PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO ENTRE REALIDADE: uma apresentação de duas escolas do estado do Rio de Janeiro Jeanete Simone Fendeler Höelz¹, Cintia de Assis Ricardo, Priscila Aleixo da Silva 1. [email protected] Resumo O final do século XX, no Brasil,foi marcado por mudanças no cenário educacional oriundas por influências em amplitudes globais com bases neoliberais, e por reflexos gerados por lutas em prol de uma educação mais humanizada e direcionada para a formação de um cidadão crítico e reflexivo. Essas mudanças, pautadas em aspectos paradoxais, foram germinadas durante algumas décadas, em principal a década de 1980. No entanto foi na década de 1990 que ações governamentais, amparadas por políticas públicas educacionais, tomaram maiores proporções, surgindo assim leis e decretos que moldaram a nova forma de se conceber a escola e o ensino. O presente artigo pretende expor o processo histórico, a definição e as etapas constituintes do Projeto Político Pedagógico (PPP)da escola, enfocando sua nova roupagem pautada na autonomia e democratização da gestão escolar. Por fim, apresentaremos os PPPs de duas escolas do Estado do Rio de Janeiro, a fim de observar e apontar possíveis transformações que um Projeto Político Pedagógico elaborado apropriadamente pode gerar no interior de uma escola. Palavras chaves: Projeto Democratização. Autonomia. Político Pedagógico. Aspectos constituintes do PPP. Abstract The late twentieth century, in Brazil, was marked by changes in the educational scenario derived by influences on global amplitudes with neoliberal bases, and by reflections generated by struggles towards a more humanized education and oriented to the formation of a critical and reflexive citizen. These changes, guided on paradoxical aspects, were germinated for several decades, leading the 1980s. However it was in the 1990s that government action, supported by public educational policies, have taken major proportions, rising as well laws and decrees that have shaped the new way to design school and teaching. This article aims to expose the historical process, the definition and the constituent steps of the school Pedagogical Policy Project, focusing on its new guise guided by autonomy and democratization of school management. Finally, we present the PPPs of two state schools in Rio de Janeiro in order to observe and identify possible changes that a Pedagogical Political Project properly prepared can generate within a school. Key words: Pedagogical Policy Project. PPP constituent aspects. Democratization. Autonomy. Introdução O presente artigo propõe uma reflexão sobre o contexto contemporâneo das organizações escolares no que se refere a sua operacionalidade interna. Optamos por compreender a transformação do Projeto Político Pedagógico, em um instrumento mais orgânico no cerne do contexto escolar. Para alcançar nossas pretensões iniciamos o trabalho com um breve perpassar pelo contexto de transformações históricas com foco político-social enfatizando as décadas de 1980 e 1990 no que tange aspectos relacionados ao cenário educacional brasileiro. Prosseguimos com a definição do que seria a nova concepção da Proposta Pedagógica pautada na autonomia escolar e na gestão pedagógica. Apresentamos as etapas constituintes do Projeto Político Pedagógico (PPP) que cada escola deve construir considerando sua diversidade e organicidade interna. Por fim, finalizamos a presente obra com a apresentação de duas escolas públicas situadas no estado do Rio de Janeiro. Nos limites desse trabalho procuramos refletir sobre as influencias que os PPPs possuem sobre a organização das atividades, das ações no interior da escola, levando em consideração o contexto social dos sujeitos-alunos, do corpo dirigente da escola, dos pais e da comunidade. Acreditamos que todos esses agentes são responsáveis pelo papel que a escola representa no local em que está inserida. Referencial Teórico Aspectos históricos A atualidade está envolta pela difusão da informação e do conhecimento. Notadamente o uso e a manipulação da informação passaram a intervir na economia, na política e na cultura. Esses aspectos tornaram o conhecimento e a informação recursos cruciais para a produção de riquezas e aquisição de poder. As consequências de tais mudanças juntamente com diversos fatores, acarretaram na valorização da formação do indivíduo pautada na aquisição de conhecimento legitimado pelas instituições. Nesse contexto, é necessário evidenciar, que há uma retórica que aloca a educação como fator equalizador para tornar possível a “igualdade de oportunidades”. No entanto, o Brasil possui números que representam uma alta taxa de indivíduos a margem do sistema educacional. Shiroma, Moraes e Evangelista, apresentam dados referentes à década de 1980, que ilustra a afirmação anterior: (...)50% das crianças repetiam ou eram excluídos ao longo da 1ªsérie do 1°grau; 30% das crianças estavam fora da escola. Além disso, 8 milhões de crianças no 1º grau tinham mais de 14 anos, 60% das matriculas concentravam-se nas três primeiras séries que reuniam 73% das reprovações. Ademais é importante lembrar que 60% da população brasileira viviam abaixo da linha da pobreza. (2007, p.37): Visando diminuir o abismo da desigualdade educacional, políticas públicas são implementadas em todos os níveis de ensino. Aqui pretendemos analisar aspectos específicos relacionado são o surgimento de uma Proposta Pedagógica direcionada a alcançar aspectos peculiares que abrange as diversidades encontradas em cada espaço escolar. Buscamos analisar uma Proposta que surge no interior de cada escola, e não como regra universal distribuída por governos vigentes. Como acentua Veiga (2003, p.4) a escola não tem mais possibilidade de ser dirigida de cima para baixo e na ótica do poder centralizador que dita as normas e exerce o controle técnico burocrático. A organização do ensino no Brasil é resultado de um processo histórico de longo prazo. Por muitos anos o ambiente escolar foi destinado a uma parcela privilegiada da população, representada pela elite, que faz uso desse espaço para promover e manter a relação de desigualdade e dependência com os demais setores da sociedade (JESUS, BORGES e SILVA 2011, p. 2). Apesar do espaço escolar ainda demarcar aspecto que influi negativamente na segregação social, é necessário apontar que a instituição escolar está em busca de uma nova roupagem, que visa uma democratização ao acesso. No final do século XX, a instituição escolar ampliou suas redes, permitindo que parte da população anteriormente alijada de seu direito ao acesso escolar, agora o tivesse como possível. No entanto é necessário pontuar que políticas externas que visam o desenvolvimento econômico, possuem forte influência na operacionalidade da universalização escolar. A década de 1980 possui uma grande representatividade para o cenário educacional brasileiro no que se refere a aspectos de luta pela democratização ao acesso, reconfigurações do papel e do compromisso com a formação cidadã do indivíduo, com a ressignificação do espaço escolar como direito de todos e dever do Estado. E a luta por uma escola mais humanizada aparece como prioridade nas reivindicações da década em questão. Os reflexos dessas lutas, juntamente com influencias das políticas externas, acarretaram em diversas ações transformadoras, que foram incorporadas pelo Estado e entraram em vigor na década de 1990. A sociedade pós-industrial é oriunda de diversas transformações no contexto político, econômico e cultural. Nesse sentido outras formas de se conceber a realidade ganharam impulso nesse novo contexto, gerando uma crise de paradigmas (MARCONDES 2001, p.22). Essa crise paradigmática também atingiu a escola, que passou a se perguntar sobre si mesma, “sobre seu papel como instituição numa sociedade pós-moderna e pós-industrial, caracterizada pela globalização da economia e das comunicações, pelo pluralismo político, pela emergência do poder local” (GADOTTI 2001, p. 3). A escola passou a se questionar sobre seus fins, e não somente sobre seus métodos, como era de costume. A maior necessidade e luta pela participação dos agentes escolares acarretou na descentralização e democratização da tomada de decisões pedagógicas, jurídicas e organizacionais, esses aspectos somente foram operacionalizados a partir da instituição do Projeto Político Pedagógico. Ocorreu então a configuração do Projeto Político Pedagógico com a Lei 9394/96 estabelecido pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), em seu artigo 12, inciso I, prevê que "os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, terno a incumbência de elaborar e executar sua proposta pedagógica". A partir do advento da LDB é viabilizada a autonomia da escola em construir e efetivar sua proposta educativa, como uma exigência legal que cabe a escola executar. Considerações sobre o Projeto Político Pedagógico Na percepção de Gadotti (2001), um projeto pedagógico pode ser dividido em dois momentos definidos como: a definição do projeto; a institucionalização e a implementação do projeto. O autor defende que o PPP de uma escola apoia-se em quatro pilares principais para sua estruturação apropriada, esses pilares não definidos como: desenvolvimento de uma consciência crítica; envolvimento das pessoas: comunidade interna e externa à escola; participação e cooperação das várias esferas de governo; autonomia, responsabilidade e criatividade como processo e como produto do projeto. Gadotti aponta quatro tempos essenciais a serem estabelecidos, e considerados durante o artesanato do projeto de uma escola, e são eles: “tempo político:define a oportunidade política de um determinado projeto; tempo institucional: Cada escola encontra-se num determinado tempo de sua história. O projeto que pode ser inovador para uma escola pode não ser para outra.” (GADOTTI 2001, p.5). Três etapas constituintes do Projeto Político Pedagógico são destacadas por Gandin (1995): o estabelecimento do marco referencial, composto pelo marco doutrinal, pelo marco situacional e pelo marco operativo. E ainda há as fases do projeto que constituem em diagnóstico, programação, execução e avaliação. Este autor informa que o marco referencial é a pretensão que a escola busca o que ela pretende alcançar, é uma busca de posicionamento político e pedagógico. O diagnóstico seria uma etapa importante porque consiste na percepção do que falta para escola alcançar o que pretende, é uma busca das necessidades da escola feita a partir da análise da realidade e/ou o juízo sobre a realidade da instituição em comparação com aquilo se deseja que a escola seja. E a programação seria um passo essencial porque consiste nas ações a serem realizadas para que a escola alcance seus objetivos. O Projeto Político Pedagógico (PPP) é descrito por Veiga (2001, p.2) como a própria organização do trabalho pedagógico de toda a escola, e para que essa organização seja possível é necessário que se fortaleçam as relações entre escola e sistema de ensino. Gadotti (2001, p. 1) afirma que não é possível se construir um projeto sem direção, sem um rumo, sem um norte. Gadotti (2001) afirma que a autonomia e a gestão democrática da escola fazem parte da própria natureza do ato pedagógico. Veiga (2003) completa afirmando que todo projeto pedagógico da escola é, também, um projeto político por estar intimamente articulado ao compromisso sociopolítico com os interesses reais e coletivos da população majoritária. Metodologia A pesquisa resulta do Grupo de Trabalho da disciplina Sociologia das Organizações Escolares 2014 do Curso de Mestrado em Educação da UFRJ e fundamenta-se numa abordagem qualitativa. Em sua realização, os registros e análises são alcançados a partir da: a análise documental do projeto político-pedagógico das unidades escolares, enfatizando não a quantificação, mas a importância das informações geradas na fonte documental. O trabalho compreende três momentos: pesquisa bibliográfica da parte histórica e de caracterização do PPP; o segundo de coleta das informações no documento da escola e o terceiro, de apresentação dos resultados na produção textual. Resultados Análise documental do PPP de duas realidades escolares do estado do Rio de Janeiro (Norte Fluminense e Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro) Com base na análise do Projeto Político Pedagógico de duas escolas, procuramos dialogar com as realidades existentes, e como cada escola vê e busca enfrentar algumas situações que consideramos imprescindíveis para a construção de um projeto de uma escola que se deseja democrática. A intenção aqui não é de enfatizarmos a presença ou ausência de fatores constituintes do Projeto Político Pedagógico de uma e de outra escola, o que constituiria uma comparação. Buscamos ampliar o olhar, sobre alguns pontos, comuns ou não, a fim de discutirmos os limites e possibilidades de encaminhamento dos projetos em questão. As duas escolas cujos PPPs foram analisados neste trabalho são da rede pública de ensino. A primeira escola pertence a rede municipal do Rio de Janeiro, fica localizado na zona oeste e atende a cerca de 650 alunos, nas modalidades Educação Infantil, Ensino Fundamental (1º ao 5º ano), Classe Especial e Programa de Jovens e Adultos (PEJA). A maioria dos alunos está matriculada no ensino fundamental em tempo integral. Nesta escola, o PPP teve sua última grande avaliação e mudança de rumos a partir de uma reforma do prédio, em 2009 e 2010. Os sujeitos da escola sentiram necessidade de refletir acerca do que seria feito na escola enquanto a obra seguia, o que motivou algumas reuniões e o encaminhamento do PPP voltado para a valorização das relações entre as pessoas desta escola. Participaram destes encontros os professores, os funcionários, o conselho de pais, o grêmio escolar, o conselho escola comunidade, a direção e coordenação pedagógica da escola. De acordo com o texto do projeto, há uma busca por uma escola democrática, principalmente a de horário integral. O coletivo entende que esta configuração de escola como um espaço dinâmico, de acolhimento e inclusão. O PPP desta escola considera alguns aspectos importantes para o funcionamento e direcionamento das ações. Neste sentido a prática pedagógica se constitui a partir de documentos norteadores, como a Multieducação, as Orientações Curriculares e os Descritores. Tais documentos são enviados pela Secretaria Municipal de Educação, assim como os cadernos de apoio pedagógico, e são discutidos nos grupos, a fim de estabelecer objetivos de trabalho. A estrutura física da escola é adequada às ações previstas, atendendo às demandas do tempo integral. O espaço físico é um facilitador para o desenvolvimento das diferentes atividades propostas, pois além de ser um grande espaço, sua divisão (salas, auditório, quadras, salas de leitura, pátio, laboratórios de informática) oportuniza pensar em estratégias que podem desencadear múltiplas possibilidades de ações pedagógicas. Uma questão que está evidente no documento é a necessidade de ampliar o relacionamento com a comunidade. Algumas ações têm sido realizadas, como festas abertas (festa junina), mostras de trabalhos realizados na escola e encontros de ex-alunos, no caso do PEJA. Neste sentido a escola tem buscado a aproximação e diálogo com os responsáveis pelos alunos a partir de encontros aos sábados com ênfase na socialização de informações importantes, como os direitos das famílias e como os cuidados com a mulher. Estes encontros são atravessados, muitas pela presença de assistentes sociais, de psicólogos, de profissionais que, convidados pela escola, se disponibilizam a realizar oficinas e fóruns com ações que oportunizam o compartilhamento de saberes e o acolhimento das famílias pela escola. No que se refere à avaliação do processo de ensino e aprendizagem, a mesma se dá de maneira processual e diagnóstica. As avaliações internas são feitas a partir de variadas estratégias, como o registro textual, fotográfico, plástico, de forma que os alunos tenham possibilidades de expressar de múltiplas maneiras o seu processo de desenvolvimento. A SME se encarrega das avaliações externas, aplicando provas em datas estabelecidas e tomando por base o IDEB (Índice de Desenvolvimento Educação no Brasil) e IDE Rio (Índice de desenvolvimento da Educação do Rio de Janeiro). Ao analisar o PPP desta primeira escola, ficou evidente que as políticas públicas de responsabilização têm influenciado às ações pedagógicas, porém as metas estabelecidas pela escola correspondem, em sua maioria, ao contexto do cotidiano da unidade. As práticas são pensadas a partir das necessidades e possibilidades dos sujeitos desta escola o que implica em busca de autonomia para dar encaminho destas ações. O documento aponta algumas metas que são prioridades e que se relacionam direta e indiretamente com os fatores importantes para o bom funcionamento da escola. O aperfeiçoamento da prática pedagógica é um dos fatores que o PPP destaca como meta para melhoria do desempenho dos alunos e para a melhoria das condições de trabalho dos docentes. Outra meta é despertar o interesse da comunidade escolar pela instituição, de forma que seja uma referência naquele local, contribuindo para garantir o acesso e a permanência dos alunos com qualidade, elevando também o desempenho. Incentivar lideranças na escola também tem feito parte das metas perseguidas. O PPP enfatiza que a gestão democrática pressupõe descentralizar o poder e dividir tarefas e responsabilidades entre os sujeitos da escola. Assim, o Conselho Escola Comunidade (CEC) tem sua participação ativa nas decisões tomadas. As reuniões acontecem, os representantes do CEC, que são os professores, responsáveis, alunos, direção e funcionários são incentivados a conversarem com seus segmentos para esclarecimentos e decisões sobre a escola, o que pode caracterizar exercício democrático. O texto completo do PPP é atravessado pelos conceitos de conhecimento, educação e aprendizagem, e as iniciativas e práticas pedagógicas, administrativas e políticas são pensadas, pelo menos inicialmente, pelo coletivo, respeitando as características individuais dos diferentes sujeitos. O Projeto Político Pedagógico que será analisado daqui em diante refere-se à Escola Estadual do Rio de Janeiro, que se localiza na cidade de Macaé. Esta escola atende a aproximadamente 1247 alunos, que têm idade entre 12 e 18 anos. Estes estudantes estão matriculados em turmas do ensino fundamental (6º ao 9º ano), ensino médio, atendendo também a turmas de projeto de aceleração da aprendizagem, denominadas autonomia. O documento que está sendo analisado teve sua última discussão feita a pedido dos professores, que sentiram a necessidade de alterá-lo, considerando a importância da periodicidade da avaliação. Os alunos da escola são provenientes tanto da área urbana quanto da rural, e os pais ou responsáveis são trabalhadores da área de petróleo, comerciantes, funcionários públicos, empresários, profissionais liberais e autônomos. O PPP desta escola aponta uma busca por oportunizar aos educandos o acesso ao conhecimento científico aliado ao desenvolvimento humano e a interação destes sujeitos com a sociedade. O corpo docente é composto por 58 professores Docentes I (concurso para nível superior), 23 professores Docentes II (concurso sem exigência de nível superior). Há na escola a presença de funcionários concursados, terceirizados e contratados (monitores de atividades complementares). Está registrado no PPP que algumas partes da estrutura física da escola não estão adequadas, necessitando de reparos. Fica evidente que a questão da infraestrutura é muito importante para o bom andamento dos processos que são desenvolvidos na escola. O documento revela que há muito destaque às ações voltadas para as práticas pedagógicas, principalmente as que valorizam a participação dos estudantes. Esta prática pedagógica tem como norteadores os eixos conceituais baseados no Currículo Mínimo, que é estabelecido pela Secretaria Estadual de Educação (SEEDUC) e também nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN). O texto constituinte do PPP faz referência às avaliações externas Prova Brasil, ENEM e SAERJ. Este último instrumento de avaliação está diretamente ligado à questão da responsabilização por parte das políticas públicas de educação do estado do Rio de Janeiro, que estabelece um Plano de Metas estadual, que distribui metas específicas por escola. Há também o Índice da Educação Básica do Rio de Janeiro (IDERJ), que somado aos outros indicadores pode promover ou não premiações para os professores e alunos. Ainda que estejam diretamente ligados às metas externas à escola, os processos escolares apresentam metas definidas pela escola, a partir de suas necessidades e possibilidades. Estas metas buscam criar condições para que todos desenvolvam integralmente suas potencialidades e que tenham oportunidades de aprender os conteúdos necessários para o exercício da cidadania. Dentre as metas da escola está a ênfase em ações voltadas para os cuidados necessários para uma vida saudável, com projetos de prevenção do uso de entorpecentes, projetos que oportunizam a socialização de conhecimentos e informações acerca de profissões, de escolhas para a vida em sociedade. Há também previsão de encontros para avaliação do PPP, com sugestões para alterações do mesmo, levando em conta a vontade do grupo de construir coletivamente os rumos da escola. Sabemos que há necessidade de maiores estudos sobre o tema, mas de antemão destacamos que mesmo considerando que a autonomia da escola é relativa, Paro (2003) ratifica a importância do PPP por ser, ambiente deliberativo e organizacional que, no interior da escola, abre espaços para a definição de ações voltadas para o tipo de educação que buscamos desenvolver nas escolas públicas. Considerações Finais Entendemos que o PPP aponta a visão de mundo, de escola, de sociedade e de homem. Assim sua elaboração e vivência ocorrem, a partir das relações sociais, no interior e no exterior da escola, promovendo ratificação ou emancipação da cultura dominante. A autonomia construída na/da escola depende da incorporação de práticas democráticas, onde todas as visões de mundo possam conversar e que dessas conversas possam surgir decisões consensos provisórios. Em muitas situações o PPP esteve fadado ao fracasso por conta da inexperiência democrática na educação, que gerou e foi gerada por condições de trabalho adversas e perversas, favorecendo estratégias como a encomenda, a compra e o engavetamento. A questão da sociabilidade interna nos ajuda a pensar que a construção e vivência do PPP pode adquirir uma dinâmica sedutora no sentido de motivar os sujeitos envolvidos à participação. Vale lembrar que a participação acarreta assumir compromissos, responsabilidades. O termo política, que acompanha o projeto, é um tema que tem gerado discussões, pois nos remete a pensar nas ideologias que podem estar ancorando essa ideia. O debate nos provoca refletir sobre a possibilidade deste termo ser empregado na constituição do PPP como estratégia de controle e legitimação da camada hegemônica, que pretende uma sociedade que sirva aos seus caprichos, que não reconheça e respeite as diferenças. Sabemos que as discussões feitas são considerações iniciais que podem nos ajudar na consolidação de um PPP que realmente materialize as propostas de educação democrática na escola pública. Ratificamos que alguns fatores podem favorecer a elaboração e vivência de PPP com vias à emancipação e democracia, como uma comunicação eficiente, pois acreditamos que todos os sujeitos envolvidos necessitam conhecer o jogo democrático. Outra questão que o debate nos suscitou a reflexão foi a necessidade de uma estrutura adequada aos fazeres na escola. Parte desta estrutura vem das esferas públicas, através de repasses financeiros, de materiais e de oportunidades de formação. Nosso desejo é que se ampliem as oportunidades de participação de toda a comunidade escola na construção do PPP, que todas as vozes sejam ouvidas, que as responsabilidades sejam assumidas e que a escola possa desempenhar os objetivos a que se propõe. Referências BRASIL. Constituição (1988). 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