regionais de Medicina a ação foi importante, pela troca de informações que propicia. “Essa articulação trará melhor desempenho no atendimento das principais demandas da classe médica”, avalia. A receptividade tem sido idêntica em todos os estados. “Tivemos um encontro proveitoso a partir do debate de temas de interesse do médico, e um importante foro para se tirar dúvidas sobre os principais movimentos nacionais em curso, como dos projetos do financiamento do sistema público, do ato médico, do plano de carreira no sistema público e do salário mínimo do médico”, ressaltou o presidente do CRMPR, Miguel Ibraim Abboud Hanna Sobrinho, visitado em abril. Até dezembro, todos os CRMs deverão contar com pelo menos um encontro desse tipo. Mas essa não é a única inovação na tentativa de integrar e aproximar os componentes da rede conselhal. Regulamente, a diretoria se reúne com o grupo de presidentes dos conselhos regionais para ouvir sugestões e discutir temas de interesse. O próximo será realizado em 19 de agosto, na sede do CFM, em Brasília. Termos de ajustamento de conduta Conselhos entram na Justiça contra MP O Conselho Federal de Medicina (CFM) e o Conselho Regional de Medicina do Acre (CRM-AC) entraram com duas ações civis públicas na Justiça Federal para suspender as contratações de profissionais sem a devida habilitação legal para o exercício da medicina no Acre. São alvos das ações o Ministério Público do Estado do Acre e algumas prefeituras locais, como Acrelândia, Manoel Urbano, Porto Acre e Feijó. As entidades planejam ainda entrar com uma representação no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) para apurar responsabilidades. Com a alegação de dificuldades para levar assistên- cia médica a áreas remotas do Acre, o Ministério Público formalizou Termos de Ajustamento de Conduta considerados ilegais pelas entidades médicas. Esses termos permitiram a contratação de médicos para o exercício da medicina sem a revalidação de diplomas obtidos no exterior (instrumento capaz de certificar que o profissional está preparado para atuar no Brasil) e sem o devido registro profissional, descumprindo a legislação sobre o tema. A medida, formalizada no dia 13 de maio, foi tomada após o esgotamento das tentativas de diálogo com o Ministério Público e o Tribunal de Contas do Estado. “Buscamos sensibilizar as ins- tituições responsáveis por zelar pelo regime democrático e os interesses sociais, mas os termos não foram retirados”, diz a presidente do CRM do Acre, Dilza Terezinha Ambros Ribeiro. Para o presidente do CFM, Roberto Luiz d’Avila, “a solução do problema do acesso à assistência não pode ser resolvido ao arrepio da lei”. Para d’Avila, o foco do problema é entender e lidar com os motivos que afastam a maioria dos médicos a atuarem nos municípios mais carentes ou fora das áreas de desenvolvimento – cuja razão é a falta de políticas públicas efetivas que garantam a interiorização da medicina. MEDICINA CONSELHO FEDERAL - Dez./2009 jornal MEDICINA - MAI/2010 O Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers) obteve vitória no Supremo Tribunal Federal (STF) e garantiu a volta da ‘diferença de classe’ no Sistema Único de Saúde (SUS), que deixou de vigorar em 1991. Ela permite que o cidadão pague a diferença (quarto, médico, exames, medicamentos) e tenha um atendimento fora do padrão oferecido pela rede pública. A ação é restrita aos casos de internação. Um exemplo é o paciente que prefere ser atendido numa clínica. Ele pagará a diferença, entretanto o tratamento em comum que teria na rede pública será custeado pelo próprio SUS. O presidente do Cremers, Cláudio Franzen, comemorou: “A decisão é de alto alcance social, pois garante ao cidadão o direito de escolher seu médico, optando por internação diferenciada, sem perder o direito de que parte de suas despesas sejam cobertas pelo SUS”. Ao julgar favoravelmente o recurso, o ministro Celso de Mello, do STF, frisou que o direito à saúde “não deve sofrer embaraços impostos por autoridades administrativas no sentido de reduzilo ou de dificultar o acesso a ele. Inexistência, no caso, de ofensa à isonomia”. A decisão refere-se especificamente a Giruá (cidade a 474 km de Porto Alegre), mas seguem tramitando outras ações do Cremers, envolvendo a capital e mais 10 cidades gaúchas. Fiscalização Avança reformulação de manual para vistorias Representantes de diversas sociedades de especialidades médicas participaram em 26 de maio de mais uma rodada de discussões para a reformulação do Manual de Fiscalização do Conselho Federal de Medicina (CFM). Especialistas reconhecidos nacionalmente contribuíram com propostas que serão incorporadas aos parâmetros que norteiam o trabalho que monitora as condições oferecidas para o exercício profissional do médico. Em reunião na sede da entidade, o coordenador do Departamento de Fiscalização, Emmanuel Fortes Cavalcanti (3º vice-presidente do CFM), esclareceu que está em construção um modelo de roteiro e esse trabalho dará origem à resolução que regulamentará a atividade. Duas partes do roteiro de vistoria já foram concluídas (o formulário de identificação das instituições e o item atendimento ambulatorial). Permanecem em estudo alguns pontos, como a identificação do corpo clínico, dos diretores técnico e clínico e das comissões de ética médica, entre outros. Os trabalhos estão sendo desenvolvidos pela Comissão de Reformulação do Manual de Fiscalização. Segundo Fortes, o quadro é grave e exige ação imediata. E cita como exemplo dos problemas encontrados um levantamento estatístico do Conselho Regional de Medicina de Alagoas (CRMAL), o qual constatou que no Programa Saúde da Família (PSF), em execução no estado, cerca de 70% das equipes não possuem os equipamentos mínimos para realizar o atendimento. “Esta situação gera insegurança e vulnerabiliza a profissão”, alertou. 12 INTEGRAÇÃO Saúde internacional PALAVRA DO PRESIDENTE Para WMA, prescrição é exclusiva O Roberto Luiz d’Avila N a década de 70, o Brasil vivia de olho no futuro. O passar do tempo não mudou essa característica e ainda insistimos em projetar nos anos vindouros uma realidade que deve ser construída hoje. Recentemente, o presidente do Instituto de Política Econômica Aplicada (Ipea), Márcio Pochmann, afirmou que a conjuntura nacional, que tem se apresentado resistente aos efeitos de crises severas em escala global, junta condições de alçar o país à condição de quinta economia do mundo até o ano de 2020. Às vésperas de uma Copa do Mundo, tal notícia soa como hino nacional em momento de entrega de medalhas. Não há como negar a importância de se buscar o desenvolvimento econômico de forma sustentável, ancorado em estabilidade da moeda, investimento sólido em infraestrutura, geração de empregos e democracia. Este é o sonho dourado de qualquer cidadão, de qualquer país. Nós, brasileiros, não somos diferentes. No entanto, dentro dessa conjuntura de estímulo ao desenvolvimento nacional, nos chama a atenção o destaque tímido – limitado até – dado às soluções para impasses que afetam a vida de milhões na área da saúde. Historicamente, as preocupações sociais vêm a reboque de outras, mais afeitas às políticas econômicas. Ninguém ignora que os orçamentos públicos priorizam o custeio e vêem com parcimônia os investimentos. Essa é a lógica que impera entre os tomadores de decisão. No momento em que damos os primeiros passos na corrida eleitoral de 2010, que definirá os rumos nacionais pelos próximos quatro anos, e diante de perspectivas tão promissoras no fim desta década, acreditamos ser pertinente e oportuno cobrar dos futuros governantes uma resposta para este impasse. Quando estivermos comodamente instalados nas primeiras posições do ranking dos países mais poderosos e ricos do mundo, como isso retornará em forma de melhor assistência em saúde para a população? Entre outros pontos, a sociedade conta com a garantia de mais recursos para a saúde. Em 2010, se cumpridas todas as previsões, os governos federal, estaduais e municipais investirão, juntos, cerca de R$ 135 bilhões. Com isso, o desembolso per capita fica em, aproximadamente, R$ 710, ou seja, U$ 394. Mesmo com a evolução registrada nos últimos anos, o Brasil ainda está abaixo da metade da média mundial (US$ 806). Isso faz soar o alerta, pois o país assiste à mudança de seu perfil epidemiológico, com o aumento da incidência de doenças crônicas e degenerativas (cujo tratamento é mais longo e oneroso) e o aumento da esperança de vida ao nascer, atualmente em 72,7 anos. Em boa parte, esse desequilíbrio vem da demora na implementação de medidas como a regulamentação da Emenda Constitucional 29, que há anos claudica pelo Congresso Nacional. Mas além de recursos também há que se pensar na modernização da gestão, tornando-a mais ágil e transparente. Finalmente, o tripé se monta com o desenvolvimento de políticas voltadas para a valorização do profissional de saúde, especialmente os médicos. Em julho, no Encontro Nacional das Entidades Médicas (Enem), debateremos estes temas e levantaremos nossas propostas para os candidatos que se apresentam. Temos a oportunidade de assumirmos a vanguarda, ajudando a repensar o modelo de atenção brasileiro, voltados para o futuro, no qual queremos desembarcar em situação bem melhor que a atual. Comitê de Ética da Associação Médica Mundial (WMA) manteve a recomendação que não permite que profissionais de outras categorias realizem prescrições. A decisão foi tomada durante a 185ª Sessão do Conselho da WMA, realizada em Evian Lês Bains, na França, entre 20 e 22 de maio. O tema voltará à pauta de nova reunião da entidade, prevista para outubro. O Conselho Federal de Medicina (CFM) marcou presença no en- contro, juntamente com médicos de 24 países, e acompanhará a nova rodada. “É importante assegurarmos a exclusividade do ato médico para nossa categoria. Trata-se de tema relevante que, inclusive, aguarda votação pelo Senado Federal. Ao manter o texto, a WMA fortalece nossa posição no Brasil”, lembrou Roberto Luiz d’Avila, presidente do CFM. Durante a sessão também foram analisadas as posições defendidas pela WMA em reuniões recentes da Organização Mundial da Saúde (OMS). Entre elas, a necessidade de que os países-membros sigam o manual de boas práticas para os trabalhadores em saúde da Organização e que os governantes desses países reprimam a falsificação de medicamentos (que constitui uma das maiores preocupações da WMA). No encontro, foi aprovado o ingresso de Moçambique nos quadros da Associação. Academias de Medicina Integração com o CFM foi tema de reunião Agenda comum: humanização e ética estiveram na pauta Presidentes das academias estaduais de medicina participaram de reunião no Conselho Federal de Medicina (CFM), em 19 de maio. O encontro foi mais uma etapa no processo de aproximação entre as entidades. Temas de interesse comum, como a humanização da medicina, a ética médica, o ensino médico e o registro histórico da medicina brasi- leira foram abordados. A idéia de parceria agradou aos participantes da reunião. Para o presidente da Academia Nacional de Medicina (ANM), Pietro Novellino, “precisamos trabalhar para que haja um intercâmbio de contribuições”. O 1º vicepresidente do CFM, Carlos Vital, concordou: “Queremos reforçar a interação entre o sistema de conselhos e as academias”, ressaltou ele, que é integrante da Academia Pernambucana de Medicina. Além dos membros das academias estaduais, estiveram na sede do CFM os presidentes da Federação Brasileira de Academias de Medicina (FBAM), José Leite Saraiva (2010/2012), e Ernesto Lentz de Carvalho Monteiro (2008/2010). No dia seguinte a essa reunião, Leite Saraiva tomou posse como presidente da FBAM, em cerimônia realizada no Memorial Juscelino Kubitschek, em Brasília. Na ocasião, o CFM, representado por Carlos Vital, recebeu o diploma de Sócio Benemérito da FBAM. Alerta do CFM Médico deve ter cautela com premiações Diante do anúncio de premiações para médicos, algumas delas usando o nome do CFM na intenção de se respaldar, o Conselho Federal de Medicina alerta a sociedade para as implicações éticas relacionadas ao recebimento desse tipo de homenagem. “O CFM não apoia iniciativas desse tipo. Há uma resolução que veda a participação de médicos MEDICINA CONSELHO FEDERAL - Jan./2010 jornal MEDICINA - MAI/2010 em eventos assim”, comentou o 1º secretário da entidade, Desiré Callegari. A Resolução 1.701/03 prevê que o médico não deve permitir que seu nome seja incluído em concursos ou similares, cuja finalidade seja escolher o ‘médico do ano’, ‘destaque’ ou ‘melhor médico’. Para Callegari, há até médicos “homenageados” que são enganados. “Os organizadores descontextualizam frases de personalidades da Medicina e as veiculam em material publicitário para chamar atenção”, conta. De acordo com ele, o reconhecimento real vem de instituições públicas (conselhos, universidades, etc) ou privadas (associações e sociedades médicas), que ao homenagear valorizam realizações ao longo da vida profissional.