A Administração na Pequena Propriedade Rural
Administration In a Small Rural Property
Paola Silva1
Ricardo Niehues Buss2
RESUMO
O sucesso de uma pequena propriedade rural está cada vez mais relacionado com o seu envolvimento com o ambiente de negócios e sua
capacidade de tirar o máximo proveito de seus recursos. Porém pode-se verificar uma grande deficiência de gestão nestas empresas, falta
de organização, controle, planejamento entre outros fatores que podem representar a diferença entre o sucesso e o fracasso da empresa.
Diante da importância da pequena propriedade rural para o desenvolvimento socioeconômico do país e pela falta de conhecimento e
interação de muitas com a administração, pretendeu-se entender se
a administração pode representar algum diferencial competitivo para
a pequena propriedade rural. Desse modo, este trabalho teve como
objetivo identificar a importância da administração para a pequena
propriedade, e foi construído através de ampla revisão bibliográfica
descritiva. Ao seu término, o trabalho cumpriu com sua proposta de
criar uma discussão sobre a administração na propriedade rural, apresentando que os desafios são muitos, ficando evidente a importância
da administração e adequação da propriedade de forma a maximizar
seus resultados, cabendo aos gestores destas propriedades buscarem
informação e conhecimento, novas tecnologias e ferramentas de modo
a fortalecer a empresa e torná-la mais competitiva.
1 Paola Silva, Mestre em Desenvolvimento Regional pela Universidade de Santa Cruz do Sul,
professora do Curso de Administração da Faculdade Católica Dom Orione. Email: [email protected]
2 Ricardo Niehues Buss, Mestre em Administração pela Universidade Federal de Santa
Catarina, professor do Curso de Gestão em Logística da Universidade Federal do Tocantins.
Email: [email protected]
149
Paola Silva, Ricardo Niehues Buss
Palavras-chave:
Administração.
Agronegócio,
Pequena
Propriedade
Rural,
ABSTRACT
The success ofa small farmis increasinglyrelated to hisinvolvement withthe business environmentand its ability totake fulladvantage ofits
resources.Butwe can seeamajor deficiencyin thesemanagementcompanies, lack oforganization,control, planningand other factorsthat canmean the differencebetween successand failureof the company.Given
the importance ofsmall rural propertyfor the socioeconomic developmentof the countryand lack ofknowledge andinteraction of manywith the administrationaimed tounderstand whetherthe administrationmay representacompetitive advantageforsmall farms.Thus this work
aimed to identify the importance of property management for the
small, and was builtthrough extensiveliterature reviewdescriptive.
Upon terminationthe workcarried out itsproposal to createadiscussion
about thepresentadministration in theestatethat the challengesare
many,became evident the importanceof management andsuitabilityof
the propertyto maximizeits results, being the managersof these propertiesseekinformationand knowledge, new technologies and tools
tostrengthen the company andmakesit more competitive.
Keywords: Agribusiness, Small PropertyRural, Administration.
1 INTRODUÇÃO
A melhoria tecnológica, novos processos e competição acirrada da agricultura contribuíram para o aumento na produção e produtividade, mas, apenas produzir não é suficiente. É preciso produzir com
excelência, mantendo o maior controle de todo o processo.
O sucesso de uma empresa, principalmente se tratando de
agronegócio, está cada vez mais relacionado com o seu envolvimento com o ambiente de negócios; sua inter-relação com os fornecedores, produtores de matéria prima, processadores e distribuidores. O
agronegócio é um dos setores da economia com maior capacidade de
150
Revista São Luis Orione - v.1 - n. 5 - p. 149-173 - jan./dez. 2011
A Administração na Pequena Propriedade Rural
geração de empregos a custo reduzido, e um dos maiores irradiadores de estímulos para outras atividades. Seus efeitos são refletidos na
indústria e no comércio, podendo aumentar a oferta de produtos e
empregos, além de gerar inúmeros outros benefícios ao longo das cadeias produtivas.
A administração das pequenas propriedades rurais merece devido respeito já que para esta, e qualquer outro modelo de organização, é fator vital de sobrevivência, e tem sua característica alicerçada
em prever, organizar, comandar, coordenar e controlar.
Os pequenos produtores pela falta ou desconhecimento da
administração acabam não desempenhando suas atividades com qualidade e eficiência, e um dos principais motivos para que isto aconteça
é a falta de conhecimento em administração.
Dessa forma, este trabalho tem por objetivo identificar a importância da administração para a pequena propriedade e foi desenvolvido utilizando a metodologia de pesquisa bibliográfica descritiva.
Este trabalho tem grande relevância pelo fato de que a gestão
nas organizações é cada vez mais evidente, representando a diferença entre o sucesso e o fracasso, porém percebe-se que nas pequenas
propriedades rurais a visão da administração ainda é muito pequena,
seja pelo simples desconhecimento e falta de incentivo ou pela característica familiar, onde o que se sabe passou de geração para geração.
2 O AGRONEGÓCIO
Agronegócio, também conhecido como agribusiness, é o conjunto de negócios que estão relacionados à agricultura, dentro do ponto de vista econômico. Sendo esta toda a relação industrial e comercial
que envolve a cadeia produtiva pecuária e ou agrícola.
Segundo Batalha (2001), o agronegócio pode ser dividido em
três partes, “dentro da porteira”, “pré-porteira” e “pós-porteira”:
• Dentro da porteira: trata-se dos negócios agropecuários propriamente ditos, representado pelos produtores rurais, indiferente do
tamanho (pequenos, médios ou grandes produtores), constituídos
na forma de pessoas física ou jurídica.
Revista São Luis Orione - v.1 - n. 5 - p. 149-173 - jan./dez. 2011
151
Paola Silva, Ricardo Niehues Buss
• Pré-porteira: são os negócios inerentes aos da agropecuária, representados pelas indústrias e comércios que fornecem insumos
para a produção rural. Como por exemplo, os fabricantes de defensivos químicos, equipamentos, fertilizantes, etc.
• Pós-porteira: são os negócios posteriores dos negócios agropecuários; é onde está à compra, transporte, beneficiamento e venda
dos produtos agropecuários, até chegar ao consumidor final. Os
frigoríficos, as indústrias têxteis e calçadistas, distribuidores de alimentos e supermercados exemplificam esta etapa.
Em 1957, dois pesquisadores americanos Davis e Goldberg,
reconheceram a ineficácia de se analisar a economia nos moldes tradicionais, isolando os setores que fabricavam insumos, processavam os
produtos e os comercializavam. Coube então a estes dois pesquisadores a criação do conceito de agronegócio.
O agronegócio segundo Davis & Goldberg (1957) é a “soma total das operações de produção e distribuição de suprimentos agrícolas.
As operações de produção nas unidades agrícolas; o armazenamento,
o processamento e a distribuição dos produtos agrícolas e itens produzidos com eles”. Verifica-se que este conceito compreende todos os
vínculos dos setores agrícolas, realizando uma análise de dentro para
fora da fazenda, substituindo a análise parcial pela análise sistêmica da
agricultura.
O agronegócio é entendido como um conjunto de empresas
que produzem insumos agrícolas, as propriedades rurais, as empresas
de processamento e toda a distribuição. No Brasil, segundo Callado
(2006), o termo é usado quando se refere a um tipo especial de produção agrícola, caracterizada pela agricultura em grande escala, baseada
na criação de rebanhos ou no plantio e em grandes extensões de terra.
Estes negócios, muitas vezes, fundamentam-se na propriedade latifundiária bem como na prática de arrendamentos.
O conceito de agronegócio está diretamente relacionado com
a ideia de cadeia produtiva, com seus elos entrelaçados e sua interdependência. A agricultura contemporânea ultrapassou os limites físicos
da propriedade, e depende cada vez mais de insumos adquiridos fora
da propriedade e a decisão de o que, quanto e como produzir, está
152
Revista São Luis Orione - v.1 - n. 5 - p. 149-173 - jan./dez. 2011
A Administração na Pequena Propriedade Rural
fortemente relacionado ao mercado consumidor.
A história do agronegócio tem fortes influências da própria
história da economia brasileira. A ocupação do território, a exploração
da madeira, do pau brasil, o início de vários ciclos agroindustriais como
a cana-de-açúcar, borracha, café e mais recentemente a soja como um
dos principais commodities do Brasil.
O progresso abriu novos rumos para a agroindústria, transformando o Brasil em um potência mundial no agronegócio, seja pela produção agrícola, seja pela pecuária e demais produções relacionadas.
Essa evolução, cada vez mais crescente e competitiva, fez com
que os produtores rurais deixassem de lado técnicas e métodos artesanais e ultrapassados, passando desde então a tratarem a produção
de modo especializado, com tecnologia e inovação, maximizando a
produção e reduzindo custos com operações de cultivo e criação de
animais.
Para se ter uma ideia da importância do agronegócio na economia brasileira, basta analisarmos alguns números:
[...] em 2004, as exportações relacionadas ao agronegócio atingiram US$ 39 bilhões, ante importações de US$ 4,9 bilhões, ou seja,
houve um saldo positivo de US$ 34,1 bilhões. Considerando que
o superávit de toda a balança comercial foi de US$ 33,7 bilhões,
conclui-se que o conjunto dos demais setores, agronegócio à parte, registrou um déficit de aproximadamente US$ 400 milhões.
(JORGE, 2011).
Estes números só vêm a confirmar que o agronegócio sustenta
o país há décadas. Jorge (2011) afirma ainda que muito analistas internacionais, indicam que o Brasil será, dentro de alguns anos, o maior
produtor mundial de alimentos.
O que confirma esta teoria é que o país possui a maior área
agriculturável do planeta, sendo que utiliza menos de 70% da capacidade desta área; sem contar com o aumento da produtividade, dos
investimentos em tecnologia e pesquisa, do clima ideal para plantações e criação de animais, fazendo com que o Brasil se destaque na
pecuária e agricultura.
Revista São Luis Orione - v.1 - n. 5 - p. 149-173 - jan./dez. 2011
153
Paola Silva, Ricardo Niehues Buss
Porém o potencial do agronegócio no Brasil não fica limitado à
produção “dentro da porteira”, um grande volume de giro de capital e
negócio referem-se a negócios realizados “fora da porteira”, incluindo
o suprimento de insumos, o beneficiamento e o processamento das
matérias-primas, além da distribuição dos produtos. O que segundo
Stefanelo (2002) reforça ainda mais a importância do agronegócio para
o Brasil.
3 A ADMINISTRAÇÃO
A administração institui-se como fator de primordial importância na direção dos negócios, de todos os negócios, afirma Fayol (2009),
indiferente de seu tamanho, grande ou pequeno, industrial, comercial,
político, religioso, agrícola, ou de qualquer outra índole.
Para Fayol (2009, p. 26), “administrar é prever, organizar, comandar, coordenar e controlar”. Já para Montana e Bruce (2010, p. 02)
a “administração é o ato de trabalhar com e por intermédio de outras
pessoas para realizar os objetivos da organização, bem como de seus
membros.”
Lacombe e Heilborn (2008, p. 48) ampliam e unificam a visão
de Fayol, Montana e Bruce, apresentando um conceito tradicional, definido como “um conjunto de princípios e normas que tem por objetivo planejar, organizar, dirigir, coordenar e controlar os esforços de
um grupo de indivíduos que se associam para atingir um resultado comum”.
Estas visões vêm ao encontro da gestão e objetivos das empresas, já que estas são organizadas de forma a atingir objetivos, seja de
lucro, produção, prestação de serviço entre tantos outros, e para atingir estes é necessário a utilização da administração (planejar, organizar,
liderar e controlar).
Diante destes fatores, pode-se apresentar uma definição mais
abrangente e explicativa de administrar, sendo ela:
Planejar, organizar, liderar, coordenar e controlar as atividades de
uma unidade organizacional, empresa ou grupo de empresas, diagnosticando suas deficiências e identificando seus aspectos positi-
154
Revista São Luis Orione - v.1 - n. 5 - p. 149-173 - jan./dez. 2011
A Administração na Pequena Propriedade Rural
vos; estabelecendo metas, planos e programas para sanar as deficiências e expandir e desenvolver os aspectos positivos; tomando
dentro de seu âmbito, as decisões e providências necessárias para
transformar em ações e realidade esses planos e programas, controlando os seus resultados, visando ao cumprimento das metas
estabelecidas. (LACOMBE; HEILBORN, 2008, p. 49).
Outros autores confirmam esta linha de pensamento através
de suas definições, como Stoner e Freeman (2010, p. 4) que afirmam
que a administração é o “processo de planejar, organizar e controlar
o trabalho dos membros da organização, e de usar todos os recursos
disponíveis da organização para alcançar objetivos estabelecidos”.
Maximiano (2010, p. 5) complementa, ainda, referindo-se a administração como sendo “o processo de tomar decisões sobre objetivos e
utilização de recursos”.
Um último conceito apresentado por Silva (2008, p. 06) refere-se à administração como “um conjunto de atividades dirigidas à utilização eficiente e eficaz dos recursos, no sentido de alcançar um ou
mais objetivos ou metas da organização.”
Outros conceitos apresentariam a mesma linha de pensamento iniciada por Fayol e ampliada ao longo do tempo, já que, a administração não é estática, está sempre em movimento, tendo que se
adaptar e evoluir acompanhando as mudanças de mercado e novas
necessidades das organizações.
As técnicas empregadas através da administração clareiam e
ampliam o poder de decisão dos gestores, por apresentar subsídios essenciais para a efetivação de planos que aumentarão a produtividade
e competitividade da empresa.
A administração ganha cada vez mais força, sendo uma ciência
que faz acontecer o resultado das demais ciências, já que age de forma
multidisciplinar, generalista e sistêmica.
3.1 A importância das funções da administração
Para que as empresas possam se desenvolver é importante
que as mesmas criem perspectivas para o futuro, aloquem de forma
Revista São Luis Orione - v.1 - n. 5 - p. 149-173 - jan./dez. 2011
155
Paola Silva, Ricardo Niehues Buss
corretas seus recursos, sejam lideradas e não menos importante que
as demais, sejam bem controladas.
Através da definição de administração de Fayol, já apresentada anteriormente, surgem os primeiros conceitos das funções de administração que, ao longo do tempo, foram adaptados e evoluíram,
porém sem perder sua essência original. Fayol (2009, p. 26) definia as
funções da seguinte forma:
•
•
•
•
•
Prever: perscrutar o futuro e traçar o programa de ação;
Organizar: construir o duplo organismo, material e social, da empresa;
Comandar: é dirigir o pessoal;
Coordenar: é ligar, unir e harmonizar todos os atos e todos os reforços;
Controlar: é velar para que tudo corra de acordo com as regras estabelecidas e as ordens dadas.
Essa ordenação e definição sofreram alterações e são motivos
de discussão entre diversos autores que tentam ampliar, sofisticar e
atualizar esta base. Porém faz-se necessário estas mudanças por conceitos que acabam engessando e passando uma realidade diferente da
sentida na prática.
Em uma visão geral os conceitos mais utilizados para representar as funções são de Stoner e Freeman (2010) e Schermerhorn
(2007), planejar, organizar, liderar e controlar. A interação desses elementos acaba por abranger os complementos dos demais itens apresentados.
O planejamento vem ao encontro de um horizonte, com objetivos e metas, para a empresa, de forma a indicar o que deve ser realizado em determinado tempo, para que a empresa cumpra com sua
programação de produção ou prestação de serviço, fazendo com que
todos os envolvidos trabalhem em sincronia para o alcance do objetivo
proposto.
Organizar refere-se ao processo de arranjo e alocação dos recursos e/ou insumos (pessoas, financeiro, máquinas, entre outros) de
forma que se atinjam os objetivos com maior eficiência. Esta organização representa fator primordial para a concretização das atividades
produtivas na empresa, por possibilitar a melhor estratégia de execu-
156
Revista São Luis Orione - v.1 - n. 5 - p. 149-173 - jan./dez. 2011
A Administração na Pequena Propriedade Rural
ção.
A liderança significa dirigir, comandar, influenciar e motivar os
colaboradores de modo que realizem suas atividades atingindo o máximo de seus desempenhos. É através da liderança que gestores inspiram entusiasmo e comprometimento na execução do planejamento,
no trabalho em equipe e no desenvolvimento pessoal e interpessoal.
E, por último, e tão importante quanto os demais, se encontra
o controle. Planejar, organizar e liderar não teria devida importância se
não fossem acompanhados e controlados durante o processo. O controle norteia todas as atividades, fazendo com que a empresa possa
reagir rapidamente a desvios de planejamento ou mesmo atividades
mal executadas. Após planejado, estabelece-se parâmetros de acompanhamento e desempenho, para que possam ser mensurados e comparados pelos gestores, e caso sejam identificados desvios, devem ser
tomadas ações corretivas.
A interação entre as funções é primordial para que se atinja o
objetivo determinado. Cada uma abrange determinada área da gestão
e se complementam durante o processo. A realização de uma sem o
cuidado de inserção e comunicação com as demais pode fazer com que
o processo não se complete, ou, seja realizado de modo ineficiente.
A empresa deve ser analisada e gerida sempre de forma holística, visualizando-a como um todo, e não como áreas fechadas e incomunicáveis. Por isso a importância de fazer com que todos os envolvidos trabalhem em função da concretização do objetivo comum e geral
da empresa.
3.2 Ambiente empresarial
O ambiente empresarial é diversificado, dinâmico e mutável,
exigindo dos gestores habilidades de acompanhamento e adaptação a
novas realidades. O ambiente de uma organização é composto por forças e instituições externas a ela que podem afetar o seu desempenho.
“O ambiente de cada organização é diferente. Em qualquer
momento, o seu caráter preciso depende do “nicho” que a empresa
demarcou para si mesma em relação à gama de produtos ou serviços
que oferece e os mercados a que atende.” (ROBBINS, 2000, p. 89). Este
Revista São Luis Orione - v.1 - n. 5 - p. 149-173 - jan./dez. 2011
157
Paola Silva, Ricardo Niehues Buss
ambiente, normalmente, é formado por fornecedores, concorrentes,
clientes, grupo de interesses especiais, sindicatos, organismos governamentais de regulação, entre tantos outros.
Montana e Charnov (2010, p. 65) descrevem algumas características sobre o ambiente externo e interno:
As organizações existem dentro de um ambiente externo complexo
que influencia a maneira pela qual os negócios são realizados. Os
principais fatores desse ambiente externo são econômicos, sociológicos, políticos e tecnológicos. Dentro desse ambiente externo
estão os fatores que afetam a organização de maneira imediata.
São os acionistas, bancos, fornecedores, sindicatos e consumidores. O ambiente interno consiste nos fatores internos à empresa.
São os recursos humanos, financeiros, tecnológicos e físicos.
Todos os fatores devem ser levados em consideração pela empresa, pois, interage com o ambiente que exerce influência sobre ela,
afetando positiva ou negativamente em seus resultados.
Se a gestão não tiver visão holística da empresa, acabará por
trabalhar os departamentos de forma isolada, não entendendo que o
conjunto é mais forte que a unidade e que as forças e fraquezas organizacionais estão diretamente ligadas ao seu ambiente interno, o qual,
ela detém total controle.
A empresa necessita se fortalecer para que possa superar as
ameaças desenvolvidas no ambiente externo e aproveitar as oportunidades que aparecerem. Para isso necessita eliminar suas fraquezas
tornando-se mais produtiva e competitiva.
3.3 A importância da administração para as empresas
Historicamente a administração sempre acompanhou o desenvolvimento das empresas e da sociedade, evoluindo e tendo suas
teorias registradas ao longo dos anos. Por mais que muitas empresas
sobrevivam sem o conhecimento de conceitos ou técnicas empregadas
na gestão, indiretamente as utilizam, mesmo que de forma rudimentar
ou por experiência adquirida.
158
Revista São Luis Orione - v.1 - n. 5 - p. 149-173 - jan./dez. 2011
A Administração na Pequena Propriedade Rural
Esta forma de gestão não representa que a empresa não terá
sucesso, porém a visibilidade e possibilidades de horizonte futuro se
reduzem consideravelmente. O poder e a rapidez das decisões tomadas hoje são muito maiores que a alguns anos atrás, isto acontece pelo
fato da renovação das informações serem muito mais rápidas, necessitando assim do gestor, agilidade no processamento das mesmas para
tomar a melhor decisão.
Quando visualizamos uma empresa de menor porte, muitos
processos são esquecidos ou mesmo colocados de lado (por um grande índice de empresas), pelo fato de a empresa ainda não comportar
áreas específicas de gestão, ou, não se dar a devida importância para
estas áreas.
Silva (2008, p. 6-7) apresenta a necessidade da administração
nas mais diversas atividades de qualquer tipo de organização, conforme as características descritas a seguir:
Administração é propositada: complementação de atividades com
outras pessoas e por elas, com o uso dos recursos;
Administração é concernente com ideias, coisas e pessoas: orientação de metas e foco na ação para alcance dos resultados administrativos/gerenciais;
A administração é um processo social: processo em que as ações
administrativas são principalmente atinentes às relações entre pessoas;
A administração é uma força coordenada: coordenação de esforços de empregados, cada um com seus próprios valores e aspirações, em um programa organizacional;
A administração é concernente com esforços de equipes: o alcance de certos objetivos é mais fácil por uma equipe do que por um
indivíduo trabalhando sozinho;
A administração é uma atividade: é necessário discernimento para
a distinção dos conhecimentos e habilidades exigidas para seu desempenho;
A administração é um processo composto: pelas funções planejamento, organização, direção e controle, que não podem ser desempenhadas independentemente; a realização de cada uma delas
interfere nas demais;
A administração age como força criativa e revigorante na organi-
Revista São Luis Orione - v.1 - n. 5 - p. 149-173 - jan./dez. 2011
159
Paola Silva, Ricardo Niehues Buss
zação: o resultado da atividade, em algumas situações, é maior do
que a soma total dos esforços colocados pelo grupo; essa sinergia,
em resumo, provê vida para a a organização;
A administração é uma disciplina dinâmica: as funções administrativas são orientadas para o crescimento organizacional, não sendo
passivas, mas de comportamento ajustável e adaptável às necessidades deste crescimento;
A administração é intangível: é uma força invisível, cuja presença é
evidenciada pelos resultados de seus esforços, que são, por exemplo, ordenação, saídas adequadas de trabalho, clima de trabalho
satisfatório, satisfação pessoal dos funcionários etc.
A importância da administração na empresa é, sem dúvida,
primordial para o sucesso da mesma, já que engloba uma série de áreas necessárias e vitais para o seu desenvolvimento e sustentabilidade.
A área de atuação da administração é muito ampla, o que demonstra a sua multidisciplinariedade e a sua generalização. Segundo o
CRA-SP (2011), a área de atuação da administração são: administração
financeira, administração de material, administração mercadológica,
administração de produção, administração e seleção de pessoal e RH,
orçamento e organização e métodos e programas de trabalho. Porém
cada uma dessas áreas encontra diversas subáreas, tornando a administração ampla e generalista.
Para uma boa gestão o conhecimento em administração pode
representar um grande diferencial competitivo, seja pela agilidade na
tomada de decisão, ou na resolução de problemas, o fato é que a empresa, de qualquer tipo que seja ou seguimento em que atue, necessita de administração.
A visão individual de processos, ou áreas específicas de uma
empresa dificulta a gestão, já que a empresa é uma só e não apenas
pequenas partes incomunicáveis e autônomas. A percepção holística
da organização sistematiza a comunicação entre as partes, fazendo
com que todos os esforços estejam voltados para o alcance de um objetivo comum.
O entendimento de áreas como produção, finanças, mercado
e gestão de pessoas é crucial para a maximização da produção e aumento do desempenho organizacional e das pessoas que compõe a
160
Revista São Luis Orione - v.1 - n. 5 - p. 149-173 - jan./dez. 2011
A Administração na Pequena Propriedade Rural
empresa.
Uma empresa rural ou agrícola possui todas as características
de uma organização industrial ou de serviços, porém com suas particularidades, e a maior dificuldade de gerenciá-las e torná-las mais
produtivas é a falta de conhecimento e utilização da administração em
benefício da empresa.
4 EMPRESA RURAL
Organização é um conjunto de pessoas trabalhando juntas visando alcançar um objetivo comum. Este conceito expressa a definição
de todos os tipos de empresas, indiferente do ramo de atividade ou
tamanho.
A empresa rural segue o mesmo preceito, tendo seus recursos – pessoas, máquinas, produtos – alocados de forma organizada na
concretização do objetivo determinado.
Crepaldi (1998, p. 23), define empresa rural como sendo “a
unidade de produção em que são exercidas atividades que dizem respeito a culturas agrícolas, criação do gado ou culturas florestais, com a
finalidade de obtenção de renda.”
Marion (2002, p. 24), complementa a definição de empresa
rural afirmando que “são aquelas que exploram a capacidade produtiva do solo por meio do cultivo da terra, da criação de animais e da
transformação de determinados produtos agrícolas.” O mesmo autor
apresenta ainda que a atividade da empresa rural pode ser dividida
em:
•
•
•
Produção Vegetal (atividade agrícola): aborda a cultura hortícola e forrageira (cereais, hortaliças, tubérculos, especiarias, floricultura,...) e a arboricultura (florestamento, pomares, vinhedos,...);
Produção Animal (atividade zootécnica): criação de animais (apicultura,
avicultura, pecuária, piscicultura, entre outros);
Indústrias Rurais (atividade agroindustrial): beneficiamento do produto
agrícola, transformação de produtos zootécnicos e agrícolas.
A empresa rural é uma unidade de produção de alcance mais
Revista São Luis Orione - v.1 - n. 5 - p. 149-173 - jan./dez. 2011
161
Paola Silva, Ricardo Niehues Buss
amplo, que possui elevado nível de capital de exploração e alto grau de
comercialização, onde são associados recursos como terra, trabalho,
capital, tendo o intuito de se atingir o objetivo principal ou o fim econômico a que se destina.
A empresa rural, indiferente de seu tipo, é unificada por um
conjunto de recursos e insumos, denominados por Crepaldi (1998), de
fatores da produção, sendo eles:
•
•
•
O capital: que representa o conjunto de bens alocados sobre a terra, e
possuem o objetivo de aumentar sua produtividade e ainda facilitar e melhorar a qualidade do trabalho humano;
A terra: onde são aplicados os capitais e se trabalha para obter a produção;
O trabalho: é o conjunto de atividades desempenhadas pelo homem.
Segundo a Receita Federal (2011), a legislação tributária considera atividade rural como sendo:
[...] a exploração das atividades agrícolas, pecuárias, a extração e
a exploração vegetal e animal, a exploração da apicultura, avicultura, suinocultura, sericicultura, piscicultura e outras de pequenos
animais; a transformação de produtos agrícolas ou pecuários, sem
que sejam alteradas a composição e as características do produto
in natura, realizada pelo próprio agricultor ou criador, com equipamentos e utensílios usualmente empregados nas atividades
rurais, utilizando-se exclusivamente matéria-prima produzida na
área explorada, tais como: descasque de arroz, conserva de frutas,
moagem de trigo e milho, pasteurização e o acondicionamento do
leite, assim como o mel e o suco de laranja, acondicionados em
embalagem de apresentação, produção de carvão vegetal, produção de embriões de rebanho em geral (independentemente de sua
destinação: comercial ou reprodução).
Esta unificação entre terra, capital e trabalho remete a uma
rede interligada complexa e sistematizada, em que um fator acaba
sendo dependente do outro influenciando de forma positiva ou negativa o resultado final.
162
Revista São Luis Orione - v.1 - n. 5 - p. 149-173 - jan./dez. 2011
A Administração na Pequena Propriedade Rural
Porém essa conexão de dependência existente entre as áreas
possui um elo comum de ligação, a gestão, que pode facilitar o trabalho e interlocução dos fatores maximizando a produção e lucro ou (se
mal realizada) dificultar o processo causando possíveis perdas e prejuízos à empresa.
Não é de hoje que pequenos produtores rurais têm dificuldades em se estabelecerem no mercado, sua força perante a grandes
produtores ainda é pequena, seja em estrutura, produção, custos e
organização. Porém a falta de planejamento e estratégias viáveis que
possam auxiliá-las a se posicionarem no mercado, criando oportunidades ainda é muito visível.
E um dos fatores que enfraquecem os pequenos produtores é
a falta de gestão profissionalizada em suas empresas. Ainda existe uma
enorme resistência na qualificação da gestão, deixar de produzir de
modo artesanal para entrar em um modelo profissional. Isso não quer
dizer grandes mudanças, muitas vezes pequenas alterações no processo, no trato com os colaboradores e com o planejamento da produção
e comercialização podem representar um grande avanço competitivo.
4.1 Gestão da propriedade rural
A administração rural se caracteriza por um conjunto de atividades que objetivam o planejamento, organização comando e controle da propriedade rural, provendo subsídios para a tomada de decisão
pelo produtor/gestor rural, de modo que esse possa gerenciar as atividades, maximizar a produção, minimizar custos, obtendo dessa forma,
melhores resultados econômico-financeiro.
A gestão de uma propriedade rural hoje encontra tantos desafios quanto qualquer outra organização, porém por ser constituída
em sua maioria por empresas familiares enfrenta desafios antagônicos
como o amor e o dinheiro.
Drucker (2011), um dos mais respeitados pensadores de negócios da atualidade, apresenta a importância da informação no processo de geração de renda para as empresas:
A sociedade de hoje já é, em boa parte, pós-capitalista. Vivemos
Revista São Luis Orione - v.1 - n. 5 - p. 149-173 - jan./dez. 2011
163
Paola Silva, Ricardo Niehues Buss
em uma sociedade da informação. Não há nada mais fácil do que
ganhar dinheiro hoje em dia, contanto que você disponha da informação correta. Isso não acontecia no passado.[...]Nessa sociedade
do conhecimento, a concorrência não se baseia no dinheiro que
se tem, e sim na capacidade de tornar o conhecimento produtivo.
Muitos produtores utilizam conceitos e práticas de administração em suas propriedades de modo a melhorar a produtividade, em
contra partida muitos não estão preparados, sendo necessário o investimento em técnicas de gestão, para proporcionar o crescimento da
propriedade, ou, em alguns casos, a própria sobrevivência do mesmo.
O grande gargalo ao se falar sobre a administração e sua aplicação nas propriedades rurais encontra-se no conhecimento prático.
O gargalo aqui está ao mesmo tempo na prática, porém em esferas
diferentes, ou seja, enquanto o produtor conhece e sabe fazer muito
bem o manejo, o plantio e a criação, acaba pecando (em uma grande
parcela dos casos) na gestão administrativa, no controle de finanças,
planejamento, gestão de pessoas, etc.
É comum aparecerem perguntas e dúvidas como: minha produção não paga as dívidas? Quais credores serão pagos? Como será
plantada a próxima safra? Será que o governo ajudará? Será que o preço do produto vai subir?
O gestor da propriedade, como forma de responder as questões que norteiam a empresas a partir do conhecimento adquirido e
das informações disponíveis deve decidir qual a melhor forma de utilizar os recursos (capital, insumos, humanos e tecnologia) que serão utilizados na transformação de produtos finais. A seguir será apresentada
a importância da administração para a propriedade rural em várias esferas da gestão.
4.1.1 Gestão financeira, orçamentária e de capital
A gestão financeira é uma área complexa na propriedade rural,
principalmente quando a propriedade é familiar. A falta de clareza e de
divisão da empresa/família cria grandes problemas financeiros para a
empresa.
164
Revista São Luis Orione - v.1 - n. 5 - p. 149-173 - jan./dez. 2011
A Administração na Pequena Propriedade Rural
A dificuldade neste sentido está em conseguir manter um capital de giro necessário para o bom funcionamento da empresa, já que
este acaba se confundindo com o “capital de giro pessoal”, onde retiradas constantes e não programadas acabam originando falta de caixa
para custos de produção e investimentos.
As variáveis encontradas pela propriedade perante o ambiente
em que convive a empresa, como sazonalidade, incertezas ambientais
e econômicas, forçam um aperfeiçoamento técnico em orçamento e
finanças, de modo a reduzir ameaças e surpresas para o gestor durante
o processo produtivo, além desses fatores, o gestor obtém um controle sobre as finanças, o que é fundamental para a tomada de decisão
sobre a saúde financeira da propriedade.
Para Lourenzani (2003, p. 9) “A administração dos recursos financeiros de um estabelecimento rural tem como objetivo avaliar a
viabilidade dos investimentos produtivos frente aos recursos disponíveis.”
É primordial, ainda, que todas as informações sobre receitas
e despesas sejam identificadas, analisadas e interpretadas, como forma de facilitar a escolha entre as alternativas de produção mais viável.
(SELLA, ICHIKAWA, LOPES, 2008).
O controle do fluxo de caixa, dos custos e do orçamento quando não elaborados ou mal executados pode apresentar sérios riscos
para a organização, como:
•
•
•
•
•
•
Investimentos supérfluos, mal dimensionados ou realizados em momentos inapropriados;
O desconhecimento financeiro e do resultado do negócio;
Exploração da atividade apenas pela intuição do gestor;
Facilidade em endividar-se;
Perda de ganho na produtividade, devido elevados custos e possível aumento do preço dos produtos;
Desenvolvimento e crescimento da propriedade sem uma base sólida.
Estes riscos indicam elementos que para Iribarrem (2011),
criam a necessidade de reestruturação na gestão da propriedade,
sendo eles o alto endividamento, aumento do custo financeiro, desca-
Revista São Luis Orione - v.1 - n. 5 - p. 149-173 - jan./dez. 2011
165
Paola Silva, Ricardo Niehues Buss
pitalização, margens de lucros declinantes, escassez ou aumento dos
custos dos insumos e serviços, eventos climáticos, a falta de crédito e
políticas governamentais.
Estes elementos são eliminados ou acaba influenciando pouco
a propriedade no momento em que o gestor toma atitudes proativas
na forma de administrar a empresa e de tomar decisões.
Soluções e práticas de gestão como a elaboração de um orçamento, fluxo de caixa, contas a receber, mensuração e controle do
capital investido em recursos, controle dos custos, conhecimento do
endividamento da empresas, linhas de crédito entre tantas outras podem representar a diferença entre o sucesso produtivo e econômico
para a propriedade rural.
4.1.2 Gestão de produção e material
A produção de uma empresa é a razão de ser de uma empresa, é aqui que os recursos são destinados a produção de bens e/ou
serviços, por isso a importância de uma boa administração para a maximização dos resultados. Administrar bem uma produção é tomar decisões quanto aos recursos a serem utilizados pela propriedade rural,
visando então melhorar a produtividade.
Quando não planejada a produção da propriedade, os riscos
de insucesso ou de ineficiência aumentam consideravelmente. Ao se
planejar a produção entramos em uma ampla gama de fatores importantes para o bom andamento do processo. Caso seja uma propriedade agrícola, por exemplo, a mensuração do que e quanto produzir, a
época, a compra da matéria prima, a demanda e mercado, entre tantos outros fatores devem ser observados, o mesmo acontece com a
pecuária.
Entretanto, a importância da administração dessa etapa vai
além de plantar, colher, produzir, sendo necessária uma boa gestão do
antes, compra de insumos, e o depois, armazenamento e transporte.
Todo esse processo envolve técnicas que visualizem a cadeia de suprimentos, a cadeia produtiva, a capacidade da empresa e a logística
envolvida para que se possa produzir com qualidade a um custo baixo.
O desafio do gestor está em reduzir custos, através da gestão
166
Revista São Luis Orione - v.1 - n. 5 - p. 149-173 - jan./dez. 2011
A Administração na Pequena Propriedade Rural
ideal da cadeia de suprimentos onde a propriedade está inserida, buscando agregar o maior valor possível ao produto. Porém, para uma boa
produção, seu planejamento se faz necessário, assim como a análise
de custeio e o controle do processo, visando outro fator importante
desta área, a qualidade.
O fator importante dos gestores da produção é a preparação
para desenvolver as operações que atendam aos desafios a que estão
submetidas às propriedades rurais. O gestor, nesse processo, encontra-se envolto a um ambiente desafiante, no qual apenas produzir já
não é mais suficiente.
Hoje não se pode mais falar em produção sem se falar em
sustentabilidade, principalmente em propriedades rurais, onde, dependendo da atividade, o impacto sobre o ambiente pode acarretar
consequências desastrosas sob o produto e até mesmo ao seu meio
de comercialização.
A utilização da tecnologia e da informação apropriada acarretam maior produtividade pela melhor utilização dos recursos produtivos, fazendo com que a propriedade rural seja mais atualizada e
competitiva no mercado em que atua.
A integração entre as compras, a estocagem, produção e consecutiva venda é primordial para a redução de custos e planejamento
produtivo. Essa integração/comunicação representa uma ponte para
a eficiência produtiva e maximização do processo produtivo, porém
sua construção requer atenção especial por parte da gestão, por ter
que gerir (estreitar laços com fornecedores, organizar ambiente interno produtivo e satisfazer a necessidade de seus clientes) toda cadeia
produtiva.
O armazenamento e transporte são outros fatores que, quando mal administrados, aumentam as perdas e os custos. Não é à toa
que hoje a logística está cada vez mais evidente nas empresas, representando o diferencial competitivo tão almejado.
4.1.3 Gestão mercadológica
O marketing na propriedade rural apresenta-se como um conjunto de ações, estratégias adotadas pela empresa que são voltadas
Revista São Luis Orione - v.1 - n. 5 - p. 149-173 - jan./dez. 2011
167
Paola Silva, Ricardo Niehues Buss
para atender aos anseios dos clientes, de modo lucrativo para a empresa.
A preocupação do gestor, nesta área, vai desde a concepção
do que será produzido até a entrega final e garantia de satisfação do
cliente. Essa concepção mercadológica deve ser muito trabalhada, pois
pode representar o “acerto do que produzir” ou o “erro do produto
final”.
Desse modo, é fundamental a elaboração de um plano de marketing que representa uma ferramenta estratégica gerencial usada
para identificar as forças, fraquezas, ameaças e oportunidades que o
mercado proporciona a empresa (propriedade rural). Assim, o gestor
da empresa é estimulando a criar metas e objetivos, não se acomodando, procurando conhecer as necessidades e desejos dos seus clientes,
forçando, desta forma, o constante desenvolvimento da propriedade.
Ao se falar em marketing, não podemos deixar de falar em
Kotler (2000) e os 4 “Ps” de marketing, produto, preço, praça e promoção, indispensáveis para qualquer organização; e muitas vezes, esquecida principalmente em pequenas propriedades rurais.
O produto deve suprir as expectativas do mercado em termos
de qualidade e forma de apresentação, pode-se verificar neste item a
agregação de valor ao produto e certificações.
Quanto ao preço, este deve cobrir os custos e oferecer margem de lucro adequada. Também deve levar em consideração os preços dos concorrentes e os preços que o mercado está disposto a pagar.
O terceiro “P” refere-se a expressão praça, que vem a ser o
local de venda do produto final (feira do pequeno produtor, indústrias,
mercados, são alguns exemplos) bem como, o seu transporte e armazenamento (respeitando as especificidades de ada produto).
O último “P”, promoção, indica todo o tipo de comunicação
necessária para “convencer” o consumidor a preferir o produto, em
relação aos outros. Refere-se ainda à toda propaganda e publicidade,
à promoção de vendas, a malas-diretas e merchandising (no caso da
pequena propriedade, degustação, feiras, exposições, entre outros),
ou seja, todo o empenho para as vendas.
O marketing, quando bem estruturado, proporciona ao gestor
da propriedade uma visão sistêmica dos processos e da organização,
168
Revista São Luis Orione - v.1 - n. 5 - p. 149-173 - jan./dez. 2011
A Administração na Pequena Propriedade Rural
entendendo onde os esforços devem estar concentrados, de modo a
potencializar os pontos fortes, tirar melhor proveito das oportunidades, eliminar fraquezas e minimizar possíveis ameaças.
Entender a importância do marketing para atuar de forma mais
precisa no mercado (em seus nichos) vem a ser uma grande vantagem
para propriedades rurais conhecer de forma mais precisa seus clientes,
detectando com maior eficiência suas necessidades transformando-as
em oportunidades.
O entendimento e a reflexão da situação atual da propriedade
e o conhecimento do mercado em que a mesma está inserida auxiliará
o gestor a tomar as melhores decisões e elaborar as ações estratégicas
que visam transformar as ameaças em oportunidades e pontos fracos
em pontos fortes.
4.1.4 Administração e recursos humanos
Este pode representar, hoje, um dos maiores problemas das
pequenas propriedades rurais. A falta de mão de obra qualificada,
comprometida, problemas de caros e salários entre ouros fatores prejudicam que ela se firme e se desenvolva de forma estruturada no mercado.
Todo o problema se inicia com a contratação e acertos mal
resolvidos, onde horários e dias trabalhados não são acordados e respeitados, desgastando os colaboradores. No caso da propriedade ser
extremamente familiar, um dos maiores problemas é a desmotivação
por falta de tempo para lazer e descanso, já que dependendo da atividade produtiva não há dia para descanso.
A falta de maleabilidade e trato pessoal em muitos gestores de
pequenas propriedades prejudica o relacionamento e o compromisso
dos colaboradores com o trabalho. Este é um dos fatores que justifica
a grande rotatividade de colaboradores no meio.O que falta nestes casos é a habilidade de administrar, de gerir as pessoas, respeitando os
direitos e acordos estabelecidos no contrato e legislação.
O desenvolvimento dos colaboradores em muitos casos não
recebem investimentos por falsas impressões de evasão para outras
empresas pela busca de melhores salários. Quando não há satisfação,
Revista São Luis Orione - v.1 - n. 5 - p. 149-173 - jan./dez. 2011
169
Paola Silva, Ricardo Niehues Buss
não será apenas o salário que irá segurar o colaborador, e sim uma
série de fatores, cabe ao gestor estar atento as demandas dos mesmos. A capacitação deve acontecer indiferente do medo de perder o
colaborador, já que este estará, em tese, promovendo o trabalho na
propriedade e qualquer melhora que ele receba refletirá no processo
produtivo, podendo gerar redução de custos, aumento da produção e
melhoria na margem de lucro.
Este é um fator muito importante e decisivo para a empresa
rural, que, em sua grande maioria, é formada por pessoas com pouco
grau de instrução que estão aquém de uma boa gestão seja administrativa ou de pessoas. Os trabalhadores rurais também apresentam
estas características, são prestativos, mas em sua grande maioria não
sabem tomar medidas que dependam de criatividade e iniciativa.
O gestor da propriedade rural “deverá tomar certos cuidados
como, por exemplo, escolher os melhores funcionários para cada tarefa, de acordo com as capacidades individuais.” (BARBOSA, 2011). A implantação de processos e definição das atividades também devem ser
elaboradas e implementadas, auxiliando os colaboradores na melhor
execução de suas funções.
A contemplação dos direitos dos colaboradores, a preocupação com as funções que exercem (estas de acordo com a capacidade
e limitação pessoal de cada um), controle de performances, capacitações, entre outros fatores, devem ser vistos com muito cuidado pelo
gestor da propriedade rural, já que estão diretamente ligados ao desempenho produtivo de cada colaborador e que refletirá na produtividade e continuidade da empresa.
A administração vai muito mais além do que o estudo e aplicação de algumas áreas específicas, ela é abrangente e envolve uma
série ferramentas e tomadas de decisões que visam melhorar o processo, a produtividade e a qualidade de vida dos que trabalham na
propriedade rural, com a finalidade última de maximizar os lucros.
5 CONCLUSÃO
A administração rural se caracteriza por um conjunto de atividades que objetivam o planejamento, organização, comando e contro-
170
Revista São Luis Orione - v.1 - n. 5 - p. 149-173 - jan./dez. 2011
A Administração na Pequena Propriedade Rural
le da propriedade rural, provendo subsídios para a tomada de decisão
pelo produtor/gestor rural, de modo que esse possa gerenciar as atividades, maximizar a produção, minimizar custos, obtendo, dessa forma,
melhores resultados econômico-financeiro.
Ficou evidente que pequenos produtores rurais têm dificuldades em se estabelecerem no mercado, sua força perante aos grandes
produtores ainda é pequena, seja em estrutura, produção, custos e
organização, derivadas em geral pela falta de conhecimento, ou seja,
de planejamento e estratégias viáveis que possam auxiliá-las a se posicionarem no mercado tornando-as mais competitivas.
Como apresentado, vários fatores contribuem para o enfraquecimento dos pequenos produtores, sendo o principal a falta de gestão profissionalizada. A falta de conhecimento e prática administrativa
impede que se planejem atividades futuras, o fato de se conhecer o
ciclo de vida em que a propriedade rural se encontra ajuda a antecipar
futuros problemas e evitar desgastes que possam surgir na empresa.
A gestão de uma propriedade rural, como discutido, encontra tantos desafios quanto qualquer outra organização, porém por ser
constituída em sua maioria por empresas familiares enfrenta desafios
antagônicos como o amor e o dinheiro.
Portanto, o processo de administração vai muito além do que
o estudo e aplicação de algumas áreas específicas, ela é abrangente
e envolve uma série ferramentas e tomadas de decisões que visam
melhorar o processo, a produtividade e a qualidade de vida dos que
trabalham na propriedade rural, com a finalidade última de maximizar
os lucros.
Este trabalho cumpriu com sua proposta de criar uma discussão sobre a administração na propriedade rural, seguindo uma linha de
pensamento construtiva, onde se visualizou o agronegócio, a essência
da administração e o quanto ela é fundamental para as organizações
até entrar na área específica da pequena propriedade rural.
Os desafios são muitos, principalmente para essa característica de empresa que possui, em sua maioria, pouco profissionalismo administrativo, mas muita vontade de fazer acontecer. Cabem aos gestores destas propriedades buscarem informação e conhecimento, novas
tecnologias e ferramentas de modo a fortalecer a empresa e torná-la
Revista São Luis Orione - v.1 - n. 5 - p. 149-173 - jan./dez. 2011
171
Paola Silva, Ricardo Niehues Buss
mais competitiva.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARBOSA, Natália Ferreira. Recursos humanos na empresa rural.
Disponível em: <http://www.administradores.com.br/informe-se/
artigos/recursos-humanos-na-empresa-rural/33643/>. Acesso em: 20
set. 2011.
BATALHA, Mário Otávio. Gestão agroindustrial. 2. ed. São Paulo: Atlas,
2001.
CALLADO, Antonio A. Cunha. Agronegócio. São Paulo: Atlas, 2006
CRA-SP.
Disponível
em:
<http://www.crasp.gov.br/index.
asp?secao=55>. Acesso em: 29 maio 2011.
CREPALDI, Sílvio Aparecido. Contabilidade rural: uma abordagem
decisorial. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1998.
DAVIS, J. H., GOLDBERG, R. A. A concept of agribusiness. Division of
research. Graduate School of Business Administration. Boston: Harvard
University, 1957.
DRUCKER, Peter. Liderança é conversa fiada. Disponível em: <http://
exame.abril.com.br/revista-exame/edicoes/0861/noticias/liderancae-conversa-fiada-m0080578>. Acesso em: 23 jul. 2011.
FAYOL, H. Administração industrial e geral. 10. ed. São Paulo: Atlas,
2009.
IRIBARREM, C. B. Disponível em: <www.safrasecifras.com.br>. Acesso
em: 14 jul. 2011.
JORGE, José Tadeu. Agronegócio e desenvolvimento. O Estado de São
Paulo, São Paulo, 06 out. 2005. Disponível em: <http://www.fazenda.
172
Revista São Luis Orione - v.1 - n. 5 - p. 149-173 - jan./dez. 2011
A Administração na Pequena Propriedade Rural
gov.br/resenhaeletronica/MostraMateria.asp?page=&cod=232783>.
Acesso em: 24 jun. 2011.
KOTLER, Philip. Administração de Marketing: a edição do novo milênio.
10. ed. São Paulo: Prentice Hall, 2000.
LOURENZANI, W. L Gestão da empresa rural: uma aborda­
gem
sistêmica.Faculdade de Economia, Administração e Contabi­lidade de
Ribeirão Preto / USP – out. 2003.
MARION, José Carlos. Contabilidade rural. 7. ed. São Paulo: Atlas,
2002.
MONTANA, P.J.; CHARNOV, B. H. Administração. 3. ed. São Paulo:
Saraiva, 2010.
RECEITA FEDERAL. Disponível em: <http://www.receita.fazenda.gov.
br/PessoaJuridica/DIPJ/2003/PergResp2003/pr39a74.htm>. Acesso
em: 15 ago. 2011.
SELLA, F. V.; ICHIKAWA, E. Y.; LOPES, P. Disponível em: <http://www.
admpg.com.br/revista2008/artigos/ARTIGO2013%20COMPLETO.pdf>.
Acesso em: 02 maio 2011.
SILVA, R. O. da. Teorias da administração. São Paulo: Pearson, 2008.
STEFANELO, Eugênio L. Agronegócio brasileiro: propostas e tendências.
Revista FAE Business. n. 3, set. 2002.
Revista São Luis Orione - v.1 - n. 5 - p. 149-173 - jan./dez. 2011
173
Download

A Administração na Pequena Propriedade Rural Administration In a