Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas UniFMU Fonoaudiologia no Centro de Tratamento de Queimados: Aporte Respiratório e Freqüência Cardíaca Marina Peixoto e Silva Arruda Priscila Cruz Silva São Paulo 2008 Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas UniFMU Fonoaudiologia no Centro de Tratamento de Queimados: Aporte Respiratório e Freqüência Cardíaca Marina Peixoto e Silva Arruda Priscila Cruz Silva Trabalho de conclusão de curso apresentado como critério de avaliação parcial do curso de graduação em Fonoaudiologia Orientadora: Dra. Paula Nunes Toledo São Paulo 2008 Arruda, Marina Peixoto e Silva Silva, Priscila Cruz Fonoaudiologia no Centro de Tratamento de Queimados: Aporte Respiratório e Freqüência Cardíaca. / Marina Peixoto e Silva Arruda; Priscila Cruz Silva – São Paulo/ S.P., 2008. Trabalho de conclusão de curso – Curso de graduação em Fonoaudiologia – Centro Universitário Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU – São Paulo, SP. 1. Fonoterapia 2. Queimaduras 3. Freqüência Cardíaca Marina Peixoto e Silva Arruda Priscila Cruz Silva Fonoaudiologia no Centro de Tratamento de Queimados: Aporte Respiratório e Freqüência Cardíaca Trabalho de conclusão de curso apresentado como critério de avaliação parcial do curso de graduação em Fonoaudiologia Orientadora: Dra. Paula Nunes Toledo Defendido em ____ de ______________ de 2008. Banca examinadora constituída por: Dra. Marisa Sacaloski Dra. Maria Lucy Fraga Tedesco Dra. Paula Nunes Toledo Ms. Gino Arrunátegui Dedicatória Dedico este trabalho aos meus pais, Paulo e Rachel, que sempre me proporcionaram a melhor educação e por me darem a vida. À minha irmã, Camilla, por sempre me apoiar. Ao meu avô, Anselmo, que sempre foi meu melhor amigo e conselheiro. À minha avó, Lourdes, que ajuda a transformar este sonho em realidade. Marina Peixoto e Silva Arruda Aos meus pais Elcio e Maria e ao meu noivo Marcio pelo esforço, dedicação e compreensão em todos os momentos desta e de outras caminhadas. Priscila Cruz Silva Agradecimentos Agradeço primeiramente a Deus pela vida, pela oportunidade de poder fazer a diferença no mundo de hoje. Agradeço aos meus pais, Paulo e Rachel, por todos os ensinamentos, carinhos, broncas, pela maravilhosa educação que sempre me foi proporcionada, pelo amor e dedicação eternos, por fazerem questão de estar presentes em todas as fases da minha vida e acima de tudo agradeço por serem meus pais e sempre proporcionar o lar em que nunca nos faltou nada. Obrigada por serem exatamente como são. Agradeço à minha irmã, Camilla, companheira para todas as horas e que sempre esteve presente e de braços abertos para me ajudar. Obrigada por ser a melhor irmã do mundo e me acompanhar na luta cotidiana. Agradeço aos meus avós, Anselmo e Lourdes, por nos proporcionarem a base familiar, o exemplo a ser seguido, os conselhos, as oportunidades, as histórias de vida e por sempre mostrarem o caminho, a luz no fim do túnel. Agradeço aos meus amigos que sempre me incentivaram a continuar, que me ouviram nos momentos difíceis e que riram junto comigo. Obrigada por existirem e por criarmos juntos essa grande família. Agradeço aos meus professores que sempre nos ensinaram transparecendo o amor e carinho tanto à profissão quanto a nós. Obrigada por estarem sempre dispostos. Agradeço à professora, Marisa, por sempre nos receber de braços abertos, nos ensinar, aconselhar, nos divertir e nos mostrar que a vida é bela e deve ser vivida de tal forma. Agradeço à nossa coordenadora, Lucy, por ser esta mãezona e nos ajudar a trilhar nosso caminho até aqui. Sei que não foi fácil mas você foi peça fundamental para que pudéssemos nos tornar os profissionais de hoje. À minha orientadora, Paula, por abrir este caminho lindo na Fonoaudiologia e por estar disposta a transmitir seu conhecimento. Obrigada e parabéns por todas as vitórias. Agradeço aos colegas pelos momentos de trocas, de risadas, de tristezas e de discussão que possibilitaram a formação da turma de hoje. Agradeço em especial aos meus amigos Juvenal, Mônica e Amira pelos maravilhosos dias de convivência em que pudemos nos conhecer e criar esse laço de amizade que será eterno. E à Priscila por me ajudar a tornar este trabalho realidade. Marina Peixoto e Silva Arruda Agradeço em primeiro lugar a Deus que iluminou meu caminho durante esta jornada. Aos meus pais e amigos pelo apoio e colaboração. Aos professores deste curso não somente por terem ensinado, mas por terem feito com que eu aprendesse. A palavra mestre nunca fará justiça aos professores dedicados aos quais, sem nominar, terão meu eterno agradecimento. Aos Colegas de curso pela troca de experiências, pelos momentos de diversão e desabafo, e em especial, à minha parceira não só deste trabalho, mas de vida. Obrigada pela confiança depositada. Priscila Cruz Silva Resumo Objetivo: o presente estudo teve por objetivo relacionar os achados sobre aporte respiratório e freqüência cardíaca em pacientes queimados na fase aguda. Método: foram avaliados 05 (cinco) pacientes, com queimaduras na região de face e pescoço, com idade de 15 a 75 anos, sendo 02 (dois) do sexo masculino e 03 (três) do sexo feminino. Resultados: os tempos de emissão estão reduzidos, a saturação de O2 não apresentou alteração e a freqüência cardíaca apresentou redução significativa ao final da emissão. Conclusão: foi constatado que o trabalho com emissão de fonemas em pacientes queimados agudos não altera a saturação de O2 e reduz significativamente a freqüência cardíaca, reduzindo assim o esforço cardíaco após a emissão fonêmica. Descritores: fonoterapia, queimaduras, freqüência cardíaca. Abstract Goal: the following study aimed to relate the discoveries about the respiratory “aporte” and the heart rate in burned patients in the most critical phase. Method: five patients have been evaluated, with face and neck burns, between 15 and 75 years old, being two of them men and three women. Results: the emission periods are reduced, the O2 saturation didn’t show any change and the heart rate had an important reduction in the end of the emission. Conclusion: it has been found out that the therapy with phoneme issue in critical burned patients didn´t alter the O2 saturation and decrease significantly the heart rate, thus minimizing the heart effort after the phonemic issue. Descriptors: speech therapy, burns, heart rate. Gráficos Gráfico 1......................................................................................20 Gráfico 2......................................................................................21 Gráfico 3......................................................................................21 Gráfico 4......................................................................................22 Gráfico 5......................................................................................23 Gráfico 6......................................................................................24 Tabelas Tabela 1.....................................................................................16 Sumário Introdução ................................................................................01 Literatura...................................................................................03 Método.......................................................................................16 Resultados................................................................................20 Discussão.................................................................................27 Conclusão.................................................................................31 Referências Bibliográficas......................................................33 Anexos......................................................................................36 Introdução Pacientes com queimadura de face e pescoço apresentam alterações funcionais que levam a distúrbios que interferem na qualidade de vida. Gomes (1995) define queimadura como uma lesão dos tecidos orgânicos por um trauma de origem térmica, podendo variar desde uma pequena bolha ou flictena até formas mais graves capazes de desencadear um grande número de respostas sistêmicas proporcionais à extensão e profundidade da lesão. Segundo Toledo (2007), são altos os índices de ocorrência diária de paciente queimados com traumas na face. As lesões nas regiões de cabeça e pescoço levam a alterações estruturais que podem interferir nas funções do sistema estomatognático. Os pacientes queimados de face e pescoço apresentam retração tecidual e perda de tecido que causam redução das funções das estruturas anatômicas musculares dessa região. De acordo com Toledo (2003), a fonoaudiologia preocupa-se com as queimaduras de cabeça e pescoço, pois quando esta área demonstra alterações teciduais, devemos verificar as possíveis conseqüências que possam afetar as funções do sistema estomatognático. É necessário, ainda, ficar atento às queimaduras que atingem o tórax podendo causar redução da expansão da caixa torácica, alterando assim o processo de respiração. Sendo assim, o objetivo deste trabalho foi relacionar os achados sobre aporte respiratório e freqüência cardíaca em pacientes queimados na fase aguda. Literatura Neste capítulo apresentamos os textos da literatura compulsada em ordem cronológica subdivididos didaticamente segundo as temáticas a seguir: queimaduras, fisiopatologia das queimaduras, cicatrização, tratamento fonoaudiológico das queimaduras na fase aguda, atuação interdisciplinar, respiração, aspectos fisiológicos da produção das consoantes (/s/ e /z/) e das vogais (/a/ e /i/), tempo máximo fonatório. Queimaduras Para Gomes (1995), queimadura é uma lesão dos tecidos orgânicos por um trauma de origem térmica, podendo variar desde uma pequena bolha ou flictena até formas mais graves capazes de desencadear um grande número de respostas sistêmicas proporcionais à extensão e profundidade da lesão. Segundo Toledo (2003), queimadura é uma lesão no tecido de revestimento do corpo que pode destruir parcial ou totalmente a pele e seus anexos assim como atingir as camadas mais profundas, como tecidos subcutâneos, músculos, tendões e ossos. A etiologia da queimadura pode ser determinada por agentes físicos e químicos. Podendo atingir outras partes do corpo, como por exemplo, o tubo digestivo e a árvore respiratória. Os agentes físicos são divididos em: • Térmicos: Frio: por congelamento, queimaduras raras em nosso país; Calor: por líquidos aquecidos, chamados escaldo; Inflamáveis: por álcool, petróleo e seus derivados; Sólidos: por ferro de passar, chapa de fogão, escapamento de moto e por atrito, atingindo camadas mais profundas; • Gasosos: por explosão de caldeiras e panela de pressão. Elétricos: por passagem de corrente elétrica pelo corpo que, quando ocorrem, provocam queimaduras graves, não pela extensão e sim pela profundidade. Neste tipo de queimadura a extensão dos danos é muito maior que o suspeitado e os fatores que determinam os efeitos da lesão são: a duração do contato, a intensidade da corrente e a resistência do sistema; • Radiantes: por exposição ao sol, raios-X e raios Gama. Os agentes químicos são ácidos que, de acordo com a dose e duração, determinam os efeitos da lesão. As queimaduras podem ser classificadas de acordo com a profundidade, extensão e período evolutivo. Quanto à profundidade, classifica-se em relação ao comprometimento das camadas da pele, tomando-se por base a epiderme. Podem ser classificadas como: • Queimadura de espessura superficial leve: atinge somente a camada mais superficial da pele, a epiderme. A região se encontra hiperemiada com ausência de bolhas; • Queimadura de espessura superficial profunda: atinge toda a epiderme e parte da derme. A região apresenta vesículas, eritema, dor acentuada, edema e base avermelhada com flictenas ou bolhas; • Queimadura de espessura total: é a mais grave de todas as queimaduras térmicas, acometendo todas as camadas da pele (epiderme e derme) e, em muitos casos, outros tecidos como, o celular subcutâneo, o músculo e o tecido ósseo. Aspecto esbranquiçado ou marmóreo, redução da elasticidade tecidual o que torna o tecido rígido. Quanto à extensão pode-se classificar como: • Leve ou pequeno queimado: atinge menos de 10% da superfície corporal; • Média ou médio queimado: atinge de 10 a 20% da superfície corporal; • Grave ou grande queimado: atinge mais de 20% da área corporal. Deve-se aguardar pelo menos 48 horas, antes de uma avaliação final, pois as lesões de espessura total podem demorar a se definir. Quanto ao período evolutivo, sua classificação é dividida em dois períodos. Eles são: • Período Inicial, de agressão ou agudo: compreende o período que vai desde o dia da queimadura até de 7 a 15 dias após o acidente. As lesões são evolutivas e atuam intensamente sobre todos os sistemas. Deve-se considerar também fatores como a localização da lesão e a idade do queimado, assim como as condições clínicas, físicas e a presença de lesões simultâneas. • Período Tardio, de recuperação ou clínico: tende a estabelecer gradativamente o resultado do tratamento, de acordo com o processo de restauração e cicatrização. A fonoaudiologia preocupa-se com as queimaduras de cabeça e pescoço, pois quando esta área demonstra alterações teciduais, devemos verificar as possíveis conseqüências que possam estar ocorrendo nas funções do sistema estomatognático. É necessário, ainda, ficar atento nas queimaduras que atingem o tórax podendo causar redução da expansão da caixa torácica, levando a alterações funcionais estomatognáticas. Fisiopatologia das queimaduras Gomes (1995) descreve a fisiopatologia da queimadura como sendo o aumento da permeabilidade capilar (A.P.C.) e edema. Com o trauma térmico há exposição de colágeno no tecido atingido e consequentemente a ativação e liberação de histamina pelos mastócitos. Esta por sua vez provoca o aumento da permeabilidade capilar, que permite a passagem de um filtrado plasmático para o interstício dos tecidos afetados, provocando importante edema tecidual e também significativa hipovolemia. Este aumento é temporário durando em média de 18 a 24 horas. Tem seu início alguns minutos após a queimadura e regredindo até voltar ao normal. Ainda segundo Gomes (1995), após reposição volêmica é importante a monitorização do paciente para verificar sua eficácia e um bom método é através da freqüência cardíaca, que apesar de parecer um dado sem importância, trabalhos científicos mostraram validade estatística. Freqüências acima de 120bpm indicam insucesso na reposição, e freqüências abaixo deste valor sugerem uma reposição adequada. Para Tanaka (2003), o paciente queimado deve ser capaz de manter uma saturação de oxigênio a 100% durante monitorização diária. De acordo com Toledo (2003), considera-se como fisiopatologia da queimadura o aumento da permeabilidade capilar e do edema. Imediatamente após a queimadura, ocorre a interrupção do fluxo sanguíneo, provocando uma exposição do colágeno e liberação de histamina pelos mastócitos. A histamina provoca um aumento da permeabilidade capilar permitindo o extravasamento de plasma para o espaço intersticial, provocando importante edema e também significativa hipovolemia. Este aumento é passageiro, durando em média, de 18 a 24 horas. Tem início logo após a queimadura e seu pico máximo ocorre após 8 horas, regredindo progressivamente. O início da migração celular nas bordas da ferida dá-se em 24 horas. Segundo Morais, Corrêa e Rodrigues (2004), logo após a lesão, uma grande porcentagem do líquido extracelular é seqüestrado para a área da lesão e esse desvio de líquido pode ser tão severo a ponto de causar falência dos restantes órgãos e tecidos do corpo. Esse desvio de líquido do espaço extracelular resulta do aumento da permeabilidade vascular, da oclusão de pequenos vasos, do edema das células afetadas e do acúmulo de sal e água. Formando-se, então, um quadro de hipovolemia. Cicatrização Para Mandelbaum, Santis e Mandelbaum (2003), a cicatrização de feridas é um processo dinâmico que envolve fenômenos bioquímicos e fisiológicos que se comportem de forma harmoniosa a fim de garantir a restauração tissular. Como desencadeante da cicatrização, ocorre a perda tecidual, a partir da qual o fisiologismo volta-se completamente para o reparo de um evento danoso ao organismo. De acordo com Toledo (2003), a cicatrização é um mecanismo de cura espontânea que se refere à tentativa biológica de reparar um tecido. A fisiopatologia da cicatrização é descrita em três fases: • Fase inicial ou inflamatória aguda: as células epiteliais começam a migrar a partir das margens nas primeiras 24 a 48 horas. • Fase de proliferação ou fibroplasia: após três a cinco dias, com o surgimento do tecido de granulação. • Fase de maturação ou contração da ferida: fase progressiva de 08 à 12 meses após a queimadura. Tratamento fonoaudiológico das queimaduras na fase aguda Segundo Toledo (2003), a primeira preocupação funcional estomatognática no atendimento do paciente queimado na unidade de terapia intensiva e na enfermaria é com a respiração. A técnica do suspiro é uma técnica suave que promove expansão da caixa torácica, usando significativamente o nariz e a boca, elevando a língua e os ombros, sem trabalhar tipo respiratório, e sim, estimulando o uso das estruturas das vias aéreas superiores. O uso da linguagem do suspirar sugere suavidade e profundidade promovendo ritmo respiratório sem esforço. O paciente deve estar consciente, pois ele executa técnicas de respiração voluntária, com a fase ativa da respiração (a inspiração) e a fase passiva (a expiração). O trabalho com a fase passiva da respiração (a expiração) ocorre simultaneamente, utilizando vocalizações, emissões surdas e sonoras dos fonemas fricativos /s/ e /z/, promovendo o uso, a extensão, a intensidade, a qualidade vocal, reduzindo o esforço e adequando o ritmo respiratório com o paciente deitado ou sentado. Neste momento do processo terapêutico o objetivo maior é promover o equilíbrio das funções estomatognáticas com a atenção dirigida à respiração e fonação, e diferentemente de outros processos terapêuticos esta fase é ativa para o paciente. As outras funções do sistema estomatognático como mastigação, deglutição e articulação de fala são trabalhadas contextualmente. Atuação interdisciplinar A equipe interdisciplinar que atua com o paciente queimado é composta de diversos profissionais como, por exemplo, médicos, enfermeiros, nutricionistas, psicólogos, terapeutas ocupacionais e fisioterapeutas além de fonoaudiólogos. Neste momento nossa maior ênfase é relacionada à atuação do fisioterapeuta. De acordo com Barguil (1995), o principal objetivo da fisioterapia é tratar as seqüelas antes da sua instalação, fixação e transformação em retrações. A terapia física do paciente queimado é feita através de orientação para posicionamento, cinesioterapia respiratória, motora e postural com o intuito de atingir o nível máximo de funcionalidade. Na fisioterapia respiratória é trabalhada a desobstrução brônquica, a desinsuflação pulmonar, a reexpansão pulmonar e a reeducação da função muscular respiratória. A desobstrução brônquica é utilizada para a mobilização de secreções pulmonares. A desinsuflação pulmonar é importante na fase em que haja lesões localizadas no tórax e qualquer infiltrado de líquidos. A reexpansão pulmonar é uma técnica que deve ser sempre utilizada aliada à cinesioterapia de membros superiores e postural quando houver injúrias localizadas em vias aéreas superiores e/ou tronco. A reeducação da função muscular respiratória tem como objetivo a normatização da função muscular, força e resistência dos músculos respiratórios. É feita por meio de aparelhos, sempre com a monitorização do profissional. Para Toledo (2003), o fisioterapeuta preocupa-se na respiração com mobilidade torácica e secreção, escapando-lhe verificar o esforço e o equilíbrio pneumo-fono-articulatório, local onde a fonoaudiologia encontra seu espaço na avaliação e atuação da função respiratória, tentando restaurar o equilíbrio com as outras funções estomatognáticas. Tais funções mantêm um limiar anatômico- funcional muito próximos, no qual pequenos desajustes de estruturas de uso comum podem induzir a um conjunto de ineficiências funcionais estomatognáticas. Muitos pacientes apresentam redução das atividades das estruturas do sistema orofacial e do pescoço justificando a intervenção precoce do trabalho fonoaudiológico afim de minimizar as adaptações funcionais promovidas pela retração tecidual e promover a suficiência do trabalho estrutural, colaborando também no processo cicatricial. A atuação do fonoaudiólogo está situada na atuação preventiva no equilíbrio miofuncional das funções estomatognáticas, de forma constante, dinâmica, específica e enérgica. Respiração De acordo com Zemlin (2000), respiração é o ar inspirado e expirado pela expansão e contração do tórax, definida como o processo de troca gasosa entre um organismo e seu meio. Considera-se essa troca como um processo físico ou como um processo químico, como a oxidação de alimentos para produzir água, dióxido de carbono e calor. A produção da fala parece exigir uma função primariamente “nãorespiratória”, não importando se o ar está carregado de dióxido de carbono ou não. O mecanismo de fala requer gás sob pressão, sendo necessário examinar o processo mecânico da respiração. A Lei de Boyle afirma que se um gás for mantido em temperatura constante, a pressão e o volume são inversamente proporcionais obtendo um produto constante. Segundo a teoria cinética dos gases, utilizada para explicar a Lei de Boyle, os gases são compostos por grande número de moléculas que se encaixam em movimento incessante. Quando essas moléculas são confinadas em um recipiente, elas se movem aleatoriamente e em altas velocidades, colidindo entre si e com as paredes do recipiente, exercendo assim, força contra essas paredes. As pressões maiores que a atmosférica geralmente são denominadas pressões positivas, e as menores são chamadas negativas. Os pulmões situam-se no interior da cavidade torácica e se comunicam com o ar através da traquéia, laringe, faringe e cavidades oral e nasal, constituindo o trato respiratório, que transmite o ar para os pulmões. A estrutura do tórax pode aumentar ou diminuir para se adequar à fase respiratória em que se encontra. O aumento dessa estrutura resulta em pressão negativa dos pulmões, com relação à atmosfera, conseqüentemente, o ar é impelido até que as pressões externa e interna sejam igualadas; essa fase da respiração é conhecida como inspiração. A diminuição torácica resulta em pressão positiva nos pulmões e o ar é impelido para fora até que novamente as pressões interna e externa sejam a mesma. Essa fase da respiração denomina-se expiração. Embora as cavidades nasal, oral e faríngea sejam partes intrínsecas do mecanismo da respiração, também são órgãos essenciais de articulação e ressonância, formando um sistema, em conjunto com a laringe, chamado de trato vocal. Essas cavidades filtram, umedecem e aquecem o ar antes de sua entrada nas vias respiratórias inferiores. A laringe é a modificação das cartilagens traqueais mais superiores. Ela forma um mecanismo valvular que pode abrir ou fechar a passagem do ar. É um órgão altamente especializado capaz de utilizar o ar expirado para a produção de voz. A traquéia é composta por 16 a 20 anéis de cartilagem hialina em forma de ferradura, dispostos um sobre o outro e separados por um pequeno espaço ocupado por membrana fibroelástica. Cada anel traqueal é incompleto na parte posterior, onde a traquéia fica em contato com o esôfago. Essa arquitetura é responsável pela flexibilidade da traquéia e permite que ela implemente e retribua as alterações da pressão aerodinâmica que ocorrem no interior do tórax. A última cartilagem da traquéia bifurca, dando origem ao principal tronco bronquial. A armação cartilagínea da traquéia proporciona rigidez para evitar colapso, enquanto os ligamentos e membranas proporcionam a flexibilidade e a mobilidade que permitem que ela se estire durante a inspiração, por exemplo. Os pulmões situam-se na cavidade torácica e são compostos por tecido esponjoso e poroso, porém, altamente elástico, ou seja, é passivo e não exerce força alguma, exceto a proporcionada pelas propriedades elásticas do pulmão. Os alvéolos, pequenas depressões no pulmão, são os responsáveis pelo restante da elasticidade. Devido às propriedades secretoras do epitélio, esse tecido é úmido. Em conseqüência, existe uma interface ar-líquido sobre o revestimento dos alvéolos, permitindo que ocorra um fenômeno chamado tensão de superfície. A força produzida pela tensão da superfície faz com que o revestimento líquido dos alvéolos comporte-se como um elástico retesado, tentando constantemente encurtar e resistir a um estiramento maior. Existem, também, células alveolares tipo II que produzem uma substância chamada surfactante (tensoativo pulmonar), que se mistura ao líquido das moléculas das superfícies alveolares diminuindo a tensão de superfície. O equilíbrio adequado entre a tensão de superfície do liquido alveolar e do surfactante é essencial para que a função respiratória seja normal. Ainda segundo Zemlin (2000), os músculos que tendem a elevar as costelas devem ser considerados como inspiratórios, enquanto os que abaixam são os expiratórios. Essa regra só funciona durante a respiração cuja finalidade é preservar a vida. A respiração requer contração muscular ativa durante a fase inspiratória, mas as forças expiratórias são passivas ou não musculares. Os músculos da inspiração estão ligados principalmente ao tórax e os músculos da expiração, principalmente ao abdômen. Os músculos acessórios do pescoço também contribuem para o aumento do tórax durante a inspiração. Durante a inspiração tranqüila, a contração dos músculos diafragma e intercostais aumenta as dimensões do tórax. Uma vez que os pulmões seguem intimamente os movimentos da parede torácica, expandem-se e o ar flui de fora para dentro, até que a pressão de ar no seu interior seja igual à do ar externo. O sistema também é influenciado pela força da gravidade, de modo que a energia potencial (energia de posição) é recuperada na forma de energia cinética (energia de movimento). Denominamos todos os processos implicados nesse ciclo de respiração tranqüila de inspiração ativa e expiração passiva. Com freqüência, em nossa vida diária, esse processo é interrompido por uma razão, a produção da fala, e isso pode ser ainda mais evidente ao cantar. Para Toledo (2003), a respiração é um processo automático e involuntário visando a manutenção de pressões parciais de O2 e CO2, no sangue e nos alvéolos. É resultado da contração coordenada de um grupo de músculos e exerce uma função vital com papel importante na fonação. O desequilíbrio da respiração pode causar alterações orgânicas e funcionais em outros sistemas, como no cardiovascular, o que denota a importância da respiração em um relacionamento intrínseco no equilíbrio intersistêmico. Durante a inspiração o ar entra pelo nariz devido a contração dos músculos respiratórios diminuindo a pressão intrapulmonar. A expiração normalmente é passiva com retração dos tecidos elásticos liberando energia e, quando forçada, os músculos expiratórios (abdominais e intercostais externos) atuam flexionando o tronco, abaixando as últimas costelas e diminuindo o volume abdominal, acarretando aumento da pressão intra-abdominal. A função respiratória normal ocorre através da contração diafragmática ou padrão inferior e, por via nasal. Quando se encontra com padrão superior ou torácico, temos a respiração ineficiente e quando ocorre obstrução nasal por fatores orgânicos, a respiração passa a ser bucal. Aspectos fisiológicos da produção das consoantes (/s/ e /z/) e das vogais (/a/ e /i/) Segundo Ferreira (1980), as consoantes são fonemas que só podem ser pronunciados com o auxílio de uma vogal; são resultantes de um fechamento momentâneo da boca ou de um estreitamento do canal bucal que possa oferecer em qualquer dos seus pontos de articulação, um obstáculo à passagem da corrente de ar que pode ser sonorizada ou não (sonoros ou surdos) pela vibração das pregas vocais. No caso da emissão dos fonemas /s/ e /z/ há uma aproximação incompleta de dois órgãos da boca permitindo que a corrente de ar passe por uma fenda estreitada. Esses fonemas são caracterizados, segundo a região em que se processam, como fricativos alveolares, produzidos pelo contato da ponta da língua com os alvéolos dentais. Ainda segundo Ferreira (1980), vogal é o fonema sonoro que se produz mediante o livre escape de ar pela boca. Caracteriza-se a vogal /i/ como vogal alta, pois se articula com a língua protruída, com o dorso elevado, os lábios em sorriso e uma pequena abertura entre a mandíbula e a maxila. O sopro é dirigido aos alvéolos dentais superiores e concentrado sobre a parte central da língua. E a vogal /a/ como vogal média ou central, pois é articulada com a língua quase plana sobre o soalho da boca, formando um discreto canal central. A boca fica amplamente aberta, a mandíbula fica relaxada e o sopro é dirigido e concentrado entre o canal central da língua e a arcada superior. Tempo máximo fonatório Segundo Behlau, Madazio, Feijó e Pontes (2001), e também Toledo (2003), a medição de tempo máximo de fonação é um dos parâmetros com que se obtém, de modo mais fácil, as medidas respiratórias, podendo ser empregado tanto como um meio de diagnóstico como de acompanhamento e evolução de terapia. Este valor é obtido pela medida do tempo máximo que o individuo consegue sustentar a emissão de um som, numa só expiração, permitindo uma investigação quantitativa e qualitativa de fonação. Para a medida de duração, são usados diferentes comportamentos vocais: emissão das vogais /a/ e /i/, emissão de fricativas /s/ e /z/. Segundo os autores, os valores encontrados com falantes estão em torno de 20 segundos para homens e 14 segundos para mulheres, devendo considerar valores inferiores a 10 segundos como fora dos padrões. Método Neste capítulo apresentamos o método utilizado no presente estudo. Primeiramente foi apresentado aos participantes o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo I), para que pudessem ter conhecimento sobre o estudo e assim autorizar sua participação. Para a obtenção dos dados foram avaliados 05 (cinco) pacientes internados na Unidade de Terapia Intensiva e Semi-intensiva do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo (HSPE), com queimaduras na região de face e pescoço na fase aguda, com idade de 15 a 75 anos, sendo 02 (dois) do sexo masculino e 03 (três) do sexo feminino (Tabela 1). Tabela 1: Distribuição dos indivíduos estudados segundo o sexo e a idade (N=5) O protocolo de avaliação (Anexo II) foi aplicado aos sujeitos individualmente por duas alunas do Curso de Graduação em Fonoaudiologia sob a supervisão da profa. Dra. Paula Nunes de Toledo. O registro foi realizado por escrito. Os dados relativos à identificação e nutrição foram obtidos dos prontuários. Posteriormente passamos à mensuração do tempo máximo fonatório (TMF) que constou da emissão dos fonemas /s/, /z/, /a/, /i/, na posição mais confortável para o paciente. As emissões foram realizadas três vezes consecutivas com intervalo de 10 (dez) segundos entre elas. O Tempo Máximo Fonatório de cada emissão foi aferido por meio de um cronômetro da marca NIKE WWK - 02. Antes, durante e depois da emissão dos fonemas foram registrados a freqüência cardíaca e a saturação de oxigênio (O2) indicados pelo equipamento MONITOR MULTI-PARÂMETROS DIXTAL. Posteriormente os resultados coletados foram tabulados e submetidos a uma análise estatística. Metodologia Estatística Utilizamos testes e técnicas estatísticas não paramétricas, porque as condições (suposições) para a utilização de técnicas e testes paramétricos, como a normalidade (teste de Anderson-Darling) e homocedasticidade (homogeneidade das variâncias, teste de Levene), não foram encontradas (principalmente a normalidade) neste conjunto de dados. Teste de Igualdade de Duas Proporções O Teste de Igualdade de duas Proporções é um teste não paramétrico que compara se a proporção de respostas de duas determinadas variáveis e/ou seus níveis são estatisticamente significantes. Wilcoxon O Teste de Wilcoxon é um teste não paramétrico utilizado para verificarmos se o tratamento aplicado junto aos indivíduos surtiu efeito ou não. Esse teste não paramétrico é utilizado quando podemos determinar tanto a magnitude quanto a direção dos dados (como em nosso estudo) e queremos comparar as variáveis duas a duas. Correlação de Spearman O grau de associação entre duas variáveis é observado a partir da análise de correlação. A Correlação de Spearman baseia-se na ordenação de duas variáveis sem qualquer restrição quanto à distribuição de valores, ou seja, mais utilizado para dados não paramétricos. Quando são feitas diversas correlações ao mesmo tempo, os resultados são colocados em uma única tabela chamada Matriz de Correlação. Essa técnica serve para mensurar o quanto as variáveis estão interligadas. Os resultados são dados em percentual facilitando a compreensão. Ressaltamos que os valores encontrados podem ser positivos e negativos. Quando a correlação for positiva significa que à medida que uma variável aumenta seu valor, a outra correlacionada a esta, também aumenta proporcionalmente. Porém se a correlação for negativa implica que as variáveis são inversamente proporcionais, ou seja, à medida que uma cresce a outra decresce, ou vice versa. Para determinar a qualidade de uma correlação, é utilizada a escala de classificações abaixo. Péssim 0% 20 Ruim Regula 40 60 Boa Ótima 80 100 Teste de Correlação O teste para o coeficiente de correlação é utilizado como no caso da média e variância, para testar o coeficiente de correlação entre duas variáveis. Intervalo de Confiança para Média O intervalo de confiança para a Média é uma técnica utilizada quando objetivamos analisar a média de variação de uma determinada probabilidade de confiança. Para este trabalho o nível de significância foi de 0,10 (10%). Utilizamos um erro estatístico um pouco acima do usualmente utilizado (5%), pois temos uma baixa amostragem. Ressaltamos ainda que todos os intervalos de confiança construídos ao longo do trabalho foram feitos com 90% de confiança estatística. Resultados Neste capítulo apresentamos os achados do presente estudo ilustrados por meio de correspondentes gráficos. aos Abaixo testes dos gráficos estatísticos e colocamos as tabelas assinalamos os valores estatisticamente significantes com asterisco (*). Inicialmente demonstramos uma caracterização da população estudada segundo local da queimadura e tipo de nutrição. Gráfico 1: Distribuição dos indivíduos estudados segundo local da queimadura (N=5) Distribuição do Local 20% 80% Face Local Face Face e pescoço Face e pescoço Qtde 1 4 % p-valor 20,0% 80,0% 0,058* A maioria dos indivíduos apresentaram queimadura de face e pescoço, sendo este achado estatisticamente significante. No gráfico 2 demonstramos a distribuição dos indivíduos em relação ao tipo de nutrição. Gráfico 2: Distribuição dos indivíduos estudados segundo a nutrição (N=5) Nutrição dos pacientes - sonda enteral 100% 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% Não houve diferença entre o tipo de nutrição dos indivíduos estudados. No gráfico 3 apresentamos as médias obtidas durante a avaliação da emissão fonêmica. Gráfico 3: Distribuição dos achados da emissão fonêmica (N=5) 7 Distribuição da emissão fonêmica segundo a média (em segundos) 6,30 5,90 6 5,00 4,90 /s/ /z/ 5 4 3 2 1 0 /a/ /i/ Média Mediana Desvio Padrão N IC /s/ 5,0 4,66 4,3 5 3,8 Descritiva Tempo Maximo de Fonação /z/ 4,9 4,33 3,9 5 3,4 /a/ 6,3 5 3,2 5 2,8 /i/ 5,9 4,33 3,0 5 2,6 Os tempos máximos fonatórios obtidos apresentaram uma média de 5,0 ± 3,8s para a emissão do fonema /s/; 4,9 ± 3,4s para o fonema /z/; 6,3 ± 2,8s para o fonema /a/ e 5,9 ± 2,6s para o fonema /i/. No gráfico 4 demonstramos a distribuição da saturação de oxigênio dos indivíduos estudados de acordo com os momentos de avaliação. Gráfico 4: Distribuição da média da saturação de oxigênio dos indivíduos estudados no inicio, após as emissões fonêmicas e ao final das emissões (N=5) Momento de avaliação Distribuição da saturação de oxigênio segundo a média Final 95,8 Durante 95,2 Início 94,8 95,8 95 95,2 95,4 95,6 95,8 96 Saturação O2 (%) Média Mediana Desvio Padrão N IC Início 95,8 96 1,6 5 1,4 Durante 95,2 96 2,0 5 1,8 Final 95,8 96 2,3 5 2,0 Diferença 0,0 0 1,2 5 1,1 Descritiva Saturação de Oxigênio A média obtida para saturação de oxigênio antes da emissão dos fonemas foi de 95,8 ± 1,4%, durante foi de 95,2 ± 1,8% e ao final foi de 95,8 ± 2,0%. Não apresentando diferença estatisticamente significante entre os momentos. No gráfico 5 demonstramos a distribuição da freqüência cardíaca dos indivíduos estudados de acordo com os momentos antes, durante e após a emissão dos fonemas. Gráfico 5: Distribuição da freqüência cardíaca segundo os momentos antes, durante e após a emissão dos fonemas (N=5) momento da avaliação Distribuição da Frequência cardíaca final 110,6 durante 113,4 inicio 112,4 109 110 111 112 113 114 Frequência cardíaca (bpm) Média Mediana Desvio Padrão N IC Início 112,4 111 18,3 5 16,1 Durante 113,4 112 19,4 5 17,0 Final 110,6 109 18,4 5 16,2 Diferença -1,8 -2 0,8 5 0,7 Descritiva Freqüência Cardíaca A média obtida para a freqüência cardíaca antes da emissão fonêmica foi de 112,4 ± 16,1 batimentos por minuto (bpm), durante foi de 113,4 ± 17,0bpm e ao final foi de 110,6 ± 16,2bpm. As correlações entre as variáveis quantitativas apresentaram alguns valores estatisticamente significantes e outros não. Quanto maior a emissão do fonema /s/ maior é também a emissão do fonema /z/ (p-valor 0,037*). A emissão do fonema /a/ é significativamente maior que a emissão do fonema /z/ (p-valor 0,037*). A emissão do fonema /i/ é significativamente maior que a emissão do fonema /z/ (p-valor 0,054*). No gráfico 6 apresentamos a comparação entre o momento inicial e final da saturação de oxigênio e freqüência cardíaca dos indivíduos estudados segundo a média. Gráfico 6: Comparação entre o momento inicial e final da saturação de oxigênio e freqüência cardíaca dos indivíduos estudados segundo a média (N=5). Comparação entre os momentos de avaliação 115 112,40 110,60 110 105 100 95,80 95,80 95 90 85 80 Saturação (%) Freqüência cardíaca (bpm) Início Momento Média Mediana Desvio Padrão N IC p-valor Final Saturação Freqüência cardíaca Início Final 95,8 95,8 96 96 1,6 2,3 5 5 1,4 2,0 1,000 Início Final 112,4 110,6 111 109 18,3 18,4 5 5 16,1 16,2 0,041* Na comparação entre o momento inicial e final da saturação de oxigênio a média permaneceu inalterada, não apresentando diferença estatisticamente significante. Já entre o momento inicial e final da freqüência cardíaca a média apresentou uma redução em seu momento final, sendo este dado estatisticamente significante. Discussão Neste capítulo pretendemos realizar uma análise crítica dos resultados encontrados no presente estudo bem como confrontá-los, quando possível, com o que foi compulsado da literatura especializada sobre o tema. Os tempos máximos fonatórios obtidos durante a avaliação dos indivíduos estudados apresentou uma média de 5,0 ± 3,8s para a emissão do fonema /s/; 4,9 ± 3,4s para o fonema /z/; 6,3 ± 2,8s para o fonema /a/ e 5,9 ± 2,6s para o fonema /i/. Segundo Behlau, Madazio, Feijó e Pontes (2001), os valores encontrados com falantes estão em torno de 20 segundos para homens e 14 segundos para mulheres, devendo considerar valores inferiores a 10 segundos como fora dos padrões. Quanto à emissão fonêmica verificou-se que os tempos de emissão estão reduzidos. Tais achados se devem a fato de que as queimaduras de cabeça e pescoço provocam alterações teciduais acarretando conseqüências nas funções do sistema estomatognático. Vale ressaltar que as queimaduras que atingem o tórax causam retração tecidual reduzindo a expansão da caixa torácica o que afeta a capacidade respiratória do paciente queimado, como é explicado por Toledo (2003). A respiração requer contração muscular ativa durante a fase inspiratória, mas as forças expiratórias são passivas ou não musculares, essa contração muscular depende também da flexibilidade dos tecidos que envolvem a caixa torácica, explicado por Zemlin (2000). Quanto à saturação a média obtida antes do início da emissão fonêmica de 95,8 ± 1,4%, durante foi de 95,2 ± 1,8% e no final foi de 95,8 ± 2,0%, não apresentando diferença estatisticamente significante entre os momentos de avaliação. Quanto à freqüência cardíaca a média obtida no início da avaliação foi de 112,4 ± 16,1 batimentos por minuto (bpm), durante foi de 113,4 ± 17,0bpm e ao final foi de 110,6 ± 16,2bpm. A comparação entre os momentos inicial e final registrou diminuição da freqüência cardíaca. Para Morais, Corrêa e Rodrigues (2004), o aumento da permeabilidade vascular causa um quadro de hipovolemia sendo necessária a reposição volêmica, que segundo Gomes (1995), é importante a monitorização do paciente para verificar sua eficácia e um bom método é através da freqüência cardíaca, que apesar de parecer um dado sem importância, trabalhos científicos mostraram validade estatística. Freqüências acima de 120bpm indicam insucesso na reposição, e freqüências abaixo deste valor sugerem uma reposição adequada. Como o índice máximo da freqüência cardíaca obtido foi de 113,4 ± 17,0bpm, abaixo de 120bpm, com redução dos batimentos ao término da emissão fonêmica, isto pode ser um indicador de sucesso de reposição volêmica, sem esforço cardíaco. Quanto maior a emissão do fonema /s/ maior é também a emissão do fonema /z/ (p-valor 0,037*) Este achado se dá devido ao fato de que os fonemas /s/ e /z/ possuem o mesmo ponto articulatório, produzidos pelo contato da língua com os alvéolos dentais, sendo a única diferença entre eles o traço distintivo de sonoridade, no qual /s/ é surdo, ou seja, não há vibração das pregas vocais e /z/ é sonoro, ou seja, a passagem de ar provoca a vibração das pregas vocais, como é explicado por Ferreira (1980). A média obtida para a emissão do fonema /a/ foi de 6,3 ± 2,8s e para o fonema /z/ foi de 4,9 ± 3,4s. A emissão do fonema /a/ é significativamente maior que a emissão do fonema /z/ (p-valor 0,037*) O fonema /a/ é uma vogal produzida mediante o livre escape de ar pela boca. Sua articulação se dá com a língua quase plana sobre o soalho da boca, formando um discreto canal central. A boca fica amplamente aberta a mandíbula fica relaxada e o sopro é dirigido e concentrado entre o canal central da língua e a arcada superior enquanto para a produção do fonema /z/ isolado é necessário apenas a vibração das pregas vocais sem a amplificação do som na cavidade oral, como explica Ferreira (1980). A média obtida para a emissão do fonema /i/ foi de 5,9 ± 2,6s e para o fonema /z/ foi de 4,9 ± 3,4s. A emissão do fonema /i/ é significativamente maior que a emissão do fonema /z/ (p-valor 0,054*). O fonema /i/ é produzido com a língua protruída, com o dorso elevado, os lábios em sorriso e uma pequena abertura entre a mandíbula e a maxila. O sopro é dirigido aos alvéolos dentais superiores e concentrado sobre a parte central da língua, de acordo com Ferreira (1980). Podemos dizer que os fonemas /a/ e /i/ podem ser mais eficazes que os fonemas /s/ e /z/, no trabalho fonatório sem reduzir a taxa de saturação e com redução da freqüência cardíaca, promovendo qualidade dos movimentos inspiratórios e expiratórios, possibilitando qualidade de sobrevida do paciente, já que apenas tônus de expansão de caixa torácica, instalados pelo fisioterapeuta, não é suficiente para uma respiração efetiva. Conclusão • Os tempos de emissão dos fonemas /s/, /z/, /a/ e /i/ estão reduzidos. • Não há diferença entre os momentos inicial, durante e final da saturação de O2. • Há redução significativa da freqüência cardíaca ao final da emissão fonêmica. • Quanto maior a emissão do fonema /s/ maior é também a emissão do fonema /z/; • A emissão do fonema /a/ é significativamente maior que a emissão do fonema /z/; • A emissão do fonema /i/ é significativamente maior que a emissão do fonema /z/; Como há redução significativa da freqüência cardíaca após o término da emissão, podemos supor que há redução do esforço cardíaco após a emissão fonêmica. Referências Bibliográficas BARGUIL, C.M.K. Fisioterapia em queimaduras. In: GOMES, D.R.; SERRA, M.C.; PELLON, M.A. Queimaduras. Rio de Janeiro: Revinter, 1995. p. 213 – 226. BEHLAU, M.; MADAZIO, G.; FEIJÓ, D.; PONTES,P. Avaliação de voz. In: BEHLAU, M. (Org.) Voz: o livro do especialista. vol 1. São Paulo: Revinter, 2001. p.105 - 106 FERREIRA, A.B.H. In: Novo Aurélio: dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. 1980. p. 370. FERREIRA, A.B.H. In: Novo Aurélio: dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. 1980. p. 1482. GOMES, D.R. Fisiologia e fisiopatologia. In: GOMES, D.R.; SERRA, M.C.; PELLON, M.A. Queimaduras. Rio de Janeiro: Revinter, 1995. p. 15 – 28. cap.3 GOMES, D.R. Ressuscitação hemodinâmica. In: GOMES, D.R.; SERRA, M.C.; PELLON, M.A. Queimaduras. Rio de Janeiro: Revinter, 1995. p. 29 – 35. cap.4 MANDELBAUM, S.H.; SANTIS, E.P.; MANDELBAUM, M.H.S.A. Cicatrização: conceitos atuais e recursos auxiliares - Parte I. Anais Brasileiros de Dermatologia, Rio de Janeiro, v.78, n.4, jul./ago. 2003. MORAIS, C.C; CORRÊA, U.D.;RODRIGUES, S.D. Tratamento de um paciente queimado na fase aguda. In: MEDSTUDENTS. São Paulo: UGF, 2004. Disponível em: < http://www.medstudents.com.br >. Acesso em: 18 set. 2008. TANAKA, E.D. Atuação da fisioterapia intensiva no grande queimado. São Paulo, 2003. Instituto Brasileiro de Terapia Intensiva e Hospital Santa Cruz. São Paulo, 2003. TOLEDO, P. N. Conhecimentos essenciais parar atender bem os pacientes queimados. São José dos Campos: Pulso; 2003. TOLEDO, P. N. Queimados: Atuação interdisciplinar exige presença do fonoaudiólogo. Jornal do CFFa, Brasília, anoVIII, n. 33, p. 4 – 7, abr/maio/jun. 2007. ZEMLIM, W.R. Respiração. In: . Princípios de anatomia e fisiologia em fonoaudiologia, 4.ed. Porto Alegre: Artmed. 2000 p.51 – 116. cap. 2. Anexos Anexo I TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Você está sendo convidado (a) para participar, como voluntário (a), em uma pesquisa. Após ser esclarecido (a) sobre as informações a seguir, no caso de aceitar fazer parte do estudo, assine ao final deste documento. Sua participação não trará qualquer benefício direto ao senhor (a), mas poderá proporcionar um melhor conhecimento a respeito do assunto em estudo, o qual em futuros tratamentos fonoaudiológicos poderão beneficiar outras pessoas. Informo que o sr (a) tem a garantia de acesso, em qualquer etapa do estudo, sobre qualquer esclarecimento de eventuais dúvidas. Também é garantida a liberdade da retirada de seu consentimento a qualquer momento e o senhor (a) poderá deixar de participar do estudo, sem qualquer prejuízo a qualquer atividade que possa estar ocorrendo. Garantimos que as informações obtidas serão analisadas em conjunto com outros indivíduos, não sendo divulgado a identificação de nenhum dos mesmos. Não existirão despesas ou compensações pessoais para nenhum participante em qualquer fase do estudo, incluindo exames e consultas. Também não há compensação financeira relacionada à sua participação. Se existir qualquer despesa adicional, ela será absorvida pelo orçamento da pesquisa. INFORMAÇÕES SOBRE A PESQUISA: Título do Projeto: Fonoaudiologia no Centro de Tratamento de Queimados: Aporte Respiratório e Freqüência Cardíaca Pesquisador Responsável : Dra Paula Nunes Toledo Pesquisadores participantes: Marina Peixoto e Silva Arruda e Priscila Cruz Silva A presente pesquisa tem como objetivo relacionar achados sobre aporte respiratório e freqüência cardíaca em pacientes com queimaduras de face e pescoço na fase aguda. Será aplicado um protocolo de avaliação e os dados relativos à identificação e nutrição serão obtidos através do prontuário. A mensuração do tempo máximo fonatório constará da emissão dos fonemas /s/, /z/, /a/, /i/, na posição mais confortável para o paciente. Tal emissão será realizada 3 (três) vezes consecutivas com intervalo de 10 (dez) segundos entre elas. O Tempo Máximo Fonatório de cada emissão será aferido por meio de um cronômetro. Antes, durante e depois da emissão dos fonemas serão registrados a freqüência cardíaca e a saturação de oxigênio (O2) indicados pelo equipamento. Eu, ___________________________________________, portador do RG _________________, concordo em participar do estudo descrito acima, como sujeito. Fui devidamente informado e esclarecido sobre a pesquisa, os procedimentos nela envolvidos, assim como os possíveis riscos e benefícios decorrentes de minha participação. Foi-me garantido que posso retirar meu consentimento a qualquer momento, sem que isto leve à qualquer penalidade ou interrupção de meu acompanhamento/ assistência/tratamento. Ficou claro também que minha participação é isenta de despesas e que tenho garantia do acesso aos resultados e de esclarecer minhas dúvidas em qualquer tempo. São Paulo,_____ de ________________ de 2008. Anexo II Protocolo de Avaliação da Respiração e Fonação em Pacientes com Queimaduras de Face e Pescoço Data:______________________ Identificação: Nome: ___________________________Idade:____________ Etiologia:__________ Tipo de acidente:_______________ Data da queimadura: Data de internação:____________________ SQC:__________% Local da queimadura:_______________________________ Leito:_______________________________ Intervenção cirúrgica:_______________________________ Nutrição: ( ) enteral ( ) parenteral ( ) oral Tipo de dieta: ( ) Sólida ( ) Pastosa ( ) Líquida Avaliação Funcional: Tempo Máximo Fonatório: / s / _________ / z / _________ / a / _________ / i / _________ Saturação inicial:_____________ Saturação durante:_____________ Saturação final:______________ Pulso inicial:______________ Pulso durante:_______________ Pulso final:_______________ Observações importantes: _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ ______________________________ Estagiária responsável