UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO ESPECIALIZAÇÃO latu sensu CLÍNICA MÉDICA E CIRÚRGICA DE PEQUENOS ANIMAIS Hiperplasia Mamaria Felina - Relato de Caso Carlos Eduardo Barbosa Luciana Silva de Carvalho Goiânia 2010 Carlos Eduardo Barbosa Luciana Silva de Carvalho Alunos do Curso de Especialização em Clínica Médica e Cirúrgica de Pequenos Animais da Universidade Castelo Branco Hiperplasia Mamaria Felina - Relato de Caso Trabalho monográfico de conclusão de pós-graduação em Clinica Médica e Cirúrgica de Pequenos Animais, entregue a UCB como requisito parcial para a obtenção do título de especialização em Clínica Médica e Cirúrgica de Pequenos Animais, sob a orientação do Prof. Me Luciano Schneider da Silva. Goiânia 2010 FOLHA DE APROVAÇÃO HIPERPLASIA MAMARIA FELINA – RELATO DE CASO Elaborado por Carlos Eduardo Barbosa e Luciana Silva de Carvalho Alunos do Curso de Especialização latu sensu Clínica Médica e Cirúrgica de Pequenos Animais Foi analisado e aprovado com grau:................................... Goiânia, ____ de _______________ de ______. ______________________________________ Membro ______________________________________ Membro ______________________________________ Professor Orientador Goiânia, abril de 2010. EPÍGRAFE “Interessar-se por novos motivos ajuda a viver em permanente juventude”. Carlos Bernardo González Pecotche AGRADECIMENTOS Agradecemos a todos os que, de uma ou de outra forma, contribuíram para facilitar minha vida durante este período e em especial: Às nossas famílias pelo carinho e compreensão. Ao nosso orientador pelo apoio. À oportunidade de aprendizagem que a vida nos oferece e ao fato de estarmos tendo, nesta etapa de nossa existência, uma grande oportunidade de crescimento como seres humanos com uma missão tão especial como esta, de dedicação aos animais, também filhos da Criação. LISTA DE FIGURAS Figura 1 Gata, SRD, 7 anos de idade, peso de 5 kg. 6 Figura 2 Presença de grandes úlceras nas duas primeiras mamas, lesão cutânea por 7 lambedura iniciando na última mama do lado esquerdo. Figura 3 Acentuado aumento de volume da cadeia mamária. As mamas torácicas craniais 7 direita e esquerda estão ulceradas e têm aproximadamente 10 cm de diâmetro. Figura 4 Animal anestesiado e preparado com tricotomia e anti-sepsia 9 Figura 5 Incisão cutânea delineando áreas a serem preservadas ou extirpadas 9 Figura 6 Aprofundando a incisão com auxílio do bisturi elétrico 10 Figura 7 Separação dos tecidos com os dedos 10 Figura 8 Dissecação dos vasos e oclusão com pinças hemostáticas 11 Figura 9 Proteção dos tecidos com gaze embebida em solução de ringer lactado aquecida 11 Figura 10 Ligadura de veias e artérias calibrosas que irrigam a cadeia mamária 12 Figura 11 Mastectomia quase completa. Perda de musculatura aderida à glândula mamária 12 hiperplásica, apresentando fibrose. Figura 12 Cadeias mamárias extirpadas pesando 2,5 Kg 13 Figura 13 Mastectomia total 13 Figura 14 Dermorrafia e cuidados pós operatórios 14 Figura 15 Recuperação anestésica 14 BARBOSA, Carlos Eduardo ; CARVALHO, Luciana Silva. Hiperplasia Mamária Felina – Relato de Caso. Goiânia: Universidade Castelo Branco, 2010 (monografia de conclusão do curso de Especialização latu sensu Clínica Médica e Cirúrgica de Pequenos Animais). Orientador: Prof. Me. Luciano Schneider da Silva. RESUMO É relatado um caso de hiperplasia mamária felina diagnosticado em uma gata de sete anos de idade, não-castrada com histórico clínico de crescimento da glândula mamária 20 dias após a administração de uma única dose de um contraceptivo. O animal apresentava extrema hiperplasia mamária a ponto de impedir a sua locomoção. Macroscopicamente o tecido mamário estava ulcerado nas duas primeiras mamas e uma lesão cutânea por lambedura iniciava-se na última mama do lado esquerdo. Foi realizado exame histopatológico pós-cirurgia confirmando-se a de proliferação do epitélio dos ductos e células mioepiteliais periglandulares. Palavras-Chave: Hiperplasia; Gatas; Glândulas Mamárias; Progesterona. BARBOSA, Carlos Eduardo ; CARVALHO, Luciana Silva. Hiperplasia Mamária Felina – Relato de Caso. Goiânia: Universidade Castelo Branco, 2010 (monografia de conclusão do curso de Especialização latu sensu Clínica Médica e Cirúrgica de Pequenos Animais). Orientador: Prof. Me. Luciano Schneider da Silva. ABSTRACT Is reported a case of feline mammary hyperplasia diagnosed in a female cat of seven years of age, not castrated with clinical description of growth of the mammary gland 20 days after the administration of an only dose of a contraceptive. The animal presented extreme mammary hyperplasia the point to hinder its locomotion. Macrocospically the mammary tissue was ulcerated in the two first mammary gland and a cutaneous injury for licked was initiated in the last mammary gland of the left side. After the surgery was carried through a histopathology exam confirming itself the epithelium ductal proliferation and periglandular myoepithelial cells. Key Words: Hyperplasia; Female Cat; Mammary Gland; Progesterone. SUMÁRIO FOLHA DE APROVAÇÃO................................................................... III EPÍGRAFE............................................................................................ IV AGRADECIMENTOS........................................................................... V LISTA DE FIGURAS............................................................................ VI 1. INTRODUÇÃO...................................................................................... 01 2. REVISÃO DE LITERATURA................................................................ 02 2.1. Incidência................................................................................................................... 02 2.2. Aspectos Hormonais................................................................................................ 02 2.3. Sinais Clínicos.......................................................................................................... 03 2.4. Diagnóstico............................................................................................................... 03 2.5. Tratamento................................................................................................................ 04 3. RELATO DE CASO............................................................................. 06 4. DISCUSSÃO........................................................................................ 15 5. CONCLUSÀO............................................................................................................ 17 REFERÊNCIAS BIBILIOGRÁFICAS........................................................................ 18 1. INTRODUÇÃO A hiperplasia mamária felina ou hiperplasia fibroepitelial é uma condição benigna, caracterizada pelo crescimento rápido de uma ou mais glândulas mamárias, que acomete preferencialmente gatas jovens, que estejam ciclando ou prenhes (Carpenter & Holzworth 1987; HAYDEN, 1989.) Dentre as espécies domésticas, esta é uma patologia exclusiva dos gatos. O desenvolvimento mamário ocorre por influência de progesterona endógena ou exógena (HAYDEN, 1989; MARTIN DE LAS MULAS et al., 2000). Apesar de ser uma condição benigna, ela pode adquirir um caráter emergencial em determinadas situações, tornando-se necessário o uso imediato de fármacos e até mesmo de protocolos cirúrgicos para o seu tratamento. Este relato de caso visa descrever a sintomatologia clinica e o tratamento para a hiperplasia mamária felina, sendo essencial que o médico veterinário tenha conhecimento das características clínicas desta enfermidade. 2. REVISÃO DA LITERATURA 2.1. Incidência A hiperplasia fibroepitelial (fibroadenomatose, hipertrofia mamária felina, adenofibroma ou fibroadenoma) é uma proliferação benigna, não neoplásica dos ductos mamários e do tecido conjuntivo periductal de gatas jovens, geralmente com menos de dois anos de idade (MOULTON, 1990). Na maior parte dos casos, as lesões são encontradas em todas as mamas, dando um aspecto referido como “peito esponjoso” (MISDORP, 2002). Esse distúrbio é mais comumente descrito em fêmeas no início da gestação ou naquelas que estão ciclando (HAYDEN et al, 1989). Ocorre também em fêmeas esterilizadas, e machos inteiros ou castrados submetidos a tratamento com acetato de megestrol, nos casos de dermatite miliar ou afecção das vias urinárias (BARSANTI, 1996; HINTON, 1977). 2.2. Aspectos Hormonais O desenvolvimento mamário ocorre por influência de progesterona endógena ou exógena (MARTIN DE LAS MULAS et al., 2000). Existe uma forte predisposição ao desenvolvimento de lesões mamárias benignas e malignas quando é instituída terapia hormonal a base de análogos sintéticos da progesterona (progestágenos), como o acetato de megestrol e acetato de medroxiprogesterona. A hiperplasia mamária frequentemente é observada uma a duas semanas após a terapia hormonal (HAYDEN et al., 1989). A maioria dos contraceptivos administrados nos felinos é de depósito, como o acetato de medroxiprogesterona, que pode manter efetivo o seu nível sérico por seis meses (LORETTI et al., 2005). Alguns progestágenos exógenos possuem atividade progestacional 25 vezes maior do que a progesterona endógena (LORETTI et al., 2005). Em animais tratados com esses contraceptivos ocorre um aumento da produção local do hormônio do crescimento (GH) e de outros fatores, como o fator de crescimento semelhante à insulina (IGF-I), de modo autócrino ou parácrino, estimulando, assim, a proliferação de células mamárias epiteliais e do estroma (VASCONCELLOS, 2003). Têm-se detectado, além dos receptores de progesterona, a presença de receptores de estrógeno nas glândulas mamárias hiperplásicas de gatas, sugerindo também o envolvimento estrogênico na patogênese da doença (MULAS et al., 2000). Para a ocorrência dos receptores de progesterona no tecido mamário é necessária a indução pelo estrógeno, o qual exerce sua ação por receptores específicos também presentes na glândula mamária (MULAS et al., 2000; VASCONCELLOS, 2003). 2.3. Sinais Clínicos Clinicamente a hiperplasia fibroepitelial é caracterizada pelo aumento maciço das glândulas mamárias (VERSTEGEN, 2004). Essa alteração hiperplásica tem como característica principal o crescimento muito rápido, em torno de 3 a 4 semanas (MOULTON, 1990). Uma, ou algumas, ou todas as glândulas mamárias podem estar acometidas de forma simétrica ou aleatória (VASCONCELLOS, 2003). Nos casos onde o crescimento mamário é acentuado, nota-se dificuldade de deambulação ou, em situações mais graves, o animal pode não conseguir mais permanecer em estação (MOULTON, 1990). As mamas afetadas encontram-se aumentadas, túrgidas, quentes, presença de nódulos dolorosos, ulceração e necrose cutânea. Ocorrem ainda sinais clínicos sistêmicos, como apatia, anorexia, febre e desidratação (VASCONCELLOS, 2003). A pele necrosada da glândula mamária pode atuar como porta de entrada a infecções bacterianas, com posterior desenvolvimento de mastite ou septicemia (LORETTI et al, 2005). A manifestação clínica muitas vezes é alarmante, podendo ser confundida com a de uma mastite ou neoplasia maligna. Certos animais demonstram acentuado grau de morbidade e podem até vir a óbito, decorrente de complicações da doença (VASCONCELLOS, 2003; LORETTI et al., 2004). 2.4. Diagnóstico Os principais diagnósticos diferenciais são as neoplasias mamárias benignas e malignas (adenomas e adenocarcinomas), mastite e outras formas de displasia, como cistos, adenoses, ginecomastia, ectasia ductal e hiperplasia lobular (VASCONCELLOS, 2003). A concentração sérica de progesterona não é um método diagnóstico sensível para a hiperplasia mamária felina, pois esse indicador freqüentemente está normal (NORSWORTHY, 2004). A hiperplasia fibroepitelial pode ser diagnosticada clinicamente por meio da anamnese e do exame físico, mas o diagnóstico definitivo só pode ser realizado através de biópsia com análise histopatológica subseqüente (WEHREND et al., 2001). Histologicamente essa doença caracteriza-se pela proliferação acentuada do epitélio dos ductos intralobulares e proliferação do tecido conjuntivo adjacente (MOULTON, 1990). Embora alguns autores denominem a doença de ectasia ductal mamária, as alterações histológicas vistas são muito mais semelhantes àquelas induzidas por hormônios sexuais do que por ectasia obstrutiva e além disso, sabe-se que a ovariectomia leva à regressão dos cistos (YAGER & SCOTT, 1992). Macroscopicamente, os nódulos mamários são bem delimitados, mas não encapsulados, variando de 2 a 5cm de diâmetro (Seiler & Barbero, 1979); e as massas mamárias apresentam superfícies de corte brancacentas e multinodulares (ALLEN, 1973). 2.5. Tratamento De modo geral, o tratamento para gatas afetadas por hiperplasia fibroepitelial mamária consiste na retirada do estímulo hormonal, seja endógeno ou exógeno, através de ováriohisterectomia ou suspensão do medicamento à base de progesterona, respectivamente (ALLEN, 1973). O tecido hiperplásico involui várias semanas após a cirurgia. Embora o crescimento mamário seja rápido, a regressão geralmente é lenta podendo levar de um a seis meses até a atrofia completa das glândulas. Em alguns animais que recebem progestágenos exógenos pode ocorrer remissão com o final da administração da droga (CARPENTER et al., 1987). Se houver necrose e reações inflamatórias e/ou infecciosas acentuadas, o tratamento envolve cuidados de suporte, incluindo o uso de analgésicos, antibióticos e antinflamatórios (Ogilvie & Moore, 2001). Diuréticos, corticosteróides ou testosterona, podem ser utilizados por promoverem uma rápida involução mamária (Stein, 1975). Quando a hiperplasia é acentuada e as mamas estão muito aumentadas, pode haver necessidade de extirpação cirúrgica. Raramente ocorre involução espontânea (YAGER & SCOTT, 1992). A retirada cirúrgica dos cistos, embora possa resolver momentaneamente o problema, permite que novos cistos se formem e não é aconselhada como procedimento terapêutico isolado, devendo sempre que possível ser associada à castração (YAGER & SCOTT, 1992). Mais recentemente, uma droga à base de aglepristone tem sido usada experimentalmente, observando-se redução significativa e até involução completa do tecido mamário e seu mecanismo de ação consiste na inibição da estimulação progestacional. Esta pode ser uma opção terapêutica quando se deseja a manutenção da capacidade reprodutiva do animal (WEHREND et al., 2001) Pelo fato de raramente ocorrer involução espontânea da hiperplasia mamária, torna-se fundamental a administração de fármacos antiprogestágenos, como o aglepristone. Seu mecanismo de ação se baseia no antagonismo da progesterona nos receptores intracelulares, com conseqüentemente inibição do estímulo para o crescimento mamário (WEHREND et al., 2001). Esta pode ser uma opção terapêutica para a ooforectomia, principalmente quando não se desejar a perda da fertilidade do animal (Chastain & Panciera, 2003). O tratamento é feito com injeções subcutâneas uma vez ao dia, por dois dias consecutivos, a cada semana, durante quatro semanas. Verifica-se a completa regressão do volume mamário em uma a duas semanas (Chastain & Panciera, 2003). Pode ser necessária a repetição do tratamento para animais tratados previamente com progestágenos exógenos (VASCONCELLOS, 2003). Entretanto, os animais tratados não podem ser gestantes, devido ao efeito abortivo do fármaco (Whered, 2001). A taquicardia é o principal efeito colateral observado (Chastain & Panciera, 2003). O prognóstico geralmente é favorável devido à natureza benigna da condição (VASCONCELLOS, 2003). Necrose, ulceração e inflamação das glândulas, associados com infecção sistêmica, trombos venosos cutâneos e tromboembolismo arterial pulmonar têm sido descritos em casos de prognóstico reservado, os quais culminam com a morte dos animais (CARPENTER et al., 1987). 3. RELATO DE CASO CLÍNICO No mês de maio de 2008 foi atendida uma gata com suspeita de hiperplasia mamária, no setor de Clínica Médica do Hospital Veterinário da Universidade Federal de Goiás. A gata, SRD, com 7 anos de idade, nulípara e peso de 5 kg, foi apresentada com histórico de redução do apetite e aumento de volume da cadeia mamária (Figura 1). Segundo a proprietária, o crescimento do tecido mamário iniciou-se 20 dias após a administração de uma única dose de um contraceptivo à base de acetato de medroxiprogesterona, em uma casa agropecuária. Foi detectado que dois dias após a aplicação, apareceram feridas nas duas primeiras mamas com sangramento intenso (Figura 2). O animal vocalizava muito durante a noite e lambia excessivamente as mamas. Convivia com mais 2 gatos em uma casa, alimentava-se apenas de ração e o calendário de vermifugação e de vacinação estavam irregulares. Figura 1 - Gata, SRD, 7 anos de idade e peso de 5 kg (SILVA, 2009). O animal foi submetido ao exame clínico de rotina apresentando estado geral regular, temperatura de 39º C, freqüência cardíaca de 148 bpm, freqüência respiratória de 58 mpm, tempo de preenchimento capilar menor que dois segundos, extrema hiperplasia mamária a ponto de impedir a locomoção do animal, presença de grandes úlceras nas duas primeiras mamas (Figura 3), lesão cutânea por lambedura iniciando na última mama do lado esquerdo, cadeia mamária firme e quente ao toque, sendo que o animal vocaliza sinalizando dor a palpação e no sistema reprodutor foram enfatizadas as glândulas mamárias. Figura 2 - Presença de grandes úlceras nas duas primeiras mamas, lesão cutânea por lambedura iniciando na última mama do lado esquerdo (SILVA, 2009). Figura 3 - Acentuado aumento de volume da cadeia mamária. As mamas torácicas craniais, direita e esquerda, estão ulceradas e têm aproximadamente 10 cm de diâmetro (SILVA, 2009). Em virtude da anamnese e do exame físico, foi estabelecido o diagnóstico presuntivo de hiperplasia mamária. Coletou-se amostra sangüínea para a confecção de hemograma completo, que apresentou apenas neutrofilia relativa. Não foi realizada biópsia aspirativa devido a condições econômicas precárias do proprietário. Optou-se pela realização de protocolo terapêutico com a administração de 1 mg/Kg de Meticortem, 1 vez ao dia, durante 20 dias; 2 mg/Kg de furosemida, 2 vezes ao dia, durante 10 dias; 30 mg/Kg de cefalexina, 1 vez ao dia, durante 20 dias. Foi preconizada a limpeza diária dos ferimentos cutâneos com solução fisiológica, uso do colar Elizabetano, uso tópico de Clorexidina pomada 2% e cobrir o ferimento com gaze e faixa. Foi realizado a ovariohisterectomia, utilizando-se a dose de 0,1 mg/Kg de Acepromazina e 0,5 mg/Kg de Meperidina como pré-anestésicos. Para a indução anestésica foi utilizado o Propofol na dose de 5 mg/Kg. Foi realizada anestesia volátil com Isoflurano e a manutenção da analgesia foi feita com 0,02 mg/Kg de Fentanil (Figura 4). A cirurgia foi realizada através de uma incisão na linha média ventral. Deslocou-se o omento e o intestino cranialmente para localizar os cornos uterinos, sendo realizada então as suturas transfixantes, a transecção e retirada dos mesmos. O corpo uterino foi exteriorizado e a cérvix localizada, removendo-se o útero inteiro próximo à cérvix. Foi realizado a omentalização.do coto uterino e a incisão abdominal foi fechada rotineiramente. Administrou-se 30 mg/Kg de Cefalexina, 1 vez ao dia, por mais 20 dias. O ferimento cutâneo foi coberto com gaze e faixa e foi realizada a limpeza diária no mesmo, com solução fisiológica e uso tópico de Clorexidina pomada 2%. O animal fez uso do colar Elizabetano durante esses dias. Foi realizada, então, a mastectomia total (Figura 11), com o mesmo protocolo anestésico seguido durante a ovariohisterectomia. Foi feita uma incisão na pele (Figura 5) e no tecido subcutâneo. Foram colocadas gazes embebidas em solução de ringer lactato aquecida, na borda do ferimento normal, para proteger a pele (Figura 9). As glândulas e o tecido subcutâneo subjacente foram removidos por dissecção (Figura 7). A hemostasia foi feita com o auxílio de um bisturi elétrico (Figura 6), ligadura de vasos (Figura 10) e pinças hemostáticas (Figura 8). Observou-se perda de musculatura aderida à glândula mamária hiperplásica (Figura 12). O tecido subcutâneo e a pele foram fechados rotineiramente (Figura 14). Foi colocada uma atadura leve sobre a incisão para protegê-la de traumatismos. O animal teve uma ótima recuperação anestésica (Figura 15). Após a retirada das mamas o animal pesou 2,5Kg (Figura 13). Foi feita a coleta de material para exame histopatológico pós-cirurgia confirmando-se a presença de proliferação do epitélio dos ductos e células mioepiteliais periglandulares. Administrou-se Cefalexina na dose de 30mg/Kg, 1 vez ao dia, por mais 20 dias, limpeza diária dos ferimentos cutâneos com solução fisiológica e uso tópico de Clorexidina pomada 2%. Fez-se uso novamente do colar Elizabetano. Figura 4 - Animal anestesiado e preparado com tricotomia e antisepsia (SILVA, 2009). Figura 5 - Incisão cutânea delineando áreas a serem preservadas ou extirpadas (SILVA, 2009). Figura 6 - Aprofundando a incisão com auxílio do bisturi elétrico (SILVA, 2009). Figura 7 - Separação dos tecidos com os dedos (SILVA, 2009). Figura 8 - Dissecação dos vasos e oclusão com pinças hemostáticas (SILVA, 2009). Figura 9 - Proteção dos tecidos com gaze embebida em solução de ringer lactado aquecida (SILVA, 2009). Figura 10 - Ligadura de veias e artérias calibrosas que irrigam a cadeia mamária (SILVA, 2009). Figura 11 – Mastectomia quase completa. Perda de musculatura aderida à glândula mamária hiperplásica, apresentando fibrose (SILVA, 2009). Figura 12 - Cadeias mamárias extirpadas pesando 2,5 Kg (SILVA, 2009). Figura 13 - Mastectomia total (SILVA, 2009). Figura 14 – Dermorrafia e cuidados pós-operatórios (SILVA, 2009). Figura 15 - Recuperação anestésica (SILVA, 2009). 4. DISCUSSÃO No presente relato, o aparecimento das alterações mamárias iniciou-se dois dias após a injeção do acetato de medroxiprogesterona, estando de acordo com LORETTI et al (2005), segundo os quais, em animais que receberam a administração de progestágenos sintéticos, o início das lesões pode variar de dois dias a três meses após a aplicação do contraceptivo ou até mesmo anos após o final do tratamento. A gata desse relato tinha mais de dois anos, ao contrário do que é descrito na literatura, que cita que a doença é rara acima de dois anos (MOULTON, 1990). A hiperplasia fibroepitelial mamária pode afetar uma ou mais glândulas mamárias, mas normalmente toda a cadeia mamária está envolvida (CARPENTER et al., 1987) como ocorreu no caso deste relato. Essa alteração hiperplásica tem como característica principal o crescimento muito rápido, em torno de 3 a 4 semanas (MOULTON, 1990). No caso deste relato, a evolução foi de 3 semanas, embora seja provável que os proprietários tenham tardado em trazer o animal para ser avaliado. Nos casos onde o crescimento mamário é acentuado, nota-se dificuldade de deambulação ou, em situações mais graves, o animal pode não conseguir mais permanecer em estação (MOULTON, 1990), o que foi observado na gata deste caso. Observou-se que os ovários possuíam vários folículos, com aproximadamente 1 mm de diâmetro, e não apresentavam corpos lúteos. Estes dados estão de acordo com os relatados por SILVA et al. (2002). O diagnóstico definitivo só pode ser realizado com análise histopatológica (WEHREND et al., 2001), e esta foi a conduta adotada neste caso clínico, sendo realizado o exame histopatológico e constatada a presença de proliferação do epitélio dos ductos e células mioepiteliais periglandulares e confirmando o diagnóstico de hiperplasia mamária. O tratamento baseou-se na literatura que diz que o estímulo hormonal deve ser retirado através de ovariohisterectomia ou suspensão do medicamento a base de progesterona (VASCONCELLOS, 2003). Cita a literatura que a excisão cirúrgica do tecido mamário geralmente não é indicada, a menos que haja desenvolvimento de ulceração e/ou necrose cutânea (VERSTEGEN, 2004), porém no caso descrito, a mastectomia total, apesar de ter sido um procedimento agressivo, foi necessária e fundamental para recuperação do paciente. No 15° dia pós-cirúrgico, foi retirada a sutura cutânea da cirurgia e o animal encontrava-se bem, clinicamente. O uso de antiprogestina é um tratamento viável quando se deseja manter a atividade reprodutiva da paciente no caso de fêmeas de alto valor reprodutivo, pois seu custo é muito superior ao de uma ovário-histerectomia (Wehrend & Gruber 2001), sendo que neste caso clínico, a situação econômica do proprietário foi um obstáculo e a ovário-histerectomia foi, então, o tratamento cirúrgico adotado, impedindo testar o fármaco aglepristone na cura do animal. A dedicação do proprietário na realização dos curativos pós-cirúrgicos e a administração dos medicamentos no paciente foi de grande importância, contribuindo para a recuperação do felino. 5. CONCLUSÕES A gata afetada não era castrada, de modo que, possivelmente, o uso de contraceptivos estimularam a proliferação do tecido mamário. Dessa forma, a fonte de progesterona exógena, utilizada no animal em questão, foi provavelmente o fator desencadeante da hiperplasia mamária. A realização de diagnóstico diferencial através da anamnese, idade do animal e exame histopatológico confirmatório, foi muito importante para a resolução da doença. Enquanto que a hiperplasia pode ser tratada por meio de medicamentos e castração, as neoplasias (principalmente os adenocarcinomas) inspiram rapidez no tratamento, que inclui a remoção cirúrgica total associada ou não à quimioterapia. O tratamento da hiperplasia fibroepitelial mamária consiste na retirada do estímulo hormonal, seja endógeno ou exógeno, através de ovário-histerectomia ou suspensão do medicamento à base de progesterona e deverá sempre envolver cuidados de suporte, incluindo o uso de analgésicos, antibióticos e antinflamatórios. A mastectomia, quando necessária, deverá sempre que possível, ser associada à castração. A realização dessa cirurgia visa prevenir futuras aplicações de contraceptivos ou a ocorrência de ciclos estrais subseqüentes. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALLEN, H.L. Feline mammary hypertrophy. 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