INSTITUTO FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICA CLOVIS LISBOA DOS SANTOS JUNIOR HISTÓRIA DA MATEMÁTICA NO PROCESSO EDUCATIVO: UM DESENHO DA PRÁTICA DOCENTE EM TEIXEIRA DE FREITAS, BAHIA Vitória 2014 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO INSTITUTO FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICA CLOVIS LISBOA DOS SANTOS JUNIOR HISTÓRIA DA MATEMÁTICA NO PROCESSO EDUCATIVO: UM DESENHO DA PRÁTICA DOCENTE EM TEIXEIRA DE FREITAS, BAHIA Dissertação apresentada ao Programa de Pósgraduação em Educação em Ciências e Matemática, do Campus Vitória, do Instituto Federal do Espírito Santo, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Educação em Ciências e Matemática. Orientador: Prof. D. Ed. Edmar Reis Thiengo Coorientadora: Prof.ª D. Ed. Sandra de Aparecida Fraga da Silva Vitória 2014 (Biblioteca Nilo Peçanha do Instituto Federal do Espírito Santo) S237h Santos Junior, Clovis Lisboa dos. História da matemática no processo educativo: um desenho da prática docente em Teixeira de Freitas, Bahia / Clovis Lisboa dos Santos Junior. – 2014. 138 f. : il. ; 30 cm Orientador: Edmar Reis Thiengo. Coorientadora: Sandra de Aparecida Fraga da Silva. Dissertação (mestrado) – Instituto Federal do Espírito Santo, Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Matemática. 1. Matemática – Estudo e ensino. 2. Matemática – Historiografia. 3. Didática (Ensino médio). 4. Ensino – Meios auxiliares. I. Thiengo, Edmar Reis. II. Silva, Sandra de Aparecida Fraga da. III. Instituto Federal do Espírito Santo. IV. Título. CDD 21: 510.7 A Enzo, pela alegria de tê-lo como filho. Em seu sorrisso encontro motivação para enfrentar os obstáculos da vida. À minha esposa Patrícia, a quem eu amo e que sempre esteve ao meu lado em todos os momentos. Aos meus pais, irmãs e familiares pelo apoio e compreensão nos momentos em que precisei me ausentar de seu convívio, para dedicar-me a este estudo. AGRADECIMENTOS Ao professor Edmar Reis Thiengo, meu orientador, pelo incetivo e apoio durante todo o processo de construção desse estudo, pelos diálogos, pelos ensinamentos, pela paciência, confiança e amizade. À professora Sandra Aparecida Fraga da Silva, minha coorientadora, pela paciência, contribuições e amizade. Às professoras Circe Mary Silva da Silva Dynnikov e Lígia Arantes Sad pela disponibilidade e contribuições na banca de qualificação e defesa desse estudo. Aos professores e colegas do Programa Educimat pelas trocas de conhecimentos e pelas experiencias inesquecíveis. Ao professor Ivo Fernandes Gomes pelos ensinamentos sobre linguagem computacional utilizada nessa pesquisa. À professora Miriam Cléa Conte de Almeida Caires pelas contribuições realizadas durante a revisão desse estudo. Aquarela Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo E com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo Corro o lápis em torno da mão e me dou uma luva E se faço chover com dois riscos tenho um guarda-chuva Se um pinguinho de tinta cai num pedacinho azul do papel Num instante imagino uma linda gaivota a voar no céu Vai voando contornando A imensa curva norte sul Vou com ela viajando Havaí, Pequim ou Istambul Pinto um barco a vela branco navegando É tanto céu e mar num beijo azul Entre as nuvens vem surgindo Um lindo avião rosa e grená Tudo em volta colorindo Com suas luzes a piscar Basta imaginar e ele está partindo Sereno indo E se a gente quiser Ele vai pousar Numa folha qualquer eu desenho um navio de partida Com alguns bons amigos, bebendo de bem com a vida De uma América a outra consigo passar num segundo Giro um simples compasso e num círculo eu faço o mundo Um menino caminha e caminhando chega num muro E ali logo em frente a esperar pela gente o futuro está E o futuro é uma astronave Que tentamos pilotar Não tem tempo nem piedade Nem tem hora de chegar Sem pedir licença muda nossa vida E depois convida a rir ou chorar Nessa estrada não nos cabe Conhecer ou ver o que virá O fim dela ninguém sabe Bem ao certo onde vai dar Vamos todos numa linda passarela De uma aquarela que um dia enfim Descolorirá Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo Que descolorirá E se faço chover com dois riscos tenho um guarda-chuva Que descolorirá Giro um simples compasso e num círculo eu faço o mundo Que descolorirá (TOQUINHO,1983) MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO INSTITUTO FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICA RESUMO A respectiva pesquisa analisa as questões epistemológicas e procedimentais relacionadas à apropriação da História da Matemática, bem como discute possíveis práticas docentes quanto à utilização da História da Matemática no processo de ensino em escolas públicas da rede estadual que ofertam o Ensino Médio no município de Teixeira de Freitas–Bahia. Para isso, investigam-se os saberes relacionados à História da Matemática, numa perspectiva metodológica que indicou prováveis caminhos para o ensino de conceitos matemáticos trabalhados no Ensino Médio, sob o aporte teórico discutido por Le Goff, Foucault, Miguel, Miorim, Mendes, D‘Ambrosio, Silva, Farago e outros estudiosos do tema. Numa abordagem qualitativa analisa aspectos da História da Matemática que contribuem para o ensino da matemática e como ocorre este processo nas unidades de ensino estaduais de Teixeira de Freitas a partir de práticas docentes. Nesse sentido, investigam-se indícios de práticas docentes relacionadas com a utilização da História da Matemática como procedimento metodológico para o ensino da Matemática, no intuito de perceber no processo investigatório pormenores capazes de gerar novas hipóteses ou solucionar o problema que deu origem a esta pesquisa – ―Quais são as potencialidades encontradas pelo professor de matemática do Ensino Médio para a utilização da História da Matemática como procedimento metodológico para o ensino?‖. A partir dessa pesquisa verifica-se que a História da Matemática se faz presente nas unidades escolares estaduais do município e que sua inserção na sala de aula depende da busca do professor de matemática por leituras novas que possam contribuir para a sua prática pedagógica. Ainda, constata-se que o docente apresenta precariedade em práticas de leituras sobre esse campo de pesquisa da Educação Matemática o que pode dificultar a incorporação da História da Matemática em sua prática pedagógica. Como proposta de reflexão sobre as potencialidades do uso da História da Matemática na sala de aula, constrói-se um guia didático intitulado ―Publicações de História da Matemática em vídeos didáticos: uma abordagem no Ensino Médio‖, juntamente com uma mídia interativa, contendo sugestões de vídeos de curta duração que apresentam abordagens históricas da construção do saber matemático, bem como, atividades investigativas que podem contribuir para práticas pedagógicas do professor de matemática. Palavras-chave: Ensino de matemática. História da matemática. Prática pedagógica. Vídeos didáticos. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO INSTITUTO FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICA ABSTRACT Their research examines the epistemological and procedural issues related to ownership of the History of Mathematics and teaching practices regarding the use of history of mathematics in the teaching in public schools in the state system that offer high school in the city of Teixeira discusses possible Freitas-Bahia. For this, we investigate the knowledge related to the History of Mathematics, a methodological perspective that indicated probable paths for teaching mathematical concepts worked in high school, under the theoretical framework discussed by Le Goff, Foucault, Miguel, Miorim, Mendes, D‘Ambrosio, Silva, Farago and other scholars of the subject. A qualitative approach to analyze several aspects of the history of mathematics that contribute to the teaching of mathematics and how this process in the state units of teaching Teixeira de Freitas from teaching practices occurs. In this sense, we investigate evidence of teaching practices related to the use of history of mathematics as a methodological procedure for the teaching of mathematics in order to understand the investigative process details can generate new hypotheses or solve the problem that gave rise to this search – "what are the potential found by math Teacher High School for the use of history of mathematics as a methodological procedure for teaching?". From this research it appears that the history of mathematics is present in state school units of the municipality and its insertion in the classroom depends on the search for a math tutor for new readings that may contribute to their practice. Still, it appears that the teacher presents precariousness practices in reading about this field of research of mathematics education which can hinder the incorporation of the history of mathematics in their teaching. As proposed reflection on the potential use of history of mathematics in the classroom, builds up a teaching guide entitled "Publishing history of mathematics teaching in videos: an approach in high school", along with an interactive medium, containing suggestions of short videos that present historical approaches to the construction of mathematical knowledge as well as research activities that can contribute to pedagogical practices of mathematics teachers. Keywords: Teaching Instructional videos. Math. History of mathematics. Pedagogical practice. LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Vaso de rubi ............................................................................................. 22 Figura 2 – Capa dos módulos do Programa Gestar II de Matemática ....................... 27 Figura 3 – Matriz de referência de matemática para o Ensino Médio da SEC–BA ... 60 Figura 4 – Continuação da matriz de referência de matemática para o Ensino Médio da SEC–BA .............................................................................................. 60 Figura 5 – Orientações Curriculares para o Ensino Médio Nacional e Orientações Curriculares Estaduais para o Ensino Médio da Bahia ............................ 62 Figura 6 – Capa do material do Programa Gestar II de Matemática/módulo I .......... 75 Figura 7 – Capa do material do Programa Gestar II de Matemática/módulo II ......... 77 Figura 8 – Capa do material do Programa Gestar II de Matemática/módulo III ........ 78 Figura 9 – Capa do material do Programa Gestar II de Matemática/módulo IV ........ 80 Figura 10 – Capa do material do Programa Gestar II de Matemática/módulo V ....... 81 Figura 11 – Capa do material do Programa Gestar II de Matemática/módulo VI ...... 82 LISTA DE SIGLAS Cederb – Centro Educacional Democrático Rui Barbosa Cema – Centro Educacional Machado de Assis Ceprog – Centro Educacional Professor Rômulo Galvão CEHB – Colégio Estadual Henrique Brito CPM – Colégio da Polícia Militar Direc – Diretoria Regional de Educação EM-AÇÃO – Programa Ensino Médio em Ação Fasb – Faculdade do Sul da Bahia Gestar – Gestão da Aprendizagem Escolar IAT – Instituto Anísio Teixeira IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística Ifes – Instituto Federal do Espírito Santo MEC – Ministério de Educação PCNs – Parâmetros Curriculares Nacionais Sabe – Sistema de Avaliação Baiano de Educação SEC-BA – Secretaria de Educação do Estado da Bahia Uesc – Universidade Estadual de Santa Cruz de Cabrália Ufes – Universidade do Espírito Santo Uneb – Universidade do Estado da Bahia SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO – A CONSTRUÇÃO DE UM DESENHO.......................... 16 2 DA HISTÓRIA VIVIDA À INSPIRAÇÃO DO DESENHO.......................... 18 2.1 O DESENHO DA PESQUISA: CAMINHOS E ESCOLHAS...................... 18 2.2 O PROBLEMA DA PESQUISA: DELIMITANDO O DESENHO................ 23 2.3 PERSPECTIVAS DO DESENHO: HIPÓTESE PARA O PROBLEMA...... 24 2.4 A FINALIDADE DO DESENHO: OBJETIVOS DA PESQUISA................. 24 2.5 A DESCRIÇÃO DO DESENHO................................................................. 25 2.6 CENÁRIO E SUJEITOS CAPITADOS NO DESENHO............................. 28 3 GRANDES DESENHISTAS E SUAS OBRAS: A HISTÓRIA DA MATEMÁTICA NO ENSINO DE MATEMÁTICA...................................... 32 3.1 A HISTÓRIA EM QUESTÃO: CIÊNCIA QUE ESTUDA O PASSADO?.... 32 3.1.1 Algumas considerações sobre Memória............................................... 34 3.1.2 História e Memória: prática, discurso e representações..................... 36 3.2 AS POTENCIALIDADES DA HISTÓRIA DA MATEMÁTICA NO ENSINO-APRENDIZAGEM....................................................................... 39 3.3 DISCUTINDO AS INVESTIGAÇÕES E TEORIAS ACERCA DA HISTÓRIA DA MATEMÁTICA NA EDUCAÇÃO ESCOLAR...................... 42 3.4 HISTÓRIA NA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA: PERSPECTIVAS TEÓRICAS................................................................................................ 46 4 O ESBOÇO DO DESENHO: PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA.......................................................................................... 53 4.1 DA GARATUJA AO DESENHO: INSTRUMENTOS, FONTES, COLETA E ANÁLISE DE DADOS............................................................................ 54 5 ARTE FINAL: O DESENHO GANHA MOVIMENTO................................ 98 5.1 VÍDEOS DIDÁTICOS NO ENSINO: ALGUMAS REFLEXÕES 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS – TOQUE FINAL NO DESENHO................. 103 100 REFERÊNCIAS......................................................................................... 107 APÊNDICES.............................................................................................. 112 APÊNDICE A............................................................................................. 113 Cronograma da pesquisa........................................................................ 113 APÊNDICE B............................................................................................. 114 Carta de apresentação e realização da pesquisa................................. 114 APÊNDICE C............................................................................................. 115 Carta convite............................................................................................ 115 APÊNDICE D............................................................................................. 116 Termo de Consentimento de Livre e Esclarecido................................ 116 APÊNDICE E............................................................................................. 117 Termo de Resguardo de Informações Confidenciais........................... 117 APÊNDICE F............................................................................................. 118 Roteiro de entrevista dos professores das escolas estaduais........... 118 ANEXOS.................................................................................................... 119 ANEXO A................................................................................................... 120 Autorização para desenvolvimento da pesquisa................................. 120 ANEXO B................................................................................................... 121 Atividades de investigação histórica - Gestar II - Módulo IV - versão do professor............................................................................................. 121 ANEXO C................................................................................................... 124 Atividades de investigação histórica - Gestar II - Módulo IV - versão do professor............................................................................................. 124 ANEXO D................................................................................................... 130 Atividades de investigação histórica - Gestar II - Módulo IV............... 130 ANEXO E................................................................................................... 133 Atividades de investigação histórica - Gestar II - Módulo V - versão do professor............................................................................................. 133 ANEXO F................................................................................................... 136 Atividades de investigação histórica - Gestar II - Módulo VI - versão do professor............................................................................................. 136 16 1 INTRODUÇÃO – A CONSTRUÇÃO DE UM DESENHO Há tempos o homem busca registrar de alguma forma a sua passagem neste mundo, e por meio das diversas formas de linguagem deixa indícios de suas ações, crenças, representações, valores, enfim, descreve a sua existência seja para orientar os seus descendentes quanto aos aspectos socioculturais de sua formação, ou seja, para prolongar a sua passagem por meio da história que atravessará o tempo/espaço na memória daqueles que reproduzirão e/ou produzirão a sua vivência. Com uma prática de aproximadamente 10.000 anos de existência, o homem faz uso das gravuras/desenhos como uma das diversas maneiras de linguagem para representar o mundo e a forma como o vê e sente. Assim, a expressão de sua habilidade e técnica denota-se como arte, que geralmente é compreendida como uma atividade humana voltada para uma manifestação estética, que reflete valores como beleza, equilíbrio, harmonia, revolta, em que sintetizam as suas emoções, seus sentidos, sua cultura, sua história. Proponho neste momento transcender os limites da palavra desenho para além da sua formatação acabada composta de diferentes linhas, tamanhos, formas e cores, que ao materializá-la é dito que foi finalizada, esgotada, perfeita, carregada de certezas, de única história, etc., para apropriar de uma visão mais profunda do termo que exalte a criatividade do artista/pesquisador, os sentidos atribuídos ao desenho, à busca pela perfeição, o imaginário, as incertezas, os possíveis retoques sugerido pelo outro, a curiosidade, a descoberta e assim por diante. A partir das considerações traçadas que sugerem o desenho como prática social que se desenvolve por meio da criatividade e que está presente em todo o ser humano, iniciei o trabalho na perspectiva de apresentar a construção do desenho dessa pesquisa, as inquietações que serviram de aspiração da obra, os caminhos percorridos pelo artista para a construção deste, os percalços encontrados e as decisões tomadas. 17 Contudo, nas incertezas que pairavam sobre a construção desse desenho algumas possibilidades foram enxergadas, como por exemplo, a consciência de que o desenho nunca seria finalizado, que sempre haveria uma forma diferente de contorná-lo, que cada artista/pesquisador que se propunha a construir esse desenho faria de forma diferente, acrescentaria novos aspectos, usaria cores diferentes vibrantes ou não, de acordo com seu estado de espírito, apresentaria novas técnicas, novos métodos de representar o que via e sentia, questionaria outros atributos que julgasse ser necessários, contaria a história com seu olhar e escolheria outro final para o seu produto. O desenho construído teve como pano de fundo investigar ―quais são as potencialidades encontradas pelo professor de matemática do Ensino Médio para a utilização da História da Matemática como procedimento metodológico para o ensino?‖ A obra intitulada ―História da Matemática: um desenho da prática docente em Teixeira de Freitas, Bahia‖ apresentou em sua estrutura as representações, os valores, os sentimentos, a cultura e a concepção de história do pesquisador. No presente, é feito um convite a todos os interessados a apreciarem a construção deste desenho e propõe-se como desafio o seguinte questionamento: quem se habilita a contribuir com esse desenho com alguns traços que darão mais riquezas em seus detalhes? 18 2 DA HISTÓRIA VIVIDA À INSPIRAÇÃO DO DESENHO Desenho Traça a reta e a curva, a quebrada e a sinuosa Tudo é preciso. De tudo viverás. Cuida com exatidão da perpendicular e das paralelas perfeitas. Com apurado rigor. Sem esquadro, sem nível, sem fio de prumo, traçarás perspectivas, projetarás estruturas. Número, ritmo, distância, dimensão. Tens os teus olhos, o teu pulso, a tua memória. Construirás os labirintos impermanentes que sucessivamente habitarás. Todos os dias estarás refazendo o teu desenho. Não te fatigues logo. Tens trabalho para toda a vida. E nem para o teu sepulcro terás a medida certa. Somos sempre um pouco menos do que pensávamos. Raramente, um pouco mais. (CECÍLIA MEIRELES, 1963) 2.1 O DESENHO DA PESQUISA: CAMINHOS E ESCOLHAS Muitas foram as inquietações que despertaram os sentidos para o tema da pesquisa, desde o interesse pela história de fatos ligados às construções do conhecimento matemático até as indagações acerca do ensino da Matemática e seu principal papel na sociedade. Esse sentimento surgiu num período ainda como discente do curso de licenciatura em Ciências com Habilitação em Matemática cursado na Universidade do Estado da Bahia – Uneb/Campus X, em Teixeira de Freitas, Bahia, seja na busca de suprir algumas necessidades do ideário humano na proposta de alcançar a formação desejada, ou seja na incessante busca pelos porquês perscrutados no campo de pesquisa da Matemática. 19 Com o término da graduação e repleto de novos anseios iniciei a docência no Ensino Fundamental II e no Ensino Médio encorajado pelos ―louros‖ da conquista trilhada até o momento e na esperança de construir um desenho inovador, com contornos expressivos, com cores vibrantes capazes de diferir do desenho que havia vivenciado quanto discente. Entretanto, como desenhista que buscou nas suas experiências, baseadas na comparação com o outro, no seu relacionamento com outros modos de fazer arte, delineei um caminho, seja na subjetividade constituída por estas ações ou na busca conceitual de uma direção ou simplesmente na intuição do traçado compor um desenho que sempre precisou de acabamentos, retoques, de perspectivas, de cores diversas, então, me vi finalmente professor. Assim, nesse momento os anseios em relação à matemática não foram apenas meus enquanto docente, mas dos alunos que por meio de indagações instigaram tanto a minha curiosidade quanto a deles próprios e, geralmente, as respostas se encontravam em meio ao processo histórico da construção do conhecimento matemático em questão. De modo geral, ao refletir sobre a abordagem histórica de determinados conteúdos matemáticos, compreendi que ela pode colaborar para a assimilação de conceitos e pode atrair, dependendo do uso, a atenção dos discentes pela sua visão holística da matemática, de suas interações, construções até a sua interligação com as demais áreas do saber. Em junho de 2010 pensei em outro caminho, com outros participantes, com novos desafios, em nova perspectiva de construção do conhecimento, num processo que favorece a pesquisa, o ensino e a extensão no campo da Educação Matemática. E, com a aprovação no concurso público para atuar como professor na Universidade do Estado da Bahia (Uneb), em Teixeira de Freitas, no curso de licenciatura em matemática, ofertaram-me à disciplina de História da Matemática com o propósito de trabalhar lado a lado com o professor que ministrava essa disciplina. Após buscas e compartilhamento de materiais didáticos, elaborei o plano de ensino da disciplina com o intuito de amarrar a linha do tempo da História da Matemática, propriamente dita, com o contexto cultural e social das civilizações estudadas, bem como acompanhar a evolução do ensino da matemática paralelamente. 20 Nesse sentido, acreditei que a história de uma ciência não deve ser baseada somente nos conceitos e sim, na forma como a comunidade cientifica de uma época pensava e se estruturava. Essa visão é defendida por Thomas Khun em seu trabalho intitulado A Estrutura das Revoluções Científicas, onde propõe que ―os historiadores da ciência passaram a ter preocupações de caráter social; eles viram que a forma como as pessoas organizam a pesquisa interfere no próprio resultado da produção cientifica‖ (KHUN, 1962, apud ROQUE, 2013, p. 18). Dessa forma, parte-se da premissa de que a História da Matemática pode corroborar para a formação do professor sendo um instrumento que minimiza a visão fragmentada do conteúdo, desmitifica a ideia da matemática ser feita por gênios, propõe a matemática interligada a outras áreas do conhecimento (interdisciplinaridade) e humaniza a matemática apresentando-a como ferramenta a serviço da sociedade. Conforme afirma Miguel (1993) a História da Matemática como ferramenta didática auxilia no ensino, agindo como instrumento que desmitifica, contextualiza, humaniza, motiva e ajuda a formalizar os conceitos. Assim, embora sozinha não solucione os problemas da Educação Matemática observa-se que as atividades inspiradas na história podem instigar os alunos à aprendizagem, conduzindo-os a investigações e contribuindo para a compreensão dos conteúdos matemáticos a partir da recriação e da redescoberta de conceitos. Além disso, poderá desconstruir a concepção fragmentada da matemática ao passo que proporciona ao professor a adoção de um modelo pedagógico heurístico, por permitir a compreensão do contexto da construção do conhecimento pelo docente e adaptação desse conhecimento às necessidades reais dos alunos. Em consonância com os Parâmetros Curriculares Nacionais percebe-se que, [...] o professor ao revelar a matemática como uma criação humana, ao mostrar necessidades e preocupações de diferentes culturas, em diferentes momentos históricos, ao estabelecer comparações entre os conceitos e processos matemáticos do passado e do presente, cria condições para que o aluno desenvolva atitudes e valores mais favoráveis diante desse conhecimento (BRASIL, 1998, p. 42). Outro aspecto favorável para o ensino da Matemática por meio do uso de sua história, diz respeito ao significado que tal conceito produzido teve na época de sua concepção e como foi construído pelos antigos. Nesse sentido, Kamii e JonesLevingston, expõe que a utilização da História da Matemática foi defendida por 21 Piaget em seus trabalhos por estabelecer comparações entre o desenvolvimento histórico de um conceito e a aprendizagem desse conceito pelo aluno. Logo, defendem que ―[...] a criança tem que passar por um processo construtivo similar aos de nossos ‗ancestrais‘, ao menos em parte, para que compreenda a matemática moderna‖1 (KAMII; JONES; LEVINGSTON, 1999, p. 40). Em meio à experiência como docente, senti a motivação necessária para investigar mais sobre o processo de ensino da matemática a partir de tendências, aqui entendidas como formas de trabalho que surgem da busca de soluções para os problemas da Educação Matemática (FLEMMING; LUZ; MELLO, 2005), que são variadas e englobam jogos, modelagem, etnomatemática, informática, história da matemática, dentre outras. Assim, as apropriações que tive sobre a Educação Matemática após os estudos direcionaram-me à compreensão mais ampla dessas metodologias e passei a observar novas facetas relacionadas ao uso da História da Matemática, que ultrapassa a visão motivadora e progressiva que até o presente momento eram no meu entendimento base dessa metodologia, dando à mesma um aspecto investigatório por meio da história capaz de facilitar a compreensão da matemática a partir da resolução de problemas. As pesquisas realizadas nesse campo da Educação Matemática serviram como fio condutor para novas possibilidades e desafios para meus interesses profissionais, o sentimento aflorado com tais estímulos exigia um desenho ampliado com traços mais precisos, com maior aprofundamento na arte, perspectivas mais ampla e certamente, instrumentos que manipulados de modo coerente podem contribuir para um desenho mais completo e muito mais próximo da nossa realidade. Assim, em meados do primeiro semestre de 2012 me submeti ao processo seletivo do programa de pós-graduação intitulado Mestrado Profissional em Educação em Ciências e Matemática – Educimat na busca de desenvolver a pesquisa intitulada ―História da Matemática no Processo Educativo: análise da prática docente‖ a ser realizada no município de Teixeira de Freitas, Bahia, com a intenção de analisar o perfil do professor de matemática quanto à utilização da História da Matemática em 1 Matemática moderna aqui entendida como matemática contemporânea, ou seja, matemática necessária e praticada na atualidade. 22 sua prática docente e, consequentemente após o estudo criar na universidade em que atuo um grupo de pesquisa para discutir ações referentes ao uso da História da Matemática como práticas investigatórias em sala de aula. No entanto, há indícios de que a história é alicerçada no campo das incertezas e que as informações aqui tratadas foram analisadas e subjugadas a partir dos aspectos considerados mais importantes para a construção dessa pesquisa. Assim, não houve nessa caminhada uma preocupação aguda sobre possíveis reflexões acerca da composição dessa obra, não se esperando do leitor contemplar somente o que se propõe o desenho, e sim, aguçar conjecturas novas, caminhos diversos, novas perspectivas, novas soluções. Na certeza de que assim como a arte, que não é simplesmente uma receita pronta das reflexões propostas pelo artista, que na sua exposição apresenta-se como um produto acabando livre de novas inspirações, de novas ideologias, de novas formas, etc., a História da Matemática apresenta-se como campo de investigações para possíveis problemas relacionados à Educação Matemática e que está longe de ser uma receita, um caminho, uma solução, mais sim, um diálogo entre práticas, possibilidades, soluções, incertezas. O vaso de Rubin é parte de um conjunto de ilusões de óptica desenvolvido pelo psicólogo dinamarquês Edgar Rubin por volta de 1915. Nessa perspectiva, contemple a figura conhecida como vaso de Rubin e responda: vaso ou faces? Figura 1 – Vaso de rubi Fonte: <http:// mentesbrilhants.blogspot.com.br/2011/06/ilusao-de-muller-lyer-figura-eguinte.html> 23 Qual das figuras é verdadeira? As duas ou nenhuma? É essa incerteza que nos conduz à história contemporânea, uma história complexa que se constitui de acordo com o olhar de cada indivíduo, de cada pesquisador, pois a verdade não é absoluta, mas relativiza-se à medida que cada sujeito constrói uma compreensão histórica. 2.2 O PROBLEMA DA PESQUISA: DELIMITANDO O DESENHO Na busca de parâmetros que evidenciem o uso de tendências da Educação Matemática, em particular a História da Matemática, foi realizado um recorte na educação básica direcionando a pesquisa para o Ensino Médio, com o intuito de analisar e fornecer dados que sirvam como subsídio para tomadas de decisões a respeito do ensino de matemática nas escolas estaduais situadas no município de Teixeira de Freitas, Bahia. Para tanto, alguns questionamentos foram levantados sobre a prática docente para melhor compreender os elementos que constituíram a história e prática do professor de matemática, bem como, sua apropriação frente ao conhecimento histórico da matemática. Assim, questões que rodeiam a Educação Matemática podem nos dar indícios dos motivos que contribuem para a práxis do professor. Algumas problemáticas foram consideradas importantes para direcionar o desenho desta pesquisa. Dessa forma refleti sobre os seguintes questionamentos: apesar do uso da História da Matemática ser sinalizado pelos PCNs e de vários pesquisadores apontarem que o recurso a História da Matemática pode corroborar com o processo de ensino e aprendizagem, como será que tais concepções têm chegado ao docente e como estão sendo utilizadas? O que o docente tem a dizer sobre o assunto? Existe alguma recomendação proposta pela Secretaria de Educação do Estado da Bahia? Como fazem? Quais resultados têm obtido? Acredito que tais questionamentos podem direcionar os sentidos para um processo investigatório que evidencie o problema que gerou o desenho desta pesquisa – ―Quais são as potencialidades encontradas pelo professor de matemática do Ensino Médio para a utilização da História da Matemática como procedimento metodológico para o ensino?‖. 24 2.3 PERSPECTIVAS DO DESENHO: HIPÓTESE PARA O PROBLEMA Para começar a rabiscar os primeiros traços deste desenho foi necessário imaginar aonde se quer chegar (o problema da pesquisa), quais as possíveis formas que este desenho teria (hipóteses da pesquisa), quais os instrumentos seriam usados para fazer o desenho, tipo de lápis, cores, borracha, réguas, etc. (metodologia da pesquisa e coleta de dados) e a inspiração do seu idealizador na construção dessa obra (os resultados da pesquisa). Para esta pesquisa sugeri a hipótese como um presságio do que pode ser encontrado após a análise dos dados, a saber, conjecturei que a carência na formação específica dos professores de matemática tem como consequência a não utilização da História da Matemática no processo de ensino e aprendizagem de matemática em suas aulas. 2.4 A FINALIDADE DO DESENHO: OBJETIVOS DA PESQUISA O objetivo geral do desenho traçado nessa pesquisa é discutir possíveis práticas docentes quanto à utilização da História da Matemática no processo de ensino nas escolas públicas da rede estadual do município de Teixeira de Freitas, Bahia, no Ensino Médio. Para tanto, estabeleci os seguintes objetivos específicos: identificar documentos nacionais e estaduais que amparam o uso da História da Matemática no ensino de matemática; caracterizar o acervo de fontes bibliográficas disponibilizado pelas escolas sobre História da Matemática; fazer um levantamento sobre aspectos da formação e da prática docente, no que diz respeito ao conhecimento acerca da História da Matemática; analisar as relações evidenciadas na prática docente sobre a utilização da História da Matemática no ensino de matemática por professores da rede estadual de ensino em Teixeira de Freitas, Bahia. 25 2.5 A DESCRIÇÃO DO DESENHO Pela natureza proposta para o desenho e o modo que se pretendeu realizar o seu traçado, entendi que se trata de uma pesquisa qualitativa, uma vez que, na estrutura do desenho se faz necessário levar em conta a relação dinâmica entre o sujeito e o mundo real, reafirmando uma concepção de indissociabilidade entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito. A pesquisa qualitativa compreendida visa uma abordagem que não exige tratamento estatístico, ou seja, a pesquisa não requer a utilização de técnicas e métodos estatísticos. O cenário para a construção desse desenho se desenvolveu por meio de ambiente natural, em que o instrumento chave se mostrou como fonte direta entre o pesquisador e a coleta de dados. Para Stake, uma pesquisa de cunho qualitativa visa obter descrições e interpretações pontuais de fenômenos que o pesquisador pode fornecer a outras pessoas para modificar as percepções delas sobre esses fenômenos. Assim, a pesquisa qualitativa tem características especiais, dentre elas: 1. O estudo qualitativo é interpretativo. Fixa-se nos significados das relações humanas a partir de diferentes pontos de vistas. [...] 2. O estudo qualitativo é experiencial. É empírico e está direcionado ao campo. [...] Enfoca as observações feitas pelos participantes [...] Está em sintonia com a visão de que a realidade é uma obra humana. 3. O estudo qualitativo é situacional. [...] Seus contextos são descritos em detalhes. 4. O estudo qualitativo é personalístico. É empático e trabalha para compreender as percepções individuais. Busca mais a singularidade do que a semelhança e honra a diversidade. [...] (STAKE, 2011, p. 25-26). Acredito que a pesquisa qualitativa é uma ação dinâmica, viva, movida por incertezas que impossibilita prender-se a parâmetros fixos, a regras, a normas que são produzidas através da generalização de ações e resultados obtidos em pesquisas que possuem o mesmo objeto de estudo ou aparentemente similar. O processo constituído pela subjetividade do pesquisador em relação aos sujeitos envolvidos e a realidade escolhida para desenvolver o estudo em questão são aspectos que sugeriram a especificidade e a importância da pesquisa naquele momento e local. Assim, o pesquisador que desenvolve uma pesquisa qualitativa 26 pauta seus estudos na interpretação do ambiente real por meio da análise das experiências vivenciadas pelos sujeitos da pesquisa. Nesse sentido, Prus (apud MOREIRA, 2002, p. 50-51), propõe que ―a tarefa de ―dupla hermenêutica‖ justifica-se pelo fato de os investigadores lidarem com a interpretação de entidades que, por sua vez, interpretam o mundo que as rodeiam‖. Em consonância com a perspectiva apresentada, acredito que por meio de entrevistas semiestruturadas constitui um método mais adequado para realizar o estudo e pode corroborar de maneira eficaz para o tratamento do problema em questão. Compreendi que a complexidade gerada na estruturação dessa obra pôde ser alcançada através de um esforço cooperativo que visou discutir possíveis práticas docentes mediante a construção de atividades enriquecidas por elementos da História da Matemática. Para os primeiros traços desse desenho, realizei uma investigação de cunho histórico em busca de documentos em órgãos responsáveis pela educação no município de Teixeira de Freitas, Bahia, que orientam o ensino da matemática no Ensino Médio nas escolas estaduais e documentos que possam indicar cursos de capacitação docente acerca da temática em questão. Num segundo momento, realizei a catalogação dos livros e materiais didáticos que utilizam aspectos históricos da matemática para produzir conhecimentos e/ou articular o conhecimento matemático em outras áreas do saber que podem contribuir para o ensino. Na etapa seguinte, refletiu-se sobre possíveis práticas investigativas baseadas em pesquisas sobre a História da Matemática presente em materiais didáticos das unidades escolares participantes da pesquisa e na análise do material produzido pela Secretaria de Educação Básica vinculada ao Ministério de Educação conhecido como Programa de Gestão da Aprendizagem Escolar – Gestar II (Figura 2). Este programa oferece formação continuada em língua portuguesa e matemática aos professores dos anos finais (do sexto ao nono ano) do ensino fundamental em exercício nas escolas públicas, na qual inclui discussões sobre questões prático- 27 teóricas e busca contribuir para o aperfeiçoamento da autonomia do professor em sala de aula. O referido material apresentou em sua composição um manual do professor, seis cadernos de Teoria e Prática – TP de Matemática, seis cadernos de Atividades de Apoio à Aprendizagem (AAA) versão de matemática do professor – e seis cadernos de Atividades de Apoio à Aprendizagem (AAA) – versão de matemática do aluno. Figura 2 – Capa dos módulos do Programa Gestar II de Matemática Fonte: Composição e fotografia realizada com os módulos do pesquisador. Num quarto momento, busquei indícios da formação e prática docente quanto ao uso da História da Matemática no ensino. Para isso, o instrumento utilizado constituiu-se de questionário/entrevista aplicados a 12 docentes da rede estadual convidados a participar da pesquisa e que atuam com a disciplina matemática no Ensino Médio. Em conformidade com o delineamento de uma pesquisa qualitativa conduziu-se a coleta e análise dos dados. Na expectativa de contribuir para a ressignificação da práxis pedagógica do docente frente à utilização da História da Matemática na realidade socioeducacional em que atuam, propus como último momento da pesquisa a construção de um guia didático com publicações de atividades investigativas a partir do uso de vídeos que usufruem de conhecimentos da História da Matemática, disponibilizados no site da Secretaria de Educação do Estado da Bahia e produzidos pelo grupo de pesquisa que compõem o projeto ―Matemática Multimídia – Série Matemática na Escola‖, 28 desenvolvido pela Universidade federal de Campinas – Unicamp em parceria com o Ministério da Educação (MEC). 2.6 CENÁRIO E SUJEITOS CAPITADOS NO DESENHO O cenário para esse desenho é o município de Teixeira de Freitas, Bahia, que teve sua origem em consequência do grande volume de madeira de lei existente na região, criando assim, o povoado, que mais tarde, através da Lei 4.452, de 9 de maio de 1982, é emancipado dos municípios de Alcobaça e Caravelas. O município se torna referência na indústria, comércio e habitação para as cidades circunvizinhas. Conforme consta no Plano Municipal de Educação (2013), elaborado pela Secretaria Municipal de Educação de Teixeira de Freitas, o município surgiu às margens de uma estrada aberta pela madeireira Elecunha, que tinha como proprietário o senhor Eleosíbio Cunha. Na década de 50, com a existência de mata Atlântica na região, as primeiras famílias começaram a chegar dando origem ao povoado que naquele momento recebeu o nome de São José do Itanhém, por estar situado próximo às margens do rio Itanhém. Com o intenso comércio de madeiras, o povoado teve grande crescimento, atraindo para a região grupos de comerciantes, pecuaristas, agricultores, dentre outros. Em 1957, o então chefe das agências de estatísticas de Alcobaça, Miguel Geraldo Farias Pires, em cumprimento às determinações emanadas da Inspetoria do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na Bahia, oficialmente, solicitou da Prefeitura e Câmara de Alcobaça a homenagem póstuma ao estatístico baiano Teixeira de Freitas, dando-lhe o seu nome ao Povoado de São José de Itanhém, o que foi bem aceito pelo Executivo e Legislativo de Alcobaça. Com a realização do Censo Demográfico de 1970, Teixeira de Freitas contava com uma população de oito mil habitantes. E, por se encontrar as margens da BR 101, o povoado cresceu significativamente, tendo na década de 80, mais de 40 mil 29 habitantes transformando no maior polo industrial, comercial e habitacional da região. O município se emancipou em 09 de maio de 1985, com uma população estimada de 80 mil habitantes. Segundo o IBGE (2013) a população do município de Teixeira de Freitas em 2012 era superior a 143 mil habitantes que ocupam uma área territorial de 1.163,828 km2. Atualmente, com o desenvolvimento da região, incentivado em grande parte pela implantação da Bahia Sul Celulose e, após o advento da BR 101 que atravessa o Município, surge o Distrito Industrial, onde já se encontram instaladas 12 (doze) indústrias e mais 03 (três) prestes a se instalar. Atualmente estão cadastrados na Prefeitura Municipal mais de 3.763 estabelecimentos comercias e mais de 172 indústrias. Quanto à organização e funcionamento da educação municipal de Teixeira de Freitas, esta possui hoje cerca de cento e vinte unidades de ensino, dentre essas: municipais, estaduais, federais e privadas. A rede municipal de ensino, constituída de 62 escolas, distribuídas na sede e no interior com mais de 1200 professores efetivos. Além disso, na rede estadual de educação, o município possui mais de 820 professores distribuídos no Ensino Fundamental e no Ensino Médio, bem como, o Instituto Federal Baiano – IF Baiano que no momento oferta vagas para Educação Profissional Técnica de Nível Médio, nos cursos de Agropecuária, Hospedagem e Florestas, estes tem por objetivo atender as carências de alguns setores da região. Para compor o quadro, o município ainda dispõe de dezenas de escolas particulares que se tornam mais uma opção para cidade no que tange o ensino básico. Em relação ao ensino superior público, a cidade dispõe da Universidade do Estado da Bahia-Uneb/Campus X que oferece cursos de licenciatura em Letras, Pedagogia, Matemática, Biologia, História e Educação Física, com a finalidade de qualificar o profissional da educação básica do município e região. Para o ensino superior, a cidade conta ainda com instituições particulares como a Faculdade do Sul da Bahia (Fasb), em funcionamento desde 2001, a Faculdade Pitágoras de Teixeira de Freitas desde 2007, a Faculdade Teológica e Cultural das 30 Assembleias, que funciona com cursos teológicos ligados a formação bíblica e a Universidade Norte do Paraná (Unopar), com diversos cursos à distância. Outra conquista para a região e que demonstra a ascendência educacional do município, diz respeito à implantação de um Campus da Universidade Federal do Sul da Bahia, que terá a partir desse ano cursos da área de saúde como psicologia, enfermagem, medicina, odontologia e outros, constituindo assim um polo completo educacional em todas as áreas de desenvolvimento social. A cidade é constituída de homens e mulheres que ao se instalarem perceberam que a mesma teria condições plenas de desenvolvimento e que suas ações contribuiriam de alguma forma para incrementar a história da cidade em seus aspectos culturais, políticos e sociais. É perceptível que nesse espaço curto de tempo de sua emancipação, aproximadamente 30 anos, a comunidade teixeirense tem acreditado que na instituição escola é possível desenvolver cidadãos críticos capazes de contribuir para o desenvolvimento de uma sociedade mais justa, desvinculando-a aos poucos de uma visão tradicionalista da escola como mecanismo de ascensão social ou de mero ambiente de transmissão de conhecimentos em diferentes áreas específicas. Portanto, a escola é vista como meio de transformação social que tem o papel mais significativo, uma vez que lida com um saber que muitas vezes precisa ser repensado, reavaliado e reestruturado. Infelizmente, nem sempre ou quase sempre a escola "não tem cumprido o objetivo da educação que desejamos, de cunho democrático, socializando o saber e os meios para aprendê-lo e transformá-lo" (RIOS, 1995, p. 32). Para Gadotti (1995), a escola pública deve proporcionar ao educando uma educação de qualidade, capaz de assegurar o conhecimento historicamente acumulado, sem preconceitos, sem discriminação, discutindo sua autonomia para que o educando tenha a capacidade de encontrar soluções para seus questionamentos. Ou seja, espero que a escola transforme o sujeito em um ser crítico, que por meio de conceitos, habilidades e competências possa construir e reconstruir o conhecimento. 31 Para tanto, no ponto de vista de Nóvoa A ―refundação da escola‖ tem muitos caminhos, mas todos eles passam pelos professores. Esta profissão representou, no passado, um dos lugares onde a ideia de escola foi inventada. No presente, o seu papel é essencial para que a escola seja recriada como espaço de formação individual e de cidadania democrática. Mas, para que tal aconteça, é preciso que os professores sejam capazes de refletirem sobre a sua própria profissão, encontrando modelos de formação e de trabalho que lhes permitam não só afirmar a importância dos aspectos pessoais e organizacionais na vida docente, mas também consolidar as dimensões coletivas da profissão (NÓVOA, 1999, p. 20). Em consonância com os dizeres do pesquisador Antônio Nóvoa, acredito que o professor deve assumir o caráter de pesquisador e que uma contribuição importante para a sociedade estará na busca de novas estratégias para o ensino. Sua atitude frente ao ensino poderá promover a reflexão de problemas sociais, (re)significando o saber em estudo e contribuindo para a autonomia do educando. Assim, os sujeitos captados pelo desenho dessa pesquisa, são os professores de matemática efetivos da rede estadual que atuam no Ensino Médio, no município de Teixeira de Freitas, Bahia. Em um primeiro momento convidei a participar da pesquisa 12 professores que atuam em regime estatutário e estão em pleno exercício de docência, pois entendi que estes já possuem um trabalho sólido na unidade de ensino, bem como conhecem a realidade local. Os professores são lotados em cinco escolas estaduais, a saber, tem-se o Centro Educacional Prof. Rômulo Galvão (Ceprog), Centro Educacional Democrático Rui Barbosa (Cederb), Colégio Estadual Henrique Brito (CEHB), Colégio da Polícia Militar (CPM) e o Centro Educacional Machado de Assis (Cema). Os docentes envolvidos nessa pesquisa deviam, preferencialmente, ser certificados pela Secretaria de Educação do Estado da Bahia no curso de formação continuada Gestar II, pois pretendi realizar uma análise do material trabalhado nesse curso de formação continuada ofertado pelo Estado em parceria com o MEC. 32 3 GRANDES DESENHISTAS E SUAS OBRAS: A HISTÓRIA DA MATEMÁTICA NO ENSINO DE MATEMÁTICA Se eu vi mais longe foi por estar de pé sobre ombros de gigantes. (ISAAC NEWTON) 3.1 A HISTÓRIA EM QUESTÃO: CIÊNCIA QUE ESTUDA O PASSADO? Antes de explorar a história no contexto da educação matemática surgiram alguns questionamentos que inicialmente compreendi ser imprescindível discuti-los para maior entendimento das ações na pesquisa. Assim, tais indagações permeiam um mundo inteligível e se misturam com algumas representações que constituíram a forma como é vista a história, a saber: como compreendemos a história? Quem faz história? A história está a serviço de quem? A história é uma ciência? A memória e história são a mesma coisa: ambas servem para manter o passado vivo? Jacques Le Goff em sua obra intitulada ―História e Memória‖ apresenta que os antigos gregos por meio de seus mitos elegeram a Memória (Mnemosine) como uma deusa. Esta fazia com que os homens recordassem dos grandes heróis, dos grandes feitos, de conflitos épicos. Em nove noites passadas com Zeus teve nove filhas das quais a Clio representa a história, assim a antiga civilização grega propõe a história como filha da memória (LE GOFF, 1990, apud MOREIRA, 2011). Segundo Le Goff (1990) a história hoje coloca-se a disposição de problemas para formalizar o seu conceito e sua nova dinâmica como campo científico. Para tanto, há o surgimento de questionamentos sobre relações existentes entre a história vivida e a das sociedades humanas por meio da ciência histórica que as constituem. Assim, desde o início do século, e principalmente nas últimas duas décadas, um ramo da ciência histórica vem estudando a evolução da própria ciência histórica por meio de uma filosofia da história que propõe a história da história ou a chamada historiografia. Lapa (1981), em busca dos conceitos sobre história e historiografia realiza a seguinte reflexão: 33 O conhecimento é o registro inteligente que o historiador procura fazer para compreender a realidade. A Historiografia é justamente o conhecimento crítico dessa representação e do processo que a determinou (...). Dessa maneira, o objeto do conhecimento histórico é o que chamamos de História para efeito de nossas proposições (...). Conhecimento histórico é que resulta do processo limitativo de conhecimento e reconstituição, análise e interpretação daquele objeto, vindo a Historiografia a ser a análise crítica do conhecimento histórico e historiográfico, e do seu processo de produção, reconhecendo, portanto, um conhecimento científico que se perfila pelos métodos, técnicas e leis da ciência histórica (LAPA, 1981, p. 18-9). Nos dizeres de Lapa, observa-se certa preocupação em diferenciar história da historiografia. O autor propõe a história como conhecimento intelectual oriundo de um processo humano e a historiografia como um processo constituido pela análise crítica do conhecimento histórico e do seu processo de produção. Nesse sentido, a história busca explicação ao invés da narração, ou seja, investiga modelos que favoreçam o entendimento de determinadas sociedades e suas estruturas diversificadas desvinculando a história de um mero relato. Nesse sentido, Foucault e Le Goff, afirmam que: A noção de fato histórica, que não é um objeto dado e acabado, pois resulta da construção do historiador, também se faz hoje a crítica da noção de documento, que não é um material bruto, objetivo e inocente, mas que exprime o poder da sociedade do passado sobre a memória e o futuro: o documento é monumento (FOUCAULT; LE GOFF, 1990, p. 10). A crença numa história de modelo único para todas as sociedades desenvolvidas num progresso linear, contínuo e irreversível propagada pelo documento escrito na forma de relato e marcada por uma história de mão única que favorece aos interesses de alguns tem sido criticada há décadas. Essa visão destorcida da realidade já quase não existe, a história é vista como a ciência da explicação da transformação. Na busca de investigar as transformações e explicá-las, a teoria da nova história tem a finalidade de identificar e compreender as diferentes concepções que engendram a análise da história seja na produção da história enquanto conhecimento, seja na sua relação com a história vivida. Para tanto, diversos teóricos desse campo de pesquisa têm focado como objeto de reflexão a interação entre história e memória para intentar o estabelecimento de suas diferenças e de suas relações. 34 3.1.1 Algumas considerações sobre Memória Nesse momento, vários estudiosos defendem a importância de conceituar a memória para além da visão inadmissível que a apresentava como um mero depósito de dados relacionados à vida coletiva e à vida individual. Desse modo, propõem-se transcender para um processo de construção e de transformação caracterizado como instante de criatividade, como forma de produção simbólica, como dimensão construtora de identidade e como condicionante de aceitação de grupos. Nesses termos, a memória deve ―ser antes compreendida como ―território‖, como espaço vivo, político e simbólico no qual se lida de maneira dinâmica e criativa com as lembranças e com os esquecimentos que reinstituem o Ser Social a cada instante‖ (BARROS, 2009, p. 37). Para Ricoeur (1996), a memória apresenta-se como um processo de mutabilidade que propõe uma relação entre a tríade memória, espaço e tempo, que permite reconstruir as três instâncias da temporalidade – Passado, Presente e Futuro, que está sujeito a manipulação da memória pelos projetos futuros e pelos poderes do presente. Nesse sentido, Le Goff propõe que a memória coletiva é uma forma importante na luta das forças sociais pelo poder, [...] Tornarem-se senhores da memória e do esquecimento é uma das grandes preocupações das classes, dos grupos, dos indivíduos que dominaram e dominam as sociedades históricas. Os esquecimentos e os silêncios da história são reveladores desses mecanismos de manipulação da memória coletiva (LE GOFF, 1990, p. 426). Para sustentar esse caráter problemático de uma memória coletiva Le Goff recorre ao trabalho de Michael Pollak intitulado ―Memórias, esquecimento e silêncio‖ que expõe a memória coletiva como um instrumento de dominação, como um caráter destruidor, uniformizador e opressor. Segundo Le Goff (1990, p. 535), ―a memória coletiva e a sua forma científica, a história, se aplicam a dois tipos de materiais: os documentos e os monumentos‖. Para o historiador, o monumento é uma herança do passado, tudo aquilo que pode 35 evocar o passado e recordar eventos, ou seja, tem como característica principal ligar-se ao poder da perpetuação, de forma voluntária ou não, das sociedades históricas como legado à memória coletiva que são os testemunhos ou atos que evocam o passado e minimamente são materializados em testemunhos escritos. Os documentos surgem na visão do autor como escolha do historiador, cabe a ele decidir se são variados, podendo ser livros, atas, manuscritos, pinturas, fotos, entrevistas, entre outros que devem ser tratados como monumentos. O historiador deve decidir quais formas irá traduzir em palavras, ou seja, quais documentos/monumentos poderá analisar, desconstruir, desarticular para produzir a sua escrita. Essa visão que Le Goff atribui em sua obra ―História e Memória‖ para a chamada ―nova história‖ tem seu alicerce em um dos mais reconhecidos historiadores da nossa época – Michael Foucault, que se torna expoente na área por apresentar uma história constituída de práticas em que os homens se tornam verdades e reconhecem as suas lutas em torno dessas verdades (FOUCAULT, 1978, apud LE GOFF, 1990). Foucault apresenta quatro pontos cruciais para a renovação da história, a saber: propõe que o historiador deve questionar o documento – a história em sua concepção atual transforma os documentos em monumentos em que elementos das práticas do homem devem ser isolados, agrupados, relacionados, sistematizados; aspectos de história descontínua – maior atenção para a noção de descontinuidade nas disciplinas históricas (transformações que de uma para a outra); a visão de uma história global perde a consistência – que forma de relação pode legitimar a descrição entre as diferentes etapas desse processo; novos métodos para a história – o detalhamento das ações e relações que caracterizem os elementos de um conjunto. Portanto, Foucault propõe uma filosofia da história fortemente ligada à prática e à metodologia da disciplina histórica (FOUCAULT, 1969, apud LE GOFF, 1990). Para Le Goff, 36 A história-genealogia de Foucault preenche inteiramente o programa da história tradicional; não põe de lado a sociedade, a economia, etc., mas estrutura esta matéria de outro modo: não os séculos, os povos e as civilizações, mas as práticas; as intrigas que ela conta são a história das práticas em que os homens viram verdades e reconheceram as suas lutas em torno dessas verdades (LE GOFF, 1990, p. 87). Assim, esse novo tipo de fazer história, proposto por Foucault, inviabiliza a história geral centrada numa visão macro do convívio em sociedade, em que os homens são estereotipados pelo período em que viveram, por sua descendência. E, se constitui pelas ações e crenças do homem desenvolvidas nas diversas relações sociais que constituíram suas verdades. 3.1.2 História e Memória: prática, discurso e representações Para compreender a história no contexto da Educação Matemática, se faz necessário, responder algumas inquietações do tipo: quais relações existem entre a história e a memória e como investigá-las? O que considerar como documento para explicar a prática docente por meio do uso da história no ensino da matemática? Acredito então, que para produzir a história do uso da história no ensino da matemática em determinado contexto é importante à aproximação com o campo da história, pois ao desenvolver as ações de um historiador realiza-se a construção de um trabalho mais completo e assim produz maior significado a este. Em busca das respostas para os questionamentos levantados, a seleção de documentos escritos é uma importante fonte de fundamentação do trabalho, bem como, as fontes orais que na perspectiva desta pesquisa foi constituída pelas entrevistas concedidas pelos professores que atuam no ensino médio das escolas estaduais do município de Teixeira de Freitas-BA, com a disciplina matemática. Para caracterizar a prática docente quanto ao uso da história da matemática nas escolas estaduais, somente a análise das informações escritas e visuais podem não contemplar todos os aspectos necessários para explicar a compreensão do professor a respeito dessa metodologia e a sua prática. Assim, busquei descrever a prática docente, a partir do olhar dos próprios sujeitos que a desenvolveram, isto é, as fontes orais foram concedidas pelos docentes como alicerce fundamental para o 37 encaminhamento da pesquisa e compreensão do objeto de estudo em questão prática docente do professor de matemática quanto ao uso da história da matemática nas escolas estaduais do município de Teixeira de Freitas-BA. Para realizar a análise das práticas docentes nesta pesquisa recorri aos relatos apresentados pelos docentes por meio de questionário/entrevista que permitiram construir os discursos sobre as práticas desenvolvidas, conscientes que o discurso pode trazer indícios de como ocorreram às práticas ou que o discurso pode apresentar-se dicotômico em relação à prática, pois compreendo que o discurso expressa a representação que se tem da prática. Segundo Bethânia Mariane (1998 apud MIGUEL, 2009), a Análise de Discurso tem a finalidade de investigar e (re)investigar as relações entre a linguagem, a história, a sociedade e a ideologia, a produção de sentidos e a noção de sujeito, o que possibilita compreender a construção de alguns discursos. Por meio dos discursos (re)produzidos na atualidade encontra-se importantes elementos linguísticos e discursivos que nos permitem analisar os vestígios que atravessam e constituem os movimentos de identificação na memória institucional, que estabiliza, cristaliza, e o da memória constituída pelo esquecimento, que torna possível a ruptura, o diferente, produzindo outros sentidos. Fisher expõe em seu artigo intitulado ―Foucault e a análise do discurso em educação‖ a reflexão de Foucault sobre o discurso e suas pretensões futuras em relação ao tema. [...] gostaria de mostrar que o discurso não é uma estreita superfície de contato, ou de confronto, entre uma realidade e uma língua, o intrincamento entre um léxico e uma experiência; gostaria de mostrar, por meio de exemplos precisos, que, analisando os próprios discursos, vemos se desfazerem os laços aparentemente tão fortes entre as palavras e as coisas, e destacar-se um conjunto de regras, próprias da prática discursiva. (...) não mais tratar os discursos como conjunto de signos (elementos significantes que remetem a conteúdos ou a representações), mas como práticas que formam sistematicamente os objetos de que falam. Certamente os discursos são feitos de signos; mas o que fazem é mais que utilizar esses signos para designar coisas. É esse mais que os tornam irredutíveis à língua e ao ato da fala. É esse, mais, que é preciso fazer aparecer e que é preciso descrever (FOUCAULT, 1986, p. 56, apud FISHER, 1996, p.199). 38 Para analisar as práticas docentes tive que pensar em mais uma variável em cena que é difundida por Foucault e denomina-se representação. Assim, a representação é a forma pela qual o sujeito apropria-se de determinado objeto levando-o a compreensão, não que seja necessariamente à realidade correspondente. Para Chartier, ―as representações não são simples imagens, verdadeiras ou falsas é uma realidade que lhes seria externa; elas possuem uma energia própria que leva a crer que o mundo ou o passado é, efetivamente, o que dizem que é‖ (CHARTIER, 2009, p. 51-52). Assim, uma forma de representação do passado muito conhecida é a memória, que por meio do discurso o sujeito declara como se recorda de determinado fato. Entretanto, sabe-se que para adentrar no campo da memória é necessário ser perspicaz e meticuloso, uma vez que, a memória pode pregar peças, pode falhar, pode estar em constante reformulação e assim, a representação do passado é constituída. Mas, a nova história propõe que o historiador deve perceber a importância que a memória tem na história e o lugar que ela ocupa é imprescindível para a sua construção. Para o estudioso Le Goff, a história se difere da memória, pois ―[...] o passado não é a história, mas o seu objeto, também a memória não é a história, mas um dos seus objetos e simultaneamente um nível elementar de elaboração histórica‖ (LE GOFF, 1990, p. 40). Chartier (2009, p. 24) direciona a atenção para a relação existente entre memória e história, e propõe diferenciá-las pelas suas especificidades, uma vez que, a memória ―é conduzida pelas exigências existenciais das comunidades para as quais a presença do passado no presente é um elemento essencial da construção de seu ser coletivo‖. Já no que tange a história a singularidade reside nessa capacidade de distinguir e articular as diferentes temporalidades que se imbricam em cada momento histórico, mas estas temporalidades não são centradas ou decorrentes de uma temporalidade determinante. Essa forma de pensar a historiografia contemporânea apresenta duas questões: de um lado, problematiza a concepção segundo a qual as temporalidades são simples ―medidas do mundo e dos homens‖, ―externas aos indivíduos‖ – tal como até hoje se ensina nas escolas brasileiras; de outro, repensa a noção desacontecimentalizada de tempo e de história dos Annales, 39 reintroduzindo no cerne dessa concepção de história o conceito de acontecimento (não mais entendido como os fatos ou as decisões políticas conscientes, mas como as descontinuidades e rupturas). Nesse sentido, é importante para a pesquisa a visão conceitual sobre memória e história, uma vez que, trata-se de uma pesquisa qualitativa que contou com relatos de docentes para investigar as práticas em relação o uso da história da matemática no ensino. Assim, apoia-se nos dizeres de Chartier para consolidar o lugar de importância da memória para a história. Não se trata de reivindicar a memória contra a história, à maneira de alguns escritores do século XIX, e sim de mostrar que o testemunho da memória é o fiador da existência de um passado que foi e não é mais. O discurso histórico encontra ali a certificação imediata e evidente da referencialidade de seu objeto (CHARTIER, 2009, p. 23-24). 3.2 AS POTENCIALIDADES DA HISTÓRIA DA MATEMÁTICA NO ENSINO E APRENDIZAGEM Um dos desafios da Educação Matemática para esse milênio está relacionado com o ato de investigar novos caminhos a serem utilizados para o ensino. Para isso, as pesquisas apontam para o desenvolvimento de estudos de métodos e instrumentos inovadores, que buscam facilitar a aquisição de conhecimentos matemáticos. Segundo D‘Ambrosio ―[...] o novo papel do professor será o de gerenciar, de facilitar o processo de aprendizagem e, naturalmente, de interagir como o aluno na produção e crítica de novos conhecimentos, e isso é essencialmente o que justifica a pesquisa‖ (D‘AMBROSIO, 2010, p. 80). Nesse sentido, o professor é o principal responsável pela transformação da sua prática pedagógica e pesquisar permite uma interface interativa entre a teoria e prática. Visando dinamizar o conhecimento matemático, surgem diversas tendências para o estudo da disciplina. Dentre as tendências destacam-se a modelagem matemática, a resolução de problemas, a informática, a etnomatemática, a História da Matemática. Como todas essas tendências foram concebidas em ambientes de investigação e estão em ciclos de constante transformação e renovação, seria despretensioso conceber as pesquisas como meros instrumentos de transposição didática para o 40 ensino da matemática. E com a História da Matemática não seria diferente, para sua utilização adequada, se faz necessário, mergulhar nos estudos que constituem e validam sua ação, eficácia e comprometimento com o ensino, direcionando em sua prática aspectos que facilitam a assimilação de conceitos matemáticos, propondo a mesma como construção humana, concebida mediante necessidades enfrentadas pela sociedade em determinado contexto histórico, social e cultural das diversas civilizações que existiram e existem no mundo. Para Farago, ao conhecer as origens da construção de determinados conceitos é possível compreender os porquês de tal construção e prioritariamente, humaniza a matemática. A História da Matemática constitui um dos capítulos mais interessantes do conhecimento. Permite compreender a origem das ideias que deram forma à nossa cultura e observar também os aspectos humanos do seu desenvolvimento: enxergar os homens que criaram essas ideias e estudar as circunstâncias em que elas se desenvolveram. Assim, esta História é um valioso instrumento para o ensino-aprendizado da própria Matemática. Podemos entender por que cada conceito foi introduzido nesta ciência e por que, no fundo, ele sempre era algo natural no seu momento (FARAGO, 2003, p. 17). É perceptível que a simples utilização da História da Matemática como instrumento de ensino, não alcançara os objetivos que pretende frente ao ensino da matemática. Para que tal efeito não ocorra, denota-se a mudança de postura do educador em relação a sua forma de ver a matemática e como esta interagiu e interage para a construção da sociedade. Para Silva, a História da Matemática deve ser concebida mediante uma mudança de postura de como o educador compreende a matemática e ressalva, [...] se a encararmos como uma ciência quase autossuficiente, pronta e acabada e acreditarmos que existam duas castas de pessoas: aquelas que a dominam e ensinam e uma outra que é instruída pela primeira, dificilmente, haveria espaço para a História da Matemática no processo de ensino-aprendizagem. Mas, se por outro lado, ao encararmos como apenas uma das muitas formas de conhecimento, ou ainda como um tipo de manifestação cultural ou atividade humana mais geral, então, a história desse conhecimento reveste-se de significado e estudar a História da Matemática é uma forma de entender melhor as relações do homem com o conhecimento matemático dentro de um certo contexto cultural (SILVA, 2001, p. 129-130). 41 Naturalmente percebo que a utilização adequada da História da Matemática para o ensino depende da relação íntima e premeditada entre a História da Matemática e a formação acadêmica do educador. Visto isso, salienta-se a importância de tal estudo na formação do docente, tanto no aspecto da história propriamente dita, quanto nas formas de abordagem dessa linha de pesquisa da educação matemática. Entretanto, sua importância na formação de professores é comentada nos documentos dos PCNs: O conhecimento da história dos conceitos matemáticos precisa fazer parte da formação dos professores para que tenham elementos que lhes permitam mostrar aos alunos a matemática como ciência que não trata de verdades eternas, infalíveis e imutáveis, mas como ciência dinâmica, sempre aberta à incorporação de novos conhecimentos (BRASIL, 1998, p. 30). Nessa perspectiva, se faz necessário, durante a formação acadêmica o professor ter contato com a História da Matemática, pois estimula a reflexão sobre os conteúdos estudados, proporcionando através de fatos produtores do saber o significado para tal estudo, e também serve como elo entre saberes do passado e do presente, criando e transportando ideias que constituem uma identidade pedagógica que possa ser de grande valia para os professores no futuro. Mendes apresenta dois caminhos para o professor abordar conteúdos matemáticos utilizando a História da Matemática como recurso metodológico. Primeiramente, [...] é necessário que sua atividade seja revestida também pela pesquisa. Isso significa ser necessário ao professor levantar na história da matemática, problemas que necessitem de respostas, visando assim tomálos como ponto de partida das atividades pedagógicas a serem desenvolvidas em sala de aula (MENDES, 2001, p. 229). Logo, [...] sua classe transformar-se-á em um ambiente no qual os estudantes posicionar-se-ão como investigadores preocupados em responder certas questões abertas no contexto da matemática escolar e que poderão ser respondidas a partir da investigação dos aspectos históricos referentes ao problema investigado (MENDES, 2001, p. 229). 42 O método propõe uma organização sistemática dos acontecimentos matemáticos, diminuindo a visão fragmentada que alguns têm da matemática, oportunizando vê-la de forma holística. O segundo caminho, [...] diz respeito à utilização das informações históricas presentes nos livros de história da matemática ou similares e, a partir de tais informações, elaborar atividades de ensino visando com isso fomentar a construção de noções matemáticas pelo aluno (MENDES, 2001, p. 230). Essa opção abrange todas as modalidades de ensino, caracterizando a importância da utilização dessa tendência da Educação Matemática para facilitar a aquisição de conhecimentos, em que almeja-se o desenvolvimento social e cognitivo do educando. Contudo, espero que a História da Matemática possa ajudar a diminuir lacunas no ensino da matemática, promovendo condições para que todo o indivíduo tenha a possibilidade de percebê-la no seu cotidiano, analisando aspectos sociais, políticos e culturais de sua construção. Além disso, dá subsídio para uma postura mais critica frente às dificuldades sociais, evidenciando uma matemática feita para o bem comum de todos os integrantes das esferas sociais. 3.3 DISCUTINDO AS INVESTIGAÇÕES E TEORIAS ACERCA DA HISTÓRIA DA MATEMÁTICA NA EDUCAÇÃO ESCOLAR Há décadas, é visível a inserção de elementos históricos em produções voltadas para o ensino da matemática, sejam em livros didáticos, em paradidáticos, em atividades ou projetos desenvolvidos por professores, em currículos direcionados por escolas ou órgãos governamentais responsáveis pela elaboração de diretrizes para os ensinos fundamental, médio e superior. Na busca da compreensão desse movimento, vários autores têm pontuado o poder motivador dos elementos históricos como alicerce para o processo de aprendizagem matemática e ressaltam que por meio da motivação, o discente encontrará os porquês da construção do conhecimento em questão, instigando-o a pesquisar e, 43 consequentemente, encontrará os significados para o entendimento do conhecimento proposto. Os PCNs reforçam o pensamento sobre o aspecto motivador da História da Matemática e propõem que: [...] ao revelar a matemática como uma criação humana, ao mostrar necessidades e preocupações de diferentes culturas, em diferentes momentos históricos, ao estabelecer comparações entre conceitos e processos matemáticos do passado e do presente, o professor tem a possibilidade de desenvolver atitudes e valores mais favoráveis do aluno diante do conhecimento matemático (BRASIL,1998, p. 42). Mas, será a história propriamente dita somente um elemento automotivador para a aprendizagem matemática? Se não, como se fazer valer da história para alcançar aspectos qualitativos para o ensino e aprendizagem da matemática? Segundo o historiador alemão Gert Schubring (1997, p. 157), uma ―abordagem direta” da história em sala de aula se constitui ―tradicionalmente pela introdução a História nas aulas por meio de elementos biográficos de matemáticos de renome ou de estudo de textos originais‖. Para o autor, essa abordagem não apresentaria possibilidade motivadora, uma vez que, os ―valores do historicismo‖ já não estarem presentes em algumas sociedades, ou seja, a motivação histórica estaria atrelada diretamente à cultura e à sociedade e o tratamento do conhecimento não pode ser o mesmo para todos os países, em todos os momentos históricos (SCHUBRING, 2005 apud MIGUEL; MIORIM, 2011). Em defesa de seu pensamento mais amplo sobre as potencialidades pedagógicas da história no ensino, Schubring menciona o trabalho desenvolvido pelo historiador Paulus Gerdes (1991), que sugere a construção do conhecimento matemático por meio de estratégias históricas para uma educação emancipadora, onde apresenta a Matemática congelada, isto é, a Matemática dos povos colonizados que fora congelada ou perdida. O foco do pensamento era de descongelamento das práticas Matemáticas antigas de modo que estas fossem reconstituídas e reaproveitadas, assim, a motivação proporcionada pela história encontra-se diretamente relacionada ao seu papel como elemento fundamental para a promoção da inclusão social, via 44 resgate da identidade cultural de determinado grupo social discriminado no contexto escolar (MIGUEL; MIORIM, 2011). Com vistas em uma abordagem da História da Matemática que exceda o poder exclusivo da motivação, pondero que os valores históricos realça o papel da Matemática na sociedade, esclarecendo os motivos de sua criação, as necessidades que implicaram na busca por tal conhecimento, as continuidades e rupturas do pensamento matemático e a importância das concepções epistemológicas envolvidas, no tempo e espaço, que foram constituídas. Nesse sentido, Schubring (1997 apud MOTTA; BROLEZZI, 2008) afirma que a ―abordagem indireta” da História da Matemática aconteceria mediante análise de problemas históricos, a partir da sua gênese, inspirados nos fatos e nas demonstrações envolvidas no momento crucial para o surgimento dessa gênese. Desse modo, acredita que essa abordagem na formação de professores favorece a constituição de uma postura frente ao conhecimento ao qual denomina de metasaber capaz de contribuir para uma melhor orientação dos processos pedagógicos, uma vez que, serve como base para o entendimento do desenvolvimento da matemática. Assim, o meta-saber pode contribuir para a visão holística das diferentes epistemologias e conceitos da construção matemática de diversas culturas e sociedades, e viés crítico para analisar os erros como instrumentos reveladores de fatores como a limitação dos valores dominantes em uma comunidade matemática, a indicação de rupturas, de desenvolvimentos não contínuos e da importância de concepções epistemológicas. Para Miguel (1997), a História da Matemática no processo de ensino-aprendizagem se justifica mediante argumentos que sugerem as potencialidades pedagógicas na educação escolar. As investigações apresentadas por esse autor apontam como argumentos reforçadores a História da Matemática como fonte de motivação, de objetivos, de métodos, de seleção de problemas práticos, curiosos, informativos e recreativos. Com fins social, ético e político atua como instrumento de desmistificação e desalienação do ensino, de formalização de conceitos, de promoção do pensamento crítico, de viés interdisciplinar - unificando diversas áreas 45 do saber, desenvolvimento de atitudes e valores, de conscientização epistemológica, possibilita a aprendizagem significativa e de resgate da identidade cultural. Com base em sua natureza de pesquisador, Miguel (1997) apresenta também quatro argumentos questionadores a respeito da utilização da História da Matemática e suas potencialidades pedagógicas, tais como: ausência de literatura adequada, a natureza imprópria da literatura disponível, o fator complicador que pode representar o elemento histórico e a ausência na criança do sentido do progresso histórico. Em busca do equilíbrio entre os argumentos propostos por Miguel, propõe-se uma postura meticulosa com vistas na análise dos pros e contras em relação ao uso da História da Matemática, e assim, proporcionar uma abordagem investigativa por meio da história que favoreça o aprendizado de conhecimentos matemáticos que contemplem nessa ação pedagógica a articulação entre as variáveis que interferem no processo de ensino e aprendizagem. Em relação aos desafios enfrentados pelos professores e pesquisadores que buscam no desenvolvimento de suas atividades fazer uso consciente e embasado da história, diz respeito aos tipos de vínculos constituídos das relações intrínsecas entre a produção sócio-histórica do conhecimento – faz menção como é concebida a cultura historicamente produzida - em particular, a cultura matemática (filogênese) e a produção e/ou apropriação pessoal dessa cultura no presente (psicogênese), nas práticas pedagógicas escolares e nas práticas de investigação acadêmica (MIGUEL; MIORIM, 2011). Segundo Chartier, [...] a apropriação, visa uma história social dos usos e das interpretações, referida a suas determinações fundamentais e escrita nas práticas específicas que a produzem. Assim, voltar à atenção para as condições e os processos que, muito concretamente, sustentam as operações de produção do sentido (na relação de leitura, mas em tantos outros também) é reconhecer, contra a antiga história intelectual, que nem as inteligências nem as ideias são desencarnadas, e, contra os pensamentos do universal, que as categorias dadas como invariantes, sejam elas filosóficas ou fenomenológicas, devem ser construídas na descontinuidade das trajetórias históricas (CHARTIER, 1991, p. 180). 46 Para uma compreensão melhor estabelecida entre os processos da filogênese e psicogênese aqui exposto, descrevo os vínculos acima citados em dois aspectos diferentes: os de natureza epistemológica e os de natureza ética. Os vínculos de natureza epistemológica surgem da necessidade da Educação Matemática em fazer com que o discente compreenda e se aproprie de resultados, métodos, procedimentos, algoritmos, etc. Em contrapartida, os vínculos de natureza ética, surgem na Educação Matemática mediante a necessidade da formação do discente como um cidadão, imbuída de valores e atitudes, construídos por intermédio do conhecimento matemático (MIGUEL; MIORIM, 2011). Com vistas a uma Educação Matemática que atenda às necessidades que lhe são impostas, a tendência na situação apresentada visa harmonizar os vínculos tanto de natureza epistemológica quanto ética no sentido de alcançar e localizar no tempo e espaço o papel que a Educação Matemática deve desempenhar para a sociedade e, consequentemente, observo no campo de investigação da História na Educação Matemática como uns dos meios de reflexão e ação para depararmos com tal propósito. Nesse sentido, em meio à discussão proposta para articular a História da Matemática com a Educação Matemática se torna imprescindível aprofundar os estudos sobre as perspectivas teóricas existentes para essa finalidade, no certame, tentar compreender como alguns teóricos se apropriaram da História da Matemática para constituírem suas perspectivas. Para tanto, utilizo como base para esse estudo o livro ―História na Educação Matemática: Propostas e Desafios‖ de Antonio Miguel e Maria Ângela Miorim editado em 2011. 3.4 HISTÓRIA NA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA: PERSPECTIVAS TEÓRICAS No sentido de ampliar a discussão sobre as investigações da História na Educação Matemática e, assim, identificar algumas perspectivas teóricas que norteiam esse campo de investigação e estabelecer um novo olhar em torno da participação da história na Educação Matemática, Miguel e Miorim (2011) realizaram um estudo e apresentaram seis perspectivas teóricas: i) a evolucionista linear; ii) a estrutural- 47 construtiva operatória; iii) a evolutiva descontínua; iv) a sociocultural; v) a de jogos e ecos; vi) e a concepção de história pedagogicamente vetorizada. Conforme Miguel e Miorim (2011), a perspectiva evolucionista linear tem base nos trabalhos do morfologista Ernst Haeckel2 (1834-1919), onde defende a lei biogenética dando origem ao ―princípio recapitulacionista", em que propõe a seguinte afirmação: ―a ontogenia recapitula a filogenia‖. Dalgalarrondo expõe que, Na época de Haeckel, acreditava-se que a evolução progredia em determinada sequência linear, na qual eram adicionadas partes novas às mais antigas (conceito de adição terminal), e que, ao longo do desenvolvimento, as partes mais complexas se superpunham às mais simples, as mais recentes às mais antigas (DALGALARRONDO, 2011, p. 20-21). Em uma abordagem pedagógica o ―princípio recapitulacionista‖ passou a ser denominado de ―princípio genético‖, que propõe que o discente aprende Matemática por meio da recapitulação progressiva e cronologica da construção do conhecimento. Alguns matemáticos como Henri Poincaré (1854–1912) e Félix Klein (1849-1925) se apropriaram desse princípio na perspectiva pedagógica e conceberam ―a Matemática como um corpo acumulativo, evolutivo e hierárquico de conhecimentos produzidos, cada um em um tempo determinado‖ (MIGUEL; MIORIM, 2011, p. 85). Contudo, para essa perspectiva Miguel (2003) propõe que a Matemática constituiria somente de corpo cumulativo prévio e sequenciado de conhecimentos produzidos, cada um em um tempo determinado, que deveria ser administrado em etapas cronologicamente sequenciadas, hierarquizadas e qualitativamente indistintas durante o processo de ensino e aprendizagem. 2 Biólogo, zoólogo e médico alemão, nasceu em Potsdam, Prússia, em 16 de fevereiro de 1834. Formou-se em medicina pela Universidade de Berlim em 1857. Tornou-se professor de zoologia na Universidade de Jena, em 1862. Publicou as seguintes obras: Morfologia Geral dos Organismos, 1866; História Natural da Criação, 1868; e outro relatos científicos como a Antropogenia e a Filogenia Sistemática; Monismo; Origem do Homem; Religião e Evolução; e As Maravilhas da Vida. 48 A segunda perspectiva, denominada estrutural-construtiva operatória possui suas raízes nos referenciais teóricos desenvolvidos por Jean Piaget e Rolando García, com ampla abordagem no livro publicado em 1982, intitulado Psicogênese e História da Ciência, os autores argumentam que a construção do conhecimento matemático tanto na filogênese (construção histórica) quanto na psicogênese (construção pessoal), provem da repetição dos mesmos mecanismos cognitivos, operatórios e gerais (abstração reflexiva e generalização completiva) que, embora atuem sobre uma matéria cognitiva sempre mais ampla e renovada, não mudam de natureza e função. Segundo Piaget, [...] a abstração reflexiva é a construção de um órgão regulador, que organizaria todo o funcionamento do processo psicogenético das estruturas operatórias. Deste modo, a açào só se prolongaria em operação, "após a reconstrução dessas estruturas práticas em estruturas de pensamento", efetuadas retrospectivamente pela abstração reflexiva (1973 apud Silva, 2000). Sobre a generalização completiva Teixeira propõe que A generalização completiva ou construtiva ocorre simultaneamente à abstração reflexiva e consiste em gerar novas organizações estruturais cuja generalidade conduz a aumentos tanto em extensão (conjuntos de situações às quais se aplica) quanto em compreensão (características ou propriedades comuns nas quais as generalizações se baseiam) (TEIXEIRA, 1993). Nessa perspectiva a concepção apresentada para aprendizagem da Matemática se dá pela reconstrução pessoal das operações cognitivas requeridas por um objeto matemático em seu processo de construção histórica. Portanto, recorre-se à história no ensino como campo de possibilidades de busca de conflitos cognitivos e de mecanismos cognitivos operatórios específicos que promovem a passagem de uma à outra etapa do processo de construção de um objeto matemático (MIGUEL; MIORIM, 2011). Ambas as perspectivas tratadas até o presente momento apresentam características regidas pela linearidade em sua concepção e sentido progressivo do conhecimento, nos cria a sensação de um conhecimento contínuo e de natureza pura e progressista. 49 A próxima perspectiva abordada propõe rupturas no pensamento base das perspectivas apresentadas até o momento, isto é, a perspectiva evolutiva descontínua assim denominada por Miguel e Miorim (2011) traz à tona a concepção de ruptura na visão linear e progressista incorporadas a elas, onde podem acontecer momentos de estagnação e de regressão. Essa perspectiva é embasada nos estudos de Gaston Bachelard (1884–1962) presente na obra – ―A formação do espirito científico: uma psicanálise do pensamento objetivo‖, publicada na década de 30. Esses momentos de estagnação e de regressão são ocasionados pelos obstáculos epistemológicos, ou seja, pelos conhecimentos massificados no indivíduo tornando-o incapaz de romper com suas concepções, privando-o de conhecimentos mais avançados. Assim, Bachelard define obstáculo epistemológico da seguinte maneira: Quando se procuram as condições psicológicas do progresso da ciência, logo se chega à convicção de que é em termos de obstáculos que o problema do conhecimento científico deve ser colocado. E não se trata de considerar obstáculos externos, como a complexidade e a fugacidade dos fenômenos, nem de incriminar a fragilidade dos sentidos e do espírito humano: é no âmago do próprio ato de conhecer que aparecem, por uma espécie de imperativo funcional, lentidões e conflitos. É aí que mostraremos causas de estagnação e até de regressão, detectaremos causas de inércia às quais daremos o nome de obstáculos epistemológicos (BACHELARD, 1996, p. 17). A concepção de aprendizagem proposta nessa perspectiva caracteriza-se que aprender Matemática é, portanto, aprender a superar como obstáculos epistemológicos. Assim, o papel da história no ensino se configura na busca da identificação de obstáculos epistemológicos que se manifestam tanto na filogênese quanto na psicogênese de um objeto matemático específico a fim de compreender melhor ambos os processos (MIGUEL; MIORIM, 2011). A quarta perspectiva pontuada nesse trabalho é intitulada de sociocultural, é concebida conforme a teoria de Vygotsky (1896-1934) e defendida pelos pesquisadores Luis Radford da Université Laurentienne do Canadá e Fulvia Furinghetti da Universidade de Genova na Itália. A concepção de aprendizagem se estrutura na capacidade pessoal ―internalizar‖ (coapropriar-se, entender, usar e coproduzir), por meio da negociação interativa, de natureza sobretudo dialógica, as 50 significações sócio-históricas constitutivas dos objetos matemáticos, internalização mediada por atividades pedagógicas adequadas ao contexto cultural escolar e baseadas em cuidadosas análises epistemológicas da história. Segundo Motta, O conhecimento matemático é re-criado e co-criado pelo aluno através do uso de signos e do discurso, ou seja, o conhecimento matemático resulta da negociação social dos signos, é um processo linguístico-semântico. A História da Matemática torna-se inspiradora de sequências didáticas para o ensino-aprendizagem ao possibilitar a constituição dos contextos e circunstâncias de produção dos conceitos, das significações produzidas e negociadas na produção, circulação, recepção e transformação desse conhecimento (MOTTA, 2008, p. 5). Portanto, segundo Miguel e Miorim (2011) a história é vista como um laboratório de experiências humanas com as quais se procura dialogar por meio de um contraste oblíquo com as práticas pedagógicas atuais a fim de constituírem atividades didáticas para o ensino e aprendizagem escolar da matemática. A quinta perspectiva apresentada por Miguel e Miorim (2011), é denominada de perspectiva dos jogos de vozes e ecos e possui fundamentação teórica embasada nos trabalhos de L. S. Vygotsky, L. Wittgenstein e M. Bartin. A sua concepção de aprendizagem se baseia na capacidade pessoal ―internalizar‖ (coapropriar-se, entender, usar e coproduzir), por meio da negociação interativa, de natureza, sobretudo dialógica, as significações e as características do conhecimento matemático teórico herdado da tradição cultural, internalização mediada por tarefas adequadas desenvolvidas no interior de jogos de vozes e ecos. Segundo Miguel e Miorim, o papel da história no ensino dessa perspectiva sugere: A fim de estudar o funcionamento dos jogos de vozes e ecos, cujo objetivo pedagógico não é construir um conceito ou uma solução original para um problema nem validar uma produção do estudante, mas detectar contradições entre as vozes históricas e as do estudante a fim de propiciar a ampliação do horizonte cultural dos discentes nele incorporando elementos difíceis de serem construídos através de uma abordagem tradicional ou construtivista da matemática em sala de aula, tais como: concepções que ferem o senso comum e a intuição; métodos que ultrapassam os limites das experiências cotidiana dos alunos; tipos especializados de organização do discurso científico e matemático, etc. A história é, portanto, vista como o instrumento ideal para se acessar aquelas características do conhecimento 51 científico ou teórico que não se manifestam no conhecimento construído espontaneamente fora da escola (MIGUEL; MIORIM, 2011, p. 143). Por fim, tem-se a perspectiva história pedagogicamente vetorizada sugerida por Miguel e Miorim que tem como ponto de partida que: [...] histórias podem e devem constituir pontos de referência para a problematização pedagógica da cultura escolar e, mais particularmente, da cultura da matemática e da educação matemática escolares, desde que sejam devidamente constituídas com fins explicitamente pedagógicos e organicamente articuladas com as demais variáveis que intervêm no processo de ensino-aprendizagem escolar da Matemática (MIGUEL; MIORIM, 2011, p. 156). De acordo com o proposto, a concepção apresentada sobre essa perspectiva sugere que histórias pedagogicamente vetorizadas passem a ser organizadas sob o olhar crítico do educador matemático, onde busca-se uma história institucional da cultura matemática. A história institucional aqui, se refere ao mesmo sentido dado por Thompson a expressão social ―entendida como um processo de reconstrução de um conjunto de regras, recursos e relações que as constituem, propondo o seu desenvolvimento através do tempo e analisar as práticas e atitudes das pessoas que agem a seu favor e dentro delas‖ (THOMPSON, 1995, p. 367). Desse modo, a história deve ser constituida a partir de problemas e questionamentos oriundos de práticas sociais pelas quais a cultura matemática se encontra envolvida, e assim, percebe-se nesse processo como ocorre a organização e apropriação dessa cultura nos interiores de diferentes instituições (MIGUEL; MIORIM, 2011). Outra característica tratada nessa perspectiva por Miguel e Miorim (2011), diz respeito à história-problema que é, [...] uma história que põe problemas, isto é, que parte de problemas que se manifestam em práticas pedagógicas e investigativas do presente e que preocupam, de certa forma, o professor de Matemática e/ou, o pesquisador em Educação Matemática do presente; é, portanto, uma história que se faz pensando tanto nos estudantes quanto nos futuros professores de Matemática desses estudantes, e não necessariamente nos historiadores ou nos matemáticos de ofício (MIGUEL; MIORIM, 2011, p. 160). 52 Por fim, os autores propõem que a historiografia não tem o papel na Educação Matemática como instrumento moralizador que tivessem o poder de resolver os nossos conflitos éticos, políticos, pedagógicos ou sociais, ou seja, não como fonte de respostas ou regras a serem repetidas no presente, mas, como uma fonte de diálogo e reflexão sobre as diversas formas de saber e fazer a matemática nas diferentes culturas. 53 4 O ESBOÇO DO DESENHO: PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA Desenhar é a integridade da arte. Não há possibilidade de trapacear. Ou é bom ou é ruim. (SALVADOR DALÍ) Como produzir este desenho? Que formato ele terá? Quais são as cores que manterão vivo o desenho? E quem são os estudiosos e pesquisadores dessa arte que inspiraram o desenho? Esses questionamentos foram importantes para orientar o esboço dessa pesquisa. Uma vez que, as leituras me direcionaram para o esboço pretendido mesmo sabendo que para estruturar a pesquisa ao longo desta caminhada tive a necessidade de fazer ajustes, adequações, corrigir imperfeições que pudessem aparecer mediante a complexidade do desenho. Para a construção deste desenho foi necessário constituir um aporte teórico capaz de orientar as ações numa perspectiva qualitativa que metodologicamente servisse de base para realizar investigações por meio de análise documental e entrevistas, com a intenção de encontrar vestígios da prática docente quanto ao uso da história da matemática no Ensino Médio nas escolas estaduais do município de Teixeira de Freitas, Bahia. Flick (2004) lista oito aspectos intrínsecos à pesquisa qualitativa, a saber: apropriabilidade de métodos e teorias (em que reflete sobre a possibilidade de um problema de pesquisa poder ser estudado empiricamente ou não); perspectivas dos participantes e sua diversidade (a pesquisa qualitativa estuda o conhecimento e as práticas dos participantes); reflexividade do pesquisador e da pesquisa (as subjetividades do pesquisador e dos participantes da pesquisa constituem parte do processo de pesquisa); variedade de abordagens e métodos na pesquisa qualitativa (abordagens teóricas e métodos diversificados caracterizam as discussões e a prática da pesquisa em relação a sua complexidade); Verstehen3 como princípio epistemológico (a pesquisa qualitativa tem a finalidade a compreensão do fenômeno ou evento a partir de sua especificidade); a reconstrução de casos como ponto de 3 O significado atribuído a palavra de origem alemã Verstehen é compreensão. 54 partida (reconstrói-se a teoria subjetiva única a partir da análise do caso único, antes de enunciados comparativos ou gerais); a construção da realidade como base (a realidade é construída pelos sujeitos e seu posicionamento frente a um determinado fenômeno); e o texto como material empírico (são produzidos textos nos quais se fazem análises empíricas reais que por meio da opinião do sujeito é reconstruída como sua teoria subjetiva podendo ser gravado e transcrito). Para o desenvolvimento da pesquisa foi imprescindível à ideia de corpus de aspectos que formalizem a pesquisa qualitativa e a partir dos oito aspectos supracitados busquei compreender o processo de construção de uma realidade social no campo educacional. Uma vez que, a realidade foi construída ou (re)construída por meio das representações dos sujeitos envolvidos na pesquisa com fins investigativos, buscando estreitar os laços entre o texto e a realidade estudada. 4.1 DA GARATUJA AO DESENHO: INSTRUMENTOS, FONTES, COLETA E ANÁLISE DE DADOS Com o intuito de consquistar olhares para o desenho e mantê-los atraídos pela construção deste, houve a preocupação desde o início, que a produção textual desta obra se apresentesse de forma clara e acessível a diversos grupos interessados pela sua composição. Apoiando-se então, numa construção qualitativa que visa propor o uso da História da Matemática como suporte metodológico que pode facilitar o ensino da matemática. Desse modo, além de apresentar os resultados compreendidos pelo artista/pesquisador do desenho que contemplassem os objetivos propostos para a obra, também houve a preocupação de descrever o traçado utilizado no seu desenvolvimento. Revelando as reformulações que o desenho sofreu devido às dificuldades enfrentadas para expressar as intenções do desenho, enfim, procurando apresentar a (des)construção de concepções e estratégias da pesquisa. Nesse sentido, tomei por base os aportes teóricos que me orientaram em direção a um olhar clínico enquanto pesquisador, constituídos no Capítulo 2, para descrever as etapas da construção deste desenho, desde os instrumentos utilizados para a 55 sua concepção, o tratamento atribuído às fontes escritas e orais, os sujeitos que cooperaram nessa produção, o cenário escolhido como pano de fundo, a estrutura das categorias de análise dos traçados e cores utilizados no desenho, bem como, o produto gerado com a arte do desenho. A fim de encontrar um traçado firme para o desenho que orientasse a construção deste trabalho, iniciei a jornada realizando a primeira visita técnica no dia 31/07/2013 à Diretoria Regional de Educação-Direc, polo 09, situada no município de Teixeira de Freitas, Bahia. Essa instituição representa os interesses da Secretaria de Educação do Estado da Bahia/SEC-BA quanto à regulação administrativa e pedagógica da educação baiana no município e sua jurisdição estendem-se aos municípios de Mucuri, Alcobaça, Lajedão, Medeiros Neto, Nova Viçosa, Ibirapuã, Vereda, Caravelas, Itanhém e Prado. Os municípios supracitados compõem o polo regional 09 e tem como figura máxima de sua representação no cargo de diretora a professora Maria Dias Assunção. Segundo o site da SEC-BA, este Estado possui 33 sedes regionais, denominadas Diretorias Regional de Educação (Direc). Dotadas de recursos humanos e instalações físicas próprias, as Direcs representam a Secretaria na administração regional e recebem apoio da sede, bem como desenvolvem programas que buscam melhorar a ação da Secretaria junto aos municípios do Estado. Sancionada pelo Decreto n.º 6.212, de 14 de fevereiro de 1997, pelo então governador do Estado da época o Sr. Paulo Souto, dispõe em sua estrutura as condições de funcionamento, de organização administrativa e as competências das denominadas Diretorias Regionais de Educação, bem como, a sua atuação frente ao sistema educacional implementado nas unidades escolares da rede estadual de ensino. 56 De modo geral, as Direcs têm por finalidade descentralizar as ações educacionais, socioeducativas e comunitárias, no âmbito do Estado, executando atividades técnico-pedagógicas e administrativo-financeiras4. Nesse primeiro contato, como proponente da pesquisa fui recebido na Direc-09 pela coordenadora da Coordenação de Educação Básica-CODEB, Erisnalva Gusmão Ramos com o intuito de apresentar o projeto de pesquisa que até o presente momento era intitulado ―História da Matemática no Processo Educativo: análise da prática docente no município de Teixeira de Freitas, Bahia‖. Após apresentação dos objetivos da pesquisa a coordenadora de Educação Básica elaborou um documento (ANEXO A) que autorizou o desenvolvimento da pesquisa nas unidades escolares estaduais, promovendo o acesso às dependências das unidades, abrangendo assim, as bibliotecas, a sala dos professores, as salas de aulas, etc. Outro aspecto importante desse encontro refere-se ao contato com o professor Ivanildo Rocha, então Articulador Regional (AR) do programa Ensino Médio em Ação – EM-Ação responsável pela capacitação dos professores da rede estadual de ensino na área de Matemática. De acordo com as informações do site da SEC-BA, o lançamento do Programa Ensino Médio em Ação – EM-Ação ocorreu no dia 13 de setembro de 2012, de 13h30min às 17h00min, por meio de videoconferência transmitida do auditório II do Instituto Anísio Teixeira – IAT. Esse órgão em regime especial de administração direta da Secretaria Estadual da Educação da Bahia, com base no Regimento da Lei n.º 8.970/94, tem por finalidade planejar e coordenar estudos e projetos referentes ao ensino, pesquisa, experimentações educacionais e qualificação de recursos humanos na área de educação. Em cumprimento à sua finalidade e em conjunto com a Política Nacional de Professores da Educação Básica, o Instituto Anísio Teixeira - IAT coordena a oferta de cursos de licenciatura (formação inicial) e cursos de pós-graduação (mestrado e 4 Mais informações sobre as competências atribuídas as Diretorias Regionais de Educação – Direc, podem ser encontradas no site da Secretaria de Educação da Bahia. Disponível em: <http://institucional .educacao. ba. gov. br/direc>. Acesso em: 10 out. 2013. 57 especialização), bem como, promove a formação continuada em nível de aperfeiçoamento (acima de 120 horas), extensão (60 a 80 horas) e cursos e eventos de curta duração (até 40 horas), como a realização de oficinas, seminários, congressos, colóquios, conferências e videoconferências para professores e demais profissionais da rede pública de ensino estadual e municipal. O EM-Ação é um programa estruturante da Secretaria de Educação do Estado da Bahia, desenvolvido pela coordenação de capacitação de professores do IAT em parceria com as Instituições Públicas de Ensino Superior-IES do Estado da Bahia, e é um diferencial na educação baiana porque está pautado nas seguintes ações: 1. suporte pedagógico aos estudantes, através do sistema de monitoria com atores das universidades parceiras; 2. formação de professores com capacitações periódicas e específicas com docentes, articuladores e coordenadores do EM-Ação; 3. produção de material didático, pautado nos princípios do design educacional, nos Parâmetros Curriculares Nacionais, na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) e na matriz do Enem. Nesse preâmbulo, para que a atuação seja diversificada, envolvendo vários personagens e diferentes vertentes, o EM-Ação apresenta uma fundamentação sólida, agregando em suas múltiplas facetas, a sua identidade técnico-pedagógica. Todos esses elementos possuem como pano de fundo, concepções de ensino e aprendizagem, pressupostos de currículo e avaliação e de novas tecnologias da informação para que a aprendizagem ocorra de forma plena e participativa, contemplando dimensões pedagógicas, dialógicas, comportamentais (de cidadania) e tecnológicas. Assim, por meio de um diálogo informal o primeiro contato com a Direc-09 foi encerrado e, agendando-se uma nova data de encontro com o AR para o dia 21/08/2013 com a finalidade de coletar indícios da prática docente quanto ao uso da História da Matemática no ensino de Matemática. O registro deste diálogo informal foi realizado por meio de diário de bordo que acompanhou o pesquisador na construção de todas as ações que constituíram o desenho pretendido. 58 Com o intuito de alcançar os objetivos propostos para configurar o desenho em questão, procedi com a investigação a partir de documentos que serviram como norteadores do ensino da matemática no Ensino Médio e que evidenciaram o uso da História da Matemática como metodologia para o ensino. Nesse sentido, procurei considerar como documento qualquer material que continha informação registrada, seja escrita, sonora, iconográfica, entre outras, que pudessem ser consultadas ou estudadas. Cellard afirma que o conceito de documento reporta ―tudo o que é vestígio do passado, tudo o que serve de testemunho, é considerado como documento ou ‗fonte‘‖ (CELLARD, 2008, p. 296). O autor amplia sua visão: ―pode tratar-se de texto escritos, mas também de documentos de natureza iconográfica e cinematográfica, ou de qualquer outro tipo de testemunho registrado, objetos do cotidiano, elementos folclóricos, etc.‖ (CELLARD, 2008, p. 297). No limite, poder-se-ia até qualificar de documento um relatório de entrevista, ou anotações feitas durante uma observação. A partir das concepções apresentadas sobre documento se tornou notório que esse estudo consistisse em uma ação delicada que buscou exaurir todas as formas de fornecimento de determinada informação. Nesse sentido, Cellard afirma que ―uma pessoa que deseja empreender uma pesquisa documental deve, com o objetivo de construir um corpus satisfatório, esgotar todas as pistas capazes de lhe fornecer informações interessantes‖ (CELLARD, 2008, p. 298). Desse modo, acredito que a visão apresentada por Cellard sobre documento esta em consonância com a abordagem proposta por Foucault e Le Goff, explorada no capítulo 2 desta obra. E que as cinco dimensões propostas por Cellard para a avaliação de um documento podem contribuir para a pesquisa a partir dos conceitos de documento e monumento já trabalhados. Com enfoque nessas perspectivas, a avaliação preliminar de um documento seguiu as cinco dimensões propostas por Cellard (2008), contexto histórico no qual foi produzido o documento; o universo sócio-político do autor; a autenticidade e a 59 confiabilidade do texto; os conceitos-chave e a lógica interna do texto; e a análise documental. Assim, nessa etapa da pesquisa aproveitei do encontro agendado com o AR, no dia 21/08/2013 na Direc-09 para procurar detalhes dentro das possibilidades e limitações que foram impostas, documentos que pudessem conduzir a nossa percepção para o objeto de estudo dessa pesquisa. E em meio ao diálogo com o AR estabeleci os seguintes questionamentos: Você sabe se existem documentos na Direc-09 que reportam o uso da História da Matemática no ensino de Matemática? Durante a sua preparação para atuar como AR você teve orientação sobre o uso da História da Matemática enquanto metodologia? A primeira resposta dada pelo AR revelou que não havia até o presente momento, orientação da SEC–BA para trabalhar a História da Matemática no ensino de Matemática. A proposta da SEC–BA está alicerçada na produção de atividades matemáticas a partir da resolução de problemas que se aproximem do cotidiano do aluno e contemplem os conteúdos a serem trabalhados. Dessa maneira, o aluno terá a motivação necessária para construir o conhecimento matemático exigido, compreendendo a importância desse conhecimento para resolver problemas corriqueiros do seu dia a dia. O que, no meu modo de pensar, não invalida e pode ser reforçado também utilizando a História da Matemática. Quanto à existência de documentos que orientem a prática docente em relação ao uso da História da Matemática no ensino, a resposta proposta pelo AR indicou o desconhecimento de documentos que orientavam nesse sentido. A única orientação proposta para o ensino da matemática foi apresentada pela SEC-BA no inicio do ano na jornada pedagógica do Estado, onde sugere ao professor de matemática uma Matriz Referência (Figuras 3 e 4) para o ensino da matemática a serem desenvolvidas no ensino médio a partir da listagem de conteúdos que foram subjugados como norteadores para uma formação de qualidade no que diz respeito ao conhecimento matemático. Destarte, foram sugeridos e discutidos durante a jornada pedagógica os objetivos do ensino de determinado conteúdo, sem discussões metodológicas aprofundadas de como realizar tal ação. 60 Figura 3 – Matriz de referência de matemática para o Ensino Médio da SEC–BA Fonte: Site da SEC–BA – www.sec.ba.gov.br Figura 4 – Continuação da matriz de referência de matemática para o Ensino Médio da SEC-BA 61 Fonte: Site da SEC–BA – www.sec.ba.gov.br A matriz de referência apresentada para os professores de matemática na jornada pedagógica de 2013 foram publicados por meio dos descritores avaliados pelo programa do Estado denominado Avalie Ensino Médio que integra um grupo de trabalhos vinculados ao Sistema de Avaliação Baiano de Educação (Sabe)5. A elaboração dessa matriz contou com a participação de professores da rede estadual que atuam nas escolas de Ensino Médio e técnicos que atuam no Órgão Central. Eles consideraram, como referência, os Parâmetros Curriculares Nacionais, as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio e as habilidades e competências consideradas essenciais para cada série do Ensino Médio. Até o momento os dados coletados na Direc – 09 não foram suficientes para esboçar um posicionamento referente ao uso da História da Matemática no ensino. Acredito que as investigações realizadas nesta instituição exauriram as possibilidades de encontrar algum vestígio a respeito do objeto de estudo dessa pesquisa. Ou seja, o cenário não ofereceu nesse momento condições para a construção do desenho pretendido, nem instrumentos que pudessem contribuir para 5 O Sistema de Avaliação Baiano de Educação – Sabe é uma ferramenta de monitoramento da qualidade da educação oferecida pela rede estadual. O Sabe tem o objetivo de desenvolver a cultura de avaliação na rede pública, produzindo dados para subsidiar a formulação de políticas para a educação. 62 o seu traçado. Assim, pensei em outros lugares, em novas inspirações e em novos instrumentos. Na tentativa de superar as dificuldades busquei pesquisar indícios de documentos nacionais e estaduais que pudessem estar presentes nas unidades escolares estaduais no município de Teixeira de Freitas, Bahia, uma vez que, esses documentos são em tese as molas propulsoras do ensino. Assim, no Centro Educacional Professor Rômulo Galvão e no Centro Educacional Machado de Assis encontrei em ambas as bibliotecas dois documentos considerados imprescindíveis para a caminhada da pesquisa, a saber: ―Orientações Curriculares para o Ensino Médio – Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias‖ e ―Orientações Curriculares Estaduais para o Ensino Médio – Área de Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias‖. Figura 5 – Orientações Curriculares para o Ensino Médio Nacional e Orientações Curriculares Estaduais para o Ensino Médio da Bahia Fonte: Centro Educacional Professor Rômulo Galvão. O documento denominado ―Orientações Curriculares para o Ensino Médio – Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias‖ foi elaborado pela Secretaria de Educação Básico vinculado ao Ministério de Educação em 2006, com o objetivo de contribuir para o diálogo que aproximem professor e escola no que se refere a prática docente. Esta produção contou com a análise de Equipes Técnicas das 63 Secretarias Estaduais de Educação, com participação de professores de diferentes estados do país e, em alguns casos, com a representação de alunos. O documento supracitado visou contribuir para o debate sobre as orientações curriculares em três aspectos: a escolha de conteúdos; a forma de trabalhar os conteúdos; o projeto pedagógico e a organização curricular. Em respeito ao foco traçado para esta pesquisa, procurei ter como vínculo os dizeres sobre a forma de trabalho, pois acredito que esse aspecto corrobora para o desenvolvimento do estudo e direciona a atenção para o sujeito da pesquisa. Desse modo, o documento sugeriu que a forma de trabalhar os conteúdos devesse sempre agregar um valor formativo no que diz respeito ao desenvolvimento do pensamento matemático. Em relação à abordagem metodológica, a História da Matemática recebeu uma atenção especial, e sua utilização em sala de aula é indicada como um elemento que pode ser importante para o processo de atribuição de significados aos conceitos matemáticos. Outro fator também enfatizado pelo documento indica que a apropriação do professor em relação à História da Matemática pode contribuir para a compreensão de algumas dificuldades dos alunos, que, de certa forma, podem refletir obstáculos históricos presentes na construção do saber matemático (SECRETARIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA, 2008). As ―Orientações Curriculares Estaduais para o Ensino Médio‖ configurou-se como outro documento de extrema importância para a pesquisa. A história da elaboração desse documento sugeriu indícios de orientação por parte das políticas públicas que regulamentassem o processo educativo em relação à utilização da História da Matemática no ensino de matemática nas Unidades Escolares do Estado que oferecem o Ensino Médio. O documento foi constituído num processo de construção coletiva, que mobilizou 1.174 professores de 33 Diretorias Regionais de Educação, técnicos da Secretaria de Educação do Estado da Bahia, especialistas das áreas de conhecimento que estruturam o currículo do Ensino Médio, reunindo 82 Unidades Escolares da rede 64 estadual. Para tanto, foram realizados encontros locais, regionais, por meio de videoconferências e encontros estaduais onde os docentes analisaram e teceram sugestões relacionadas à área de conhecimento em que atuam, com as práticas pedagógicas e com a avaliação. Em todas as etapas de construção desse documento foram registradas valiosas contribuições dos professores em diversos momentos de reflexão e discussão para a produção deste material. O referido documento tem como finalidade tecer reflexões acerca da concepção de currículo que comporta em seu desenvolvimento a utilização de diferentes estratégias metodológicas na prática docente, com o intuito de potencializar os processos de ensino e aprendizagem da matemática. Para tanto, as orientações dispostas nesse documento relacionam três aspectos, a saber: organização curricular; competências e habilidades – conhecimentos básicos; e prática pedagógica. Para que as habilidades e competências propostas para o ensino de matemática no Ensino Médio possam ser alcançadas, o documento orienta que o professor deve ser mediador na relação do sujeito com o objeto a ser conhecido. Assim, propõe os seguintes dizeres sobre prática docente Favorecer a construção de aprendizagens significativas implica atender às necessidades do sujeito, seu desejo e sua necessidade de conhecer e transformar a si mesmo e o meio que o rodeia, beneficiando o coletivo, servindo ao bem comum. Para tanto, faz-se necessária um prática pedagógica desafiadora, que considere o conhecimento adquirido pelo sujeito possibilitando a sua ampliação (SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DO ESTADO DA BAHIA, 2005). Nesse sentido, propõe a organização da prática pedagógica a partir de projetos que investiguem situações problemas e/ou temas de interesse de um determinado grupo, envolvendo uma ou mais área de conhecimento que constituem o currículo. Descreve também que a prática pedagógica pode ser realizada com base nas diversas linhas metodológicas: resolução de problemas, etnomatemática, modelagem matemática, história da matemática, jogos matemáticos e o uso da tecnologia no ensino da matemática. 65 Nesse documento, a História da Matemática é uma linha metodológica de ensino que pode corroborar com o processo de aprendizagem de conceitos matemáticos quando utilizada como elemento motivador, uma vez que, os conceitos matemáticos a serem trabalhados surgem da resolução de problemas cotidianos do homem ao longo do desenvolvimento da sociedade. Propõe a construção do conhecimento matemático por meio da evolução dos conceitos caracterizando-se na perspectiva evolucionista linear, conceito trabalhado no Capítulo 2, em que a história de determinado conhecimento matemático dever ser sequenciado e hierarquizado, visando a construção progressiva do saber matemático. A História da Matemática é uma prática usada para motivar os educandos no desenvolvimento de diversos conceitos matemáticos, uma vez que eles na sua maioria, surgiram na busca de resolução de problemas cotidianos do homem e que são contados pela História. A compreensão da construção histórica do conhecimento matemático proporciona um maior entendimento da evolução dos conceitos, enfatizando as dificuldades históricas, que têm se revelado as mesmas apresentadas pelos educandos no processo de aprendizagem. O conteúdo pode ser dado, por exemplo, revivendo o percurso que os povos fizeram para desenvolver e sistematizar esse conteúdo. A avaliação pode ser feita através de pesquisas realizadas sobre o assunto e de produção de textos, entre outras atividades (SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DO ESTADO DA BAHIA, 2005). Após analisar os documentos constatei que há uma tímida mobilização por parte das políticas públicas, responsáveis pelo atual sistema educativo, em sugerir metodologias diversificadas que possuem a finalidade de potencialização do ensino da matemática por meio da reflexão da prática docente. A História da Matemática se faz presente nesses documentos, tanto como instrumento base para defender a sua própria constituição, reportando-se a essa metodologia para propor a matemática como uma construção humana, e assim, justificar a construção desse documento, bem como, um suporte metodológico para desenvolver práticas docentes que possam corroborar para o ensino e aprendizagem da matemática. Como documentos norteadores do ensino das diversas áreas do saber e em especial da matemática, percebi certa ordem hierárquica onde o documento de cunho nacional tenta de forma mais abrangente dar subsídio ao documento de cunho estadual, dialogando em suas propostas e finalidades. 66 Contudo, esses documentos norteadores do ensino são relevantes para o desenvolvimento educacional do município e que suas propostas não devem ser absorvidas de forma superficial pelos coordenadores pedagógicos. Dessa maneira, entendo que a falta de aprofundamento nos estudos desses materiais por parte das equipes que compõem o corpus técnico administrativo e pedagógico de órgãos reguladores da educação pública, em particular a Direc-09, pode comprometer possíveis reflexões acerca da prática pedagógica, conduzindo os demais colaboradores do processo educativo para o uso mínimo de suas propostas ou até mesmo desconhecimento das mesmas. No entanto, o contorno que sobressaiu de modo tímido não refletiu até o momento a forma esperada do desenho ou que satisfizesse a incansável busca por uma justificativa para o esboço expresso, isto é, as dificuldades encontradas e os possíveis caminhos percorridos para tentar superá-las ainda estavam distantes no sentido de alcançar as variáveis que circundam o objeto de estudo dessa pesquisa. As dificuldades em realizar essa obra já eram conhecidas e que as minúcias desse traçado requerem certa meticulosidade, a escolha dos instrumentos podiam sim desviar o foco ou conduzir a um esboço diferente do esperado, em algumas situações foi interrompido o processo de construção do trabalho para o (re)planejamento de ações que orientariam as investigações e possivelmente, deixaria o desenho mais próximo da realidade que busquei captar. Nesse sentido, as discussões e reflexões geradas nos encontros com os orientadores são fundamentais para reestruturar o desenho e a partir desses encontros geraram-se novas hipóteses e conjecturas acerca do trabalho que conduziram a outro questionamento – Existiram ou existem cursos de capacitações ofertados pela SEC-BA ao professor da rede estadual de ensino que utilizam ou utilizaram a História da Matemática como suporte metodológico? O desenho agora precisou de um instrumento novo que contribuísse para a investigação de um contorno mais elaborado com um traçado leve que conseguisse abordar as especificidades do questionamento formulado. Desse modo, os olhares foram direcionados ao site da SEC-BA com o propósito de encontrar indícios de 67 capacitações ofertadas pelo Estado que por ventura utilizaram ou utilizam a História da Matemática em sua estrutura. Em investigações realizadas no site da SEC–BA, encontrei um link que direciona para o curso de capacitação de professores denominado ―Programa de Gestão da Aprendizagem Escolar – Gestar II‖ que é desenvolvido pelo Estado desde 2004, em parceria com a Secretaria de Educação Básica / Ministério da Educação. O programa oferece formação continuada em língua portuguesa e matemática aos professores dos anos finais (do 6º ao 9º ano) do ensino fundamental em exercício nas escolas públicas. A formação possui carga horária de 300 horas, sendo 120 horas presenciais e 180 horas à distância (estudos individuais) para cada área temática. O programa inclui discussões sobre questões prático-teóricas e busca contribuir para o aperfeiçoamento da autonomia do professor em sala de aula. Na Bahia, a ideia inicial do programa foi modificada para atender às especificidades locais. A carga horária passou para 373 horas e algumas atividades foram inseridas, tais como videoconferências e produção didática. Nessa etapa, realizei uma pequena análise do material proporcionado ao Gestar II pelo governo federal em busca de indícios que possibilitassem estabelecer relação entre a capacitação da prática pedagógica do professor e o uso da História da Matemática, a partir da iniciativa da SEC–BA. Com vistas ao desenvolvimento dessa análise, que exige lidar essencialmente com a subjetividade, a sensibilidade, a intuição e a dedução, encontrei no método ―indiciário‖ o caminho para trabalhar com esses aspectos qualitativos que sugerem ao pesquisador desenvolver uma visão holística da situação que envolve o objeto de estudo da pesquisa e considera pequenos detalhes como indícios imprescindíveis para a investigação. Do ponto de vista de sua definição o método indiciário ressurge no final do século XIX, no âmbito das ciências humanas e na figura do historiador italiano Carlo Ginzburg o seu principal defensor e divulgador, reconhecendo-a como um método 68 milenar, fundamentada na investigação de ―pistas‖, ―sinais‖ ou ―indícios‖ reveladores acerca dos fenômenos da realidade. Segundo Ginzburg (1989), desde o período Neolítico o homem desenvolvia em suas técnicas utilizadas para caçar, coletar e sobreviver ações investigativas baseadas em indícios. Por milênios o homem foi caçador. Durante inúmeras perseguições, ele aprendeu a reconstruir as formas e movimentos das presas invisíveis pelas pegadas da lama, ramos quebrados, bolotas de esterco, tufos de pêlos, plumas emaranhadas, odores estagnados. Aprendeu a fazer operações mentais complexas com rapidez fulminante, no interior de um denso bosque ou numa clareira cheia de ciladas (GINZBURG, 1989, p. 151). Nessa perspectiva, a abordagem qualitativa destinada a essa pesquisa propõe que o método indiciário tem a finalidade de analisar um conjunto de informações por meio de um método holístico que foca o detalhe, os dados marginais, os vestígios. Contrapondo-se ao método cientifico de pesquisa desenvolvida a partir das aspirações de Galileu Galilei, rompendo com o rigor inflexível do Positivismo. Este método direciona a nossa atenção para as especificidades ligadas ao estudo no qual não há registros formalizados. Em consonância ao raciocínio apresentado, Coelho (apud RODRIGUES, 2006, p. 9) afirma que ―este método está fundamentado na investigação de fatos – ou dados – pequenos, isto é, pormenores geralmente menosprezados pelos pesquisadores de diversas áreas do conhecimento‖. Vinculado a essa concepção, realizei uma análise de materiais que contemplam o uso da História da Matemática quer nos cadernos de Teoria e Prática quer nos cadernos de Atividades de Apoio a Aprendizagem do Gestar II, bem como, nos materiais que por ventura podem estar presentes nas bibliotecas das unidades escolares estaduais que podem ser utilizados na aquisição de conhecimentos matemáticos por meio da História da Matemática. Assim, espera-se superar dois objetivos específicos traçados para o desenho em questão. Em visitas às bibliotecas das unidades escolares estaduais que atuam com o Ensino Médio e que participaram dessa etapa da pesquisa, a saber: Centro Educacional 69 Prof. Rômulo Galvão, Centro Educacional Democrático Rui Barbosa, Centro Educacional Henrique Brito, Colégio da Polícia Militar e Centro Educacional Machado de Assis foram encontrados, catalogados e fotografados materiais didáticos que podem ser utilizados no ensino da matemática. Entende-se aqui, a partir da concepção de Lorezanto (2006), que material Didático (MD) é qualquer instrumento útil ao processo de ensino-aprendizagem, e, portanto pode ser um livro, um periódico, uma ilustração, um filme, entre outros. Nessa etapa, com o objetivo de averiguação do acervo escolar, realizei visitas técnicas às escolas estaduais, visando quantificar o acervo bibliográfico em busca de livros, periódicos, vídeos, entre outros materiais que pudessem contribuir para o ensino da matemática vinculado à utilização de conhecimentos históricos da matemática. Dessa forma, foram catalogados e fotografados materiais didáticos que estão presentes nas unidades escolares estaduais que atuam com o Ensino Médio. Após conhecer os materiais didáticos presentes nas escolas participantes da pesquisa foi necessário descrevê-los para facilitar a compreensão, pontuando de que forma a História da Matemática se faz presente e como é organizada a história do pensamento matemático nessas obras. Nessa maneira, Howard Eves autor do livro ―Introdução à História da Matemática‖ expõe que seu livro difere das muitas histórias de matemáticas existentes por não se tratar primordialmente de um trabalho de prateleira para consulta, mas sim de uma tentativa de introduzir a História da Matemática aos alunos de graduação dos cursos superiores de matemática. Assim sendo, além da narrativa histórica, há muitos expedientes pedagógicos visando assistir, motivar e envolver o aluno. Além da narrativa histórica, que abarca a História da Matemática desde a Antiguidade até os tempos modernos, o livro apresenta nos capítulos panoramas culturais da época em que se desenvolveu a construção do conhecimento matemático. Desse modo, esta obra é constituída de exercícios ao fim de cada capítulo, tornando-se um recurso pedagógico que pode ser utilizado por estudantes de graduação e pós-graduação e professores do Ensino Médio e Superior, tanto de matemática quanto de história ou educação. 70 O livro ―Teorema do Papagaio – Um thriller da história da matemática‖ é uma obra de autoria de Denis Guedj, publicada na França em 1998 e tem a proposta de refletir sobre o surgimento da matemática. Configura-se um livro de ficção literária que mostra como a matemática pode ser ensinada de uma dinâmica diferente das utilizadas hoje. O livro é um suspense matemático-policial, em que os personagens principais são um filósofo numa cadeira de rodas, um menino surdo, um casal de gêmeos adolescentes e um papagaio que sofre de amnésia. A história tem início em Paris, quando um menino surdo resgata um papagaio sequestrado por gângsteres. Na trama, o grupo se defronta com uma situação ainda mais estranha quando a remessa de uma lendária biblioteca de livros raros de Matemática chega até sua casa, em Paris, enviada por um amigo há muito desaparecido, da distante Manaus. Em meio a uma trama de intrigas, envolvendo a máfia, sequestros e enigmas, o livro lança um desafio ao leitor: compreender e organizar a história do pensamento matemático desde a Antiguidade até os nossos dias. O ―Último Teorema de Fermat‖, de autoria de Simon Singh, conta a história de um teorema criado por volta de 1637, pelo matemático francês Pierre de Fermat, cujo enunciado indicava que não existiam soluções para a equação: xn + yn = zn, onde n representa 3, 4, 5,... Fermat não deixou demonstração, apenas um comentário à margem do livro: ―Eu tenho uma demonstração realmente maravilhosa para esta proposição, mas esta margem é muito estreita para contê-la‖. Essa afirmação confundiu e frustrou os matemáticos mais brilhantes do mundo por mais de 350 anos, mas possibilitou que muitas mentes brilhantes deixassem valorosas contribuições à Teoria dos Números. No livro, o autor relata, de forma envolvente e instigante, os fracassos e avanços até a demonstração do teorema, em 1995, por Andrew Wiles, um matemático britânico que definiu a demonstração como lema de sua vida. O livro ―e: A História de um Número‖ é de autoria de Eli Maor apresenta de forma original as motivações e desenvolvimentos históricos sobre conteúdos matemáticos apropriados ao tema, dispondo as aplicações nos campos da biologia à arquitetura, presentes na música e no cálculo financeiro. 71 A obra conta a história da constante que Euler desenvolveu para o estudo de duas das mais importantes funções matemáticas: a exponencial e a logarítmica. Retrata com clareza a história da origem dos logaritmos e sua importância como instrumento de cálculo científico. O livro ―20.000 Léguas Matemáticas – um passeio pelo misterioso mundo dos números‖ foi escrito por A. K. Dewdney e traduzida para o português por Vera Ribeiro. Nessa obra, o protagonista da história é o próprio escritor, que esquadrinha a trama em busca de respostas para duas questões: Por que a matemática é tão incrivelmente útil nas ciências naturais? A matemática é descoberta ou criada? Para tecer a trama, inicialmente o autor relata sobre sua visita a Atenas e seu encontro com um historiador da matemática grega, com quem trava uma discussão sobre Pitágoras e o mundo dos inteiros. Depois descreve sua passagem por mais três cidades do Egito, Itália e Inglaterra, onde se encontra com outros matemáticos, conhecendo desde a astronomia islâmica antiga, a teoria atômica, até a simulação da vida em máquinas eletrônicas, sempre em busca de respostas para suas questões. O livro ―A Matemática Através dos Tempos: um guia fácil e prático para professores e entusiastas‖ de autoria do norte-americano doutor em matemática William P. Berlinghoff e do brasileiro doutorado em Harvard Fernando Q. Gouvêa apresenta-se como um guia fácil e prático para professores e entusiastas com a finalidade de aprender sobre a História da Matemática a partir da interação com ela. Nesse sentido, o livro busca dar fundamentos históricos para o estudo de equações, números negativos, o número ―pi‖, do surgimento do zero, entre outros. O livro sugere para a prática docente uma seção de questões e projetos a cada capítulo, com perguntas instigantes e proposta de atividades, o que o torna útil como material didático para preparação de professores de matemática do ensino fundamental e médio. 72 A revista ―Cálculo‖6 é uma publicação especializada, fonte de informação e um caminho para que se entenda a ciência das relações estruturais como uma chave para a compreensão da realidade, por isso, fala da matemática em todo o seu alcance e dimensão: seus segredos e técnicas, mas também sua presença na vida cotidiana. A revista destinada a professores, estudantes e apaixonados pelo tema apresenta abordagens para o conhecimento matemático, em especial, algumas matérias com inclusões e relacionamentos sobre a História da Matemática. Entende-se que os materiais didáticos (MD) supracitados podem contribuir para o ensino da matemática e que os mesmo são indícios da presença de recursos da História da Matemática nas escolas estaduais. Para melhor compreender a distribuição destes materiais nas unidades escolares, criei um quadro informativo com a finalidade de descrever o acervo de cada escola em relação aos materiais didáticos acerca da História da Matemática que podem contribuir para o ensino da matemática. Quadro 1 – Quantidade de materiais que contemplam a História da Matemática nas unidades escolares estaduais do município de Teixeira de Freitas–BA Quantidades de materiais sobre História da Matemática presentes nas U.E. estaduais do município de Teixeira de Freitas–BA que atuam com o Ensino Médio CEPROG CEDERB CEHB CPM CEMA 01 01 01 - 02 O Teorema do Papagaio 01 01 - 01 01 O Último Teorema de Fermat 01 01 01 - 01 e: A Historia de um Numero 01 - 01 01 02 20.000 Léguas Matemáticas 01 01 01 01 02 01 - 01 - - 01 01 - - 01 Introdução à História da Matemática A Matemática Através dos Tempos Revista Cálculo (Assinatura) Fonte: Quadro produzido pelo pesquisador (2013). 6 As informações aqui citadas foram extraídas no site <http://www.revistacalculo.com .br/? pageid=10>. Acesso em: 16 out. 2013. da revista Cálculo: 73 O quadro apresentado acima sugere que os professores de matemática da educação básica do município de Teixeira de Freitas têm acesso a materiais didáticos que abordam conhecimentos históricos da matemática, bem como, há uma iniciativa por parte dos órgãos que normatizam o ensino básico quanto à aproximação do conhecimento matemático, historicamente construído, com os docentes e discentes das referidas Unidades de Ensino. Acredito que a leitura é fonte de conhecimento, informação e cultura, e que ao desenvolvê-las o professor poderá ter novas ideias, saberes e experiências para a sua prática pedagógica. Sendo assim, a História da Matemática pode contribuir de forma significativa para a construção e o fortalecimento de conceitos e práticas. As obras de cunho literário presentes nas bibliotecas das escolas estaduais podem corroborar para a sistematização de saberes de maneira mais organizada e para a reflexão acerca de questões historicamente atreladas a construção da matemática. Em consonância a esse pensamento Pacheco, afirma que [...] a literatura é uma ferramenta válida para promover questionamentos, análises e discussões acerca de fatos históricos relativos à matemática. Isso porque, tanto os relatos historiográficos, como as narrativas ficcionais, mostram-se como objetos de análises possíveis de serem investigados no âmbito da disciplina de História da Matemática (PACHECO, 2010, p. 38). Nessa etapa da construção do desenho, encontram-se em meio aos rabiscos, vestígios da presença de instrumentos referentes à História da Matemática no ambiente educacional em estudo e, nas formas aqui descritas, a orientação desse traçado propõe que, o professor de matemática em qualquer nível de ensino deve pesquisar leituras que revitalize sua prática e, a História da Matemática pode ser uma das propostas para desenvolver novas formas com traçados mais aprimorados. Entretanto, outro objeto de estudo para a construção do desenho desta pesquisa, remete-se ao material produzido pelo governo federal para o Programa Gestão da Aprendizagem Escolar – Gestar II, um curso que na Bahia foi reformulado e passou a ter uma carga-horária 373 horas para atender especificidades do Estado. 74 O material do Gestar II está presente nas unidades escolares estaduais do município e todos os docentes que participaram desse processo de capacitação profissional receberam o kit com 6 cadernos de Teoria e Prática, 6 cadernos de Atividades de Apoio à Aprendizagem (versão do professor) e 6 cadernos de Atividades de Apoio à Aprendizagem (versão do aluno). Além disso, o material se encontra disponível para download para todos os interessados no site do Mistério de Educação. Em busca de indícios que evidenciassem a presença da História da Matemática neste documento, estabeleci três categorias para analisar o material com o objetivo de descrever a sua composição e organização em relação ao uso da História da Matemática. Portanto, foram propostas as seguintes categorias de análise: 1) textos informativos com dados históricos; 2) exemplos do desenvolvimento do raciocínio matemático por meio de fatos históricos que reportem o fazer matemático de culturas antigas; 3) atividades de investigação histórica7. A partir dessas categorias iniciei a análise dos materiais do Gestar II de matemática desde os cadernos do professor até os cadernos dos alunos, considerando a ordenação dos conteúdos e as temáticas segundo o referido material. Como objeto dessa pesquisa, a análise foi realizada a partir de vestígios relacionados à presença da História da Matemática proferida nas abordagens dos conteúdos trabalhados nas seções deste material. Assim, o foco foi direcionado para a História da Matemática não como uma metodologia superior as outras abordadas no material, mas como objeto de interesse para a construção do desenho proposto. 7 Para Mendes (2009), atividades de investigação histórica para o ensino da Matemática, são aquelas atividades investigatórias de ensino que, conjugadas com o desenvolvimento histórico da Matemática, trazem um significado mais profundo ao conhecimento construído em sala de aula. 75 Figura 6 – Capa do material do Programa Gestar II de Matemática/módulo I Fonte: Centro Educacional Machado de Assis – Coordenação do Programa Gestar II. O módulo I do material do Gestar II de matemática apresenta como temática de trabalho a ―Matemática na Alimentação e nos Impostos‖ com a intenção de desenvolver atividades a partir da necessidade de uma boa alimentação como condição essencial de vida e saúde, bem como aplicar os conhecimentos matemáticos para desenvolver soluções para problemas de ordem prática relacionada a impostos e cargas tributárias presente em nosso dia a dia. Na articulação dos conhecimentos apresentados no estudo da temática ―Alimentação para a Saúde‖ o material propõe explorações matemáticas sobre o conceito de proporção, relacionando grandezas, porcentagens e cálculos para encontrar o Índice de Massa corporal (ICM). A partir dessas reflexões o material apresenta na página 41 um pequeno texto com dados históricos sobre matemáticos que estudaram proporções, mencionando a razão áurea e cita o trabalho envolvendo proporções no V Livro dos Elementos de Euclides. No tratamento algébrico dado a temática em questão, o material discuti processos de resolução de equações e, para tanto, faz uma abordagem histórica sobre a álgebra apresentando três estágios de seu desenvolvimento, a saber: a álgebra retórica; a álgebra sincopada; e a álgebra simbólica. 76 Em seu livro Introdução à História da Matemática de Horward Eves (2008, p. 206) afirma que Nesselmann (1842) caracterizou a álgebra em estágios ao longo da história da seguinte maneira: álgebra retórica em que os argumentos da resolução de um problema são escritos em prosa pura, sem abreviações ou símbolos específicos; álgebra sincopada em que se adotam abreviações para algumas das quantidades e operações que se repetem mais frequentemente; álgebra simbólica, último estágio da álgebra, em que as resoluções se expressam numa espécie de taquigrafia matemática formada de símbolos que aparentemente nada tem a ver com os entes que representam. O módulo apresenta o método de resolução de equações conhecido hoje de ―falsa posição‖ realizado pelos egípcios em torno de 1600 a.C. como pensamento algébrico na fase retórica, o trabalho algébrico realizado por Diofante de Alexandria como exemplo da álgebra sincopada e cita a contribuição de René Descartes para o desenvolvimento da álgebra simbólica. Pelas categorias elencadas para análise desse material, encontram-se indícios relacionados ao uso da História da Matemática através de textos informativos com dados históricos e de exemplos do desenvolvimento do raciocínio matemático por meio de fatos históricos que reportam o fazer matemático de culturas antigas. Leituras sugeridas acerca da História da Matemática pelo módulo I: IFRAH, Georges. Os números: a história de uma grande invenção. Rio de Janeiro: Globo, 1989. IMENES, Luis Márcio. Os números na história da civilização. São Paulo: Scipione, 1993. STRUIK, D. J. Por que estudar história da matemática? Em: GAMA, Ruy. História da técnica e da tecnologia. São Paulo: Queiroz e EDUSP, 1985, p. 191 – 214. 77 Figura 7 – Capa do material do Programa Gestar II de Matemática/módulo II Fonte: Centro Educacional Machado de Assis – Coordenação do Programa Gestar II. A temática abordada no módulo II - ―Matemática nos Esportes e nos Seguros‖ não contempla vestígios do uso da História da Matemática, assim, nenhuma das categorias traçadas para esta análise é satisfeita. Mas, na página 93, o livro traz em uma das seções ―Aprendendo sobre Educação Matemática‖ um pequeno texto que sugere o uso dessa metodologia na sala de aula. Assim, As situações históricas da produção do conhecimento matemático podem ser extremamente ricas para serem trabalhadas em sala de aula, com um caráter lúdico que não está apenas limitado ao jogo ou a uma exposição pontual. Mas, muito pelo contrário, a matemática pode e deve ser contada a partir da própria história dos matemáticos, mostrando seu lado humano, real e cultural. Descobrir o lado humano daqueles que contribuíram para edificação dessa ciência é importante e fundamental para que o aluno aceite os desafios impostos pela vida e pela ciência como algo mais natural (GESTAR II DE MATEMÁTICA, 2008, p. 93). 78 Figura 8 – Capa do material do Programa Gestar II de Matemática/módulo III Fonte: Centro Educacional Machado de Assis – Coordenação do Programa Gestar II. Intitulado de ―Matemática nas Formas Geométricas e na Ecologia‖ o módulo III apresenta aos docentes textos de referência que abordam o uso da História da Matemática como metodologia a ser utilizada na sala de aula. Os textos que constituem essa seção são de Cristiano A. Muniz, nomeado por ―A História da Matemática no seu Ensino‖ que discute a importância da História da Matemática para a prática pedagógica; de Ubiratan D‘Ambrosio com o título ―História da Matemática e Educação‖ em que apresenta reflexões sobre o seguinte questionamento – para quem e para que serve a História da Matemática?; De Sergio Nobre que apresenta o texto ―Alguns ‗porquês‘ na História da Matemática e suas Contribuições para a Educação Matemática‖ que propõe a matemática como uma ciência em constantes modificações e cheia de idas e vindas, isto é, a educação assume o caminho de ensinar a fundamentação dos conteúdos e não a praticidade dos conteúdos escolares; e ―A História da Matemática na formação do professor de matemática‖ de Antonio Miguel e Arlete de Jesus Brito que versa sobre a maneira de se entender a organização do saber a partir de aspectos históricos do saber matemático. Nesse módulo é proporcionado ao docente um momento de reflexão acerca da História da Matemática por meio de atividades que buscam investigar o saber do professor de matemática frente aos conteúdos matemáticos em relação ao 79 conhecimento histórico de sua construção, bem como, a produção de estratégias pedagógicas para a utilização da História da Matemática no ensino de 5ª a 8ª séries. Assim, as atividades propostas no material ao docente são: (a) Faça um levantamento sobre os conteúdos matemáticos dos quais você tem conhecimento a respeito da história de sua construção e passíveis de serem explorados junto aos alunos. (b) Reflita sobre um conteúdo matemático por você trabalhado com seus alunos e de que você não tem dados históricos sobre o mesmo, mas sempre teve curiosidade de conhecer. Faça uma pesquisa entre colegas, livros didáticos, livros de história da matemática, livros paradidáticos, enciclopédias, e, se possível, na internet sobre esse enfoque histórico. (c) Liste pelo menos cinco estratégias pedagógicas diferentes de utilização da história na matemática no ensino de 5ª a 8ª séries. (d) Faça um levantamento junto aos seus colegas sobre as mais variadas formas de explorar o enfoque histórico da matemática junto aos seus alunos (GESTAR II DE MATEMÁTICA – MÓDULO III, 2008, p.177). Ainda nesse módulo, as leituras sugeridas para pesquisas sobre a História da Matemática são atribuídas à pesquisadora Circe Mary Silva da Silva Dynnikov, a saber: BOYER, C. História da matemática. São Paulo: Edgard Bücher – EDUSP, 1975. DIEUDONNÉ, J. A formação da matemática contemporânea. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1990. EVES, H. Introdução à história da matemática. Campinas: Unicamp, 1995. STRUIK, D. História concisa das matemáticas. Lisboa: Gradiva, 1989. Apesar das categorias elaboradas para a construção do desenho não terem sido contempladas nos módulos II e III, é possível perceber a presença da História da Matemática como metodologia de ensino, uma vez que, os docentes que participaram desse curso de formação tiveram a oportunidade de discutirem e refletirem sobre a utilização da História da Matemática no processo de ensino da matemática. Destarte, as informações aqui encontradas são importantes para o desenho e revitalizam as buscas dos indícios requeridos pelo artista/pesquisador para configurar um corpus de informações que sugere a presença da História da Matemática na educação da rede estadual de Teixeira de Freitas, não só como mera sugestão de uso, mas como campo metodológico de pesquisa para estudos e práticas pedagógicas. 80 Figura 9 – Capa do material do Programa Gestar II de Matemática/módulo IV Fonte: Centro Educacional Machado de Assis – Coordenação do Programa Gestar II. O módulo IV, com a temática ―Construção do Conhecimento Matemático em Ação‖ apresenta em sua composição as três categorias em questão. O material aborda de forma coesa aspectos históricos, em que as informações históricas dialogam com os exemplos do fazer matemático de determinada cultura e desemboca em atividades investigativas que propõem a reflexão e construção do conhecimento matemático. Como objeto de estudo para a construção do produto final desta pesquisa, destacam-se as atividades investigativas sugeridas pelo módulo que promovem o ensino da matemática mediante aspectos históricos da construção do saber matemático. Nesse sentido, segue em anexo nesse trabalho (ANEXOS B, C e D) algumas atividades apresentadas neste material que foram analisadas e entendidas como ricas, servindo de modelo para que os professores possam adaptá-las ou construir novas atividades investigativas que atendam às especificidades da realidade do ensino de matemática no Ensino Médio. 81 Figura 10 – Capa do material do Programa Gestar II de Matemática/módulo V Fonte: Centro Educacional Machado de Assis - Coordenação do Programa Gestar II. Com o texto ―Os triângulos na história das construções e das descobertas humanas‖ na página 131, o módulo V apresenta como temática ―Diversidade Cultural e Meio Ambiente: de estratégias de contagem às propriedades geométricas‖ que versa sobre o desenvolvimento da Geometria a partir, provavelmente, de ações dos egípcios em sua vida agrícola. Para tanto, desenvolvem métodos para calcular a área de quadrados, triângulos, retângulos, trapézios e círculos. Daí para frente informa que o triângulo sempre teve um lugar especial na construção dos conhecimentos acima citados e apresenta quatro importantes matemáticos que viveram nos séculos VI e II a.C. e desenvolveram trabalhos a partir do estudo sobre triângulos, a saber: Tales – que usou triângulos semelhantes para encontrar a altura de uma pirâmide; Pitágoras – que desenvolveu o seu famoso teorema para triângulos retângulos; Euclides – que desenvolveu os postulados sobre a teoria das retas paralelas e teoremas de congruência para triângulos; e Arquimedes – que calculou a área de um círculo de raio R (GESTAR II DE MATEMÁTICA, 2008, p. 131). Apresenta o raciocínio utilizado por Arquimedes para encontrar a área de um círculo, serviu mais tarde de base para Newton e Leibniz desenvolver estudos sobre o cálculo infinitesimal. Além disso, traz uma atividade de investigação histórica que propõe por meio do estudo da geometria fractal que os alunos façam pesquisas sobre ―Euclides‖ e as características da geometria euclidiana para fins de reflexão, 82 discussão e comparação entre as geometrias euclidiana e não euclidianas. (ANEXO E). Dentro das categorias traçadas para análise do material, o módulo V apresentou as três: textos informativos com dados históricos, exemplos do desenvolvimento do raciocínio matemático por meio de fatos históricos que reportem o fazer matemático de culturas antigas e atividades de investigação histórica. Leituras sugeridas nesse módulo relacionado ao estudo da História da Matemática: GUELLI. O. Contando a História da Matemática. Dando Corda na Trigonometria. São Paulo: Ática, 1993. Figura 11 – Capa do material do Programa Gestar II de Matemática/módulo VI Fonte: Centro Educacional Machado de Assis – Coordenação do Programa Gestar II. O último módulo da coleção do Gestar II de matemática intitula-se de ―Matemática nas Migrações e em Fenômenos Cotidianos‖, em que retoma os estudos sobre álgebra revivendo alguns conceitos formalizados no módulo IV e menciona alguns matemáticos importantes que realizaram estudos na área. Apresenta o problema escrito no túmulo de Diofanto como proposta para iniciar reflexões acerca do pensamento algébrico. Após relatar dados sobre a vida de Diofanto, pontua que a mensagem gravada no túmulo que descreve a duração da 83 vida de Diofanto pode provavelmente ter sido escrita por Hipácia, uma matemática que viveu em Alexandria. Como tradução livre da mensagem apresenta: Aqui, esta tumba cobre Diofnato. Admira o milagre! Através da arte dos números a pedra nos ensina sua idade. Deus destinou um sexto de sua vida a que fosse infante. Um doze avos após, surgiu a barba sobre sua face. E após isso um sétimo da existência transcorreu até que contraísse matrimônio. E mais cinco anos até que surgisse dessa união um filho, que o destino levou, quando atingiu a metade dos anos que seu pai viveria. Após isso, quatro anos viveu com profundo pesar. Quando então também ele chegou ao fim último terrestre. Descubra com que idade Diofanto morreu. (GESTAR II DE MATEMÁTICA, 2008, p. 36) Dessa forma, o módulo volta a trazer à tona os conhecimentos dos hindus sobre métodos de resolver equações e apresenta matemáticos como Ariabata e Baskara. Realiza uma nova discussão sobre o problema do cálculo da altura da pirâmide no Egito resolvido por Tales, comenta sobre a vida de Descartes e sua contribuição para a visão gráfica para modelos matemáticos e apresenta atividade de investigação histórica (ANEXO F). Sugestões de leituras destacadas no módulo são: BOYER, C. História da matemática. São Paulo: Edgard Bücher – EDUSP, 1975. EVES, H. Introdução à história da matemática. Campinas: Unicamp, 1995. STRUIK, D. História concisa das matemáticas. Lisboa: Gradiva, 1989. AABOE, A. Episódios da história antiga da matemática. Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira de Matemática (esgotado), 1984. DANTZIG, T. Número: A linguagem da ciência. Rio de Janeiro: Zahar, 1970. Mas, que forma se tem para o desenho até o presente momento? Quais são os traçados que podem ser utilizados a partir dos instrumentos articulados nessa pesquisa? E quanto ao comportamento dos sujeitos captados no cenário, suas cores, suas formas, o que se pode dizer? O desenho sugere formas que a princípio acreditava-se não ter. Esperava-se que nas bibliotecas das escolas estaduais do município, a quantidade de material para 84 consulta acerca da História da Matemática fosse menor do que a encontrada e que em sua estrutura, materiais relacionados ao campo de pesquisa em Educação Matemática estivessem fora do alcance do professor de matemática. Entretanto, o que se captou nesse cenário, mesmo em quantidade mínima, sugere que o professor tem sim acesso a materiais que abordam a História da Matemática e que podem contribuir para sua prática pedagógica. As cores utilizadas ou encontradas para realizar parte desse desenho promoveram uma suavidade a sua forma, os materiais encontrados são indícios de uma ação tímida, mas presente da inserção de metodologias diversificadas para o ensino da matemática na educação da rede estadual de ensino. O colorido refletido pelos livros encontrados nas bibliotecas das escolas foi um fator motivador para a continuação desse desenho, uma vez que, em sua construção as expectativas atribuídas pelo artista/pesquisador direcionaram para o desenvolvimento da História da matemática como metodologia de ensino para sala de aula. Nesse sentido, o material do Gestar II de matemática em sua composição foi mais um fator motivador, primeiro por ser tratar de um material que apresenta as categorias relacionadas para compor a análise dessa pesquisa, segundo pela acessibilidade que o professor tem em relação ao material e terceiro por apresentar a História da Matemática como uma metodologia a ser experimentada nas aulas de matemática. Além disso, por ter sido apresentado ao docente a partir de uma proposta de formação continuada, o material do Gestar II de matemática se torna imprescindível para a construção do desenho, uma vez que, os professores podem ter desenvolvido reflexões e discussões sobre o uso desse material no decorrer de sua formação nesse curso de capacitação. Em meio aos levantamentos de dados e análises realizadas para compor o relatório de qualificação, alcançando as exigências traçadas para essa etapa da pesquisa, preciso dizer que há vestígios de que órgãos reguladores do ensino estadual do município de Teixeira de Freitas podem ter contribuído para a inserção de metodologias diferenciadas para o ensino da matemática, em especial, a História da Matemática por se tratar do objeto de estudo dessa pesquisa. 85 As limitações impostas para a pesquisa até o momento se caracterizam pela falta de condições para amarrar outras problemáticas relacionadas ao estudo em questão, tais como: com que frequência o professor utiliza o material didático relacionado à História da Matemática presente nas bibliotecas das escolas estaduais? Que abordagens foram realizadas no curso de formação continuada ―Gestar II DE MATEMÁTICA‖ para o desenvolvimento da prática docente a partir da utilização da História da Matemática como metodologia para o ensino? Ao primeiro questionamento, a falta de controle da entrada e saída dos materiais das bibliotecas das escolas estaduais em análise contribuíram para constituir o obstáculo. Para o outro questionamento levantado, tive a pretensão na etapa seguinte da pesquisa a partir de outros instrumentos direcionados - questionários/ entrevista – investigar vestígios dessa ação. Dessa forma, as fontes orais que compõem a pesquisa se constituíram nas entrevistas realizadas com os docentes que lecionam a disciplina de matemática no Ensino Médio das escolas estaduais situadas no município de Teixeira de Freitas– BA. O primeiro contato com os docentes ocorreu de forma presencial nas unidades de ensino que atuam, no qual se explicava em linhas gerais os objetivos da pesquisa a cada entrevistado em potencial e, caso concordasse em participar da pesquisa, o docente recebia uma carta-convite assinada pelo pesquisador com uma pequena caracterização da pesquisa (APÊNDICE C). Assim, confirmou-se o dia e a hora para a realização das entrevistas que em sua maioria foram concedidas nas escolas. As entrevistas foram precedidas de momentos para maiores esclarecimentos sobre a pesquisa, sua finalidade, as características da entrevista, o processo de transcrição e a conferência do material concedido, bem como, a forma de tratamento utilizado na pesquisa8. Elaborei um roteiro que orientou a condução das entrevistas por meio de um questionário aberto com o propósito de deixar a sua estrutura 8 Os entrevistados assinaram o Termo de Livre Consentimento que autorizou o uso do material de áudio capitado nas entrevistas após a conferência dos trechos transcritos e utilizados na pesquisa. 86 flexível durante a entrevista, além de proporcionar ao entrevistado responder livremente as questões. As entrevistas foram pensadas com base metodológica em entrevistas semiestruturadas e tiveram seus dados registrados em forma de áudio9. Em busca de maior proximidade com os sujeitos participantes da pesquisa atribui caracterizas de maneira sucinta cada entrevistado por ordem de concessão de entrevista. Para tecer um diálogo entre o embasamento teórico e os participantes da pesquisa utilizei pseudônimos de matemáticos gregos pelo fato de terem sido lembrados pelos participantes durante as entrevistas e estudiosas do conhecimento matemático em homenagem aos participantes da pesquisa. Desse modo, foram caracterizados os participantes por meio dos aspectos de sua formação, tempo de serviço como efetivo em que leciona a disciplina de matemática e carga horária semanal desempenhada, a saber: Professor Tales — Graduado em Licenciatura em Ciências e Matemática pela Uneb/Campus X, especialista em Ensino da Matemática pela FINOM, cursa o Mestrado Profissional em Matemática em Rede Nacional (Profmat) pela Uesc– BA, curso de aperfeiçoamento Gestar II – Matemática pela SEC-BA, atua na área de matemática como professor efetivo no ensino médio da rede estadual desde 2007, concursado 40 horas semanais na SEC/BA. Professor Pitágoras — Graduado em Licenciatura em Matemática pela UFSC– SC, graduado em Ciências Contábeis pela Fundação Visconde de Cairu–BA, atua na área de matemática como professor efetivo no ensino médio da rede estadual desde 1998, concursado 40 horas semanais. Professor Zenão — Graduado em Licenciatura em Matemática pela Unimes – Santos–SP, graduado em Licenciatura em Letras pela Uneb/Campus X, especialista Literatura pela FIJ–RJ, atua na área de matemática como professor efetivo no ensino médio da rede estadual desde 2012, concursado 40 horas semanais. Professora Hipácia — Graduado em Licenciatura em Matemática pela Ufes–ES, especialista 9 em Matemática e Estatística pela As transcrições das entrevistas se encontram no CD de anexos. UFLA–MG, curso de 87 aperfeiçoamento Gestar II – Matemática pela SEC–BA, atua na área de matemática como professor efetivo no ensino médio rede estadual desde 2007, concursada 40 horas semanais. Professor Platão — Graduado em Licenciatura em Ciências e Matemática pela Uneb/Campus X, especialista em Ensino da Matemática pela FVC, especialista em Docência do Ensino Superior pela Fasb, cursa o Mestrado Profissional em Matemática em Rede Nacional pela Uesc–BA, curso de aperfeiçoamento Gestar II – Matemática pela SEC–BA, atua na área de matemática como professor efetivo no ensino médio da rede estadual desde 2004, concursado 40 horas semanais. Professora Laura Bassi — Graduada em Licenciatura em Ciências e Matemática pela Uneb/Campus X, atua na área de matemática como professora efetiva no ensino médio da rede estadual desde 1999, concursada 40 horas semanais. Professora Sophie Germain — Graduada em Licenciatura em Ciências e Matemática pela Uneb/Campus X, atua na área de matemática como professora efetiva no ensino médio da rede estadual desde 2007, concursada 40 horas semanais. Professor Euclides — Graduado em Licenciatura em Ciências e Matemática pela Uneb/Campus X, especialista em Matemática pela FIJ–RJ, curso de aperfeiçoamento Gestar II – Matemática pela SEC-BA, atua na área de matemática como professor efetivo no ensino médio da rede estadual desde 2004, concursado 40 horas. Professora Sofia Kovalevskaia — Graduada em Licenciatura em Ciências e Matemática pela Uneb/Campus X, especialista em Ciências da Terra e da Natureza pela FIJ–RJ, curso de aperfeiçoamento Gestar II – Matemática pela SEC–BA, atua na área de matemática como professora efetiva no ensino médio da rede estadual desde 2007, concursada 40 horas semanais. Professor Arquimedes — Graduado em Licenciatura em Ciências e Matemática pela Uneb/Campus X, especialista em Ensino da Matemática pela FVC, Mestrado Profissional em Matemática em Rede Nacional pela Uesc–BA, curso de aperfeiçoamento Gestar II – Matemática pela SEC-BA, atua na área de 88 matemática como professor efetivo no ensino médio da rede estadual desde 2007, concursado 40 horas semanais. Professor Diofanto — Graduado em Licenciatura em Ciências e Matemática pela Uneb/Campus X, especialista em Matemática pela FINOM–MG, especialista em Matemática Financeira e Estatística pela FACE-BA, atua na área de matemática como professora efetiva no ensino médio da rede estadual desde 2007, concursada 20 horas semanais. Professora Amalie Noether — Graduada em Licenciatura em Ciências e Matemática pela Uneb/Campus X, especialista em Matemática pela Ferlagos, especialista em Educação Matemática pela FVC, atua na área de matemática como professora efetiva no ensino médio da rede estadual desde 2007, concursada 40 horas semanais. Para nortear as investigações foram discutidas e formuladas hipóteses a partir de possíveis elementos que constituiria a prática docente quanto ao uso da História da Matemática. Mas, a partir das entrevistas realizadas com os docentes identifiquei outros elementos presentes nos discursos que puderam servir de base para a construção de um desenho que representesse o mais próximo possível a realidade da prática docente quanto à utilização da História da Matemática no ensino. Para isso, estabeleci três grupos de análise extraídos dos elementos que constituíram as entrevistas: Relevância da História da Matemática para a formação docente – a visão do professor em relação à importância do tema para sua prática; Leituras realizadas pelo docente em relação à História da Matemática – nesse aspecto busquei identificar o professor/pesquisador como principal responsável pela sua formação quanto educador, uma vez que, havia possibilidades de explorar conhecimentos sobre a temática por meio de pesquisas em internet, livros, participações em eventos, participação em grupo de pesquisa, etc.; Prática docente em relação à utilização da História da Matemática no ensino – para esse aspecto o médoto de ensino foi imprescindível, a atenção recaiu sobre as práticas mais imediatas em sala de aula, como a forma de exposição do 89 conteúdo, sequência didática, projetos, isto é, ações mais frequentes no decorrer do ensino de matemática que denotassem o uso de elementos históricos do saber matemático. A formação inicial docente não foi ponto de discussão aprofundada para a pesquisa, uma vez que, as informações concedidas durante as entrevistas apresentavam pouca consistência sobre a abordagem da História da Matemática nos cursos de licenciatura em matemática. Outro fator que atraiu a atenção para essa tomada de decisão é que 75% dos professores entrevistados tiveram sua formação inicial realizada na mesma Universidade Pública o que nivela mais ainda o rol de informações concedidas. Nas entrevistas os 12 sujeitos participantes foram unânimes em afirmar que a História da Matemática é de extrema relevância para o professor de matemática. De acordo com os professores Pitágoras, Tales e Zenão, existia uma necessidade do próprio discente em relação ao possível criador de tal conhecimento matemático, o que sugeriu uma matemática feita para poucos e por poucos, isolando-a de outras áreas do conhecimento e desconsidendo o processo de construção desse pensamento matemático. Dessa forma, ao serem questionados sobre a relevância da História da Matemática na formação eles afirmaram o seguinte: Importantíssimo. Porque o aluno pergunta tanto faz no fundamental como no 2º grau. São várias as perguntas: Quem foi? Como surgiu? O porquê disso? Os criadores, Tales de Mileto, Pitágoras e vários outros pensantes da matemática (PROFESSOR PITÁGORAS, 2014). Sim, com certeza. Porque é aquela história, muitos alunos pensam: pô o ―cara‖ criou isso estava lá sem fazer nada... E na verdade a matemática é construção ao longo da história da humanidade, se você for ver lá tudo é uma questão de necessidade, o homem sentiu a necessidade de fazer alguma coisa e alguém começou a quebrar cabeça. Como fazer para facilitar aquele cálculo? Ou... Tem horas que são vários povos contribuindo pra aquilo ali. Mais em situações geográficas diferentes, tempos diferentes, contextos diferentes e depois quando vai juntar as coisas o ―cara‖ estava pensando a mesma coisa que o outro em outro lugar, em outra época, às vezes até na mesma época, ou coincide ou complementa o outro. E a relevância está aí nessa questão (PROFESSOR TALES, 2014). O que ajuda quando você coloca a História da Matemática, ela ajuda a sair do abstrato e ir para o concreto, ela desmistifica, por exemplo, o conceito do distanciamento da matemática do ser humano, parece que o matemático é um gênio que nasceu superdotado e está pronto e tem aluno que fala assim, eu não vou aprender matemática nunca porque ele acha que é um 90 dom que já nasce com a pessoa e é um exercício. E outra coisa, o conhecimento eu acredito que todo o conhecimento tem que ser contextualizado tanto social como histórico. Então, as realidades são diferentes uma coisa que está acontecendo agora no século XX e uma coisa que aconteceu no século I, a realidade é outra, então para compreender todo esse conhecimento essa evolução é fundamental (PROFESSOR ZENÃO, 2014). Segundo os dizeres dos entrevistados a História da Matemática é relevante por satisfazer a curiosidade do discente ao responder alguns ―porquês‖ que surgiram no decorrer da construção do conhecimento matemático e por sugerirem a matematica como uma construção humana. Em consonância, Farago expõe que conhecer a origem pode contribuir para a compreensão dos porquês da construção dos conceitos matemáticos e consolida esse processo como viés da criação humana. Assim, A História da Matemática constitui um dos capítulos mais interessantes do conhecimento. Permite compreender a origem das ideias que deram forma à nossa cultura e observar também os aspectos humanos do seu desenvolvimento: enxergar os homens que criaram essas ideias e estudar as circunstâncias em que elas se desenvolveram. Assim, esta História é um valioso instrumento para o ensino/aprendizado da própria Matemática. Podemos entender por que cada conceito foi introduzido nesta ciência e por que, no fundo, ele sempre era algo natural no seu momento (FARAGO, 2003, p. 17). Aspectos como fundamentação teórica e contextualização do pensamento matemático foram enfatizados durante as realizações das entrevistas e puderam corroborar para a relevância da História da Matemática para o professor. Nesse sentido, os professores Platão e Arquimedes discorreram em suas falas sobre a necessidade de conhecer elementos históricos da Matemática para a sua prática docente. [...] é relevante pelo fato de te dar fundamento teórico para falar alguma coisa da matemática, por exemplo, você pode situar a matemática de agora, por que os ―caras‖ usavam aquela matemática na época? Quando estou dando aula, um fato importante, quando estou dando aula de P.A. eu conto a historia de Gauss e peço para o aluno somar de 1 a 20, aí o aluno vai somando, somando, somando, aí eu falo do ―cara‖ que somou de 1 a 100, que soma o primeiro com o último, o segundo com o penúltimo, assim por diante e depois multiplica por 50, dali sai à fórmula da soma dos termos da Progressão Aritmética... Então, você vai colocando a matemática envolvida (PROFESSOR PLATÃO, 2013). Sobretudo para o professor. Para que ele possa contextualizar para o aluno dentro do seu trabalho, embora seja carente ainda na graduação que a 91 gente vê, pelo menos na graduação que a gente teve. Houve uma abordagem dentro da disciplina Estrutura do Ensino, um pouco da questão da estrutura do ensino de matemática no Brasil, ao longo das décadas. Más assim, um estudo mais focado sobre a História da Matemática desde os primórdios foi pouco explorado (PROFESSOR ARQUIMEDES, 2013). É possível perceber que o professor enxergou potencialidades em relação à utilização da História da Matemática no ensino, uma vez que, suas justificativas se apresentaram por meio de um processo que buscou significados para o ensino da Matemática e que exigiu do docente uma visão mais holística. A segurança da produção do conhecimento estabelecida no diálogo entre professor-aluno pode ser construída e verificada mediante o conhecimento histórico dessa produção e por meio de sua contextualização. Uma perspectiva histórica oferece a oportunidade de entrar em momentos em que estava mais perto de compreender a intuição realizada pelos nossos alunos, e isso nos ajuda a gerir os estágios pelos quais os conceitos e ferramentas fundamentais de análise são construídos, e para definir as noções de significado e rigor no contexto (FRIEDELMEYER, 1993, apud BARBIN, 2002, tradução nossa). Em abordagens dos conteúdos de matemática, a contextualização e a busca de significados são pontos primordiais para a construção do saber matemático, tanto para o professor quanto para o aluno. Nesse sentido, Ferreira (apud SANTOS, 2009, p. 20), diz que a História da Matemática: [...] dá a este aluno a noção exata dessa ciência, como uma ciência em construção, com erros e acertos e sem verdades universais. Contrariando a ideia positivista de uma ciência universal e com verdades absolutas, a História da Matemática tem este grande valor de poder também contextualizar este saber, mostrar que seus conceitos são frutos de uma época histórica, dentro de um contexto social e político. No entanto, para que o professor de matemática construa um ambiente de investigação profícuo envolvendo a História da Matemática, capaz de relacionar conhecimentos de outras áreas do saber de maneira contextualizada e com vistas na significação dos conceitos envolvidos, se faz necessário, adentrar num mundo de incertezas constituído de curiosidades e pesquisas, em que a leitura é praticamente a única forma de conseguir êxito no desenvolvimento de sua ação pedagógica. 92 Em relação ao professor que se sente despreparado por não ter uma formação específica em História da Matemática, D‘Ambrosio (1996) orienta que é importante dizer que não é necessário que o professor seja um especialista para introduzir História da Matemática em seus cursos. Se em algum tema o professor tem uma informação ou sabe de uma curiosidade histórica, deve compartilhar com os alunos. Se sobre outro tema ele não tem o que falar, não importa. Não é necessário desenvolver um currículo, linear e organizado, de História da Matemática. Basta colocar aqui e ali algumas reflexões. Isto pode gerar muito interesse nas aulas de Matemática. E isso pode ser feito sem que o professor tenha se especializado em História da Matemática (D‘AMBROSIO, 1996, p.13). Mediante tal pensamento, procurei no desenvolvimento da pesquisa realizar um levantamento sobre leituras que os docentes fizeram acerca da História da Matemática, uma vez que, o professor é o principal responsável pela sua formação e pela condução de sua prática pedagógica em sala de aula. Assim, durante as entrevistas questionei aos docentes sobre materiais de História da Matemática que conheciam e a respeito da presença desses materiais nas bibliotecas das escolas. Nas falas articuladas pela maioria dos professores percebi uma preocupação em afirmar que conheciam alguns livros e paradidáticos que são de cunho da História da Matemática, mas, apresentaram dificuldades para mencionar os nomes desses materiais ou descrever o seu conteúdo. Muitos afirmaram recorrer a conteúdos disponibilizados na internet para demonstrar leitura na área, porém, também não lembravam os endereços dos sites pesquisados. Carl Boyer de História da Matemática. Esse é um, né? Esse para mim foi o mais utilizado. Utilizei na graduação. Fora isso aí, são sites que não sei te dizer agora especificamente qual o endereço porque eu sou muito assim, estou vendo alguma coisa se aquilo me chama atenção eu começo a viajar, eu gosto de história e não necessariamente de História da Matemática (PROFESSOR TALES, 2014). Alguns livros e paradidáticos como aquele que fala de potências e raízes. Têm alguns livros de matemática, aquele livro ―aula por aula‖ (livro didático), sempre tem no inicio do conteúdo um pouco sobre a História relacionada ao conteúdo (PROFESSORA LAURA BASSI, 2014). [...] para ser sincera não conheço muito. Eu trabalhei mesmo com os materiais do próprio GESTAR II e assim, como na biblioteca não tem livros disponíveis sobre História da Matemática, na biblioteca da escola. Então, eu realmente não conheço muitos livros, é mais pela internet mesmo, a gente busca um pouco de informação quando a gente quer trabalhar um texto, alguma coisa, é mais pela internet (PROFESSORA AMALIE NOETHER, 2014). 93 É perceptível nos dizeres dos professores, o interesse em conhecer aspectos históricos sobre a evolução do conhecimento matemático, porém as informações dadas sugeriram que os docentes possuíam pouco contato com materiais literários que abordam aspectos históricos da construção do conhecimento matemático e a falta de consistência nas informações relacionadas às pesquisas realizadas na internet foram indícios significativos de precariedade nas práticas de leituras sobre esse campo de pesquisa da Educação Matemática. No livro ―Práticas de leituras em História da Matemática‖ os autores afirmam que: [...] o que vemos rotineiramente, seja em cursos de graduação e pósgraduação, seja em encontros, oficinas e seminários ministrados para professores de matemática é que há, também entre eles, uma precariedade muito significativa de práticas de leitura. Em outras palavras, é muito comum ouvirmos de colegas professores a revelação de que não leem, não gostam de ler e não se interessam por leitura (PACHECO; PACHECO, 2011, p. 9). Nos dizeres da professora Hipácia, a sua prática docente em relação ao conhecimento histórico de um conteúdo matemático foi realizada por meio de histórias contadas que ilustravam a construção do conhecimento em determinado período da história. Geralmente quando eu insiro o conteúdo, eu faço uso da História. Eu conto a história da roda, geralmente na geometria. E como surgiram as necessidades de medição, como que surgiu o comprimento, o metro. Então, eu conto historinhas. Quando eu dava aula para a 6ª serie, eu tinha mais histórias para contar. Mas, na hora de abordar progressão aritmética mesmo, posso contar histórias que ouço, a gente ouve a história mais não sabe se é verdade (PROFESSORA HIPÁCIA, 2014). Acredito que a falta de embasamento teórico sobre os elementos históricos que constituíram o processo de construção de determinado saber matemático pode ser um aspecto negativo na prática docente. O professor ao contar histórias que ouviu sobre o processo da construção do saber matemático de determinado conteúdo pode cometer erros conceituais que foram constituídas mediante o processo de transmissão das informações, podendo configurar-se em um obstáculo epistemológico no processo de ensino e aprendizagem. Cada assunto de caráter matemático possui um estatuto epistemológico próprio que depende da história de sua evolução no interior da Matemática, da sua aceitação crítica no âmbito da Matemática, das reservas que lhe são 94 próprias, da linguagem no qual se exprime ou da que é necessária para poder ser expresso. Por exemplo, quando na história da evolução de um conceito se percebe uma não continuidade, uma ruptura, mudanças radicais de concepções, então se supõe que tal conceito possua no seu interior obstáculos de caráter epistemológico, tanto para ser concebido, como para ser aceito pela comunidade dos matemáticos, como para ser aprendido (BROUSSEAU, 1976, apud D‘AMORE, 2007, p. 214). Em relação à apropriação do saber histórico, acredito que o professor-pesquisador por meio do exercício da leitura pode conquistar uma visão holística da construção do conhecimento matemático, proporcionando-lhe maior segurança em relação aos conceitos matemáticos e consequentemente, orientar suas decisões em relação à condução de sua prática docente. [...] O professor que está ciente da história, deve se beneficiar do seu legado histórico para enriquecer sua atividade docente ao conhecer e compreender as dificuldades dos conteúdos dados manifestará uma atitude prudente, precavida e paciente e encontrará sugestões e apoios que facilitem a introdução dos novos conceitos. A história da Matemática pode oferecer ao professor um campo inesgotável de estímulos para manter o seu interesse em uma autoformação continuada, para perseverar o estudo da Matemática em si, o que contribuirá para manter um nível adequado às exigências curriculares e a desenvolver as capacidades necessárias à atualização e renovação pedagógica (URBANEJA, 2004, p. 24-25). Na busca por indícios que aproximassem o desenho dessa pesquisa com a realidade da prática docente, o estudo apresentou que o professor de Matemática desconhece o acervo de obras ligadas a área do conhecimento matemático, em especial, da História da Matemática, que se faz presente nas bibliotecas das unidades de ensino em que atuam, e que a presença do docente nesse ambiente da escola não faz parte do planejamento de suas aulas. Entretanto, o professor viu vantagens na utilização da História da Matemática no ensino, pois acreditou que pode proporcionar ao discente um momento de leitura que pode contribuir para o seu desenvolvimento. Ou seja, o docente reconheceu que a leitura pode transformar os indivíduos e sua ação no processo de aprendizagem. Em relação ao tocante, a professora Laura Bassi argumenta que [...] a História da Matemática é momento para o menino ler mais, acho que os meninos leem pouco. Para eles fazerem mais leituras e veem que também na matemática a gente tem leitura, que não é somente números, quando a maioria das pessoas pensa em matemática pensam em números. 95 Não pensam que precisa de leitura. E aí é um momento que ele, apesar de que eu não gostava muito da história, quando era estudante, mais eu vejo como é necessário conhecer a história, a nossa história, a história das civilizações. Perceber a matemática em outros lugares em outros tempos e a história relacionada com a matemática (LAURA BASSI, 2014). Outro aspecto visível nas entrevistas, diz respeito à figura do professor-pesquisador vislumbrada e defendida em algumas linhas desse trabalho. O estudo indicou que a leitura não faz parte dos hábitos do professor de matemática, uma vez que, o docente não tem buscado no exercício da leitura aprimorar seu conhecimento teórico e metodológico. Tais ações dificultam a incorporação da História da Matemática em sua prática pedagógica e propõe o livro didático como o único norteador da ação pedagógica. Em suas pesquisas, Schubring, realça essa relação existente entre a prática do professor e o livro didático, afirma que são aspectos importantes no estudo da realidade do ensino e que os livros didáticos determinam a realidade do ensino no cotidiano escolar e não os programas. E complementa dizendo que o professor de matemática [...] não constitui um sujeito passivo que recebe os programas e os faz aplicar, mas ele representa a pessoa decisiva no processo de aprendizagem. Em minha opinião, a vida profissional do professor representa o melhor meio para ter acesso à realidade histórica do ensino. Vale a pena salientar que há uma tensão principal entre o papel do professor e o papel do manual na realidade do ensino. Depende do funcionamento de todo o sistema educacional, em particular das competências profissionais do professor, se ele funciona como o agente do manual ou se o manual representa uma ferramenta no processo pedagógico dirigido pelo professor (SCHUBRING, 2005, p. 9). Durante as entrevistas, os docentes pontuaram como ação pedagógica o uso dos elementos históricos presentes nos livros didáticos, em que realizam abordagens dialogadas e não sistematizadas, ou seja, comentaram fatos históricos sobre a produção de conhecimentos de alguns matemáticos, bem como, raras pesquisas realizadas pelos discentes sobre a bibliografia do matemático em evidência no conteúdo abordado. [...] Às vezes, comento as histórias mais simples, de Tales de Mileto, de Pitágoras, quando você vai abordar o assunto, mais nada sistemático, organizado. Às vezes, até o próprio livro didático trás uma abordagem da história, peço para os alunos fazerem uma leitura e comento alguma coisa e aí normalmente deixo como sugestão se alguém tem interesse e gosta 96 dessa área, para quem tem acesso a internet, gosta de estar sempre conectado, vamos tentar canalizar pra esse lado aí, uma coisa boa (PROFESSOR TALES, 2014). Não. Hoje em dia, até porque os livros que nós trabalhamos não tem um material bom que desse para a gente estar atuando, estar trabalhando (PROFESSORA SOPHIE GERMAIN, 2014). Nesses relatos, foi possível perceber que a ação docente está resguardada no tratamento que o livro didático traz para determinado conteúdo matemático, ou seja, ficou claro que a ação pedagógica encontra-se atrelada a maneira como o livro didático aborda o assunto, assim, o livro didático pode configurar-se no único instrumento norteador teórico e prático do professor de matemática. Nas entrevistas o professor assumiu uma atitude favorável em relação à utilização da História da Matemática em sala de aula, isto é, demonstrou interesse em fazer uso dessa metodologia em sua prática docente ressaltando sua relevância para o ensino e aprendizagem da matemática. Mas, afirmou que a falta de orientação para inserir a História da Matemática na sala de aula e a falta de tempo para discutir como realizar essa abordagem são fatores que dificultam uma ação pedagógica nesse sentido. Assim, as professoras Hipácia e Sophie Germani ao serem questionadas sobre a relevância da História da Matemática no ensino sugeriram que: Considero que é importante, mas não tenho tido facilidade para inserir, porque as pessoas falam muito que é importante, mas não ensinam para gente como fazer isso e particularmente está muito difícil arrumar um tempo para descobrir e discutir com os professores sobre isso (PROFESSORA HIPÁCIA, 2014). Olha, acho importante sim. Agora sim, na prática hoje é muito difícil você levar a História da Matemática para a sala de aula. Até mesmo, não sei por que motivo que no ensino superior eu não tive tanto conhecimento. Então para mim seria assim um pouco difícil estar levando para a sala de aula, conduzindo uma prática seria um pouco difícil, mas acho importante sim (PROFESSORA SOPHIE GERMANI, 2014). Pela natureza das informações, o professor de matemática anseia por orientações que pudessem direcionar a sua prática pedagógica a partir do uso da História da Matemática no ensino. 97 Desse modo, o desenho dessa pesquisa sugeriu para o próximo capítulo estabelecer uma proposta pedagógica para o ensino de matemática, a fim de proporcionar ao docente uma possibilidade didática para a sala de aula a partir da utilização da História da Matemática. Não que exista uma fórmula pronta para ensino, semelhante ao decalcar de um desenho que já tem a sua forma pré-definida, porém, como uma proposta de reflexão sobre as potencialidades do uso da História da Matemática no processo de ensino e aprendizagem. 98 5 ARTE FINAL: O DESENHO GANHA MOVIMENTO Em arte, procurar não significa nada. O que importa é encontrar. (PABLO PICASSO) Ao longo da caminhada da construção deste desenho e do manuseio das cores que estavam ao alcance das minhas mãos, deparei-me com um cenário mais complexo do que se imaginava no início desta pesquisa. Os instrumentos utilizados para dar forma ao desenho foram constituídos a partir das perguntas que direcionaram, em meio aos rabiscos produzidos, um formato considerado por hora como final, ou ao menos, um traçado que em sua especificidade se formou por meio das respostas encontradas nas curvas dessa pesquisa. Mas, como deixar vivo este desenho no imaginário de outros artistas/pesquisadores que contemplem esta arte? Será que só apresentação dos instrumentos e cores utilizadas para dar vida a essa obra conseguirão manter a ideia de transformação? Quais foram os anseios captados no desenho que podem inspirar outros olhares e novas formas de reproduzir esta realidade? Então, imaginei nestes questionamentos a produção de um material que pudesse orientar a prática docente quanto à utilização da História da Matemática no ensino. Uma vez que, alguns indícios foram pontuados pelos docentes como uma possível ação pedagógica a partir do uso de elementos históricos no ensino de matemática. Olha eu utilizo pegando um texto da internet ou um vídeo que comenta alguma coisa sobre a história e levo para os alunos assistirem e peço para eles comentarem. Eu trabalho dessa forma (PROFESSORA AMALIE NOETHER, 2014). [...] agora mesmo, esse ano, discuti com eles (alunos) um pouco sobre o teorema que o americano Andrew Wiles desvendou, o teorema de Fermat. Falei para eles quanto tempo ficou esse teorema, e eu peguei aquele documentário. Não passei o documentário todo só algumas partes porque para um aluno de ensino médio ele é um pouco cansativo, mais para ele entender a ideia do cara. Quantos anos ele tentou resolver aquele teorema ali, depois que trabalhou muito e divulgou ainda com um erro [...] (PROFESSOR ZENÃO, 2014). 99 Os dizeres supracitados foram essenciais para compor a arte final deste desenho, em meio às dificuldades enfrentadas pelos docentes nas realidades duras da escola pública, foi possível notar a tentativa de utilização da História da Matemática para a construção do conhecimento matemático e, uma maneira sinalizada e utilizada pelos docentes como opção para a prática orientou o uso de vídeos no processo de ensino e aprendizagem como aspecto positivo. A contento foi proposto um guia didático10 com vídeos de curta duração que utilizam a História da Matemática como sugestão de abordagem para conteúdos matemáticos. Assim, encontram-se disponíveis no site da SEC–BA vídeos para o ensino da matemática produzidos por estudiosos e pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas – Unicamp em parceria com a produtora Casablanca, no projeto intitulado ―Matemática Multimídia – Série Matemática na Escola11‖, com financiamento do FNDE, SED, MCT e MEC para o Ensino Médio de Matemática no Brasil. Nesse sentido, busquei construir um diálogo entre a História da Matemática, vídeo didático e prática docente, de maneira que os vídeos se tornem uma possibilidade didática para o ensino da matemática sob a luz da metodologia História da Matemática. Para isso, apresenta-se o guia didático ―Publicações de História da Matemática em vídeos didáticos: uma abordagem no ensino médio‖ com o intuito de descrever os conteúdos dos vídeos didáticos produzidos pela Unicamp, bem como, a proposta pedagógica que orienta a sua utilização em sala de aula. A ideia apresentada foi caracterizada como Produto Final da pesquisa, uma vez que, nasceu de uma proposta de ação gerada a partir da pesquisa cujo enfoque está voltado a priori para a compreensão e depois para uma aplicação direta no campo ao qual ele se insere. 10 O guia didático ―Publicações de História da Matemática em vídeos didáticos: uma abordagem no ensino médio‖ segue nos anexos desta pesquisa. 11 São mais de 350 recursos educacionais no formato de vídeos, áudios, softwares e experimentos, que estão licenciados sob uma licença Creative Commons – é permitido copiar, distribuir, exibir, executar a obra e criar obras derivadas, mas não é permitido o uso comercial ou o recenciamento sobre uma licença mais restritiva. Disponível em: <http://m3.ime.unicamp.br/>. Acesso em: 1 abr. 2014. 100 5.1 VÍDEOS DIDÁTICOS NO ENSINO: ALGUMAS REFLEXÕES Esta parte da pesquisa pretendeu de maneira sucinta abordar o ensino da Matemática a partir da inserção de tecnologias de informação e comunicação (TIC) nas aulas de Matemática. Para isso, apresentei o uso de vídeos didáticos constituídos por elementos históricos da Matemática como suporte pedagógico nas aulas de Matemática, podendo sim, contribuir para uma abordagem significativa e contextualizada em relação à construção do conhecimento matemático. Segundo Miguel e Machado (2013 apud D‘Ambrosio, 2003) ―[...] o vídeo é um instrumento que nos possibilita acessá-los a qualquer hora e em qualquer lugar, transformando-se assim em uma poderosa ferramenta de informação‖. Desse modo, acredito que a utilização de vídeos pode ilustrar os dizeres apresentados em aula, proporcionando condições para perceber as etapas da construção do pensamento matemático e do fazer matemático presentes em diferentes culturas, bem como, compreender as necessidades de sua produção. Ferrés (1998), após analisar o papel didático do vídeo no processo de ensino e aprendizagem expõe alguns critérios a serem adotados para a utilização em sala de aula: a) É necessário promover mudanças nas estruturas, isto é, redefinir o olhar e o fazer pedagógico, os quais incorporam o audiovisual como mero auxiliar na prática educacional cotidiana. b) Como meio tecnológico, o vídeo não substitui o professor, entretanto, pode promover mudanças na função pedagógica deste. c) Para que haja um bom aproveitamento das potencialidades do vídeo, é imprescindível que os professores tenham uma formação específica para a utilização do meio. Não haverá professores formados para o emprego do vídeo e demais audiovisuais se não houver professores formados mediante o emprego do vídeo e dos demais audiovisuais (FERRÉS, 1996, p. 11). d) Usar o vídeo como recurso audiovisual não significa abandonar os meios didáticos tradicionais, porém, sugere um redirecionamento da função destes. Um 101 bom uso dos recursos didáticos na prática pedagógica – seja de tecnologias avançadas ou tradicionais – deve levar em consideração as condições e atributos de cada meio, a adequabilidade ao conteúdo e as características do aluno. e) A inserção de um determinado audiovisual deve estar voltada à impulsão do processo, tendo o aluno como centro. Caso contrário, o vídeo torna-se um mero ilustrador do discurso do professor. f) Nenhuma tecnologia é boa ou má por si só. A eficácia e os resultados dependerão do uso que se fizer dela. Assim, também ocorre com o vídeo: a sua eficácia educativa será diretamente proporcional ao uso que se fizer dele. g) O uso coerente do vídeo - como recurso audiovisual comprometido com a ruptura das práticas pedagógicas tradicionais - deve centrar-se mais no processo e menos no produto. O professor que faz uso do vídeo com essa consciência procura extrapolar a simples exibição de programas pré-prontos, envolvendo o aluno para que este partícipe do processo, seja criando novos materiais, seja interferindo de maneira criativa em materiais já existentes. h) Como todo meio de comunicação, o vídeo tem uma forma de expressão autônoma. Nesse sentido, pode-se inferir que a escola deve determinar as funções de cada meio, de forma que estes estejam adequados aos objetivos e ao funcionamento de sua lógica interna. i) Quanto mais acesso o aluno tiver à tecnologia do vídeo, no sentido de manipulá-la criativamente, pesquisar, fazer experiências que permitam a descoberta de novas formas de expressão, maior será a eficácia didática desse recurso. Nesse sentido, para trabalhar vídeos didáticos nas aulas pude compreender que eles foram concebidos e produzidos para a abordagem de determinados conteúdos, com a finalidade de desenvolver competências ou apresentar atividades e, que por meio de uma linguagem própria (simbólica), fornecem subsídios para a aprendizagem dos discentes. A sua eficácia está condicionada também ao fato de como o professor organiza a sua prática a partir de sua exploração, tomando como base as atividades de desenvolvimento, associação ou conexão e formalização. 102 Dessa maneira, Farjado (2006 apud MACHADO; MENDES, 2013, p. 78) caracteriza vídeo como didático pela ―[...] sua intenção de ensinar, pela destinação do público a que se destina e maneira de destacar as questões principais que formam o conteúdo do vídeo‖. O vídeo pode ser uma alternativa eficaz para o ensino, uma vez que, pode incidir sobre as competências em matéria de investigação, o pensamento crítico, resolução de problemas, habilidades de cooperação, etc. Promove o estudante como centro do processo educativo, em que valoriza as suas habilidades de pensamento crítico, a destreza frente a situações problemas e a criatividade (MACHADO; MENDES, 2013). Para o desenvolvimento do desenho dessa pesquisa, acredito que os elementos históricos da construção do conhecimento matemático presente nos vídeos didáticos catalogados puderam contribuir para o ensino de matemática, pois puderam estabelecer por meio de diálogo interativo entre o saber matemático e sua constituição histórica um ambiente propício para investigação matemática. Destarte, foi produzido o guia didático intitulado ―Publicações de História da Matemática em vídeos didáticos: uma abordagem no Ensino Médio‖ com os respectivos vídeos e as sugestões de uso para o professor em uma mídia interativa. 103 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS – TOQUE FINAL NO DESENHO Atualmente, no campo da Educação Matemática, tanto as discussões e investigações quanto às práticas pedagógicas indicam a necessidade de superação da visão fragmentada da matemática. A partir de certas metodologias pode-se propiciar uma formação mais ampla do aluno, observando-se os aspectos lógicos, históricos e culturais das produções matemáticas. No ensino da matemática devemse permitir reflexões, análises, investigações e generalizações, de forma a desenvolver um cidadão criativo, crítico e responsável. Nesse sentido, a pesquisa oferece aos professores de matemática, alunos e demais interessados, um estudo inédito para o município de Teixeira de Freitas, no que diz respeito, a utilização da História da Matemática no ensino da Matemática, correlacionando-a com a abordagem de vídeos didáticos de curta duração disponibilizada no site da SEC–BA, servindo como instrumento de apoio pedagógico para docentes que ministram a disciplina matemática no Ensino Médio da rede estadual de ensino. Assim, os dados colhidos e analisados se constituíram em uma parte das ações da pesquisa que aos poucos foram dando forma ao desenho desse trabalho. A análise dos documentos escritos e dos materiais catalogados, fotografados e quantificados sugerem que a História da Matemática se faz presente nas unidades escolares estaduais do município e que sua inserção na sala de aula depende da busca do professor de matemática por leituras novas que possam contribuir para a sua prática pedagógica. Desse modo, o material disponível nas escolas estaduais que abordam a História da Matemática pode ser um caminho para a transformação da prática docente, uma vez que, por meio da leitura o docente pode conhecer, inovar e conjecturar propostas para o ensino da Matemática. Na pesquisa, fica claro que, o professor considera relevante a utilização da História da Matemática no ensino, uma vez que, suas justificativas se apresentaram por meio de um processo que buscou significados para o ensino da Matemática e que exigiu do docente uma visão mais holística. A construção do conhecimento matemático estabelecida no diálogo entre professor, pesquisador, orientador e facilitador do 104 processo de ensino e aprendizagem, com o aluno, pesquisador e construtor do saber matemático, pode ser constituída e verificada mediante o conhecimento histórico do processo de produção do saber e por meio de sua contextualização. A História da Matemática como metodologia de ensino pode ser um caminho para trabalhar com incertezas, com erros, com questionamentos que geraram todo o processo de construção de um saber matemático, ou seja, as pesquisas orientadas a partir dessa metodologia podem contribuir para que no processo de ensino e aprendizagem sobressaia o indivíduo pesquisador, capaz de gerir suas ações nesse processo e compreender a Matemática no saber e fazer do homem. Em consonância, acredito que a pesquisa é algo intrínseco à prática e que a relevância de uma pesquisa está condicionada ao seu aspecto prático. Dessa forma, a figura do professor-pesquisador constituída pela busca de novos conhecimentos que potencializem reflexões acerca de sua prática é sem dúvida o elo que torna a ação da docência e a de fazer pesquisa algo indissociável. No desenvolver do desenho desta pesquisa, foi sensível ao artista/pesquisador que há precariedade nas práticas de leituras sobre esse campo de pesquisa da Educação Matemática, isto é, o professor tem pouco contato com materiais didáticos que abordam aspectos históricos da construção do conhecimento matemático. Acredito que o professor é o principal responsável pela sua formação e que a leitura é primordial para buscar novos caminhos para o ensino da Matemática. O fato do professor de matemática desenvolver poucas leituras nessa área seja por falta de conhecimento ou pelo acesso restrito a materiais sobre História da Matemática pode dificultar a incorporação da História da Matemática em sua prática pedagógica contribuindo para que o livro didático seja o único norteador da ação pedagógica. Na busca por indícios que aproximem o desenho desta pesquisa com a realidade da prática docente, o estudo pôde apresentar que o docente não citou as obras ligadas a área do conhecimento matemático, em especial, da História da Matemática, que se faz presente nas bibliotecas das unidades de ensino em que atuam, e que a 105 presença do docente nesse ambiente da escola não faz parte do planejamento de suas aulas. O principal motivo argumentado pelo docente por não frequentar com assiduidade as bibliotecas das escolas está condicionada a jornada de trabalho, que muitas vezes, alcançam um quantitativo de 60h semanais. Tornando-se, o tempo, um obstáculo para a realização de estudos teórico-metodológicos que possam contribuir para a prática docente. Quanto à investigação da possibilidade da utilização da História da Matemática por meio de vídeos didáticos de curta duração já publicados, estes se tornam um recurso a mais para o professor refletir sobre a sua prática além de facilitar a inserção dessa metodologia em sala de aula, uma vez que, este recurso se encontra disponibilizado na internet e as sugestões de atividades podem ser facilmente adequadas à realidade da sala de aula do professor de matemática. Dessa maneira, a pesquisa sugere uma proposta pedagógica para o ensino de matemática a fim de proporcionar ao docente uma possibilidade didática para a sala de aula a partir da utilização da História da Matemática. Não que exista uma fórmula pronta e acabada para o ensino da Matemática, mas, como uma proposta de reflexão sobre as potencialidades do uso da História da Matemática no processo de ensino e aprendizagem. No decorrer do estudo percebi pesquisas que buscam desenvolver materiais que utilizam saberes históricos de cunho matemático para sua produção e que seu potencial didático pode colaborar significativamente para o processo de ensino e aprendizagem da Matemática proposta para o Ensino Médio, possibilitando um maior entendimento para os professores e para os alunos no que se refere ao desenvolvimento histórico-epistemológico da Matemática ensinada. Desejo que esta produção acadêmica desperte novos rumos para os professores, atuais e futuros, colaborando para uma mudança de postura do docente quanto à sua prática, sob um olhar questionador, dedicado, curioso e interessado em questões sócio-históricas, compreendendo assim as necessidades de seus alunos. 106 Desta forma, espero fortalecer a premissa de que o professor é também um pesquisador atuando em ambas as direções: buscando o novo, junto com seus alunos, e conhecendo o aluno, em suas características emocionais e culturais (D‘AMBROSIO, 1996). 107 REFERÊNCIAS ÁREA DE CIÊNCIAS DA NATUREZA, MATEMÁTICA E SUAS TECNOLOGIAS. Secretaria da Educação. Orientações curriculares estaduais para o Ensino Médio. Salvador, 2005. BACHELARD, Gaston. A formação do espírito científico: contribuição para uma psicanálise do conhecimento. Rio de Janeiro: Contraponto, 1996. BARBIN, Evelyne et al. The historical dimension: from teacher to learner. In: FAUVEL, J. MAANEN, J. (Eds.) 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Febrero, 2004, p. 17-28. 112 APÊNDICES 113 APÊNDICE A Cronograma da pesquisa 114 APÊNDICE B Carta de apresentação e realização da pesquisa 115 APÊNDICE C Carta convite INSTITUTO FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO - CAMPUS VITÓRIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICA PROJETO DE PESQUISA DE MESTRADO PROFISSIONAL CARTA COVINTE Caro professor (a), Meu nome é Clóvis Lisboa dos Santo Jr., discente matriculado no curso de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Matemática oferecido pelo Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), sob a orientação do prof. Dr. Edmar Reis Thiengo e co-orientação da profª. Drª. Sandra Aparecida da Silva Fraga. A nossa pesqusisa intitulada ―História da Matemática no Processo Educativo: Análise da Prática Docente‖ propõe investigar as relações encontradas pelo professor de matemática das escolas estaduais do município de Teixeira de Freitas na Bahia entre o saber histórico de um determinado conceito matemático e seu ensino. Para tanto, propomos como hipótese que ter conhecimento do desenvolvimento histórico de determinados conteúdos matemáticos tem relação com a maneira como o professor organiza a sua prática pedagógica. Assim, venho por meio desta solicitar ao (a) senhor(a) que nos conceda uma entrevista com fins estritamente académicos, na qual teremos a oportunidade de coletar informações relevantes à pesquisa que estamos desenvolvendo. Caso o(a) senhor(a) concorde em nos conceder tal entrevista, gostaríamos de agendar um encontro para que a mesma seja realizada. Cordialmente, Teixeira de Freitas (BA), ___ de _______________ de 2013. ______________________________________ Clovis Lisboa dos Santos Jr. e-mail: [email protected] 116 APÊNDICE D Termo de Consentimento de Livre e Esclarecido INSTITUTO FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO - CAMPUS VITÓRIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICA PROJETO DE PESQUISA DE MESTRADO PROFISSIONAL TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Eu _____________________________________________, portador do CPF: _________________ , e-mail: _____________________________, concordo espontaneamente participar da pesquisa de mestrado, intitulada: “História da Matemática no Processo Educativo: Análise da Prática Docente” desenvolvida pelo mestrando Clóvis Lisboa dos Santos Junior, CPF: 000.576.445-94, cujo e-mail para contato é [email protected], vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Matemática – Educimat pelo Ifes, sob orientação do prof. Dr. Edmar Reis Thiengo e co-orientadora prof. Drª. Sandra Aparecida da Silva Fraga, no período de 09/08/2012 a 09/08/2014. Reconheço ter sido adequadamente informado e esclarecido sobre os objetivos da pesquisa. Também estou ciente que poderei retirar o meu consentimento a qualquer momento que desejar, antes ou durante a realização da pesquisa, sem que tal atitude venha me causar ônus, penalidades ou prejuízo de qualquer natureza. Concedo ao pesquisador os direitos para utilizar em pesquisa acadêmica os registros em áudio e vídeo, integralmente ou em partes, sem restrições de prazos e citações, referente à entrevista realizada comigo em ___ /___ /___. Por se tratar de uma pesquisa sobre a prática docente em relação ao ensino de matemática, não autorizo citar meu nome ou qualquer especificidade que venha identificar-me quanto entrevistado. Este termo está sendo elaborado em duas vias, sendo que uma via ficará arquivada com os pesquisadores responsáveis e a outra com o (a) entrevistado (a). _______________________________ Assinatura do (a) Entrevistado (a) _______________________________ Assinatura do Pesquisador Teixeira de Freitas (BA), ____ de _______________ de 2014. 117 APÊNDICE E Termo de Resguardo de Informações Confidenciais INSTITUTO FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO - CAMPUS VITÓRIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICA PROJETO DE PESQUISA DE MESTRADO PROFISSIONAL TERMO DE RESGUARDO DE INFORMAÇÕES CONFIDENCIAIS Eu,____________________________________________, portador do CPF:___________________, cujo e-mail para contato __________________________, concordo espontaneamente em participar da pesquisa, intitulada: “História da Matemática no Processo Educativo: Análise da Prática Docente”, que será realizado pelo mestrando Clóvis Lisboa dos Santos Jr, CPF: 000.576.445-94, cujo e-mail para contato [email protected], que está vinculado ao Programa de PósGraduação em Educação em Ciências e Matemática pelo Instituto Federal do Espírito Santo, sob orientação do prof. Dr. Edmar Reis Thiengo e co-orientadora prof. Drª. Sandra Aparecida da Silva Fraga,no período de 09/08/2012 a 09/08/2014, informo as informações confidenciais que deverão ser resguardados na futura publicações e/ou divulgações: _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ Este termo está sendo elaborado em duas vias, sendo que uma via ficará arquivada com os pesquisadores responsáveis e a outra com o (a) entrevistado (a). _______________________________ Assinatura do (a) Entrevistado (a) _______________________________ Assinatura do Pesquisador Teixeira de Freitas (BA), ___ de ______________ de 2014 . 118 APÊNDICE F Roteiro de entrevista dos professores das escolas estaduais ROTEIRO DE ENTREVISTA Captação da Percepção do Professor INSTITUTO FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO - CAMPUS VITÓRIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICA PROJETO DE PESQUISA DE MESTRADO PROFISSIONAL ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA 119 ANEXOS 120 ANEXO A Autorização para desenvolvimento da pesquisa 121 ANEXO B Atividades de investigação histórica – Gestar II – Módulo IV – versão do professor 122 123 124 ANEXO C Atividades de investigação histórica – Gestar II – Módulo IV – versão do professor 125 126 127 128 129 130 ANEXO D Atividades de investigação histórica – Gestar II – Módulo IV 131 132 133 ANEXO E Atividades de investigação histórica – Gestar II – Módulo V – versão do professor 134 135 136 ANEXO F Atividades de investigação histórica – Gestar II – Módulo VI – versão do professor 137 138