REFLEXÕES SOBRE A CONSULTA PARA A ESCOLHA DE DIRETOR – CONVERSA COM OS FUNCIONÁRIOS Visitamos todos os setores do IFGW. A conversa sempre começou com um pequeno resumo de nossas principais contribuições para a Instituição durante os períodos em que atuamos na administração (eu, como coordenador de graduação, chefe de departamento, e assessor do reitor, e a Carola, como vice e coordenadora de graduação, vice-diretora, diretora interina, e chefe de departamento). Em especial discuti o chamado Banco de Horas, iniciativa que construí como chefe do Departamento de Eletrônica Quântica (DEQ). O Banco de Horas foi uma boa iniciativa, por vezes avaliada negativamente por ocasião da eleição anterior e, por isso, exigia uma explicação para todos os funcionários. Contei que quando fui eleito chefe do DEQ, visitei todos os grupos de pesquisa e conversei com professores e funcionários. Na ocasião, perguntei o que os funcionários faziam, o que sabiam fazer, e o que de fato haviam feito nos últimos meses. Nestas conversas, verifiquei que muitos funcionários haviam adquirido novos conhecimentos e habilidades técnicas desde suas contratações ou transferências para o DEQ. Os professores indicaram que suas maiores necessidades estavam ligadas aos serviços prestados do IFGW. O Banco de Horas consistia em um serviço voluntário (na ocasião, na apresentação do programa, um dos funcionários disse que não gostaria de participar e seu desejo foi respeitado sem, obviamente, que seu nome fosse divulgado) onde cada chefe de grupo concedia 4 horas por semana de seu funcionário para atender outros grupos, nas seguintes condições: (1) valia dizer “não” e esse “não” não seria registrado; (2) o “sim” poderia ser qualificado: “sim” agora, “sim” amanhã, “sim” na semana que vem etc. Os professores do DEQ aceitaram a proposta e o Banco de Horas foi usado cerca de 530 vezes durante minha gestão de chefe. Chamei a atenção que embora, sob o ponto de vista administrativo, o Banco tenha sido um sucesso, ele carregava distorções e dificuldades: (1) Em média, o programa aumentou a quantidade de serviço dos funcionários, pois eles continuaram prestando o mesmo auxílio de antes aos seus chefes imediatos e só trabalharam no Banco quando estavam disponíveis, (2) Alguns funcionários trabalharam muito mais do que outros, devido à sua eficiência ou conhecimento técnico específico; (3) Aumentou serviço sem ganho salarial (isso, na ótica de alguns funcionários, foi o maior motivo de reclamações). É importante salientar que durante todo o período de existência do Banco, não tive oportunidade de avaliálos, uma vez que processos de avaliação haviam sido interrompidos em 1998 e só estariam recomeçando neste ano de 2006. Falei em todas as minhas conversas que, se eleito diretor, eu não reeditaria o Banco de Horas para o Instituto, mas eu realizaria a primeira parte do projeto, perguntando a cada professor o que ele precisa para funcionar melhor e perguntando a cada funcionário o que ele fazia e o que ele sabia fazer. Tenho certeza que se o Instituto não evoluir no que diz respeito ao seu corpo de funcionários, ele vai ficar cada vez mais obsoleto e dificilmente se manterá entre os bons institutos de física do planeta (de fato, pelo investimento atual, já deveríamos estar entre os melhores). Durante nossas conversas com os funcionários, aprendemos que existe uma distância muito grande entre a administração do IFGW e o dia-a-dia dos funcionários. Aprendemos que é muito comum um funcionário ser considerado ineficiente sem nunca ter recebido de seu chefe imediato uma informação precisa sobre o que se espera dele. O Instituto, de certa forma, tem fechado suas portas de comunicação com os funcionários. É preciso ouvi-los nas diversas instâncias do Instituto. É preciso dizer claramente o que esperamos deles e ajudá-los a se encaixar em suas missões dentro da instituição. Reconhecemos que o ambiente de trabalho não está bom (isso foi dito por eles) e propusemos a criação de um setor que tratasse profissionalmente das relações humanas dentro da Instituição. Este setor de Relações Humanas, além de registrar o papel de cada um, deveria ajudar os funcionários a encontrar o seu melhor papel dentro da missão institucional. Em todas as nossas conversas, os funcionários ou parte deles reclamaram que seus salários estão defasados e que foram prejudicados nas últimas rodadas de promoções. Será que os salários do Instituto estão ruins? Será que os salários estão ruins frente aos do mercado de trabalho? E frente aos salários do restante da universidade? Os serviços prestados estão de acordo com estes salários? Não seria importante responder estas perguntas e esclarecer esse assunto junto à comunidade? O pretenso setor de Relações Humanas deveria auxiliar os funcionários a compreender as regras de promoção, analisar as reclamações existentes, e servir como uma “ouvidoria” dos funcionários e com isso ajudá-los a superar as frustrações de promoções rejeitadas. As regras de promoções deveriam sempre ser publicadas com grande antecedência para permitir uma boa compreensão sobre elas e uma reação construtiva dos funcionários frente às expectativas da instituição, estabelecidas por estas regras. Saímos de todas as reuniões com a (inocente) sensação de que nossas propostas estavam sendo bem aceitas pela comunidade de funcionários.